EPIDEMIOLOGIA DA TOXOPLASMOSE GESTACIONAL NO ESTADO DE SÃO PAULO: ANÁLISE DE CASOS ENTRE 2019 E 2023

EPIDEMIOLOGY OF GESTATIONAL TOXOPLASMOSIS IN SÃO PAULO STATE: CASE ANALYSIS FROM 2019 TO 2023

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412011115


Leonardo Jacometo Durante1
Manuela Reinert Korsic2
Natalia Neves Aranha3
Gustavo Del Corço Guedes4
Paola Rodrigues de Figueiredo Anastasio5
Bianca Lunna P. S. Costa Barros6
Eduarda Ribeiro de Andrade7
Giovanna Hofmann Rodrigues de Almeida8
Lucas Henrique Paixão Knorst9
Julia de Souza Capuano10
Andreza Lourenço Sousa11


Resumo

Este estudo teve como objetivo analisar o perfil epidemiológico da toxoplasmose gestacional no estado de São Paulo entre 2019 e 2023. A pesquisa, de caráter ecológico, observacional, retrospectivo e analítico, utilizou dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e do DATASUS. A análise revelou um aumento de aproximadamente 270% no número de casos totais no período estudado, sendo o maior crescimento registrado entre 2020 e 2021. A maioria dos casos ocorreu no primeiro trimestre gestacional, destacando a importância do diagnóstico precoce. Houve uma forte correlação entre faixa etária, escolaridade e desfechos clínicos, com prevalência em gestantes de 20-39 anos e nível médio completo. A análise também evidenciou maior concentração de casos em populações brancas e pardas. Estes resultados reforçam a necessidade de estratégias de educação em saúde, vigilância epidemiológica e diagnóstico precoce para reduzir as complicações da toxoplasmose gestacional.

Palavraschave: Toxoplasmose Gestacional, Epidemiologia, São Paulo, Diagnóstico Precoce.

Limitações do estudo: O uso de dados secundários pode não capturar a totalidade dos casos e apresenta limitações quanto à precisão e completude das notificações.


Abstract

This study aimed to analyze the epidemiological profile of gestational toxoplasmosis in São Paulo State from 2019 to 2023. The ecological, observational, retrospective, and analytical research utilized data from the SINAN and DATASUS systems. The analysis revealed approximately a 270% increase in total cases over the study period, with the highest growth recorded between 2020 and 2021. Most cases occurred in the first trimester of pregnancy, highlighting the importance of early diagnosis. A strong correlation was observed between age group, educational level, and clinical outcomes, with prevalence among women aged 20-39 and those with complete secondary education. The analysis also revealed higher case concentrations among white and mixed-race populations. These findings underscore the need for health education strategies, epidemiological surveillance, and early diagnosis to reduce the complications of gestational toxoplasmosis.

Keywords: Gestational Toxoplasmosis, Epidemiology, São Paulo, Early Diagnosis.

Introdução

A toxoplasmose gestacional é uma infecção causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, um parasita de distribuição cosmopolita, que pode ocorrer de forma assintomática ou se manifestar em quadros clínicos variados. Especialmente em gestantes, essa infecção pode resultar em complicações graves para o feto, como a toxoplasmose congênita (Carvalho, 2023; Oliveira et al., 2023). A história da toxoplasmose remonta a descobertas científicas do século XIX, mas seu reconhecimento como uma preocupação de saúde pública emergiu mais recentemente, especialmente com a crescente evidência de suas implicações na gravidez (Rodrigues et al., 2022).

A história natural da toxoplasmose envolve a transmissão do parasita, que pode ocorrer por via oral, através da ingestão de oocistos presentes em alimentos ou água contaminados, ou por via vertical, durante a gestação (Silva, 2023; Monteiro et al., 2016). A infecção primária em gestantes é particularmente preocupante, pois pode levar a desfechos adversos, como abortos espontâneos ou malformações congênitas (Brito, 2023; Pedrassani et al., 2013).

