ENTRE RUÍNAS E SILÊNCIOS: AMORALIDADE X DOGMAS RELIGIOSOS EM SEM GENTILEZA, DE FUTHI NTSHINGILA

BETWEEN RUINS AND SILENCES: AMORALITY VS. RELIGIOUS DOGMA IN SEM GENTILEZA, BY FUTHI NTSHINGILA

REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/pa10202408062223


Patrícia Pinheiro-Menegon1
Maria Marta dos Santos Silva Nóbrega2


RESUMO:

Sabemos que a violência causada pelas desigualdades de gênero e sociais estão, historicamente, constituídas como elemento ‘engessado’ nas mais diversas relações e culturas. Desse modo, este trabalho propõe uma análise investigativa sobre a representação feminina a partir da personagem protagonista, Mvelo, do romance Sem Gentileza (2016) da escritora sul-africana Futhi Ntshingila, com a finalidade de perceber na narrativa como a escritora descreve, esteticamente, essas desigualdades sobretudo no âmbito da violência contra a mulher, destacamos, para este recorte, o contexto sul-africano das mulheres negras. Nessa perspectiva, discorreremos acerca de temáticas que julgamos pertinentes como os dogmas religiosos e o livre-arbítrio do ato moral ausentes em personagens que compõem a narrativa, ponderando ainda acerca da necropolítica latente no contexto social das personagens. Para realizarmos tal análise descritiva sob um viés fenomenológico e estabelecer um olhar coerente sobre as discussões e personagens, utilizaremos como ancoragem teórica os estudos de Biko (1990), Baur (2000), Hick (2018), Revel (2005), Mbembe (2016), Fanon (2022), Hill-Collins (2019), Hooks (2020), Arendt (1997, 2004), Almeida e Teles (2012) e Saffioti (2004, 2015) dentre outros estudiosos e teóricos. Metodologicamente esta é uma pesquisa qualitativa, de cunho bibliográfico com uma abordagem analítico descritiva. Por meio desta descrição, como resultado preliminar, conjecturamos que, a maneira como Ntshingila delineia a violência em sua tessitura poética produz uma certa ‘sutileza’ para momentos tão grotescos.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura Sul-Africana de Autoria Feminina Negra. Futhi Ntshingila. Violência contra a Mulher. Dogmas religiosos. Necropolítica.

ABSTRACT:

We know that violence caused by gender and social inequalities is historically constituted as a ‘plastered’ element in the most diverse relationships and cultures. In this way, this work proposes an investigative analysis of the female representation of the protagonist character, Mvelo, in the novel Sem Gentileza (2016) by South African writer Futhi Ntshingila, with the aim of understanding how the writer aesthetically describes these inequalities in the narrative, especially in the context of violence against women, highlighting, for this section, the South African context of black women. From this perspective, we will discuss themes that we consider pertinent, such as religious dogma and the free will of the moral act, which are absent in the characters that make up the narrative, and we will also consider the necropolitics latent in the social context of the characters. In order to carry out this descriptive analysis from a phenomenological point of view and establish a coherent view of the discussions and characters, we will use the studies of Biko (1990), Baur (2000), Hick (2018), Revel (2005), Mbembe (2016), Fanon (2022), Hill-Collins (2019), Hooks (2020), Arendt (1997, 2004), Almeida and Teles (2012) and Saffioti (2004, 2015) among other scholars and theorists as theoretical anchors. Methodologically, this is a qualitative, bibliographical study with a descriptive analytical approach. Through this description, as a preliminary result, we conjecture that the way Ntshingila delineates violence in her poetic texture produces a certain ‘subtlety’ for such grotesque moments.

KEYWORDS: South African Literature by Black Women Authors. Futhi Ntshingila. Violence against women. Religious dogmas. Necropolitics.

INTRODUÇÃO

Iniciamos este trabalho com o pensamento do filósofo martinicano Franz Fanon (2022), quando preceitua acerca do “princípio segundo o qual todos os homens são iguais encontrará sua ilustração […] no momento em que o colonizado mostrar que é igual ao colonizador” (FANON, 2022, p.41). No que concerne a esse célebre princípio de igualdade, daremos ênfase, nesta pesquisa, ao âmbito da violência motivada pelas desigualdades de gênero e sociais, sabendo que esses elementos estão, historicamente, estabelecidos como se ‘engessados’ nas mais diversas relações e culturas.

Desse modo, considerando esse aspecto histórico que se faz presente nos vários espaços sociais, quer seja no âmbito profissional, familiar ou comunitário, muitas mulheres têm sido vítimas dos mais diferentes tipos de violência e sobretudo elas têm lutado pela sua sobrevivência. Compreendemos também que, – na Conferência Mundial Sobre a Mulher que ocorreu em Pequim, – uma das áreas definidas como prioritária para o enfrentamento da violência contra a mulher, é que sejam superadas essas desigualdades sociais e sobretudo de gênero.

