EPIDEMIOLOGIA DA PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE: UMA REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202412120505


Ana Cecília Cardoso de Sousa Mota1
Luíza Braga Marques2
Larissa Kaylane dos Reis3


Resumo

A Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC) continua a ser uma das principais causas de morbimortalidade mundial, com especial impacto em idosos, crianças e indivíduos com comorbidades. Este trabalho tem como objetivo realizar uma revisão da literatura sobre a epidemiologia da PAC, com foco em aspectos como diagnóstico, tratamento e prevenção. A revisão enfatiza a importância da vacinação pneumocócica e contra a influenza, evidenciando seu papel na redução de complicações, hospitalizações e mortalidade. Além disso, discute a estratificação de risco por meio de ferramentas como CURB-65 e o uso de diagnósticos avançados, incluindo marcadores inflamatórios como proteína C-reativa (PCR) e procalcitonina, além de testes sorológicos como o RT-PCR (Reação em Cadeia da Polimerase com Transcrição Reversa), para um manejo mais preciso e eficaz. A resistência antimicrobiana é abordada como um desafio crescente, reforçando a necessidade de estratégias de tratamento personalizadas. A revisão também destaca o papel fundamental da atenção primária à saúde na prevenção e controle da PAC, com a implementação de estratégias de vacinação e monitoramento de pacientes em grupos de risco.

Palavras-chave: Epidemiologia; Pneumonia Adquirida na Comunidade; Saúde Pública; Prevenção de Doenças.

Abstract

Community-acquired pneumonia (CAP) remains one of the leading causes of morbidity and Community-acquired pneumonia (CAP) remains one of the leading causes of morbidity and mortality worldwide, particularly impacting the elderly, children, and individuals with comorbidities. This paper aims to provide a literature review on the epidemiology of CAP, focusing on aspects such as diagnosis, treatment, and prevention. The review emphasizes the importance of pneumococcal and influenza vaccination, highlighting their role in reducing complications, hospitalizations, and mortality. It also discusses risk stratification through tools like CURB-65 and the use of advanced diagnostics, including inflammatory markers such as C-reactive protein (CRP) and procalcitonin, as well as serological tests like RT-PCR (Reverse Transcription Polymerase Chain Reaction), for more precise and effective management. Antimicrobial resistance is addressed as a growing challenge, reinforcing the need for personalized treatment strategies. The review also highlights the critical role of primary health care in the prevention and control of CAP, with the implementation of vaccination strategies and monitoring of high-risk patient groups.

Keywords: Epidemiology; Community-Acquired Pneumonia; Public Health; Disease Prevention.

INTRODUÇÃO

A Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC) é uma infecção respiratória aguda que acomete os pulmões, afetando os alvéolos pulmonares, e pode ser causada por bactérias, vírus ou fungos. Frequentemente diagnosticada na prática clínica, a PAC apresenta um espectro amplo de gravidade, desde casos leves até formas necrosantes. A doença pode comprometer múltiplos lobos pulmonares e, em situações mais graves, evoluir para sepse e choque séptico (Rider & Frazee, 2018). Reconhecida como uma das principais causas de mortalidade e hospitalizações em nível global, a PAC representa um desafio significativo tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento (Nascimento-Carvalho, 2020).

Os grupos de risco para desenvolver formas graves de PAC incluem idosos, crianças, pessoas com comorbidades como diabetes mellitus, hipertensão, doenças pulmonares crônicas e aqueles com imunossupressão. A patogênese da PAC envolve uma resposta inflamatória exacerbada, que pode resultar em lesões pulmonares difusas, comprometendo as trocas gasosas e levando à insuficiência respiratória (MIYASHITA et al., 2021).

As manifestações clínicas da PAC são variadas, refletindo a diversidade de interações entre o agente infeccioso e o hospedeiro. Embora os vírus sejam os agentes mais comuns, o Streptococcus pneumoniae ainda representa uma proporção significativa dos casos. Entre os sintomas frequentes estão a hipoxemia (SatO2 ≤ 95%) e o aumento do esforço respiratório. A avaliação da gravidade inclui sinais de alerta, como vômito, dificuldade respiratória, convulsões, cianose central, letargia e incapacidade de ingerir alimentos ou líquidos. A presença de fadiga e sudorese também pode indicar maior gravidade, e esses fatores estão entre os preditores de mortalidade e necessidade de internação urgente (OLIVEIRA et al., 2024).

