ENTRE A REVOLUÇÃO E O PROFETISMO: MEDELLÍN COMO RECEPÇÃO DO CONCÍLIO VATICANO II E AS CONTRIBUIÇÕES DE COMBLIN

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10049294


Willian Bento¹


RESUMO

O Concílio Vaticano II trouxe para a Igreja novos caminhos e luzes para a ação evangelizadora e pastoral. Destaca-se, sobretudo, o olhar atento para a realidade na qual as pessoas estão inseridas com suas alegrias e angústias. Como forma de se aproximar da realidade e assim, dialogar com as pessoas, a Igreja encontrou nas Conferências Episcopais – seja no âmbito nacional ou continental – uma oportunidade de exercer seu profetismo diante das injustiças. Assim foi a Conferência de Medellín, para qual muito contribuiu a análise de José Comblin para esmiuçar a realidade desafiadora em que se encontrava a América Latina na década de sessenta.

PALAVRAS-CHAVE: Concílio. Conferência de Medellin. José Comblin. Ditaduras. América Latina.

ABSTRACT

The Second Vatican Council brought new paths and lights to the Church for evangelizing and pastoral action. What stands out, above all, is the attentive look at the reality in which people are inserted with their joys and anxieties. As a way of getting closer to reality and thus dialoguing with people, the Church found in Episcopal Conferences – whether nationally or continentally – an opportunity to exercise its prophetism in the face of injustices. This was the case at the Medellín Conference, to which José Comblin’s analysis contributed greatly to breaking down the challenging reality in which Latin America found itself in the 1960s.

KEYWORDS: Council. Medellin Conference. José Comblin. Dictatorships. Latin America.

INTRODUÇÃO

Medellín (1968) é para a Igreja na América Latina um grande marco. Nasce do desejo do CELAM (Conselho Episcopal Latino Americano) de fomentar e aproximar o Concílio Vaticano II da realidade eclesial e social dos povos latino-americanos. Vemos assim, que, de certo modo, os bispos deram um grande salto para introduzir na Igreja, o aggionamento outrora desejado por João XXIII. O presente artigo tem a intenção de apresentar o contexto histórico da América Latina que era dominada pelos governos ditatoriais e marcada pela opressão de seu povo. Ainda tratará do chamado “Caso Comblin1”, que foi o relatório elaborado por José Comblin a pedido de Dom Helder Câmara que desejava ter uma análise social e eclesiológica do momento brasileiro e que repercutiu muito em todo o país. Por fim, analisaremos o Documento Final da Conferência destacando alguns temas que constituíram o Documento final de Medellín à luz do “Caso Comblin”

1. CAMINHOS QUE NOS FIZERAM CHEGAR A MEDELLÍN

É oportuno refletir neste tópico todo o caminho da Igreja em aggiornamentoque se manifesta na América Latina. De certo, foi justamente desse continente, que os ideais propostos pelo Concílio encontraram campo fértil para florescer toda a nova eclesiologia proposta pelo próprio Concílio.

Assim, seguindo o desejo do Papa Paulo VI de se criar “Assembleias Sinodais”, as Conferências dos Bispos foram surgindo, sendo a pioneira a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), inspirada por Dom Helder Câmara. No âmbito continental, esse movimento colegial entre os bispos também ganhou corpo com a criação do CELAM (Conselho do Episcopado Latino-Americano).

Uma vez que tais organismos foram ganhando força, foram também se firmando como protagonistas na voz contra as injustiças nas quais estavam sob os pés do povo latino-americano, sobretudo, as ditaduras que na década de sessenta, estava instaurada em muitos países.

1.1. CELAM

O Conselho do Episcopado Latino-Americano (CELAM) foi criado pelo Papa Pio XII, que acolheu o pedido de D. Manuel Larraín Errazuriz, bispo de Talca, no Chile, para que se criasse um organismo que congregasse os episcopados da América Latina. A organização da primeira Conferência Geral do Episcopado Latino-americano foi atribuída a D. Helder Câmara, a pedido do monsenhor Giovanni Battista Montini, secretário de Estado do Papa Pio XII e futuro Papa Paulo VI, por já estar envolvido com a preparação do Congresso Eucarístico Internacional (Cf. PILETTI; PRAXEDES, 2008, p. 192).

