EFICÁCIA DA SUPLEMENTAÇÃO DE ÔMEGA-3 DURANTE A GRAVIDEZ: IMPACTOS NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO INFANTIL

EFFICACY OF OMEGA-3 SUPPLEMENTATION DURING PREGNANCY: IMPACTS ON CHILD COGNITIVE DEVELOPMENT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248241026


Ellen Vitória Rodrigues de Lima Freire1
Andressa Bruna Batista de Verçoza2
Andressa de Sousa Carvalho Sá3
Maria Cecília de Oliveira Barreto4
Claudiney Cordeiro Arruda5


Resumo

A suplementação de ômega-3 durante a gravidez é amplamente estudada devido aos potenciais benefícios no desenvolvimento cognitivo infantil. Ácidos graxos como DHA e EPA são essenciais para o desenvolvimento neurológico e visual das crianças, com particular importância durante a gestação e a primeira infância. Contudo, a eficácia da suplementação ainda é controversa. Embora alguns estudos apontem benefícios significativos, outros não encontram associações robustas, principalmente devido às limitações metodológicas e à heterogeneidade dos estudos. Estudos sugerem que a suplementação com ômega-3 pode ser especialmente benéfica em populações subnutridas, onde as deficiências nutricionais são comuns. Além disso, os impactos a longo prazo da suplementação continuam sendo um campo de investigação significativo. A metodologia adotada baseou-se em uma Revisão Integrativa de Literatura (RIL), focando em estudos que abordam os efeitos da suplementação de ômega-3 no desenvolvimento cognitivo infantil. A análise identificou variações nos resultados devido a diferenças metodológicas e critérios de inclusão. Estudos selecionados mostram que a suplementação de DHA pode melhorar o desenvolvimento cognitivo, especialmente em populações de alto risco, como bebês prematuros. No entanto, a resposta à suplementação pode depender de fatores genéticos e do estado nutricional da mãe. Conclui-se que, embora a suplementação de ômega-3 durante a gravidez mostre potencial para melhorar certos aspectos do desenvolvimento cognitivo, as evidências são insuficientes e muitas vezes conflitantes, exigindo mais estudos robustos para determinar os reais benefícios dessa intervenção nutricional.

Palavras-chave: Desenvolvimento Cognitivo. Gravidez. Ômega-3.

1.INTRODUÇÃO

A suplementação de ômega-3 durante a gravidez tem atraído considerável interesse científico devido aos seus potenciais impactos no desenvolvimento cognitivo infantil. Estudos recentes têm buscado entender como os ácidos graxos ômega-3, particularmente o DHA (ácido docosaexaenoico) e o EPA (ácido eicosapentaenoico), influenciam o desenvolvimento neurológico das crianças. Esses nutrientes são essenciais para a formação e a função do cérebro, desempenhando um papel crucial no desenvolvimento cognitivo e visual durante a gestação e a primeira infância (Lehner et al., 2020; Nevins et al., 2021).

Complementando essa visão, a suplementação com ômega-3 é recomendada devido à sua importância na mielinização e no desenvolvimento de funções visuais e cognitivas. Estudos como o conduzido por Devarshi et al. (2019) sugerem que baixos níveis de DHA em gestantes podem comprometer o desenvolvimento neurológico do feto, especialmente em condições como diabetes gestacional e pré-eclâmpsia. A suplementação com DHA pode melhorar a transferência placentária de ácidos graxos essenciais, potencialmente beneficiando o desenvolvimento cerebral do feto.

A eficácia da suplementação de ômega-3 durante a gravidez é um tema controverso. Enquanto alguns estudos indicam melhorias significativas no desenvolvimento cognitivo e visual das crianças, outros não encontram associações robustas. Por exemplo, a revisão sistemática de Nevins et al. (2021) aponta que, embora alguns estudos mostrem benefícios cognitivos, as evidências são inconsistentes e insuficientes para conclusões definitivas. Similarmente, Lehner et al. (2020) destacam que as limitações metodológicas e o tamanho reduzido das amostras são fatores que dificultam a generalização dos resultados.

Essas limitações são uma constante nos estudos sobre a suplementação de ômega-3. A heterogeneidade nos desenhos de estudo, nas dosagens administradas e nos métodos de avaliação do desenvolvimento cognitivo dificultam a comparação dos resultados. Além disso, fatores como a dieta materna geral, o nível socioeconômico e a genética não são controlados de maneira consistente, o que pode introduzir vieses nos achados (Lehner et al., 2020; Nevins et al., 2021).