O diagnóstico de pneumonia é complexo e exige uma análise detalhada dos sintomas, fatores de risco e achados clínicos do paciente. Febre súbita, calafrios, tosse produtiva, fadiga, perda de apetite e dor torácica pleurítica são sinais clássicos que levantam suspeitas de pneumonia. A história médica, incluindo viagens recentes, doenças pulmonares preexistentes e histórico de tabagismo, é essencial na avaliação inicial (GRIEF & LOZA, 2018). Durante o exame físico, alterações características incluem murmúrio vesicular reduzido, estertores crepitantes, frêmito tátil aumentado e expansibilidade torácica diminuída, que sugerem consolidação pulmonar. Além disso, a presença de taquipneia, cianose e hipotensão são sinais de gravidade que demandam intervenção imediata (RIDER & FRAZEE, 2018).

A revisão das recomendações para o manejo da Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC) publicada no Journal of the British Pharmacological Society (JBP) em 2018 destaca que a radiografia de tórax é útil, especialmente em pacientes com sinais vitais alterados ou achados anormais no exame físico. Contudo, não é indispensável em todos os casos, especialmente em pacientes de baixo risco com sintomas típicos, para evitar sobrecarga de exames e exposição à radiação. O artigo também aponta que poucos médicos conseguem realizar o diagnóstico com precisão sem o auxílio da radiografia, dada a complexidade do quadro clínico (JBP, 2018). Estudos como o de Christodoulou et al. (2024) reforçam essa abordagem, indicando que até 34% dos casos de PAC podem ser diagnosticados apenas com a avaliação clínica, reservando a radiografia para complicações ou falhas no tratamento inicial. Além disso, outros testes diagnósticos, como os marcadores inflamatórios PCR (proteína C-reativa), procalcitonina e culturas microbiológicas, podem auxiliar na diferenciação da pneumonia de outras condições respiratórias, ajudando a avaliar a gravidade e a monitorar a resposta ao tratamento. Assim, a combinação de avaliação clínica, exames de imagem e biomarcadores é essencial para o manejo eficaz da PAC.

Durante o tratamento, a seleção inicial dos antibióticos antes da identificação do patógeno deve basear-se nos fatores de risco do paciente e na gravidade da doença, identificando a importância do reconhecimento epidemiológico sobre o quadro. O início rápido de antibióticos adequados é essencial para reduzir resultados adversos em casos graves de pneumonia adquirida na comunidade (MODI & KOVACS, 2020).

Em relação à duração, os antibióticos devem ser administrados por no mínimo 5 dias, podendo estender-se de 7 a 10 dias ou até que ocorra melhora clínica em casos graves, imunocomprometidos ou com complicações pulmonares ou extrapulmonares. Caso o organismo seja identificado por cultura, reação em cadeia da polimerase (RT-PCR) ou sorologia, o regime antibiótico empírico deve ser ajustado ao patógeno específico (GRIEF & LOZA, 2018; MODI & KOVACS, 2020). 

Em síntese, a PAC se apresenta como um desafio constante na prática médica, exigindo diagnóstico precoce, estratificação de risco precisa e tratamento adequado. Apesar dos avanços no entendimento e manejo da doença, é fundamental personalizar o cuidado de acordo com a gravidade do paciente e a susceptibilidade aos antibióticos. Uma abordagem integrada, que combine avaliação clínica, ferramentas de estratificação de risco e tratamento individualizado, é essencial para aprimorar os desfechos e reduzir a morbidade associada à PAC (JORDÃO et al., 2023).

O objetivo deste artigo é examinar a epidemiologia da PAC no Brasil e no mundo, com foco na sua prevalência, nos principais grupos de risco e nos fatores ambientais e socioeconômicos que influenciam sua incidência. Adicionalmente, propõe-se discutir estratégias de prevenção e controle, destacando a relevância de medidas integradas em diferentes níveis de prevenção para o enfrentamento da PAC. Ao aprofundar a compreensão sobre os aspectos epidemiológicos e preventivos, busca-se identificar ações eficazes que contribuam para mitigar o impacto desta doença, sobretudo no contexto da saúde pública brasileira.