Tal desejo foi realizado no dia 2 de novembro de 1955, no Rio de Janeiro, como podemos observar no título XI, número 97: “A Conferência Episcopal por unanimidade concordou em pedir, e atentamente pede à Santa Sé Apostólica, a criação de um Conselho Episcopal Latino-americano”. De início sugeriram que a sede fosse em Roma, todavia, a Sé Apostólica orientou que a sede fosse mesmo no próprio continente e assim, se optou por sede a cidade de Bogotá na Colômbia.

Tendo como plano de fundo o entusiasmo pela Evangelização no continente, o CELAM começou se estruturar tendo como base o trabalho de “renovação teológica e pastoral que preparou terreno para o grande evento de Medellín” (SOUZA, 2018, p. 29). Outro destaque que podemos dar às origens do CELAM foram as duas exortações advindas do então Papa João XXIII para que a América Latina iniciasse um processo de planejamento pastoral que atendesse sua própria realidade de evangelização.

Nesse sentido, nos diz Regan:

Onze dias depois da coroação como Papa, dirigindo-se aos membros do Conselho Episcopal Latino-americano, falando sobre as formas de promover a renovação espiritual no Continente, ele sugeriu: “uma clara visão da realidade; um plano de ação realista, previdente quanto aos fins, racional quanto aos meios, catalizador de forças, no respeito às legítimas liberdades; corajosa e perseverante execução do plano, com revisões que o adaptem às novas situações; larga colaboração com todas as forças que desejem ajudar a América Latina (REGAN, 1986, p. 219).

No ano seguinte, em 1959, João XXIII, reforçava seu pedido aos Bispos ao se dirigir ao CELAM numa reunião que aconteceu em 15 de novembro, “manifestando o desejo de que se elaborasse um plano de pastoral adequado à realidade da América Latina, que traçasse metas e congregasse os esforços pastorais com vistas a uma ‘mobilização geral da Igreja’ no continente” (PIERUCCI, 1984, p. 361).

Além dessas, muitas foram as vezes que o Papa escreveu aos bispos do CELAM, pedido uma atenção quanto à evangelização voltada para a realidade do continente, marcada por inúmeros problemas de caráter civil, social e econômico. Além disso, conclamou a participação efetiva e consciente dos leigos no processo de evangelização da Igreja:

Convidando-os a colaborar convosco, com os sacerdotes, com os religiosos e religiosas, no trabalho do apostolado, especialmente incorporando-se nas fileiras da Ação Católica e promovendo-a! Eles sentir-se-ão, deste modo, parte viva e operante da Igreja, e distribuídos em setores bem organizados, experimentarão, sem dúvida, as delícias de serem úteis ao bem religioso e moral de suas pátrias. (MARCHI, 2001, p. 96).

Percebemos a grande motivação para o trabalho pastoral que os bispos receberam do papa e, de modo geral, acolheram com entusiasmo. Por exemplo, no Brasil, quando se realizou a 5ª Assembleia Geral Ordinária da CNBB, percebeu-se duas realidades: 1º) o início dos trabalhos para elaboração do plano de pastoral chamado de “Plano de Emergência para a Igreja do Brasil” e 2º) a participação dos bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, seminaristas e leigos. (cf. MARCHI, 2001, p 97).

Mesmo diante dos inúmeros desafios sociais e a falta de unidade nas posições políticas, a Igreja Latino-Americana nutria grande desejo por renovação e se organizava não somente no âmbito pastoral, mas para ser uma voz profética em sua própria realidade.

1.2. CONTEXTO DA AMÉRICA LATINA NA DÉCADA DE 60

A América Latina foi palco de muitas transformações no que tange a política e seus desdobramentos. A maioria dos países viviam regimes ditatoriais com inclinação ao totalitarismo que, por vezes, eram marcados pela opressão e privação do Estado Democrático de Direito. Assim, a década de 60 foi marcada pela intenção do “regime militar de implantar em suas estruturas, novos elementos que fortaleciam ainda mais o regime, no sentido de continuar buscando meios para se efetivar no poder” (DOS SANTOS, 2019, p. 144). Tal movimento levou as instituições civis e religiosas a se posicionarem tanto a favor quanto contra a situação de cada realidade. Na Igreja, não foi diferente, em alguns países ela se aliou aos regimes por determinando momento e, em outros, tal aliança se deu durante todo o processo ditatorial.

Na época em que aconteceu a Conferência de Medellín, instituiu-se no Brasil o chamado AI-5 (Ato Institucional nº 5), que culminou no fechamento do Congresso Nacional e a proibição de reuniões populares. Nessa mesma realidade, Medellín chama a atenção que tal momento histórico, não somente para o Brasil, mas para todo o continente, é marcado por um momento delicado e desafiador.

