EFICIÊNCIA DA BACTÉRIA METHYLOBACTERIUM SYMBIOTICUM E AZOSPIRILLUM BRASILENSE NA FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO E PROMOÇÃO DE CRESCIMENTO NA CULTURA DO MILHO

EFFICIENCY OF METHYLOBACTERIUM SYMBIOTICUM AND AZOSPIRILLUM BRASILENSE IN BIOLOGICAL NITROGEN FIXATION AND GROWTH PROMOTION IN MAIZE 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202508301609


Debora Curado Jardini1
Ismail Teodoro de Souza Junior1
Matheus da Silva Ormond2
Rui Francisco Spinelli Rachid Maia2


RESUMO

A adubação nitrogenada é a principal responsável pelo aumento de produtividade na cultura do milho, porém, sua aplicação aumenta o custo de produção e promove uma série de problemas ambientais. Uma alternativa para a redução no uso de fertilizantes nitrogenados é o uso de bactérias fixadoras de nitrogênio. Diante disso, o presente estudo teve como objetivo avaliar a eficiência agronômica das bactérias Methylobacterium symbioticum e Azospirillum brasilense na fixação biológica de nitrogênio e promoção de crescimento na cultura do milho. O experimento foi conduzido no Centro Universitário de Várzea Grande (UNIVAG), utilizou-se o delineamento em blocos casualizados com sete tratamentos: Adubação nitrogenada (dose total – testemunha); 50% da adubação nitrogenada + Methylobacterium symbioticum; 50% da adubação nitrogenada + Azospirillum brasilense; Methylobacterium symbioticum isolado; Azospirillum brasilense isolado; Methylobacterium symbioticum + Azospirillum brasilense + 50% da adubação nitrogenada; e Methylobacterium symbioticum + Azospirillum brasilense, com três repetições. No florescimento da planta, foram avaliados a altura de plantas (cm), altura de inserção da primeira espiga (cm), diâmetro do colmo (mm), massa verde e seca da parte aérea (g/planta) e o teor foliar de nitrogênio (g/kg MS), na maturação fisiológica a produtividade (kg/ha). O uso das bactérias fixadoras de nitrogênio não proporcionou diferenças significativas para os parâmetros morfológicos e produtivos da cultura do milho. Logo, o uso das bactérias é uma alternativa viável para o produtor para reduzir a quantidade de fertilizantes nitrogenados aplicados ao solo, uma vez que, não proporcionaram redução nos parâmetros avaliados quando na ausência e na redução da adubação nitrogenada.

Palavras-chave: Zea mays; adubação nitrogenada; microrganismos;bioestimulante.

ABSTRACT

Nitrogen fertilization is primarily responsible for increased productivity in corn crops; however, its application increases production costs and causes a series of environmental problems. An alternative to reduce the use of nitrogen fertilizers is the use of nitrogen-fixing bacteria.Therefore, this study aimed to evaluate the agronomic efficiency of the bacteria Methylobacterium symbioticum and Azospirillum brasilense in biological nitrogen fixation and growth promotion in corn crops. The experiment was conducted at the Várzea Grande University Center (UNIVAG), using a randomized block design with seven treatments: Nitrogen fertilization (total dose – control); 50% nitrogen fertilization + Methylobacterium symbioticum; 50% nitrogen fertilization + Azospirillum brasilense; Methylobacterium symbioticum isolated; Azospirillum brasilense isolated; Methylobacterium symbioticum + Azospirillum brasilense + 50% of nitrogen fertilization; and Methylobacterium symbioticum + Azospirillum brasilense, with three replicates. At flowering, the following were evaluated: plant height (cm), height of insertion of the first ear (cm), stem diameter (mm), green and dry mass of the aerial part (g/plant) and leaf nitrogen content (g/kg MS); at physiological maturity, productivity (kg/ha). The use of nitrogen-fixing bacteria did not provide significant differences in the morphological and productive parameters of the corn crop. Therefore, the use of bacteria is a viable alternative for the producer to reduce the amount of nitrogen fertilizers applied to the soil, since they did not provide a reduction in the evaluated parameters when in the absence and reduction of nitrogen fertilization.

