EPIDEMIOLOGY OF DENGUE AND ITS IMPACTS ON PUBLIC HEALTH: A NARRATIVE REVIEW.
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411131646
Bruno Bezerra Torres De Alencar
Rafael Mendes De Macêdo
Dr. João Luiz Vieira Ribeiro
RESUMO
Introdução: A dengue é uma doença viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que impacta significativamente a saúde pública no Brasil. O quadro epidemiológico da dengue no Brasil caracteriza-se pela ampla distribuição do mosquito em todas as regiões, com uma complexa dinâmica de dispersão do seu vírus. Objetivos: Este trabalho teve como objetivo investigar a epidemiologia da dengue e seus efeitos sobre a saúde da população brasileira, abordando sua definição, sintomas e fatores precipitantes. Metodologia: uma revisão narrativa de abordagem qualitativa, com análise de sete artigos selecionados, sendo quatro da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e três da Scientific Electronic Library Online (SciELO). A busca foi realizada com os descritores “dengue” e “saúde pública”, aplicando filtros que garantiram a seleção de publicações dos últimos cinco anos, em português e texto completo. Resultados: os resultados indicam uma correlação entre a maior incidência de dengue e regiões com menor escolaridade e renda. Essa relação sugere que populações vulneráveis estão mais expostas aos riscos da doença, em função do limitado acesso a informações e serviços de saúde. Além disso, fatores climáticos, especialmente em períodos de chuvas, favorecem a proliferação do vetor. Conclusão: conclui-se que é crucial a formulação de políticas públicas mais eficazes que garantam acesso à informação e serviços de saúde, priorizando as áreas mais afetadas. A conscientização e mobilização social, aliadas à observação das condições climáticas, são essenciais para prevenir a dengue e mitigar seus impactos na saúde pública brasileira.
Palavras-chave: dengue, epidemiologia, saúde pública, Aedes aegypti, políticas públicas.
ABSTRACT
Introduction: Dengue is a viral disease transmitted by the Aedes aegypti mosquito, which significantly impacts public health in Brazil. The epidemiological picture of dengue in Brazil is characterized by the wide distribution of the mosquito in all regions, with a complex dynamic of dispersion of its virus. Objectives: This study aimed to investigate the epidemiology of dengue and its effects on the health of the Brazilian population, addressing its definition, symptoms and precipitating factors. Methodology: a narrative review with a qualitative approach, with analysis of seven selected articles, four from the Virtual Health Library (BVS) and three from the Scientific Electronic Library Online (SciELO). The search was performed using the descriptors “dengue” and “public health”, applying filters that ensured the selection of publications from the last five years, in Portuguese and in full text. Results: the results indicate a correlation between the higher incidence of dengue and regions with lower education and income. This relationship suggests that vulnerable populations are more exposed to the risks of the disease, due to limited access to health information and services. Furthermore, climatic factors, especially during rainy periods, favor the proliferation of the vector. Conclusion: it is crucial to formulate more effective public policies that guarantee access to information and health services, prioritizing the most affected areas. Awareness and social mobilization, combined with monitoring of climatic conditions, are essential to prevent dengue and mitigate its impacts on Brazilian public health.
Keywords: dengue, epidemiology, public health, Aedes aegypti, public policies.
INTRODUÇÃO
A dengue é classificada como uma arbovirose transmitida através do vetor Aedes aegypti, que também é responsável pela transmissão de febre amarela, chikungunya e zika. A crescente urbanização a nível global é um fator gatilho para que este vetor dissemine cada vez mais o vírus da dengue e demais doenças, uma vez que este é encontrado primordialmente nos conglomerados urbanos, além de se beneficiar das condições climáticas do Brasil para a sua proliferação. Ademais, o sistema de vigilância brasileiro apresenta falhas específicas que se apresentam como entraves no combate à disseminação do vetor da dengue (Rodrigues; Rego, 2023).
Além disso, o diagnóstico da dengue é primordialmente clínico, não sendo sempre possível fazer o diagnóstico diferencial através de métodos específicos e aplicados; ainda conta-se como entrave a falta de medicações específicas para a patologia, sendo tratados os sintomas conforme aparecem e não a doença de maneira sistêmica. Este tratamento é classificado como tratamento de suporte, uma vez que a sua aplicação é nos sintomas específicos como febre e dor, sendo utilizados antitérmicos e analgésicos, evitando o uso de anti-inflamatórios não esteroidais para que não se aumente o risco de hemorragia (Rodrigues; Rego, 2023) (Filho et al., 2024).
Os pacientes apresentam inicialmente febre súbita e alta podendo chegar a 40ºC, manchas avermelhadas, dores musculares e articulares, podendo evoluir para manifestações mais complicadas como a dengue hemorrágica, que é mais comum em pacientes que já apresentaram infecção prévia por outro sorotipo da dengue. Esta última combina quadros de plaquetopenia, minimização da parte branca do sangue, leucopenia e aumento da série vermelha, podendo levar ao extremo do óbito. A ativação dos linfócitos T pelos antígenos virais em células fagocitárias pode provocar lise celular e induzir um estado procoagulante, que pode culminar em choque. Esse fenômeno é agravado pelos altos níveis de TNF-α, que afetam negativamente as células inflamatórias e endoteliais, resultando em trombocitopenia e piora do estado clínico (Filho et al., 2024).
