ENFERMAGEM E CUIDADOS PALIATIVOS: CONFORTO E QUALIDADE DE VIDA DO PACIENTE

NURSING AND PALLIATIVE CARE: COMFORT AND QUALITY OF LIFE FOR THE PATIENT 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch102025005080615


Aline Bueno da Silveira1
Luciene Fernandes de Oliveira2
Luciana Soares Rodrigues3
Polliana Lucio Lacerda Pinheiro4
Ivani Pose Martins5


RESUMO

Este estudo teve por objetivo identificar e analisar as principais intervenções de enfermagem que contribuem para o conforto e a melhoria da qualidade de vida de pacientes em cuidados paliativos. Com o aumento da expectativa de vida e a prevalência de doenças crônicas, os cuidados paliativos ganham destaque como uma abordagem que valoriza o bem-estar integral do paciente, mesmo diante da terminalidade. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, com abordagem qualitativa, realizada nas bases LILACS, MEDLINE, BDENF e SciELO, entre os anos de 2020 a 2024. Foram utilizados os descritores “cuidados paliativos”, “conforto do paciente”, “enfermagem” e “qualidade de vida”. Os estudos analisados apontam que o enfermeiro tem papel essencial no alívio do sofrimento por meio de estratégias que envolvem controle da dor, suporte emocional, escuta ativa, cuidados não farmacológicos e comunicação eficaz com pacientes e familiares. Também foi evidenciado que a humanização, o acolhimento espiritual e o respeito à autonomia do paciente são pilares para um cuidado mais digno e integral. Contudo, ainda existem desafios como a falta de preparo de profissionais, a ausência da escuta direta dos pacientes e a limitação de estudos voltados ao contexto domiciliar. Conclui-se que fortalecer a atuação da enfermagem em cuidados paliativos contribui significativamente para uma abordagem mais humanizada e centrada na pessoa, promovendo não apenas conforto físico, mas também emocional e espiritual durante o processo de finitude.

Palavras-Chave: conforto do paciente, cuidados paliativos, enfermagem, qualidade de vida

ABSTRACT

This study aimed to identify and analyze the main nursing interventions that contribute to the comfort and improvement of the quality of life of patients receiving palliative care. With the increase in life expectancy and the prevalence of chronic diseases, palliative care stands out as an approach that values the patient’s overall well-being, even in the face of terminal illness. This is an integrative literature review with a qualitative approach, conducted in the LILACS, MEDLINE, BDENF, and SciELO databases, covering the years 2020 to 2024. Descriptors such as “palliative care,” “patient comfort,” “nursing,” and “quality of life” were used. The analyzed studies highlight that nurses play a key role in alleviating suffering through strategies involving pain control, emotional support, active listening, non-pharmacological care, and effective communication with patients and families. It was also evidenced that humanization, spiritual support, and respect for patient autonomy are pillars for more dignified and comprehensive care. However, challenges remain, such as the lack of professional training, the absence of direct patient listening, and the limited number of studies focused on home care. It is concluded that strengthening nursing practices in palliative care significantly contributes to a more humanized and person-centered approach, promoting not only physical but also emotional and spiritual comfort during the end-oflife process.

Keywords: Patient Comfort, Palliative Care, Nursing, Quality of Life

1  INTRODUÇÃO  

Os cuidados paliativos são uma abordagem integral voltada para melhorar a qualidade de vida de pessoas que enfrentam doenças graves, oferecendo suporte ao paciente e à família em aspectos físicos, emocionais, sociais e espirituais. Eles são indicados desde o momento em que uma doença potencialmente ameaçadora à vida é diagnosticada, não sendo restritos apenas às fases finais, mas sim utilizados em conjunto com tratamentos específicos. Evitar termos como “pacientes terminais” é essencial para reduzir o estigma e valorizar a pessoa para além de sua condição, promovendo um cuidado mais humanizado e focado na dignidade e no conforto do indivíduo (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2020).

Os cuidados paliativos têm como objetivo melhorar a qualidade de vida de pacientes e suas famílias diante de doenças que ameacem a continuidade da vida (RIBEIRO; POLES, 2019). Os enfermeiros, com seu contato próximo e contínuo com os pacientes, desempenham um papel essencial no alívio do sofrimento e no suporte emocional. Para tanto, entender melhor como a atuação desses profissionais impacta no cuidado pode contribuir para práticas mais empáticas e eficazes, reduzindo o sofrimento dos pacientes e de suas famílias, o que tem um impacto direto no bem estar social (SOUZA et al., 2022).

