ENXERTO ÓSSEO HOMÓLOGO EM IMPLANTODONTIA

HOMOLOGOUS BONE GRAFT IN IMPLANTODONTICS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10216039


Ícaro Stolze P. Menezes¹;
Prof. Me. Gabriel Guimarães Severo²


RESUMO

A perda dentária resulta em reabsorção do rebordo alveolar, o que pode vir a inviabilizar o tratamento reabilitador com implantes dentários. Para alcançar sucesso no tratamento de instalação de implantes osseointegrados é fundamental a presença de osso em qualidade e quantidade. A prática de novas técnicas de enxertos se faz necessária com a finalidade de regenerar o tecido ósseo perdido além de manter a longevidade do implante e o sucesso na osseointegração. Os enxertos ósseos utilizados em odontologia podem ser de origem autógena, homógena, heterógena e aloplástica. Os substitutos ósseos de origem autógena, embora normalmente eleitos como os de primeira escolha, apresentam desvantagens e limitações na sua utilização. O objetivo do presente trabalho é apresentar o enxerto homólogo como uma abordagem eficaz. Os enxertos homólogos usados em cirurgias são obtidos a partir de Bancos de Tecidos Musculoesqueléticos, nas quais técnicas adequadas de captação, triagem clínica, laboratorial e sorológica, coleta, identificação, processamento e estocagem são aplicadas. A captação inicia com a seleção do doador, que pode ser vivo ou cadáver, no qual é realizada uma anamnese. Os bancos de ossos selecionam e excluem possíveis doadores que apresentem doenças contagiosas, neoplasias, doenças sistêmicas, que sejam irradiados ou usuários de drogas. Este trabalho teve os objetivos de contribuir com a comunidade odontológica quanto ao uso de enxertos homólogos; apresentar uma revisão de literatura sobre a utilização de enxertos ósseos em implantodontia, em especial os enxertos homólogos; apontar a proposta como um procedimento eficaz para aumento de altura e largura óssea e a consequente colocação de implantes; demonstrar a eficácia e importância do banco de ossos e o devido armazenamento. A partir das buscas foram selecionados 16 artigos científicos incluindo trabalhos de pesquisas, revisões de literatura e casos clínicos. Concluiu-se que o osso alógeno se encontra indicado em regeneração óssea guiada, reconstrução de rebordo maxilar atrófico, levantamento de seio maxilar, cirurgia paraendodôntica. Além da utilização de homoenxertos provenientes de bancos de ossos demonstrar ser uma ferramenta bastante útil, eficaz e segura para a odontologia.

Palavras-chave: Enxerto ósseo; Enxerto homólogo; Banco de ossos; Osseointegração.

ABSTRACT 

Tooth loss results in reabsorption of the alveolar ridge, which may make rehabilitation treatment with dental implants unfeasible. To achieve success in the treatment of installing osseointegrated implants, the presence of bone in quality and quantity is essential. The practice of new grafting techniques is necessary to regenerate lost bone tissue in addition to maintaining the longevity of the implant and successful osseointegration. Bone grafts used in dentistry can be of autogenous, homogeneous, heterogeneous and alloplastic origin. Bone substitutes of autogenous origin, although normally chosen as the first choice, have disadvantages and limitations in their use. The objective of the present work is to present homologous grafting as an effective approach. Homologous grafts used in surgeries are obtained from Musculoskeletal Tissue Banks, in which appropriate harvesting, clinical, laboratory and serological screening, collection, identification, processing and storage techniques are applied. Collection begins with the selection of the donor, which can be living or cadaver, and an anamnesis is taken. Bone banks select and exclude potential donors who have contagious diseases, neoplasms, systemic diseases, who are irradiated or drug users. This work aimed to contribute to the dental community regarding the use of homologous grafts; present a literature review on the use of bone grafts in implantology, especially homologous grafts; point out the proposal as an effective procedure for increasing bone height and width and the consequent placement of implants; demonstrate the effectiveness and importance of bone banking and proper storage. From the searches, 16 scientific articles were selected, including research works, literature reviews and clinical cases. It was concluded that allogeneic bone is indicated for guided bone regeneration, reconstruction of atrophic maxillary ridges, maxillary sinus lifting, and paraendodontic surgery. In addition to the use of homografts from bone banks, it has proven to be a very useful, effective and safe tool for dentistry.

Keywords: Bone graft; Homologous graft; Bone bank; Osseointegration.

1. INTRODUÇÃO 

A odontologia moderna visa restabelecer o paciente com conforto, estética, fonação função e saúde normais. A implantodontia é bastante desafiadora e única, que para alcançar resultados positivos e restabelecer o paciente, enfrenta desafios com grande complexidade como a atrofia e casos com grande número de perdas dentárias. Na implantodontia é imprescindível que haja osso alveolar suficiente em altura e espessura para que se obtenha sucesso no tratamento realizado (Panassolo, 2017). 

