EFICÁCIA DAS ONDAS DE CHOQUE EXTRACORPÓREAS DE BAIXA INTENSIDADE EM PACIENTES COM DISFUNÇÃO ERÉTIL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410280522


Maria Júlia Oliveira Senhorinho
Débora Evelyn Alves Lemos
Maria Eduarda Gomes Dos Santos
Orientadora Prof.ª Ma. Maria Eduarda Pontes dos Santos
Co-orientadora Roberta Emanuela da Silva Carvalho


INTRODUÇÃO: A disfunção erétil é um distúrbio sexual masculino, definida como a inabilidade de atingir ou manter uma ereção peniana por tempo suficiente para possibilitar um desempenho sexual satisfatório. Nos últimos anos diversos tipos de terapias vêm sendo exploradas e consideradas para o tratamento da disfunção, incluindo a terapia por ondas de choque extracorpóreas de baixa intensidade (Li-ESWT). OBJETIVO: Identificar a eficácia da terapia por ondas de choque extracorpóreas de baixa intensidade em pacientes com disfunção erétil. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão integrativa conduzida entre os meses de agosto e outubro de 2024, através das bases de dados PubMed, BVS e Cochrane, utilizando os cruzamentos dos descritores “dysfunction erectile” “physiotherapy” e “shockwave” em inglês e português, com o operador booleano “and” nos quais foram selecionados estudos dos últimos 10 anos, do tipo ensaio clínico. RESULTADOS: Foram incluídos 5 estudos em que a Li-ESWT é utilizada como abordagem no tratamento da disfunção erétil. DISCUSSÃO: Os estudos selecionados utilizaram variados questionários para avaliar a função erétil e os possíveis efeitos de tratamentos, os mais comuns foram o domínio da função erétil do Índice Internacional de Função Erétil (IIEF-EF) e o Escore de Dureza da Ereção (EHS). Apesar de controvérsias e limitações em diversos estudos sobre Li-ESWT, é uma terapia promissora. Destacaram-se baixos efeitos colaterais e melhoria nas pontuações dos questionários após o uso do Li-ESWT. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Verificou-se que o Li-ESWT pode trazer uma melhora significativa na função sexual, melhorar a qualidade da ereção e proporcionar uma satisfação aos pacientes que buscam principalmente uma atividade sexual espontânea. Além de não ser um tratamento com métodos invasivos e seus efeitos colaterais serem baixos. Sendo assim, a Li-ESWT mostra-se uma terapia promissora.

Palavras-chave: Disfunção erétil, Fisioterapia, Ondas de choque, Desempenho sexual.

1.     INTRODUÇÃO

O termo disfunção erétil (DE) refere-se à inabilidade de atingir ou manter uma ereção peniana por tempo suficiente para possibilitar um desempenho sexual satisfatório (Ong et al., 2022). A DE é entendida como um distúrbio sexual masculino universal, e é uma condição que afeta de forma complexa o bem-estar emocional, a autoestima e a satisfação dos casais nas relações sexuais (Zanaty et al., 2022). É relatada em média cerca de 13% a 21% de prevalência da disfunção erétil em todas as idades. No entanto, seu predomínio cresce com a idade, o que faz com que seja considerado um fator de risco (Shendy et al., 2021). Homens acima de 40 anos são mais afetados, com uma estimativa de 52% que sofrem com a DE (Vinay et al., 2021).

A disfunção erétil normalmente possui etiologia multifatorial. Entretanto, fatores vasculares predominam nessa origem, sendo reconhecido que sua principal causa é a aterosclerose, que impede o fluxo sanguíneo para os tecidos cavernosos (Rislanu et al., 2020). A DE está associada a uma sequência de comorbidades e é um indicador comum de doenças cardiovasculares, como diabetes e hipertensão. A prostatectomia radical (PR) também é considerada um fator de risco, uma vez que o tratamento acarreta risco de lesão e má oxigenação dos corpos cavernosos (Islam; Rahaman; Hawlader, 2023). Sendo assim, o diagnóstico e o tratamento da DE são fundamentais não só para melhorar a qualidade de vida dos pacientes afetados, como também para prevenir possíveis complicações cardiovasculares.