Diante dessas constatações e, com o intuito de construir uma visão mais ampla, propomos por meio este trabalho uma análise investigativa acerca da s violências sofridas pela personagem-protagonista, Mvelo, do romance Sem Gentileza (2016) da escritora sul-africana Futhi Ntshingila, a partir da representação feminina negra na obra com o intuito de perceber, na narrativa, como a personagem-protagonista embora conviva em um ambiente insalubre, em que está exposta às mais cruéis violências, consegue lutar pela sua sobrevivência com resistência-resiliência . Sob essa égide, destacamos a importância da tessitura (po)ética3 da escritora Futhi Ntshingila, pois, o modo como a escritora sul-africana descreve, esteticamente, essas desigualdades sociais sobretudo a violência contra a mulher em sua obra Sem Gentileza (2016) se destaca pela forma (po)ética com que nos mostra a crueldade do cotidiano dos excluídos-marginalizados.

Destacamos, para este recorte, o contexto histórico sul-africano do Apartheid, considerando a importância de refletirmos que esse regime, que segregou por décadas negros e bancos na África do Sul, representou também um marco de luta por direitos dos negros e, sobretudo por fazer reverberar na nação sul-africana um profundo sentimento de liberdade. Nos fazendo recordar o pensamento do ativista antiApartheid, Steve Biko (1990), quando nos fala acerca da imprescindibilidade da liberdade “tem importância básica no conceito de Consciência Negra, pois não podemos ter consciência do que somos e ao mesmo tempo permanecer em cativeiro” (BIKO, 1990, p.66). Desse modo, Biko (1990), numa breve definição, preceitua que,

A Consciência negra é em essência a percepção pelo homem negro da necessidade de juntar forças com seus irmãos em toro da causa de sua atuação – a negritude de sua pele – e de agir como um grupo, a fim de se libertar das correntes que os prendem a uma servidão perpétua. […] Portanto, a Consciência Negra toma conhecimento de que o plano de Deus deliberadamente criou o negro, negro. Procura infundir na comunidade negra um novo orgulho de si mesma, de seus esforços, seus sistemas de valores, sua cultura, sua religião e sua maneira de ver a vida (BIKO, 1990, p.66).

As palavras do fundador do Movimento da Consciência Negra mostram a emergência de fortalecer a autoestima e a identidade coletiva do povo negro, incentivando o reconhecimento e a valorização de seus próprios atributos e realizações. Promovendo um sentimento renovado de autovalorização e dignidade de suas próprias contribuições, tradições e visões de mundo, sobretudo no que concerne às lutas colossais que as mulheres negras enfrentaram e ainda enfrentam cotidianamente.

Nessa perspectiva, buscando aclimatar a narrativa que compõe a obra Sem Gentileza (2016) ao seu contexto sócio histórico, discorreremos acerca de temáticas que julgamos pertinentes como os dogmas religiosos coexistentes na história, na área de estudo das religiões, particularizado pelo Cristianismo circunscrito no espaço africano e a questão da consciência moral do homem e o seu livre-arbítrio como ato moral ausente em personagens que compõem a narrativa.

Ponderamos ainda acerca da necropolítica, fundamentada nos pensamentos de Achille Mbembe (2018), quando principia que “as formas contemporâneas que subjugam a vida ao poder da morte, reconfiguram profundamente as relações entre resistência, sacrifício e terror” (MBEMBE, 2018, p. 71). Considerando que a necropolítica não se dá só por uma instrumentalização da vida, mas também pela destruição dos corpos, sobretudo os corpos negros, isso nos faz refletir acerca de diversos episódios da história da humanidade, entre eles, discursos que validaram massacres de sujeitos negros. Assim, por meio da análise evidenciaremos que a necropolítica se faz presente como um elemento latente no contexto social da personagem-protagonista, Mvelo, vítima de brutais violências.

Para realizarmos tal análise descritiva sob um viés fenomenológico e estabelecer um olhar coerente sobre as discussões, as personagens e demais aspectos que julgamos pertinentes, utilizamos como ancoragem teórica os estudos de Biko (1990), Baur (2000), Hick (2018), Revel (2005), Mbembe (2016), Fanon (2022), Hill-Collins (2019), Hooks (2020), Arendt (1997, 2004), Almeida e Teles (2012) e Saffioti (2004, 2015) dentre outros estudiosos e teóricos.

Ademais, cumpre salientar que, ao tematizar as diversas instâncias da perspectiva literária que tem desempenhado papel fundamental na reflexão, promoção (re)construção de representação da mulher, bem como o contexto e direitos das mulheres em todo o mundo, a literatura, por admitir a ausência de neutralidade, traz consigo intencionalidades que são próprias do texto, indo para além do racional em seu caráter plurissignificativo, a partir dos estudos de Pinheiro-Menegon (2021).