A perda prematura dos dentes vem a acometer mudanças significativas tanto nas estruturas de sustentação como no osso alveolar, causando reabsorção óssea limitando ou inviabilizando a instalação de implantes e, nesses casos, havendo a necessidade do tratamento com enxertos ósseos (Faverani, 2014).

É de conhecimento geral, na odontologia, que o melhor material de enxerto é o osso autógeno devido às suas propriedades biológicas e a ausência de rejeição. No entanto, os enxertos homólogos têm se mostrado uma alternativa eficaz e viável na regeneração do tecido perdido, nos casos em que os enxertos autógenos são desvantajosos (Marcone, 2020).

Os homoenxertos também apresentam suas desvantagens, sendo essas: risco da transmissão de doenças e potencial de antigenicidade. Complicações estas que podem ser controladas por meio dos métodos de congelamento e armazenamento (Souza, 2010). 

Desta forma, o objetivo do presente trabalho é realizar uma revisão de literatura acerca da utilização de homoenxertos em implantodontia.

2. METODOLOGIA

A revisão de literatura foi realizada a partir da coleta de artigos on-line publicados nas principais bases de dados existentes. Foram selecionados artigos nos bancos de dados PubMed e SCIELO, Google Acadêmico, RevOdonto. Além disso, livros sobre implantes e técnicas de enxertia, e revistas de Odontologia foram utilizados para pesquisa nos idiomas português e inglês.  Foram pesquisadas as seguintes palavras-chave: Enxerto ósseo; Enxerto homólogo; Banco de ossos; Osseointegracão.

3. REVISÃO DE LITERATURA

Os primeiros registros da utilização de biomateriais datam de 4.000 a.C. No entretanto, o uso desses materiais estava fadado ao insucesso, uma vez que eram desconhecidos os conceitos relativos aos materiais, a infecção e as reações biológicas. As duas guerras mundiais foram grandes marcos no desenvolvimento de biomateriais. Buscando evitar a amputação ou promover a recuperação dos membros dos soldados que tiveram suas funções comprometidas, ocorreu uma busca incessante por materiais que não tivessem rejeição. Na I Guerra Mundial, apesar dos avanços na ciência, nenhum dos materiais aplicados apresentava biocompatibilidade com o hospedeiro. Os maiores avanços ocorreram após a II Guerra Mundial, com importante papel da Odontologia, principalmente após o advento da osseointegração, conceito introduzido por pesquisadores liderados pelo médico ortopedista sueco Per-Ingvar Branemark (Serra, 2019).

O Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná foi o primeiro banco de tecidos musculoesquelético criado no Brasil (Ferreira, 2018).

Na implantodontia para que se obtenha um prognóstico de sucesso é necessário partir de alguns princípios e há critérios a serem atendidos. Mas as duas premissas mais importante são a existência de volume ósseo e boa qualidade óssea do local onde será realizado o implante osseointegrável (Diniz et al., 2012).

A presença de espessura alveolar mínima de cinco milímetros e uma altura alveolar que permita uma instalação de fixação maior que dez milímetros são alguns dos critérios para que os riscos e complicações sejam diminuídos (Sudati, 2016).

FIGURA 01– Classificação dos tipos de osso e a qualidade óssea.

Fonte:  http://profalessandraareas.blogspot.com/2014/08/planejamento-em-implantodontia.html

FIGURA 02 – Classificação quantitativa dos ossos maxilares.

Fonte: https://www.medens.com.br/arquivos/artigos/2004-fundamentos-de-biomec%C3%A2nica.pdf

Dentre os procedimentos que visam o ganho de tecido ósseo, em altura e espessura, o enxerto ósseo é o mais utilizado. Eles podem ser classificados em autógeno, quando o doador e receptor são o mesmo individuo; homógeno (homólogo), quando o osso doado é proveniente de indivíduos da mesma espécie, porém diferentes geneticamente; e heterógeno quando doador e receptor não pertencem à mesma espécie (Pereira, 2021).

De acordo com Lacerda (2014) vários processos diferentes facilitam a regeneração do osso alveolar perdido, sendo que todos esses processos se fundamentam em 3 princípios básicos da recuperação óssea: osteogênese, osteoindução e osteocondução.  

-Osteogênese: definida como a capacidade de neoformação óssea pelo enxerto, provendo células naturais capazes de formar novo osso; 

-Osteoindução: Capacidade de induzir as células mesenquimais indiferenciadas, proveniente do leito receptor ou tecidos circunvizinhos, a se diferenciarem em osteoblastos. Estimulando a neogênese óssea no enxerto e leito receptor; 

-Osteocondução: Definido como a capacidade de criar suporte estrutural para a neoformação óssea. Assim permite o crescimento vascular e invasão células matrizes provenientes do leito receptor.

