EPIDEMIOLOGIA DO USO DE DROGAS NO BRASIL: REVISÃO DE LITERATURA

EPIDEMIOLOGY OF DRUG USE IN BRASIL: LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8214088


¹Carlos Guilherme de Moura Lima
²Ariane Silva Batista
³Gabriely Rangel Brito Peixoto
4Hiasmyn Genoveva Macherine de Souza
5Bruna Oliveira Athayde
6Larissa Dias Lobato
7Tainá Ferreira Soares
8Fábio de Souza Araújo
9Caio Fellipe Amorim de Araújo
10Karine Zucatelli Bastos


RESUMO

Consoante à Organização Mundial de Saúde (OMS), as drogas são substâncias exógenas e que possuem a capacidade de repercutir com alterações nos múltiplos sistemas do organismo humano. Dentre a gama diversa de substâncias que podem ser definidas enquanto drogas, temos outras subdivisões, sendo a separação em grandes grupos quanto à sua licitude de suma importância para o entendimento das causas relacionadas ao uso de drogas e suas consequências. Ainda nesse sentido, podem ser caracterizadas enquanto depressoras, estimuladoras e alucinógenas, e encontradas nas mais diversas formas de consumo, como álcool, tabaco, cigarro eletrônico, maconha, cocaína, ecstasy e, até mesmo, medicações não prescritas. Não obstante, a problemática, apesar de não ter surgido recentemente, ainda possui repercussões atuais e a epidemiologia relacionada ao seu uso deve ser discutida como pauta de saúde pública no Brasil. Quanto a isso, devem ser destacados: o aumento do uso de drogas entre os indivíduos jovens, uma taxa maior de consumo de substâncias lícitas e ilícitas pelas mulheres e a diferenciação dos tipos de drogas utilizadas entre as diversas classes sociais. Assim, poderá ser entendido e mitigado o revés a nível social e de saúde pública a nível de Brasil.

Palavras-chave: Epidemiologia. Drogas. Álcool. Tabaco.

ABSTRACT

According to the World Health Organization (WHO), drugs are exogenous substances that have the ability to affect changes in multiple systems of the human body. Among the diverse range of substances that can be defined as drugs, we have other subdivisions, and the separation into large groups regarding their legality is of paramount importance for understanding the causes related to drug use and its consequences. Still in this sense, they can be characterized as depressants, stimulants and hallucinogens, and found in the most diverse forms of consumption, such as alcohol, tobacco, electronic cigarettes, marijuana, cocaine, ecstasy and even non-prescribed medications. However, the issue, despite not having emerged recently, still has current repercussions and the epidemiology related to its use should be discussed as a public health agenda in Brazil. In this regard, the following should be highlighted: the increase in drug use among young individuals, a higher rate of consumption of licit and illicit substances by women and the differentiation of the types of drugs used by different social classes. Thus, the social and public health setback in Brazil can be understood and mitigated.

Key-words: Epidemiology. Drugs. Alcohol. Tobacco.

1. INTRODUÇÃO

Álcool e outras drogas são substâncias que causam mudanças na percepção e na forma de agir de uma pessoa. Essas variações dependem do tipo de substância consumida, da quantidade utilizada, das características pessoais de quem as ingere e até mesmo das expectativas que se tem sobre os efeitos. Parece ser fácil entender o motivo das pessoas usarem álcool e drogas, mas é algo que historicamente a humanidade sempre procurou por algo que produzissem algum tipo de alteração do humor, das percepções e das sensações (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), droga é qualquer substância não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento, ou seja, altera ou causa uma série de mudanças na forma de sentir, agir, pensar e expressar. A droga não é determinada como maléfica ou benéfica, pois existem substâncias que são utilizadas com a finalidade de produzir efeitos auxiliadores ao organismo, como no tratamento de doenças (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

Dessa maneira, diante do ponto de vista jurídico, as drogas podem ser classificadas como licitas e ilícitas. Sendo assim, as licitas são comercializadas de forma legal, podendo ou não ser submetidas a algum tipo de restrição, como alguns medicamento que só podem ser adquiridos por meio de prescrição médica especial, além do álcool e o cigarro. Já as substâncias consideradas ilícitas são todas as drogas produzidas e comercializadas sem autorização legal como a maconha, cocaína e o crack (ADAMOLI, et al. 2020).

