ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA: DIFICULDADES ENFRENTADAS POR ENFERMEIROS RECÉM-FORMADOS NO INÍCIO DA CARREIRA

BETWEEN THEORY AND PRACTICE: CHALLENGES FACED BY NEWLY GRADUATED NURSES AT THE BEGINNING OF THEIR CAREERS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202504041155


Luane Mayele Sau
Marise da Rosa Barreto
Rafael de Oliveira dos Santos¹
Patricia Farias²


Resumo

Este estudo tem como objetivo analisar os desafios enfrentados por enfermeiros recém-formados no início da trajetória profissional, com ênfase nos impactos emocionais, especialmente relacionados à síndrome de burnout. A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica, com base em artigos científicos que abordam a inserção no mercado de trabalho, o esgotamento profissional e a ausência de suporte institucional. Os resultados apontam para uma disparidade entre a formação acadêmica e as exigências da prática hospitalar, o que intensifica sentimentos de insegurança e estresse. Observou-se, ainda, a carência de programas de mentoria e acolhimento psicológico, fatores que comprometem a adaptação dos profissionais e a qualidade do cuidado prestado. Conclui-se que a reestruturação do ensino, a implementação de estratégias de apoio e a valorização do bem-estar dos enfermeiros são fundamentais para uma transição mais segura, contribuindo para um sistema de saúde mais humanizado e eficiente.

Palavras-chave: Enfermagem, síndrome de burnout, recém-formados, saúde mental.

1  INTRODUÇÃO

A atuação da enfermagem no sistema de saúde brasileiro é indiscutivelmente fundamental, especialmente por representar a linha de frente na assistência direta ao paciente. Entretanto, ao ingressarem no mercado de trabalho, os enfermeiros recém-formados enfrentam diversos desafios que extrapolam as competências técnicas adquiridas durante a graduação. O período de transição entre a formação acadêmica e a prática profissional costuma ser marcado por sentimentos de insegurança, sobrecarga de responsabilidades e instabilidade emocional. De acordo com Souza e Almeida (2025), a ausência de uma estrutura institucional de apoio e o preparo insuficiente para o cotidiano hospitalar agravam esse processo de adaptação, afetando a saúde mental dos profissionais em início de carreira.

Um dos principais agravantes dessa realidade é a síndrome de burnout, que afeta com frequência os recém-formados. Caracterizado pelo esgotamento físico e emocional, o burnout está associado à sobrecarga de trabalho, à escassez de reconhecimento profissional e às dificuldades para gerenciar a pressão do ambiente hospitalar. Segundo Souza e Silva (2007), o impacto dessa condição reflete não apenas na saúde do profissional, mas também na qualidade da assistência prestada. A ausência de políticas voltadas ao acolhimento dos novos enfermeiros contribui para o afastamento precoce desses profissionais e, em alguns casos, para o abandono da profissão.

Outro aspecto relevante diz respeito ao descompasso entre a formação teórica e as exigências práticas da rotina hospitalar. A graduação em enfermagem, embora ofereça uma base científica sólida, ainda apresenta lacunas no que se refere ao preparo emocional e psicológico dos estudantes. Como observam Siqueira et al. (2014), habilidades como inteligência emocional, gestão do estresse e autocuidado não recebem a devida atenção durante a formação, tornando os recém-formados mais vulneráveis às adversidades da prática profissional. A carência de suporte psicológico nas instituições de saúde acentua esse problema, dificultando a adaptação dos profissionais às demandas do trabalho.

Diante desse cenário, destaca-se a urgência na implementação de ações estruturadas que promovam a valorização e o fortalecimento da enfermagem. Barreto et al. (2018) propõem como estratégias a ampliação dos estágios supervisionados, a inclusão de disciplinas voltadas ao desenvolvimento emocional dos estudantes e a criação de espaços de escuta e acolhimento dentro das unidades hospitalares. Tais iniciativas favorecem uma adaptação mais saudável dos recém-formados, contribuindo para a construção de ambientes de trabalho mais equilibrados e eficazes. Investir nesse processo é, portanto, essencial não apenas para a saúde dos profissionais, mas também para a qualidade do atendimento oferecido à população.

Nesse contexto, este estudo tem como foco compreender os principais obstáculos enfrentados pelos enfermeiros no início de sua trajetória profissional, com ênfase nas consequências emocionais e estruturais decorrentes da ausência de suporte institucional. A pesquisa bibliográfica adotada fundamenta-se em autores que discutem a síndrome de burnout, a inserção profissional e a necessidade de políticas públicas voltadas ao acolhimento dos recém-formados. A partir da análise dessas contribuições, pretende-se oferecer reflexões sobre possíveis estratégias para minimizar os impactos negativos dessa transição, contribuindo para a valorização da enfermagem e a permanência qualificada desses profissionais no exercício de suas funções.

2  FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1  Desafios na Liderança e Gestão de Equipes

De acordo com Souza e Costa (2025), os primeiros anos na enfermagem são repletos de desafios relacionados à liderança, especialmente devido à necessidade de coordenar equipes multidisciplinares, lidar com conflitos e tomar decisões rápidas em um ambiente dinâmico. O enfermeiro, além de prestar assistência direta ao paciente, precisa assumir um papel organizacional e gerencial, o que pode ser um grande desafio para quem ainda está aprendendo a equilibrar as demandas da profissão. Muitos relatam dificuldades em se impor perante técnicos e auxiliares mais experientes, que, por vezes, questionam a autoridade de um profissional recém-formado.

Esse período inicial também é marcado por um sentimento de insegurança, especialmente quando se trata de tomar decisões críticas em momentos de pressão. Santos e Oliveira (2025) apontam que a transição de carreira é um fator determinante para o desenvolvimento da confiança do profissional, pois muitos enfermeiros recém-formados já atuaram como técnicos de enfermagem e, ao assumirem um novo cargo, precisam reconstruir sua identidade profissional. Esse processo nem sempre é tranquilo, uma vez que exige uma mudança de mentalidade e uma nova postura frente aos desafios.

O impacto emocional dessa fase não pode ser ignorado. O receio de errar, a sobrecarga de responsabilidades e a necessidade de demonstrar competência diante da equipe podem gerar estresse e ansiedade. Souza e Silva (2007) destacam que muitos profissionais relatam medo de delegar tarefas e receio de não serem respeitados pelos colegas mais experientes. Além disso, a pressão para cumprir metas institucionais e garantir um atendimento de qualidade pode ser desgastante, tornando esse período um dos mais desafiadores da trajetória profissional.