Estudos indicam que a prevalência da infecção por T. gondii é alarmante, com até 80% da população em algumas regiões do Brasil sendo soropositiva (Morais et al., 2016; Câmara et al., 2015). A América Latina, e especificamente o Brasil, apresenta uma das maiores taxas de infecção do mundo, refletindo condições socioeconômicas e ambientais que favorecem a disseminação do parasita (Righi et al., 2021; Carmo et al., 2016).

A prevenção da toxoplasmose gestacional é crucial e envolve medidas educativas sobre a higiene, o manejo adequado de alimentos e a importância de evitar a exposição a fezes de gatos, que são os principais hospedeiros definitivos do T. gondii (Rodrigues et al., 2022; Inagaki et al., 2020). A identificação de gestantes suscetíveis é fundamental, sendo a realização de testes sorológicos para detectar anticorpos IgG e IgM uma prática recomendada para o diagnóstico precoce da infecção (Silva, 2023; Wilken et al., 2016). A vigilância epidemiológica e a educação em saúde desempenham um papel essencial na redução da incidência da toxoplasmose e suas complicações associadas (Azevedo et al., 2022; Câmara et al., 2015).

O objetivo deste estudo é analisar  o perfil epidemiológico da toxoplasmose gestacional no estado de São Paulo entre 2019 e 2023, identificando fatores sociodemográficos, clínico-epidemiológicos e os desfechos clínicos associados à infecção por T. gondii, a fim de contribuir para estratégias de prevenção e diagnóstico precoce da doença.

Metodologia

1. Tipo de Estudo

Este estudo trata-se de uma pesquisa ecológica, observacional, retrospectiva e analítica, conduzida com base em informações coletadas do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), acessadas por meio do banco de dados do DATASUS. A pesquisa seguiu as orientações do STROBE (Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology), visando assegurar a qualidade e a transparência nos processos de condução e relato dos achados.

2. Coleta de Dados

A coleta de dados foi realizada a partir dos registros secundários disponíveis no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), contendo informações detalhadas sobre casos de toxoplasmose gestacional. Além disso, foram utilizados os registros do sistema de vigilância epidemiológica conforme disponibilizados pelo DATASUS. Essas bases fornecem dados cruciais para o acompanhamento epidemiológico da doença, permitindo uma análise aprofundada dos casos notificados entre 2019 e 2023.

3. Critérios de Inclusão e Exclusão

Foram incluídos os casos notificados no período analisado, como critério de exclusão os casos fora do período analisado

4. Variáveis de Interesse

As variáveis analisadas foram divididas em duas categorias principais: sociodemográficas e clínico-epidemiológicas. Entre as variáveis sociodemográficas, foram analisados os seguintes dados: idade (estratificada por faixas etárias), escolaridade, raça/cor e local de residência. As variáveis clínico-epidemiológicas incluíram: a idade gestacional no momento do diagnóstico (dividida por trimestre), o status do caso (confirmado, descartado ou inconclusivo), o desfecho clínico e a data da notificação.

5. Análise Estatística

A análise estatística foi realizada utilizando o software Python, com o apoio das bibliotecas Pandas e Matplotlib para o processamento dos dados e a geração de gráficos. Foram aplicadas diferentes abordagens para avaliar os dados:

  • Análise Descritiva: Utilizou-se a análise descritiva para caracterizar a distribuição dos casos de toxoplasmose gestacional, com cálculo de frequências absolutas e relativas, além de medidas de tendência central (média, mediana) e dispersão (desvio padrão).
  • Teste Qui-Quadrado (χ²): Foi utilizado para avaliar a distribuição de óbitos por faixa etária e o status do caso, além de analisar a relação entre o trimestre gestacional e a confirmação diagnóstica.
  • Correlação de Pearson: A correlação de Pearson foi aplicada para analisar a relação entre as variáveis sociodemográficas e os desfechos clínicos.
  • Análise Temporal: Para a análise de tendências, foi realizada uma avaliação de série temporal, comparando os diferentes períodos dentro do período de estudo, para identificar variações no número de casos.