O quadro epidemiológico da dengue no Brasil caracteriza-se pela ampla distribuição do mosquito em todas as regiões, com uma complexa dinâmica de dispersão do seu vírus. Essa realidade epidemiológica tem, ao longo dos anos, apesar dos esforços do Ministério da Saúde, dos estados e dos municípios, provocado a ocorrência de epidemias nos principais centros urbanos do país, infringindo um importante aumento na procura pelos serviços de saúde, com ocorrência de óbitos.
Aspectos como a urbanização, o crescimento desordenado da população, o saneamento básico deficitário e os fatores climáticos, mantêm as condições favoráveis para a presença do vetor, com reflexos na dinâmica de transmissão desses arbovírus. A dengue possui padrão sazonal, com aumento do número de casos e o risco para epidemias, principalmente entre os meses de outubro de um ano a maio do ano seguinte.
Segundo dados da OPAS/ OMS, o ano de 2023 foi o ano de maior registro de casos de dengue na região das Américas, com um total de 4.565.911 casos, incluindo 7.653 (0,17%) casos graves e 2.340 óbitos (taxa de letalidade de 0,051%). Essa situação de alta transmissão foi estendida a 2024, em que, desde a semana epidemiológica (SE) 1 até a SE 5, foram registrados 673.267 casos de dengue, dos quais 700 foram graves (0,1%) e 102 casos foram fatais (taxa de letalidade de 0,015%). Esse número representa um aumento de 157% em comparação com o mesmo período em 2023 e de 225% em comparação com a média dos últimos 5 anos (OPAS, 2024).
No Piauí, a dengue continua sendo a arbovirose que mais afeta a população. O ano de 2022 atingiu a incidência de 821,2 casos para cada grupo de cem mil habitantes (Secretaria De Estado Da Saúde Do Piauí, 2023). Em 2024, houve um aumento de 91,5% da incidência de casos prováveis de dengue, em relação ao mesmo período do ano de 2023. É o que revela o boletim da 12ª Semana Epidemiológica de 2024. No período, foram contabilizados 127,4 notificações para cada 100 mil habitantes, contra 66,5 no mesmo período do ano passado (Secretaria De Estado Da Saúde Do Piauí, 2024).
A prevenção das infecções causadas pelos vírus da dengue ainda é um desafio, visto ser centrada na atuação sobre o único elo vulnerável da cadeia epidemiológica que é a eliminação do seu principal transmissor, o Aedes Aegypti. Para tanto, se faz necessário a adoção de três componentes básicos: manejo ambiental (saneamento domiciliar); educação em saúde; eliminação física de criadouros e tratamento de criadouros com larvicidas ou adulticidas, quando indicados (Ministério Da Saúde, 2001).
Além disso, a criação de vacinas eficazes contra arboviroses como a dengue permanece como uma prioridade, mas também como um desafio. O desenvolvimento de imunizações eficazes contra a dengue, zika e chikungunya ainda enfrenta desafios significativos. A diversidade genética dos vírus, juntamente com a complexidade das respostas imunológicas dos seres humanos, torna difícil a elaboração de vacinas universais e eficazes. Adicionalmente, novas abordagens para o controle de vetores estão em fase de desenvolvimento. Entre essas iniciativas, a liberação de mosquitos geneticamente modificados e a utilização de bactérias do gênero Wolbachia, que inibem a transmissão de vírus, estão sendo investigadas opções substitutas aos inseticidas convencionais, que enfrentam problemas de resistência (Fernandes et al., 2024).
Diante da problemática apresentada, o presente trabalho delineou-se a partir da seguinte pergunta de pesquisa: “qual o impacto e os ônus causados pela dengue no panorama da saúde pública brasileira?”
A partir disto, objetivou-se neste estudo então realizar uma revisão narrativa da literatura recente acerca do tema a fim de compreender quais são as implicações da dengue no sistema de saúde público, obter dados a respeito da morbimortalidade da dengue no Brasil e explicitar o que dizem os estudos a respeito de estratégias utilizadas para mitigar os malefícios da dengue no Brasil e entraves para a implementação dessas estratégias.
Sendo a dengue uma moléstia que acomete de crianças a idosos, tornando-se sobrecarga para o sistema público de saúde e ocasionando hospitalizações, morbidades e diversos óbitos, com o aumento de casos desta doença a pesquisa justifica-se em face de compreender quais seriam os fatores que intensificam o aumento de tais casos e quais medidas se deve tomar para minimizar a ocorrência dos casos de dengue. A pesquisa é ainda justificada pela necessidade de ampliar nosso conhecimento sobre essa doença complexa, melhorar as estratégias de prevenção e controle, e reduzir seu impacto na saúde pública global. Esses esforços são essenciais para proteger as comunidades afetadas pela dengue e avançar em direção a um futuro livre dessa doença debilitante.