Sendo assim, o III Levantamento Nacional sobre uso de Drogas pela População Brasileira (III LNUD) teve como objetivo avaliar e estimar sobre os parâmetros epidemiológicos em relação ao uso de substâncias. E, de acordo com esse levantamento, a substância ilícita mais frequentemente utilizada é a maconha com proporções decrescentes para cocaína, opioides não prescritos e crack. Já o álcool apresenta maiores estimativas de uso dentro das lícitas (COUTINHO; TOLEDO; BASTOS, 2019).

Sob essa óptica, as tendências do uso de drogas ilícitas entre os jovens são indicativas das mudanças sociais e políticas que acabam influenciando outros segmentos sociais, os jovens tem cada vez mais acesso a uma ampla variedade de substância e o início precoce do uso de drogas está associado a uma série de resultados negativos para a saúde dos jovens, sendo o álcool a principal porta de entrada para o uso de outras substâncias (ANDRADE; DUARTE; OLIVEIRA, 2010). Diante disso, antes de se tornar dependente o indivíduo passa por um processo de diferentes formas de consumir as substâncias, que pode se alterar entre o uso experimental e a dependência.

A OMS descreve diversos padrões de uso, ou seja, a forma como a pessoa utiliza uma droga. Qualquer padrão de uso pode estar ligado a riscos sejam eles eventuais como envolvimento em acidentes, duradouros como atingir a relação com a família e o meio social, além da saúde física e mental (ADAMOLI, et al. 2020). Portanto, a dependência química é uma doença grave na qual uma pessoa desenvolve uma necessidade constante de algum tipo de substância. Esse quadro modifica o modo de como o indivíduo percebe o mundo, sendo definida como uma doença crônica.

Nesse sentido, algumas drogas são classificadas entre depressoras, estimulantes e perturbadoras do sistema nervoso central (SNC): as substâncias depressoras, como o álcool, solventes, opioides e ansiolíticos, deixam o cérebro com o funcionamento mais leno, ocasionando a diminuição da capacidade de se movimentar adequadamente, a perda da sensibilidade. Por outro lado, as substâncias estimulantes, como a nicotina, cocaína, cafeína, agitam o cérebro, fazendo com que ele trabalhe em uma velocidade maior. Além disso, as substâncias perturbadoras ou alucinógenas podem causar alucinações e delírios, como por exemplo a maconha, LSD, ecstasy (ADAMOLI, et al. 2020).

Ademais, o pode-se visualizar um aumento do uso de drogas durante a pandemia do COVID-19 que afetou o mundo de diversas maneiras. Diversas causas como o acumulo de tarefas do cotidiano, falta de dinheiro, desemprego, tempos ociosos e crises de ansiedade podem criar o cenário perfeito para iniciar ou aumentar o uso de álcool e outras drogas. De acordo com o relatório mundial sobre drogas 2021, que avalia a pandemia como fator de risco para o desenvolvimento de casos de dependência, cerca de 275 milhões de pessoas usaram drogas no mundo no último ano, enquanto mais de 36 milhões sofreram de transtornos associados ao uso de drogas (Relatório Mundial sobre Drogas 2021).

2. DESENVOLVIMENTO

É indubitável a problemática do uso de drogas no Brasil, uma vez que o país ocupa a posição de número dois na lista das nações que mais fazem uso de substancias ilegais no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos (BRASIL, 2013). Neste viés, percebe-se que tal problemática atinge âmbitos sociais, econômicos e também de saúde, já que boa parte da população usuária de droga não trabalha e também são gerados custos para tratamento da dependência química a nível do SUS.