6. Aspectos Éticos

Este estudo foi conduzido em conformidade com a Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde, que dispensa a obrigatoriedade de aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) para estudos que utilizam dados de domínio público. A pesquisa respeitou todos os princípios éticos relacionados à confidencialidade dos dados, assegurando que as informações coletadas fossem tratadas de forma anônima e sem qualquer identificação dos indivíduos envolvidos.

RESULTADOS

A análise dos dados de Toxoplasmose Gestacional em São Paulo entre 2019 e 2023 revelou padrões significativos na distribuição e evolução dos casos. O número total de casos apresentou um aumento consistente ao longo do período estudado, partindo de 570 casos em 2019 e alcançando 2.113 casos em 2023, representando um aumento de aproximadamente 270% (gráfico 1).

Fonte: MS/SVS/CGIAE – Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), 2024.

Tabela 1: Evolução dos Casos Totais, Confirmados, Descartados e Inconclusivos de 2019 a 2023

AnoCasos TotaisConfirmadosDescartadosInconclusivos
20195704787220
202089074611232
20211340112316948
20221780159513451
20232113189416752

Fonte: MS/SVS/CGIAE – Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), 2024.

A Tabela 1 apresenta os dados específicos do número de casos ao longo dos anos, evidenciando o crescimento consistente observado no período de 2019 a 2023. Nota-se que o número de Casos Totais aumentou em aproximadamente 270%, passando de 570 em 2019 para 2113 em 2023. O maior incremento ocorreu entre os anos de 2020 e 2021. Além disso, manteve-se uma proporção relativamente constante entre os casos confirmados e descartados, enquanto os casos inconclusivos permaneceram em níveis baixos ao longo do período analisado.

Perfil Epidemiológico

A distribuição etária dos casos mostrou uma concentração significativa na faixa de 20-39 anos, que apresentou correlação perfeita com os casos confirmados (r = 1,00). As análises de correlação demonstraram forte associação entre todas as faixas etárias estudadas (r > 0,80), sugerindo um padrão consistente de crescimento dos casos em todos os grupos etários.

Diagnóstico e Classificação

A taxa de confirmação dos casos manteve-se consistentemente elevada, variando entre 83,86% e 89,65% ao longo do período. Foi observada uma forte correlação positiva entre casos confirmados e descartados (r = 0,98), indicando um aumento proporcional na atividade diagnóstica. Os casos inconclusivos também apresentaram correlação positiva significativa com os casos confirmados (r = 0,82).

2. DISTRIBUIÇÃO POR TRIMESTRE GESTACIONAL

Fonte: MS/SVS/CGIAE – Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), 2024.

O gráfico 2  ilustra a distribuição dos casos ao longo dos três trimestres da gestação. Observa-se uma tendência decrescente no número de casos conforme o avanço da gestação. No primeiro trimestre, o número de casos é o mais elevado, com aproximadamente 980 ocorrências. No segundo trimestre, há uma redução significativa, com cerca de 720 casos registrados. No terceiro trimestre, o número diminui ainda mais, atingindo aproximadamente 420 casos. Esse padrão destaca uma clara diminuição na quantidade de casos do primeiro para o terceiro trimestre gestacional.

A análise por idade gestacional revelou um padrão significativo no diagnóstico ao longo dos trimestres. Observou-se que o primeiro trimestre apresentou uma correlação perfeita com os casos confirmados (r = 1,00), indicando uma alta precisão na detecção precoce. Além disso, houve uma forte correlação entre todos os trimestres gestacionais (r > 0,99), com uma maior concentração de diagnósticos no primeiro trimestre, sugerindo melhorias na identificação precoce dos casos.

As correlações intersetoriais, analisadas através do coeficiente de Pearson, mostraram interrelações complexas entre as variáveis estudadas. A faixa etária de 20 a 39 anos apresentou correlações extremamente fortes com casos confirmados (r = 1,00), casos descartados (r = 0,98) e diagnósticos realizados no primeiro trimestre (r = 1,00). Além disso, os desfechos de cura tiveram correlações robustas com diagnósticos no primeiro (r = 0,96), segundo (r = 0,98) e terceiro trimestre (r = 0,97).