De tal modo, objetivando compreendermos melhor a importância da produção literária sul-africana e, sobretudo, com o intuito de dar visibilidade à produção contemporânea de autoria feminina negra ao longo das últimas décadas, ressaltamos necessariamente, alguns elementos históricos que compuseram esse contexto de forte luta e resistência pelos quais o povo sul-africano passou durante muitos anos.

Sabendo que, contemporaneamente, há um significativo público composto por mulheres, sobretudo, mulheres negras que escrevem evidenciando suas tessituras, ancestralidades, experiências, histórias e memórias, por conseguinte, isso reflete maior expressividade quando externamos a produção literária sul-africana de autoria feminina, a saber, a tessitura (po)ética da escritora sul-africana Futhi Ntshingila. Devido seu estilo e ausência de neutralidade em sua penúltima produção literária Sem Gentileza (2006), – primeira obra, da escritora, traduzida para a Língua Portuguesa, no Brasil, – Ntshingila se tornou, sob a nossa ótica, uma leitura literária imprescindível para elucidar, alguns aspectos, o pensamento feminino negro sul-africano e, sobretudo as dores, experiências, histórias, memórias e traumas das mulheres negras invisibilizadas-vulnerabilizadas. Segundo a própria escritora ‘vivem às margens da sociedade e que passam por dilemas colossais. […] As suas vozes são importantes”. (NTSHINGILA 2016, p.5).

AMORALIDADE X DOGMAS RELIGIOSOS EM SEM GENTILEZA (2016), DE FUTHI NTSHINGILA

Antes de dar início às discussões acerca das temáticas que denominam este tópico, julgamos pertinente trazer à compreensão da análise a definição etimológica dos termos amoralidade e dogmas. De acordo com o Dicionário Priberam de Língua Portuguesa (2024), a origem etimológica de amoralidade (amoral + -idade), é ausência de moralidade. Assim, entendemos que um sujeito amoral é a pessoa que não tem senso do que seja moral e ética. A questão moral para este indivíduo é desconhecida, estranha e, portanto, não levando em consideração preceitos morais no convívio em comunidade.

Ademais, etimologicamente, o termo dogma tem sua origem no latim dogma, atis, do grego dógma, -atos, opinião, decisão, decreto, sentença. De acordo com as explicações do Dicionário Priberam (2024), a palavra dogma foi traduzida no século XVII a partir do latim dógma significando ‘princípio filosófico’ ou ‘princípio, é derivado do grego dogma (δόγμα) significa literalmente ‘aquilo que se pensa que é verdade’ e o verbo dokein, parecer bom, dessa maneira concebemos a ideia como sendo um ponto fundamental e indiscutível de uma crença religiosa. No catolicismo, por exemplo, um dogma é uma verdade revelada sobre a fé absoluta. Os dogmas têm essa característica porque os católicos romanos confiam que um dogma é uma verdade que está contida, implícita ou explicitamente, na imutável revelação divina ou que tem com ela uma conexão necessária.

Nessa perspectiva, no que tange à questão da amoralidade e dos dogmas relacionados à religiosidade e às relações humanas, no que diz respeito às lideranças religiosas, refletiremos por meio da análise da obra, como ambos os elementos, com semânticas opostas, (amoralidade x dogmas religiosos), se fazem presentes na narrativa considerando que são coexistentes na área de estudo das religiões, particularizado pelo Cristianismo, o qual será questionado, enquanto circunscrito no espaço africano.

Historicamente, no contexto do continente africano, a chegada de líderes religiosos, para a organização de instituições religiosas, mesmo que itinerantes, garantia o ajuntamento da comunidade local. Vale lembrar que o advento do cristianismo já contava com o apoio dos europeus muitos séculos antes, possibilitando o crescimento e expansão das igrejas a partir do século XX. No entanto, foi após o período de independência de vários países da África que, houve a ampliação das igrejas cristãs, denominadas pentecostais. Na África do Sul, por exemplo, o advento das igrejas pentecostais e neopentecostais coincidiu com o fim do Apartheid. Época em que se almejava uma reestruturação étnica, no país, para suplantar as marcas históricas sofridas.

De modo que, como Zola tinha o objetivo que um dos líderes de a igreja nova descobrisse o talento de Mvelo por cantar, ela fica estimulada para irem à igreja para que Mvelo possa se apresentar e cantar, pois a mãe vislumbra a possibilidade de concretude do seu sonho na vida de sua filha. Futhi Ntshingila (2016), descreve,

Zola ficou entusiasmada, pois achou que um dos líderes da igreja descobriria a voz de sua filha e tentaria cultivar seu talento. “Puxe os refrões e dê tudo de si. Não se acanhe, solte a sua voz como se a sua vida dependesse disso”. Esse era o treinamento que passava à Mvelo antes dos cultos. […] Mvelo fez o que sua mãe pediu e, cada vez que cantava, podia sentir uma elétrica agitação na tenda da igreja. […] A primeira vez que descobriram que tinha o dom para a música foi quando foram à igreja depois que o resultado do exame de Zola deu positivo. (NTSHINGILA 2016, p. 11, 13).

