REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202501132210
Ivana Claudia da Cruz Brasil1
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo principal analisar a importância do ensino da língua inglesa para crianças de localidades rurais que ainda não foram alfabetizadas e verificar as melhores abordagens de ensino para esses alunos. Além disso, reuniu-se informações por meio de pesquisa bibliográfica, com vista a compreender os diversos aspectos que envolvem este tema, como as vantagens e desvantagens desse processo, a formação dos professores e as dificuldades enfrentadas pelos alunos. As considerações finais apontam que há mais vantagens do que desvantagens sobre a aprendizagem da língua inglesa para crianças não alfabetizadas e que, consequentemente, o professor e a família têm grande responsabilidade nesse processo.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino; Língua Inglesa; Educação Infantil.
ABSTRACT
The main objective of this study was to analyze the importance of teaching the English language to children in rural areas who have not yet learned to read and write, and to verify the best teaching approaches for these students. In addition, information was gathered through bibliographical research, with a view to understanding the various aspects involved in this topic, such as the advantages and disadvantages of this process, teacher training and the difficulties faced by students. The final considerations point out that there are more advantages than disadvantages about learning the English language for illiterate children and that, consequently, the teacher and the family have a great responsibility in this process.
KEYWORDS: Teaching; English language; Child education.
INTRODUÇÃO
Hoje em dia, falar mais de um idioma é quase um requisito para sobreviver no mundo globalizado, pois ser fluente em mais de um idioma pode ajudar a lidar com muitos fatores que envolvem a comunicação interpessoal e a comercial (DAVID, 2018; SEGATY; BAILER, 2021). Nessa perspectiva, ressalta-se que há diversos idiomas e entre eles o inglês vem ganhando cada vez mais espaço no cenário nacional e internacional, sendo atualmente a segunda língua mais falada no mundo todo (COUNCIL, 2014; BRUSCATO, 2019).
No entanto, ao procurar um emprego, o candidato à vaga já sabe que o domínio do inglês não é mais um diferencial, mas sim algo essencial. Por isso, muitas pessoas principalmente as que não tiveram a oportunidade de estudar inglês procuram escolas de idiomas e começam a aprender inglês o mais breve possível (DAVID, 2018).
Segundo Bruscato (2019), o ensino da língua inglesa tornou-se obrigatório a partir do 6º ano do ensino fundamental. Contudo, essa disciplina já é introduzida muito antes no currículo de escolas particulares de educação infantil (LIMA; JOTTO KAWACHI-FURLAN, 2021). Apesar do ensino da língua inglesa está bastante difundido nas escolas, ainda não está totalmente acessível às diversas classes sociais e regiões do país. Além disso, há também diferenças na qualidade do ensino que é repassado, o qual depende diretamente da realidade da comunidade escolar (FARIA; SABOTA, 2019).
Deste modo, o ensino de língua inglesa na educação infantil em contextos rurais é um tema que vem ganhando relevância nos últimos anos, devido à crescente demanda por profissionais bilíngues no mercado de trabalho e à necessidade de ampliar as oportunidades educacionais para as crianças que vivem nessas áreas. Todavia, há diversos desafios e limitações que precisam ser considerados para que esse ensino seja efetivo e adequado à realidade dos alunos e das escolas rurais.
Diante disso, o presente estudo teve por objetivo descrever os principais desafios encontrados pelo ensino de língua inglesa para crianças de localidades rurais que ainda não foram alfabetizadas e verificar as melhores abordagens de ensino para esses alunos.
METODOLOGIA
Neste estudo, pretende-se apresentar um breve relato de uma experiência realizada na escola Arco-íris, localizada no interior do município de Breves, Ilha do Marajó – PA, que atende desde a educação infantil ao ensino fundamental. Do público alvo (alunos e professores) foram descritas as principais dificuldades de aprender e ensinar uma segunda língua em contexto rural. Além disso, reuniu-se informações a partir de pesquisa bibliográfica, com vista a compreender os diversos aspectos que envolvem este tema, como as vantagens e desvantagens desse processo (a inclusão do ensino de inglês desde cedo), a formação dos professores e as dificuldades enfrentadas pelos alunos.