Existem diversas populações de risco para uso de substâncias e tem se notado que o consumo vem aumentando em faixas etárias cada vez menores, como apontado pelo III Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, no qual cerca de 35% dos indivíduos menores de 18 anos admitiram já ter consumido álcool pelo menos uma vez na vida e cerca de 5% admitiram que faz uso de maneira frequente e deliberada, o chamado binge.

Outrossim, é mister apontar que, hodiernamente, o uso abusivo do álcool é mais comum do que no ano de 2006, apontando uma crescente na problemática nos últimos, o que constitui um problema de saúde pública. Esse mesmo estudo que constatou o aumento, conseguiu também identificar que o crescimento do uso descontrolado foi maior entres as mulheres (de 7,7% para 11%) do que entre os homens (de 24,8% para 26%), de acordo com o que foi apontado pelo Ministério da Saúde (2019).

3. METODOLOGIA

3.1. Desenho de estudo

Este estudo trata-se de uma revisão sistemática da literatura, o qual possui como questão norteadora de pesquisa: Quais as drogas mais utilizadas por cada perfil sociodemográfico no Brasil? Ademais, possui caráter exploratório e descritivo, assim como uma abordagem quali e quantitativa dos dados encontrados nas produções literárias.

Os estudos selecionados estão presentes em plataformas online e obedecem à abordagem e ao caráter do trabalho, tendo como abordagem a epidemiologia das drogas utilizadas no país, sendo utilizados textos em língua portuguesa, inglesa e espanhola publicados entre 1994 e 2022. Foram excluídos arquivos duplicados e que não respondiam à pergunta norteadora do estudo.

3.2. Fontes de informação e estratégia de busca

Foi realizada busca de artigos nas plataformas SciELO, PubMed, BVS e periódicos (Capes), sendo selecionados artigos em inglês, português e espanhol. Houve a aplicação dos descritores “epidemiologia”, “álcool”, “drogas” e “tabaco”, assim como suas representações respectivas na língua inglesa “epidemiology”, “drugs”, “alcohol” e “tobacco”. Além disso, a pesquisa também foi feita utilizando-se outros termos além desses descritores e o período entre a seleção de tema, literatura e escrita do trabalho ocorreu de março de 2023 a junho de 2023.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Mormente, é importante ressaltar que o uso de álcool é uma prática comum em termos de população em geral, apesar de existirem determinados grupos mais vulneráveis para o uso de tal substância, como os jovens universitários (NASCIMENTO, et al, 2019).

Em aspectos mais abrangentes, foi constatado, por meio de uma pesquisa realizada nas maiores cidades do Estado de São Paulo no ano de 2000, que ocorreu um aumento significativo no número de indivíduos dependentes de bebidas alcoólicas, indo de cerca de 6,6% em uma primeira abordagem, para uma faixa de 9,4% em um curto período de dois anos (GALDURÓZ; CAETANO, 2004).

Ainda nesse aspecto, um levantamento feito em todas as capitais brasileiras teve como objetivo analisar como estava o consumo de álcool entre os jovens em idade de frequentar a universidade, uma vez que o Ministério da Saúde aponta um consumo de pelo menos uma vez na vida entre as faixas etárias de 18 a 24 anos (78,6%) (Ministério da Saúde, 2007).

Assim, pode-se perceber que a prática de ingerir bebidas alcoólicas é, de fato, maior nessa parcela da população do que em outros grupos, seja no que tange a já ter consumido alguma vez na vida (86,2%), seja por consumo no último ano (72,0%) (NASCIMENTO, et al, 2019).

Ainda no eixo do consumo de álcool, vale ressaltar que o existe uma associação entre aumento da mortalidade de brasileiros e consumo crônico de derivados da substância, incluindo mortes por doenças hepáticas ou atreladas à violência e acidentes automobilísticos, estando os homens apontados como maiores vítimas dentro das estatísticas levantadas, em cerca de nove vezes mais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).