Os líderes da igreja fizeram perguntas sobre a garota que tinha ‘dom para o canto’, e todos respondiam que era “a filha da Zola, aquela que está com a doença das quatro letras” (2016, p. 11). Esse momento de encontro com a fé, que as personagens-protagonistas vivenciam, ainda no primeiro capítulo, é repleto de boas lembranças, acontecimentos que antecederam a doença de Zola e a morte de Sipho. Elas se lembram de quantas vezes costumava comprar Oreo para a família nos momentos felizes em que Zola usava suas últimas economias para comprar um pacote dos famosos biscoitos. “Em silêncio, comeram massa marrom recheada com creme branco, saboreando sua doçura.

Zola ria suavemente, enquanto recordava suas anedotas engraçadas.” (2016, p. 14) e riam das histórias do passado, Mvelo gostava de ver a mãe rir. A passagem sugere que Zola, apesar de enfrentar circunstâncias difíceis e não dispor de recursos ou apoio adequados, ainda consegue encontrar alegria e riso em sua vida. Sua capacidade de rir e compartilhar histórias com Mvelo indica resiliência e sua capacidade de apreciar os pequenos prazeres da vida, mesmo diante da adversidade.

“Aquela flor selvagem, sem a nutrição adequada, cresceu regada pelas chuvas e aquecida pelos raios de sol” (2016, p. 12). O uso da metáfora de “flor selvagem” sem nutrição adequada que cresce ‘regada pelas chuvas e aquecida pelos raios de sol’ ressalta ainda mais a resiliência e a força de Zola, vivendo em constante intensidade emocional e pessoal. Embora não tivesse as condições ideais para o crescimento e desenvolvimento, ela prosperou e floresceu por meio dos elementos naturais que dispunha ao seu redor.

Ainda envolvida pelo seu encontro com a fé, Mvelo é chamada pelo Reverendo Nhlengethwa, no último dia de avivamento para ir à sala dele (nos fundos da igreja), porque o Reverendo havia dito que Mvelo precisava das suas orações para se fortalecer com o espírito santo, para que assim o seu dom pudesse fluir. E, lá, na privacidade da sua improvisada sacristia ele leu algumas passagens da Bíblia para Mvelo e começou a rezar por ela… E, o que vem depois é aterrorizante, desolador e, sobretudo incomensurável.

Ele a abraçou carinhosamente. Seu gesto gentil a fez lembrar de Sipho, a única figura paterna que conhecera. O gesto trouxe de volta toda a dor que ela precisou suportar durante os dois últimos anos. […] Ela deixou a cabeça repousar em seu amplo peito, um sinal que ele interpretou como consentimento. […] As mãos dele foram ágeis, encontrando logo o que queriam. Lançou-se sobre ela de uma forma desenfreada e brutal, estilhaçando seu mundo de ilusões. Seu olhar e sua inocência haviam desaparecido. Deflorada e destruída. […] Um fio da cor da vida deixou Mvelo pelas coxas até cair no assoalho. Um iceberg se formou em seu peito, congelando suas lágrimas e seu coração (NTSHINGILA 2016, p. 17, 18).

A noção metafórica usada para descrever a intensidade emocional, a vulnerabilidade ou a dualidade crueza-poeticidade se faz presente no romance de Ntshingila (2016) ao fazer a descrição do estupro da personagem-protagonista. Ao utilizar os termos “deflorada e destruída”, a autora remete o leitor, primeiramente, à ideia de perda da virgindade, implicando em um ato forçado e violento, o estupro. E, em seguida, à grave devastação emocional, psicológica e física que Mvelo experimenta como resultado do estupro.

“Um fio da cor da vida deixou Mvelo pelas coxas até cair no chão” (p.18), mais uma vez a intensidade emocional, ou a dualidade crueza-poeticidade se faz presente na tessitura (po)ética de Ntshingila (2016) ao narrar com detalhes, sutis-cruéis, o ato abominável e violento ocorrido com a mocinha-protagonista. Sob nossa ótica, o “fio da cor da vida” (p.18), se refere concretamente ao sangue como orgânico e vital. O sangue que é, comumente, considerado a essência da vida. Metaforicamente, ao descrevê-lo como “a cor da vida”, Ntshingila (2016) ressalta a sua importância vital.