Percebemos ainda uma realidade predominante rural, onde os camponeses eram por vezes explorados e, isolados em certa medida. No que tange o acesso até mesmo à educação, não tinham forças para reivindicar seus direitos. Nosso continente vivia freneticamente um movimento de transformações que, de certo modo, faziam sucumbir as estruturas já existentes que tendiam, por força, a resistir. Nesse mesmo seguimento, a pessoa humana passava por rupturas de tradição e cultura, por exemplo, a década de sessenta ficou conhecida pela “Revolução Sexual”, o que iniciou mudanças no comportamento das pessoas.

Nesta transformação, por trás da qual se anuncia o desejo de passar do conjunto de condições menos humanas para a totalidade de condições plenamente humanas e de integrar toda a escala de valores temporais à visão global da fé cristã, tomamos consciência da – vocação original – da América Latina: “Vocação de unir em uma síntese nova e genial o antigo e o moderno, o espiritual e o temporal, o que outros nos legaram e nossa própria originalidade”. (MEDELLÍN, 1984, p. 8)

Muitos outros fatores se apresentaram como realidade histórica, social e eclesiológica, o que veremos mais detalhadamente no relatório do Pe. José Comblin.

1.3. CONCÍLIO VATICANO II

No dia 25 de janeiro de 1959, o recém eleito Papa João XXIII surpreendeu a Igreja ao proferir um grande anúncio: a decisão de celebrar um concílio ecumênico, uma inesperada primavera: “Pronunciamos diante de vocês, certamente um pouco trêmulos de emoção, mas juntos com humilde resolução de propósito, o nome e a proposta da dupla celebração: de um Sínodo diocesano para a cidade e de um Concílio Ecumênico para a Igreja universal” (JOÃO XXIII, 1959).

Com a abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, realizada no dia 11 de outubro de 1962, o Papa João XXIII pedia à Igreja um aggionarmento em vista de suas estruturas, mas acima de tudo, desejava uma Igreja que fosse capaz de dialogar com o mundo contemporâneo e com todos os que nele vivem. Queria “uma atualização da Igreja, uma inserção no mundo moderno, onde o cristianismo deveria se fazer presente e atuante.

O ponto fundamental dos seus discursos estava no fato de explicitar com clareza as falhas da Igreja e insistir na necessidade de profundas mudanças” (DE SOUZA, 2018, p. 30).

Do período conciliar, destaca-se a participação de membros de outras denominações com que a Igreja possuía certo vínculo, em virtude da fé. De início, houve a participação de 17 outras Igrejas com seus respectivos representantes.

No que toca a organização do grandioso evento da Igreja no século XX, foram constituídas comissões preparatórias, cujo trabalho era de preparar os temas e questionamentos advindos das Dioceses e também das Universidades. João XXIII, desejava abranger o maior número de assuntos.

Do Concílio, podemos inferir 3 realidades à luz do texto de abertura chamado Enchiridium Vaticanum, no qual o Papa apresenta o caminhar para este processo. O primeiro, chama a atenção das forças que emanavam no coração da Igreja de que não havia necessidade de um Concílio. O segundo trata daquilo que ele chamou de “profetas que anunciam somente desgraças” (JOÃO XXIII, 1962), exortando aqueles que continuam anulando o mundo atual, acreditando que este estivesse condenado, sem favorecer qualquer diálogo. Por fim, destaca o papel da Igreja como Mãe e Mestra da Verdade, e convida os seus membros a buscarem praticar tais virtudes para com todos, sobretudo, para com os afastados, inaugurando assim, a grande fase de abertura da Igreja para as realidades de seu próprio tempo.

Podemos inferir que o Concílio Vaticano II teve duas grandes colunas: a LumemGentiume a Gaudium etSpes. Sobre tamanha riqueza, afirma o Prof. Ney de Souza:

Na primeira, a Igreja procurou se conhecer melhor para renovar- se no espírito da sua origem e da sua missão. Se a Igreja pretende ter um futuro no terceiro milênio, é necessário deixar sua paixão pela Idade Média, enraizar-se em sua origem cristã e concentrar suas tarefas no presente. Na segunda constituição, a Igreja apresenta-se ao mundo expressando sua vontade de dialogar e contribuir para a construção de uma sociedade nova, baseada nos genuínos valores humanos e cristãos. É necessária uma religião de cunho transformador e libertador na vida concreta da humanidade, na sua existência social, no seu cotidiano. (DE SOUZA, 2018, 33).