METODOLOGIA 

O presente estudo consiste em uma revisão exploratória integrativa de literatura. A revisão integrativa foi realizada em seis etapas: 1) identificação do tema e seleção da questão norteadora da pesquisa; 2) estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos e busca na literatura; 3) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; 4) categorização dos estudos; 5) avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa e interpretação e 6) apresentação da revisão.

Na etapa inicial, para definição da questão de pesquisa utilizou-se da estratégia PICO (Acrômio para Patient, Intervention, Comparation e Outcome). Assim, definiu-se a seguinte questão central que orientou o estudo: “Como é a epidemiologia da pneumonia adquirida na comunidade no Brasil e no mundo e quais as formas de prevenção?” Nela, observa-se o P: População geral, com foco em adultos e idosos que são mais vulneráveis à PAC; I: Medidas de prevenção, como vacinação, práticas de higiene, controle de comorbidades, e intervenções de saúde pública; C: Não se aplica; O: Redução da incidência de pneumonia adquirida na comunidade, diminuição da morbidade e mortalidade, e controle de surtos.

Para responder a esta pergunta, foi realizada a busca de artigos envolvendo o desfecho pretendido utilizando os seguintes descritores: pneumonia adquirida na comunidade, epidemiologia e prevenção. Para o cruzamento das palavras chaves utilizou-se o operador booleano “and”, formando então “pneumonia adquirida na comunidade AND prevenção”, e “pneumonia adquirida na comunidade AND epidemiologia”. 

Realizou-se um levantamento bibliográfico por meio de buscas eletrônicas nas seguintes bases de dados: Google Scholar; Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), National Library of Medicine (PubMed).

A busca foi realizada nos meses de agosto e setembro de 2024. Como critérios de inclusão, limitou-se a artigos escritos em todos os idiomas, publicados nos últimos 5 anos (2020   a junho de 2024), que abordassem o tema pesquisado e que estivessem disponíveis eletronicamente em seu formato integral. Foram excluídos, no primeiro momento de identificação na base de dados, os artigos com título e resumo incompatíveis e fora da data de publicação. Na leitura íntegra, foram excluídos os artigos que não tratavam sobre a epidemiologia da PAC.

Após a etapa de levantamento das publicações, encontrou 40 artigos, dos quais foram realizados a leitura do título e resumo das publicações considerando o critério de inclusão e exclusão definidos e foram selecionados 28 artigos. Em seguida, realizou a leitura na íntegra das publicações pré-selecionadas, atentando-se novamente aos critérios de inclusão e exclusão, sendo que 16 artigos não foram utilizados devido aos critérios de exclusão. Foram selecionados 12 artigos para análise final e construção da revisão. 

Posteriormente a seleção dos artigos, realizou um fichamento das obras selecionadas a fim de selecionar a coleta e análise dos dados. Os dados coletados foram disponibilizados em um quadro, possibilitando ao leitor a avaliação da aplicabilidade da revisão integrativa elaborada, de forma a atingir o objetivo desse método.

A Figura 1 demonstra o processo de seleção dos artigos por meio das palavras-chaves de busca e da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão citados na metodologia. O fluxograma leva em consideração os critérios elencados pela estratégia PRISMA (PAGE et al., 2021).

Figura 1 – Fluxograma da busca e inclusão dos artigos

Fonte: Adaptado do Preferred Reporting Items for Systematic review and Meta-Analyses (PRISMA). (PAGE et al., 2021).