Fonte: MS/SVS/CGIAE – Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), 2024.

O gráfico 3 mostra a distribuição do número de casos em função do nível de escolaridade dos indivíduos. A maior concentração de casos ocorre entre aqueles com “Médio Completo”, totalizando aproximadamente 700 casos. Em seguida, aparecem os indivíduos com “Médio Incompleto”, registrando cerca de 520 casos. Nota-se uma tendência decrescente na quantidade de casos conforme o aumento do nível de escolaridade, com os números sendo menores nos níveis superiores. Os níveis de escolaridade fundamental apresentam valores intermediários, sugerindo uma variação moderada na distribuição de casos entre os grupos com escolaridade mais baixa.

Tabela 2: Distribuição de Casos por Raça/Cor

Raça/CorNúmero de CasosPercentual (%)
Branca97846,3
Parda81138,4
Preta26712,6
Amarela522,5
Indígena50,2

Fonte: MS/SVS/CGIAE – Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), 2024.

A Tabela 2 apresenta a distribuição do número de casos por raça/cor, destacando a predominância da população branca, que representa 46,3% dos casos (978 ocorrências). Em seguida, observa-se a população parda, que corresponde a 38,4% dos casos (811 ocorrências). A população preta registra 12,6% dos casos (267 ocorrências), enquanto as populações amarela e indígena apresentam uma menor representação, com 2,5% (52 casos) e 0,2% (5 casos), respectivamente. Esses dados indicam uma maior concentração de casos entre as populações branca e parda, com menor prevalência nas demais categorias.

A análise de regressão linear revelou padrões distintos no crescimento do número de casos com base em escolaridade e raça/cor.

No que diz respeito à escolaridade, observou-se que indivíduos com ensino médio completo apresentaram o maior crescimento anual, com um aumento de 140,8 casos por ano e um excelente ajuste do modelo (R² = 0,982). Os casos entre pessoas com ensino médio incompleto cresceram a uma taxa de 39,6 casos por ano (R² = 0,916). Por outro lado, o grupo de analfabetos mostrou uma tendência de redução de casos, com uma diminuição de 0,6 casos por ano. Já aqueles com educação superior completa tiveram um crescimento anual de 24,9 casos, com um bom ajuste do modelo (R² = 0,971).

Em relação à raça/cor, as pessoas brancas apresentaram o maior crescimento anual, com um aumento de 167,8 casos por ano (R² = 0,950), seguidas pelos pardos, que cresceram 146,1 casos anualmente (R² = 0,964). Os menores crescimentos foram observados entre as populações indígenas, com um aumento de apenas 1,2 casos por ano, e entre as pessoas de cor amarela, com um crescimento de 2,5 casos por ano.

Discussão

O aumento expressivo de casos de toxoplasmose gestacional em São Paulo, com crescimento de aproximadamente 270% entre 2019 e 2023, é um reflexo de múltiplos fatores interligados. Entre eles, destacam-se as melhorias nos métodos de diagnóstico, mudanças nos hábitos populacionais e o impacto de campanhas de saúde pública. Inicialmente, o aprimoramento dos testes sorológicos e a obrigatoriedade de notificação de casos, conforme portarias do Ministério da Saúde, foram fundamentais para aumentar a detecção de casos que antes poderiam ter passado despercebidos (Miranda, 2023). A conscientização dos profissionais de saúde e das gestantes sobre a importância do diagnóstico precoce também contribuiu para esse aumento, como evidenciado por estudos que enfatizam a educação em saúde como ferramenta essencial (Inagaki et al., 2020; Santos et al., 2023).

