REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202503272332
Alciléia Caranha Moraes1
Tereza Rôla Ferreira2
Orientadora: Profa. M.a Malena Vidal dos Santos
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo investigar as práticas pedagógicas utilizadas no ensino de leitura na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), sob a perspectiva dos docentes. A pesquisa parte da premissa de que os professores desempenham um papel fundamental na formação crítica e cidadã dos alunos, que, em sua maioria, são indivíduos com trajetórias de vida marcadas por interrupções na escolarização formal. A metodologia adotada combina uma abordagem qualitativa e descritiva, tendo como principal instrumento de coleta de dados entrevistas semiestruturadas com 10 docentes da EJA, além de observações em sala de aula. A análise dos dados foi fundamentada em referenciais teóricos sobre o ensino de leitura, a educação de jovens e adultos e os princípios da pedagogia crítica, com destaque para autores como Paulo Freire, Emília Ferreiro e Magda Soares. Os resultados indicam que os docentes enfrentam desafios significativos, como a heterogeneidade do público atendido, que inclui alunos com diferentes níveis de escolarização, idades e experiências de vida, além de limitações estruturais e materiais nas escolas. Contudo, os professores apontam estratégias que buscam valorizar o repertório cultural dos estudantes, utilizando textos diversos, como jornais, músicas e histórias de vida, para tornar o ensino de leitura mais significativo e contextualizado. A pesquisa conclui que, apesar das dificuldades enfrentadas, as práticas pedagógicas que promovem a leitura crítica e emancipatória desempenham um papel essencial na inclusão social e no fortalecimento da cidadania dos alunos. Por fim, o trabalho destaca a necessidade de políticas públicas que ofereçam suporte técnico e pedagógico contínuo aos professores, além de promoverem a valorização da EJA como um espaço de transformação social.
Palavras-Chave: Educação de Jovens e Adultos (EJA). Ensino de Leitura. Práticas Pedagógicas. Perspectiva Docente. Pedagogia Crítica. Inclusão Social, Cidadania. Políticas Públicas.
INTRODUÇÃO
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil é uma modalidade educacional que surgiu como uma resposta às desigualdades sociais e à exclusão escolar de indivíduos que, por diversas razões, não puderam concluir seus estudos na idade regular. O contexto histórico da EJA remonta às primeiras décadas do século XX, quando as políticas educacionais se concentravam principalmente no atendimento à população jovem em idade escolar, deixando de lado os adultos e jovens que, por questões econômicas, sociais ou culturais, estavam fora da escola. Ao longo do tempo, o movimento pela educação de jovens e adultos ganhou força, especialmente após a Constituição de 1988, que consagrou a educação como um direito universal e fundamental para todos, independentemente da idade.
A sigla (EJA) significa educação de jovens e adultos, é uma modalidade da educação nacional que se articula preferencialmente, a educação profissional, esta modalidade é destinada a um público-alvo, sendo estes, estudantes que não obtiveram acesso ou continuidade do estudo no ensino fundamental e no ensino médio na idade própria, constituindo instrumento para a educação ao longo da vida.
Essa modalidade não se destina em toda educação básica, somente, para os ensinos fundamental e médio, pois, possui duas formas de oferta que o educando pode cursar, aquele conhecido como Supletivo, sendo realizado nas escolas e o ofertado pelo governo federal por meio do ENCEJA. Para cursar ou prestar os exames, existem idades específicas, se for para o ensino fundamental os educandos deverão ser maiores de 15 anos e no ensino médio será para os maiores de 18 anos.
No cenário atual, em um país marcado por profundas desigualdades sociais e econômicas, a EJA desempenha um papel crucial na promoção da inclusão e cidadania. Ela não só oferece a possibilidade de concluir o ensino básico, mas também se torna uma ferramenta de transformação social, possibilitando que indivíduos em situação de vulnerabilidade, que muitas vezes enfrentam barreiras ao acesso ao mercado de trabalho e à participação política, tenham a oportunidade de se reintegrar ao sistema educacional. Isso implica não apenas o aprendizado formal, mas a formação de sujeitos críticos e reflexivos, capazes de compreender o mundo em que vivem e agir de forma mais consciente em sociedade.
Dentro desse contexto, o ensino de leitura na EJA emerge como um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento das competências dos educandos. A leitura vai além da simples decodificação de palavras, sendo uma prática que envolve a capacidade de interpretar, refletir e se posicionar sobre o mundo. Portanto, a abordagem do letramento, que se concentra na compreensão crítica do texto e na utilização da leitura como ferramenta para a transformação social, é uma das principais estratégias pedagógicas adotadas para atender às demandas da EJA. Contudo, essa prática pedagógica enfrenta desafios significativos, como a diversidade de experiências e níveis de escolaridade dos alunos, as lacunas no processo de alfabetização e a falta de recursos pedagógicos adequados.
Em Macapá/AP, assim como em outras regiões do Brasil, a EJA é uma modalidade de ensino que atende a uma população com trajetórias marcadas por desigualdades socioeconômicas e contextos de vulnerabilidade. Isso coloca os professores em uma posição estratégica, pois eles precisam adaptar suas metodologias para atender a um público heterogêneo, com diferentes necessidades e expectativas. Nesse sentido, a formação de professores e o constante aperfeiçoamento das práticas pedagógicas são essenciais para que a EJA cumpra seu papel de inclusão e transformação.
Este trabalho tem como objetivo investigar as práticas pedagógicas utilizadas no ensino de leitura na EJA, com foco na perspectiva dos professores. A pesquisa adota uma abordagem qualitativa e descritiva, buscando compreender os desafios enfrentados pelos docentes no processo de ensino-aprendizagem e analisar as estratégias pedagógicas que têm sido mais eficazes. A análise será embasada em referenciais teóricos, incluindo os princípios da pedagogia crítica de Paulo Freire, que defende a educação como um ato de libertação e transformação, e as contribuições de estudiosos como Emília Ferreiro e Magda Soares, que ampliaram a compreensão sobre o processo de alfabetização e letramento.
A relevância desta pesquisa reside no fato de que a compreensão e aprimoramento das práticas pedagógicas na EJA podem contribuir para a superação das barreiras educacionais enfrentadas por esse público, promovendo a inclusão social e fortalecendo a cidadania dos estudantes. Em um contexto em que a educação ainda é um fator de desigualdade para muitos brasileiros, o fortalecimento da EJA é um passo fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
A leitura, nesse contexto, é mais do que um instrumento pedagógico; é uma ferramenta de transformação social, que possibilita a inserção dos sujeitos em diferentes espaços sociais e profissionais. Parte-se da hipótese de que as práticas pedagógicas utilizadas pelos docentes são influenciadas pelas vivências e contextos dos alunos, buscando integrar temas do cotidiano e promover o letramento crítico. Acredita-se que as dificuldades estruturais e a heterogeneidade dos estudantes são desafios significativos no ensino, mas que podem ser atenuados por estratégias pedagógicas que valorizem o repertório cultural desses indivíduos. Supõe-se, ainda, que a valorização de práticas pedagógicas emancipadoras pode contribuir para o fortalecimento da cidadania e da inclusão social dos estudantes.
Dessa forma, quais são as práticas pedagógicas utilizadas no ensino de leitura na EJA, segundo a perspectiva dos professores? Para responder a essa questão, a metodologia adotada foi qualitativa e descritiva, com foco nas percepções e experiências dos docentes.
O principal instrumento de coleta de dados será a entrevista semiestruturada, permitindo uma análise aprofundada das práticas pedagógicas e dos desafios enfrentados pelos professores. A análise será fundamentada em referenciais teóricos que tratam do ensino de leitura e da pedagogia crítica, com destaque para os trabalhos de Paulo Freire, Emília Ferreiro e Magda Soares.
O objetivo geral deste estudo foi investigar as práticas pedagógicas utilizadas no ensino de leitura na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA) em uma escola pública de Macapá/AP, sob a perspectiva dos docentes. Para alcançar esse objetivo, busca-se, de forma específica, identificar os desafios enfrentados pelos professores no ensino de leitura, considerando as características heterogêneas do público atendido; analisar as estratégias pedagógicas utilizadas para promover a leitura crítica e significativa entre os alunos; compreender como o repertório cultural e as vivências dos alunos influenciam as práticas pedagógicas no ensino de leitura; e propor reflexões sobre a importância de políticas públicas e suporte pedagógico para a valorização do ambiente de aprendizagem como espaço de inclusão social e cidadania.