Keywords: Zea mays; nitrogen fertilization; microorganisms; biostimulant.

1. INTRODUÇÃO

A cultura do milho (Zea mays L.) é reconhecida pelas suas múltiplas aplicações, sendo um alimento versátil e de grande importância para a economia e a sociedade global (DUARTE et al., 2021). O Brasil mantém-se como o terceiro maior produtor global do grão, atrás apenas dos Estados Unidos e da China, com uma produção de 156 milhões de toneladas na safra 2023/24, sendo o estado de Mato Grosso responsável por 58,3 milhões de toneladas (CONAB, 2024). Contudo, essa produção enfrenta um desafio estratégico: a dependência de fertilizantes nitrogenados importados, que respondem por 85% do consumo nacional (ANDA, 2023), expondo o setor a riscos econômicos, como a volatilidade cambial e os preços globais de commodities. Em 2022, por exemplo, o custo da ureia aumentou 130%, impactando diretamente a lucratividade dos produtores (CEPEA, 2023).

O nitrogênio (N) é um dos nutrientes essenciais para o crescimento das plantas, sendo o elemento mais absorvido e extraído pela cultura. Participa da composição de aminoácidos, proteínas, ácidos nucléicos, clorofila e enzimas que estimulam o crescimento e desenvolvimento da parte aérea e radicular das plantas (MOREIRA et al., 2019; FERNANDES et al., 2018). Os fertilizantes nitrogenados desempenham um papel fundamental na melhoria da fertilidade do solo e no aumento da produtividade das safras de grãos (SILVA et al., 2024). No entanto, além dos custos elevados, o uso excessivo desses insumos está associado a impactos ambientais, como a lixiviação de nitratos e emissões de óxido nitroso (N₂O), gás com 265 vezes mais potencial de aquecimento global que o CO₂ (IPCC, 2021).

Diante desse cenário, a fixação biológica de nitrogênio (FBN) surge como estratégia para reduzir a dependência de insumos externos. O milho, assim como outras plantas, não é capaz de absorver o nitrogênio diretamente do ar, por isso depende de bactérias fixadoras de nitrogênio para converter o nitrogênio atmosférico em uma forma utilizável pela planta (COSTA, 2023). Essa simbiose contribui para a produção de grãos de alta qualidade e ajuda a sustentabilidade da cultura, reduzindo a necessidade de fertilizantes nitrogenados e minimizando impactos ambientais (ALMEIDA et al., 2018; SILVA JUNIOR et al., 2019). Dados da Embrapa (2023) indicam que 10,2 milhões de hectares de cultivos no Brasil já utilizam inoculantes à base de Azospirillum, com crescimento de 22% na última década, especialmente em milho, trigo e cana-de-açúcar.

Recentemente, uma nova espécie de bactéria, a Methylobacterium symbioticum, foi isolada de esporos da espécie de fungo simbionte Glomus iranicum var. tenuihypharum (PASCUAL et al., 2020). No Brasil, ela vem sendo utilizada na cultura do milho como inoculante biológico com potencial de fixar nitrogênio atmosférico pela folha, durante os estágios iniciais de desenvolvimento da planta. Além disso, a bactéria também promove a produção de hormônios vegetais (citocininas e auxinas), promovendo o crescimento e desenvolvimento das plantas. Também fornece proteção contra patógenos de plantas, induzindo resistência e exibindo atividade antibacteriana e antifúngica (OLIVEIRA, 2024).

Estudos realizados por Pascual et al. (2020) demonstraram que a Methylobacterium symbioticum apresenta resultados notáveis em culturas de arroz, milho e uva. A produtividade dessas culturas tratadas com essa bactéria foi superior à das culturas não tratadas devido à sua habilidade de fixar nitrogênio atmosférico. Já Torres et al. (2022) verificaram que a bactéria Methylobacterium symbioticum é capaz de fornecer até 50% do nitrogênio convencional utilizado na cultura do milho, resultando em um aumento de 21% na produtividade. Entretanto, em condições ideais, o rendimento das plantas de milho inoculadas com essa bactéria permaneceu inalterado, evidenciando que o efeito biofertilizante pode depender da presença de estresse abiótico na planta.