RESULTADOS 

AutoresPrincipais achados
FERREIRA-COIMBRA & RELLO, 2020A incidência da PAC é amplamente variável, afetando particularmente idosos e pessoas com comorbidades. A mortalidade é elevada em casos graves, especialmente entre pacientes hospitalizados com insuficiência respiratória ou sepse, e a letalidade aumenta com a idade e a presença de doenças crônicas. O Streptococcus pneumoniae continua sendo o patógeno causador mais comum, com uma participação relevante de vírus e bactérias resistentes. Procalcitonina e PCR são citados como auxiliares na avaliação da gravidade e monitoramento. As vacinas pneumocócicas contribuem significativamente para reduzir a prevalência de alguns sorotipos de S. pneumoniae
ESHWARA et al., 2020A PAC é uma das principais causas de morbimortalidade globalmente, sendo que o Streptococcus pneumoniae permanece o patógeno mais comum na PAC, seguido de outros agentes como Haemophilus influenzae, Staphylococcus aureus e Klebsiella pneumoniae. Patógenos emergentes, como Burkholderia pseudomallei e Mycobacterium tuberculosis, também são relevantes, especialmente em países tropicais, incluindo o Brasil. A taxa de letalidade chega a 50% em pacientes internados em UTIs; além disso, o uso de ferramentas como o CURB-65, procalcitonina e  PCR são opções eficientes para auxiliar no diagnóstico e na escolha do tratamento.
SHARMA et al., 2020;O risco de desenvolver PAC evidenciado foi seis a oito vezes maior em pessoas com DPOC em comparação com indivíduos saudáveis, além de apresentarem risco aumentado de morbimortalidade e sobrecarga econômica; a hospitalização também é mais prevalente entre os idosos e em pacientes com comorbidades. O S. pneumoniae continua sendo o patógeno bacteriano mais isolado em culturas, e sua suscetibilidade aos macrolídeos, tetraciclinas e alguns beta-lactâmicos usados no tratamento tem diminuído constantemente. Diretrizes atualizadas recomendam que pacientes com PAC grave e sem fatores de risco para MRSA ou Pseudomonas aeruginosa, sejam tratados com um antibiótico beta-lactâmico associado a um macrolídeo, ou um beta-lactâmico associado a uma fluoroquinolona respiratória. 
TICONA; ZACCONE; MCFARLANE, 2021;Evidencia-se que fatores como tabagismo, idade avançada, doenças crônicas e o uso de medicamentos imunossupressores contribuem para a incidência da PAC. Os agentes etiológicos mais comuns incluem Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, além de que as taxas de letalidade são mais elevadas em pacientes hospitalizados, devido à gravidade da doença e à presença de infecções secundárias. Recomenda-se a utilização de critérios como CURB-65 e procalcitonina para a avaliação de risco, com grande relevância para o prognóstico e direcionar o tratamento.
WOMACK & KROPA, 2022;Em termos de etiologia, a etiologia da PAC deriva de vírus (23% dos casos), bactérias (11%), ou de patógenos não identificados (62%). O diagnóstico inclui exames físicos e radiografia de tórax como recomendação, mas pode ser complementado com outros exames conforme individualização do paciente. A dosagem de procalcitonina não foi recomendada, e culturas e testes de antígeno são indicados apenas para casos graves. No tratamento, betalactêmicos são recomendados para pacientes ambulatoriais sem comorbidades, enquanto pacientes com comorbidades ou hospitalizados requerem combinações de betalactâmicos com macrolídeos ou fluoroquinolonas. As diretrizes desaconselham o uso de corticosteroides em casos não complicados de PAC, mas recomendam antivirais, como oseltamivir, para PAC associada à influenza. Na prevenção, a vacinação com as vacinas pneumocócicas conjugadas e polissacarídicas, além das vacinas contra influenza e COVID-19, é altamente recomendada para adultos de 65 anos ou mais e indivíduos com comorbidades.
RAEZ et al., 2022;Destaca falhas na promoção e prevenção de saúde relacionadas PAC, evidenciando o desconhecimento da doença por parte da maioria dos pacientes antes de uma intervenção educativa. A pesquisa mostra que grande parte da população afetada pela PAC possui um entendimento insuficiente sobre a doença, o que contribui para a falta de adesão a práticas preventivas e ao autocuidado. Embora o estudo não forneça números específicos sobre a prevalência da PAC, ele enfoca a importância da educação para aumentar o conhecimento da comunidade sobre a prevenção da PAC, como a vacinação, e sobre o reconhecimento precoce dos sintomas da doença. A falta de conscientização foi identificada como um fator crítico para a propagação da PAC, especialmente em populações vulneráveis, com um risco maior de complicações graves. A intervenção educativa proposta, com o apoio de líderes comunitários, foi associada a uma melhoria considerável no conhecimento e na conscientização sobre a PAC, sugerindo que a educação em saúde é uma estratégia crucial para reduzir a carga da doença..