REFERENCIAL TEÓRICO
A dengue é uma doença viral transmitida principalmente pela picada do mosquito Aedes aegypti. Com impacto global significativo, especialmente em regiões tropicais e subtropicais, a dengue é considerada um problema de saúde pública devido à sua propagação rápida e potencial para causar surtos epidêmicos. Para compreender melhor essa enfermidade, é essencial revisar o referencial teórico relacionado à dengue, abordando sua epidemiologia, ciclo de vida do vírus, manifestações clínicas e estratégias de prevenção e controle (Brasil, 2020).
O diagnóstico da dengue é predominantemente clínico, fundamentando-se nos sintomas do paciente e sendo confirmado por testes laboratoriais que identificam o RNA viral, anticorpos específicos ou o antígeno NS1. O tratamento é principalmente de suporte, com foco na hidratação, no controle da febre e da dor. Em casos mais graves, pode ser necessária a internação hospitalar para monitorar continuamente os sinais vitais e lidar com complicações como choque e hemorragia severa. O prognóstico dos pacientes com dengue costuma ser positivo quando o diagnóstico é feito precocemente e o tratamento apropriado é administrado; no entanto, a forma severa da doença pode levar a complicações significativas e até à morte, especialmente em infecções secundárias por diferentes sorotipos do vírus. A prevenção, por meio da vacinação e do controle efetivo dos mosquitos vetores, é essencial para minimizar a incidência e a gravidade da dengue (Filho et al, 2024).
A epidemiologia da dengue é complexa e influenciada por fatores como urbanização desordenada, alterações climáticas e movimentos populacionais. A transmissão do vírus ocorre predominantemente em áreas urbanas, onde o mosquito Aedes aegypti encontra condições ideais para se reproduzir e proliferar. Os surtos epidêmicos são frequentemente associados a condições climáticas favoráveis, como temperaturas elevadas e chuvas abundantes, que promovem o aumento da densidade populacional de mosquitos; além disso, o aumento de casos é identificado ano a ano, o que está relacionado com a circulação de um ou mais novos sorotipos do vírus ainda não identificados (Silva, 2021).
O vírus da dengue pertence à família Flaviviridae e possui quatro sorotipos distintos (DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4). A infecção por um sorotipo confere imunidade permanente contra o mesmo, mas apenas imunidade temporária contra os outros sorotipos. Essa característica é relevante, pois aumenta o risco de casos graves de dengue, como a dengue hemorrágica e a síndrome de choque da dengue, em indivíduos previamente infectados por um sorotipo diferente (Bezerra; Chagas Matos, 2023).
As manifestações clínicas da dengue variam desde uma forma assintomática até sintomas graves e potencialmente fatais. Os sintomas clássicos incluem febre alta, dor de cabeça, dor retro-ocular, mialgia e exantema. Em casos mais graves, podem ocorrer hemorragias, choque e disfunção de órgãos. O diagnóstico precoce e o manejo adequado dos pacientes são fundamentais para reduzir a morbimortalidade associada à dengue (Cardoso, 2024).
Nos últimos anos, diversos fatores têm contribuído para o aumento dos casos de dengue em diferentes partes do mundo. Alguns dos principais impulsionadores desse aumento incluem:
Urbanização desordenada: O crescimento rápido e desorganizado das cidades cria ambientes propícios para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor transmissor do vírus da dengue. A falta de planejamento urbano adequado resulta em áreas com acúmulo de lixo, poças d’água e recipientes que servem como criadouros para os mosquitos.
Mudanças climáticas: As alterações climáticas, como o aumento das temperaturas e padrões de chuva irregulares, podem favorecer a reprodução e a dispersão do Aedes aegypti, ampliando sua área de distribuição e prolongando os períodos de transmissão viral.
Globalização e mobilidade humana: O aumento das viagens internacionais e o fluxo migratório facilitam a disseminação do vírus da dengue para novas áreas geográficas. Viajantes infectados podem introduzir o vírus em regiões onde o mosquito vetor está presente, desencadeando surtos locais.
Resistência aos inseticidas: O uso excessivo e indiscriminado de inseticidas para controlar o mosquito vetor tem levado ao desenvolvimento de resistência genética em algumas populações de Aedes aegypti. Isso dificulta o controle do vetor e pode resultar em falhas nas estratégias de controle.
Desafios no acesso aos serviços de saúde: Em muitas áreas afetadas pela dengue, o acesso limitado a serviços de saúde de qualidade dificulta o diagnóstico precoce e o tratamento adequado dos casos. Isso pode levar a complicações graves e aumentar a morbimortalidade associada à doença
Falta de investimento em prevenção e controle: Em alguns casos, a falta de priorização política e investimento adequado em programas de prevenção e controle da dengue pode contribuir para o aumento dos casos. A implementação de medidas eficazes de controle do vetor, como a eliminação de criadouros e a educação em saúde, muitas vezes enfrenta desafios de financiamento e coordenação (Elidio, 2024) (Ribeiro, 2020).