O tratamento para DE vem tendo uma evolução significativa. Diversos desses tratamentos têm sido desenvolvidos nos últimos anos (Kalyvianakis et al., 2020), incluindo métodos invasivos como terapia de injeção intracavernosa e os implantes penianos (Vinay et al., 2021). Em relação aos tratamentos não invasivos, podem ser inclusos os dispositivos de vácuo e a fisioterapia, no qual vem sendo considerada como técnica conservadora que visa normalizar a função muscular, além de tonificar, potencializar a contração dos músculos e melhorar a circulação sanguínea (Afshar Safavi et al., 2024).

Para mais, é importante ressaltar as intervenções relacionadas a modificações no estilo de vida, praticar atividades físicas regularmente, abandonar o consumo de álcool, parar de fumar, aderir a programas de perda de peso. Essas mudanças podem ajudar a controlar fatores de risco ligados à DE e devem ser a primeira linha de intervenção, uma vez que está sendo considerado o bem-estar geral do paciente e não apenas a melhora da rigidez do pênis. A terapia psicossocial também pode ser recomendada, uma vez que ajuda a diminuir sentimentos como ansiedade e trabalha os relacionamentos interpessoais do paciente, contribuindo para melhorar os bloqueios psicossexuais e assim aliviar a disfunção erétil (Ergun et al., 2023).

No mercado atual, a ênfase está nos fármacos conservadores de uso oral (Sandoval- Salinas et al., 2022). São eles os inibidores da fosfodiesterase tipo 5 (PDE5i), com destaque para a sildenafila e a tadalafila. Porém, apesar de eficientes para muitos pacientes, às vezes acabam não trazendo os resultados esperados, principalmente naqueles que possuem condições vasculares mais graves (Androsov et al., 2023). Mesmo com todos os benefícios, esse é um dos motivos para a descontinuação do uso dos PDE5i continuar alta. Outros motivos incluem a melhora não permanente da DE e a baixa satisfação nos parceiros dos pacientes (Wong et al., 2023).

Por tais limitações, novos tipos de terapias vêm sendo exploradas e consideradas para o tratamento da DE. Uma das mais favoráveis é a terapia por ondas de choque extracorpóreas de baixa intensidade (Li-ESWT), que tem sido usada originalmente em diferentes áreas da medicina, com destaque para a ortopedia e a cardiologia (Sramkova et al., 2020). Além de ter sido adaptada para uso em diferentes condições de saúde como distúrbios musculoesqueléticos, fraturas ósseas, feridas que não cicatrizam, doenças cardíacas isquêmicas e doença de Peyronie (Ergun et al., 2023).

Estudada amplamente nos últimos anos, a Li-ESWT vem sendo adaptada para a área da urologia ao mostrar eficácia na melhora do sistema circulatório (Ortac et al., 2021). Seu mecanismo de ação principal estimula a neovascularização e regeneração tecidual através das células progenitoras endoteliais, melhorando a função erétil (Tzou et al., 2021). Além disso, a Li-ESWT tem potencial de converter pacientes que não responderam aos inibidores da fosfodiesterase tipo 5 (PDE5i) em respondedores, gerando um tratamento alternativo para aqueles que não progridem com o tratamento tradicional (Baccaglini et al., 2020).

Os pacientes optam pela Li-ESWT com o desejo de atingir ereções mais espontâneas e obter uma vida sexual mais satisfatória. Esses pacientes temem normalmente a dependência medicamentosa e negam a cirurgia peniana por medo de complicações pós-cirúrgicas (Spivak et al., 2019). O mecanismo exato da ação da Li-ESWT ainda não é elucidado totalmente, mas acredita-se ser causado por um estresse no endotélio dos corpos cavernosos, alcançando a formação de novos vasos sanguíneos (neoangiogênese), a vasodilatação e o recrutamento de células-tronco (Hayon; Panken; Bennett, 2023).