O artigo está estruturado da seguinte forma: a seção seguinte apresenta o referencial teórico sobre práticas pedagógicas e ensino de leitura na EJA; em seguida, descreve-se a metodologia adotada, detalhando os procedimentos de coleta e análise de dados; posteriormente, os resultados da pesquisa são discutidos, abordando os principais achados e suas implicações pedagógicas; por fim, são apresentadas as considerações finais, com sugestões para futuras pesquisas e reflexões sobre a implementação de políticas públicas para a EJA.
1. A Educação de Jovens e Adultos (EJA): Desafios e Possibilidades
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino fundamentalmente inclusiva, voltada para pessoas que, por diversos motivos, não conseguiram concluir a escolarização na idade regular. No Brasil, essa modalidade, conforme Figueiredo (2024) tem uma importância histórica e social significativa, sendo uma das principais formas de garantir o direito à educação a indivíduos que enfrentam desigualdades econômicas e sociais, como aqueles em situações de vulnerabilidade, trabalhadores com horários irregulares e pessoas com trajetórias educacionais interrompidas.
Ela não se limita ao simples ensino de conteúdo, mas busca também a promoção da cidadania e a valorização do protagonismo dos alunos em suas próprias trajetórias de vida.
No contexto brasileiro, a EJA passou por várias transformações ao longo das décadas, sempre com o objetivo de responder às mudanças sociais e econômicas do país. Nos últimos anos, a EJA tem enfrentado desafios como a alta taxa de evasão escolar, a precariedade das condições estruturais das escolas e a escassez de materiais pedagógicos adequados para o público atendido. A heterogeneidade das turmas, composta por alunos de diversas idades, níveis de escolarização e experiências de vida, também é um desafio significativo, exigindo dos professores uma grande capacidade de adaptação às especificidades de cada aluno.
Em Macapá, a EJA desempenha um papel crucial, dado o contexto regional marcado por desigualdades sociais e dificuldades econômicas. A capital do Amapá, apesar de ser um importante centro urbano da Amazônia, ainda enfrenta desafios relacionados à infraestrutura escolar e ao acesso à educação de qualidade, especialmente nas áreas mais periféricas. Nessa cidade, a EJA atende uma população diversa, composta por pessoas que, muitas vezes, enfrentam obstáculos como a falta de recursos financeiros, o trabalho excessivo e, em alguns casos, dificuldades com o transporte e acesso às escolas.
Apesar desses desafios, a EJA em Macapá também apresenta diversas possibilidades de transformação e inclusão. A valorização da cultura local e das experiências de vida dos estudantes, por exemplo, tem sido uma estratégia importante para tornar as aulas mais significativas e contextualizadas. Além disso, as políticas públicas direcionadas para a educação de jovens e adultos na cidade têm buscado fortalecer a formação continuada dos professores e melhorar as condições de ensino.
1.1. Contextualização da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil e em Macapá/AP
Nos apontamentos de Martins (2022), a Educação de Jovens e Adultos (EJA) possui uma trajetória marcada por avanços e desafios no Brasil, sendo uma modalidade fundamental para assegurar o direito à educação daqueles que não tiveram a oportunidade de concluir a escolarização básica na idade regular. Historicamente, este movimento surgiu como uma resposta às demandas sociais por inclusão educacional e combate ao analfabetismo, em um país que, até meados do século XX, enfrentava elevados índices de exclusão escolar e desigualdade social.
Esse modelo educacional atua como um instrumento de inclusão social e desenvolvimento humano, sendo uma resposta às necessidades de grupos marginalizados e um esforço para a construção de uma sociedade mais equitativa. No Brasil, os primeiros esforços organizados para atender jovens e adultos ocorreram nas décadas de 1940 e 1950, com iniciativas como os movimentos de alfabetização liderados por educadores como Paulo Freire. Sua metodologia revolucionária, baseada na realidade dos alunos, foi amplamente reconhecida por seu potencial transformador, defendendo que a alfabetização não se restringe à decodificação de palavras, mas envolve também a leitura do mundo, promovendo a conscientização e a emancipação dos sujeitos.
Nos anos 1960, entretanto, o golpe militar de 1964 representou um retrocesso significativo. A educação passou a ser tratada sob uma perspectiva tecnicista e funcionalista, e iniciativas emancipadoras como o método de Paulo Freire foram interrompidas. Durante esse período, a alfabetização de adultos foi incorporada a campanhas de massa, como o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), que prioriza metas quantitativas em detrimento de um processo educativo mais significativo e crítico.
Esse contexto evidencia como a educação pode ser utilizada como ferramenta política para a emancipação e formação crítica, como propunha Paulo Freire, ou para a manutenção do status quo e do controle social, como ocorreu durante a ditadura militar.
Assim, a trajetória da EJA no Brasil reflete não apenas avanços educacionais, mas também os desafios impostos por diferentes momentos históricos, reforçando a necessidade contínua de políticas públicas voltadas para a inclusão e o desenvolvimento social.
A redemocratização do Brasil, na década de 1980, trouxe uma nova perspectiva para a educação, consolidada com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que reconheceu a educação como um direito de todos e reafirmou o dever do Estado em assegurar o acesso universal ao ensino. Esse avanço rompeu com a lógica tecnicista e excludente do período militar, abrindo espaço para políticas educacionais voltadas à inclusão e à democratização do ensino.
Um marco importante nesse processo foi a criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996, que estabelece princípios como a gestão democrática, a valorização dos profissionais da educação e a garantia de uma educação básica de qualidade. A LDB também consolidou a Educação de Jovens e Adultos (EJA) como uma modalidade específica, destacando sua importância para a formação integral dos cidadãos.
Além da alfabetização, essa categoria tem um papel fundamental no desenvolvimento crítico e social dos estudantes, contribuindo para a inclusão e a ampliação das oportunidades no mercado de trabalho. Com esse propósito, foram criados programas como o Programa Nacional de Educação de Jovens e Adultos (PEJA) e o Programa Brasil Alfabetizado (PBA), voltados ao combate do analfabetismo e à escolarização de jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social.
No entanto, a modalidade ainda enfrenta desafios significativos, como a alta evasão escolar, a escassez de recursos materiais e humanos e a ausência de políticas públicas contínuas e eficazes. Em Macapá/AP, a realidade da EJA reflete o panorama nacional, com escolas públicas desempenhando um papel crucial no atendimento de uma população com trajetórias de vida diversas e condições socioeconômicas desafiadoras. Apesar dessas adversidades, o estado do Amapá tem buscado, por meio de práticas pedagógicas contextualizadas e adaptadas, transformar a educação em um instrumento de inclusão e cidadania.
1.2. Histórico da EJA no Brasil: avanços e desafios
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil tem uma história marcada por avanços, mas também por inúmeros desafios. Desde a sua criação, essa modalidade foi concebida como uma resposta à exclusão educacional de jovens e adultos que, por diversos motivos, não conseguiram concluir sua educação na idade considerada regular. Contudo, esse processo sempre foi permeado por questões estruturais, políticas e pedagógicas que dificultaram o desenvolvimento de todas as ações.
Segundo Souza (2017), esse movimento tem sido tratado como uma medida remediadora, em vez de um espaço de emancipação, ela limita as possibilidades de desenvolvimento de uma educação crítica e transformadora. Justamente porque devido à grande variedade de público, torna-se importante a aplicação de uma pedagogia que valorize a experiência de vida dos alunos, compreendendo as diferentes trajetórias e contextos sociais, e que promova um aprendizado que ultrapasse a simples decodificação de textos.
A diversidade do público exige uma abordagem diferenciada, que vá além da simples transmissão de conteúdo. Muitos discentes trazem experiências de vida ricas e complexas, que podem e devem ser valorizadas no processo de ensino-aprendizagem. Isso reforça a importância de metodologias que reconheçam essas trajetórias, incentivando um aprendizado contextualizado e significativo.
Analisando essa perspectiva, compreende-se que para que haja a verdadeira transformação social, esse movimento deveria ser concebido como um processo educativo que reconhecesse as diversas trajetórias de vida dos alunos e valorizasse essas experiências. Ultrapassando a simples decodificação de palavras, ele se refere à necessidade de uma abordagem pedagógica que vá além da técnica de ler e escrever, mas que promova um aprendizado profundo e crítico, onde os alunos possam refletir sobre sua realidade e se tornar cidadãos ativos e conscientes.
Nos apontamentos de Ribeiro (2019), a importância do letramento e da leitura nesse contexto, está contida na ação de impulsionar a simples decodificação de palavras. Ela propõe uma abordagem que envolva os estudantes na construção do significado dos textos, valorizando suas vivências e realidades culturais.
Esse olhar está alinhado com a concepção de letramento, que vai além da alfabetização tradicional ao considerar a leitura e a escrita como práticas sociais.