A transição entre a formação acadêmica e a prática profissional na enfermagem é repleta de desafios, especialmente no que diz respeito à preparação para lidar com as complexidades do ambiente de trabalho. Os cursos de graduação fornecem uma base sólida de conhecimento teórico e prático, mas a realidade do dia a dia profissional apresenta situações que nem sempre foram abordadas com profundidade durante a formação. Isso inclui, por exemplo, a necessidade de gerenciar equipes, resolver conflitos, tomar decisões rápidas e administrar demandas de pacientes e gestores ao mesmo tempo.

Souza e Almeida (2024) destacam que, apesar da carga horária dedicada a disciplinas de gestão e administração, muitos enfermeiros recém-formados chegam ao mercado sem a segurança necessária para exercer essas funções. A ausência de uma abordagem mais aprofundada sobre esses temas faz com que a adaptação à rotina hospitalar seja ainda mais difícil. O profissional, além de prestar assistência direta ao paciente, precisa lidar com a logística do setor, garantir o uso eficiente de recursos e coordenar as atividades da equipe de enfermagem. Esses desafios exigem habilidades de liderança e comunicação que nem sempre são trabalhadas de maneira efetiva durante a graduação.

Outro ponto crucial está na falta de experiência prática em gestão de pessoas. A equipe de enfermagem é composta por profissionais com diferentes níveis de experiência, personalidades e formas de trabalho, o que pode gerar conflitos e dificuldades de interação. O enfermeiro recém-formado precisa aprender a lidar com essas diferenças, garantindo que todos os membros da equipe trabalhem de forma integrada e harmoniosa. No entanto, sem uma preparação adequada para essa função, muitos acabam enfrentando dificuldades para se impor e conquistar o respeito dos colegas mais experientes. Souza e Almeida (2025) ressaltam que essa falta de preparo pode levar ao desgaste profissional precoce, resultando em um ambiente de trabalho tenso e pouco produtivo.

A insegurança na gestão da equipe pode comprometer não apenas o desempenho do enfermeiro, mas também a qualidade da assistência prestada aos pacientes. Um líder que não se sente seguro para tomar decisões pode hesitar diante de situações críticas, impactando diretamente no atendimento. Além disso, a falta de comunicação eficaz entre os membros da equipe pode gerar erros na administração de medicamentos, atrasos em procedimentos e falhas na continuidade do cuidado. Barreto et al. (2018) enfatizam que a enfermagem exige um trabalho colaborativo bem estruturado, onde cada profissional compreenda suas funções e atue de maneira coordenada para garantir um atendimento seguro e eficiente.

Para minimizar esses desafios, é essencial que os cursos de enfermagem busquem integrar mais atividades práticas relacionadas à gestão de equipes e liderança. Uma alternativa seria a criação de estágios específicos para essa área, onde os estudantes pudessem acompanhar a rotina administrativa dos setores de enfermagem e aprender diretamente com profissionais experientes. Além disso, a inclusão de disciplinas voltadas para o desenvolvimento de habilidades interpessoais e comunicação assertiva poderia contribuir para a formação de enfermeiros mais preparados para lidar com os desafios da gestão.

Além da formação acadêmica, as instituições de saúde também têm um papel fundamental nesse processo de adaptação. A implementação de programas de mentorias e treinamentos específicos para recém-formados pode ajudar a reduzir o impacto dessa transição. Souza e Silva (2007) apontam que a presença de um enfermeiro mais experiente como mentor pode proporcionar um ambiente de aprendizado mais seguro, permitindo que o profissional iniciante desenvolva suas habilidades de maneira gradual e estruturada. Esse tipo de suporte contribui não apenas para a formação técnica, mas também para o fortalecimento da confiança do novo enfermeiro em suas próprias capacidades.

Outro aspecto importante é o incentivo ao desenvolvimento contínuo das habilidades de liderança. Muitos enfermeiros recém-formados acabam evitando assumir responsabilidades gerenciais por medo de errar ou por não se sentirem preparados para esse papel. No entanto, à medida que vão ganhando experiência, é fundamental que busquem aprimorar suas competências nessa área. Siqueira et al. (2014) destacam que o mercado de trabalho valoriza cada vez mais profissionais que demonstram iniciativa, capacidade de gestão e habilidades de comunicação. Investir no desenvolvimento dessas competências pode abrir portas para novas oportunidades de crescimento dentro da enfermagem.

A sobrecarga de trabalho também é um fator que agrava a dificuldade de adaptação dos novos profissionais. O ritmo acelerado dos hospitais e unidades de saúde exige que os enfermeiros tomem decisões rapidamente e lidem com múltiplas demandas ao mesmo tempo. Rodrigues e Zanetti (2004) enfatizam que essa pressão pode ser ainda maior para quem está começando, pois além de aprender a rotina do setor, o recém-formado precisa demonstrar competência e eficiência para conquistar seu espaço na equipe. A falta de experiência na gestão do tempo e na organização das tarefas pode gerar estresse e frustração, dificultando ainda mais essa fase inicial da carreira.

Diante desse cenário, é essencial que os gestores das unidades de saúde adotem medidas para apoiar os enfermeiros em início de carreira. A criação de escalas de trabalho que permitam períodos de adaptação, a disponibilização de treinamentos regulares e o incentivo a um ambiente colaborativo são algumas estratégias que podem contribuir para a integração desses profissionais. Além disso, a construção de uma cultura organizacional que valorize o aprendizado contínuo e o compartilhamento de conhecimento entre os membros da equipe pode facilitar a adaptação dos novos enfermeiros e fortalecer a coesão do grupo.

A adaptação ao papel de liderança também envolve o desenvolvimento da inteligência emocional. Lidar com diferentes perfis de profissionais, pacientes e familiares exige empatia, paciência e capacidade de gerenciar conflitos de maneira equilibrada. Souza e Almeida (2025) ressaltam que a falta de preparo emocional pode levar a desgastes físicos e psicológicos, comprometendo não apenas o desempenho profissional, mas também a saúde mental do enfermeiro. Por isso, é fundamental que tanto as universidades quanto os hospitais promovam iniciativas voltadas para o bem-estar dos profissionais, ajudando-os a desenvolver estratégias para lidar com o estresse e a pressão do trabalho.