Nesse contexto, a FBN surge como uma estratégia sustentável, com destaque para as bactérias Azospirillum brasilense e Methylobacterium symbioticum. Enquanto A. brasilense atua principalmente na rizosfera, promovendo crescimento radicular e síntese de fitormônios (HUNGRIA, 2011), a M. symbioticum fixa nitrogênio atmosférico via foliar, colonizando estômatos e otimizando a disponibilidade de N em estágios críticos do desenvolvimento vegetal

(CAYRES et al., 2025; CORTEVA, 2023). Estudos recentes demonstram que a combinação desses microrganismos pode potencializar sinergicamente a eficiência nutricional, como observado por Cayres et al. (2025), que reportaram incrementos de 15% no diâmetro do colmo e 12% na altura de inserção da primeira espiga em milho safrinha. Esses avanços reforçam o potencial da FBN como pilar para uma agricultura de baixo carbono, alinhada às metas do Plano ABC+ (Agricultura de Baixo Carbono), que prevê a expansão de tecnologias sustentáveis em 72 milhões de hectares até 2030 (MAPA, 2020).

Diante disso, o objetivo do presente trabalho foi o presente estudo teve como objetivo avaliar a eficiência agronômica das bactérias Methylobacterium symbioticum e Azospirillum brasilense na fixação biológica de nitrogênio e promoção de crescimento na cultura do milho. 

2. METODOLOGIA

O experimento foi realizado no Campo experimental do Centro Universitário de Várzea Grande (UNIVAG), localizado no município de Várzea Grande – MT, no período de abril a agosto de 2024. A classificação do clima de Várzea Grande, segundo Köppen, é a de Savana (Aw), no qual possui um clima tropical, com estação seca (outono-inverno) e estação chuvosa (primavera-verão) com temperatura média anual entre 25ºC e 32ºC e pluviosidade anual de entre 1250 a 1500 mm (MAITELLI, 2005).

Foi utilizado o delineamento experimental em blocos ao acaso (DBC), com sete tratamentos, sendo: T1: Adubação nitrogenada (dose total – testemunha); T2: 50% da adubação nitrogenada + Methylobacterium symbioticum; T3: 50% da adubação nitrogenada + Azospirillum brasiliense; T4: Methylobacterium symbioticum isolado; T5: Azospirillum brasiliense isolado; T6: Methylobacterium symbioticum + Azospirillum brasiliense + 50% da adubação nitrogenada; e T7: Methylobacterium symbioticum + Azospirillum brasiliense, com três repetições, totalizando 21 parcelas. Cada parcela teve dimensão de 4 x 2 m (oito m²), com espaçamento de 0,45 m entre parcelas.

O solo da área experimental é classificado como um Latossolo   Vermelho-Amarelo   Distrófico   argissólico, de textura franco arenosa/franco argilo arenosa (ARATANI, 2021). Antes da implantação do experimento, foi realizada a amostragem de solo na área, sendo que foram coletadas 20 amostras simples na camada de 0 a 20 cm de profundidade, com o auxílio de um trado holandês. Estas foram misturadas para formar uma amostra composta que foi encaminhada ao laboratório para realização da análise química. A correção e adubação da área foram feitas a partir dos resultados obtidos na análise química de solo (Tabela 1).

Tabela 1. Resultados da análise química e física do solo da área experimental.

Com base nos resultados da análise química do solo e na expectativa de produtividade de 12 t/ha de milho, foi realizada a adubação somente de manutenção. Para o fósforo, aplicouse 60 kg/ha de P₂O₅, utilizando superfosfato simples (21% P2O5). A adubação potássica foi feita com cloreto de potássio (60% K2O), sendo 60 kg/ha aplicados na semeadura e 90 kg/ha em cobertura, 30 dias após a germinação. A adubação nitrogenada foi realizada em duas etapas, também com base na expectativa de produção: 30 kg/ha de nitrogênio na semeadura e 180 kg/ha em cobertura, utilizando ureia (45% N) como fonte.