O aumento da expectativa de vida e o envelhecimento da população trazem à tona a necessidade de estudos mais aprofundados sobre o manejo de doenças crônicas e o cuidado a paciente em fase avançada de doença (INSTITUTO DE ESTUDOS PARA POLÍTICAS DE SAÚDE, 2023). A enfermagem, como parte integral da equipe de cuidados paliativos, precisa estar preparada para fornecer o suporte adequado. Estudos como este são essenciais para aprofundar o entendimento sobre o impacto da atuação do enfermeiro no bem-estar físico e emocional dos pacientes em cuidados paliativos. A produção acadêmica sobre o tema contribui para a melhoria das práticas de enfermagem e para a formação de profissionais mais capacitados (SUNG et al., 2021).

Este estudo poderá auxiliar na compreensão de estratégias e intervenções que podem ser implementadas pelos enfermeiros para proporcionar uma abordagem mais humanizada e integral. Além disso, pode apoiar o desenvolvimento de estratégias que valorizem e fortaleçam a participação ativa da enfermagem nos cuidados paliativos, resultando em um cuidado mais adequado às necessidades dos pacientes em cuidados paliativos (COSTA; POLES; SILVA, 2016). Diante do exposto, surge a seguinte questão: Quais são as principais intervenções da enfermagem que contribuem para o conforto e a melhoria da qualidade de vida de pacientes em cuidados paliativos? Assim, este estudo tem como objetivo identificar e analisar as intervenções da enfermagem que promovem o conforto e a qualidade de vida de pacientes em cuidados paliativos.

2  METODOLOGIA 

Este estudo consiste em uma revisão de literatura do tipo integrativa, com abordagem qualitativa. A revisão integrativa possibilita a análise rigorosa e a síntese de estudos com diferentes metodologias, combinando dados teóricos e empíricos. Esse método permite identificar lacunas no conhecimento, revisar teorias e analisar criticamente os estudos sobre o tema, ampliando as possibilidades de compreensão da literatura existente (INSTITUTO DE PSICOLOGIA – USP, 2024; TEIXEIRA et al., 2013).As buscas foram realizadas em fevereiro de 2025 nas bases de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrievel System Online) e BDENF (Base de Dados em Enfermagem), as quais integram a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e no Scientific Electronic Library Online (SciELO), utilizando os seguintes descritores das Ciências da Saúde (DeCS): conforto do paciente (patient comfort), cuidados paliativos (palliative care), enfermagem (nursing) e qualidade de vida (quality of life). Utilizou-se o operador booleano “AND” da seguinte forma: “Cuidados Paliativos and Conforto do Paciente”, “Cuidados Paliativos and Enfermagem”, “Cuidados Paliativos and Qualidade de Vida”

Os critérios de inclusão adotados para a busca e seleção das publicações foram artigos publicados nos últimos cinco anos (2020 a 2024), nos idiomas português e inglês que abordassem a temática. Os critérios de exclusão foram artigos somente com resumos, que não faziam referência ao tema e artigos de revisão. Em um primeiro momento, foi feita uma leitura dos títulos e resumos dos artigos encontrados e, aqueles que mostravam relevância para o tema do artigo, focando na importância da atuação do enfermeiro em cuidados paliativos, foram selecionados para uma análise mais aprofundada. Caso o artigo não abordasse diretamente esse tema, ele seria descartado. 

Os artigos que passaram por esta seleção inicial foram analisados integralmente para assegurar que realmente abordam sobre a importância do enfermeiro em cuidados paliativos, alinhados aos objetivos do trabalho (FIGURA 1).

Figura 1 – Fluxograma da seleção dos artigos

Fonte: elaborado pelas autoras, 2025.

3  RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quadro 1 – Descrição dos estudos selecionados

TítuloAutores e ano de publicaçãoAno de publicaçãoMétodo de estudoIntervenções de enfermagem
PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS SOBRE A ALIMENTAÇÃO/NUT RIÇÃO EM CUIDADOS PALIATIVOSSchuh, Júlia Helena; Henckel, Viviane.2023Pesquisa qualitativa com abordagem exploratória descritiva.Controle de sintomas e alívio da dor: Focar no controle da dor e desconforto, promovendo o bem estar do paciente.  

Apoio emocional e espiritual: Oferecer suporte emocional e espiritual, ajudando o paciente a lidar com a angústia e o sofrimento.  