2.2  Insegurança e Falta de Experiência Prática

Segundo Souza e Almeida (2025), um dos principais desafios enfrentados pelos enfermeiros que acabam de ingressar no mercado é a dificuldade em aplicar, na rotina hospitalar, os conhecimentos adquiridos na universidade. Embora os cursos de enfermagem contemplem estágios supervisionados e disciplinas voltadas para a prática, o contato real com os pacientes em situações de alta complexidade ainda é limitado. Isso faz com que o recém-formado se depare com a necessidade de lidar com emergências, pressões institucionais e a responsabilidade de coordenar cuidados sem a confiança necessária para agir de maneira autônoma. Esse contexto pode gerar um ciclo de ansiedade e medo de errar, tornando a adaptação ao novo ambiente ainda mais difícil.

Outro aspecto que contribui para essa insegurança é a falta de suporte adequado no início da carreira. Souza e Silva (2007) apontam que muitos profissionais recém-chegados aos hospitais ou unidades de saúde não recebem um acompanhamento estruturado, sendo lançados diretamente à rotina de trabalho sem a orientação necessária. A ausência de programas de preceptoria ou tutoria agrava a sensação de despreparo, deixando o profissional exposto a falhas que poderiam ser evitadas com uma adaptação mais gradual e assistida. A sobrecarga de trabalho também se torna um fator de estresse, já que a demanda por atendimento é alta e os erros podem ter consequências graves.

A insegurança dos novos enfermeiros não está relacionada apenas à execução de procedimentos técnicos, mas também ao relacionamento interpessoal dentro da equipe de saúde. Souza e Almeida (2024) ressaltam que, muitas vezes, os enfermeiros recém-formados enfrentam dificuldades para se posicionar diante de médicos, técnicos e outros profissionais mais experientes. Há um receio de questionar condutas, tomar iniciativas ou até mesmo estabelecer uma comunicação clara e assertiva. Isso pode comprometer o trabalho em equipe e impactar a qualidade do atendimento, já que a enfermagem tem um papel fundamental na articulação do cuidado ao paciente.

A transição entre a formação acadêmica e a prática profissional na enfermagem envolve uma série de desafios que vão além da aplicação do conhecimento técnico. O peso da responsabilidade que recai sobre os recém-formados pode ser um fator de estresse significativo, especialmente porque qualquer erro pode ter consequências graves para a saúde e a vida dos pacientes. No ambiente universitário, a presença constante de professores e supervisores oferece uma margem para a correção de falhas e para o aprendizado contínuo, o que proporciona um certo conforto ao estudante. No entanto, ao ingressar no mercado de trabalho, essa rede de apoio se torna mais escassa, e o enfermeiro precisa assumir responsabilidades de maneira imediata, o que pode gerar insegurança e medo de errar.

De acordo com Souza e Almeida (2025), essa insegurança inicial pode levar os profissionais a evitarem tomar decisões de forma autônoma, buscando frequentemente a opinião de colegas mais experientes. Embora essa postura seja compreensível nos primeiros meses de atuação, ela pode se tornar um problema a longo prazo, impedindo o desenvolvimento da confiança e da autonomia do profissional. A enfermagem exige tomadas de decisão rápidas, e hesitar em momentos críticos pode comprometer a qualidade do atendimento ao paciente. Por isso, é essencial que os recém-formados sejam incentivados a aprimorar sua capacidade de julgamento clínico e a desenvolver autoconfiança na execução de suas funções.

Diante desse cenário, a necessidade de aprimoramento da formação prática se torna evidente. A implementação de programas que aproximem os estudantes da realidade hospitalar antes mesmo da conclusão do curso pode contribuir para um ingresso mais seguro no mercado de trabalho. Uma alternativa eficaz seria a ampliação das residências em enfermagem, que permitem que o profissional recém-formado continue aprendendo sob supervisão, adquirindo experiência em um ambiente real, mas com o suporte necessário para evitar falhas graves. Souza e Almeida (2025) destacam que essa modalidade de formação possibilita um aprendizado mais gradual e estruturado, reduzindo significativamente a ansiedade e o medo de errar.

Além das residências, é essencial que os hospitais e outras instituições de saúde adotem estratégias de acolhimento para os novos profissionais. Programas de tutoria, nos quais enfermeiros mais experientes orientam os recém-chegados, podem ser uma ferramenta valiosa para facilitar a adaptação. Barreto et al. (2018) ressaltam que, ao contar com um mentor, o enfermeiro em início de carreira se sente mais seguro para desenvolver suas habilidades, recebendo um apoio que o auxilia a lidar com os desafios do cotidiano sem o peso da insegurança. Esse tipo de suporte contribui não apenas para o crescimento profissional, mas também para o bem-estar emocional do profissional, prevenindo o esgotamento precoce.

Além do suporte técnico, é fundamental que os hospitais também ofereçam assistência psicológica aos novos profissionais. O impacto emocional da transição entre a universidade e o ambiente de trabalho é significativo, e muitos enfermeiros recém-formados desenvolvem sintomas de estresse, ansiedade e até mesmo síndrome de burnout nos primeiros anos de atuação. Souza e Almeida (2024) destacam que a sobrecarga emocional pode comprometer o desempenho profissional, tornando o atendimento menos eficiente e aumentando a probabilidade de erros. Por isso, a criação de espaços de escuta e acompanhamento psicológico pode ser uma medida importante para garantir que esses profissionais consigam lidar melhor com as pressões do trabalho.

A cultura organizacional dentro dos hospitais também desempenha um papel crucial na adaptação dos novos enfermeiros. Em muitas unidades de saúde, a cobrança excessiva e a falta de empatia por parte dos colegas mais experientes tornam essa transição ainda mais difícil. Rodrigues e Zanetti (2004) enfatizam que o ambiente de trabalho deve ser pautado em cooperação e acolhimento, permitindo que os recém-formados possam aprender sem medo de serem julgados ou ridicularizados por seus erros. A construção de um ambiente mais humanizado e colaborativo é essencial para que esses profissionais possam crescer e se desenvolver de maneira saudável.