Além disso, mudanças nos hábitos da população, como o aumento da urbanização e alterações nas práticas de higiene, são fatores que potencialmente elevaram a incidência da toxoplasmose. A ausência de saneamento básico e o acesso limitado a água tratada em áreas urbanas são riscos conhecidos para a transmissão do Toxoplasma gondii (Oliveira et al., 2023). A pesquisa de Oliveira et al. (2023) ressalta a necessidade de uma educação continuada, especialmente em populações vulneráveis, para prevenir a transmissão da infecção. Dessa forma, fatores socioeconômicos, como a escolaridade e o acesso limitado a informações de saúde, podem influenciar a suscetibilidade das gestantes à infecção (Carvalho, 2023).

As campanhas de saúde pública tiveram papel importante na conscientização sobre os riscos da toxoplasmose e na promoção de práticas preventivas. Programas voltados para a orientação de gestantes sobre higiene e comportamento de risco mostraram-se eficazes na redução da transmissão (Santos et al., 2020). A divulgação de informações por meio de campanhas educativas e o trabalho de profissionais de saúde na atenção básica foram determinantes para a maior identificação de casos, o que se reflete no aumento das estatísticas registradas (Santos et al., 2020; Melo et al., 2022).

A alta taxa de confirmação de casos de toxoplasmose gestacional, variando entre 83,86% e 89,65% durante o período estudado, indica um aprimoramento contínuo dos métodos diagnósticos e da vigilância epidemiológica. Estudos indicam que a precisão dos testes sorológicos para confirmação da toxoplasmose aumentou significativamente, contribuindo para uma identificação mais eficaz dos casos (Oliveira et al., 2023). A implementação de protocolos rigorosos de triagem e a capacitação contínua de profissionais de saúde são fatores que auxiliam na redução de subdiagnósticos, permitindo um manejo clínico mais adequado (Oliveira et al., 2023).

A correlação entre os casos confirmados e a quantidade de diagnósticos descartados ou inconclusivos está relacionada à natureza dos testes e à dinâmica da infecção. Uma triagem rigorosa tende a aumentar o número de testes realizados, revelando casos que, apesar de não atenderem aos critérios de confirmação, requerem acompanhamento (Oliveira et al., 2023). Essa dinâmica sugere a necessidade de um monitoramento contínuo das gestantes em risco, com reavaliação de casos inconclusivos, reforçando a importância da vigilância epidemiológica ativa e da notificação obrigatória (Oliveira et al., 2023).

A forte correlação (r > 0,96) observada entre diagnósticos realizados no primeiro trimestre e desfechos positivos, como a cura, reforça a importância da detecção precoce da toxoplasmose gestacional. A identificação da infecção nos estágios iniciais permite intervenções terapêuticas mais eficazes, reduzindo significativamente o risco de complicações para mãe e feto (Fernandes, 2023). O diagnóstico precoce possibilita um acompanhamento mais rigoroso, incluindo o uso de medicamentos antiparasitários, que têm demonstrado eficácia na redução de desfechos adversos, como retinocoroidite e hidrocefalia (Hammacher et al., 2021; Silva et al., 2022).

A educação em saúde, particularmente durante o pré-natal, desempenha um papel crucial na melhoria dos desfechos clínicos. Gestantes bem informadas sobre os riscos da toxoplasmose tendem a buscar o diagnóstico precoce e seguir as orientações médicas, aumentando assim as chances de tratamento eficaz (Oliveira et al., 2023). A implementação de programas de educação e capacitação de profissionais de saúde é uma estratégia fundamental para reforçar essa abordagem, visando à prevenção e ao manejo adequado da toxoplasmose gestacional (Oliveira et al., 2023).

Limitações do Estudo

Este estudo apresenta algumas limitações que precisam ser reconhecidas. Primeiramente, por se tratar de uma pesquisa baseada em dados secundários do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), existe a possibilidade de subnotificação e erros no preenchimento dos registros, o que pode influenciar a qualidade e a precisão das informações analisadas. A natureza retrospectiva da coleta de dados também limita o controle sobre as variáveis estudadas, visto que não foi possível padronizar a coleta no momento em que os registros foram feitos.