Humanização da alimentação: A alimentação deve ser fonte de prazer, respeitando as preferências do paciente e considerando memórias afetivas.  

Respeito à recusa alimentar: Entender que a recusa de alimentos é natural na fase avançada da doença e informar os familiares para evitar sofrimento.  

Comunicação clara e empática: Estabelecer uma comunicação eficiente e empática com o paciente e familiares, envolvendoos nas decisões.  

Trabalho em equipe: Garantir uma abordagem interdisciplinar, com a colaboração de diferentes profissionais de saúde para atender às necessidades do paciente.
ASSISTÊNCIA DE ENFERMEIROS A CRIANÇAS EM CUIDADOS PALIATIVOS: ESTUDO À LUZ DA TEORIA DE JEAN WATSON  Dias, Thainá Karoline Costa et al.2023Estudo de campo, exploratório, de natureza qualitativa, norteado pela Teoria de Jean Watson.Assistência humanizada – Garantir um cuidado que vá além do tratamento físico, promovendo acolhimento e bem-estar emocional.  

Comunicação efetiva – Criar vínculos com a criança e sua família, proporcionando segurança, individualização do cuidado e apoio emocional.  

Uso do lúdico – Estratégias como brinquedoterapia, música, teatro e palhaçoterapia auxiliam no alívio da dor, distração e melhora do estado emocional.  

Atenção integral – Considerar as dimensões biopsicossocioespirituais do paciente, reconhecendo e acolhendo dores emocionais e espirituais.  

Construção de confiança – Elementos como toque terapêutico, sorriso e olhar acolhedor fortalecem o vínculo e proporcionam conforto.  

Fornecimento de informações claras – Informar a criança e a família sobre seu estado de saúde promove autonomia, confiança e auxilio no enfrentamento da doença.  

Criatividade no cuidado – O enfermeiro deve ser criativo para adaptar a assistência às necessidades da criança, tornando o ambiente mais leve e terapêutico.
CUIDADO À PESSOA IDOSA INSTITUCIONALIZA DA NA PERSPECTIVA DE UM FIM DE VIDA PACÍFICO  Alves, Manuela Bastos et al.2023Estudo descritivo e interpretativo de natureza clínico qualitativaControle da dor – Medicamentos prescritos e medidas não farmacológicas (calor/frio, posicionamento e relaxamento).  

Conforto físico e ambiental – Ambiente tranquilo, sem barulhos e iluminação excessiva.   Respeito à autonomia e dignidade – Garantia de decisão sobre o tratamento.  
Apoio emocional e espiritual – Acolhimento para reduzir medo e angústia.  

Acompanhamento da família e cuidados pós-morte – Suporte no óbito, preparo do corpo com respeito e orientação à família.
CUIDADOS PALIATIVOS E COMUNICAÇÃO: UMA REFLEXÃO À LUZ DA TEORIA DO FINAL DE VIDA PACÍFICOAndrade, Cristiani Garrido de et al.2022Pesquisa de campo qualitativa, embasada na Teoria do Final de Vida Pacífico (TFVP).Comunicação eficaz – Diálogo aberto, escuta ativa e demonstração de carinho para promover conforto e tranquilidade.  

Dignidade e respeito – Garantia de autonomia do paciente e envolvimento nas decisões sobre seu tratamento.  

Apoio emocional – Redução da ansiedade e medo, criando um ambiente acolhedor e humanizado.  

Presença da família – Incentivo à proximidade de familiares para fortalecer vínculos e promover o bem-estar.  

Bom humor e otimismo – Alívio da tensão emocional por meio de interações positivas.  

Orientação aos familiares – Informação e suporte contínuo para ajudá-los no cuidado e enfrentamento da terminalidade.
SPIRITUAL CARE PROVIDED BY THE NURSING TEAM TO THE PERSON IN PALLIATION IN INTENSIVE CARE  Batista, Verônica Matos et al.2022Estudo descritivoexploratório, com abordagem qualitativa.Apoio espiritual e incentivo à fé – Uso de palavras de conforto para reduzir o medo e promover a esperança.  

Promoção da espiritualidade – Respeito às crenças, permitindo orações, leituras e visitas religiosas.  

Cuidado humanizado – Suporte emocional e psicológico além do cuidado físico.  

Atenção às necessidades subjetivas – Olhar sensível para o sofrimento emocional e espiritual.  