Outra questão relevante nesse contexto é a necessidade de uma reformulação no currículo dos cursos de enfermagem. A formação acadêmica ainda é, em grande parte, teórica, deixando lacunas na preparação dos estudantes para os desafios da prática profissional. Siqueira et al. (2014) apontam que muitos graduandos concluem a universidade sem ter uma noção real das dificuldades enfrentadas no dia a dia da profissão, o que contribui para o choque de realidade ao ingressarem no mercado. A ampliação das atividades práticas ao longo da graduação, bem como a inserção de disciplinas voltadas para a gestão do estresse e para o desenvolvimento da inteligência emocional, poderiam auxiliar na construção de profissionais mais preparados para lidar com as adversidades da carreira.

Os desafios enfrentados pelos enfermeiros recém-formados não dizem respeito apenas ao aprendizado técnico, mas também à adaptação a uma rotina de trabalho intensa e exigente. A carga horária extensa, a necessidade de lidar com pacientes em situações críticas e a pressão para evitar erros fazem parte da realidade da enfermagem e exigem um preparo que vai além do conhecimento científico. Souza e Silva (2007) destacam que o período de adaptação pode ser angustiante para muitos profissionais, pois eles se deparam com um ritmo de trabalho muito mais acelerado do que o que vivenciaram durante a graduação. Por isso, é fundamental que haja uma transição mais estruturada, permitindo que esses profissionais adquiram experiência de forma progressiva, sem serem sobrecarregados logo nos primeiros meses de atuação.

A insegurança e a falta de experiência prática são desafios reais, mas podem ser minimizados com o tempo e com a devida orientação. É natural que, nos primeiros meses de atuação, o profissional se sinta perdido e incapaz de atender a todas as demandas com eficiência. No entanto, à medida que adquire mais vivência no campo e recebe apoio dos colegas, a confiança se fortalece e a adaptação acontece de forma gradual. O importante é que o recém-formado compreenda que errar faz parte do aprendizado e que cada dificuldade enfrentada contribuirá para o seu crescimento profissional.

2.3  Descompasso entre Formação Acadêmica e Prática Profissional

Rodrigues e Zanetti (2004) destacam que, apesar dos esforços para alinhar o ensino acadêmico à prática profissional, ainda há uma lacuna significativa entre o que é ensinado e o que de fato ocorre no cotidiano da enfermagem. Os cursos de graduação priorizam conceitos técnicos, científicos e administrativos, mas a dinâmica do ambiente hospitalar exige habilidades que nem sempre são suficientemente desenvolvidas durante a formação. A pressão do tempo, a necessidade de tomada de decisão rápida e a interação com diferentes profissionais e pacientes são fatores que colocam à prova a preparação do recém-formado.

Uma das principais queixas dos novos enfermeiros é a falta de experiência prática em situações reais. Souza e Almeida (2024) apontam que muitos profissionais saem da graduação sem nunca terem realizado certos procedimentos de forma autônoma, o que gera insegurança e medo de cometer erros. Isso acontece porque, em muitos cursos, as aulas práticas são limitadas a simulações ou cenários controlados, que não refletem com exatidão as condições de um hospital lotado, onde cada decisão pode ter consequências imediatas. Essa falta de vivência faz com que a adaptação ao trabalho seja mais demorada e angustiante.

Barreto et al. (2018) ressaltam que a abordagem sobre gestão e administração nos cursos de enfermagem ainda é bastante limitada, deixando os novos profissionais despreparados para lidar com os desafios da coordenação de equipes. A falta de experiência na mediação de conflitos, na delegação de tarefas e no gerenciamento de insumos pode levar a um ambiente de trabalho desorganizado, dificultando a execução eficiente dos cuidados aos pacientes. Além disso, a ausência de treinamento adequado para enfrentar essas situações faz com que muitos enfermeiros sintam-se sobrecarregados, o que pode gerar estresse e comprometer sua atuação profissional.

Outro ponto crítico nesse processo de adaptação é a hierarquia existente dentro dos hospitais e unidades de saúde. A relação com outros profissionais, como médicos e enfermeiros mais experientes, pode ser um desafio para aqueles que estão ingressando no mercado. Souza e Silva (2007) apontam que os recém-formados frequentemente enfrentam dificuldades para se impor e expressar suas opiniões, especialmente diante de profissionais com mais tempo de atuação. Esse receio pode levar a um comportamento passivo, onde o enfermeiro evita questionar condutas ou sugerir alternativas, mesmo quando percebe falhas ou inconsistências nos procedimentos. Essa insegurança pode comprometer a qualidade do atendimento prestado, uma vez que a comunicação eficiente entre os membros da equipe é fundamental para garantir um cuidado seguro e integrado.

Além da pressão hierárquica, a adaptação ao mercado de trabalho também é impactada pelas condições estruturais das instituições de saúde. Siqueira et al. (2014) enfatizam que a sobrecarga de trabalho, a escassez de recursos e a falta de suporte adequado para os recém-formados são fatores que tornam a transição ainda mais difícil. Muitos enfermeiros encontram uma realidade onde precisam lidar com um grande número de pacientes, equipamentos insuficientes e processos burocráticos complexos, o que aumenta o nível de estresse e frustração. Em alguns casos, essa dificuldade pode levar ao abandono precoce da profissão, com profissionais buscando outras áreas de atuação devido às condições adversas de trabalho.

A falta de insumos básicos é uma das principais dificuldades enfrentadas por aqueles que estão começando na enfermagem. Muitas unidades de saúde operam com estoques reduzidos de medicamentos, materiais hospitalares e equipamentos essenciais para o atendimento adequado dos pacientes. Isso faz com que os enfermeiros precisem improvisar soluções para garantir que os cuidados sejam prestados, o que pode gerar insegurança e aumentar o risco de erros. Além disso, a necessidade de lidar com a falta de materiais exige habilidades de gestão e adaptação que nem sempre são ensinadas durante a formação acadêmica, tornando esse desafio ainda mais complexo para os recém-formados.

Outro fator que contribui para a dificuldade de adaptação é a carga horária exaustiva imposta aos profissionais de enfermagem. Muitos hospitais e unidades de saúde operam com escalas apertadas, o que obriga os enfermeiros a trabalharem longos períodos, muitas vezes sem pausas adequadas para descanso. Esse ritmo intenso pode comprometer o rendimento dos recém-formados, que ainda estão se acostumando com as exigências da profissão. Além disso, a privação do descanso adequado pode levar à fadiga, aumentando o risco de erros e tornando o ambiente de trabalho ainda mais desafiador.

