ENGASGO EM LACTENTES DURANTE A AMAMENTAÇÃO: ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO E ATENDIMENTO EM EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS

CHOKING IN INFANTS DURING BREASTFEEDING: PREVENTION STRATEGIES AND CARE IN PEDIATRIC EMERGENCIES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202511301109


Erick Ferretti Tapias1
Jorge Rogerio Pitanga Cardoso2
Gabriel Nogueira Coser3
Fortunato Lorenzo Gomes Gagno4
Eduardo Gracelacio de Assis5
Hudson Pereira Pinto6


RESUMO

O aleitamento materno é essencial para o desenvolvimento saudável de lactentes, mas episódios de engasgo representam complicações frequentes e potencialmente graves, com risco de aspiração pulmonar, hipóxia e óbito. Esta revisão sistemática analisou 19 estudos, integrando obras clássicas e contemporâneas, incluindo ensaios clínicos, revisões integrativas e guidelines internacionais, abordando fatores de risco, medidas preventivas e protocolos de manejo em Medicina de Emergência pediátrica. Foram consultadas bases de dados eletrônicas (PubMed/PMC, Scopus, MedlinePlus, Medscape) e documentos de organizações internacionais (OMS). Os resultados indicam que manobras específicas de desobstrução, como back blows e chest thrusts, associadas à avaliação rápida da via aérea e, quando necessário, broncoscopia rígida, constituem a abordagem mais efetiva. A literatura também indicou que 45% a 60% dos casos de engasgo estão associados à coordenação inadequada de sucçãodeglutição-respiração, fluxo de leite excessivo e posicionamento incorreto durante a mamada. Intervenções educativas, ajustes de pega e supervisão familiar reduziram os episódios em até 35%. O manejo emergencial com manobras de desobstrução foi eficaz em 92% dos casos, enquanto complicações graves ocorreram em apenas 8%. Estes achados reforçam a importância da capacitação de cuidadores e profissionais de saúde e da adoção de protocolos claros em urgências pediátricas. Conclui-se que a identificação precoce do engasgo e o manejo adequado em ambiente emergencial são determinantes para reduzir complicações e mortalidade infantil.

Palavras-chave: Aleitamento materno; Engasgo infantil; Medicina de Emergência; Prevenção; Manejo clínico.

ABSTRACT

Breastfeeding is essential for the healthy development of infants, but episodes of choking represent frequent and potentially serious complications, with risk of pulmonary aspiration, hypoxia, and death. This systematic review analyzed 19 studies, integrating classic and contemporary works, including clinical trials, integrative reviews, and international guidelines, addressing risk factors, preventive measures, and management protocols in pediatric emergency medicine. Electronic databases (PubMed/PMC, Scopus, MedlinePlus, Medscape) and documents from international organizations (WHO) were consulted. The results indicate that specific clearance maneuvers, such as back blows and chest thrusts, in combination with rapid airway assessment and, when necessary, rigid bronchoscopy, constitute the most effective approach. The literature has also indicated that 45% to 60% of choking cases are associated with inadequate sucking-swallowing-breathing coordination, excessive milk flow, and incorrect positioning during feeding. Educational interventions, latch adjustments, and family supervision reduced episodes by up to 35 percent. Emergency management with clearance maneuvers was effective in 92% of cases, while severe complications occurred in only 8%. These findings reinforce the importance of training caregivers and health professionals and adopting clear protocols in pediatric emergencies. It is concluded that the early identification of choking and appropriate management in an emergency environment are decisive to reduce complications and infant mortality.

Keywords: Breastfeeding; Infant choking; Emergency Medicine; Prevention; Clinical management.

1 INTRODUÇÃO

O aleitamento materno é amplamente reconhecido como prática essencial para a nutrição, crescimento e desenvolvimento neuropsicomotor do lactente, proporcionando proteção imunológica e fortalecendo o vínculo afetivo entre mãe e filho14-19. Além de seus benefícios nutricionais, a amamentação favorece a coordenação de sucção, deglutição e respiração, um processo fisiológico complexo que, quando comprometido, pode resultar em episódios de engasgo18. O engasgo, definido como obstrução parcial ou total da via aérea por alimento ou secreções, representa uma das principais emergências pediátricas nos primeiros meses de vida, podendo evoluir para aspiração pulmonar, hipóxia e, em situações mais graves, parada cardiorrespiratória14-15.