Capacitação da equipe – Preparação para abordar a espiritualidade e apoiar pacientes e familiares no luto.
A MUSICOTERAPIA EM ONCOLOGIA: PERCEPÇÕES DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM CUIDADOS PALIATIVOSFranco, Julia Helena Machado et al.2021Pesquisa de campo, com abordagem qualitativaApoio psicológico – Ajuda na expressão de sentimentos e reduz ansiedade e tristeza.  

Brincar e desenho – Favorece a comunicação e o bem-estar emocional.  

Musicoterapia – Alivia a dor, reduz o estresse e fortalece o vínculo com a família.  

Palhaços hospitalares – Melhoram o estado emocional e tornam o ambiente hospitalar mais acolhedor.
CUIDADOS PALIATIVOS: PERCEPÇÃO DA EQUIPE MULTIPROFISSION AL ATUANTE EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVARibeiro, Aline Lima et al.2020Estudo descritivo, de natureza qualitativa.Promoção do Conforto – Alívio da dor e de sintomas como dispneia e náuseas, evitando intervenções dolorosas desnecessárias.  

Assistência Humanizada – Consideração da singularidade de cada paciente, respeitando seus valores individuais e necessidades específicas.  

Apoio Psicológico e Espiritual – Diálogo, demonstrações de carinho, palavras de coragem e incentivo à fé como estratégia para aliviar o sofrimento.  

Comunicação Efetiva – Estabelecimento de uma boa comunicação com o paciente, sua família e a equipe multiprofissional para garantir um cuidado mais integrado e humanizado.  

Respeito à Autonomia – Consideração das vontades do paciente e/ou de seus representantes legais quanto ao tratamento e possíveis limitações terapêuticas.  

Ética e Bioética – Atuação com base nos princípios de beneficência, não maleficência, justiça e autonomia, evitando procedimentos invasivos desnecessários que possam causar sofrimento.  

Ambiente Confortável – Ajustes na iluminação, temperatura e outros aspectos ambientais para proporcionar maior bem-estar ao paciente.  

Capacitação Profissional – Educação continuada e treinamento da equipe para oferecer um atendimento mais qualificado, seguro e alinhado com as melhores práticas em cuidados paliativos.  

Padronização do Cuidado – Implementação de protocolos para reduzir variações na conduta da equipe e garantir uma assistência mais eficiente e baseada em evidências.  

Tomada de Decisão Conjunta – Planejamento do cuidado de forma integrada entre os profissionais de saúde, paciente e familiares, promovendo consenso e cooperação na assistência.
PERCEPÇÃO DO PACIENTE ONCOLÓGICO EM CUIDADOS PALIATIVOS SOBRE A FAMÍLIA E A EQUIPE DE ENFERMAGEMAlecrim, Tâmysin Deise Piekny; Miranda, Joisy Aparecida Marchi de; Ribeiro, Beatriz Maria dos Santos Santiago.2020Estudo exploratório descritivo de análise qualitativa.Cuidado Humanizado – Priorizar o paciente em todos os momentos, com um olhar atento, escuta compreensiva e palavras de conforto, criando um ambiente acolhedor e empático.  

Apoio à Comunicação – Auxiliar na transmissão do diagnóstico de forma adequada para minimizar o impacto emocional, tanto para o paciente quanto para seus familiares.  

Suporte Emocional – Garantir que o paciente e sua família não se sintam abandonados, fornecendo apoio psicológico para enfrentar os desafios do tratamento.  

Valorização da Presença Familiar – Incentivar e fortalecer o papel dos familiares no processo de cuidado, promovendo a segurança e o bem estar do paciente.  

Acompanhamento Contínuo – Orientar sobre o diagnóstico, o tratamento e todo o processo de adoecimento, garantindo um acompanhamento atento e afetivo.  

Promoção da Qualidade de Vida – Proporcionar assistência que minimize a dor e o sofrimento, buscando formas de tornar o tratamento menos impactante e mais digno.

Fonte: dados da pesquisa, 2025.