Assim, “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (GaudiumetSpes, 1).

Com tais palavras, percebemos que o espirito de renovação desejado por João XXIII, ganhou forma.

Em sua denominada “volta às fontes” bíblicas e patrísticas, o Vaticano II constituiu-se no horizonte de uma arrojada renovação eclesial. O concílio fez uma ruptura radical com o eclesiocentrismo do catolicismo medieval e com o clericalismo e a romanização do cristianismo tridentino. Elaborou uma nova autocompreensão da Igreja, em diálogo com o mundo moderno e em espírito de serviço, especialmente aos mais pobres” BRIGHENTI, 2009, p.424).

A Igreja se abre ao mundo e percebe muitas fragilidades nas quais pode se fazer presente do mesmo modo com que Jesus fez. Ser uma Igreja encarnada na história e no tempo e, a partir disso, ser capaz de apresentar o Evangelho foi o grande salto que o Concílio nos ajudou a perceber e a assumir. Outro fator de demasiada importância, foi o fato de o concílio reunir o maior número de bispos, sobretudo, advindos de realidades diferentes do continente europeu, fez com que a Igreja se abrisse para as realidades e desse nesse grande evento a abertura para tratar assuntos até antes, impossíveis de discussão.

2. A CONFERÊNCIA DE MEDELLÍN: PROFETISMO EM TEMPOS DE INJUSTIÇA.

A Conferência de Medellín certamente não foi um grande evento somente para a Igreja Latino Americana, mas foi um marco profético para todo o continente que na época, estava envolto à muita sombra, pois “revisitar o ano de 1968 é colocar-se diante de muitos atos opressivos e, igualmente, revolucionários que provocaram, ao mesmo tempo, efeitos danosos e de esperança na sociedade” (DOS SANTOS, 2019, p. 143).

Nesse mesmo pensamento, Pe. Ney de Souza, endossa a premissa quando afirma que “Medellín foi um momento decisivo na história do catolicismo latino-americano. Pela primeira vez o catolicismo tomou consciência da gravíssima situação de injustiça social e com voz profética criticou uma situação de violência institucionalizada” (DE SOUZA, 2018, p. 34).

Assim sendo, no discurso de abertura de tal Conferência, o Papa Paulo VI afirmou que tal evento marcava toda a Igreja deste continente, pois ali se estabelecia um marco para a vida eclesiástica. Pautou seu discurso em três temas centrais: a vida espiritual, pastoral e social da Igreja, ressaltando nesse último tema, a sua Doutrina Social, cada vez mais fundamentada. Terminou dizendo que a Conferência deve, “diante de qualquer problema espiritual, pastoral e social prestar seu serviço de verdade e amor com vistas à construção de uma civilização moderna e cristã” (PAULO VI, 1968). Vale ressaltar ainda que Paulo VI foi o primeiro papa a visitar a América Latina.

Iniciando no dia 26 de agosto e terminando no dia 6 de setembro de 1968, a 2ª Conferência Latino-Americana e do Caribe, teve em seu texto final, 16 capítulos. Sobre tal conferência, afirma Dom Demétrio Valentin, Bispo Emérito de Jales-SP que ela tinha:

[O] desafio de entender a realidade, para se agir adequadamente diante dela, suscitou a consciência da importância da reflexão teológica. A caminhada da Igreja precisa ser acompanhada de adequada compreensão da realidade. Daí nasceu a “teologia da libertação”, em sintonia com a busca concreta de libertação que permeava o empenho de tirar da miséria e promover as populações pobres do continente. Com isto fica situada a “opção pelos pobres”, que a partir de Medellin passou a ser uma característica marcante da Igreja latino-americana. (VALENTINI, 2019).

Nesse caminhar, se sobressai um fato muito importante que teve a contribuição do teólogo José Comblin, o qual realizou, a pedido de Dom Helder Câmara, Arcebispo de Olinda e Recife, um minucioso trabalho de análise de conjuntura acerca da atual realidade em que se encontrava a Igreja latino-americana, sobretudo, a do Brasil. No próximo tópico iremos analisar tal documento, bem como as repercussões que ele teve.