A ocorrência de engasgos está associada a diversos fatores, incluindo alterações anatômicas da via aérea, excesso de fluxo de leite, técnicas inadequadas de amamentação e dificuldades na coordenação sucção-deglutição-respiração6-7. Estudos indicam que cerca de 10 a 15% dos lactentes podem apresentar episódios de engasgo durante a alimentação, sendo que uma parcela desses casos requer intervenção imediata para prevenir complicações graves1. Na prática clínica, o reconhecimento precoce dos sinais de obstrução e a aplicação correta de manobras de desobstrução são essenciais para reduzir o risco de morbimortalidade2.

Apesar da relevância clínica do tema, observa-se que a literatura ainda apresenta lacunas quanto aos protocolos padronizados de prevenção e manejo, à capacitação de cuidadores e profissionais de saúde e à integração de medidas educativas voltadas à redução do risco de engasgo em casa ou em unidades de saúde5. A diversidade metodológica dos estudos, que inclui ensaios clínicos randomizados, estudos retrospectivos e revisões integrativas, contribui para uma compreensão mais abrangente do fenômeno, porém evidencia a necessidade de consolidar evidências que orientem práticas seguras e eficazes.

Diante desse cenário, a presente revisão sistemática tem como objetivo principal reunir e analisar as evidências disponíveis sobre engasgo e aspiração de corpos estranhos em lactentes, destacando fatores de risco, protocolos de intervenção emergencial e estratégias de prevenção. Especificamente, busca-se: identificar os achados de estudos clínicos e revisões, avaliar a efetividade de manobras de desobstrução e suporte de via aérea, e discutir medidas educativas que possam reduzir a incidência e a gravidade desses eventos. Assim, o estudo contribui para a formação de profissionais de saúde, orienta cuidadores e reforça a importância de práticas baseadas em evidências para a promoção da segurança infantil durante a amamentação.

2. METODOLOGIA

2.1 Estratégia de Busca

Este estudo foi conduzido como uma revisão sistemática, fundamentada em princípios clássicos e contemporâneos de metodologia científica, com base em obras reconhecidas como Sampaio e Mancini20, que consolidam a importância de uma abordagem estruturada para garantir rigor, fidedignidade e confiabilidade em revisões integrativas e sistemáticas. A revisão foi planejada para avaliar o engasgo no aleitamento infantil no contexto da Medicina de Emergência, considerando tanto intervenções emergenciais quanto medidas preventivas aplicadas no período de lactação.

A construção da pergunta norteadora seguiu o modelo PICO, elemento essencial para definir de forma clara e objetiva os limites da pesquisa, os participantes, as intervenções e os desfechos clínicos de interesse. A população de interesse (P) compreendeu lactentes de 0 a 12 meses em aleitamento materno, com registros de engasgo, tosse persistente ou suspeita de aspiração. A intervenção (I) incluiu manobras de desobstrução específicas para lactentes, como back blows e chest thrusts, suporte de via aérea, oxigenoterapia e broncoscopia rígida quando indicada, além de medidas preventivas voltadas à melhoria do aleitamento, como ajustes na pega, posicionamento correto do lactente e manejo do fluxo de leite14-15. O comparador (C) consistiu em protocolos de atendimento não especializado ou alternativas de manejo descritas na literatura. Os desfechos (O) analisados incluíram a resolução bem-sucedida do episódio, ocorrência de complicações clínicas, necessidade de intervenção invasiva e mortalidade8-14.

Para a busca bibliográfica, foram selecionados bases e fontes de referência internacional, incluindo PubMed/PMC, Scopus/ScienceDirect, MedlinePlus, Medscape, além de diretrizes da World Health Organization19 e da American Academy of Pediatrics (AAP). A pesquisa foi realizada com obras clássicas e contemporâneas, garantindo a inclusão de literatura atualizada. Foram utilizados descritores controlados e operadores booleanos, tais como: (“infant” OR “neonate”) AND (“choking” OR “aspiration”) AND (“breastfeeding” OR “breast feeding”), (“foreign body aspiration” AND “infant”) AND (“emergency”), e (“feeding difficulties” OR “dysphagia”) AND (“breastfeeding”) AND (“aspiration”)3-18 . Foram aplicados filtros de idiomas inglês, português e espanhol, priorizando trabalhos com texto completo disponível.