Falar sobre cuidados paliativos é, acima de tudo, falar sobre respeito à vida, mesmo quando ela se aproxima do fim. Mais do que protocolos médicos, esse tipo de cuidado busca proporcionar conforto, acolhimento e dignidade, considerando não apenas os sintomas físicos, mas também os aspectos emocionais, espirituais e sociais do paciente (Batista et al., 2022; Dias et al., 2023; Ribeiro et al., 2020). Os estudos analisados destacam elementos centrais dessa prática: controle da dor, suporte emocional, comunicação clara, respeito às escolhas do paciente e presença familiar (Alves et al., 2023; Andrade et al., 2022; Alecrim et al., 2020). Tudo isso forma uma rede de apoio essencial para um final de vida mais tranquilo e humanizado (Batista et al., 2022; Ribeiro et al., 2020).

Nesse contexto, entre as maiores preocupações, destaca-se o alívio da dor, pois entende-se que o sofrimento não deve marcar o término da vida. Para isso, além dos medicamentos, muitos profissionais utilizam abordagens não farmacológicas, como massagens leves, mudanças de posição e técnicas de relaxamento (Alves et al., 2023). O foco deve ser o bem-estar do paciente, e não a realização de procedimentos invasivos que, muitas vezes, só prolongam o sofrimento (Ribeiro et al., 2020).

Outro ponto que se destaca é a humanização do cuidado, que se manifesta por meio de uma escuta sensível, acolhimento emocional e valorização da individualidade (Dias et al., 2023; Batista et al., 2022; Ribeiro et al., 2020). Quando o paciente tem voz ativa sobre o próprio tratamento, o processo se torna menos doloroso e mais respeitoso (Andrade et al., 2022; Alves et al., 2023). A Teoria do Final de Vida Pacífico, abordada por Andrade et al. (2022), mostra o quanto a escuta ativa e a comunicação afetuosa ajudam na aceitação da terminalidade. Essa escuta, porém, precisa vir acompanhada de atitudes que valorizem a autonomia do paciente, mesmo quando as decisões não são fáceis (Alves et al., 2023; Ribeiro et al., 2020).

Sob essa perspectiva, não se pode falar de cuidado paliativo sem mencionar o suporte emocional e espiritual. Em momentos tão delicados, muitos pacientes buscam sentido em suas vivências, em suas crenças ou simplesmente desejam alguém que os ouça de verdade (Batista et al., 2022; Dias et al., 2023). O estudo de Batista et al. (2022) aponta que acolher a espiritualidade pode diminuir medos e fortalecer a coragem para enfrentar o fim. Dias et al. (2023), ao citar a Teoria de Jean Watson, lembram da importância de cuidar do ser humano como um todo: corpo, sentimentos, história e vínculos.

Além disso, outro aspecto fundamental é a comunicação, especialmente com a família. Quando os profissionais conseguem conversar de forma clara e empática, isso aumenta a segurança e tranquilidade tanto para o paciente quanto para os que estão ao seu redor (Andrade et al., 2022; Alecrim et al., 2020). Schuh e Henckel (2023) observam que, ao incluir os familiares nas decisões, é possível alinhar expectativas, especialmente em temas sensíveis como a alimentação na fase final da vida.

A presença da família pode ser, ao mesmo tempo, fonte de conforto e de tensão emocional. Ter por perto pessoas queridas é reconfortante, mas nem todos estão emocionalmente preparados para lidar com a terminalidade. Estudo revela que, nesses momentos, a falta de preparo dos familiares pode gerar conflitos e agravar o sofrimento (Alecrim et al., 2020).

Por outro lado, alguns estudos trazem abordagens mais leves e criativas para cuidar, principalmente em contextos pediátricos. Franco et al. (2021) falam sobre a importância da musicoterapia, do uso de desenhos e até da palhaçoterapia como formas de aliviar a dor e trazer pequenos momentos de alegria. Dias et al. (2023) reforçam que esses recursos tornam o ambiente mais acolhedor e contribuem para o bem-estar emocional, mesmo diante da dor.

É importante destacar que os estudos evidenciam a necessidade de uma formação mais ampla dos profissionais de saúde, que devem estar preparados não apenas para o manejo clínico, mas também para lidar com questões emocionais, espirituais e sociais com empatia e sensibilidade (Batista et al., 2022; Ribeiro et al., 2020). Além disso, políticas públicas bem estruturadas são essenciais para garantir o acesso equitativo a cuidados paliativos de qualidade, baseados em evidências científicas (Andrade et al., 2022; Ribeiro et al., 2020).