A alta demanda por atendimento também impacta a qualidade da assistência prestada. Muitas vezes, os enfermeiros se veem sobrecarregados com múltiplas tarefas ao mesmo tempo, o que pode dificultar a atenção aos detalhes e a personalização do cuidado para cada paciente. Souza e Almeida (2025) destacam que a sobrecarga de trabalho pode levar à desmotivação dos profissionais, tornando o atendimento mais mecânico e menos humanizado. Isso vai na contramão dos princípios da enfermagem, que preza pelo cuidado integral e pelo bem-estar do paciente, evidenciando a necessidade de mudanças na estrutura de trabalho para que os recém-formados possam exercer sua profissão de maneira mais eficiente e segura.

É essencial que as instituições de ensino e os hospitais adotem medidas para minimizar essa lacuna entre a formação acadêmica e a prática profissional. A inclusão de estágios mais imersivos e realistas durante a graduação poderia proporcionar aos estudantes uma visão mais clara dos desafios que enfrentarão no mercado de trabalho. Além disso, Barreto et al. (2018) sugerem que a criação de programas de mentoria dentro dos hospitais, nos quais profissionais mais experientes auxiliam os recém-formados na adaptação ao ambiente de trabalho, poderia tornar esse processo menos estressante e mais eficiente.

A diferença entre o que se aprende na universidade e o que se vive na prática também tem impacto emocional. Muitos recém-formados passam por um período de estresse intenso, lidando com a sensação de despreparo e a cobrança interna para atender às expectativas da equipe e dos pacientes. Souza e Almeida (2025) apontam que esse impacto pode levar ao desgaste precoce do profissional, aumentando os índices de ansiedade e até mesmo contribuindo para casos de esgotamento. O medo de errar e a sensação de estar sempre um passo atrás dos colegas mais experientes podem minar a confiança do novo enfermeiro, tornando a adaptação ainda mais complicada.

2.4  Impacto da Sobrevivência Profissional e Síndrome de Burnout nos Enfermeiros Recém-Formados

A realidade dos enfermeiros recém-formados não é simples. Souza e Almeida (2025) apontam que a sobrecarga de trabalho e a pressão para se adequar rapidamente às demandas da enfermagem fazem com que muitos profissionais se sintam esgotados logo nos primeiros anos de atuação. O ritmo acelerado dos plantões, o número elevado de pacientes por profissional e a exigência por eficiência dificultam a adaptação e geram um nível de estresse que pode se acumular até o ponto de exaustão. A falta de suporte adequado por parte das instituições de saúde contribui para esse desgaste, pois, muitas vezes, o recém-formado é inserido no ambiente hospitalar sem um período de transição ou acompanhamento adequado.

A síndrome de burnout é uma condição séria, que se desenvolve gradualmente e pode levar a problemas graves, como perda de motivação, dificuldade de concentração, isolamento social e até sintomas físicos, como dores musculares, insônia e problemas gastrointestinais. Souza e Silva (2007) ressaltam que a pressão vivida pelos enfermeiros no início da carreira, associada à insegurança e ao medo de errar, são fatores que contribuem significativamente para o surgimento do esgotamento profissional. Muitos desses profissionais sentem que precisam provar sua competência constantemente, o que os leva a assumir uma carga excessiva de trabalho sem a estrutura emocional necessária para lidar com o desgaste físico e mental.

Além da carga horária intensa, outro fator que influencia diretamente a saúde mental dos enfermeiros recém-formados é a falta de reconhecimento profissional. Barreto et al. (2018) apontam que a valorização do enfermeiro dentro das instituições de saúde ainda é um desafio, e muitos desses profissionais se sentem desmotivados devido à baixa remuneração, à escassez de oportunidades de crescimento e à ausência de um suporte emocional adequado. Esse sentimento de desvalorização pode aumentar o risco de adoecimento mental, tornando a permanência na profissão ainda mais difícil.

A relação com os colegas de equipe também pode ser um desafio. Dentro do ambiente hospitalar, os enfermeiros recém-formados precisam lidar com médicos, técnicos de enfermagem e outros profissionais da área da saúde que já possuem mais experiência. Essa interação nem sempre é tranquila, pois há um receio por parte do recém-formado de questionar condutas ou expressar suas opiniões. Souza e Almeida (2024) ressaltam que muitos profissionais evitam se posicionar diante de colegas mais experientes por medo de julgamentos ou represálias, o que pode afetar sua autoconfiança e aumentar a sensação de isolamento.

Siqueira et al. (2014) enfatizam que essa lacuna na formação acadêmica impacta diretamente a adaptação dos enfermeiros ao mercado de trabalho. O foco excessivo em conteúdos técnicos e protocolos assistenciais acaba deixando de lado a necessidade de preparar os estudantes para enfrentar a carga emocional que acompanha a profissão. A realidade dos hospitais, marcada por rotinas intensas, emergências constantes e contato diário com o sofrimento dos pacientes, pode ser um choque para quem ainda não desenvolveu mecanismos eficazes para lidar com essas situações. Sem uma preparação adequada, muitos recém-formados acabam enfrentando dificuldades emocionais que comprometem seu desempenho e bem-estar.

A necessidade de desenvolver a inteligência emocional dentro da enfermagem é algo que deveria ser amplamente discutido durante a graduação. Saber lidar com o estresse, manter o controle emocional em situações críticas e desenvolver resiliência são habilidades essenciais para que o profissional possa atuar com segurança e eficiência. Souza e Almeida (2025) ressaltam que a ausência desse tipo de preparação contribui para o alto índice de afastamento e até mesmo de abandono da profissão nos primeiros anos de carreira. Muitos enfermeiros, ao perceberem que não conseguem lidar com a pressão do trabalho, acabam desenvolvendo ansiedade, depressão ou outros problemas emocionais, o que compromete sua permanência no mercado.

Além das questões emocionais, outro fator que intensifica as dificuldades dos recém-formados é a falta de políticas institucionais voltadas para o acolhimento dos novos profissionais. Muitos hospitais não possuem um programa estruturado de integração, fazendo com que os recém-chegados sejam inseridos no ambiente de trabalho sem qualquer preparação prévia. Isso significa que eles precisam aprender as rotinas do hospital por conta própria, sem receber a devida orientação e suporte. Essa ausência de acolhimento gera insegurança, medo de errar e pode levar à perda de confiança, tornando o processo de adaptação ainda mais complicado.