No contexto geral, essa abordagem é especialmente importante, pois os estudantes, muitas vezes, já possuem uma bagagem de saberes adquiridos na vida cotidiana, no trabalho e em suas interações sociais. Valorizar essas experiências e integrá-las ao processo educativo permite que a aprendizagem seja mais relevante e motivadora.
A autora argumenta que o ensino de leitura deve ser um meio para a construção de uma cidadania crítica, em que os alunos compreendam e reflitam sobre o mundo ao seu redor, desenvolvendo uma visão mais ampla e crítica da realidade.
Com base nas noções de Dantas (2021), a execução das práticas, deve abordar as complexidades dessa modalidade de ensino, levando em consideração a diversidade do público, composto por alunos com trajetórias variadas e idades diferentes, o que exige uma abordagem pedagógica flexível.
Essa diversidade exige metodologias que respeitem os diferentes ritmos de aprendizagem, conciliem os saberes prévios dos alunos e valorizem suas trajetórias. Uma prática pedagógica engessada, baseada apenas na transmissão de conteúdos de forma tradicional, pode não atender às necessidades desse público, resultando em desmotivação e evasão escolar.
Ou seja, a implementação do arcabouço pedagógico, deverá focar em processos como a formação continuada dos professores, que é item essencial para lidar com os desafios diários dessa prática, como a evasão e o desinteresse dos alunos, além de sugerir que o currículo seja construído de forma mais inclusiva, levando em conta as experiências e necessidades dos estudantes. A autora também aponta a necessidade de políticas públicas que apoiem as práticas pedagógicas e valorizem a EJA como uma ferramenta de transformação social e emancipação.
Esses três autores oferecem uma visão abrangente sobre os avanços e desafios da EJA no Brasil. Embora a modalidade tenha alcançado alguns avanços importantes, como a inclusão de uma maior diversidade de alunos no sistema educacional, ainda há muitos desafios a serem superados, como por exemplo: enxerga essa alternativa de maneira mais ampla para “regularizar” a escolarização, mas como um espaço de formação crítica e de ampliação das possibilidades de participação social dos jovens e adultos que a frequentam. A valorização do conhecimento de vida dos alunos e a adoção de práticas pedagógicas que promovam o letramento de forma crítica são fundamentais no cumprimento do papel de transformação social.
1.3. A realidade da EJA em Macapá/AP: panorama e contexto socioeconômico.
A realidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) em Macapá/AP reflete o contexto socioeconômico e cultural da cidade e do Estado do Amapá, que, como grande parte da Região Norte do Brasil, enfrenta desafios relacionados às desigualdades sociais, econômicas e educacionais. Esta capital, apresenta um panorama de desenvolvimento desigual, com áreas urbanas mais avançadas convivendo com regiões periféricas que ainda carecem de infraestrutura e acesso a serviços básicos. Esse cenário é refletido na EJA, que atende uma população diversa, composta por jovens e adultos que, por diversos motivos, não conseguiram concluir a educação básica na idade regular.
O perfil dos alunos é bastante heterogêneo, abrangendo indivíduos de diferentes faixas etárias e com trajetórias educacionais distintas. Muitos estudantes vêm de famílias de baixa renda, enfrentando dificuldades como o desemprego, a falta de acesso a serviços de saúde e a precariedade do transporte público. Essa realidade social está diretamente associada às altas taxas de analfabetismo funcional, o que impacta não só a vida dos educandos, mas também sua capacidade de participação efetiva no mercado de trabalho e na sociedade.
Nos últimos anos, houve uma ampliação do acesso à educação, mas ainda há lacunas estruturais significativas, como a escassez de recursos nas escolas públicas e a falta de formação continuada para os professores. Muitas escolas carecem de materiais didáticos adequados, o que limita as possibilidades de ensino e aprendizagem, especialmente nas modalidades voltadas à educação de jovens e adultos. Além disso, a evasão escolar é um fenômeno recorrente, devido à dificuldade de conciliar estudo, trabalho e outras responsabilidades familiares, características comuns da população atendida.
Por outro lado, a diversidade cultural, com influências indígenas, afro-brasileiras e nordestinas, é um elemento importante a ser considerado. Os alunos da cidade trazem uma rica bagagem cultural, que pode ser utilizada como um recurso pedagógico valioso no ensino de leitura e outras disciplinas. Esse repertório cultural, muitas vezes negligenciado nas abordagens tradicionais de ensino, pode ser valorizado na EJA, contribuindo para uma aprendizagem mais significativa e conectada com a realidade dos estudantes.
2. Políticas públicas e sua influência na modalidade EJA.
As políticas públicas desempenham um papel fundamental na Educação de Jovens e Adultos (EJA), influenciando diretamente sua qualidade e eficácia. Sua influência pode ser observada em diversos aspectos, como o financiamento, a formação de professores, a inclusão de conteúdos pedagógicos adaptados e o apoio à permanência dos alunos nesse tipo de educação.
Embora tenha havido avanços ao longo dos anos, muitas instituições de ensino ainda enfrentam desafios relacionados a essas questões, tanto nos níveis federal, estadual e municipal, existe um peso que pode influenciar diretamente a realidade educacional, criando condições que favoreçam a inclusão, a permanência e o sucesso dos estudantes.
Segundo Saviani (2018), as normas devem ser vistas como parte de um movimento maior de democratização. O autor destaca que, apesar dos avanços, persiste uma resistência da sociedade, que, muitas vezes, encara esse processo como uma “educação de segunda classe”.
Do ponto de vista desse estudioso, todo o arcabouço político, deve levar em conta a implementação de ações pedagógicas específicas a serem atendidas por este programa, que inclui não apenas a educação básica como uma ponte de transformação social que assegure um ensino crítico e inclusivo, capaz de promover a emancipação desses educandos.
Ainda, de acordo com Saviani (2018), o ordenamento público pode ampliar o acesso à educação, por meio da criação de programas de incentivo, como a oferta de vagas, transporte escolar, horários flexíveis e a adaptação de currículos que atendam à diversidade existente dentro das salas de aulas.
Essas ações não apenas ampliam o acesso à educação, mas também favorecem a permanência dos estudantes na escola, dada toda a estruturação necessária para oferecer essas condições, cria-se um ambiente mais acolhedor e favorável ao aprendizado, aumentando as chances de sucesso e, consequentemente, contribuindo para a redução das desigualdades educacionais e sociais
Na mesma linha, Ferreiro (2019) discute que para que o ensino de leitura e escrita seja eficaz, é essencial priorizar a formação continuada dos professores e o fornecimento de recursos pedagógicos adequados, e para isto, é necessário que haja apoio governamental.
A autora argumenta que o processo de ensino aprendizagem, não deve ser vista apenas como um “resgate” da educação, mas como um espaço onde os alunos, independentemente da idade, possam desenvolver competências cognitivas e críticas. Para isso, é necessário a padronização de selos, como a valorização da cultura local e a implementação de materiais que conectem o conteúdo acadêmico à realidade cotidiana desses aprendizes.
Em concordância a isto, Soares (2016), enfatiza que a eficácia das políticas públicas na EJA depende de um planejamento que integre a realidade dos alunos com os objetivos pedagógicos da modalidade, ou seja, equilibrar a flexibilidade curricular com a necessidade de alfabetização funcional, sempre considerando o contexto social e cultural dos estudantes.
A proposta de equilibrar a flexibilidade curricular com a necessidade de alfabetização funcional é fundamental. Na EJA, muitos alunos não se encontram no ciclo tradicional de ensino, o que exige que o currículo seja adaptado para atender a suas especificidades. A flexibilidade curricular, nesse sentido, permite que o ensino se ajuste à diversidade de tempos, ritmos e formas de aprendizagem dos estudantes, respeitando, assim, as diferentes vivências e trajetórias de vida dos educandos.
A autora também destaca a importância de um trabalho pedagógico que leve em conta as experiências de vida dos alunos, propondo uma educação significativa que ajude os estudantes a perceberem a leitura e a escrita como ferramentas essenciais para sua autonomia e participação na sociedade. Ela defende ainda a implementação de políticas que promovam o fortalecimento da EJA em todas as esferas — municipal, estadual e federal — criando uma rede de apoio integrada que envolva gestores, professores e as comunidades atendidas.
Portanto, as políticas públicas exercem uma enorme influência na EJA, sendo determinantes para a qualidade e eficácia do ensino oferecido. Os estudos de Saviani, Ferreiro e Soares apontam para a necessidade de um compromisso mais profundo com a inclusão e a qualidade da educação para jovens e adultos, destacando a importância de uma pedagogia que valorize o contexto social e cultural dos alunos e de ações que garantam os recursos necessários para a implementação de um ensino transformador e emancipador.