A Li-ESWT se caracteriza por ser uma terapia alternativa de resultados promissores. Os estudos sugerem que a Li-ESWT pode tratar a DE de forma significativa, trazendo inclusive um possível potencial de cura. Dessa forma, o presente estudo objetivou identificar a eficácia da terapia por ondas de choque extracorpóreas de baixa intensidade em pacientes com disfunção erétil.

2.     METODOLOGIA

O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa que foi desenvolvida com o intuito de analisar a eficácia da terapia por ondas de choque extracorpóreas de baixa intensidade em pacientes com disfunção erétil. Foram utilizadas as bases de dados eletrônicas BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), PubMed (National Library of Medicine) e Cochrane Library, aplicando os descritores consultados no DeCs/MeSH (Descritores em Ciências da Saúde) que se adequassem à temática do estudo, sendo eles: physiotherapy, dysfunction erectile, shockwave, associados ao operador booleano “AND” nos seguintes cruzamentos: physiotherapy AND dysfunction erectile; physiotherapy AND shockwave; dysfunction erectile AND shockwave.

A pesquisa foi realizada entre os meses de agosto a outubro de 2024, empregando o filtro da data de publicação para os últimos 10 anos nas bases de dados citadas anteriormente, com restrição de idiomas, sendo eles: inglês e português. Definiu-se como critérios de inclusão: ensaios clínicos, ensaios clínicos randomizados, idade igual ou superior a 18 anos, sexo masculino, paciente com disfunção erétil. Como critérios de exclusão foram: artigos que fugissem da temática abordada, estudos duplicados, com textos incompletos e baixa qualidade metodológica.

A seleção e escolha dos estudos foram conduzidos em quatro etapas distintas. Na primeira fase, as pesquisas foram realizadas nas bases de dados utilizando os termos específicos, com aplicação de filtros e classificação dos estudos conforme o modelo adotado. A segunda etapa, foca na seleção dos estudos por intermédio da análise dos títulos, identificando a relevância temática. Na terceira etapa, foi feita a identificação e remoção de estudos duplicados, seguida pela leitura dos resumos. Por fim, na quarta etapa, foi realizada a leitura integral dos estudos pré-selecionados. Todas as etapas estão representadas na figura 1.

Figura 1 – Fluxograma das etapas de seleção dos artigos.

3.     RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a etapa de triagem, onde foram encontrados 264 estudos, apenas 5 foram selecionados conforme os critérios de inclusão e exclusão estabelecidos (fig.1).

Os estudos selecionados foram realizados em indivíduos do sexo masculino, acima de 18 anos de idade, com diagnóstico de disfunção erétil. Foram selecionados ensaios clínicos randomizados, publicados em diferentes territórios, sendo eles: a Alemanha, a Itália, a República Tcheca, a Dinamarca e o Egito. As informações e resultados dos artigos selecionados estão descritos na tabela 1.