2.1. O “CASO COMBLIN” E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A CONFERÊNCIA.

A intenção deste subtópico é apresentar algumas ideias apresentadas por José Comblin em seu documento preparatório para a Conferencia de Medellín. Com o título: “Notas sobre o documento de base para a II Conferência Geral do Episcopado Latino- Americano”, o documento de 27 páginas era destinado a desvelar a realidade na qual se encontrava o referido continente. Se apresentou ainda como “uma fonte de grande potencial por designar um conjunto bastante diversificado de informações no que diz respeito à conjuntura social, política e cultural da época, sendo, por isso, importante para pensarmos Medellín” (DOS SANTOS, 2019, p. 145).

De antemão, tal documento ganhou repercussão nacional por conta do conteúdo que havia sido vazado. A repercussão foi tão séria que fez a ditadura solicitar a saída de Comblin do país. Nesse sentido, afirma Alzirinha:

O evento conhecido como “Caso Comblin” se inicia quando, em 11 de junho de 1968, o jornal “Diário de Pernambuco”, que historicamente era opositor do arcebispo, impulsionado pelo discurso de W. Wanderley na Câmara Municipal, publica partes desse documento. Em seu discurso, afirmaria: ‘era um documento capaz de conduzir à prisão numerosos padres, mas também o arcebispo’ (DDP, 11/06/1968). Esse era considerado uma verdadeira bomba revolucionária assinada por José Comblin. Na edição seguinte, o mesmo jornal publica a integralidade do documento, com o título em primeira página: ‘Transferência de Dom Helder e expulsão de Comblin. Para Wandenkolk, Dom Helder deveria estar em prisão” (DDP, 12/06/1968). (ALZIRINHA, 2018, p. 40).

Diante de tal citação, percebe-se que a análise realizada por Comblin foi por demais verídica e, de certo modo, se transformou em munição para os inimigos de Dom Helder. O contundente documento, já de início, apresenta o dualismo das sociedades latino-americanas: “a primeira, branca, de origem ibérica, que monopoliza o poder e a riqueza, e a segunda, que ele denomina “massa”, formada por todos os tipos de cor de pele, marginalizada e excluída do sistema econômico” (ALZIRINHA, 2018, p.41).

Destaca ainda a necessidade de se extinguir a aristocracia, pois esta, é o grande empecilho para o desenvolvimento da sociedade. Justamente essa é a parte que deixou enfurecida a Ditadura, pois para ele, “somente um grupo coerente e unido, capaz de uma ação de conjunto e dirigido por líderes carismáticos, pode treinar as pessoas” (ALZIRINHA, 2018, p.41), dando, assim a entender que Comblin estava incitando a população oprimida à rebelião contra o sistema e tal documento, foi considerado revolucionário e subversivo. Afirma ele que “na América Latina não haverá desenvolvimento global, nem formação de nações desenvolvidas sem uma ou várias revoluções sociais (feitas pacífica ou violentamente de acordo com o nível de sabedoria dos diversos protagonistas)”. (COMBLIN, 1967, p. 2).

Apesar de tratar a questão da revolução social como meio para “quebrar” o sistema aristocrático, Comblin tem consciência do seguinte: para se alcançar o verdadeiro desenvolvimento, não bastará apenas tal transformação social, será preciso reestruturar toda uma cultura, um modo de se fazer política, dando muita ênfase à educação. Naquele tempo, afirma o autor das notas, já era um grande privilégio. Destaca ainda que “não cabe a Igreja nem propor, nem escolher os meios e os caminhos da revolução social. Apesar de fazer todo o possível para que a revolução social se faça de modo pacífico (em forma de evolução como dizia Pio XII e não em forma de revolução)” (COMBLIN, 1967, p. 4).

Comblin escreveu um conjunto de 27 páginas de observações em resposta ao documento de estudo divulgado pelo CELAM. Grande parte do trabalho foi dedicada ao desenvolvimento de fatores que impedem o modo de agir, incluindo a cultura de classes. A certa altura Comblin afirma que privilegiava tradicionalmente novas estruturas e estabeleceu um grupo capaz de tomar o poder com o devido apoio e impor as mudanças necessárias, mesmo sobre aqueles que não estavam dispostos a tomar o poder do Estado, pela força, se necessário. Ele disse explicitamente que não existia um modelo único, e que maneiras pacíficas de tomar e exercer o poder merecem ser estudadas (CAPPELLETI, 2012, p. 30).