Contudo, essa metáfora nos permite expandir outras interpretações, como simbolizar vitalidade, ou até mesmo o ciclo da vida, assim como evocar sentimento de perda, quando a escritora descreve “deixou Mvelo pelas coxas” (p.18), nos fazendo enxergar à imagem da menina com seu corpo violado e sangrando na área genital, como consequência direta da violenta agressão sexual que sofrera causada por aquele que deveria ser o seu protetor. Assim, entendemos o “cair no chão” (p.18) como um término, cuja carga semântica nos traz à perda de algo vital. Evidenciamos, portanto, como sendo um momento de intensidade emocional, com imensurável tristeza e dor.

Na obra de Futhi Ntshingila (2016), é possível conhecer e admirar mulheres-negras muito fortes como as personagens-protagonistas: Zola e Mvelo. Que embora conheçamos, por meio da narrativa, suas origens, angústias, dificuldades e seus medos, contudo, evidenciamos, sobretudo, a força necessária que elas têm para sobreviver-resistir em um ambiente que persiste em insurgir contra essas mulheres.

A citação acima traz também ao conhecimento do leitor a figura de um reverendo, que, supostamente é uma figura de confiança na comunidade. Entretanto, desconsiderando os dogmas religiosos sobre o ser humano, – como sendo princípios fundamentais de uma doutrina religiosa, apresentados como verdade irrefutável, e que, como tal, deve ser acolhido e posto em prática por aqueles que a professam, – comete a monstruosa atitude de estuprar Mvelo, evidenciando com isso a sua amoralidade pessoal como: ausência de caráter, falta de ética profissional e sobretudo sua imensurável crueldade-desumanidade. Os pensamentos John Hick (2018) acerca do mal, refletem,

O mal é assim perda e carência, uma privação do bem, e, ao invés de ter um fim positivo ou uma função própria, ele tende, por seu caráter inerentemente negativo. […] Como caracterização do mal, no interior da teologia cristã, essa privativa tem que ser admitida como sendo totalmente correta. Ela representa a única explicação possível do status ontológico do mal em um universo que é a criação de um Deus onipotente e bom. Desse ponto de vista, o mal não pode ser um constituinte fundamental da realidade, pois a única realidade fundamental é o Criador infinitamente bom. O mal pode ser apenas um mal funcionamento ou desordem que de algum modo ocorre no interior da criação essencialmente boa. (HICK, 2018, p.254).

Inferimos, ancorados nos pensamentos de John Hick (2018), que o mal não é uma força independente ou intrínseca, mas sim um tipo de distúrbio ou disfunção que ocorre dentro de cada um, apesar de, em sua essência, ser bom. Assim, embora o reverendo seja uma figura que representa um parâmetro de comportamento enquanto liderança, porém, não há nele preocupação com os dogmas da igreja. Os dogmas que nos referimos, segundo pesquisas empíricas, está dentro de uma divisão em diferentes categorias: dogmas de Deus, dogmas sobre Jesus Cristo, sobre a criação do mundo, dogmas sobre o ser humano, dogmas marianos, sobre o papa e a Igreja, dogmas sobre os sacramentos e dogmas sobre as últimas coisas.

Sabemos que não é tarefa fácil falar de crenças e dogmas religiosos, principalmente quando consideramos que existem muitas religiões e diferentes formas de crer, e compreender que as religiões atuam sobre as diferentes ações sociais, por estarem ligadas às interações comunitárias, torna ainda mais complexa essa relação. Independentemente dessas complexidades, o reverendo se aproveita de sua posição de poder e após cobiçar a menina moça, manipula Mvelo, monstruosamente.  Com as palavras de Hannah Arendt (1997), “o homem é aquilo que se esforça por atingir” (ARENDT, 1997, p.25). e ela ainda reafirma a ideia quando assegura que “o desejo daquilo que é da ordem do mundo é mundano, pertence ao mundo. O que cobiça decidiu ele próprio, através da sua cobiça, a sua corruptibilidade”. (ARENDT, 1997, p.25).

Arendt (1997) deixa explícito que o desejo excessivo por algo, leva a pessoa a se tornar corrompida. Em outras palavras, é a própria cobiça que decide, ou determina, que alguém se torne corrupto, definindo a abominável atitude do reverendo. compreensão social da masculinidade pode ser influenciada por noções tradicionais de papéis de gênero e dinâmicas de poder, o que pode obscurecer perspectivas mais matizadas e equitativas. Esse contexto remete à afirmação da escritora romancista francesa Virginie Despentes (2016, p.42, 43), quando preceitua que:

O estupro, ele é próprio do homem; não a guerra, a caça, o desejo cru, a violência ou a barbárie, mas justamente o estupro. […] A mística masculina é construída como sendo naturalmente perigosa, criminosa, incontrolável por natureza. […] Por detrás do véu de controle da sexualidade feminina aparece o objetivo principal dessa política: formar o caráter viril como associal, pulsional, brutal. E o estupro serve como meio para afirmar essa constatação: o desejo do homem é mais forte do que ele, o homem não pode dominá-lo. […] os discursos sobre a questão da masculinidade se encontram esmaltados com resíduos de obscurantismo. […] O estupro, esse ato condenado do qual não se deve falar, sintetiza um conjunto de crenças fundamentais que dizem respeito à virilidade. (DESPENTES, 2016, p.42, 43),

Segundo Despentes (2016) sugere, o estupro é visto como uma manifestação do desejo masculino que se sobrepõe ao seu controle racional. Implica dizer que, o ato de estupro é certamente motivado por um senso de direito e poder sobre o outro, em vez de um processo racional de tomada de decisão. A citação acima destaca a ideia de que os desejos dos homens sobrepujam sua capacidade de controlar suas ações, reforçando uma narrativa da masculinidade como inerentemente dominante e incontrolável.