Tabela 1: Caracterização dos estudos

AUTOR/ANOOBJETIVODESENHO DE ESTUDOINTERVENÇÃORESULTADOS
Fojecki, Tiessen e Osther (2016)Avaliar a eficácia e perfil de segurança do Li-ESWT linear para DE.Ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado. Foram selecionados 126 participantes para o estudo. Com idade superior a 40 anos.Grupo tratamento recebeu durante cada sessão, 600 ondas de choque. O tratamento foi administrado 1 vez por semana durante 10 semanas. Grupo placebo, o tratamento simulado foi administrado com uma almofada de gel que impedia a passagem de energia.Os parâmetros utilizados no estudo não conduziram uma melhora significativa na função erétil em homens com DE.
Sramkova et al. (2019)Analisar o resultado do tratamento da Li- ESWT para a DE.Ensaio clínico randomizado, simples- cego, controlado. Foram selecionados 60 participantes com idades iguais, divididos em dois grupos. Com idade a partir de 40 anos.Os participantes foram divididos em dois grupos: A (grupo de tratamento) e B (grupo placebo). As intervenções duraram 4 sessões, no decorrer de 4 a 12 semanas.A Li-ESWT apresenta resultados significativos que melhoram a FE em pacientes com DE vasculogênica, e houve uma melhora considerável em relação a qualidade da atividade sexual.
Vinay et al. (2020)Avaliar o efeito da Li-ESWT eletromagnética na FE de indivíduos com DE refratária ao inibidor da fosfodiesterase vascular tipo 5 (PDE5I).Ensaio clínico randomizado, duplo cego, controlado por placebo. Estudo realizado com 76 pacientes, com idade média de 60 anos.Ambos os grupos (Li-ESWT e placebo) realizaram o protocolo de tratamento de 4 semanas. Sendo 1 sessão por semana. Cada sessão compreendeu 500 pulsos usando uma sonda especializada dividida em 4 focos. No grupo placebo, a sonda controle foi substituída por uma que tinha as mesmas características, mas não produziam ondas de choque.A proporção de pacientes com EHS >2 foi de 52,5% no grupo Li-ESWT e 27,8% no grupo placebo. Mais respostas positivas ao GAQ-1 foram encontradas no grupo LI- ESWT. Já as respostas positivas SEP2 e SEP3 não apresentaram diferenças significativas entre os grupos.
Gallo, Pecoraro e Sarnacchiaro (2021)Investigar um protocolo terapêutico para disfunção erétil baseado na combinação de Li- ESWT, tadalafil e L-arginina.Ensaio clínico randomizado, prospectivo e simples-cego. Estudo realizado com 100 indivíduos a partir de 18 anos de idade.Após responderem os questionários IIEF-EF e EHS, os pacientes foram divididos aleatoriamente em dois grupos: A (grupo de tratamento) e B (grupo de controle). Ambos os grupos receberam seis aplicações semanais de Li-ESWT. O grupo de tratamento recebeu prescrição de terapia oral adjuvante com tadalafil 5 mg e L-arginina 2.500 mg.Houve aumento na eficácia e duração dos benefícios do Li-ESWT adjuvante com L- arginina 2.500 mg e tadalafil 5 mg. Foi relatado um aumento expressivo na pontuação média de EHS e IIEF-EF para o grupo A.
Zanaty et al. (2022)Comparar os resultados do Li- ESWT versus o tratamento médico oral sob solicitação, com 20 mg de tadalafil no tratamento de pacientes com DE.Ensaio clínico randomizado prospectivo. Foram selecionados 51 pacientes com idade média de 40 anos.Os pacientes foram separados em dois grupos: A (grupo de tratamento) e B (grupo controle). As intervenções do grupo A (Li-ESWT) duraram 6 sessões (2 por semana) e as do grupo B (tadalafil) autoadministraram o medicamento sob demanda na dose de 20 mg a cada hora antes de cada evento de relação sexual.O Li-ESWT tem um benefício terapêutico de curto prazo comparável com resultados de segurança mais elevados do que o tadalafil 20 mg sob demanda para pacientes com DE.

Legenda: EHS: Erection Hardness Score (Pontuação de dureza da ereção); GAQ1: Global Assessment Question (Questão de avaliação global); SEP2 e SEP3: Sexual Encounter Profile (Perfil de encontro sexual); FE: Função erétil; IIEF-EF: International Index of Erectile Function erectile function domain (Domínio da função erétil do Índice Internacional de Função Erétil).