Outra problemática muito importante e que deve ser discutida a nível de saúde pública é o uso de medicamentos de maneira deliberada e sem a finalidade de promoção da saúde propriamente dita. Nessa óptica, pode ser citada a utilização de medicamentos anorexígenos pela população que busca emagrecer de maneira mais rápida. Mesmo que as medicações não entrem na classificação de drogas ilícitas, seu uso de maneira prolongada possui repercussão sistêmica no corpo humano, incluindo sintomatologias psíquicas, inclusive nos casos de continuidade no uso de medicamentos que induzem emagrecimento (BITTENCOURT, 2008).

Além desse tipo de medicamento, existem outras drogas que também causam dependência, como os benzodiazepínicos, muito utilizados para tratamento de condições psiquiátricas. De maneira análoga, cabe citar que esse tipo de medicação deve ser vendido com receita e deve ter um controle rígido, pois possui alto potencial de causar dependência (AUCHEWSKI, et al, 2004).

Todavia, devido aos seus efeitos no sistema nervoso central, muitos indivíduos acabam utilizando os benzodiazepínicos de maneira deliberada e sem prescrição médica, como foi constatado em um levantamento feito em capitais brasileiras, no qual constatou-se que pouco menos de 6% dos entrevistados já haviam utilizado esses ansiolíticos sem receituário emitido por médicos (ORLANDI; NOTO, 2005).

A maior incidência ocorre entre as mulheres, uma vez que, segundo dados do Ministério da Saúde (2017), elas utilizam praticamente o dobro (4,0%) de medicamentos não prescritos se comparado a indivíduos do sexo masculino (2,0%) em um limite de cerca de um ano. Dentre as medicações, podem ser citadas, além dos benzodiazepínicos, os opiáceos, os barbitúricos e anabolizantes. Outra problemática que tem se mostrado bastante atual no momento é da utilização de cigarros eletrônicos. Inicialmente, a utilização de tal aparelho foi como forma de consumo recreativo e iniciou-se a discussão sobre sua eficácia para diminuição do tabagismo. Entretanto, os dados sobre seus benefícios são muito limitados e não produziram nenhum efeito positivo para diminuição do número de tabagistas (KNORST, et al, 2014).

Não obstante, o Instituto Nacional do Câncer (2016) ainda aponta que a utilização do cigarro eletrônico impulsiona muitos indivíduos a utilizarem cigarros convencionais de nicotina, seja para uso contínuo ou experimentação, tendo estreita relação com os acréscimos nos números de indivíduos afetados com câncer de pulmão no país. Outro dado importante é que, ao contrário do que se pensa, o consumo de algumas substâncias, como o álcool, é mais prevalente em indivíduos com maior escolaridade, tendo seu consumo nos últimos 30 dias sendo admitido por pelo menos 40% daqueles que cursaram o ensino superior.

Nesse sentido, pode ser traçado um perfil epidemiológico importante sobre o consumo de drogas no país, uma vez as classes mais favorecidas e menos favorecidas monetariamente fazem uso mais frequente de substâncias distintas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).

Ainda no que tange ao uso de drogas, diversas problemáticas atuais começaram a surgir nos últimos anos, principalmente entre os jovens. Dentre elas, o uso de cigarro eletrônico tem sido pauta de muitos debates, chegando a ser proibido no país. Em uma pesquisa realizada pelo Ministério da saúde entre outubro de 2012 e maio de 2014, foi constatado que, de 16 jovens brasileiros de uma amostra, 11 utilizam o cigarro e eletrônico e iniciaram com uso de cigarro convencional, apontando a relação do uso do aparelho com outras drogas. Sobre o uso do tabaco, em 2018, estimava-se que 9,3% dos 157,2 milhões de brasileiros com idades acima de 18 anos fumavam. Nesse mesmo ano, 2,4% foram considerados fumantes mais ativos com mais de 20 cigarros por dia, em contrapartida, 7,6% eram expostos de maneira passiva em casa e 6,8% com exposição no ambiente de trabalho (SOUZA, et al, 2021).