Em suma, o aumento dos casos de dengue nos últimos anos é resultado de uma complexa interação de fatores sociais, ambientais e econômicos. Para enfrentar esse desafio de saúde pública, é essencial adotar abordagens integradas e sustentáveis que abordem tanto os determinantes sociais quanto os biológicos da doença. Isso requer colaboração entre governos, comunidades, instituições de pesquisa e organizações internacionais para desenvolver e implementar estratégias eficazes de prevenção, controle e resposta a surtos de dengue (Menezes, 2021).
No contexto da prevenção e controle da dengue, são adotadas medidas integradas que visam reduzir a densidade populacional de mosquitos, interromper a transmissão viral e fortalecer a vigilância epidemiológica. Essas medidas incluem o controle do vetor por meio de eliminação de criadouros, uso de inseticidas, educação em saúde e promoção de práticas de proteção individual, como o uso de repelentes e telas mosquiteiras (Monteiro; Araújo, 2020).
Além das abordagens tradicionais, a pesquisa científica tem explorado novas estratégias para prevenir e controlar a dengue, incluindo a vacinação. Atualmente, existem vacinas licenciadas para uso em alguns países, que demonstraram eficácia na redução da incidência de casos graves de dengue. No entanto, desafios relacionados à disponibilidade, acessibilidade e aceitação da vacina ainda precisam ser superados para maximizar seu impacto na saúde pública (Ramos, 2021).
Estratégias de prevenção e controle da dengue são implementadas a partir da conscientização a respeito e eliminação propriamente dita de focos de água parada que possam servir como criadouros para que os mosquitos se reproduzam; no entanto, ainda há prejuízo significativo causado pela dengue no Brasil, como o impacto econômico causado pelos custos com saúde e perda de produtividade, além da identificação de que áreas que são características de vulnerabilidade socioeconômica estão mais suscetíveis à ocorrência de surtos de dengue (Silva et al., 2024).
O estudo de Silva et al. (2024) traz achados acerca das curvas anuais de ocorrência dos casos de dengue no Brasil, e nos diz que a variação nos casos de dengue no Brasil entre 2014 e 2023 revela a complexidade da dinâmica de transmissão, que é afetada por fatores ambientais, sociais e políticas públicas. Foram identificados picos de casos em 2015, 2016, 2019 e 2022, podendo estes serem atribuídos a condições climáticas que favorecem a proliferação do mosquito Aedes aegypti, como chuvas intensas e temperaturas elevadas, que criam um ambiente ideal para seu desenvolvimento. Esses anos coincidem, também, com períodos de fragilidade nas estratégias de controle vetorial, resultantes de mudanças políticas, econômicas ou desafios operacionais, como a necessidade de adaptar campanhas para áreas que anteriormente não eram afetadas (Silva et al., 2024).
Por outro lado, os anos de menor incidência, como 2017, 2018, 2020 e 2021, podem indicar um sucesso efêmero nas estratégias de controle, mas deve-se também levar em consideração a possibilidade de subnotificações ou fatores como a pandemia de COVID-19, que afetou a notificação de casos e as iniciativas de controle. O aumento de casos em 2022 e 2023 sugere que os desafios continuam, com o Aedes aegypti se adaptando às mudanças ambientais e sociais. A urbanização crescente, sem o devido planejamento, também contribui para a criação de ambientes favoráveis à reprodução do vetor, dificultando a erradicação da doença (Silva et al., 2024).
Essas flutuações na incidência da dengue ressaltam a necessidade de uma vigilância epidemiológica sólida e contínua, que não apenas monitore os casos, mas também antecipe surtos e implemente medidas preventivas eficazes. O controle da dengue no Brasil requer um esforço integrado entre diversos setores da sociedade, incluindo saúde pública, urbanismo e educação.
METODOLOGIA
Este trabalho de conclusão de curso realizou-se através de uma revisão narrativa da literatura, com o objetivo de analisar os impactos da dengue na saúde pública. A escolha desse delineamento se justifica pela necessidade de uma compreensão ampla e integrada dos efeitos da dengue, abrangendo aspectos epidemiológicos, sociais e econômicos.
A pesquisa tem uma abordagem qualitativa, permitindo uma análise profunda das informações coletadas. A revisão narrativa facilita a síntese de conhecimentos sobre os impactos da dengue, considerando diferentes perspectivas e contextos, e possibilitando identificar lacunas na literatura existente. Segundo Martins (2018), a revisão narrativa da literatura pode ser definida como uma pesquisa realizada com o objetivo de mapear uma questão mais ampla através dos trabalhos publicados pela comunidade científica, a fim de retratar o chamado estado da arte do conhecimento acerca de tal tema.