Apesar dos avanços, ainda persistem lacunas relevantes. Uma delas é a escassez de estudos longitudinais que acompanhem os pacientes ao longo de todo o processo de terminalidade, o que compromete a compreensão mais aprofundada sobre os efeitos reais das intervenções adotadas. Além disso, observa-se a ausência da escuta direta dos pacientes. A maioria das pesquisas ainda privilegia as percepções de profissionais e familiares, deixando de lado a vivência de quem está passando pela experiência da finitude, que poderia contribuir com reflexões mais sensíveis e significativas sobre o processo de morrer.

No entanto, desafios como a falta de preparo profissional, a escassez de estudos longitudinais e a ausência da perspectiva dos próprios pacientes ainda precisam ser superados. Além disso, muitos dos estudos analisados se basearam em contextos institucionais, como hospitais e unidades de terapia intensiva, o que pode restringir a compreensão sobre o cuidado paliativo em contextos domiciliares ou comunitários.

Para o futuro, é importante explorar mais profundamente a relação entre espiritualidade e o enfrentamento da terminalidade, assim como investigar estratégias inovadoras que combinem saber técnico, sensibilidade humana e criatividade na assistência. Mais do que isso, é preciso ouvir mais os pacientes, suas histórias, desejos e percepções que são fundamentais para que o cuidado seja verdadeiramente centrado na pessoa.

4  CONCLUSÃO

O cuidado paliativo vai muito além do controle da dor e do sofrimento físico. Ele representa um olhar humano e compassivo sobre aqueles que enfrentam a finitude, reconhecendo suas necessidades físicas, emocionais, espirituais e sociais. Os estudos analisados reforçam a importância de uma abordagem que priorize a comunicação eficaz, o suporte emocional, o respeito à autonomia e a presença da família.

Mais do que uma especialidade na área da saúde, o cuidado paliativo representa uma abordagem centrada no acolhimento, no respeito à dignidade humana e na valorização da vida em todas as suas etapas, inclusive em sua fase final.

Além do paciente, os cuidados paliativos impactam profundamente os familiares, que muitas vezes assumem o papel de cuidadores em um momento de grande vulnerabilidade. Quando alguém que amamos enfrenta uma condição sem possibilidade de cura, a família se torna uma rede de apoio essencial, oferecendo amor, presença e conforto. Porém, nem sempre é fácil lidar com as mudanças, os medos e as decisões difíceis que surgem nesse processo.

É nesse contexto que o cuidado paliativo se revela ainda mais significativo, não apenas no alívio da dor física, mas também na condução emocional de todos os envolvidos. As equipes especializadas atuam para humanizar esse momento, oferecendo suporte psicológico, orientação, escuta e cuidado, tornando a despedida mais tranquila e respeitosa.

Embora se trate de um processo desafiador, quando adequadamente bem conduzido, transforma o sofrimento em uma experiência marcada por afeto e paz. O cuidado paliativo, portanto, não é apenas uma forma de tratar, mas de honrar a vida até seu último instante. E, nesse processo, a família se torna não apenas apoio, mas também paciente invisível, merecendo a mesma escuta, acolhimento e cuidado.

REFERÊNCIAS

ALECRIM, Tâmysin Deise Piekny; MIRANDA, Joisy Aparecida Marchi de; RIBEIRO, Beatriz Maria dos Santos Santiago. Percepção do paciente oncológico em cuidados paliativos sobre a família e a equipe de enfermagem. Portal Regional da BVS, 2020. Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1147120>. Acesso em: 8 fev. 2025.

ALVES, Manuela Bastos et al. Cuidado à pessoa idosa institucionalizada na perspectiva de um fim de vida pacífico. Portal Regional da BVS, 2023. Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1447940>. Acesso em: 8 fev. 2025.

ANDRADE, Cristiani Garrido de et al. Cuidados paliativos e comunicação: uma reflexão à luz da teoria do final de vida pacífico. SciELO Brasil, 2022. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/cenf/a/ZhMVmywdypwQBPT7Lm8FqCP/?lang=pt>. Acesso em: 8 fev. 2025.

BATISTA, Verônica Matos et al. Spiritual care provided by the nursing team to the person in palliation in intensive care. SciELO Brasil, 2022. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rgenf/a/mWPrPS6nLk68MdsJqvsWPJf/?lang=en>. Acesso em: 8 fev. 2025.

COSTA, Álvaro Percínio; POLES, Kátia; SILVA, Alexandre Ernesto. Formação em cuidados paliativos: experiência de alunos de medicina e enfermagem. Interface (Botucatu), [S.l.], v. 20, n. 60, p. 79-89, out./dez. 2016. Disponível em:<https://doi.org/10.1590/1807-57622015.0774>. Acesso em: 28 set. 2024.