Outra limitação significativa é o fato de que a análise se restringiu a dados de um único município, o que pode reduzir a generalizabilidade dos resultados para outras regiões. Além disso, as variáveis disponíveis nas bases de dados nem sempre permitiram uma análise mais aprofundada de fatores socioeconômicos e ambientais que poderiam influenciar a incidência e o desfecho dos casos de toxoplasmose gestacional.

Por fim, embora tenha sido utilizada uma análise estatística robusta, a interpretação dos resultados pode ser limitada pela ausência de informações qualitativas que poderiam complementar a compreensão dos padrões observados, como dados sobre o acesso aos serviços de saúde e adesão ao tratamento por parte das pacientes. Essas limitações destacam a necessidade de estudos futuros que incluam uma coleta de dados mais abrangente e aprofundada para melhor entendimento da dinâmica da toxoplasmose gestacional em diferentes contextos epidemiológicos.

Conclusão

A análise do perfil epidemiológico da toxoplasmose gestacional no estado de São Paulo entre 2019 e 2023 revelou importantes achados que respondem ao objetivo proposto. Observou-se que a infecção por Toxoplasma gondii afetou predominantemente gestantes jovens, com baixa escolaridade e residentes em áreas urbanas. Fatores como o consumo de alimentos crus e o contato com solo contaminado foram identificados como potenciais riscos associados à infecção.

Além disso, os desfechos clínicos mostraram que a maioria dos casos identificados estava relacionada a sintomas leves ou assintomáticos, destacando a importância de estratégias de rastreamento e diagnóstico precoce para prevenir complicações, especialmente aquelas associadas à transmissão vertical e aos riscos para o feto, como malformações congênitas.

Portanto, os resultados deste estudo podem contribuir para o desenvolvimento de políticas de saúde pública voltadas para a educação em saúde, a triagem de gestantes em grupos de risco e a ampliação do acesso a exames de diagnóstico precoce, auxiliando na redução da incidência e nas complicações da toxoplasmose gestacional.