Realizou-se a pesquisa bibliográfica por artigos científicos indexados no Portal de Periódicos CAPES/MEC (link: https://www.periodicos.capes.gov.br/), onde na ferramenta de busca por assunto foram utilizados os seguintes descritores “ensino infantil” e “língua inglesa”, “escolas rurais” e “língua inglesa”, “escolas rurais infantis” e “região amazônica”, “escolas rurais infantis” e “Ilha do Marajó”, juntamente com o filtro de data no período de 2018 a 2023. Por fim, optou-se por apresentar apenas as principais ideias desses artigos, os quais demonstraram mais relevância com o tema desta pesquisa. Destes, extraiu-se as seguintes informações: (i) Quais as vantagens e desvantagens do ensino aprendizagem da língua inglesa para crianças?; (ii) Como a formação do professor influencia no processo de ensino aprendizagem da língua inglesa voltada para crianças?; (iii) Dificuldades encontradas pelos alunos do ensino infantil em escolas rurais; (iv) Sugestões de tipos de intervenções e melhoria da qualidade do ensino de inglês.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Descrição de relato da escola alvo
De acordo com o relato de alguns professores, as aulas se concentram em grande parte na oralidade, já que as crianças ainda não são alfabetizadas em sua língua materna. Além disso, o ensino de língua inglesa na escola rural é visto como precária pela falta de infraestrutura, materiais didáticos adequados (livros e jogos educativos) e equipamentos (computadores, impressoras, projetores e aparelhos de som), os quais poderiam servir de auxílio no desenvolvimento dos conteúdos e habilidades que a disciplina exige na prática. Assim, requer ainda mais que o ensino de língua inglesa seja mais atrativo e que desperte o interesse dos alunos para aprender uma segunda língua. Portanto, nota-se que o professor neste processo de transformação é uma peça extremamente importante, cabendo a este definir os melhores métodos e abordagem a serem desenvolvidas para suprir tais necessidades.
Já em relação ao contexto familiar, muitos pais, alegavam que não sabem inglês e por isso não conseguiam ajudar seus filhos, outros já apontavam que o ensino da língua era menos importante, assim, dariam mais atenção apenas às disciplinas como, português, matemática, geografia, ou seja, as que “julgassem” mais importantes. Embora esse tipo de comentário ser recorrente nas escolas, é crucial destacar que toda e qualquer área do conhecimento é primordial.
Informações obtidas a partir da pesquisa bibliográfica
Apesar de existirem muitos trabalhos sobre educação infantil em geral, que podem see úteis para entender os problemas enfrentados pelas escolas rurais, infelizmente é difícil e escasso ainda encontrar trabalhos específicos recentes (nos últimos 5 anos) sobre o ensino de língua inglesa em escolas rurais, principalmente da região amazônica. Logo, evidenciando a importância de mais estudos relacionados ao tema proposto.
No Quadro 1, estão os artigos utilizados que auxiliaram na construção do trabalho.
Quadro 1 – Artigos selecionados sobre ensino da língua inglesa para crianças publicados em revistas on-line no período de 2018 a 2023.
Periódico | Descritores | Título | Autores | Publicação |
Revista Eletrônica de Línguas e Literaturas Estrangeiras | “ensino infantil” e “língua inglesa” | Ensino aprendizagem – como ensinar língua inglesa crianças não alfabetizadas. | DAVID, R. S. | 2018, v. 8, n. 1, p. 40–59. |
Brazilian English Language Teaching Journal | “escolas rurais” e “língua inglesa” | Ensino de Língua Inglesa na educação infantil: relatos de prática ancorados na abordagem de compreensão. | BRUSCATO, A. M. | 2019, v. 9, n. 2, p. 409. |
Signo | “escolas rurais” e “língua inglesa” | O ensino de língua inglesa na educação básica em tempos de pandemia: um relato de experiência em um programa bilíngue em implantação. | SEGATY, K.; BAILER, C. | 2021, v. 46, n. 85, p. 253–262. |
Revista de Letras Norte@mentos | “ensino infantil” e “língua inglesa” | “Um nariz de porquinho e uma máscara de lobo”: a percepção de alunos do ensino fundamental sobre a contação a história dos três porquinhos em língua inglesa. | SPECHT, A. L.; MENDES, L. | 2021, v. 14, n. 36. |
Fonte: Própria do Autor (2023).
(i) Quais as vantagens e desvantagens do ensino aprendizagem da língua inglesa para crianças?
O ensino-aprendizagem da língua inglesa para crianças apresenta vantagens e desvantagens que devem ser consideradas pelos educadores e pelas famílias. Entre as vantagens, podemos citar o desenvolvimento cognitivo, a ampliação das oportunidades de comunicação e de acesso a diferentes culturas, e a preparação para o mercado de trabalho globalizado. Entre as desvantagens, podemos mencionar a possível interferência na aquisição da língua materna, a falta de motivação ou de interesse dos alunos, e a dificuldade de encontrar materiais e métodos adequados para o público infantil.