A busca por artigos foi realizada nas bases de dados SciElo e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), onde foram aplicados os filtros de seleção que incluam os artigos publicados nos últimos cinco anos. Foram utilizados os descritores localizados na plataforma Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) “dengue”, “saúde pública” e “impactos”, separados pelo operador booleano AND.
Os critérios para inclusão dos artigos na revisão foram:
– Artigos originais, relatos ou estudos de caso que discutam os impactos da dengue na saúde pública.
– Publicações em português.
– Estudos realizados nos últimos 5 anos, para garantir a atualidade dos dados.
Os critérios de exclusão foram:
– Artigos que não abordem diretamente a relação entre dengue e saúde pública.
– Trabalhos que não estejam disponíveis na íntegra ou que não sejam acessíveis nas bases selecionadas.
Os dados coletados serão organizados em categorias temáticas, permitindo uma análise qualitativa dos principais achados. As informações serão sintetizadas para destacar os impactos da dengue, incluindo aspectos sociais, econômicos e de saúde, além de propostas para mitigação e prevenção.
Como a metodologia se baseia em uma revisão de literatura, não haverá necessidade de aprovação de comitê de ética, uma vez que não haverá coleta de dados primários ou interação com sujeitos de pesquisa.
A metodologia proposta permitirá uma compreensão abrangente dos impactos da dengue na saúde pública, contribuindo para o conhecimento acadêmico e para a formulação de políticas públicas eficazes. A revisão narrativa da literatura será um instrumento valioso para identificar as direções futuras de pesquisa e ação na área.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados 18 artigos na BVS com os descritores dengue AND saúde pública, com os filtros descritos na metodologia, acrescidos dos seguintes filtros na BVS: Estudo observacional, estudo de rastreamento, estudo prognóstico, pesquisa qualitativa e estudo de incidência.
Destes, foram selecionados 4 para compor a presente revisão narrativa.
Na plataforma SciElo, foram utilizados os mesmos descritores e encontrados 24 artigos, dos quais foram selecionados 3 para compor a presente revisão, após leitura do título e resumo levando em consideração a relevância dos estudos para atingir os objetivos deste trabalho e os critérios de inclusão e exclusão definidos na metodologia.
Quadro 1 – Relação de artigos incluídos na revisão narrativa.
TÍTULO | AUTOR/ANO | OBJETIVOS | PRINCIPAIS RESULTADOS |
A dengue é produto do meio: uma abordagem sobre os impactos do ambiente no mosquito Aedes aegypti e nos casos da doença | Tamara Nunes Lima-Camara, 2024. | Apresentar os principais fatores que contribuíram e contribuem para as frequentes epidemias de dengue ocorridas nos últimos anos. | O estudo conclui que existe interseção entre diferentes fatores na dinâmica da doença, incluindo o aumento da população do mosquito devido a temperaturas mais altas e a períodos chuvosos, bem como a influência das condições socioeconômicas na incidência da dengue. |
Saúde e saneamento: uma avaliação das políticas públicas de prevenção, controle e contingência das arboviroses no Brasil | Marco Túlio da Silva Faria et al., 2023 | Analisar como o saneamento básico é abordado em instrumentos norteadores das políticas públicas de controle das arboviroses no país. | Os documentos analisados versam principalmente sobre a comunicação e mobilização social, controle vetorial e gestão. Saneamento básico não é frequentemente abordado nos documentos, bem como é escassa a menção à intersetorialidade. |
Associação entre escolaridade e taxa de mortalidade por dengue no Brasil | Lucas Melo Guimarães et al., 2023. | Analisar as disparidades da mortalidade por dengue entre os menos e mais escolarizados no Brasil entre os anos de 2010 e 2018. | A melhoria na escolaridade da população brasileira não refletiu na diminuição da mortalidade por dengue. Houve um aumento na taxa de mortalidade por dengue no Brasil e um crescimento da diferença de taxas de mortalidade entre menos e mais escolarizados. Independentemente do processo de imputação, os resultados mostraram maiores taxas de mortalidade por dengue entre os menos escolarizados. A baixa escolaridade afetou de forma mais pronunciada os mais jovens. |
Tendência temporal e distribuição espacial da dengue no brasil | Thiago Rodrigues da Silva et al., 2022 | Determinar a tendência e a distribuição espacial dos casos confirmados de dengue no Brasil, no período de 2009 a 2019. | O estudo denotou tendência estacionária do coeficiente de incidência (R= 0,091; p > 0,05). Dentre as regiões brasileiras, a região Centro-Oeste foi a que se destacou, apresentando 42,04% de incidência dos casos. Em relação aos Estados brasileiros, o Acre foi o que obteve maior incidência, revelando 45,06%. E sobre a forma grave da dengue, destacou-se a região Sudeste com 38,35% dos casos. |