A semeadura foi feita manualmente, utilizando o híbrido SEMPRE 20-A-12 VIP3 no espaçamento de 45 cm entre linhas e quatro plantas por metro linear. Os tratos culturais foram realizados conforme a necessidade da cultura ao decorrer do experimento. Foi utilizada a irrigação por aspersão por meio de pivô central para satisfazer a demanda hídrica da cultura. A aplicação das bactérias foi realizada via foliar no estádio fenológico V3 (três folhas completamente desenvolvidas) para a Methylobacterium symbioticum e V4 (quatro folhas completamente desenvolvidas) para a Azospirillum brasiliense. 

No estádio reprodutivo da cultura (início do florescimento), foi realizada a medida da altura das plantas e de inserção da primeira espiga (cm), tomando-se como medida o nível do solo até a inserção do pendão floral e da espiga, respectivamente, com o uso de uma régua graduada. O diâmetro de colmo (mm) foi obtido com uso de um paquímetro, tomando-se como medida o segundo internódio a partir da base da planta. Essas medidas foram obtidas em 10 plantas por parcela, aleatoriamente.

No início do florescimento, foi realizada também a determinação do teor de nitrogênio foliar (g/kg MS), onde foi realizada a amostragem foliar, coletando-se 10 folhas/parcela, sendo coletada a folha oposta e abaixo da espiga. Em seguida, as amostras foram devidamente acondicionadas e encaminhadas para análise química. Também foi realizada a determinação da massa verde e seca da parte aérea, para isso, foram coletadas cinco plantas por tratamento, pesadas e, em seguida, colocadas em uma estufa de circulação forçada de ar, a 65ºC por 72 horas. Passado esse período, realizou-se a pesagem para determinação da massa seca da parte aérea (g/planta).

No estádio de maturação fisiológica dos grãos, foi determinada a produtividade da cultura (kg/ha), obtida a partir da debulha e pesagem dos grãos oriundos da colheita das espigas nas duas linhas centrais de cada tratamento. Em seguida, foi determinada a umidade dos grãos com o medidor de grãos de bancada G800 da Gehaka Agri para, posteriormente, ser realizada a correção da umidade dos grãos para 13%. 

Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias foram comparadas pelo Teste de Dunnett a 5% de probabilidade.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O uso das bactérias fixadoras de nitrogênio não proporcionou diferenças significativas nos parâmetros morfológicos da cultura do milho quando comparado à testemunha (dose total de N) (Tabela 2). 

Tabela 2. Parâmetros morfológicos (altura de plantas –AP; altura de inserção da primeira espiga – AIPE; diâmetro do colmo – DC; teor de nitrogênio foliar – N foliar; massa verde da parte aérea – MVPA e, massa seca da parte aérea – MSPA) da cultura do milho em função dos tratamentos testados.

A ausência de diferenças significativas nos parâmetros morfológicos entre os tratamentos indica que as bactérias atuaram principalmente em processos bioquímicos e fisiológicos da planta. No caso da bactéria A. brasilense, Hungria (2011) relata que a colonização endofítica realizada por ela favorece a disponibilidade de nitrogênio e a síntese de fitormônios. Esses fitormônios estimulam o desenvolvimento radicular e, consequentemente, favorece uma maior absorção dos nutrientes e água do solo. Já a M. symbioticum, Madhaiyan et al. (2015) relatam que ela coloniza a superfície das folhas e a rizosfera, auxiliando na fixação de nitrogênio e, assim, proporcionando uma fonte adicional desse nutriente para a planta. Além da fixação de nitrogênio, ela promove o crescimento vegetal por meio da produção de fitormônios, como auxinas, citocininas e giberelinas, que regulam o desenvolvimento das plantas. Logo, as bactérias fixadoras de nitrogênio favorecem a absorção desse nutriente e sua translocação, podendo incrementar o crescimento das plantas e sua produtividade (HUNGRIA et al., 2010). 