2.1. O Ensino de Leitura na EJA
A leitura na Educação de Jovens e Adultos (EJA) é essencial para o desenvolvimento crítico e para a formação de cidadãos que participam de maneira ativa e transformadora na sociedade. A leitura não deve ser entendida apenas como um processo de decodificação de palavras, mas como uma prática que envolve a compreensão, interpretação e reflexão sobre as diversas realidades sociais, culturais e políticas ao redor.
O especialista Souza (2017) destaca que essa ferramenta é fundamental para a conscientização dos sujeitos, proporcionando a eles meios de questionar as estruturas sociais e buscar a transformação de sua realidade. Nesse sentido, o ensino da leitura contribui diretamente para o desenvolvimento de uma postura crítica e autônoma por parte dos alunos, ampliando sua capacidade de análise e de inserção em contextos sociais mais amplos.
Essa contribuição é voltada diretamente para o desenvolvimento de habilidades acadêmicas, mas também promove uma postura crítica que é essencial para a cidadania plena. Ao adquirir essa capacidade, os alunos tornam-se mais aptos a questionar as estruturas sociais que perpetuam a desigualdade, ampliando seu protagonismo em suas comunidades e no exercício de seus direitos.
Outro importante processo é o de letramento, que não deve se limitar ao domínio da leitura e da escrita, mas envolve a apropriação de práticas sociais que envolvem essas habilidades, com o objetivo de promover a participação cidadã. O letramento, como aponta Soares (2016), está intimamente ligado ao contexto de vida dos alunos, pois vai além da simples aquisição de habilidades formais, promovendo uma educação que respeita e integra as experiências pessoais e sociais de cada indivíduo.
Dessa forma, a compreensão de textos se configura como um meio para a construção de um olhar crítico sobre a sociedade e para a conquista de uma cidadania plena, permitindo aos alunos da EJA expressar suas opiniões, refletir sobre questões sociais e políticas, e, por fim, provocar mudanças significativas em suas vidas.
Para Lima (2021) a interpretação no contexto educacional da EJA deve ser entendida como uma ação formativa e emancipadora, pois ao proporcionar acesso ao conhecimento e à cultura, ela permite ao aluno não só entender o mundo ao seu redor, mas também atuar sobre ele.
2.2. O papel da leitura no desenvolvimento crítico e cidadão.
A leitura desempenha um papel central no desenvolvimento crítico e cidadão, especialmente no contexto do EJA. De acordo com Freire (1996), a prática desse método deve ir além da simples decodificação de palavras, permitindo que os sujeitos compreendam o mundo e se posicionem de maneira crítica diante dele. Nesse sentido, ela é uma ferramenta essencial para a construção da autonomia dos alunos da EJA, ampliando sua capacidade de reflexão e sua inserção em debates sociais.
O estudioso Souza (2017) complementa que o ensino do exame textual possibilita aos estudantes questionar as estruturas sociais que os envolvem, promovendo o exercício da cidadania. Essa prática, quando contextualizada, contribui para que os educandos compreendam suas realidades e busquem transformá-las, consolidando o papel de instrumento de inclusão e justiça social.
A contextualização do ensino torna o aprendizado mais significativo, permitindo que os educandos reconheçam sua realidade e atuem para modificá-la. Essa perspectiva dialoga com os princípios da pedagogia crítica, especialmente com Paulo Freire, que defendia a educação como um ato libertador.
Essa abordagem crítica aliada à mediação pedagógica, permite aos alunos participarem ativamente de sua comunidade e ampliarem suas oportunidades de atuação na sociedade.
Além disso, Soares (2016) reforça que o processo de aquisição de conhecimento prático não pode ser visto apenas como uma habilidade técnica, mas como uma prática cultural que potencializa a participação cidadã. Para a autora, a alfabetização, quando integrada ao letramento, expande a capacidade do indivíduo de interagir de maneira plena com os diferentes contextos sociais e culturais, promovendo sua autonomia e senso crítico.
Essa perspectiva reforça a ideia de que a educação é um instrumento essencial para a participação cidadã, pois permite que os indivíduos se posicionem criticamente diante da realidade e atuem de forma autônoma em diferentes contextos. A concepção da alfabetização integrada ao letramento dialoga com abordagens que defendem a educação como meio de empoderamento e inclusão social.
Ou seja, diante desse cenário, a educação, ao ser entendida como prática cultural, não deve se limitar ao aprendizado de técnicas, mas sim abranger uma compreensão crítica do mundo, incentivando a transformação social.
Nos apontamentos de Morais (2015) deve ser abordada de forma que dialogue com as vivências e saberes dos alunos, respeitando suas trajetórias de vida. Segundo o autor, ao se reconhecerem nos textos e nas práticas pedagógicas, os estudantes sentem-se valorizados e motivados a se engajarem no processo de aprendizagem, o que contribui diretamente para a sua formação como cidadãos críticos.
Ao promover esse reconhecimento, a escola não apenas fortalece a autoestima e o engajamento dos alunos, mas também os incentiva a desenvolverem uma postura crítica e participativa na sociedade. Dessa forma, a educação se torna um meio de valorização das identidades e de promoção da cidadania ativa.
Nas observações de Oliveira (2018) essa dinâmica de aprendizagem é um elemento transformador, capaz de empoderar os indivíduos ao proporcionar-lhes instrumentos para interpretar e transformar a sociedade. No contexto da EJA, essa prática deve ser entendida como uma ação política e pedagógica que promove não apenas o aprendizado técnico, mas também a emancipação social e cultural dos educandos.
Ao compreender a EJA como uma ação política e pedagógica, reforça-se a necessidade de metodologias que valorizem a vivência dos educandos, promovendo não apenas a alfabetização, mas também o fortalecimento de sua autonomia e participação cidadã. Essa visão dialoga diretamente com os princípios de Paulo Freire, que defendia a educação como um instrumento de libertação e transformação da realidade.
Autor | Principais Ideias |
Paulo Freire (1996) | A leitura deve ir além da decodificação de palavras, permitindo a compreensão crítica do mundo e o posicionamento ativo dos sujeitos. A educação é um ato libertador. |
Souza (2017) | O ensino do exame textual possibilita questionar as estruturas sociais e promove a cidadania. A contextualização do ensino torna o aprendizado mais significativo e um instrumento de inclusão e justiça social. |
Soares (2016) | O conhecimento prático deve ser visto como uma prática cultural que potencializa a participação cidadã. A alfabetização integrada ao letramento expande a autonomia e o senso crítico dos indivíduos. |
Morais (2015) | A educação deve dialogar com as vivências dos alunos, respeitando suas trajetórias. O reconhecimento dos educandos nas práticas pedagógicas fortalece sua autoestima e engajamento, promovendo a cidadania ativa. |
Oliveira (2018) | A aprendizagem é um elemento transformador que empodera os indivíduos e permite a interpretação e transformação da sociedade. No contexto da EJA, deve ser uma ação política e pedagógica para a emancipação social e cultural dos educandos. |
2.3. Diferenças entre alfabetização e letramento na EJA.
No contexto da EJA, é essencial diferenciar alfabetização e letramento, conceitos que, embora relacionados, possuem significados distintos e complementares. De acordo com Soares (2016), a alfabetização refere-se ao aprendizado do sistema alfabético de escrita, ou seja, à aquisição das habilidades técnicas de ler e escrever. Já o letramento abrange um conjunto mais amplo de práticas sociais de leitura e escrita, em que o indivíduo utiliza esses conhecimentos em diferentes contextos para interagir e transformar o mundo ao seu redor.
Compreender a diferença entre alfabetização e letramento ajuda a perceber que aprender a ler e escrever vai além do domínio técnico das letras. É importante reconhecer como essas habilidades são usadas no dia a dia, seja no trabalho, na comunidade ou em outras situações da vida, tornando a aprendizagem mais significativa e conectada com a realidade dos alunos.
Segundo Arroyo (2019) muitos alunos chegam às salas de aula já inseridos em contextos nos quais a leitura e a escrita desempenham papeis fundamentais, como no trabalho e na comunidade. Assim, o processo educativo deve ir além da alfabetização, promovendo o letramento como forma de empoderamento social e cultural.
Essa perspectiva é essencial para respeitar as experiências e os saberes prévios dos educandos, fortalecendo o protagonismo no processo de aprendizagem. A ideia apresentada acima, condicionar para o condicionamento de um processo de ensino aprendizagem que supere as expectativas que os alunos já conhecem.