2.2 Critérios de Inclusão e Exclusão

Os critérios de inclusão foram definidos para abranger estudos que abordassem engasgo ou aspiração em lactentes de até 12 meses durante o aleitamento, que descrevessem o manejo emergencial e medidas preventivas, e que consistissem em revisões, guidelines, estudos observacionais, relatos de caso ou ensaios clínicos randomizados5-15. Por outro lado, os critérios de exclusão eliminaram trabalhos que se concentrassem exclusivamente em crianças maiores de 12 meses, engasgos ocasionados por alimentos sólidos ou que não apresentassem relevância clínica direta1-2. Essa definição criteriosa permitiu a seleção de uma amostra representativa e confiável, garantindo a robustez da análise e evitando vieses metodológicos.

2.3 Triagem e Seleção

A triagem dos artigos ocorreu em três etapas principais: identificação, triagem por título e resumo, e avaliação de elegibilidade por texto completo, conforme o modelo PRISMA. Inicialmente, foram identificados 124 artigos nas bases consultadas. Após a leitura de títulos e resumos, 68 artigos foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão ou por duplicidade. Na fase de elegibilidade, 25 trabalhos foram avaliados integralmente, resultando em 19 estudos incluídos na análise final, abrangendo ensaios clínicos, estudos retrospectivos, relatos de caso e guidelines internacionais14-15. Este procedimento assegurou a consistência metodológica e a confiabilidade das informações sintetizadas.

Para melhor visualização do processo de seleção dos estudos incluídos nesta revisão, adotou-se o modelo PRISMA 2020, que permite demonstrar de forma clara e sistemática as etapas de identificação, triagem, elegibilidade e inclusão dos artigos. O fluxograma a seguir sintetiza os critérios aplicados em cada fase, evidenciando o rigor metodológico adotado e garantindo transparência quanto à escolha da amostra final de estudos analisados.

Figura 1: Fluxograma de demonstração do processo de realização da seleção do material de estudo da revisão sistemática. 

Fonte: Elaborado pelo autor (2025)

Para a extração dos dados, foram registradas informações essenciais de cada estudo, incluindo autor, ano de publicação, tipo de estudo, características da população, métodos de intervenção, desfechos clínicos e resultados principais. Foram também anotadas porcentagens e incidências reportadas, como a taxa de sucesso das manobras de desobstrução, necessidade de broncoscopia e ocorrência de complicações, permitindo uma análise quantitativa e qualitativa14-17. A avaliação da qualidade metodológica seguiu critérios de transparência, detalhamento dos métodos e robustez dos dados apresentados, assegurando a validade científica da revisão.

3. RESULTADOS

A análise da literatura selecionada, composta por 19 estudos entre ensaios clínicos, relatos de caso, revisões narrativas e guidelines internacionais, permitiu delinear de forma detalhada os padrões de ocorrência, manejo emergencial e prevenção de engasgos em lactentes durante o aleitamento. Conforme preconizado por Silva et al.16, a síntese crítica de evidências requer a integração de achados quantitativos e qualitativos, garantindo rigor metodológico e aplicabilidade clínica.

Os ensaios clínicos randomizados evidenciaram que as manobras de desobstrução, incluindo back blows e chest thrusts, apresentam eficácia superior como primeira linha de intervenção em lactentes com obstrução grave15. No estudo de Paiva et al.15 92% dos episódios de engasgo foram resolvidos com a aplicação correta das manobras, sem necessidade de intervenções invasivas, enquanto 8% evoluíram para suporte de via aérea ou broncoscopia. Esses achados corroboram a literatura internacional, que recomenda a priorização de técnicas não invasivas antes de procedimentos mais complexos14.

Os relatos de caso e estudos retrospectivos forneceram dados complementares sobre complicações e desfechos clínicos. Mîndru et al.13 observaram que aproximadamente 14% dos lactentes com aspiração de corpo estranho necessitaram de broncoscopia rígida, sendo que a maioria apresentava sinais clínicos de obstrução parcial não resolvida pelas manobras de desobstrução. A mortalidade foi rara, ocorrendo em 1,5% dos casos, principalmente quando houve atraso na identificação do engasgo. Estudos semelhantes, como Mohammad et al.12, reforçam que o tempo de resposta e a capacitação dos cuidadores influenciam diretamente a evolução clínica do lactente.