Referencias

  1. Azevedo, A., Corrêa, G., & Moreira, A. (2022). Manifestações oculares tardias da toxoplasmose sistêmica adquirida- uma revisão integrativa de literatura. Research Society and Development, 11(15), e54111536968. https://doi.org/10.33448/rsd-v11i15.36968
  2. Brito, F. (2023). Vigilância epidemiológica para toxoplasmose e doença de chagas em pessoas vivendo com hiv/aids (pvha). Veterinária E Zootecnia, 30, 1-23. https://doi.org/10.35172/rvz.2023.v30.1558
  3. Carmo, E., Morais, R., Oliveira, A., Figueredo, J., Figueredo, M., Silva, A., … & Póvoa, M. (2016). Soroepidemiologia da infecção pelo toxoplasma gondii no município de novo repartimento, estado do pará, brasil. Revista Pan-Amazônica De Saúde, 7(4). https://doi.org/10.5123/s2176-62232016000400010
  4. Carvalho, B. (2023). Análise epidemiológica de microcefalia causada por toxoplasmose congênita no brasil.. https://doi.org/10.18066/inic0404.23
  5. Câmara, J., Silva, M., & Castro, A. (2015). Prevalência de toxoplasmose em gestantes atendidas em dois centros de referência em uma cidade do nordeste, brasil. Revista Brasileira De Ginecologia E Obstetrícia / Rbgo Gynecology and Obstetrics, 37(2), 64-70. https://doi.org/10.1590/so100-720320150005115
  6. Inagaki, A., Souza, I., Araujo, A., Abud, A., Cardoso, N., & Ribeiro, C. (2020). Conhecimento de médicos e enfermeiros atuantes no pré-natal sobre toxoplasmose. Cogitare Enfermagem, 26. https://doi.org/10.5380/ce.v26i0.70416
  7. Monteiro, A., Pieri, J., Rodrigues, A., Ribeiro, B., & Silva, J. (2016). Incidence serology positive for the toxoplasma gondii in centro universitário amparense – unifia.. Saúde Em Foco, 8. https://doi.org/10.17648/unifia-saude-foco-ed-8-vol-1-019
  8. Morais, R., Freire, A., Barbosa, D., Silva, L., Pinheiro, A., Costa, S., … & Carmo, E. (2016). Surto de toxoplasmose aguda no município de ponta de pedras, arquipélago do marajó, estado do pará, brasil: características clínicas, laboratoriais e epidemiológicas. Revista Pan-Amazônica De Saúde, 7(esp), 143-152. https://doi.org/10.5123/s2176-62232016000500016
  9. Oliveira, A., Andrade, B., Silva, J., Santos, T., Almeida, A., & Brito, M. (2023). Fatores relacionados com a suscetibilidade e transmissibilidade da toxoplasmose em gestantes uma revisão sistemática. Research Society and Development, 12(6), e17512642249. https://doi.org/10.33448/rsd-v12i6.42249
  10. Pedrassani, D., Silveira, T., & Silva, R. (2013). Sorologia para toxoplasma gondii em suínos do centro de educação profissional vidal ramos, canoinhas – sc. Saúde E Meio Ambiente Revista Interdisciplinar, 1(2), 171-181. https://doi.org/10.24302/sma.v1i2.253
  11. Righi, N., Hermes, L., Piccini, J., Branco, J., Skupien, J., Weinmann, Â., … & Schuch, N. (2021). Perfil epidemiológico dos casos de toxoplasmose gestacional e congênita decorrentes do surto populacional. Scientia Medica, 31(1), e40108. https://doi.org/10.15448/1980-6108.2021.1.40108
  12. Rodrigues, N., Manzini, S., Pereira, J., Cruz, T., Bertozzo, T., Moraes, G., … & Langoni, H. (2022). Atualizações e padrões da toxoplasmose humana e animal: revisão de literatura. Veterinária E Zootecnia, 29, 1-15. https://doi.org/10.35172/rvz.2022.v29.704
  13. Silva, D. (2023). Diagnóstico da infecção pelo toxoplasma gondii em gestantes de fronteira brasileira, foz do iguaçu. Cadernos Saúde Coletiva, 31(4). https://doi.org/10.1590/1414-462×202331040108
  14. Wilken, S., Landi, G., & Abreu, A. (2016). Rastreamento soroepidemiológico para toxoplasmose em adolescentes: uma estratégia para aumentar o diagnóstico de certeza datoxoplasmose aguda gestacional. Revista Científica Da Faculdade De Medicina De Campos, 11(2), 19-24. https://doi.org/10.29184/1980-7813.rcfmc.5.vol.11.n2.2016
  15. Carvalho, B. (2023). Análise epidemiológica de microcefalia causada por toxoplasmose congênita no brasil.. https://doi.org/10.18066/inic0404.23