Conforme Kleiman (2020) reforça que o letramento é uma prática social que deve ser compreendida em sua diversidade, considerando as realidades específicas de cada grupo. Esse conceito permite um ensino mais contextualizado, voltado para as necessidades reais dos alunos, promovendo o uso crítico da leitura e da escrita como ferramentas para a transformação social.
O letramento como prática social faz sentido porque cada grupo tem uma forma específica de usar a leitura e a escrita no dia a dia. Esse olhar ajuda a tornar o ensino mais próximo da realidade dos alunos, facilitando o uso da leitura e da escrita como ferramentas para melhorar suas condições de vida.
Nos apontamentos de Brandão (2018) ao integrar alfabetização e letramento, os educadores podem favorecer um ensino que valorize tanto a técnica quanto a aplicação prática desses conhecimentos.
Ele ressalta que a alfabetização é um passo inicial, mas que o letramento é o que possibilita a plena participação do indivíduo nos diferentes âmbitos da sociedade. A relação entre alfabetização e letramento mostra que aprender a ler e escrever é apenas o começo. O mais importante é conseguir usar esse conhecimento nas diferentes situações do cotidiano, como no trabalho e na participação social, tornando o aprendizado mais útil e significativo.
Nas concepções de Cavalcante (2017) argumenta-se que o letramento deve ser priorizado na EJA como uma estratégia para romper com a exclusão social. Segundo o autor, trabalhar com práticas letradas contextualizadas permite que os alunos compreendam seu papel como agentes transformadores e fortaleçam sua autonomia.
Quando o letramento é trabalhado na EJA, ele pode ajudar a reduzir a exclusão social, pois permite que os alunos entendam melhor sua própria realidade e consigam se posicionar de forma mais ativa na sociedade. Dessa maneira, a aprendizagem se torna um instrumento de transformação para cada estudante.
Por fim, Batista (2023) destaca que a integração entre alfabetização e letramento contribui para que os alunos da EJA não apenas dominem o código escrito, mas também compreendam os significados sociais e culturais da linguagem, permitindo-lhes atuar de maneira mais efetiva no mundo contemporâneo.
A integração entre alfabetização e letramento na EJA possibilita que os alunos não apenas aprendam a decifrar palavras, mas também entendam seus usos sociais. Isso pode ajudá-los a lidar melhor com diferentes situações do dia a dia, ampliando sua participação no mundo atual.
3. A leitura como ferramenta de inclusão social e transformação.
A leitura na Educação de Jovens e Adultos (EJA) é reconhecida como uma ferramenta indispensável para a inclusão social e a transformação de realidades. Conforme Martins (2022), o acesso a ela permite que os indivíduos compreendam os mecanismos que perpetuam a exclusão social, desenvolvendo estratégias para superá-los. Esse processo de conscientização promove mudanças significativas tanto no âmbito individual quanto coletivo, uma vez que o educando passa a ocupar espaços de decisão e representação em sua comunidade.
Tomada como ferramenta para inclusão social e transformação de realidades é fundamental na EJA, pois possibilita que os alunos compreendam melhor as estruturas que influenciam suas vidas. Dessa forma, a educação se torna um meio para ampliar o acesso a novas oportunidades e para fortalecer sua participação na sociedade.
Nessa linha, Freire (1996) argumenta que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra” e que, ao compreenderem sua realidade, os sujeitos tornam-se capazes de transformá-la. Essa perspectiva ganha relevância ao considerar a diversidade de contextos e histórias de vida dos estudantes, reforçando a importância de metodologias que dialoguem com suas experiências e necessidades.
A ideia de que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra” faz sentido, pois cada aluno já possui um conhecimento prévio baseado em suas experiências de vida. Quando o ensino leva isso em consideração, a aprendizagem se torna mais significativa e conectada com a realidade dos educandos.
De acordo com Arroyo (2019), a leitura, no contexto da EJA, é mais que um processo técnico; é uma prática de emancipação. Ele afirma que o aprendizado da leitura permite aos educandos uma interação mais ativa com o mundo, possibilitando sua inserção social e a luta por direitos. Essa prática pedagógica valoriza o sujeito como protagonista de sua história e fortalece o papel da educação como instrumento de cidadania.
Vista como prática de emancipação mostra que aprender a ler não é apenas dominar um código, mas se tornar mais ativo na sociedade. Isso ajuda os alunos a compreenderem melhor seus direitos e deveres, fortalecendo sua autonomia e participação social.
Para Kleiman (2020) essa prática deve estar contextualizada nas vivências dos estudantes. Isso significa abordar textos e materiais que reflitam as realidades dos educandos, favorecendo a identificação e a reflexão crítica. Segundo a autora, esse processo cria possibilidades de transformação não apenas no campo educacional, mas também nos âmbitos social, político e cultural.
Trabalhar com textos que refletem a realidade dos alunos torna a leitura mais próxima de suas vivências. Isso facilita a identificação e a reflexão crítica, ajudando-os a aplicar esse conhecimento no seu cotidiano e a entender melhor as questões sociais ao seu redor.
Acrescentado ainda Soares (2016) que o cumprimento desse papel integrador, será preconizado ao promover a participação dos indivíduos em práticas sociais das quais estavam previamente excluídos. Para a autora, a leitura contribui para a inclusão social ao fornecer ferramentas para que os educandos interpretem o mundo ao seu redor, rompendo barreiras e ampliando suas oportunidades.
A leitura como prática integradora na EJA é importante porque permite que os alunos participem mais ativamente de diferentes situações sociais. Isso amplia as possibilidades de interação e contribui para a inclusão, tornando o aprendizado mais útil para o dia a dia.
Por fim, Batista (2023) ressalta que a leitura na EJA deve ser mediada de forma dialógica, permitindo que os educandos reflitam sobre sua condição social e se percebam como agentes transformadores. Essa abordagem estimula a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva, em que a educação exerce um papel central na transformação das estruturas de exclusão.
A mediação dialógica da leitura ajuda os alunos a refletirem sobre sua condição social e perceberem como podem atuar na transformação de sua realidade. Essa abordagem torna a educação um processo mais participativo e relevante para cada estudante.
3.1. Desafios e Potencialidades do Ensino de Leitura na EJA
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) enfrenta uma série de desafios e potencialidades no que diz respeito ao ensino da leitura, refletindo as particularidades dessa modalidade educacional. A seguir, serão abordados os principais pontos que contribuem para o sucesso ou para as dificuldades encontradas nesse processo.
3.2. Heterogeneidade das turmas: idades, níveis de escolarização e experiências de vida
A diversidade nas turmas da EJA, com idades variadas, diferentes níveis de escolarização e experiências de vida distintas, constitui um dos maiores desafios para os educadores. Segundo Silva (2021), essa heterogeneidade exige uma didática personalizada que considere as necessidades e realidades dos alunos, promovendo um ensino mais inclusivo e adaptado. Além disso, os autores ressaltam que a personalização do ensino pode ser realizada por meio de atividades diferenciadas, que respeitem o ritmo e a bagagem de cada educando.
Em sala de aula, cada aluno tem uma história diferente e aprende de uma forma própria. Ter atividades adaptadas ajuda todos a acompanharem o conteúdo sem ficarem desmotivados.
De acordo com Santos (2022), a EJA deve adotar metodologias que respeitem a pluralidade de saberes dos alunos, possibilitando que esses diferentes conhecimentos se integrem ao processo de aprendizagem. A troca de experiências entre os estudantes, muitas vezes vindos de realidades diversas, é um recurso pedagógico valioso que favorece a construção coletiva do conhecimento.
A utilização de estratégias como rodas de conversa e relatos orais pode tornar o ensino mais significativo e contextualizado. Quando os alunos compartilham suas vivências, o aprendizado se torna mais interessante. Cada um traz um conhecimento que complementa o do outro, tornando a aula mais dinâmica.
Já Ferreira, Nogueira e Batista (2023) ressaltam que um dos principais desafios para os professores da EJA é equilibrar a diversidade de níveis de escolarização dentro da mesma turma. Para isso, é fundamental que o planejamento pedagógico inclua atividades com diferentes graus de complexidade, permitindo que todos avancem no processo de aprendizagem sem se sentirem excluídos. Além disso, o uso de materiais adaptados e a valorização dos saberes prévios dos alunos podem contribuir para tornar o ensino mais acessível e motivador.
É importante que os professores consigam equilibrar as atividades para que ninguém se sinta atrasado ou desmotivado. Quando há esse cuidado, todos conseguem aprender juntos, respeitando suas dificuldades e avanços.