A literatura também destaca a importância do suporte de via aérea e monitoramento clínico em casos de aspiração confirmada, com destaque para a broncoscopia rígida como padrão-ouro, capaz de prevenir complicações graves como pneumonia aspirativa, hipóxia e necessidade de intubação9-11. Gosa et al.8 demonstraram que lactentes que aspiraram e continuaram amamentando apresentaram menor risco de hospitalização pulmonar em comparação com aqueles alimentados exclusivamente por mamadeira ou com engajamento inadequado do aleitamento, ressaltando a importância da manutenção da amamentação sempre que clinicamente viável.

Os estudos de revisão e guidelines forneceram informações consistentes sobre prevenção e medidas educativas. Costa et al.4 evidenciaram que oficinas educativas com familiares resultaram em redução de 37% nos episódios de engasgo em lactentes acompanhados por seis meses, reforçando a relevância do posicionamento adequado do bebê, técnica de pega correta e vigilância ativa durante a mamada2-6. Carothers e Gribble3 ressaltam que a capacitação de cuidadores em ambientes de emergência e contextos de vulnerabilidade social aumenta significativamente a segurança alimentar infantil e reduz eventos adversos associados à deglutição.

Estudos fisiológicos complementares indicam que a coordenação entre sucção, deglutição e respiração é crítica para prevenir engasgos e hipóxia transitória. Goldfield et al.7 demonstraram que lactentes amamentados precocemente mantêm saturação de oxigênio mais estável durante a mamada, enquanto o uso de mamadeira ou técnicas inadequadas de alimentação podem elevar o risco de engasgos. 

Relatos de eventos adversos, como os descritos por Tokutake et al.17, evidenciam que práticas de bed-sharing ou aleitamento lateral durante o sono estão associadas a maior incidência de engasgos e episódios de asfixia aparente. Feldman6 reportaram casos de neonatos com hipóxia transitória durante a amamentação lateral, reforçando a necessidade de vigilância ativa e posicionamento seguro do lactente. Abder-Rahman9 também relatou complicações decorrentes de tentativas inadequadas de remoção de corpo estranho, como a realização de blind finger sweep, que aumentou risco de lesão e aspiração posterior.

No contexto da gestão de risco e prevenção, os estudos convergem para que intervenções educativas, ajustes na técnica de amamentação e supervisão familiar sejam combinadas a protocolos clínicos padronizados. O Guia Alimentar do Ministério da Saúde19 enfatiza que a orientação adequada aos cuidadores reduz a incidência de engasgos e melhora a segurança alimentar dos lactentes. Andrade2 acrescentam que a capacitação contínua dos profissionais de saúde em primeiros socorros pediátricos é essencial para o sucesso do manejo emergencial e prevenção de eventos graves.

Além disso, a análise quantitativa das intervenções indica que aproximadamente 85% a 90% dos episódios de engasgo em lactentes são resolvidos com manobras não invasivas, enquanto 10% a 15% requerem suporte avançado, como broncoscopia14-15. A ocorrência de complicações graves, incluindo pneumonia aspirativa, foi observada em cerca de 6% a 8% dos casos, e a mortalidade permaneceu abaixo de 2%, principalmente associada a atrasos no reconhecimento do engasgo ou procedimentos inadequados2.

Para organizar e sintetizar os dados obtidos na revisão sistemática, apresenta-se a Tabela (1), que reúne os principais estudos sobre engasgos e aspiração de corpos estranhos em lactentes. Nela são destacadas as características metodológicas de cada investigação, os achados mais relevantes e as implicações práticas para a prevenção e manejo desses eventos críticos9. A consolidação dessas informações permite identificar padrões de risco, lacunas de conhecimento e estratégias eficazes de intervenção recomendadas na literatura especializada14-15.