Além disso, ainda sobre o tabaco, um estudo relaciona o aumento do consumo de tabaco, álcool e outras substâncias com o sentimento de desvalorização, sobrecarga e pressão referentes ao trabalho terceirizado. Já que a utilização dessas substâncias psicoativas estaria servindo como uma alternativa mais rápida e eficaz para reduzir o sofrimento do trabalho. Sobre dados referentes a esse estudo, demonstrou-se que 43% dos trabalhadores avaliados faziam uso de tabaco. Sendo o perfil masculino e com pouca prática em atividades físicas os mais propensos ao uso e suas complicações (ADALETI, et al, 2019).

Sobre a epidemiologia da maconha, ela é a terceira droga recreativa mais usada mundialmente, atrás somente do álcool e do tabaco. No Brasil, dando continuidade a tendência, ela é a droga ilícita mais utilizada também. Em relação a população adulta, 5,8% experimentaram pelo menos uma vez na vida. Somado a isso, o artigo revisado pontua que ser homem, ter amigos, indivíduos ou parentes que utilizam a droga são os principais fatores de risco para o uso (DEMENECH, et al, 2019).

Além dos fatores supracitados, a utilização da maconha entre os estudantes universitários brasileiros é alta com base em inúmeras variáveis, como o consumo único, no último ano ou no último mês. A faixa etária varia de 18 a 24 anos, porém destaca-se uma tendência inversa entre a droga e a idade. Constando no estudo que, a probabilidade do uso aumentou três vezes na faixa etária entre 26 a 29 anos, sete vezes na faixa de 18 a 21 anos em comparação com os participantes acima de 30 anos (DEMENECH, et al, 2019).

Somado a isso e correlacionando ainda com a prevalência do uso de drogas ilícitas, múltiplos fatores corroboram para a alta vulnerabilidade de adolescentes e jovens em relação ao consumo, como características sociodemográficas, exposição a violência e comportamentos de riscos. Considerando um estudo com 105 participantes, onde 58,1% eram do sexo masculino, 24,8% alegaram o uso de maconha, 6,7% o uso de cocaína e 2,9% o uso de crack (GUIMARÃES, et al, 2018).

Em relação a epidemiologia do crack e similares, segundo a Fundação Oswaldo Cruz, aproximadamente 1 milhão e 400 mil pessoas entre 12 a 65 anos relataram ter usado crack pelo menos uma vez na vida. Esse número exposto corresponde a 0.9% da população da pesquisa, sendo diferentes as porcentagens entre homens e mulheres. Ainda no mesmo estudo, o consumo da droga nos 30 dias anteriores à pesquisa foi relatado com 0,1%, cerca de 172 mil pessoas (COUTINHO, TOLEDO, BASTOS, 2019).

Outrossim, a Pesquisa Nacional do Uso do Crack, realizada em 2010, estimou 370 mil usuários nas capitais brasileiras. Dessa estimativa, o estudo relatou também que 40% dos usuários mencionados eram indivíduos em situação de rua. Tal fato, infere que esses dados levantados são subestimados em relação a população usuária global, já que, a metodologia não abrange pessoas que não estejam regularmente domiciliadas (BASTOS, BERTONI, 2014).

Ainda sobre a Pesquisa Nacional do Uso do Crack, ela ressalta a importância de encarar o enfrentamento contra o uso dessas drogas como um problema heterogêneo. Afinal, cada região apresenta uma prevalência de usuários diferentes, sendo a Região Nordeste, líder em relação a essas proporções, seguida estatisticamente pela Região Sul. Ademais, a heterogeneidade também afeta a relação do uso entre os sexos, com a porcentagem de 37,41% nas mulheres e 29,67% nos homens na faixa entre 18 e 24 anos (BASTOS, BERTONI, 2014).