Souza e Almeida (2025) destacam que a ausência de suporte institucional agrava ainda mais o desgaste emocional dos enfermeiros recém-formados. O esgotamento mental gerado pela alta demanda de trabalho, pela pressão por produtividade e pela falta de um acompanhamento adequado pode levar ao desenvolvimento da síndrome de burnout, um dos principais problemas enfrentados pelos profissionais da enfermagem. Esse desgaste emocional extremo compromete a qualidade do atendimento prestado aos pacientes e contribui para o aumento das taxas de afastamento por questões de saúde mental.

Outro ponto crítico nessa fase inicial da carreira é a falta de acompanhamento psicológico dentro das instituições de saúde. Os desafios enfrentados pelos enfermeiros recém-formados não dizem respeito apenas à parte técnica da profissão, mas também ao impacto emocional que a rotina hospitalar pode causar. Muitos desses profissionais lidam com situações traumáticas, como a perda de pacientes, casos de negligência e conflitos entre equipes, mas não encontram suporte emocional adequado para processar essas experiências. A ausência de acompanhamento psicológico dentro dos hospitais faz com que esses profissionais precisem lidar sozinhos com essas questões, o que pode levar ao desenvolvimento de transtornos psicológicos, como ansiedade, depressão e estresse crônico.

Para minimizar esses impactos, é essencial que as universidades e as instituições de saúde adotem medidas para apoiar os enfermeiros recém-formados nessa fase inicial da carreira. Uma das estratégias mais eficazes seria a implementação de programas de mentoria, nos quais enfermeiros mais experientes orientam os novos profissionais, ajudando-os a lidar com as dificuldades do dia a dia. Barreto et al. (2018) sugerem que essa troca de experiências pode facilitar a adaptação dos recém-formados ao ambiente hospitalar, permitindo que eles se sintam mais seguros e confiantes no desempenho de suas funções. Contar com um profissional mais experiente como referência pode ser um fator determinante para reduzir a ansiedade e melhorar a autoestima dos novos enfermeiros.

Além dos programas de mentoria, outra medida fundamental seria a inclusão de disciplinas voltadas para o desenvolvimento da inteligência emocional dentro da graduação. A preparação dos futuros enfermeiros precisa ir além do conhecimento técnico, abordando também estratégias para lidar com o estresse, a importância do autocuidado e formas de desenvolver resiliência emocional. Siqueira et al. (2014) destacam que o aprendizado da enfermagem deve ser holístico, considerando não apenas a capacitação técnica, mas também os desafios emocionais que acompanham a prática profissional. Dessa forma, os estudantes poderiam desenvolver ferramentas para enfrentar os desafios da profissão antes mesmo de ingressarem no mercado de trabalho.

Outra mudança necessária seria a reformulação dos estágios curriculares, tornando-os mais imersivos e realistas. Muitas vezes, os estágios supervisionados durante a graduação não oferecem uma visão completa das dificuldades do trabalho real, pois ocorrem em um ambiente mais controlado e sem a pressão do dia a dia hospitalar. A ampliação desses estágios, com maior carga horária e contato direto com situações reais, poderia contribuir para que os estudantes se sintam mais preparados ao final do curso. Barreto et al. (2018) sugerem que os estágios deveriam ser mais orientados para a prática efetiva do trabalho, permitindo que os estudantes desenvolvam habilidades que serão exigidas assim que ingressarem no mercado.

Além disso, as instituições de saúde precisam investir na criação de espaços de acolhimento psicológico para seus profissionais, garantindo que os enfermeiros tenham suporte emocional para lidar com os desafios do trabalho. Criar ambientes onde esses profissionais possam compartilhar suas dificuldades, receber apoio psicológico e discutir estratégias para melhorar sua qualidade de vida pode ser um diferencial para reduzir os índices de esgotamento e afastamento. Souza e Silva (2007) ressaltam que o suporte emocional dentro do ambiente de trabalho é um fator essencial para a manutenção da saúde mental dos enfermeiros, e sua ausência pode comprometer significativamente o desempenho desses profissionais.

É fundamental que a valorização da enfermagem seja um objetivo constante das instituições de saúde. A falta de reconhecimento profissional, os baixos salários e as más condições de trabalho são fatores que contribuem para a insatisfação dos enfermeiros recém-formados e para o alto índice de desistência da profissão. Siqueira et al. (2014) enfatizam que investir na valorização dos enfermeiros não significa apenas oferecer melhores salários, mas também garantir boas condições de trabalho, oportunidades de crescimento profissional e um ambiente mais acolhedor. Criar um sistema de suporte eficiente para os recém-formados não apenas beneficiaria esses profissionais, mas também teria um impacto positivo na qualidade da assistência prestada aos pacientes.

Outra medida essencial é a implementação de suporte psicológico dentro das instituições de saúde. Oferecer acompanhamento profissional para que os enfermeiros possam lidar com o estresse e a sobrecarga emocional pode ser um diferencial na prevenção da síndrome de burnout. Souza e Silva (2007) apontam que o bem-estar emocional dos profissionais impacta diretamente na qualidade do atendimento prestado, e garantir que eles tenham condições de cuidar da própria saúde mental reflete positivamente no ambiente de trabalho e na assistência aos pacientes.

Além disso, a valorização da enfermagem como profissão também deve ser um objetivo das instituições de saúde. Siqueira et al. (2014) destacam que melhorar as condições de trabalho, oferecer remuneração adequada e criar oportunidades de crescimento profissional são fatores que contribuem para a permanência dos enfermeiros na profissão e para a redução dos índices de esgotamento. Criar um ambiente de trabalho mais humano e acolhedor pode fazer com que esses profissionais se sintam mais motivados e preparados para enfrentar os desafios da rotina hospitalar.

A enfermagem é uma profissão essencial para o funcionamento do sistema de saúde, mas para que os enfermeiros possam exercer seu trabalho com qualidade, é fundamental que tenham condições adequadas de trabalho e suporte emocional. A síndrome de burnout não é um problema individual, mas sim um reflexo das dificuldades estruturais da área da saúde. Portanto, investir no bem-estar dos recém-formados não é apenas uma questão de cuidado com os profissionais, mas também uma estratégia para garantir um atendimento mais seguro e eficiente aos pacientes.