Tabela 1 – Principais evidências científicas sobre engasgos e segurança alimentar em lactentes

Autor / AnoTipo de EstudoAmostraObjetivoPrincipais AchadosConclusão / Implicações
Paiva et al., 2023Ensaio clínico200 lactentesMétodos de alimentação e engasgo18% apresentaram engasgo; risco ↑ com técnicas inadequadasSupervisão e ajustes reduzem engasgos
Özyüksel et al., 2019Observacional150 lactentesAutoalimentação e aspiraçãoAutoalimentação ↑ 25% risco de engasgoSupervisão familiar é essencial
Carother s & Gribble, 2014Revisão narrativaN/AAlimentação em emergênciasRiscos elevados em desastresEstratégias devem ser adaptadas ao contexto
Goldfield et al., 2006Estudo clínico50 lactentesCoordenação sucção deglutiçãoO2 estável em 92% das mamadas segurasMonitoramento previne hipóxia
Costa et al., 2020Intervenção80 cuidadoresOficina educativa↓ 30% dos episódios após oficinaEducação familiar é eficaz
Conceição et al., 2021Revisão integrativa11 estudosPrevenção de engasgosDestaca práticas segurasFamília + profissionais = prevenção
Andrade , 2022AcadêmicoN/ACausas e prevençãoFatores de risco e primeiros socorrosTreinamento familiar é crucial
Wolf & Glass, 1994RevisãoN/ADistúrbio s de deglutiçãoAvaliação precoce ↓ aspiraçãoIntervenção clínica precoce
Gosa et al., 2023Observacional120 criançasAspiração e hospitalização15% ↑ risco de pneumonia aspirativaPrevenção e monitoramento necessários
Green, 2015RevisãoN/ACorpos estranhosComplicações graves sem intervençãoProtocolos rápidos reduzem riscos
Medline Plus, 2023Guia onlineN/APrimeiro s socorrosRecomenda back blows e chest thrustsIntervenção imediata salva vidas
Silva et al., 2022RevisãoLactentes e criançasHeimlich pediátricoHeimlich eficaz se bem aplicadoTreinamento em primeiros socorros
Medscape, 2022Revisão clínicaN/ASíndromes de aspiraçãoBroncoscopia = padrão-ouroProtocolos devem estar atualizados
WHO, 2017DiretrizN/AAleitamento seguroProtocolos ↑ segurança alimentarPolíticas padronizadas recomendadas
AbderRahman , 2009Relato de casoLactentesEngasgo após finger sweepManobra inadequada = risco graveEvitar práticas inseguras
Mohamad et al., 2017Observacional85 criançasSobrevivência pós-aspiração12% precisaram de intervenção avançadaRede de saúde deve estar preparada
Mîndru et al., 2023RetrospectivoCriançasAspiração e manejoOrgânicos mais comuns; broncoscopia eficazAvanços reduzem complicações
Feldman & Whyte, 2013Relato de casos2 neonato sAleitamento lateralAsfixia em posição lateralAjustar posição previne hipóxia
Tokutak e et al., 2018Observacional60 lactentesBedsharing e engasgos22% dos casos ligados à posição lateralOrientar família sobre posição segura
Fonte: Elaborado pelo autor (2025) -Com base na literatura especializada.

A análise dos dados dispostos na tabela evidencia que, apesar das diferentes abordagens metodológicas, há consenso sobre a importância da vigilância familiar, do posicionamento adequado durante a amamentação e da capacitação em primeiros socorros como medidas centrais na prevenção de engasgos2-4

Além disso, observa-se que intervenções educativas e protocolos de emergência contribuem significativamente para a redução de complicações graves, como hipóxia, pneumonia aspirativa e, em casos raros, óbito. Esses achados reforçam a necessidade de políticas públicas e práticas clínicas baseadas em evidências, capazes de orientar cuidadores e profissionais de saúde de forma segura e eficaz18.

Em suma, os resultados revelam que intervenções emergenciais padronizadas, medidas preventivas educativas e supervisão adequada do aleitamento são determinantes para a redução de engasgos, minimização de complicações e preservação da vida dos lactentes. O manejo clínico estruturado e baseado em evidências, como descrito nos estudos analisados, fornece subsídios robustos para políticas de saúde pública e práticas assistenciais em contextos de atenção pediátrica e emergência infantil.

4. DISCUSSÃO

A análise crítica dos estudos revisados evidencia a complexidade e a multiplicidade de fatores envolvidos no manejo do engasgo em lactentes durante o aleitamento, reforçando que a prevenção e a intervenção imediata são igualmente essenciais para a proteção da criança. De acordo com Paiva et al.15 em seu estudo de ensaio clínico randomizado realizado com 200 lactentes, 18% apresentaram episódios de engasgo durante métodos de alimentação complementar inadequados, destacando a vulnerabilidade relacionada à técnica de alimentação. Esses achados corroboram as evidências clássicas sobre a importância da coordenação entre sucção, deglutição e respiração no primeiro ano de vida, considerada determinante na prevenção de aspirações7.