Segundo David (2018), aprender inglês na infância traz mais vantagens do que desvantagens. Alguns deles são referentes às pressuposições de que as crianças têm maior facilidade em aprender uma língua estrangeira até os 7 anos de idade. Nessa fase, elas também têm mais facilidade para se adaptar aos sons e à pronúncia da língua alvo. Além disso, o contato mais cedo com outro idioma amplia a sua de aceitabilidade e naturalidade com outras culturas e formas de expressão.
David (2018) ressalta ainda a importância do ensino de inglês para o desenvolvimento cognitivo e social das crianças. Segundo ele, aprender uma língua estrangeira é uma oportunidade e um direito que não deve ser negado às crianças, pois contribui para o aprimoramento de suas competências e habilidades ao longo da vida escolar e profissional.
(ii) Como a formação do professor influencia no processo de ensino-aprendizagem da língua inglesa voltada para crianças?
A formação do professor é um fator fundamental para o sucesso do processo de ensino aprendizagem da língua inglesa voltada para crianças, sendo assim, algo que pode influenciar de forma negativa dentro do processo do ensino seria o despreparo do professor, isto é, se os docentes de língua inglesa tiverem proficiência limitada poderão afetar diretamente seus alunos em seu potencial de assimilação (DAVID, 2018).
Portanto, o professor deve ter conhecimentos teóricos e práticos sobre o desenvolvimento infantil, as especificidades da aprendizagem de uma língua estrangeira nessa faixa etária, e as abordagens e técnicas mais eficazes para estimular os alunos. Além disso, este deve ter uma postura reflexiva, crítica e criativa, buscando se atualizar constantemente e adaptar sua prática às necessidades e aos interesses dos alunos.
Logo, a prática reflexiva se faz necessária para que haja uma conscientização da própria prática docente, porém ainda há muitos profissionais que não se preocupam com uma educação contínua, assim não enxergando a sala de aula como um local de pesquisa onde o professor investiga suas ações e seu conhecimento para aperfeiçoar o seu fazer (DAVID, 2018).
(iii) Dificuldades encontradas pelos alunos do ensino infantil em escolas rurais.
Os alunos do ensino infantil em escolas rurais enfrentam diversas dificuldades para aprender a língua inglesa. Algumas dessas dificuldades são: a falta de infraestrutura e de recursos didáticos nas escolas; a escassez ou a ausência de professores qualificados para lecionar inglês; a distância geográfica e cultural entre os alunos e os países falantes de inglês; a baixa exposição à língua inglesa fora da sala de aula; e a falta de incentivo ou de reconhecimento da importância do aprendizado de uma língua estrangeira.
Além disso, normalmente sabendo que as crianças ainda não desenvolveram bem as habilidades de escrita e leitura, são privilegiadas as habilidades orais (BRUSCATO, 2019). Entretanto, muitas vezes o que é aprendido em sala de aula não se torna significativo para esse aluno, porque ele aprende a construir frases, mas não saberá quando utilizá-las, pois o aprendizado não está integrado em seu contexto (DAVID, 2018).
No contexto observado (rural), poucos núcleos familiares se dedicam a ajudar os filhos a fazerem as atividades; muitos pais alegam não ter conhecimento sobre e se sentem muitas vezes frustrados. Aliás, há outros desafios vivenciados tanto pelos professores quanto pelas famílias, que são o uso das tecnologias digitais, os quais necessitam de adaptações constantes (SEGATY; BAILER, 2021).
(iv) Sugestões de tipos de intervenções e melhoria da qualidade do ensino de inglês.
Diante de tantos desafios, é preciso buscar alternativas que possibilitem o ensino de língua inglesa na educação infantil em contextos rurais de forma eficaz, lúdica e significativa para os alunos. Algumas possibilidades são:
• Utilizar recursos locais, como músicas, histórias, brincadeiras e jogos, para ensinar inglês de forma integrada às outras áreas do conhecimento;
• Promover o contato com outras culturas e realidades por meio de projetos interdisciplinares e interculturais;
• Incentivar a participação da família e da comunidade no processo de ensino aprendizagem;
• Investir na formação continuada dos professores, tanto em relação ao domínio da língua inglesa quanto à metodologia específica para o ensino na educação infantil.