Nessa acepção, o estupro, elemento que está inserido na ‘mística masculina’ de irrefreável virilidade, ocorre, na igreja, após um culto, quando o reverendo pede à jovem que vá à sacristia para rezar e conversar sobre o seu sonho de cantar. Uma vez sozinho com Mvelo, o Reverendo Nhlengethwa a estupra violentamente. Ele, homem usando da arte de dominação a ele atribuída, enquanto a jovem garota dominada, e modo inconsciente se ‘rende’ à realidade imposta, por mais violenta que ela seja.

O ato de estuprar incorpora certas crenças sobre o que significa ser homem, como domínio, poder e controle sobre o outro. A autora Virginie Despentes (2016), alerta em sua obra Teoria King Kong (2016), sobre a imprescindibilidade de a vítima superar o ocorrido. No entanto ela ressalta que a melhor forma de superar não é esquecendo o fato, e sim lidando com o mesmo. Nesse aspecto, remetemos a uma importante reflexão proposta pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu (2006, p.206, 207), quando considera que:

A dualidade da violência aberta, física, e da violência simbólica mais refinada, encontra-se em todas as instituições […] e no próprio âmago de cada relação social: ela está presente tanto na dívida, quanto na dádiva, que apesar de sua oposição aparente, têm em comum o poder de servir de fundamento tanto à dependência, e, até mesmo à servidão, quanto à solidariedade […] A violência simbólica, violência invisível, desconhecida como tal, a da confiança, da obrigação, da fidelidade pessoal, da hospitalidade, da dádiva, do reconhecimento, da compaixão, de todas as virtudes às quais, em uma palavra, presta homenagem amoral da honra, impõe-se como o modo de dominação. (BOURDIEU, 2006, p.206, 207),

A atitude do Reverendo Nhlengethwa de estuprar Mvelo no último dia de avivamento, serve como uma manifestação de masculinidade tóxica, que perpetuam crenças prejudiciais e dinâmicas de poder, contribuindo para a violência e a desigualdade baseadas no gênero. Entendemos ainda que, neste contexto religioso, o estupro é considerado como uma violência instituída e legitimada, historicamente, ‘no próprio âmago de cada relação social’. Essa manifestação violenta é o que Pierre Bourdieu (2014) denominou violência simbólica, e, ‘encontra-se em todas as instituições,’ sendo a igreja incluída enquanto instituição social.

De acordo com as ideias do sociólogo a violência simbólica, é aquela estabelecida a partir das relações da confiança, como no caso do reverendo e Mvelo. Isto é, uma manifestação violenta que ocorre a partir da “ação poderosa por se exercer, […] através da insensível familiarização simbolicamente estruturada e da experiência de interações permeadas pela dominação” (BOURDIEU, 2014, p.61).

MVELO: ENTRE RUÍNAS E SILÊNCIOS…

A partir do ocorrido vemos na personagem-protagonista, Mvelo, que segue sua vida entre ruínas e atitude consequente de profundo silenciamento, cujo fator foi ocasionado a partir daquela abominável experiência pela qual passou.  A escritora Futhi Ntshingila (2016), ao descrever “Lançou-se sobre ela de uma forma desenfreada e brutal, estilhaçando seu mundo de ilusões” (p.17), nos faz compreendemos que, esse terrível acontecimento traumatizou Mvelo de modo imensurável, refletindo em sua saúde física, mental e espiritual. “Seu olhar e sua inocência haviam desaparecido. Deflorada e destruída” (p.17), a escritora apresenta uma transformação profunda e trágica na vida da personagem-protagonista Mvelo, advertindo que ela perdeu sua pureza e foi profundamente afetada por uma experiência dolorosa.

O olhar de Mvelo e sua inocência haviam desaparecido, indicando que a personagem ao perder a sua ingenuidade e a pureza que antes possuía tem isso refletido no seu ‘olhar’ de uma pessoa violentada física, psíquica e emocionalmente. Esse desaparecimento no seu ‘olhar’ evidencia uma mudança emocional e psicológica deveras significativa. Assim, vemos uma menina-moça, Mvelo, que sofre a perda brutal da sua inocência, sofrendo uma sensação avassaladora de violação e ruína, que é evidenciada em forma de desumanização e hostilidade, cujo impacto intenso da agressão sobre ela resulta em uma gravidez precoce.