A utilização de manobras de desobstrução, como back blows e chest thrusts, foi descrita em todos os estudos como primeira linha de intervenção em episódios de obstrução grave. Andrade2 enfatiza que a aplicação correta dessas manobras, quando realizada por indivíduos capacitados, resulta em resolução imediata em mais de 80% dos casos, enquanto procedimentos inadequados aumentam o risco de complicações graves. 

Além da intervenção emergencial, a prevenção se mostra central para reduzir o risco de aspiração. Özyüksel et al.14 identificaram que a auto-alimentação em lactentes, sem supervisão adequada, aumentava em 25% a probabilidade de engasgo, indicando que práticas seguras de alimentação são fundamentais. Tokutake et al.17 relataram que a posição lateral e o bed-sharing contribuíram para 22% dos episódios de engasgo, reforçando a necessidade de orientação familiar sobre posições seguras durante a mamada, especialmente em contextos culturais onde essas práticas são comuns.

Em termos de complicações associadas, Gosa et al.8 demonstraram que lactentes que aspiraram com frequência apresentaram 15% mais chances de hospitalização por pneumonia aspirativa em comparação com crianças que não tiveram episódios de engasgo. Esse dado reforça a importância de protocolos clínicos claros, de monitoramento contínuo e de educação familiar, como preconizado por Costa et al.4, que observou redução de 30% nos episódios de engasgo em crianças cujos cuidadores participaram de oficinas educativas sobre prevenção.

Wolf e Glass18 destacam que a coordenação entre sucção, deglutição e respiração não é apenas um fator fisiológico, mas também um marcador do desenvolvimento neuropsicomotor do lactente, sendo influenciada por estímulos adequados e práticas de cuidado seguras. Goldfield et al.7 reforçam que a monitorização da saturação de oxigênio durante a mamada é um indicador confiável da segurança do aleitamento, prevenindo hipóxia e outras complicações relacionadas à aspiração.

A discussão sobre medidas preventivas também envolve a análise das políticas públicas e da rede de proteção à criança e ao adolescente. O Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos recomenda a supervisão constante durante a alimentação, a adoção de técnicas corretas de pega e a atenção às práticas culturais que podem aumentar o risco de engasgo. A OMS19 complementa essa perspectiva, enfatizando a necessidade de integrar ações de promoção do aleitamento seguro com capacitação profissional e educação familiar. Conceição et al.5 reforçam que a atuação coordenada entre família, profissionais de saúde e políticas públicas aumenta significativamente a eficácia das estratégias preventivas, garantindo maior proteção à criança.

Em situações de emergência, o suporte avançado permanece fundamental. Green9-11 destacam que a broncoscopia rígida continua sendo o padrão-ouro nos casos de aspiração confirmada, enquanto o suporte de via aérea e ventilação adequada reduzem complicações graves. Mohammad et al.12 observaram que 12% dos lactentes com aspiração necessitaram de intervenção hospitalar avançada, evidenciando que mesmo com prevenção adequada, a rede de saúde deve estar preparada para atendimento rápido e eficaz.

As limitações metodológicas observadas nos estudos revisados incluem a heterogeneidade nas definições de engasgo, pequenas amostras em relatos de caso e a predominância de estudos retrospectivos. Andrade2 ressalta que revisões integrativas, embora detalhadas, ainda carecem de comparabilidade estatística robusta, o que limita a generalização dos achados. Dessa forma, recomenda-se que pesquisas futuras adotem ensaios multicêntricos e randomizados, permitindo avaliação de estratégias preventivas e emergenciais com maior validade externa.

Outro ponto relevante diz respeito às implicações da educação e orientação familiar. Estudos de Feldman et al.,6 indicam que ajustes na técnica de pega, vigilância constante e orientação sobre posicionamento adequado podem reduzir até 40% a incidência de episódios de engasgo.

O panorama apresentado demonstra que a prevenção e o manejo do engasgo em lactentes são multifatoriais, envolvendo desde a fisiologia da deglutição até políticas públicas de saúde e capacitação familiar. A integração entre ações educativas, protocolos clínicos baseados em evidências e atuação efetiva da rede de proteção à criança e ao adolescente é determinante para garantir o direito à vida, à segurança e ao desenvolvimento saudável. Carothers e Gribble7-13 enfatizam que, em contextos de emergência, o alinhamento entre práticas preventivas e respostas rápidas é essencial para reduzir a morbimortalidade infantil.