A presente pesquisa foi conduzida com base em ensaios clínicos randomizados, a partir da análise de cinco artigos, e teve como propósito identificar a eficácia da terapia por ondas de choque extracorpóreas de baixa intensidade em pacientes com disfunção erétil. Por meio dos estudos selecionados, através dessa revisão integrativa, observou-se que o Li-ESWT pode melhorar a função erétil devido a sua capacidade circulatória, estimulando neovascularização e regeneração tecidual peniana. Desse modo, os estudos apresentaram resultados positivos em obter e manter uma função erétil satisfatória, oferecendo aos pacientes uma alternativa de tratamento segura, com leves efeitos colaterais, que possibilita uma espontaneidade nas atividades sexuais.

Todos os estudos selecionados utilizaram variados questionários para avaliar a função erétil e os possíveis efeitos de tratamentos, abrangendo diferentes dimensões da disfunção erétil (DE). O domínio da função erétil do Índice Internacional de Função Erétil (IIEF-EF) foi amplamente empregado para classificar a gravidade da disfunção com base na pontuação: de 1 a 10, é considerada severa; de 11 a 16, moderada; de 17 a 21, leve a moderada; de 22 a 25, leve; e de 26 a 30, ausência de disfunção erétil. Outro questionário utilizado foi o Escore de Dureza da Ereção (EHS), que mede a rigidez peniana em uma escala de 1 a 4, em que 1 representa um pênis maior, mas sem rigidez; 2, rígido, mas insuficiente para penetração; 3, rígido o suficiente para penetração, mas não completamente firme; e 4, completamente rígido e adequado para a relação sexual.

Além dos questionários acima, dois dos estudos: Vinay et al. (2020) e Sramkova et al. (2019) utilizaram as questões 2 e 3 do perfil de encontro sexual (SEP2 e SEP3), que funcionam como um diário de autorrelato das tentativas de relação sexual dos pacientes, complementando a análise dos efeitos do tratamento. Esses mesmos estudos também incluíram a Pergunta de Avaliação Global (GAQ1), que mede as melhorias percebidas na capacidade sexual. Ademais, Zanaty et al. (2022) concomitantemente aos questionários IIEF-EF e EHS, fez uso do questionário de Autoestima e Relacionamento (SEAR) para abordar elementos psicossociais relacionados à DE e relacionamentos sexuais. Enquanto Fojecki et al. (2016) aplicou o questionário de qualidade sexual de vida dos homens (SQoL-M), sendo o primeiro ensaio clínico randomizado a incluir dados sobre a qualidade de vida sexual dos homens.

O estudo de Vinay et al. (2020) investigou a eficácia da Li-ESWT refratária a PDE5I, ou seja, todos os participantes incluídos apresentaram um histórico de não resposta aos medicamentos por um período mínimo de 6 meses. A amostra incluiu participantes com idade média de 60 anos, divididos em grupo tratamento e grupo placebo. O protocolo utilizado consistiu em 1 sessão por semana durante 4 semanas. O grupo tratamento fez uso do dispositivo RENOVA com produção de ondas de choque lineares e de baixa intensidade. As sessões compreenderam um total de 5000 pulsos, distribuídos em quatro áreas específicas: 900 pulsos em cada corpo cavernoso e 1600 em cada crura, utilizando uma sonda especializada. O grupo placebo, por sua vez, recebeu uma sonda idêntica, porém sem a emissão de ondas de choque.

Apesar de semelhante ao artigo acima referido em dividir os participantes em dois grupos: tratamento e controle; Gallo, Pecoraro e Sarnacchiaro (2021) preferiram incluir em seu estudo homens apenas com DE leve ou moderada, levando como critério de exclusão a DE severa. O estudo optou por averiguar se uma terapia adjuvante com os medicamentos orais do grupo PDE5I e a L-arginina, aumentariam a eficácia dos possíveis benefícios do Li-ESWT. O protocolo diferiu do escolhido por Vinay et al. (2020), contendo 6 sessões semanais durante 15 minutos, além disso, ambos os grupos receberam o Li-ESWT por um dispositivo eletromagnético de ondas de choque focalizado Duolith SD1 T-TOP e cada sessão consistiu em 3.000 ondas de choque administradas, atribuídas a seis áreas do pênis. Cada uma delas recebeu uma média de 500 ondas. Enquanto o grupo tratamento recebeu a prescrição de terapia oral adjuvante com tadalafil 5 mg diário por 3 meses e L-arginina 2.500 mg diário por 6 meses a partir da primeira aplicação de Li-ESWT, o grupo controle recebeu apenas o Li-ESWT sem terapia oral.