Distribuição da incidência detectada da dengue no Brasil e sua associação com intervenções da Atenção Básica de Saúde | Gabriela Souza Murizine, 2022. | Estabelecer tendência temporal e caracterizar a dependência espacial da incidência da dengue e sua correlação com momentos epidêmicos no Brasil nos anos de 2005 a 2019 e avaliar o impacto das diferentes ações desempenhadas pela Atenção Básica de Saúde no ano de 2017 sobre a incidência da dengue nos municípios brasileiros em 2018 e 2019. | A incidência se mostrou estacionária na maioria dos estados, indicando pouco avanço em seu controle. O período foi marcado por grandes epidemias, onde observou-se uma correspondência com os padrões de agregação espacial. As atividades desempenhadas na atenção básica parecem ter aumentado a sensibilidade da detecção de casos no território. |
Controle do Aedes: criação, recepção e percepções de campanhas audiovisuais em saúde pública em diferentes comunidades do Brasil | Ádria Jane Albarado et al., 2021. | Compreender a estratégia de comunicação adotada pelo Ministério da Saúde para a prevenção de doenças causadas pelo aedes e analisar a percepção da comunidade quanto aos vídeos sobre dengue, chikungunya e Zika veiculados entre 2014 e 2017 | Conclui-se que os vídeos não suprem as necessidades da população e devem ser utilizados de forma integrada a outras ações de informação, educação e comunicação em saúde para a eficácia do controle das doenças.. |
Gestão adequada de resíduos sólidos como fator de proteção na ocorrência da dengue | Marcos Paulo Gomes Mol et al., 2020. | Verificar a existência de associação de indicadores de gestão de resíduos sólidos e socioeconômicos municipais com índices de incidência de dengue, Zika e Chikungunya nos municípios do estado brasileiro de Minas Gerais. | A gestão de resíduos sólidos pode influenciar os casos de dengue e, por isso, deve ser considerada nas ações de saúde pública.(AU) |
Fonte: Elaboração própria baseada nas pesquisas nas bases de dados.
Fatores principais de influência para a incidência dos casos de dengue no Brasil.
As mudanças climáticas pelas quais o planeta vem passando são destacadas por Lima-Camara (2024) em seu estudo, onde a autora explicita que a temperatura da superfície do planeta chegou a aumentar 1,1ºC em relação aos anos pré-industriais, podendo chegar até a 1,5ºC até 2052 caso siga a mesma tendência; neste ínterim, a autora reitera a relação entre a disseminação da dengue pelo aumento da população de aedes aegypti em virtude do aumento das temperaturas, uma vez que os casos de dengue aumentam nas épocas mais quentes e chuvosas do ano.
A mesma ideia é corroborada pelo estudo de Silva et al. (2023), que analisou a incidência de dengue no território brasileiro, e revelou uma tendência estacionária no coeficiente de incidência, com taxas variando entre níveis baixos e altos ao longo da série temporal analisada. A presença de picos, tanto elevados quanto baixos, está ligada às estações chuvosas, uma vez que o clima exerce uma influência significativa sobre a disseminação do mosquito, que precisa de condições favoráveis para se reproduzir. Além disso, questões de infraestrutura podem intensificar a proliferação do vetor.
Ainda, Lima-Camara (2024) destaca a importância de observar o aumento da população do mosquito, uma vez que este pode chegar a países onde nunca foi reportada sua existência antes, causando grandes e devastadoras epidemias.
Novamente, Silva et al. (2022) pontua a respeito de um aspecto importante a ser levado em consideração quando se busca compreender o aumento dos casos de dengue no Brasil: em seu estudo, o Acre destacou-se com a maior média entre os estados brasileiros. Sugere-se que essa situação seja um reflexo da urbanização desordenada e do desmatamento, fatores que têm um impacto considerável no aumento da incidência da dengue.
Morbimortalidade por dengue, sua distribuição no território brasileiro e impactos na saúde pública
Em Silva et al. (2022), há alta média de incidência de casos nas regiões Centro-Oeste e Sudeste; esse dado pode ser atribuído à ineficácia das ações de vigilância e controle implementadas para prevenir a dengue. O enfrentamento das infecções causadas pelo vírus da dengue apresenta desafios no país, devido a fatores sociais e ambientais, como a degradação ambiental, os investimentos em saneamento e a necessidade de colaboração entre governos e sociedade. Portanto, a adoção de estratégias e programas que abordem essas questões poderia representar um avanço significativo nas políticas de prevenção e controle da doença.
No que diz respeito à variável sexo, observou-se uma predominância de casos no sexo feminino; essa maior incidência pode ser atribuída à presença mais frequente de mulheres em ambientes domiciliares, locais onde se concentram muitos focos de dengue. Ademais, essa tendência pode estar relacionada ao fato de que os homens tendem a procurar menos os serviços de saúde, resultando em uma quantidade menor de notificações para esse grupo (Silva et al., 2022).
Em anos de epidemia, o Brasil registra centenas de milhares de casos de dengue. Por exemplo, em 2015, o país teve mais de 1,5 milhão de casos notificados, um dos picos mais altos em sua história. Em anos subsequentes, as taxas têm oscilado, mas surtos continuam a ser frequentes. A taxa de letalidade da dengue varia, mas historicamente tem se mantido abaixo de 1%. Contudo, em surtos de dengue hemorrágica, essa taxa pode ser significativamente maior. Entre 2010 e 2019, o Brasil registrou cerca de 2.500 mortes relacionadas à dengue, com picos de mortalidade durante surtos intensos (Guimarães et al., 2023).