A deficiência de ômega-3 durante a gravidez é particularmente preocupante em populações com baixa ingestão de nutrientes essenciais. Estudos como o de Tahaei et al. (2022) mostram que a suplementação com PUFA n-3 pode ser benéfica, especialmente em populações subnutridas, onde as deficiências nutricionais são comuns. Esses nutrientes são cruciais para o desenvolvimento cerebral e podem mitigar alguns dos efeitos adversos associados à subnutrição.

Além disso, o impacto a longo prazo da suplementação de ômega-3 também é um campo de investigação significativo. Estudos de acompanhamento, como o de Gould et al. (2021), avaliam se a suplementação durante a gravidez tem efeitos duradouros no desenvolvimento cognitivo e neurológico das crianças. Embora alguns benefícios sejam observados em idades mais jovens, a eficácia a longo prazo ainda necessita de mais evidências robustas.

Os efeitos da suplementação de ômega-3 podem variar de acordo com fatores individuais e genéticos. Pesquisas indicam que a resposta à suplementação pode depender de variações na capacidade de metabolizar esses ácidos graxos e do estado nutricional geral da mãe. Estudos como o de Schiavi et al. (2020) investigam como a suplementação perinatal pode influenciar comportamentos cognitivos e sociais em modelos animais, fornecendo insights sobre a variabilidade dos efeitos.

Enquanto a suplementação de ômega-3 durante a gravidez mostra potencial para melhorar certos aspectos do desenvolvimento cognitivo infantil, as evidências ainda são insuficientes e muitas vezes conflitantes. Estudos futuros devem focar em abordagens metodológicas mais robustas e considerar os diversos fatores que podem influenciar os resultados, para melhor entender os reais benefícios dessa intervenção nutricional (Lehner et al., 2020; Nevins et al., 2021).

Portando, o objetivo desse estudo é investigar e sintetizar evidências científicas recentes sobre a eficácia da suplementação de ômega-3 durante a gravidez e seus impactos no desenvolvimento cognitivo infantil, explorando estudos que abordem diferentes aspectos como dosagem, período de suplementação.

2. METODOLOGIA

A metodologia utilizada para este estudo baseou-se na Revisão Integrativa de Literatura (RIL), uma abordagem que permite a síntese de resultados de pesquisas experimentais e não experimentais para fornecer uma visão abrangente sobre a eficácia da suplementação de ômega-3 durante a gravidez e seus impactos no desenvolvimento cognitivo infantil.

Foram seguidas as diretrizes estabelecidas para a condução da RIL, que inclui a formulação de uma questão de pesquisa clara, que é “Qual é a eficácia da suplementação de ômega-3 durante a gravidez no desenvolvimento cognitivo infantil?”, a definição de critérios de inclusão e exclusão, a busca sistemática em bases de dados científicas relevantes, a avaliação crítica dos estudos selecionados e a síntese dos dados extraídos.

Os estudos incluídos foram analisados quanto ao desenho metodológico, tamanho da amostra, tipo de suplementação utilizada, e medidas de desfecho relacionadas ao desenvolvimento cognitivo infantil. Essa abordagem permitiu a identificação de padrões e discrepâncias nos achados, oferecendo uma visão consolidada dos efeitos da suplementação de ômega-3 durante a gestação sobre o desenvolvimento cognitivo das crianças.

Os critérios de inclusão para a seleção dos estudos foram: artigos que abordassem especificamente os efeitos da suplementação de ômega-3 durante a gravidez no desenvolvimento cognitivo infantil, estudos realizados com amostras humanas, publicações em inglês, português ou espanhol, e estudos de diferentes metodologias (ensaios clínicos, estudos de coorte, estudos qualitativos).

Esta revisão integrativa visa fornecer uma síntese atualizada e crítica sobre a eficácia da suplementação de ômega-3 durante a gravidez, focando especialmente nos seus efeitos benéficos para o desenvolvimento cognitivo infantil. tabela abaixo apresenta os resultados de uma pesquisa realizada na base de dados BVS utilizando diferentes estratégias de busca relacionadas ao uso do ômega-3:

Tabela 1: Estratégias de busca da pesquisa.