O enxerto autógeno é considerado “padrão ouro”, ou seja, a melhor opção em enxertos, por possuir as cinco características básicas de um enxerto ideal: a presença de células osteogênicas, ser osteoindutivo, osteocondutivo, não imunogênico e não patogênico. Contudo, ele apresenta desvantagens, como um segundo leito cirúrgico e consequentemente uma maior morbidade para o paciente. As principais áreas doadoras extrabucais são os ossos ilíacos e a calvária. As regiões de corpo, mento, ramo e coronóide mandibular também podem ser utilizadas, embora forneçam menor quantidade óssea (Pereira, 2021).

Logo, o enxerto homólogo surge como boa opção. Após o advento dos bancos de tecidos, ampliação e melhoria das técnicas de preservação, aumentaram as disponibilidades dos enxertos homólogos. Além disso este tipo de enxertia tem se mostrado ser usado com sucesso e eficácia nas cirurgias de levantamento de seio maxilar e também na reconstrução de maxilas atróficas para a reabilitação com implantes dentários (Giovanini, 2014).

Segundo Souza (2022) o enxerto de banco de ossos para a reconstrução dos ossos maxilares, atualmente é uma realidade diante da necessidade relacionada à terapia implantar, apresentando-se como alternativa para as reabilitações das maxilas prévias aos implantes dentários, na qual os profissionais podem oferecer resultados previsíveis e duradouros aos seus pacientes. 

  O uso de enxertos homólogos para reconstrução óssea de maxilas atróficas é considerado um procedimento cirúrgico mais rápido e menos traumático ao paciente, quando comparado à enxertia com osso autógeno, pois não há o envolvimento de um segundo leito cirúrgico ou área doadora. Além disso, esta técnica pode ser considerada como uma nova opção de tratamento para reabilitação com implantes dentários (Giovanini, 2014).

O osso homólogo fresco congelado foi utilizado para levantamento de seio maxilar em dez indivíduos e constatou, cinco meses depois de realizada a enxertia, por meio de biopsia e a avaliação histomorfométrica sob microscopia de luz, que a maioria dos espécimes apresentava osso neoformado completamente integrado ao osso preexistente. Foi concluído então que o osso homólogo congelado fresco é um material biocompatível que pode ser utilizado com sucesso na reconstrução de seios maxilares sem interferir com o processo reparador ósseo (Soares 2015).

Segundo o autor, o enxerto homólogo mais comumente utilizado é o liofilizado, que tem como vantagem não haver a necessidade de se realizar uma segunda cirurgia num outro sítio. A maior desvantagem é não haver a fase I da osteogênese (Soares, 2015).

Ainda existe dúvida sobre a segurança e eficácia do uso de enxertos homólogos para ganho ósseo em espessura e altura. Contudo, o campo da bioética e da vigilância epidemiológica está muito desenvolvido, os bancos de tecidos musculoesqueléticos devidamente credenciados só são autorizados a funcionar após cumprir rigorosas exigências da vigilância sanitária, o que confere segurança na utilização dos tecidos provenientes dessas instituições (Giovanini, 2014).

Os enxertos homólogos usados em cirurgias são obtidos a partir de Bancos de Tecidos musculoesqueléticos, onde técnicas adequadas de captação, triagem clínica, laboratorial e sorológica, coleta, identificação, processamento e estocagem são aplicadas. A captação inicia com a seleção do doador, que pode ser vivo ou cadáver, do qual é realizada uma anamnese. Os Bancos de ossos selecionam e exclui possíveis doadores que apresentem doenças contagiosas, neoplasias, doenças sistêmicas, que sejam irradiados ou usuários de drogas (Sudati, 2016). 

O tecido deve permanecer em quarentena e seu processamento e armazenamento devem ser adequados, como determinado pela RDC/Anvisa n.º 220/2006. O não cumprimento de todas essas etapas aumenta o risco de os tecidos ósseos humanos causarem danos ao paciente e ao profissional, podendo até levar a óbito (Pereira, 2021).

Os enxertos são armazenados em temperatura inferior a -70ºC, em containers, separados temporariamente, até os resultados dos exames laboratoriais. Caso haja detecção de alguma patologia ou o doador vivo desenvolva infecção, o enxerto deverá ser descartado ou, se houver liberação para utilização do enxerto, ele pode ser estocado por até cinco anos. Em todos os enxertos, são realizadas tomadas radiográficas, com o objetivo de detectar lesões preexistentes ou malformações ósseas que possam prejudicar o receptor (Ferreira, 2018). 