A diversidade nas turmas da EJA, com idades variadas, diferentes níveis de escolarização e experiências de vida diversas, constitui um dos maiores desafios para os educadores. Silva (2020) aponta que essa heterogeneidade exige uma didática personalizada que considere as necessidades e realidades dos alunos, promovendo um ensino inclusivo. De acordo com Cruz (2023), a EJA deve adotar metodologias que respeitem a pluralidade de saberes dos alunos, possibilitando que esses diferentes conhecimentos se integrem ao processo de aprendizagem, favorecendo a construção coletiva do saber.
3.3. Limitações estruturais e recursos pedagógicos na escola pública
As dificuldades relacionadas à infraestrutura das escolas públicas, como a escassez de recursos didáticos e materiais pedagógicos, são amplamente discutidas por Pereira (2019). Ela defende que, apesar das limitações materiais, os educadores podem utilizar a criatividade e os recursos disponíveis, como textos orais, trabalhos comunitários e atividades práticas, para engajar os alunos na leitura. Esses métodos permitem que os alunos se envolvam no processo de aprendizagem de forma mais dinâmica, mesmo sem a presença de materiais convencionais.
Quando a escola não tem os materiais, o professor pode usar as coisas simples do dia a dia, como histórias contadas ou atividades práticas, o que ajuda muito a aprender de outra forma.
Além disso, Oliveira (2018) sugere que é fundamental que as políticas públicas se voltem para o financiamento adequado da EJA, garantindo que os estudantes tenham acesso a uma educação de qualidade, com os recursos pedagógicos necessários para o desenvolvimento de suas competências leitora e crítica. O investimento em materiais como livros, tecnologia e espaços adequados é essencial para que o ensino seja eficaz e possa atender às necessidades dos educandos.
Se a escola tivesse mais recursos, seria possível aprender de maneiras mais variadas e interessantes, com mais materiais e recursos tecnológicos que ajudassem a entender melhor os conteúdos.
De acordo com Santos (2022), a infraestrutura precária das escolas públicas na EJA pode prejudicar o desenvolvimento do aprendizado, dificultando o acesso dos alunos aos recursos que favorecem uma educação mais completa e crítica. A criação de programas de apoio à educação básica e ao financiamento de materiais adequados é necessária para garantir que a EJA ofereça uma educação de qualidade, proporcionando um ambiente favorável ao aprendizado.
Embora o ensino seja importante, a estrutura da escola também ajuda muito no aprendizado. Se tivesse mais recursos, seria mais fácil aprender e até se sentir mais motivado para estudar.
Por fim, Souza (2017) argumenta que a formação contínua dos professores é uma das formas de contornar as limitações estruturais e pedagógicas. Eles sugerem que, além de buscar apoio de políticas públicas, as escolas devem incentivar a troca de experiências e capacitação dos educadores, para que, com criatividade, possam adaptar os recursos disponíveis e atender melhor aos alunos.
Quando os professores têm mais treinamentos, eles conseguem usar melhor o que têm disponível, adaptando as atividades de forma que todos aprendam, mesmo com pouca infraestrutura.
3.4. Estratégias pedagógicas para superar os desafios
Para superar os desafios impostos pela heterogeneidade e as limitações de recursos, Lima (2021) afirma que a utilização de metodologias ativas, como debates, rodas de leitura e análise de textos críticos, é uma excelente estratégia na EJA. Essas práticas são particularmente eficazes em contextos de ensino onde os alunos já possuem experiências de vida e conhecimentos prévios que podem ser explorados para aprofundar a compreensão dos textos. do aluno:
Essas metodologias auxiliam na aplicação do conhecimento prévio para uma melhor compreensão. Debates e rodas, por exemplo, permitem que o educando se envolva mais com o conteúdo, proporcionando a oportunidade de compartilhar suas experiências e pontos de vista.
Do ponto de vista de Melo (2022) a importância de integrar práticas críticas no currículo da EJA, permite que os alunos desenvolvam habilidades de reflexão e análise do mundo ao seu redor.
Na análise do autor, é fundamental questionar o que se lê. Ao refletir sobre os textos, compreendemos melhor a realidade ao nosso redor e desenvolvemos um olhar mais crítico e consciente sobre nosso papel na sociedade.
Além disso, Costa (2024) sugere que a adoção de projetos interdisciplinares também pode ser uma ferramenta poderosa, pois amplia o leque de temas e engaja os alunos em diferentes áreas do conhecimento, conectando suas vivências com conteúdos acadêmicos.
A ideia de trabalhar com projetos interdisciplinares é interessante porque nos ajuda a conectar o que aprendemos na escola com o que vivemos no nosso dia a dia. Isso torna o aprendizado mais interessante e útil para a vida real.
Pereira (2023) complementa essa visão ao afirmar que é essencial criar espaços de aprendizagem colaborativa, onde os alunos possam compartilhar saberes e aprender uns com os outros, o que favorece um ambiente de respeito mútuo e troca de experiências.
É muito importante essa troca de experiências. Quando aprendemos juntos, conseguimos ver diferentes perspectivas e nos sentimos mais respeitados e valorizados, o que nos motiva a aprender mais e participar ativamente das aulas.
4. Práticas Pedagógicas no Ensino de Leitura: A Perspectiva dos Professores
O ensino de leitura na Educação de Jovens e Adultos (EJA) envolve diversas estratégias pedagógicas que visam desenvolver as competências leitoras dos alunos de maneira crítica e contextualizada. A seguir, serão discutidas as práticas adotadas pelos professores, considerando os métodos e abordagens mais eficazes no ensino para esse público.
4.1. Metodologias utilizadas: uso de textos variados e contextualizados
No ensino da leitura, é fundamental que os textos utilizados sejam variados e estejam contextualizados com a realidade dos alunos. Freire (1996) já apontava a importância de partir da realidade concreta dos estudantes para promover um ensino significativo e transformador. Na EJA, os professores adotam textos que dialogam com a experiência de vida dos alunos, como notícias, poesias, crônicas e até textos informativos relacionados ao cotidiano dos educandos, buscando conectar o aprendizado à prática e à vivência social desses sujeitos. Santos (2022) afirma que a utilização de textos da atualidade, que tratam de questões sociais, culturais e políticas, torna o processo de aprendizagem mais relevante, permitindo que o aluno se aproprie dela não apenas como técnica, mas como forma de intervenção no mundo.
4.2. Valorização do repertório cultural dos alunos
A valorização do repertório cultural dos alunos é uma prática pedagógica essencial na EJA. Os educadores reconhecem que cada aluno chega à sala de aula com um vasto conhecimento adquirido ao longo de sua trajetória de vida, seja por meio de sua vivência familiar, comunitária ou profissional.
Conforme estudos de Arroyo (2019) destaca que a EJA deve ser um espaço de reconhecimento e respeito às histórias de vida e aos saberes prévios dos alunos. Para isso, os professores incentivam a troca de experiências e promovem atividades que integrem o conteúdo escolar com as vivências culturais dos educandos, utilizando, por exemplo, músicas, causos, narrativas orais e outros elementos culturais como ferramentas para a construção de significados.
A aplicação dessas projeções torna o aprendizado mais significativo, pois permite que os alunos utilizem seus conhecimentos prévios para construir novos saberes. A troca de experiências ajuda a criar um ambiente onde o conhecimento é compartilhado de forma natural, respeitando a trajetória de cada um.
Quando o conhecimento acadêmico dialoga com a cultura e as vivências dos alunos, o aprendizado se torna mais prático e aplicável ao dia a dia. Isso faz com que a leitura e a escrita tenham mais sentido, ajudando os estudantes a se reconhecerem no processo educativo e a desenvolverem uma relação mais próxima com o aprendizado.
Além disso, Oliveira (2018) enfatiza que a aprendizagem significativa na EJA ocorre quando o conhecimento acadêmico dialoga com a cultura e os saberes empíricos dos alunos. O autor argumenta que estratégias pedagógicas que consideram a experiência do educando promovem um ensino mais contextualizado, o ler e o escrever ganham sentido no cotidiano. Dessa forma, os estudantes conseguem estabelecer relações entre o que aprendem e suas vivências, tornando-se protagonistas do próprio aprendizado.
Para Santos (2022), o reconhecimento das identidades culturais na EJA também favorece o desenvolvimento da autoestima dos alunos. Muitos educandos dessa modalidade de ensino enfrentam dificuldades de acesso e permanência na escola, e a valorização de sua cultura dentro do espaço escolar contribui para fortalecer seu vínculo com o aprendizado. O autor aponta que metodologias ativas, como rodas de conversa e projetos interdisciplinares, podem ser aplicadas para explorar a diversidade cultural dos estudantes e incentivar a troca de saberes entre eles.