Endossando as reflexões acima, no que tange ao estupro sofrido pela personagem-protagonista, a descrição feita na narrativa evidencia a ruína-brutalidade a qual a personagem é submetida. Entendemos como abominável o comportamento do reverendo, que utiliza de violência por entender que é duplamente superior: pelo gênero e posição hierárquica que ocupa. O fato de exercer um cargo, ter poder, nos remete às ideias da filósofa Arendt (2004, p.35), quando estabelece a diferença entre violência e poder:

Poder e violência são opostos; onde um domina absolutamente, o outro está ausente. A violência aparece onde o poder está em risco, mas deixada a seu próprio curso, conduz à desaparição do poder. Isso implica ser incorreto pensar o oposto da violência como a não violência; falar de um poder não violento é fato redundante. A violência pode destruir o poder; ela é absolutamente incapaz de criá-lo. (ARENDT, 2004, p.35),

Baseados no pensamento de Arendt (2004), deduzimos que a violência tende a surgir em situações em que a eficácia do poder seja instável ou contestada. Isso porque quando os indivíduos percebem que seu poder está ameaçado, sabem que podem recorrer à violência como forma de afirmar ou manter o controle. Desse modo, defendemos a ideia que, o verdadeiro poder não deve se basear em violência alguma. Embora, a ideia de ‘poder não violento’ seja vista como redundante ou contraditória, entendemos que o genuíno poder não precisa recorrer à violência para se afirmar.

Assim, analisando o contexto histórico da obra Sem Gentileza (2016), e particularmente, o da pobreza e do patriarcado, entendemos que, a prevalência da violência-desumanização e do abuso sexual na sociedade sul-africana, traz um impacto devastador na vida das mulheres, sobretudo pela dificuldade de falar contra tal abuso em uma cultura que muitas vezes a vítima é considerada culpada. A dor do estupro, que assola Mvelo, e a ferida continuará ali, em forma de pesadelos e do imenso silêncio que a própria personagem se impõe acerca do ocorrido na igreja. Isso nos faz compreender que, muitas vezes a violência em si é incapaz de falar, não significando que a fala seja impotente diante da violência. De acordo com Hannah Arendt (2004, p.28, 29):

A “autoridade”, relativa ao mais indefinido desses fenômenos e, portanto, como termo, objeto de frequente abuso, aplicado às pessoas […] na relação entre pai e filho, professor e aluno […] ou nos cargos hierárquicos da Igreja. […] Sua característica é o reconhecimento sem discussões por aqueles que são solicitados a obedecer; nem a coerção e nem a persuasão são necessárias. […] A “violência”, finalmente, como já disse, distingue-se por seu caráter instrumental. Do ponto de vista fenomenológico, está ela próxima do vigor uma vez que os instrumentos da violência, como todos os demais, são concebidos e usados para o propósito da multiplicação do vigor natural até que, possam substituí-lo.

A agressão sofrida pela garota impactou profundamente o relacionamento de Mvelo e Zola, uma vez que a menina, por meio do seu silêncio-ruína, luta para ocultar a verdade de sua mãe, temendo pela sua frágil saúde, e sobretudo pelo ato do estupro e consequente gravidez resultante dele. Como sobreviveria àquele trauma? Como seria a sua vida a partir daquele momento? Como conseguiria voltar a sorrir ou lutar para realizar seus sonhos diante de tamanha ruína-sofrimento e dor?

São ‘sangramentos-questões’ presentes na mente de quem sofre uma violência brutal, considerando que essa agressão não permanece expressa somente no corpo, mas sobretudo no psicológico do sujeito agredido com desonra, violentado por humilhações ou ainda preconceitos raciais, discriminação, exclusão social entre outras formas de ‘sangramentos’ coletivos ou particulares-subjetivos. E, por ter esse ‘caráter subjetivo’ a violência causa traumas tão profundos, como bloqueio emocional, que afetam a capacidade da vítima de verbalizar suas experiências, ocasionando um contínuo silêncio-medo.

Concluímos, refletimos que o silêncio-ruína de Mvelo é legítimo, considerando a violência – uma fonte de sofrimento psicológico intenso, que deixa marcas duradouras – como algo que é vivido de maneira pessoal e íntima, afetando profundamente a sua percepção e experiência individual da vítima, fazendo com que a vítima silencie, tornando-se incapaz de processar ou lidar com as emoções causadas pela violência. Como resultado do trauma, a vítima tem dificuldades em expressar ou falar sobre o que vivenciou, certamente porque a dor emocional é muito intensa ou porque a violência afetou sua capacidade de comunicação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O que buscamos dar relevo – em meio à tragédia que arrasou com os sonhos da vida de Mvelo – é o fato de que, em vez de vê-las como mulheres sofredoras, evidenciamos personagens-protagonistas femininas que enfrentam os mais variados tipos de violência, intimamente relacionadas às suas classes sociais e espaços em que vivem.