Passada a análise da sociedade, Comblin vai discorrer sobre a “Situação da Igreja” e dedica a ela 22 páginas de sua análise. De antemão destaca que a Igreja esteve ligada de forma direta à formação das novas nações do continente Americano. “Os povos europeus já existiam quando entrou o cristianismo. Aqui o catolicismo esteve presente desde o primeiro dia e acompanhou a evolução inteira da história latino-americana” (COMBLIN, 1967, p. 5), dessa forma, o autor chama a atenção sobre o fato seguinte: se existe subdesenvolvimento no continente, a Igreja não pode se ausentar de tal responsabilidade, mesmo recebendo ela fenômenos de ordem subdesenvolvidas, ou seja, as estruturas da Igreja também “sofreram” por injusta estrutura. O que segue são exemplos concretos nos quais a Igreja favoreceu a estrutura aristocrática e subdesenvolvida da sociedade.

  1. Falta de atendimento às zonas rurais e periferias das cidades grandes. Tais realidades, afirma Comblin, foram abandonadas pela Igreja e desde muito tempo. Percebemos isso, quando ouvimos de nossos avós que em muitas comunidades, havia a presença do padre uma única vez no ano e quando se fazia presente, logo se celebrava os batizados, as eucaristias e crismas. Tudo era feito num único dia.
  2. Solidariedadecomosgrupos dominantes. Aqui o autor chama a atenção que o clero, de modo geral, estava ligado às classes dominantes. O clero, tinha dificuldades para compreender a religião popular. E diante disso, podemos perceber o esforço de Medellín de propor uma profunda renovação pastoral para a Igreja. Tal distanciamento, favoreceu o crescente avanço de novas religiões, sobretudo de matriz africana e pentecostais, nos rincões do país. “O clero solidariza-se com o grupo dominante, adotando-lhe os pontos de vista nos problemas sociais ou na maneira de encarar o assim chamado problema de desenvolvimento” (COMBLIN, 1967, p. 7).
  3. Incapacidade de organização. Tendo como ideia de que a organização é fator imprescindível para o desenvolvimento, Comblin destaca que a Igreja tinha dificuldades no que diz respeito a organização. Havia em muitas dioceses, pouco recurso humano. Com isso, até mesmo a ação pastoral ficava comprometida, pois não havia um norte para se pensar a ação e a organização estrutural da Igreja.
  1. Colonialismo pautado na manutenção de muitas instituições por capital estrangeiro, o que fazia com que, de certo modo, favorecesse a alienação e a submissão de tais instituições, impossibilitando assim, o empenho e a coragem para transformação.
  2. Máadministraçãodosbensque não favoreciam a administração dos bens a fim de fazê-los produtivos. A Igreja possuía muitas terras, mas não se preocupava dar a elas um destino que pudesse favorecer o desenvolvimento: “terras sem produzir, edifícios mal aproveitados, prédios escolares insuficientemente utilizados, casas vazias, obras que conseguem verbas graças à corrupção de funcionário públicos” (COMBLIN, 1967, p. 9).
  3. Assistencialismo. Bem sabemos que a assistência aos mais necessitados deve favorecer sua dignidade humana, a fim de não os inserir numa realidade mendicante. Todavia, com o passar dos tempos, o assistencialismo tomou conta da estrutura da Igreja que os mais necessitados se tornaram “assistidos profissionais das obras da Igreja” (COMBLIN, 1967, p. 10), sem que se realizasse um trabalho de promoção humana. Vemos nessa época, o surgimento das chamadas “Cáritas”.
  4. Ensino Classista. Bem sabemos que em nosso continente, o estudo era algo para uns poucos. Comblin chama a atenção para os colégios católicos ao dizer que “entre todas as escolas, o ensino católico é particularmente classista” (COMBLIN, 1967, p. 10), dedicando-se majoritariamente ao setor secundário e universitário. O autor ainda critica tal realidade, pois essa estrutura educacional, acaba que favorecendo a estrutura social vigente.
  5. Evasão dos técnicos. Aqui Comblin chama a atenção para alto número de pessoas estudadas que iam para outros países que lhes dessem melhores condições de vida. Inclusive os sacerdotes mais formados, iam para a Europa. Tal movimento, “contribui para manter o país numa situação de atraso” (COMBLIN, 1967, p. 11), o que contribuía para uma deficiência do campo intelectual e cultural do país.
  6. Estruturas clericais. Mesmo diante da abertura dos papas por meio da ação católica, a presença efetiva dos leigos na vida da Igreja era por vezes quase sem expressão. Havia um fechamento de ordem estrutural da Igreja para o trabalho dos leigos, sobretudo os mais simples. “O leigo ainda é acostumado à passividade tradicional. Espera sua salvação dos padres, porque não se sente responsável na Igreja” (COMBLIN, 1967, p.12), o que favorecia as pessoas procurarem outras religiões nas quais pudessem se sentir inseridas.
  1. Doutrina Social. Comblin chama a atenção para a falta de caminhos práticos para se chegar ao desenvolvimento. Segundo ele, faltou na GaudimetSpes, naPopulorumProgressio e até mesmo na Doutrina Social, caminhos práticos. “As noções que se referem ao desenvolvimento em si são as mais perfeitas que se poderia desejar. Mas não se explica o modo de proceder: como fazer com que os princípios entrem na prática e não fiquem nos livros e nas aulas? Como passar da teoria à situação prática?” (COMBLIN, 1967, p. 13).