O enxerto homólogo pode ser utilizado de várias formas: fresco, congelado (-60°C a -80° C), ou liofilizado quando congelado e desidratado. Após a liofilização, o enxerto apresenta a vantagem de ser embalado a vácuo e pode ser armazenado em meio ambiente por até 5 anos. A obtenção desses fragmentos obedece a rigorosa técnica de assepsia, rotulagem, culturas, tratamento antibiótico e congelamento e devem manter uma rotina laboratorial com coleta de 20 ml de sangue do provável doador, para proceder os exames. Após a esterilização (óxido de etileno), as peças devem ser acondicionadas em embalagens plásticas triplas, seladas uma a uma a vácuo para ultracongelamento com uma etiqueta irretocável, com o número do doador, identificação do tecido, data e lote da retirada e com validade de 5 anos (Ferreira, 2018).

FIGURA 3 – Embalagem de osso homologo do banco de ossos.

Fonte:https://koppimplantes.com.br/enxerto-osseo-homologo-particulado-modificada/

4. DISCUSSÃO

É imprescindível a existência de volume ósseo e boa qualidade óssea do local onde será realizado o implante osseointegrável para que seja obtido resultados com sucesso na implantodontia (Sudati, 2016).

O objetivo da utilização de enxertos ósseos é para que se recupere a altura, espessura e a qualidade óssea em regiões com indicação de tratamento com implantes osseointegrados ou algum tipo de fratura facial que prejudicou a estética de um indivíduo, buscando recuperar a qualidade de vida e saúde (Silva, 2020).

O enxerto ósseo autógeno é o material padrão ouro para reconstrução de processos alveolares atróficos. Quando comparado aos enxertos ósseos alógenos e xenógenos, suas principais vantagens são a relativa resistência à infecção, incorporação pelo hospedeiro, não ocorrendo reação de corpo estranho, mantém a capacidade osteogênica e osteoindutiva (Fardin, 2010).

Contudo as desvantagens relacionadas com a morbidade do sítio doador, quantidade inadequada de osso na região intraoral para grandes defeitos e necessidade de osso de região extraoral para maiores reconstruções limitam as expectativas do paciente; por esse motivo, os estudos utilizando osso homólogo para reabilitação com implantes vem se intensificando, e a literatura, apresentando bons resultados (Ferreira, 2018).

Regeneração periodontal, cirurgia ortognática, levantamento de seio maxilar e reconstrução de rebordo alveolar atrófico representam algumas das indicações para o uso de enxerto ósseo homólogo na odontologia (Souza, 2010).

A eficácia do enxerto homólogo foi comprovada, diante da constatação por meio de resultados de sua boa integração com o leito receptor, baixa taxa de reabsorção óssea e estabilidade na região implantada. O osso homólogo pode ser adquirido congelado, seco, desmineralizado ou não e também de forma liofilizada (Godinho, 2022).

A sistemática de retirada, tratamento e armazenamento de tecidos foi descrita pelo pesquisador Imamanaiev na Rússia, na década de 60. A partir de então, grande número de técnicas de conservação e armazenamento, além de pesquisas laboratoriais que visam conservar o potencial osteogênico do enxerto tem sido realizadas (Souza, 2010).

Normas e rotinas vêm sendo discutidas e modificadas ao longo dos anos para melhora da coleta, processamento, armazenamento e doação dos ossos coletados. Os enxertos, tanto de doador vivo quanto de doador ex vivo, são removidos em ambiente cirúrgico estéril, seguindo-se rígidas normas de biossegurança (Souza, 2010).

5. CONCLUSÃO

A utilização de homoenxertos provenientes de bancos de ossos demonstra ser uma ferramenta bastante útil, eficaz e segura para a odontologia.

O osso alógeno apresenta como vantagens a redução no tempo cirúrgico, menor morbidade, além de fornecer grandes volumes de tecido ósseo. Suas principais desvantagens são antigenicidade e o seu potencial em transmitir doenças, minimizado atualmente por métodos modernos de tratamentos.

As propriedades osteocondutoras dos enxertos alógenos estão sempre presentes. Já as osteoindutoras dependem do processamento e armazenamento a que foram submetidos.

O osso alógeno se mostrou como um material de enxerto de elevada previsibilidade para o emprego em Implantodontia.

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¹Discente do curso de Odontologia da Faculdade de Ilhéus, Centro de Ensino Superior, Ilhéus, Bahia. e-mail: icarostolze@hotmail.com;
²Docente do curso de Odontologia da Faculdade de Ilhéus, Centro de Ensino Superior, Ilhéus, Bahia. e-mail: gabrielsevero@uol.com.br