No estudo abordado por Zanaty et al. (2022), foram incluídos homens com idade média de 47 anos e com todos os graus de DE, diferente do que Gallo, Pecoraro e Sarnacchiaro (2021) propôs. Dissemelhante a todos os estudos anteriores, esse objetiva comparar os resultados de duas terapias distintas: Li-ESWT e terapia oral com tadalafil. Apesar disso, houveram algumas semelhanças, como a randomização em dois grupos. Enquanto os pacientes do grupo Li-ESWT receberam 6 sessões (2 por semana) com média de 6.000 choques por sessão, totalizando uma média de 36.000 pulsos durante todo o tratamento. Os pacientes do grupo Tadalafil automedicaram esse comprimido sob orientação na dose de 20mg a cada hora antes de cada relação sexual. As ondas de choque no primeiro grupo citado foram conduzidas com a unidade PiezoWave2, com o aplicador de ondas sendo de foco linear FBL10x5G2.

Sramkova et al. (2019), abrangeu em sua pesquisa homens com idade média de 54 anos, com DE vasculogênica de leve a grave, com duração de no mínimo 6 meses. Ele optou por excluir homens com DE neurogênica e psicogênica. Os participantes foram divididos entre grupo tratamento e grupo placebo, no primeiro, o Li-ESWT foi aplicado com a unidade PiezoWave2 e o aplicador de ondas de choque de focalização linear FBL10x5G2, o mesmo utilizado no estudo de Zanaty et al. (2022). No decorrer do tratamento foram aplicadas em média 6.000 ondas de choque por sessão, metade delas na haste e a outra metade na crura, durante 4 sessões (2 por semana), totalizando 24.000 pulsos no tratamento. No grupo placebo a sonda aplicadora possuía uma cabeça de gel que bloqueava as ondas de choque e os ruídos.

O propósito de Fojecki, Tiessen e Osther (2016) foi parecido com os demais autores supracitados, sua pesquisa reuniu homens com queixa de DE por pelo menos 6 meses, assim como Sramkova et al. (2019). Apesar de dividido em dois grupos ao longo da pesquisa, a dinâmica nesse estudo foi diferente, um grupo recebeu Li-ESWT a medida em que o outro recebeu inicialmente tratamento simulado, 1 vez por semana durante 5 semanas. Após um intervalo de 4 semanas do ocorrido, os dois grupos receberam tratamento ativo com a mesma frequência anterior, sem conhecimento da mudança. Durante as sessões, 600 ondas de choque foram aplicadas nos corpos cavernosos, com um total de 6.000 pulsos no período de 10 semanas no grupo ativo, usando uma fonte de terapia linear piezoeléctrica FBL10, a mesma utilizada por Zanaty et al. (2022) e Sramkova et al. (2019). O dispositivo é equipado com várias almofadas de gel, que permitem ajustar a profundidade da penetração das ondas de choque.

Ainda que Vinay et al. (2020) aborde em seu estudo a controvérsia da Li-ESWT e as limitações dos muitos estudos sobre o tema, também traz resultados positivos com a melhora moderada nos parâmetros de FE (resposta positiva ao GAQ-1) no grupo tratamento, como a mudança nas pontuações dos questionários IIEF-EF e EHS, com proporção de pacientes com EHS>2 de 52,5% (21/40). As respostas positivas SEP2 e SEP3 não apresentaram diferenças significativas entre os grupos em nenhuma das avaliações. Já Zanaty et al. (2022) depois de 6 e 12 semanas de acompanhamento observou melhora em ambos os grupos da pesquisa, no entanto, os resultados de segurança mostrou uma diferença significativa a respeito dos efeitos colaterais, onde o grupo de ondas de choque apresentou alguns efeitos leves, enquanto no grupo Tadalafil 11 de 25 pacientes (44%) apresentaram efeitos adversos. Trazendo então resultados de segurança mais elevados para o Li-ESWT.