NIEDERMAN & TORRES, 2022;Pneumonia grave adquirida na comunidade muitas vezes exige internação em unidade de terapia intensiva (UTI) e apresenta alta morbidade e mortalidade. Os dados revelaram que a mortalidade hospitalar para esses pacientes chega a 40%, especialmente em casos com complicações como choque séptico e necessidade de ventilação mecânica, sendo que os principais agentes etiológicos são Streptococcus pneumoniae e Legionella pneumophila. No diagnóstico, o uso de métodos moleculares, como plataformas de PCR, tem mostrado maior sensibilidade no diagnóstico desses agentes, inclusive para vírus, que podem ser mais frequentes do que anteriormente reconhecido.
MARTIN-LOECHES et al., 2023;A mortalidade da PAC grave é alta, especialmente entre pacientes com complicações como choque séptico e necessidade de ventilação mecânica. Streptococcus pneumoniae e Legionella pneumophila são os principais agentes etiológicos. A mortalidade hospitalar pode atingir 40%, com a intervenção precoce sendo crucial. Procalcitonina e PCR são usados para avaliar a gravidade e ajustar o tratamento.
SILVA et al., 2023;A morbimortalidade da PAC é elevada, principalmente entre idosos, portadores de doenças crônicas e pacientes imunossuprimidos. Medidas preventivas são eficazes, como a vacinação e a cessação do consumo de tabaco. As escalas de gravidade prognóstica auxiliam no diagnóstico dos casos mais graves de PAC e, assim, é possível ajudar na definição do regime terapêutico, seja em regime ambulatorial, hospitalar ou em unidade de cuidados intensivos. O início precoce do tratamento antimicrobiano, especialmente nos casos mais graves, aumenta a sobrevivência e reduz o risco de complicações relacionadas. Embora vários estudos demonstram benefício no uso de corticosteroides nesses casos, seu uso permanece controverso, especialmente em casos leves e em pneumonias virais. O aumento da incidência de patógenos multirresistentes, bem como o aumento da idade da população com o crescimento coincidente da prevalência de comorbidades, são desafios cada vez mais presentes na prática clínica. 
SÁ et al., 2023;Destaca a importância dos cuidados primários na redução da incidência de PAC, com foco em duas medidas cruciais: o incentivo à cessação do tabagismo e a vacinação. Esses fatores têm demonstrado um impacto significativo na redução da incidência da PAC, na melhora do prognóstico dos pacientes e na diminuição dos custos de saúde associados ao tratamento da doença. A pesquisa também sublinha a relevância de uma avaliação precisa da gravidade da PAC, pois isso permite uma melhor definição do tratamento. Nesse contexto, o uso de ferramentas de estratificação de risco, como o CURB-65, facilita a escolha da abordagem terapêutica mais apropriada para cada paciente, otimizando os recursos e melhorando os desfechos clínicos.
MALINIS et al., 2024;A PAC segue sendo uma causa importante de morbidade e mortalidade, com taxas elevadas de incidência, especialmente entre idosos e pacientes com comorbidades. A resistência antimicrobiana é um fator crítico, e o surgimento de novos patógenos como SARS-CoV-2 e agentes fúngicos também tem aumentado a complexidade do tratamento. Os fatores de risco incluem idade avançada, comorbidades, uso de imunossupressores e exposição ambiental. A apresentação clínica pode variar de sintomas leves a complicações graves, como insuficiência respiratória e sepse. Procalcitonina e PCR são destacados como indicadores da gravidade da infecção. Dentre os avanços diagnósticos, métodos como PCR multiplex têm melhorado a identificação de patógenos, mas apenas 30-40% dos pacientes hospitalizados recebem um diagnóstico microbiológico. Isso resulta em tratamento empírico na maioria dos casos. 
ARANTES et al., 2024;A PAC continua sendo uma das principais causas de morbidade e mortalidade, com alta taxa de incidência, especialmente em populações com idade avançada, doenças crônicas e comorbidades. A presença de patógenos resistentes, como Streptococcus pneumoniae e outras bactérias, têm aumentado, o que torna o prognóstico mais grave, particularmente entre os idosos. Além disso, a utilização de procalcitonina e PCR tem se mostrado útil para avaliação da gravidade da PAC e para o monitoramento da resposta ao tratamento. A implementação de medidas preventivas, como a vacinação contra Streptococcus pneumoniae e influenza, tem mostrado eficácia significativa na redução de casos de PAC e na diminuição da morbidade.