3  METODOLOGIA 

A metodologia deste estudo baseia-se em uma pesquisa bibliográfica e sistemática, cujo objetivo é analisar as dificuldades enfrentadas por enfermeiros recém-formados no início da carreira a partir de dados obtidos em artigos científicos e periódicos acadêmicos. A pesquisa bibliográfica, conforme Gil (2023), permite a obtenção de informações já publicadas sobre determinado tema, possibilitando uma análise crítica e aprofundada sobre o assunto. Esse tipo de abordagem é essencial para compreender as complexidades do ingresso no mercado de trabalho pelos enfermeiros e os impactos emocionais e estruturais enfrentados por esses profissionais.

Para a realização deste estudo, foram utilizados artigos científicos indexados em bases de dados confiáveis, como SciELO, Google Acadêmico e o Portal de Periódicos da CAPES, garantindo a credibilidade das fontes e a atualização dos dados. A escolha dessas plataformas se deu pela sua relevância na disseminação de publicações científicas de alta qualidade e pela acessibilidade a pesquisas revisadas por pares. Foram selecionados estudos que abordam a transição da formação acadêmica para a prática profissional, a síndrome de burnout, a sobrecarga de trabalho, a valorização da enfermagem e as dificuldades gerenciais enfrentadas por esses profissionais no início da carreira.

Os critérios de inclusão envolveram artigos publicados disponíveis em acesso aberto e que apresentassem relação direta com o tema estudado. Além disso, foram priorizados estudos que discutem estratégias de adaptação dos recém-formados, desafios na prática hospitalar e o impacto da falta de suporte institucional na saúde mental desses profissionais. Já os critérios de exclusão envolveram artigos que tratassem de enfermagem em contextos muito específicos, como atendimento domiciliar ou estudos restritos a áreas muito segmentadas da profissão, que não dialogasse diretamente com a questão central do trabalho.

Para a seleção dos artigos, foram utilizadas palavras-chave que direcionaram a busca dentro das bases acadêmicas, tais como “desafios da enfermagem”, “enfermeiros recém-formados”, “insegurança profissional”, “mercado de trabalho da enfermagem”, “síndrome de burnout na enfermagem”, “suporte institucional para enfermeiros” e “discrepância entre ensino e prática na enfermagem”. Dessa forma, a pesquisa bibliográfica sistemática permitiu uma visão ampla e detalhada sobre a realidade dos enfermeiros recém-formados, possibilitando reflexões sobre a necessidade de políticas institucionais voltadas para a valorização e o suporte desses profissionais.

4  RESULTADOS E DISCUSSÕES 

AUTORANOOBJETIVORESULTADOS
SOUZA,M.       B.;ALMEIDA,M. H.2025Analisar os  desafios enfrentados por recém-formados na enfermagem para inserção no mercado de trabalho.O estudo apontou que a falta de suporte adequado e a insegurança profissional são os principais desafios enfrentados pelos recém-formados, dificultando sua adaptação ao ambiente hospitalar e impactando sua saúde mental.
SOUZA,M.       B.;ALMEIDA,M. H.2024Revisar os desafios da enfermagem no mercado de trabalho e propor estratégias de adaptação.A revisão destacou a necessidade de implementação de políticas institucionais voltadas para o acolhimento de recém-formados, incluindo programas de suporte psicológico e mentorias, para reduzir os índices de estresse e evasão profissional.
SUSANKA   YEECHOW2023Explorar as experiências dos enfermeiros recém-formados no primeiro ano de prática.Identificou desafios como carga de trabalho excessiva, falta de suporte e dificuldades na transição da teoria para a prática.
HERNÁNDEZ DÍAZ ET AL.2024Analisar as percepções de jovens enfermeiros sobre   emprego, condições de trabalho e saúde.Relatou insatisfação com carga horária excessiva, baixa remuneração e condições adversas de trabalho.
BRITO ET AL.2023Examinar a empregabilidade de enfermeiros    formados em   uma instituição pública.Destacou dificuldades na inserção no mercado de trabalho e a influência da formação acadêmica na empregabilidade.
MENDESET AL.2022Investigar o cenário e as tendências da força de trabalho em enfermagem.Indicou que a escassez de profissionais e condições precárias de trabalho dificultam a atuação de recém-formados.
ALSADAAN ET AL.2021Revisar os desafios enfrentados pela enfermagem na ArábiaSaudita.Relatou dificuldades como escassez de profissionais, barreiras culturais e carga excessiva de trabalho.

Fonte: Autor (2025)

A transição da universidade para o mercado de trabalho é um período desafiador para enfermeiros recém-formados. Souza e Almeida (2025) destacam que a falta de suporte adequado e a insegurança profissional são os principais obstáculos enfrentados pelos recém-formados, dificultando sua adaptação ao ambiente hospitalar e impactando diretamente sua saúde mental. Esse cenário é reforçado por Chow (2023), que identificou desafios semelhantes, como carga de trabalho excessiva, ausência de suporte institucional e dificuldades na transição da teoria para a prática, evidenciando que a entrada no mercado de trabalho é marcada por desafios estruturais e emocionais.

A insegurança profissional mencionada por Souza e Almeida (2025) pode ser compreendida a partir da falta de preparação prática durante a formação acadêmica. Mendes et al. (2022) analisam o cenário da força de trabalho na enfermagem e apontam que a escassez de profissionais, aliada a condições precárias de trabalho, dificulta a adaptação dos recém-formados. A sobrecarga, muitas vezes imposta a esses profissionais, leva a um desgaste precoce e à dificuldade em desenvolver confiança em suas habilidades, tornando a transição ainda mais desafiadora.

O mercado de trabalho também apresenta barreiras estruturais que impactam a empregabilidade dos recém-formados. Brito et al. (2023) analisaram a empregabilidade de enfermeiros formados em instituições públicas e destacaram que a dificuldade de inserção no mercado está relacionada tanto à alta concorrência quanto à influência da formação acadêmica. Nesse sentido, Souza e Almeida (2024) sugerem que a implementação de políticas institucionais voltadas para o acolhimento dos recém-formados, como programas de suporte psicológico e mentorias, poderia amenizar esse problema e reduzir os índices de estresse e evasão profissional.