Cayres et al. (2025) avaliando características agronômicas na cultura do milho safrinha com dois híbridos (P3845 VYHR e P3858 PWU Pioneer) com  uso  de  duas  bactérias  fixadoras  de  nitrogênio Azospirillum  brasilense e Methylobacterium symbioticum, verificaram que  para  as  características agronômicas altura de planta, altura de inserção de espiga e diâmetro de colmo, o uso da bactéria Methylobacterium symbioticum obteve resultados positivos tanto de  forma  isolada  como   associada  ao   uso  de Azospirillum   brasilense.

Com relação ao teor de N foliar, ele é indicativo das quantidades do mineral absorvido pelas raízes e translocado para a parte aérea e, consequentemente, para os grãos, seja pela suplementação via adubação nitrogenada ou pela fixação biológica de nitrogênio (FBN) (SANTOS et al., 2010). Segundo Raij et al. (1996), a concentração de nitrogênio foliar considerada adequada para a nutrição da cultura do milho está entre 27 a 35 g/kg de matéria seca. Os resultados deste estudo mostram que os teores estão dentro dessa faixa, o que indica adequada nutrição nitrogenada da cultura.

O nitrogênio atua diretamente no processo de divisão e expansão celular, além de compor a molécula de clorofila. Assim, o teor adequado de N foliar promove maior crescimento e desenvolvimento da planta, contribuindo para um maior índice de área foliar e acúmulo de carboidratos via fotossíntese, resultando em maior produção de biomassa e produtividade (MALAVOLTA et al., 1997). Vera et al. (2024) descreveram que a aplicação foliar de M. symbioticum aumentou o teor de clorofila (valores SPAD), tanto na presença quanto na ausência de fertilização com nitrogênio, em milho e morango. Isso sugere que M. symbioticum pode estimular a síntese de clorofila sob condições variáveis de nitrogênio.

Resultado semelhante foi obtido por Valente et al. (2024) onde descobriram que o aumento da adubação nitrogenada isolada e combinado com M. symbioticum levou a valores SPAD mais altos em comparação com doses reduzidas de nitrogênio. Como o nitrogênio é um componente crucial da clorofila e influencia diretamente a capacidade fotossintética, um aumento no conteúdo de nitrogênio poderia aumentar a formação de clorofila, aumentando ainda mais a atividade fotossintética da planta (SETIAWATI et al., 2021). Martinez et al. (2004), expõem que é possível atribuir à Methylobacterium sp. o aumento da capacidade fotossintética da planta hospedeira, devido ao aumento no número de estômatos, teor de clorofila e conteúdo de ácido málico. 

Geralmente, em sistemas biológicos com microrganismos fixadores de N, atingir altas taxas de fixação requer um alto nível de especificidade entre o microrganismo e a planta hospedeira. A M. symbioticum é mais eficaz quando as plantas têm um estado nutricional moderado de N do que quando os níveis de N são muito baixos. Acredita-se que as plantas com um estado nutricional moderadamente favorável liberam mais substratos que os microrganismos podem utilizar (CORTEVA, 2024).

O uso das bactérias fixadoras de nitrogênio não ocasionou redução na produtividade, mesmo na ausência ou redução da adubação nitrogenada (Tabela 3).

Tabela 3. Produtividade da cultura do milho em função dos tratamentos testados

Isso demonstra que as bactérias Methylobacterium symbioticum e Azospirillum brasilense é uma alternativa viável para o produtor visando à redução da quantidade de fertilizantes nitrogenados aplicados ao solo, uma vez que não houve redução na produtividade, mesmo na ausência ou redução da adubação nitrogenada, oferecendo ao produtor uma economia, uma vez que os inoculantes possuem menor valor comercial que os fertilizantes e não causam impactos ambientais.