DISCUSSÃO

Os dados avaliados dentre os artigos selecionados exploram a epidemiologia da PAC, especialmente no Brasil, destacando seu impacto na saúde pública e as estratégias necessárias para seu enfrentamento. A PAC é uma das condições infecciosas mais prevalentes no mundo, afetando especialmente os extremos de idade, como crianças menores de 5 anos e idosos acima de 65 anos, além de indivíduos com comorbidades crônicas. No Brasil, a análise dos dados epidemiológicos revela que a PAC permanece como uma das principais causas de morbidade e mortalidade, com taxas de hospitalização mais elevadas em idosos (32,8%) e crianças menores de 4 anos (29,4%) em 2023, conforme dados do DATASUS. Isso reflete a vulnerabilidade desses grupos devido à menor imunidade e maior exposição a fatores de risco. Os dados são apresentados na Tabela 1. 

Tabela 1: Morbidade hospitalar por PAC no ano de 2023, por faixa etária e por região de internação.

Faixa EtáriaRegião NorteRegião NordesteRegião SudesteRegião SulRegião Centro- OesteTotal
Menor 1 ano12361194232376610961612472635
1 a 4 anos2180740189362311471910686123632
5 a 9 anos734017342150645302411249160
10 a 14 anos177546513971151195212860
15 a 19 anos11472461211111015557375
20 a 29 anos2529524060322978156018339
30 a 39 anos2615590078463638195521954
40 a 49 anos31557468117805551286330817
50 a 59 anos35539158174648892384142908
60 a 69 anos5004132222928515257572168489
70 a 79 anos6004199423798220491700491423
80 anos e +71733158454788248158972127332

Fonte: DATASUS/Tabnet, 2024.

A incidência e a gravidade da PAC são influenciadas por múltiplos fatores, como idade avançada, doenças pulmonares crônicas, imunossupressão, tabagismo e condições socioeconômicas desfavoráveis. Os estudos descritos apontam que homens apresentam uma maior taxa de hospitalização e mortalidade pela doença, possivelmente devido a fatores comportamentais e maior prevalência de comorbidades. A distribuição geográfica também é relevante, com maior incidência em regiões de baixa renda e acesso limitado aos serviços de saúde. 

A epidemiologia da PAC revela que Streptococcus pneumoniae permanece como o agente etiológico mais comum, elencado por 6 artigos selecionados, seguido por Haemophilus influenzae e patógenos atípicos, como Mycoplasma pneumoniae. Em pacientes hospitalizados, Legionella pneumophila e vírus respiratórios, como Influenza e SARS-CoV-2, também desempenham papel importante. A alta prevalência de S. pneumoniae reforça a importância da vacinação pneumocócica como medida preventiva eficaz, destacando sua importância diante da etiologia da doença, em conjunto aos vírus, que representam outra vertente etiológica predominante. 

Em relação ao diagnóstico, os resultados indicam que é necessária uma avaliação clínica detalhada, complementada por exames como radiografia de tórax e testes moleculares. Eshwara et al. (2020) e Malinis et al. (2024) destacam que a PCR é uma ferramenta útil tanto no diagnóstico quanto no acompanhamento da resposta terapêutica, uma vez que a curva gerada pelos valores desse marcador inflamatório reflete o estado clínico do paciente. Além disso, outras ferramentas, como o CURB-65, são recomendadas para a estratificação de risco, ajudando a avaliar a gravidade da doença e a orientar o manejo clínico. Métodos diagnósticos mais avançados, como a tomografia computadorizada, são indicados em casos específicos, oferecendo maior precisão no diagnóstico. Fatores laboratoriais associados a uma maior mortalidade incluem níveis elevados de PCR e procalcitonina, que indicam inflamação sistêmica. Pacientes com leucocitose ou leucopenia extrema também apresentam prognóstico mais reservado. Além disso, alterações como hipoxemia grave (SatO2 < 90%) e acidose metabólica são sinais de gravidade e exigem intervenção imediata.