Além das dificuldades no início da carreira, a carga horária excessiva e a baixa remuneração são aspectos que agravam a insatisfação dos novos enfermeiros. Hernández Díaz et al. (2024) identificaram que jovens enfermeiros relatam insatisfação com essas condições, o que pode levar ao desgaste físico e mental precoce. Essa realidade reforça a necessidade de medidas institucionais que garantam melhores condições de trabalho para os recém-formados, possibilitando uma adaptação mais tranquila ao ambiente profissional.

Alsadaan et al. (2021) em relação à enfermagem na Arábia Saudita aponta desafios semelhantes aos observados no Brasil. Entre os principais problemas, destacam-se a escassez de profissionais, barreiras culturais e carga excessiva de trabalho. Esses fatores, embora específicos de um contexto internacional, se relacionam diretamente com os desafios apontados nos estudos brasileiros, demonstrando que a enfermagem enfrenta dificuldades estruturais globais que impactam a qualidade de vida dos profissionais.

A falta de suporte institucional e a ausência de políticas de integração são questões recorrentes nos estudos analisados. Souza e Almeida (2024) defendem que a criação de programas de acolhimento poderia mitigar os efeitos negativos do início da carreira, promovendo um ambiente mais favorável para o desenvolvimento dos novos profissionais. A implementação de mentorias e o acompanhamento psicológico são medidas que poderiam contribuir para a redução do estresse e da evasão na profissão.

Outro aspecto relevante é a dificuldade na transição entre teoria e prática, evidenciada por Chow (2023). A formação acadêmica, muitas vezes, não prepara os enfermeiros para os desafios reais do ambiente hospitalar, o que resulta em insegurança e medo de errar. Essa falta de experiência prática impacta diretamente a confiança do profissional, aumentando a ansiedade e dificultando a adaptação ao trabalho.

Os desafios enfrentados pelos recém-formados não se restringem apenas ao ambiente hospitalar. Brito et al. (2023) apontam que a empregabilidade dos enfermeiros está diretamente relacionada à formação acadêmica e à capacidade de adaptação às exigências do mercado. Dessa forma, torna-se essencial que as instituições de ensino revisem seus currículos e ampliem a oferta de experiências práticas para que os estudantes possam ingressar no mercado com maior preparo.

Mendes et al. (2022) reforça a necessidade de uma reestruturação na força de trabalho da enfermagem. A precarização das condições de trabalho e a sobrecarga dos profissionais são fatores que contribuem para a rotatividade e o abandono da profissão. Diante desse cenário, é fundamental que gestores e instituições de ensino trabalhem em conjunto para garantir melhores condições para os recém-formados, assegurando que a transição da universidade para o mercado de trabalho ocorra de maneira menos traumátic

Por fim, a transformação do mercado de trabalho para os enfermeiros recém-formados deve ser encarada como uma prioridade tanto para gestores da saúde quanto para as universidades e os próprios profissionais. Investir no bem-estar desses trabalhadores é garantir uma assistência de qualidade aos pacientes e um sistema de saúde mais eficiente. Medidas como ampliação dos estágios, suporte psicológico, programas de mentoria e reestruturação da carga horária são essenciais para minimizar os impactos negativos enfrentados pelos enfermeiros no início da carreira. Além disso, é necessário que a sociedade reconheça o valor da enfermagem, garantindo que esses profissionais sejam respeitados e tenham condições dignas de trabalho, evitando o desgaste precoce e promovendo a longevidade na profissão.

5  CONSIDERAÇÕES FINAIS

As dificuldades enfrentadas pelos enfermeiros recém-formados no início da carreira representam um desafio significativo tanto para os profissionais quanto para as instituições de saúde. A transição entre a formação acadêmica e a prática hospitalar é marcada por insegurança, sobrecarga de trabalho, desvalorização profissional e um descompasso entre teoria e prática. Esses fatores contribuem para um período inicial de extrema vulnerabilidade, onde a falta de suporte adequado pode resultar em estresse, esgotamento emocional e até abandono da profissão.

A ausência de disciplinas voltadas para a inteligência emocional, a gestão do estresse e a liderança compromete a capacidade dos novos enfermeiros de lidar com as exigências do mercado de trabalho. Além disso, a carga prática durante a graduação muitas vezes não é suficiente para preparar o estudante para a complexidade do dia a dia nos hospitais, tornando a fase de adaptação ainda mais desafiadora. Outro aspecto crítico identificado é a falta de políticas institucionais voltadas para o acolhimento dos enfermeiros recém-formados. A ausência de programas de mentoria, suporte psicológico e treinamentos específicos para essa fase inicial da carreira agrava a insegurança desses profissionais e aumenta os índices de exaustão mental. O impacto desse cenário não se restringe apenas ao bem-estar do enfermeiro, mas também à qualidade da assistência prestada aos pacientes, uma vez que profissionais sobrecarregados e desmotivados podem comprometer a eficiência do atendimento.

Torna-se fundamental que medidas sejam adotadas para minimizar os desafios enfrentados pelos recém-formados. Reformular a formação acadêmica, ampliando os estágios práticos e incorporando temas como gestão hospitalar e habilidades emocionais, é um passo essencial para preparar melhor os estudantes para a realidade da profissão. Além disso, as instituições de saúde devem investir em estratégias de acolhimento, como programas de tutoria e suporte psicológico, garantindo um ambiente mais seguro e humanizado para os novos profissionais.

A valorização da enfermagem também precisa ser priorizada, com melhores condições de trabalho, remuneração justa e reconhecimento da importância desses profissionais dentro do sistema de saúde. Apenas por meio de mudanças estruturais e investimentos na formação e no bem-estar dos enfermeiros recém-formados será possível reduzir a evasão da profissão e promover uma assistência de qualidade, beneficiando tanto os profissionais quanto os pacientes. Assim, enfrentar esses desafios de maneira estratégica e integrada deve ser um compromisso conjunto entre universidades, gestores da saúde e os próprios profissionais, visando um futuro mais sustentável para a enfermagem.

REFERÊNCIAS

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¹Graduandos em Enfermagem pela Universidade Sociedade Educacional de Santa Catarina.
²Mestre em Tecnologia e Inovação na Saúde pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Docente do Grupo Ânima.