Embora não tenha ocorrido diferença estatística entre os tratamentos em relação a testemunha, observa-se que o tratamento seis proporcionou um incremento de aproximadamente 3.868,96 kg/ha quando se comparado a testemunha. Isso pode ser atribuído à complementaridade espacial e fisiológica entre A. brasilense e M. symbioticum pois, enquanto o A.  brasilense atua na rizosfera, promovendo a fixação biológica de nitrogênio (FBN) associada às raízes e estimulando o crescimento radicular via síntese de fitormônios (ex.: ácido indolacético – AIA) (HUNGRIA et al., 2021), a M. symbioticum coloniza a filosfera, realizando a FBN foliar por meio da conversão de N₂ atmosférico em formas assimiláveis diretamente nas folhas (PASCUAL et al., 2020). 

Fazendo uma análise de custo-benefício entre a adubação nitrogenada e o uso das bactérias, em dezembro de 2024, no estado de Mato Grosso, o preço da ureia era de aproximadamente R$ 2.892,65 por tonelada. Considerando que a ureia possui cerca de 45% de nitrogênio em sua composição, seriam necessários aproximadamente 467 kg/ha para atender à demanda de 210 kg/ha de nitrogênio na cultura do milho, para uma expectativa de produção de 12 t/ha, o que resulta em um custo aproximado de R$ 1.437,32 por hectare. 

Já o inoculante à base de Azospirillum spp., apresenta custo entre R$ 12,00 e R$ 15,00 por dose. Para aplicações via foliar, recomenda-se o uso de duas a três doses por hectare, totalizando um custo entre R$ 24,00 e R$ 45,00 por hectare (REVISTA CAMPO e NEGÓCIOS, 2024). A M. symbioticum tem custo de R$ 400,00 por quilograma. Com uma dose recomendada de 333 g/ha, o custo por hectare é de aproximadamente R$ 133,20. 

Logo, a redução de 50 % na adubação nitrogenada por meio da combinação de M. symbioticum e A.brasilense reduziu o custo total com fertilizantes de R$ 1. 437,32 ha⁻¹ (T1) para R$ 886,36 ha⁻¹ (T6), gerando uma economia de R$ 550,96 ha⁻¹, ou 38,3 % no investimento em nitrogênio. Desta forma, o uso das bactérias fixadoras de nitrogênio apresenta-se como alternativas viáveis economicamente para reduzir os custos da adubação nitrogenada na agricultura. 

Resultados semelhantes foram relatados por Damasceno et al. (2024), que avaliaram economicamente a inoculação com A. brasilense associada a fertilizantes nitrogenados de alta eficiência em milho na Amazônia brasileira, onde mesmo em doses reduzidas de N, a inoculação promoveu rentabilidade positiva em todos os cenários testados, demonstrando viabilidade financeira da técnica para produtores da região. 

Vera et al. (2024), em ensaio de casa de vegetação, verificaram que a aplicação foliar de M. symbioticum SB23 permitiu reduzir em 50 % o uso de N sem perdas na produtividade, chegando a um acréscimo de 38,5 % no rendimento de grãos das plantas de milho. Santos e Bundt (2025) relataram que inoculações foliares de M. symbioticum SB23, associadas a 50 %de redução na adubação nitrogenada, geraram acréscimo médio de 53,7 % na produtividade de milho em diferentes regiões brasileiras, reforçando o potencial biofertilizante desta via de aplicação em diversas condições edafoclimáticas. O que demonstra a robustez do efeito benéfico da FBN foliar em diferentes sistemas experimentais. Contudo, a eficácia da inoculação pode variar conforme genótipos e condições edafoclimáticas, exigindo validação em diferentes ambientes para consolidar a técnica como alternativa sustentável.

4. CONCLUSÃO

O uso das bactérias Methylobacterium symbioticum e Azospirillum brasilense é uma alternativa viável para o produtor para reduzir a quantidade de fertilizantes nitrogenados aplicados ao solo, uma vez que, não proporcionaram redução nos parâmetros avaliados quando na ausência e na redução da adubação nitrogenada.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1Docentes do Curso de Agronomia do UNIVAG – Centro Universitário de Várzea Grande. E-mail: debora.jardini@univag.edu.br; teodoro.junior@univag.edu.br

2Discentes do Curso de Agronomia do UNIVAG – Centro Universitário de Várzea Grande. E-mail: matheusormond10@gmail.com; ruifr@outlook.com