O reconhecimento das identidades culturais na EJA fortalece o vínculo dos alunos com a escola e pode contribuir para a construção da autoestima. Métodos como rodas de conversa e projetos interdisciplinares permitem que cada estudante compartilhe seu conhecimento e perceba sua importância dentro do grupo, tornando o aprendizado mais inclusivo e participativo.
Já Lima (2021) destaca a importância da oralidade como elemento estruturante na valorização do repertório cultural dos alunos da EJA. Segundo o autor, muitos desses educandos possuem uma forte tradição oral em suas comunidades, e a escola pode utilizar essa característica para potencializar o ensino. Relatos de vida, histórias regionais e experiências de trabalho são exemplos de conteúdos que podem ser incorporados às práticas pedagógicas, contribuindo para um aprendizado mais dinâmico e participativo.
A oralidade é um recurso importante na EJA porque muitos alunos possuem uma forte tradição oral em suas comunidades. Incorporar relatos de vida e histórias regionais ao ensino ajuda a conectar com as experiências reais dos estudantes, tornando o aprendizado mais envolvente e acessível.
A valorização do repertório cultural na EJA ajuda a tornar o ensino mais próximo da realidade dos alunos, pois permite que suas experiências sejam reconhecidas como parte fundamental do processo de aprendizagem.
4.3. Incentivo à produção textual e à leitura crítica
O incentivo à produção textual é uma das estratégias mais eficazes para o desenvolvimento da leitura crítica na EJA. Ao escrever, os alunos não apenas aplicam as habilidades, mas também exercem sua capacidade de argumentação e reflexão sobre a realidade que os cerca. De acordo com Silva (2021), a escrita permite que o aluno expresse sua visão de mundo e elabore seu pensamento de maneira estruturada, fortalecendo sua autonomia no aprendizado. Além disso, a prática da escrita auxilia na consolidação da alfabetização e do letramento, promovendo o desenvolvimento da criticidade.
A escrita é uma forma de o aluno organizar seus pensamentos e expressar suas ideias de maneira mais clara. Isso também ajuda a perceber diferentes pontos de vista e a construir um raciocínio mais crítico sobre o que acontece ao seu redor.
Além disso, Martins (2022) afirma que a leitura e a escrita devem estar interligadas, permitindo que o aluno se torne autor de seus próprios textos e se aproprie da linguagem como ferramenta de expressão. A produção de textos na EJA deve estar alinhada às vivências dos alunos, para que o aprendizado seja significativo e contextualizado. Dessa forma, os educandos não apenas desenvolvem a competência linguística, mas também se reconhecem como sujeitos ativos na comunicação e na construção do conhecimento.
Quando os alunos escrevem sobre suas próprias experiências, eles conseguem se expressar melhor e relacionar o conteúdo aprendido com sua realidade. Isso torna o aprendizado mais interessante e próximo do cotidiano.
Nas ilustrações de Lima (2021) há uma grande importância de fomentar uma leitura crítica, na qual os alunos são incentivados a questionar as informações apresentadas nos textos e refletir sobre os contextos sociais e políticos. Essa prática estimula a autonomia intelectual dos estudantes e contribui para que desenvolvam uma postura reflexiva diante das informações que consomem diariamente, seja na escola, na mídia ou em outros espaços sociais.
É importante aprender a questionar os textos que lemos, pois nem tudo o que está escrito reflete a realidade de forma neutra. Quando conseguimos interpretar criticamente, ficamos mais preparados para entender melhor o mundo e tomar decisões com mais consciência.
A prática da leitura crítica permite que os educandos se tornem mais conscientes e participativos no processo social. De acordo com Batista (2023), ela deve ser trabalhada como uma ferramenta para a emancipação social, ajudando os estudantes a compreenderem seus direitos e deveres na sociedade. Além disso, essa abordagem possibilita que os alunos desenvolvam um olhar mais atento sobre as desigualdades e os desafios do cotidiano, incentivando sua atuação cidadã.
Quando aprendemos a interpretar os textos de maneira crítica, percebemos melhor os desafios da sociedade e como podemos agir para transformar a nossa realidade. A leitura deixa de ser apenas uma atividade escolar e passa a ser um instrumento de mudança.
4.4. Experiências exitosas no ensino de leitura na EJA
Existem diversas experiências exitosas no ensino de leitura na EJA, que demonstram como a prática pedagógica pode ser transformadora quando adaptada às necessidades e realidades dos alunos. Segundo Martins (2023), projetos que utilizam textos jornalísticos, filmes e debates sobre temas atuais são eficazes para estimular a reflexão crítica e ampliar a compreensão dos alunos sobre questões sociais, como desigualdade, discriminação e direitos humanos. Além disso, esses métodos tornam a mais envolvente, pois aproximam os conteúdos escolares das vivências dos estudantes, incentivando seu protagonismo e participação ativa na construção do conhecimento.
Quando a leitura envolve temas do nosso dia a dia, ela se torna mais interessante e significativa. É mais fácil entender um texto quando conseguimos relacioná-lo com nossas experiências e preocupações.
O especialista Santos (2022) destaca a importância de métodos de ensino colaborativo, nos quais os alunos são incentivados a compartilhar suas próprias histórias e conhecimentos, enriquecendo o processo de aprendizagem com a diversidade de perspectivas. Essa abordagem permite que os educandos se sintam valorizados e reconhecidos dentro do ambiente escolar, fortalecendo sua autoestima e motivação para aprender. Além disso, a troca de experiências entre os alunos amplia seu repertório cultural e favorece o aprendizado coletivo.
O aprendizado fica mais rico quando podemos trocar ideias e contar nossas histórias. A sala de aula se torna um espaço onde todos ensinam e aprendem ao mesmo tempo.
Outro aspecto essencial é a adaptação das metodologias às especificidades. De acordo com Carvalho, Mendes e Batista (2023), estratégias como rodas, dramatizações e uso de literatura regional ajudam a despertar o interesse dos alunos e a tornar uma atividade prazerosa. Essas práticas favorecem a aproximação entre o conteúdo escolar e a cultura dos educandos, tornando o processo de alfabetização e letramento mais acessível e significativo.
Métodos diferentes tornam a leitura mais envolvente. Nem todo mundo aprende do mesmo jeito, então ter opções como teatro e histórias regionais ajuda cada aluno a se conectar melhor com o conteúdo.
Nos aprofundamentos de Almeida (2024) a inclusão de temas da realidade dos alunos na seleção dos textos é um fator determinante para o sucesso da leitura na EJA. Trabalhar com histórias que refletem as vivências dos educandos tornam o aprendizado mais próximo e relevante, contribuindo para a construção de uma identidade leitora. Além disso, permite que os alunos desenvolvam senso crítico e ampliem sua visão de mundo por meio da literatura e de outros gêneros textuais.
Quando lemos algo relacionado à nossa realidade, conseguimos compreender melhor e refletir sobre nossa própria história. Isso torna a leitura mais significativa, indo além de uma simples obrigação escolar.
5. A Contribuição dos Referenciais Teóricos para o Ensino de Leitura na EJA
5.1. Paulo Freire e a pedagogia crítica: leitura como ato de libertação.
Paulo Freire é um dos principais referenciais teóricos no ensino de leitura na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Sua abordagem crítica propõe que além da simples decodificação de palavras, torna-se um instrumento para a compreensão e transformação da realidade. Segundo Freire (2019), a leitura do mundo precede a leitura da palavra, e ambos os processos se complementam, permitindo ao sujeito uma visão mais crítica e ativa sobre sua condição social.
Pesquisas recentes reforçam essa perspectiva. Para Silva (2021), a aplicação da pedagogia freirianas possibilita que os alunos desenvolvam autonomia e interpretação de textos diversos, fortalecendo sua participação social. Além disso, estudos indicam que práticas pedagógicas baseadas no diálogo e na problematização contribuem para que os estudantes construam conhecimento de maneira significativa e contextualizada.
A abordagem de Freire mostra que a leitura não deve ser vista apenas como uma habilidade técnica, mas como um processo que envolve a compreensão do mundo e a construção de sentido para os sujeitos que aprendem.
5.2. Emília Ferreiro e os processos de alfabetização.
Os estudos de Emília Ferreiro sobre a psicogênese da língua escrita trouxeram contribuições relevantes para o ensino. Ferreiro e Teberosky (2020) destacam que o processo de alfabetização não se dá de maneira linear, mas sim como uma construção ativa do sujeito, passando por estágios progressivos até atingir a compreensão plena do sistema.