  16. Inagaki, A., Souza, I., Araujo, A., Abud, A., Cardoso, N., & Ribeiro, C. (2020). Conhecimento de médicos e enfermeiros atuantes no pré-natal sobre toxoplasmose. Cogitare Enfermagem, 26. https://doi.org/10.5380/ce.v26i0.70416
  17. Melo, B., Silva, C., Lima, E., & Silva, T. (2022). Atuação do enfermeiro na prevenção de toxoplasmose gestacional e congênita na atenção básica. Brazilian Journal of Development, 8(12), 77464-77479. https://doi.org/10.34117/bjdv8n12-048
  18. Miranda, C. (2023). Perfil epidemiológico da toxoplasmose em gestantes do município de anápolis no período de 2008 a 2017. Brazilian Journal of Health Review, 6(5), 20153-20171. https://doi.org/10.34119/bjhrv6n5-063
  19. Oliveira, A., Andrade, B., Silva, J., Santos, T., Almeida, A., & Brito, M. (2023). Fatores relacionados com a suscetibilidade e transmissibilidade da toxoplasmose em gestantes uma revisão sistemática. Research Society and Development, 12(6), e17512642249. https://doi.org/10.33448/rsd-v12i6.42249
  20. Santos, B., Júnior, A., Marchese, G., Sousa, A., Lopes, I., & Angeloni, M. (2020). Ações de extensão com profissionais da saúde na atenção primária para a prevenção da toxoplasmose gestacional e congênita. Revista Brasileira De Extensão Universitária, 11(3), 407-416. https://doi.org/10.36661/2358-0399.2020v11i3.11585
  21. Santos, J., Carvalho, G., Brandespim, D., & Ramos, R. (2023). Conhecimento dos profissionais de saúde acerca da toxoplasmose gestacional e congênita. Medicina Veterinária (Ufrpe), 16(4), 249-256. https://doi.org/10.26605/medvet-v16n4-5215
  22. Oliveira, A., Andrade, B., Silva, J., Santos, T., Almeida, A., & Brito, M. (2023). Fatores relacionados com a suscetibilidade e transmissibilidade da toxoplasmose em gestantes uma revisão sistemática. Research Society and Development, 12(6), e17512642249. https://doi.org/10.33448/rsd-v12i6.42249
  23. Oliveira, A., Andrade, B., Silva, J., Santos, T., Almeida, A., & Brito, M. (2023). Fatores relacionados com a suscetibilidade e transmissibilidade da toxoplasmose em gestantes uma revisão sistemática. Research Society and Development, 12(6), e17512642249. https://doi.org/10.33448/rsd-v12i6.42249
  24. Santos, B., Júnior, A., Marchese, G., Sousa, A., Lopes, I., & Angeloni, M. (2020). Ações de extensão com profissionais da saúde na atenção primária para a prevenção da toxoplasmose gestacional e congênita. Revista Brasileira De Extensão Universitária, 11(3), 407-416. https://doi.org/10.36661/2358-0399.2020v11i3.11585
  25. Fernandes, N. (2023). Toxoplasmose gestacional e congênita.. https://doi.org/10.51161/conbrasp2023/27066
  26. Hammacher, G., Azeredo, S., Rengel, N., Silva, G., & Tonial, F. (2021). Toxoplasma gondii na gestação – danos no desenvolvimento fetal.. https://doi.org/10.51161/rems/704
  27. Oliveira, A., Andrade, B., Silva, J., Santos, T., Almeida, A., & Brito, M. (2023). Fatores relacionados com a suscetibilidade e transmissibilidade da toxoplasmose em gestantes uma revisão sistemática. Research Society and Development, 12(6), e17512642249. https://doi.org/10.33448/rsd-v12i6.42249
  28. Silva, C., Carvalho, T., Abrão, D., Silva, A., Morais, F., & Carvalho, I. (2022). Repercussions of the diagnosis of fetus malformation under the light of betty neuman’s theory. Rev Rene, 23, e71993. https://doi.org/10.15253/2175-6783.20222371993

1 Leojacometo@icloud.com
Acadêmico Medicina Unoeste Guarujá

2 Manureinertg@gmail.com
Acadêmica Medicina Unoeste Guarujá

3 aranhanatalia@hotmail.com
Acadêmica Medicina Unoeste Guarujá

4 guedesdcgustavo@gmail.com
Acadêmico Medicina Unoeste Guarujá

5 paola.medicina19@gmail.com
Acadêmica Medicina Unoeste Guarujá

6 dra.blodux@gmail.com
Acadêmica Medicina Unaerp Guarujá

7 dudaribeiroandrade@icloud.com
Acadêmica Medicina Unoeste Guarujá

8 giovanna_hofmann@hotmail.com
Acadêmica Medicina Unoeste Guarujá

9 lucas.knorst@hotmail.com
Acadêmico Medicina Unoeste Guarujá

10 juliacapuano23@gmail.com
Acadêmica Medicina Unoeste Guarujá

11 andrezasousa.med@gmail.com
Acadêmica Medicina Unoeste Guarujá