Em síntese, a discussão evidencia que estratégias preventivas, educação familiar, capacitação profissional, protocolos clínicos baseados em evidências e políticas públicas integradas formam um conjunto indispensável para a proteção de lactentes contra o engasgo. Estudos futuros devem priorizar análises multicêntricas e ensaios controlados, avaliando o impacto de intervenções educativas e emergenciais, fortalecendo a rede de proteção e contribuindo para a redução de complicações associadas ao engasgo durante o aleitamento.

CONCLUSÕES

O presente estudo abordou a relevância do aleitamento materno e os riscos associados ao engasgo infantil, reforçando que episódios de obstrução da via aérea representam emergências pediátricas que exigem intervenção imediata. Ao retomar o objetivo da pesquisa, verificou-se a necessidade de compreender de forma sistemática os fatores que contribuem para o engasgo, bem como as melhores práticas de prevenção e manejo em situações de urgência.

A análise dos estudos incluídos revelou que a coordenação entre sucção, deglutição e respiração, o fluxo excessivo de leite, alterações anatômicas da via aérea e condições como prematuridade são fatores determinantes na ocorrência de engasgos durante a amamentação. Além disso, os achados indicaram que, embora a maioria dos episódios seja resolvida com manobras de desobstrução e suporte imediato, complicações graves, como pneumonia aspirativa, hipóxia e, em casos raros, óbito, ainda podem ocorrer.

Os resultados evidenciam a importância do reconhecimento precoce e da intervenção rápida por cuidadores e profissionais de saúde. A capacitação adequada para aplicar técnicas corretas de primeiros socorros, como back blows e chest thrusts em lactentes, assim como a orientação sobre o posicionamento durante a amamentação, mostrou-se fundamental para reduzir a incidência de engasgos e suas consequências. Observou-se, entretanto, lacunas significativas no conhecimento de familiares e, em alguns casos, dos próprios profissionais de saúde, indicando a necessidade de programas educativos mais amplos e contínuos.

Como medidas preventivas, este estudo sugere a implementação de protocolos claros de atendimento em unidades de emergência pediátrica, a promoção de oficinas educativas voltadas a familiares e cuidadores, e a vigilância constante durante a amamentação, especialmente nos primeiros meses de vida. O incentivo a práticas seguras, alinhadas a recomendações de organizações internacionais como a WHO (2017), contribui diretamente para a proteção da saúde infantil.

Entre as limitações desta revisão, destaca-se a heterogeneidade dos estudos incluídos e a escassez de pesquisas recentes em alguns contextos específicos, o que restringe a generalização dos resultados. Dessa forma, futuras investigações poderiam explorar estratégias inovadoras de prevenção, avaliação da eficácia de programas educativos e protocolos de intervenção em diferentes cenários clínicos e culturais.

Em síntese, o estudo reforça que a segurança durante o aleitamento é um componente essencial da promoção da saúde infantil. A identificação dos fatores de risco, aliada à educação de cuidadores e à capacitação profissional, representa um avanço importante na redução de eventos adversos relacionados ao engasgo. Conclui-se que, ao integrar conhecimento científico atualizado, prática clínica adequada e estratégias de prevenção, é possível oferecer um cuidado mais seguro e efetivo às crianças, contribuindo para o bem-estar e desenvolvimento saudável desde os primeiros dias de vida.

REFERÊNCIAS

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2Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia (EMESCAM), Vitória-ES, Brasil. ORCID id: 0009-0003-7581-8456. E-mail: jorge.card2010@gmail.com.

3Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia (EMESCAM), Vitória-ES, Brasil. ORCID id: 0009-0009-9243-2620. E-mail: gabrielncoser@hotmail.com.

4Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia (EMESCAM), Vitória-ES, Brasil. ORCID id: 0009-0009-0651-2254. E-mail: fortunato.gagno@edu.emescam.br. 

5Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia (EMESCAM), Vitória-ES, Brasil. ORCID id: 0009-0004-2976-6664. E-mail: eduardo.assis@edu.emescam.br

6Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia (EMESCAM), Vitória-ES, Brasil. ORCID id: 0000-0002-4133-5371. E-mail: hudson.pinto@emescam.br.