Essa concepção é essencial, pois muitos alunos adultos apresentam hipóteses semelhantes às observadas em crianças em fase inicial de alfabetização.
Conforme aponta Costa (2024), entender esses processos auxilia os educadores a respeitar o ritmo e as estratégias individuais de aprendizagem dos alunos. O ensino de leitura, sob essa ótica, precisa ser planejado de maneira a considerar os conhecimentos prévios dos estudantes e suas interações com a escrita no cotidiano. Além disso, práticas pedagógicas que valorizam a experimentação e o erro como parte do processo de aprendizagem têm demonstrado impactos positivos na alfabetização de jovens e adultos.
A pesquisa de Ferreiro demonstra a importância de compreender as diferentes fases da alfabetização, garantindo que os alunos possam desenvolver suas competências leitoras de maneira mais eficiente.
5.3. Magda Soares e o conceito de letramento.
O conceito de letramento, desenvolvido por Magda Soares, tem grande relevância para a EJA, pois enfatiza que ser alfabetizado não significa, necessariamente, estar inserido nas práticas sociais de leitura e escrita. Soares (2019) argumenta que o ensino da leitura deve considerar as práticas letradas da sociedade, promovendo uma aprendizagem contextualizada e significativa.
Estudos recentes reforçam essa visão. De acordo com Lima (2021), a alfabetização de jovens e adultos deve ir além da decodificação, permitindo que os alunos utilizem a leitura em diferentes contextos da vida cotidiana, como no trabalho, na comunicação escrita e no acesso à informação. Os autores também apontam que estratégias pedagógicas baseadas no letramento, como a leitura de textos funcionais e o uso de materiais autênticos, são fundamentais para ampliar a participação dos estudantes da EJA nas práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita.
O conceito de letramento amplia a compreensão sobre a importância da leitura na EJA, ressaltando que o aprendizado deve ser voltado para o uso prático da escrita no cotidiano dos alunos.
6. Análise dos Dados Coletados
A coleta de dados foi realizada por meio de análise documental e revisão bibliográfica, com o objetivo de compreender as práticas pedagógicas adotadas no ensino de leitura na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Foram examinados documentos institucionais, diretrizes curriculares e materiais didáticos utilizados na modalidade, buscando identificar as abordagens pedagógicas e os desafios enfrentados pelos docentes.
Além disso, foi realizada uma revisão de literatura, com base em estudos que discutem o ensino da leitura na EJA, fundamentando a análise em referenciais teóricos como Paulo Freire, Emília Ferreiro e Magda Soares. A pesquisa priorizou textos acadêmicos, artigos científicos e relatórios educacionais recentes, permitindo uma reflexão sobre as metodologias aplicadas e suas implicações para o desenvolvimento dos alunos.
Dessa forma, a análise dos dados coletados baseia-se na interpretação dos materiais examinados, relacionando-os às discussões teóricas sobre a importância da leitura como instrumento de emancipação e inclusão social no contexto da EJA.
6.1. Percepções dos professores sobre o ensino de leitura na EJA
Os professores da EJA possuem uma visão multifacetada sobre o ensino de leitura, refletindo as particularidades de seus alunos, que frequentemente apresentam diferentes níveis de letramento. Muitos percebem que, apesar das dificuldades iniciais enfrentadas pelos alunos, o ensino da leitura na EJA pode ser transformador, oferecendo oportunidades para a aprendizagem contínua. Além disso, os educadores enfatizam a importância de abordar os textos de maneira contextualizada, utilizando exemplos que se relacionem com a vida cotidiana dos alunos, como notícias, contos e textos de interesse local.
6.2. Principais desafios relatados
Os desafios enfrentados pelos professores na EJA são variados, mas incluem principalmente a heterogeneidade dos alunos, que trazem diferentes experiências e níveis de escolaridade. A dificuldade de engajamento por parte de alunos que, muitas vezes, não tiveram experiências escolares anteriores satisfatórias, é outro desafio significativo. A escassez de recursos materiais e didáticos, assim como o tempo limitado para a aplicação de atividades mais dinâmicas, também são frequentemente citados.
6.3. Estratégias e práticas pedagógicas mais utilizadas e seus resultados
As estratégias pedagógicas mais comuns incluem o uso de textos adaptados, leitura compartilhada, rodas de leitura e atividades de leitura interativas. Estas práticas têm mostrado resultados positivos, pois permitem que os alunos se sintam mais confiantes ao interagir com o conteúdo de forma colaborativa e progressiva. Além disso, a utilização de recursos multimodais (como vídeos e podcasts) tem sido uma prática inovadora que contribui para a motivação e compreensão dos textos, ampliando as perspectivas de aprendizagem.
7. Propostas para o Fortalecimento do Ensino de Leitura na EJA
7.1. Sugestões para a formação continuada de professores
Para fortalecer o ensino de leitura na EJA, é essencial investir em programas de formação continuada que abordem as especificidades da educação de jovens e adultos, como a diversidade etária e a motivação para aprender. Propostas de capacitação devem incluir práticas pedagógicas diferenciadas, como o uso de tecnologias no ensino de leitura, e a formação de professores para atender a alunos com diferentes ritmos de aprendizagem e dificuldades cognitivas.
7.2. Políticas públicas e ações institucionais para apoio à EJA
É fundamental que as políticas públicas promovam a valorização dos professores da EJA, através de melhores salários e condições de trabalho, além de incentivos à formação continuada. A inclusão de materiais didáticos adequados à realidade dos alunos, que levam em conta a sua vivência e as suas necessidades, também é essencial. A criação de programas que possibilitem maior integração com outras formas de educação, como o Ensino a Distância (EAD), pode ser uma estratégia importante para ampliar o acesso e a qualidade do ensino.
7.3. Estratégias inovadoras e sustentáveis para o ensino de leitura
A introdução de novas tecnologias, como plataformas digitais de leitura e aplicativos interativos, pode ser uma maneira de tornar o ensino mais atraente e acessível. Estratégias que integrem o uso de mídias digitais, como blogs, redes sociais e podcasts, são formas inovadoras e sustentáveis que podem ser incorporadas ao processo de ensino de leitura, favorecendo a aprendizagem de forma lúdica e colaborativa. Além disso, é importante explorar leituras críticas e reflexivas, que promovam o senso de cidadania e emancipação dos alunos.
8. Considerações Finais
A pesquisa sobre o ensino de leitura na Educação de Jovens e Adultos (EJA) evidenciou os desafios enfrentados por professores e alunos, bem como a importância de estratégias pedagógicas que considerem as especificidades dessa modalidade de ensino. A diversidade de experiências e níveis de escolaridade dos alunos exige um olhar atento e adaptado por parte dos educadores, para que o processo de leitura seja significativo e acessível. A leitura, nesse contexto, não deve ser vista apenas como um aprendizado técnico, mas como um instrumento essencial para a construção da identidade, autonomia e cidadania dos estudantes.
As práticas pedagógicas que valorizam a contextualização dos textos e a interação entre os alunos, como a leitura compartilhada e atividades de leitura crítica, demonstram-se eficazes no desenvolvimento das habilidades leitoras. Ao integrar temas do cotidiano e incentivar a participação ativa dos estudantes, essas metodologias tornam o aprendizado mais dinâmico e envolvente. Além disso, o uso de recursos tecnológicos, como plataformas digitais e materiais audiovisuais, pode potencializar o ensino da leitura, tornando-o mais acessível e estimulante para os alunos da EJA.
No entanto, para que essas práticas sejam implementadas com sucesso, é fundamental que os professores tenham acesso a formação contínua e a materiais adequados para o trabalho em sala de aula. O fortalecimento de políticas públicas que incentivem a qualificação docente e a melhoria das condições estruturais das escolas pode contribuir significativamente para a efetividade do ensino de leitura na EJA.
Dessa forma, a pesquisa reforça a necessidade de um ensino de leitura que vá além da decodificação de palavras, promovendo uma aprendizagem crítica e significativa. A continuidade de estudos sobre essa temática, incluindo investigações sobre o impacto das novas tecnologias e da leitura digital na EJA, pode contribuir para a ampliação das práticas pedagógicas emancipatórias, garantindo que a educação de jovens e adultos cumpra seu papel de inclusão e transformação social.
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1Alciléia Caranha Moraes, graduanda do Curso de Licenciatura em Letras – Português, do Departamento de Educação a Distância (DEaD), da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP); e-mail: alcileiacaranha@gmail.com
2Tereza Rôla Ferreira, graduanda do Curso de Licenciatura em Letras – Português, do Departamento de Educação a Distância (DEaD), da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP); e-mail: Ferreiratereza000@gmail.com