BASE DE DADOSESTRATEGIA DE BUSCAREGISTROS
BIBLIOTECA VIRTUAL DE SAÚDEOmega-3 supplementation AND Pregnancy AND Cognitive AND development58
n-3 fatty acids  AND Gestation AND Brain AND child50

Fonte: Autores, 2024.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

Para entender melhor o impacto e a relevância de estudos na área de interesse, realizamos duas pesquisas distintas utilizando a base BVS. Na primeira pesquisa, identificamos 58 artigos relevantes, dos quais 46 estavam completos. Após uma triagem inicial, 16 artigos foram selecionados para uma análise mais aprofundada, resultando na escolha final de 2 estudos para a nossa revisão.

Na segunda pesquisa, localizamos 50 artigos completos e, após avaliar 23 deles de forma mais detalhada, selecionamos 8 para a análise final. Essas variações nas seleções refletem diferenças nas abordagens e critérios aplicados em cada investigação, destacando a subjetividade envolvidas na escolha de estudos relevantes para nossa análise. A seguir, apresentamos uma visão dos estudos escolhidos.

Gould et al. (2016) conduziram uma investigação abrangente sobre os efeitos da suplementação materna com ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa (LCPUFA), com ênfase no ácido docosaexaenoico (DHA), durante a gravidez e seu impacto no desenvolvimento neurocognitivo infantil. O estudo foi motivado pela crescente evidência de que o DHA é fundamental para o desenvolvimento cerebral fetal, especialmente no terceiro trimestre, um período crítico para o crescimento cerebral.

Os achados revelam que a suplementação com DHA pode trazer melhorias notáveis no desenvolvimento cognitivo e visual das crianças. Contudo, esses benefícios variam de acordo com a dose administrada e o momento da suplementação durante a gestação. O estudo sublinha a importância de assegurar que as gestantes recebam quantidades apropriadas de DHA, seja por meio da dieta ou suplementação, para promover um desenvolvimento cerebral ideal dos fetos e evitar possíveis déficits cognitivos futuros (Gould et al., 2016).

Dando continuidade a essa linha de investigação, Gould et al. (2021a) desenvolveram um protocolo para examinar os efeitos a longo prazo da suplementação com DHA em bebês extremamente prematuros, nascidos com menos de 29 semanas de gestação, com foco específico no desenvolvimento cognitivo aos 5 anos de idade. Este estudo é uma extensão do ensaio clínico randomizado N3RO, que inicialmente avaliou o impacto do DHA na prevenção da displasia bronco pulmonar (DBP) em prematuros, sem observar uma redução significativa da DBP.

Reconhecendo o papel essencial do DHA no desenvolvimento neurológico, a pesquisa prossegue para verificar se a suplementação precoce pode melhorar o QI e outras medidas de desenvolvimento cognitivo em crianças extremamente vulneráveis devido à prematuridade. Esta investigação é especialmente relevante, pois aborda a perda de DHA normalmente adquirida através da transferência placentária nas últimas semanas de gestação, o que pode comprometer o desenvolvimento cerebral se não houver suplementação adequada após o nascimento (Gould et al., 2021a).

Complementando esses resultados, Bro´s-Konopielko et al. (2020) realizaram um estudo que focou na suplementação de ácidos graxos ômega-3 em mulheres grávidas e os efeitos subsequentes nos níveis de DHA tanto nas mães quanto nos filhos após o nascimento. Este estudo surgiu da preocupação crescente com a deficiência de DHA nas dietas modernas, especialmente em populações com baixo consumo de peixes ricos em ômega-3.

As evidências demonstram que a suplementação dietética durante a gravidez resultou em aumentos significativos nos níveis de DHA, fundamentais para o desenvolvimento saudável do cérebro infantil. Este estudo oferece provas robustas da eficácia da suplementação de DHA como uma estratégia preventiva para melhorar o perfil lipídico das mães e, por consequência, a saúde neurológica de seus filhos, garantindo que ambos recebam os níveis necessários desse ácido graxo essencial durante períodos críticos de desenvolvimento (Bro´s-Konopielko et al., 2020).