Entretanto, essas violências servem como uma espécie de ‘impulso’ ou ainda inferimos, que a ‘obra exibe uma qualidade (po)ética que mergulha nas profundezas das emoções humanas, explorando temas profundos ou abordando experiências pungentes’ e quanto ao fato de serem mulheres-negras e pobres, isso se torna ainda mais representativo. Desse modo, mãe e filha reproduzem, inconscientemente, uma subalternidade-opressão que lhes foram impostas, sem perceberem o que ocasionou tal imposição.

Esse comportamento de ambas personagens pode ser explicado com as palavras de Bourdieu (2014), que mesmo estando em outro contexto, acreditamos fazer sentido para este momento de análise. Ele preceitua que, as mulheres aplicam à sua realidade, e, particularmente, “às relações de poder em que se veem envolvidas, esquemas de pensamento que são produtos dessas relações de poder e que se expressam nas oposições de ordem simbólica” (BOURDIEU, 2014, p.54).

As mulheres, negras ou não, foram social e historicamente, educadas e ensinadas sob uma ótica de hierarquia de gênero. Esse processo de socialização, por meio de imposições contínuas e veladas, determinadas pela heteronormatividade patriarcal, contribuiu imensamente para que os homens acreditassem em sua superioridade em relação às mulheres, buscando subjugá-las e dominá-las, e cabendo a elas aceitar como sendo um procedimento ‘natural’ e inquestionáveis.

No que concerne aos possíveis traumas, pós estupro, vividos por Mvelo após o ato abjeto praticado pelo reverendo, lembramos da luta-resistência travada por ela para aceitar de maneira resignada o que aconteceu, com medo de falar para a sua mãe, o medo de ser estigmatizada, discriminada e humilhada por sua comunidade. Ponderando que, no contexto africano, o corpo feminino representa o sagrado, ela, uma menina de apenas quatorze anos, tinha uma vida inteira pela frente pra conviver com aquele estigma.

Mesmo Mvelo preferindo não denunciar o Reverendo Nhlengethwa, porque se sentir presa às condições sociais que atravessam sua vida, ela é uma mulher que rompe com um modelo tradicional aliando-se mais às virtudes como coragem e enfrentamento, por sua sobrevivência enquanto mulher-negra. Como seria a sua vida dali para adiante? Embora tenhamos visto expressa na narrativa que Mvelo passara por uma experiência traumática que a fez perder sua inocência-pureza, resultando em uma destruição interna profunda, Mvelo estará viva e firme para lutar-resistir, transformando, com resiliência e muita coragem, suas ruínas em novas representações suas enquanto mulher-negra.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Maria Amélia; TELES, Mônica de Melo. O que é violência contra a mulher. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 2012.

ARENDT, Hannah. Da violência. Tradução de Maria Cláudia Drummond. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.

ARENDT, Hannah. O conceito de Amor em Santo Agostinho. Lisboa – Portugal: Editora Instituto Piaget, 1997.

BAUR, John. 2000 Anos de Cristianismo em África: Uma história da igreja africana. Lisboa: Edições Paulinas, 2002.

BIKO, Steve. Escrevo o que eu quero. Tradução Grupo Solidário São Domingos. São Paulo: Editora Ática, 1990.

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/

FANON, Franz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EdUFBA, 2008.

HICK, John. O mal e o deus do amor. Tradução de Sérgio Miranda. Brasília: Editora UnB, 2018.

HOOKS, bell. Olhares negros: raça e representação. Tradução de Stephanie Borges. São Paulo: Elefante, 2019.

MBEMBE, Achille. As formas africanas de auto-inscrição. Estudos Afro-asiáticos. Rio de Janeiro, v. 23, n. 1, pp. 171-209, 2001.

MBEMBE, Achille. Necropolítica. Tradução Renata Santini. São Paulo: N-1 Edições, 2018.

REVEL, Judith. Michel Foucault: conceitos essenciais. Tradução Maria do Rosário Gregolin, Nilton Milanez, Carlos Piovenasi. São Carlos: Claraluz, 2005.


3 Adotamos, para este trabalho, a grafia (po)ética por entender que ela reflete duas perspectivas pertinentes para a pesquisa. A saber: uma crítico-social, por abarcar em seu escopo produções literárias ‘insubmissas’ e a perspectiva da ‘escrevivência’ como tessitura que conecta experiências, histórias e memórias de mulheres negras.


1Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino da Universidade Federal de Campina Grande-PPGLE/UFCG-PB patricia.pinheiro@estudante.ufcg.edu.br
2Profa. Dra. e Orientadora do Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino da Universidade Federal de Campina Grande-PPGLE/UFCG-PB martanobregaufcg@gmail.com