DIAS, Thainá Karoline Costa et al. Assistência de enfermeiros a crianças em cuidados paliativos: estudo à luz da teoria de Jean Watson. Portal Regional da BVS, 2023. Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio1421444>. Acesso em: 8 fev. 2025.

FRANCO, Julia Helena Machado et al. A musicoterapia em oncologia: percepções de crianças e adolescentes em cuidados paliativos. Portal Regional da BVS, 2021. Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1279024>. Acesso em: 8 fev. 2025.

INSTITUTO DE ESTUDOS PARA POLÍTICAS DE SAÚDE. Estudo institucional n. 10: envelhecimento populacional e saúde dos idosos – o Brasil está preparado? São Paulo, 2023. Disponível em: <https://ieps.org.br/estudo-institucional-10/>. Acesso em: 24 dez. 2024.

INSTITUTO DE PSICOLOGIA – USP. Revisão de literatura. Biblioteca do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Disponível em: <https://www.ip.usp.br/site/biblioteca/revisao-deliteratura/#:~:text=A%20revis%C3%A3o%20de%20escopo%20%C3%A9,responder% 20a%20uma%20pergunta%20espec%C3%ADfica>. Acesso em: 5 nov. 2024.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Cuidados paliativos. 2020. Disponível em: <https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/palliative-care>. Acesso em: 5 out. 2024.

RIBEIRO, Aline Lima et al. Cuidados paliativos: percepção da equipe multiprofissional atuante em uma unidade de terapia intensiva. Portal Regional da BVS, 2021. Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio1358999>. Acesso em: 8 fev. 2025.

RIBEIRO, Júlia Rezende; POLES, Kátia. Cuidados paliativos: prática dos médicos da Estratégia Saúde da Família. Revista Brasileira de Educação Médica, Brasília, v. 43, n. 3, p. 62-72, jul./set. 2019. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rbem/a/sqGJCJcSsC5mbKZkRHHfnNm/>. Acesso em: 6 nov. 2024.

SCHUH, Júlia Helena; HENCKEL, Viviane. Percepção dos profissionais sobre a alimentação/nutrição em cuidados paliativos. SciELO Brasil, 2023. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/bioet/a/WGHGFPq5fYMqQNHXHvGcvnR/?lang=pt>. Acesso em: 8 fev. 2025.

SOUZA, Mônica Olívia Lopes Sá de; TROÁDIO, Ivana Falcão de Macêdo; VENDAS, Alessandro Silva; et al. Reflexões de profissionais de enfermagem sobre cuidados paliativos. Revista Bioética, v. 1, jan./abr. 2022. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/bioet/a/M8PwcV7ZPSRcFVrKCRhnhYB/#:~:text=%E2%80%9 CO%20cuidado%20paliativo%20oncol%C3%B3gico%2C%20ele,v%C3%A1rios%20f atores%E2%80%9D%20(Esperan%C3%A7a)>. Acesso em: 6 nov. 2024.

SUNG, H. et al. Global cancer statistics 2020: Globocan estimates of incidence and mortality worldwide for 36 cancers in 185 countries. CA: A Cancer Journal for Clinicians, [S.l.], v. 71, n. 3, p. 209-249, 2021. Disponível em: <https://doi.org/10.3322/caac.21660>. Acesso em: 28 set. 2024.

TEIXEIRA, Elizabeth et al. Integrative literature review step-by-step & convergences with other methods of review. Revista de Enfermagem da UFPI, Teresina, 2013. Disponível em: <https://ojs.ufpi.br/index.php/reufpi/article/view/1457/pdf>. Acesso em: 5 nov. 2024.


1ORCID: https://orcid.org/0009-0004-2089-3085 Curso de Enfermagem, Centro Universitário de Formiga (UNIFOR-MG), BrasilE-mail: buenoaline2907@gmail.com
2ORCID: https://orcid.org/0009-0005-3836-2909 Curso de Enfermagem, Centro Universitário de Formiga (UNIFOR-MG), Brasil
3ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2965-2593 Curso de Enfermagem, Centro Universitário de Formiga (UNIFOR-MG), Brasil
4ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4554-5982 Curso de Enfermagem, Centro Universitário de Formiga (UNIFOR-MG), Brasil
5ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3990-4993 Curso de Enfermagem, Centro Universitário de Formiga (UNIFOR-MG), Brasil