Vemos nesses temas algumas das indagações que Comblin com as quais ele quis contribuir para a Conferência de Medellín. Destaca, sobretudo, a preocupação que a Igreja deve ter no âmbito pastoral, com vistas ao exercício de sua prática profética e, assim, ser capaz de transformar as realidades que de muitos países latino-americanos. Resumidamente, os temas apresentados por Comblin tange a realidade da Igreja, o poder legítimo, sua posição contra o fanatismo e a ação da Igreja na dimensão pastoral e social.

Vale destacar que tal documento, como já dito acima, vazou e repercutiu nos jornais do Brasil. O fato ficou conhecido como o “Caso Comblin” e várias foram as tentativas de desmoralizar Dom Helder Câmara. O regime ditatorial, que naquele mesmo ano instituíra o Ato Institucional 5 (AI5), tornado ainda mais repressor o regime, viu nesta carta, uma chamada à revolução armada por parte dos camponeses. Dom Helder foi silenciado, sendo proibida à imprensa de produzir qualquer matéria sobre ele. Quando, em 1972, Comblin voltava de uma viagem da Europa, este não teve autorização de entrar no país, pois havia sido considerado uma “persona non grata”. Com isso, Depois de retornar à Bélgica, decidiu, alguns meses depois, a aceitar o convite, dentre tantos outros, de se mudar para o Chile.

3. AS CONCLUSÕES DE MEDELLÍN: CAMINHOS PARA UMA IGREJA PROFÉTICA.

Certamente, a Conferência de Medellín foi o grande marco para a Igreja latino- americana. Nesse sentido, Brighenti afirmara que tal conferência foi como que o “Concílio Vaticano II da América Latina” (cf. BRIGHENTI, 2009), pois foi o evento que fez acontecer o Concílio em nossa realidade eclesial, marcada como vimos, por muitos desafios. No que toca seu texto conclusivo, tal conferência marca uma ruptura, pois “dá à Igreja na América Latina uma palavra própria, uma fisionomia autóctone, deixando de ser uma ‘Igreja reflexo’ ou caixa de ressonância de uma suposta ‘Igreja universal’, para constituir-se numa fonte inspiradora e programática para as suas Igrejas Locais” (BRIGHENTI, 2009, p. 426).

O texto conclusivo possui 16 partes que constituem os fundamentos desse aggionamentoLatino-Americano. Acolhe muitos temas apresentados por Comblin e dá a eles direcionamentos práticos. A grande novidade de ordem pastoral é exatamente essa: temos um direcionamento prático de temas e assuntos inerentes à ação da Igreja em sua realidade. Diante disso, podemos afirmar que Medellín lançou luzes para questões que não haviam sido tratadas, sobretudo pelo fato do Concílio ter sido realizado em sua maioria, por Bispos do assim chamado “Primeiro mundo”. Nesse sentido afirma Brighenti:

haviam ficado na penumbra questões importantes às causas da pobreza no mundo, a relação entre evangelização e promoção humana, a forma da presença da Igreja e dos cristãos na sociedade, Igreja autóctone, a necessidade de um pluralismo teológico e disciplinar, Igreja e profetismo, etc. Dar resposta a estas questões pendentes é ao que Medellín irá propor-se com sua “recepção criativa” do Vaticano II na América Latina e o Caribe” (BRIGHENTI, 2009, p. 425).