O tratamento empírico inicial é baseado na gravidade da doença, fatores de risco do  paciente e padrões locais de resistência bacteriana. A duração do tratamento varia de cinco a dez dias, dependendo da gravidade do quadro e da resposta clínica. A necessidade de intervenções rápidas e eficazes reforça a importância de reconhecer os desafios associados ao aumento da resistência antimicrobiana. Os macrolídeos podem cobrir S. pneumoniae, o patógeno bacteriano típico mais comum em todas as idades. Contudo, cerca de 40% a 50% dos isolados de S. pneumoniae apresentam resistência a macrolídeos. Falhas terapêuticas podem indicar complicações, resistência aos macrolídeos ou necessidade de ajustar o tratamento para melhorar a cobertura contra pneumococos. 

Devido à significativa resistência de S. pneumoniae aos macrolídeos, fluoroquinolonas, como levofloxacina e moxifloxacina, representam uma alternativa viável para tratar PAC em crianças mais velhas, especialmente quando a pneumonia típica é considerada com base em achados clínicos. O manejo da PAC envolve o início rápido de antibióticos empíricos, ajustados conforme a gravidade do caso e os padrões locais de resistência. A duração do tratamento varia de 5 a 10 dias, dependendo da resposta clínica. 

A alta incidência de internações por pneumonia em crianças menores de 1 ano e de 1 a 4 anos reflete achados consistentes com estudos prévios. A introdução da vacina pneumocócica conjugada 10-valente no Programa Nacional de Imunizações (PNI), em 2010, representou um marco nos esforços para prevenir doenças invasivas, contribuindo para a redução das internações por pneumonia. No entanto, a queda na cobertura vacinal observada em 2016, abaixo da meta estabelecida pelo PNI, pode explicar o aumento de internações nessa faixa etária entre 2015 e 2022. Esse grupo é especialmente vulnerável devido à imaturidade do sistema imunológico, vias aéreas estreitas e desafios no reflexo de tosse, agravados por fatores como assistência inadequada durante o pré-natal, parto e puerpério. Esses aspectos tornam as crianças mais suscetíveis a formas graves de pneumonia, justificando a maior taxa de hospitalizações em comparação com adolescentes e adultos.

Medidas preventivas desempenham papel essencial na redução da incidência e gravidade da PAC. A vacinação pneumocócica e contra a Influenza é altamente recomendada para crianças, idosos e grupos de risco, demonstrando impacto significativo na redução das hospitalizações. Além disso, intervenções educativas, como cessação do tabagismo e fortalecimento da atenção primária, são fundamentais para prevenir complicações e melhorar o acesso ao diagnóstico precoce.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A PAC permanece sendo um dos maiores desafios de saúde pública devido à sua elevada morbimortalidade, impacto econômico e desigualdade no acesso ao diagnóstico e tratamento. Esta revisão de literatura reforça a existência de grupos vulneráveis como crianças pequenas, idosos e pacientes com comorbidades crônicas, além de destacar as altas taxas de hospitalização nesses grupos devido à menor imunidade e maior exposição a fatores de risco. A compreensão do perfil etiológico da PAC, com o Streptococcus pneumoniae como principal agente, evidencia a necessidade de estratégias preventivas, como a vacinação pneumocócica e contra a Influenza, que demonstraram eficácia na redução de complicações e mortalidade. Fatores laboratoriais, como elevação de PCR e procalcitonina, são indicadores prognósticos valiosos e devem ser utilizados para guiar o manejo clínico.

O enfrentamento da resistência antimicrobiana e a adequação do tratamento com antibióticos empíricos reforçam a importância de intervenções baseadas em evidências e monitoramento constante. Uma abordagem integrada, que combine prevenção, diagnóstico precoce e tratamento personalizado, é fundamental para aprimorar os desfechos clínicos, reduzir a carga sobre o sistema de saúde e melhorar a qualidade de vida dos pacientes acometidos pela doença.

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1Docente do Curso de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas- UNIPAM, MG-Brasil. https://orcid.org/0000-0001-8469-9450
2Discente do Curso de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM, MG – Brasil
3Discente do Curso de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM, MG – Brasil