Conforme as diretrizes da Associação Europeia de Urologia (2020), o Li-ESWT é a primeira linha de tratamento da DE vasculogênica leve, como apontam os estudos de Vinay et al. (2020) e Sramkova et al. (2019). O segundo citado, traz como principais resultados do ensaio clínico melhora significativa da FE em pacientes com DE vasculogênica leve a grave, além de um alto nível de satisfação entre os pacientes e os parceiros, baixos efeitos colaterais e melhora com relação à qualidade da ereção e resultados do IIEF-EF no grupo de tratamento. Em conclusão, o uso da Li-ESWT além de ser um método não cirúrgico e não invasivo, também melhora o efeito da PDE5i em pacientes que não respondem, reduzindo a procura por um tratamento mais invasivo.

Corroborando com resultados anteriores, a análise de Gallo, Pecoraro e Sarnacchiaro (2021) trouxe respostas positivas para o Li-ESWT, principalmente quando os PDE5is são administrados com a L-arginina. O aumento em ambas as pontuações de questionários foi considerável em todas as visitas de acompanhamento em 1, 6 e 12 meses. No entanto, ainda que os benefícios do Li-ESWT persistiram por 1 ano a partir da última aplicação, diminuíram de intensidade nesse meio tempo. Participantes do grupo tratamento relataram um aumento maior nas pontuações do IIEF-EF e EHS, além de benefícios mais duradouros. Os resultados foram melhores em homens mais jovens e em pacientes com DE leve. Mesmo assim, alguns dados mostram que a Li-ESWT requer forte motivação e que a terapia oral ainda é preferida por muitos pacientes por sua simplicidade, eficácia e rapidez.

Os resultados do estudo de Fojecki, Tiessen e Osther (2016) diferem dos anteriores. Embora tenha demonstrado um efeito clínico satisfatório no EHS, não houve melhora significativa na função erétil. No geral, o tratamento foi seguro e bem tolerado, assim como nos demais ensaios existentes, sem relatos de eventos adversos graves. Na época da concepção deste estudo, apenas um ensaio clínico randomizado controlado estava disponível. A dosagem foi baseada no estudo de Vardi et al. (2012), com a suposição de que a configuração linear das ondas de choque, que cobre uma área maior do eixo e da crura do pênis, seria mais eficaz do que o uso de um transdutor. Em comparação com estudos anteriores, o número de pulsos aplicados neste estudo foi menor.

4.     CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do presente estudo foi identificado que o Li-ESWT traz uma melhora significativa na função sexual, estabelecendo uma qualidade na ereção e proporcionando uma satisfação aos pacientes que buscam principalmente uma atividade sexual espontânea. Além de não ser um tratamento com métodos invasivos e seus efeitos colaterais serem baixos. Sendo assim, a Li-ESWT mostra-se uma terapia promissora e deveria ser considerada uma terapia ativa no tratamento de pacientes com disfunção erétil, uma vez que apresentou segurança e eficácia na sua utilização nos estudos revisados.

Apesar disso, são encontradas algumas limitações e controvérsias nos estudos que abordam as ondas de choque extracorpóreas de baixa intensidade como intervenção, também foi vista uma escassez de estudos sobre o assunto. Os autores citados em sua maioria sugerem que estudos futuros utilizem um número maior e uma frequência maior de aplicações de Li- ESWT, além de aumentar o período de acompanhamento dos pacientes. Diante desse contexto, é necessária a realização de mais estudos abordando a Li-ESWT como intervenção.

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