Os temas como justiça, paz, família e demografia, educação, juventude, pastoral das massas, pastoral das elites, catequese, liturgia, movimentos leigos, sacerdotes, religiosos, formação do clero, pobreza da Igreja, colegialidade e meios de comunicação social foram fundamentais para se pensar a realidade na Igreja na América Latina. Tais temas eram embasados no método – ver, julgar e agir – que procurava chegar a tais realidades de forma próxima, dialogando, sabendo apresentar caminhos para uma pastoral mais efetiva. Vão afirmar os Bispos que “nossa reflexão orientou-se para a busca de forma de presença mais intensa e renovada da Igreja na atual transformação da América Latina” (MEDELLÍN, 1984, p. 8).

Diante dos temas, o documento nos ajuda a compreender os motivos deles terem sido discutidos na Assembleia:

Três grandes setores, sobre os quais recai nossa solicitude pastoral, foram abordados em sua relação com o processo de transformação do continente. Em primeiro lugar, o setor da promoção do homem e dos povos do continente para os valores da justiça, da paz, da educação e do amor conjugal. Em seguida, nossa reflexão se dirigiu para os povos deste continente e suas elites, que por estarem num processo de profunda mutação de suas condições de vida e de seus valores, requerem uma adaptada evangelização e educação na fé, através da catequese e da liturgia. Finalmente, abordamos os problemas relativos aos membros da Igreja. É preciso intensificar sua unidade e ação pastoral através de estruturas visíveis, também adaptadas às novas condições do continente (MEDELLÍN, 1984, p. 8).

Desse modo, o documento conclusivo procurou dizer algo de consistente sobre todo contexto social do continente, mas acima de tudo, dizer sobre algo sobre a totalidade real e não ideal da pessoa humana. Com Brighenti, podemos dizer que “Medellín é a prova mais viva de que a Igreja na América Latina e o Caribe, naquele preciso momento, estava no lugar certo e na hora certa” (BRIGHENTI, 2009, p. 431), pois foi capaz de fazer um caminho de abertura, de acolhida da realidade, de ser capaz de diálogo com as pessoas, ouvindo atentamente suas alegrias e angústias, construindo assim uma sociedade mais justa e fraterna e com isso, favorecer o Reino de Deus. Portanto, Medellín é um marco histórico para a Igreja em nosso continente.

CONCLUSÃO

O presente artigo teve a intenção, num primeiro momento, de apresentar as bases nas quais se edificaram a Conferência de Medellín, apresentando todo o empenho dos bispos em recepcionar, no continente Latino-americano, o Concílio Vaticano II. Tratamos ainda das realidades político-sociais nas quais se encontrava os países da América Latina, passando sobretudo pela espinha dorsal deste trabalho que foi de apresentar o relatório do Pe. José Comblin como contribuição para pensar a sociedade e a Igreja. No último momento, foram tratados alguns pontos apresentados no “Documento de Conclusão” da Assembleia que possibilitou a Igreja se organizar em sua ação pastoral, evangelizadora e profética.

O que fica dessa pesquisa é a alegria de redescobrir o engajamento pastoral que alcança todos os batizados e batizadas para a missão, num tempo em que vemos ressurgir diversos movimentos políticos que tendem ao totalitarismo e, na Igreja – ao radicalismo. Estes movimentos, de cunho integrista desejam a volta às sacristias, permitindo assim, fazer cair no esquecimento, os grandes eventos eclesiológicos – Concílio Vaticano II e Conferência de Medellín – de nosso tempo. Que a força do Espírito Santo nos motive ao comprometimento na construção de uma sociedade mais justa e fraterna e nos faça sermos uma Igreja Discipula-Missionária e profética.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

1 Padre José Comblin, nasceu em 1923 em Bruxelas, Bélgica. Foi ordenado sacerdote em 1947. Tornou-se doutor em Teologia pela Universidade Católica de Louvain. Acolhendo o convite de Dom Paulo de Tarso Campos, bispo da então Diocese de Campinas, em 1958 chega ao Brasil onde inicia seu trabalho como professor. Depois de uma primeira passagem pelo Chile (1962-1965), acolheu o convite de Dom Helder Câmara para ajudar a fundar o Instituto de Teologia de Recife (ITER). Sendo expulso do Brasil em 1972, por conta da Ditadura militar, vai para o Chile. Expulso deste país em 1980, retorna ao Brasil e por aqui ficou até sua morte em 2011.

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¹Mestrando em Teologia pela PUC/SP