O impacto financeiro da dengue no Brasil é considerável. Os custos incluem hospitalizações, tratamento ambulatorial e campanhas de prevenção. Um estudo estimou que os custos diretos da dengue, incluindo hospitalizações e atendimentos ambulatoriais, podem chegar a bilhões de reais anualmente. Durante surtos, os hospitais frequentemente enfrentam uma sobrecarga significativa, o que pode comprometer a capacidade de atendimento de outras condições de saúde. As internações por dengue aumentam a demanda por leitos, especialmente em unidades de terapia intensiva (UTIs) (Murizine, 2022).
A morbimortalidade da dengue não é distribuída uniformemente no país. Regiões como o Norte e o Nordeste apresentam taxas de incidência e mortalidade mais altas, refletindo desigualdades socioeconômicas e de acesso a serviços de saúde. Isso representa um desafio adicional para a gestão e alocação de recursos (Silva et al., 2022) (Albarado, 2023).
Murizine (2022) encontrou em seu estudo resultados que nos falam a respeito da tendência de incidência de dengue no Brasil ao longo dos 15 anos estudados revelou poucas mudanças significativas. O país demonstrou uma tendência estacionária de incidência. Das regiões brasileiras, somente a Centro-Oeste apresentou uma tendência de crescimento durante o período. Entre 2002 e 2012, apenas a região Norte havia evidenciado um aumento na incidência. Naquele momento, nenhum estado demonstrou uma tendência de diminuição. Ao se examinar a incidência de dengue de 2005 a 2019, três estados do Norte (Roraima, Amapá e Rondônia) mostraram tendências moderadamente decrescentes, o que pode sugerir uma leve melhoria no quadro epidemiológico da doença nessas áreas ou uma redução significativa na população suscetível; a análise temporal da autora permite compreender em quais anos e em quais regiões foram mais eficazes as estratégias de combate, além de permitir compreender como se comporta a dengue em diferentes condições climáticas, demográficas e sociais.
Estratégias de enfrentamento à dengue: Entraves e perspectivas atuais.
Faria et al. (2023) analisaram instrumentos que norteiam as políticas públicas de controle e enfrentamento a arboviroses urbanas, realizando este levantamento através de sites oficiais como o Ministério da Saúde, e analisando um total de oito documentos como os dois documentos do Programa Nacional de Controle da Dengue, lançados nos anos de 2002 e 2006, Plano de Contingência Nacional Para Epidemias de Dengue, dentre outros. A análise dos autores identificou que o assunto do saneamento é pouco abordado nos documentos, reiterando a importância de que este seja mais fervorosamente discutido, uma vez que o saneamento é parte principal da prevenção e controle de arboviroses como a dengue.
De acordo com Faria et al. (2023), no que diz respeito às estratégias traçadas nos planos de enfrentamento das arboviroses analisadas em seu estudo, políticas públicas efetivas elaboradas nas três esferas governamentais são fundamentais, com foco em medidas eficazes de saneamento básico. Um exemplo disso é a coleta regular de resíduos sólidos, que pode contribuir para a reversão do cenário atual das arboviroses urbanas, promovendo o controle de vetores e a prevenção de doenças, complicações e óbitos.
Para que o controle das arboviroses urbanas seja eficaz, é crucial a realização de ações intersetoriais. Isso implica a participação de setores essenciais, como saúde, meio ambiente, limpeza urbana e educação. Além disso, é vital a capacitação dos trabalhadores, incluindo Agentes de Vigilância em Saúde (AVS) e Agentes Comunitários de Saúde (ACS) ou Agentes de Combate a Endemias (ACE), assim como a formação de profissionais especializados em vigilância em saúde. Esses indivíduos devem possuir conhecimentos técnicos em saneamento e saúde, além de serem capazes de mobilizar a comunidade para ações de manejo de águas e resíduos no nível domiciliar. É necessário que haja ação mais efetiva do poder público em capacitar os profissionais e promover esta intersetorialidade para o sucesso das estratégias de combate (Faria et al., 2023).
Esta intersetorialidade também é reforçada no estudo de Murizine (2022), quando reafirma a importância da Atenção Primária à Saúde (APS) em conjunto com a vigilância epidemiológica e ambiental como principais responsáveis pelo combate ao vírus da dengue, mas também deixa clara a importância da responsabilização de outros setores já citados na literatura como sendo imprescindíveis para o combate como o meio ambiente, saneamento básico e limpeza, educação em saúde, dentre outros.
Neste sentido, ao falar-se sobre políticas públicas, pode traçar-se um paralelo com o estudo de Guimarães et al. (2023), que irá ressaltar populações específicas que necessitam mais dessas estratégias para que seja evitado o contágio pela dengue.
