EMPATIA E COMPORTAMENTO ECOLÓGICO: CORRELAÇÕES ENTRE ZONA RURAL E URBANA NO INTERIOR FLUMINENSE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412291135


Augusto Maia Felippe1
Cristiano Queiroz de Oliveira2
Orientador: Luís Antônio Monteiro Campos3


Resumo

O objetivo desta pesquisa foi investigar comportamentos ecológicos e empáticos de moradores rurais e urbanos nas cidades de Petrópolis, Areal, São José do Vale do Rio Preto e Paraíba do Sul, situadas no interior do estado do Rio de Janeiro. A pesquisa adotou uma abordagem quantitativa, de natureza correlacional, para a coleta de dados. Utilizou-se um questionário semiestruturado, composto por questões sociodemográficas (escolaridade, sexo, faixa etária, zona de moradia, estado civil e ocupação profissional) e questões com escala Likert, relacionadas ao comportamento ecológico e à empatia. A aplicação dos instrumentos foi realizada com 200 participantes, sendo 100 da zona rural e 100 da zona urbana. Os dados obtidos foram analisados estatisticamente, por meio das frequências das respostas dos participantes.

Palavras-chave: comportamento ecológico, empatia, moradores rurais, moradores urbanos, pesquisa quantitativa, estado do Rio de Janeiro.

1. Introdução

Com o crescente impacto das questões ambientais e sociais no comportamento humano, a Psicologia tem se aventurado na análise da interação entre o indivíduo e o ambiente, especialmente no que tange ao comportamento ecológico e empático. A Psicologia Ambiental, como campo de estudo, busca entender como os fatores ambientais influenciam o comportamento humano, e vice-versa, contribuindo para a promoção de práticas sustentáveis e comportamentos empáticos, fundamentais para o bem-estar coletivo e ambiental. A empatia, uma habilidade social essencial, se caracteriza pela capacidade de se colocar no lugar do outro, o que pode afetar tanto as relações interpessoais quanto a relação do indivíduo com o ambiente. Este estudo visa investigar essa correlação, considerando a divisão entre áreas rurais e urbanas, em quatro cidades do interior do Rio de Janeiro.

2. Objetivos

2.1 Objetivo Geral

Investigar a relação entre comportamentos ecológicos e empáticos de moradores das zonas urbanas e rurais das cidades de Petrópolis, Areal, São José do Vale do Rio Preto e Paraíba do Sul.

2.2 Objetivos Específicos

  • Correlacionar os comportamentos ecológicos com os empáticos.
  • Investigar se pessoas mais empáticas demonstram maior comportamento ecológico.
  • Averiguar se os moradores rurais apresentam comportamentos ecológicos distintos dos urbanos.

3. Metodologia

3.1 Desenho da Pesquisa

A pesquisa seguiu uma abordagem quantitativa, correlacional, com o objetivo de investigar relações entre variáveis. Para tanto, foram utilizados dois instrumentos de avaliação: o Inventário de Empatia de acesso liberado na plataforma da scielo e a Escala de Comportamento Ecológico cedido pela autora para fins de pesquisa. Ambos os instrumentos, validados no Brasil, foram aplicados a 200 participantes, com 100 moradores urbanos e 100 rurais, nas quatro cidades mencionadas. A coleta de dados ocorreu por meio de questionários semiestruturados, e a análise estatística foi realizada com base nas frequências das respostas.

3.2 Participantes

Participaram da pesquisa 200 moradores de áreas urbanas e rurais, sendo 50% de cada zona. Os critérios de inclusão foram a residência nas cidades de Petrópolis, Areal, São José do Vale do Rio Preto e Paraíba do Sul, e a disponibilidade para responder ao questionário. A análise dos dados de desenvolvimento humano foi complementada com informações fornecidas pelo IBGE e pelo Atlas Brasil.

3.3 Instrumentos de Avaliação

  • Inventário de Empatia: Instrumento utilizado para medir a capacidade empática dos participantes.
  • Escala de Comportamento Ecológico: Mediu os comportamentos relacionados à sustentabilidade e à relação do indivíduo com o meio ambiente. Ambos os instrumentos foram cedidos por instituições acadêmicas e são amplamente utilizados e validados.

3.4 Procedimentos

Os questionários foram aplicados diretamente nas comunidades urbanas e rurais. Em alguns casos, os participantes da zona rural receberam os questionários para devolução uma semana após a visita do pesquisador. O processo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Católica de Petrópolis (UCP), e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

3.5 Aspectos Éticos

Garantiu-se a confidencialidade dos dados, sendo os participantes identificados apenas por códigos numéricos. O sigilo foi mantido durante todas as fases da pesquisa, e as respostas obtidas foram utilizadas exclusivamente para análise científica.

4. Resultados e Discussão

A análise dos dados revelou correlações significativas entre empatia e comportamento ecológico, variando de cidade para cidade. Em Areal, a correlação foi forte (Spearman p = 0,71 na zona urbana e p = 0,53 na zona rural), indicando que a empatia e o comportamento ecológico estão inter-relacionados. Em Petrópolis, observou-se uma correlação mais forte na zona rural (p = 0,72), enquanto em Paraíba do Sul e São José do Vale do Rio Preto, as correlações foram moderadas (p = 0,50 e p = 0,59, respectivamente).