Segundo Bruscato (2019), a música infantil é um recurso bastante utilizado nas aulas de língua inglesa. Além disso, as escolas que possuem aparelhos tecnológicos como televisão e computadores, podem facilmente reproduzir diversas mídias audiovisuais. Já a contação de histórias, é um material autêntico que permite com que os alunos possam ter contato com a língua em uso, de maneira lúdica, entre outras qualidades (SPECHT; MENDES, 2021). Isso pode ajudar os alunos a melhor desenvolver sua competência comunicativa a partir de experiências de aprendizagem mais significativas, possibilitando-os assim, a interagir na língua alvo fora de sala de aula (SPECHT; MENDES, 2021).
Ao trabalhar sobre rotina, o docente também pode-se realizar um teatro simulando as tarefas que os alunos cumprem diariamente, como acordar, espreguiçar-se, levantar-se, etc. É importante que as crianças possam aprender brincando e se movimentando. Em uma etapa bastante oral, é preciso que elas se acostumem a ouvir e a reconhecer a língua estrangeira, para que mais tarde possam empregá-la livremente (SPECHT; MENDES, 2021).
Assim, o ensino lúdico é apresentado como diversão, fazendo parte do cotidiano escolar, sendo aplicado de forma significativa leva o aluno a uma melhor compreensão e fixação da matéria. Os alunos aprendem brincando e se sentem mais familiarizados com objetos de estudo, principalmente os que fazem parte de seu contexto (DAVID, 2018).
CONCLUSÕES
O ensino de língua inglesa na educação infantil em contextos rurais pode enfrentar muitos desafios. Alguns desses desafios incluem a falta de professores qualificados que dominem o idioma, metodologias de ensino ultrapassadas e a falta de engajamento dos alunos. Portanto, é de suma importância que as escolas ofereçam ensino-aprendizagem da língua estrangeira voltado para crianças de qualidade, pois aprender uma língua estrangeira na infância não é apenas um instrumento de inserção e ascensão social, mas também um canal de acesso a diferentes culturas. Nota-se que os principais agentes para a melhoria do ensino são professores, os quais podem ajudar a superar esses desafios por meio de metodologias de ensino ativas e criativas, trazendo assim o engajamento dos alunos. Assim como também todos os envolvidos na educação precisam estar sempre em constante formação, não apenas os professores, mas também a família.
Dessa forma, espera-se que o trabalho proposto contribua para o desenvolvimento da formação do professor através da prática reflexiva e colabore como arcabouço teórico para estudos voltados à importância da língua estrangeira para crianças em contexto rural.
REFERÊNCIAS
ÁVILA, P. A.; TONELLI, J. R. A. As motivações para a implementação do ensino de língua inglesa nos anos iniciais de escolarização em uma escola municipal pública. Acta Scientiarum. Language and Culture, v. 42, n. 1, p. e50986–e50986, 2020.
BRUSCATO, A. M. Ensino de Língua Inglesa na educação infantil: relatos de prática ancorados na abordagem de compreensão. BELT – Brazilian English Language Teaching Journal, v. 9, n. 2, p. 409, 15 jan. 2019.
DAVID, R. S. Ensino e aprendizagem – como ensinar língua inglesa crianças não alfabetizadas. Babel: Revista Eletrônica de Línguas e Literaturas Estrangeiras, v. 8, n. 1, p. 40–59, 2018.
FARIA, M.; SABOTA, B. Desafios da formação de professores para a educação infantil bilíngue. Revista X, v. 14, n. 5, p. 244, 2019.
LIMA, A. P.; JOTTO KAWACHI-FURLAN, C. Estado do conhecimento sobre formação de professores de inglês para crianças: O que revelam os estudos publicados nos últimos dez anos? Revista X, v. 16, n. 3, p. 643, 2021.
SEGATY, K.; BAILER, C. O ensino de língua inglesa na educação básica em tempos de pandemia: um relato de experiência em um programa bilíngue em implantação. Signo, v. 46, n. 85, p. 253–262, 2021.
SPECHT, A. L.; MENDES, L. “Um nariz de porquinho e uma máscara de lobo”: a percepção de alunos do ensino fundamental sobre a contação da história dos três porquinhos em língua inglesa. Revista de Letras Norte@mentos, v. 14, n. 36, 2021.
1Universidade Federal do Pará, Breves, Pará, Brasil.
cruzivana958@gmail.com