O estudo de Guimarães et al. (2023) buscou traçar um paralelo entre a mortalidade por dengue e o nível de escolaridade no Brasil; os autores reforçam que o nível de escolaridade do brasileiro aumentou de maneira geral, porém as mortes por dengue entre os mais e menos escolarizados no país também apresentaram diferenciação, sendo maior a diferença entre a população mais jovem e estando essa diferença mais concentrada na população jovem dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal.
Guimarães et al. (2023) ainda pontuam que, estando o nível de escolaridade diretamente relacionado ao nível de renda dos indivíduos, e este por sua vez relacionado à maior suscetibilidade à infecção por dengue, é correto dizer que as maiores taxas de mortalidade estão entre os indivíduos de menor renda e menos escolarizados, o que foi confirmado pelo estudo. Os indivíduos de menor renda e escolaridade também, por sua vez, apresentam mais frequentemente fatores predisponentes de complicações que podem levar à morte por dengue, como diabetes, hipertensão e outras doenças crônicas, além das condições de moradia e acesso aos serviços de saúde e à informações de como se proteger e evitar a contaminação pelo vírus.
Desta maneira, fica evidente através deste estudo a relação direta entre escolaridade, renda e morbimortalidade pelo vírus da dengue, uma vez que as situações de vulnerabilidade socioeconômica, bem como a falta de acesso à educação, são fatores que dificultam de maneira geral o autocuidado do indivíduo e o cuidado para com este grupo que pode ser considerado de risco para o contágio pela dengue, ressaltando a necessidade de políticas públicas específicas e efetivas que alcancem esta população.
Lima-Camara (2024) ressalta que o surgimento da vacina QDENGA, cuja distribuição iniciou-se no corrente ano, não exclui a necessidade de traçar estratégias e políticas públicas de prevenção contra a dengue, como a coleta regular de lixo, a regularização também do fornecimento de água encanada, bem como os cuidados climáticos através de previsões meteorológicas acerca dos períodos onde é mais propícia a proliferação do vetor da dengue, tornando assim possível minimizar os impactos da doença na epidemiologia do Brasil.
Ainda, ao analisar como o saneamento é tratado nos documentos que orientam as políticas públicas voltadas para o enfrentamento das arboviroses urbanas no Brasil, observa-se que essa questão é frequentemente negligenciada, com ações pouco claras nos textos revisados. A maioria dos documentos foca no controle de vetores, em detrimento da prevenção e controle das arboviroses, além de não tratarem de maneira clara a respeito da educação em saúde, financiamento e mobilização social, o que torna claro quais são os maiores entraves para a eficácia das estratégias de combate ao aedes aegypti no Brasil (Faria et al., 2023).
Ainda nas estratégias de controle, Mol et al. (2020) concluíram de seu estudo sobre a relação entre gestão de resíduos sólidos e combate à dengue que entre estes há uma forte ligação. A análise destaca que uma boa gestão de resíduos está relacionada a um menor número de casos de dengue, especialmente quando se considera a coleta de resíduos urbanos e a coleta seletiva. Isso reforça a importância de implementar uma gestão adequada de resíduos nas cidades como forma de prevenir a dengue. Além disso, outras variáveis, como a coleta e o descarte de resíduos nas áreas residenciais, também podem influenciar os casos de dengue, mas essas informações ainda não são coletadas regularmente no Brasil.
CONCLUSÃO
A revisão narrativa realizada neste trabalho evidenciou uma série de fragilidades nas estratégias de combate à dengue no Brasil. Ficou claro que, para enfrentar de maneira eficaz essa doença, é imprescindível uma maior articulação entre diferentes setores da saúde pública, bem como um investimento robusto em políticas públicas que se traduzam em ações efetivas de educação em saúde, prevenção e controle da dengue. A consideração das questões climáticas também é fundamental, visto que elas impactam diretamente a dinâmica de transmissão do vírus.
Além disso, é crucial que as políticas públicas sejam direcionadas especialmente para as populações mais afetadas, como aquelas em situação de vulnerabilidade socioeconômica e com menor escolaridade. Esses grupos são frequentemente os mais expostos ao risco de complicações graves, incluindo choque e morte, e, portanto, precisam de intervenções específicas que atendam às suas necessidades.
Os impactos da dengue na saúde pública são profundos, com consequências não apenas em termos de saúde, mas também econômicas. O alto custo para o sistema de saúde, resultante de internações, tratamentos e campanhas de prevenção, evidencia a urgência de um fortalecimento das estratégias de combate à dengue. A implementação de investimentos adequados e a promoção de pesquisas que busquem identificar maneiras mais eficazes de controle da doença são essenciais para que o sistema de saúde possa se aprimorar e alcançar a totalidade da população.
Dessa forma, conclui-se que o enfrentamento da dengue requer uma abordagem integrada e multissectorial, com ênfase na equidade e na justiça social, para garantir que todos os cidadãos tenham acesso a um sistema de saúde eficaz e às condições necessárias para a prevenção da doença.
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