De maneira geral, a análise revelou que os moradores urbanos tendem a apresentar comportamentos empáticos e ecológicos mais acentuados do que os rurais, exceto na cidade de São José do Vale do Rio Preto, onde os rurais superaram os urbanos nesses aspectos.

5. Conclusão

Os dados obtidos nesta pesquisa evidenciam uma correlação relevante entre os comportamentos ecológicos e os comportamentos empáticos nas populações urbanas e rurais das cidades de Petrópolis, Areal, São José do Vale do Rio Preto e Paraíba do Sul, localizadas no interior do estado do Rio de Janeiro. A análise estatística mostrou que, de maneira geral, as populações urbanas demonstraram maior propensão para comportamentos ecológicos e empáticos, com variações significativas entre as cidades.

A cidade de Areal, por exemplo, apresentou uma forte correlação entre empatia e comportamento ecológico na população urbana (p = 0,71), enquanto na população rural, a correlação foi moderada (p = 0,53). Esses dados revelam que a urbanização pode estar associada a um comportamento ecológico mais acentuado, possivelmente devido ao maior grau de exposição a práticas ambientais sustentáveis, políticas públicas e educação ambiental nas áreas urbanas.

No entanto, a cidade de Petrópolis apresentou uma correlação fraca entre empatia e comportamento ecológico na população urbana (p = 0,34), mas uma correlação forte na população rural (p = 0,72). Esse contraste indica que os fatores ambientais e culturais das zonas rurais podem favorecer comportamentos ecológicos mais expressivos, mesmo em uma cidade com índice de desenvolvimento humano (IDHM) mais elevado. Esse fato sugere que, embora a urbanização esteja associada a maior desenvolvimento econômico e longevidade, o comportamento ecológico pode ser moldado por outros fatores, como as condições ambientais locais e o estilo de vida mais conectado à natureza nas zonas rurais.

A análise do Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) 2010 nas cidades pesquisadas também revelou uma relação importante com os comportamentos empáticos e ecológicos. Petrópolis, com um IDHM de 0,745, apresentou uma correlação mais forte na zona rural do que na urbana, o que pode ser explicado pela maior proximidade das populações rurais com o meio ambiente e, possivelmente, uma maior sensibilização para a necessidade de preservação ambiental. Areal, com o IDHM de 0,684, teve uma correlação entre empatia e comportamento ecológico forte na zona urbana, o que pode refletir o impacto das políticas públicas e da educação ambiental na área urbana.

São José do Vale do Rio Preto, com o IDHM mais baixo (0,660), mostrou uma correlação significativa entre empatia e comportamento ecológico, com uma correlação mais forte na população urbana (p = 0,80), sugerindo que, apesar do índice de desenvolvimento humano relativamente baixo, a urbanização pode estar proporcionando uma maior conscientização sobre questões sociais e ambientais. Paraíba do Sul, com IDHM de 0,702 e longevidade relativamente alta (0,812), apresentou um equilíbrio nas correlações entre empatia e comportamento ecológico, tanto na zona urbana quanto na rural, o que reflete uma harmonia entre o desenvolvimento social e a conscientização ambiental.

Esses resultados indicam que os fatores de desenvolvimento humano, como o IDHM e a longevidade, não são determinantes diretos para os comportamentos ecológicos ou empáticos, mas influenciam de maneira indireta. A relação entre as dimensões ambientais e sociais nas cidades estudadas pode sugerir que a qualidade de vida, influenciada pelo IDHM, pode impactar as atitudes e os comportamentos dos indivíduos em relação ao meio ambiente e aos outros, além de afetar sua capacidade de interagir de maneira empática.

A longevidade, como evidenciado no Índice IDHM de Longevidade, também se relaciona com o comportamento empático e ecológico. Petrópolis, com a maior longevidade (0,847), mostrou que uma maior expectativa de vida pode estar associada ao desenvolvimento de comportamentos mais empáticos e ecológicos, especialmente na população rural, que parece ser mais sensível às questões ambientais. Em contrapartida, cidades com índices de longevidade mais baixos, como São José do Vale do Rio Preto (0,806), apresentaram uma correlação moderada entre empatia e comportamento ecológico, sugerindo que a longevidade, embora importante, não é o único fator que determina tais comportamentos.

Dessa forma, ao considerar tanto os dados do Índice de Desenvolvimento Humano quanto os resultados das correlações entre empatia e comportamento ecológico, fica claro que a relação entre a pessoa e o ambiente (tanto físico quanto social) é complexa e multifacetada. As evidências sugerem que, embora o desenvolvimento humano e a longevidade possam influenciar positivamente os comportamentos sociais e ecológicos, os fatores culturais, educacionais e ambientais locais desempenham um papel crucial na modelagem desses comportamentos.

Finalmente, a pesquisa reforça a importância da Psicologia Ambiental e das Habilidades Sociais para compreender como os indivíduos interagem com o ambiente e com os outros. A empatia, como uma habilidade social fundamental, mostra-se essencial para promover comportamentos ecológicos mais sustentáveis, sugerindo que o treinamento e a psicoeducação sobre empatia podem ser ferramentas poderosas para melhorar a qualidade de vida, tanto individual quanto coletivamente. Assim, é possível concluir que o comportamento empático e ecológico é influenciado por múltiplos fatores, com destaque para o contexto social, ambiental e de desenvolvimento humano, tornando-se um campo promissor para futuras pesquisas e intervenções psicológicas.

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