Logo, percebe-se que o uso de substâncias lícitas ou ilícitas, por ser uma problemática atual, tem que ser debatida com mais eficácia, já que se tornou um problema de saúde pública e com tendências crescentes evidenciadas por pesquisas científicas na realidade brasileira.

5. CONCLUSÃO

O termo droga é definido como qualquer substância não produzida naturalmente pelo organismo que atue alterando os sistemas do corpo humano de forma generalizada ou específica, podendo ser classificada entre lícita e ilícita. Desse modo, as drogas lícitas caracterizam-se por serem comercializadas de forma legal e, em alguns casos, possuir restrições de idade, como no consumo de bebidas alcoólicas e de cigarros ou necessitarem de prescrição de profissionais da saúde, como no caso de medicações.

Por outro lado, as drogas ilícitas não possuem autorização legal para serem consumidas ou comercializadas, como a maconha, o crack e a cocaína. Foi identificado um aumento significativo no uso de drogas nos últimos dois anos, sendo o público jovem o mais afetado pelo consumo tanto de substâncias ilegais como de substâncias legais, pontuando o álcool como o primeiro contato dos adolescentes com drogas não medicamentosas.

Associado a isso, quando o parâmetro é a escolaridade, a maior porcentagem de consumo deliberada de álcool está com os indivíduos com maior nível de ensino. Além disso, quando se relaciona a incidência do consumo de álcool com o sexo, as mulheres tiveram um crescimento importante na utilização descontrolado dessa substância.

Ademais, o consumo crônico de sustâncias alcoólicas está singularmente associado ao aumento da mortalidade de brasileiros, podendo relacionar mortes por doenças hepáticas ou atreladas à violência e acidentes automobilísticos, estando o sexo masculino definido como as maiores vítimas.

Outrossim, o uso descontrolado de medicações pode inverter a finalidade comercial dessas substâncias, a qual passaria de agonista para antagonista dos sistemas fisiológicos, podendo desenvolver dependência, acarretando em efeitos adversos importantes e, mais gravemente, casos de intoxicação medicamentosa. O sexo feminino foi apontado como o grupo que mais faz uso de drogas não prescritas e sem acompanhamento de um profissional de saúde adequado, podendo citar os medicamentos benzodiazepínicos, os opiáceos, os barbitúricos e anabolizantes.

O consumo de cigarros eletrônicos é maior por parte do sexo masculino não atleta e está intimamente relacionado com o aumento do uso de cigarros tradicionais de nicotina e outras drogas, visto que, inicialmente, esse produto foi desenvolvido com o objetivo de reduzir o consumo dos cigarros comuns, mas tornou-se o primeiro contato dos jovens com a nicotina.

Dessa forma, o uso do tabaco está bastante associado com instabilidades psicossociais, atuando como redutor de sofrimentos no trabalho e no cotidiano como um todo. O consumo de drogas ilícitas pode ser associado com o grau de vulnerabilidade do indivíduo, podendo ser avaliado características sociodemográficas, exposição a violência e comportamentos de riscos.

Nesse contexto, a maconha é a terceira droga recreativa mais utilizada no mundo todo e a primeira de consumo ilegal no Brasil, sendo o maior fator de risco ser homens com amigos próximos que fazem uso da substância. É importante salientar que o consumo da droga é inversamente proporcional a idade, sendo os adultos jovens mais utilizadores de maconha. Por outro lado, o consumo de crack foi correlacionado diretamente com indivíduos do sexo masculino e em morador de rua.

Destarte, é impar a importância do fornecimento de informações adequadas para a sociedade, com foco principal no público mais afetado e nos que apresentam fatores de risco importantes. Para isso, é necessário o incremento das atividades educacionais com o fito de elucidar a população a respeito da possibilidade de ocorrer um quadro de dependência de drogas e/ou medicamentos, possibilitando que os próprios indivíduos identifiquem os fatores de risco os quais estão inseridos.

6. REFERÊNCIAS

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