Em um contexto diferente, Gould et al. (2014) exploraram o impacto da suplementação materna com ácidos graxos ômega-3 de cadeia longa, especificamente o DHA, durante a gravidez, no desenvolvimento de funções cognitivas em crianças, com foco na atenção, memória de trabalho e controle inibitório. O estudo, parte do ensaio clínico randomizado DHA for Maternal and Infant Outcomes (DOMInO), avaliou 185 crianças nascidas a termo cujas mães receberam 800 mg de DHA diariamente a partir de aproximadamente 20 semanas de gestação até o parto, comparado a um grupo controle que recebeu placebo. Aos 27 meses de idade, as crianças foram submetidas a testes para medir suas habilidades de atenção e controle inibitório, funções associadas ao desenvolvimento das áreas frontais do cérebro e do hipocampo.

Os resultados obtidos mostram que a suplementação de DHA durante a gravidez não teve um impacto significativo nas principais medidas de atenção e controle inibitório. Embora as crianças do grupo de tratamento apresentassem uma leve vantagem em manter a atenção em tarefas com múltiplos objetos, esse efeito foi modesto e inconsistente com outras observações do estudo. Esses resultados alinham-se com a literatura existente, que sugere que a suplementação de DHA durante a gravidez não proporciona benefícios cognitivos claros em crianças nascidas a termo, ao contrário de populações de alto risco, como bebês prematuros (Gould et al., 2014).

Braarud et al. (2018) realizaram um estudo observacional prospectivo na Noruega para explorar a relação entre os níveis maternos de DHA durante a gravidez e o subsequente desenvolvimento cognitivo dos bebês, com um enfoque específico nas habilidades de resolução de problemas. Este estudo é relevante, pois examina não apenas os efeitos do DHA no desenvolvimento geral do cérebro, mas também em áreas específicas de cognição essenciais para o sucesso acadêmico e social.

As observações mostram que níveis mais altos de DHA nas mães estavam associados a melhores desempenhos dos filhos em testes de resolução de problemas, indicando que a suplementação adequada durante a gravidez pode ter efeitos duradouros na função cognitiva infantil. Este estudo reforça a ideia de que a nutrição materna, especialmente a ingestão de ácidos graxos ômega-3, desempenha um papel crucial na formação das capacidades cognitivas da criança, influenciando seu desenvolvimento ao longo da vida (Braarud et al., 2018).

Seguindo essa linha de pesquisa, Gould et al. (2021b) desenvolveram um protocolo para investigar os impactos da suplementação de ácidos graxos ômega-3, como o DHA, em bebês extremamente prematuros e como essa intervenção pode afetar o desenvolvimento comportamental aos 5 anos de idade corrigida. Este estudo é uma continuação do ensaio clínico N3RO, que inicialmente avaliou o efeito do DHA na redução da displasia broncopulmonar (DBP), sem apresentar resultados significativos.

A nova fase do estudo foca em entender se a intervenção precoce com DHA pode influenciar o comportamento, cognição e desenvolvimento global na infância. Utilizando uma abordagem abrangente, os pesquisadores planejam avaliar o controle inibitório, a qualidade de vida relacionada à saúde e problemas comportamentais através de questionários padronizados e entrevistas com os pais. Esta pesquisa é particularmente importante, pois aborda uma lacuna crítica na compreensão de como a suplementação nutricional no período neonatal pode ter efeitos duradouros na saúde e desenvolvimento infantil, especialmente em populações vulneráveis como bebês prematuros (Gould et al., 2021b).

Guillot et al. (2024) também contribuíram significativamente para essa área ao examinar os efeitos da suplementação materna de DHA em neonatos muito prematuros alimentados com leite materno, com foco no desenvolvimento cerebral e nos resultados neurodesenvolvimentais. Este estudo, parte do seguimento do ensaio MOBYDIck, avaliou crianças nascidas com menos de 29 semanas de gestação até a idade pré-escolar, com o objetivo de determinar o impacto a longo prazo de doses elevadas de DHA no neurodesenvolvimento. O DHA, um ácido graxo ômega-3 essencial para a neurogênese e para a proteção neural contra o estresse oxidativo, é particularmente crítico durante o último trimestre de gestação, quando a transferência placentária de DHA é interrompida em bebês prematuros.

Ao seguir essas crianças, os pesquisadores buscam entender melhor como a suplementação materna pode mitigar os riscos neurodesenvolvimentais associados ao nascimento prematuro, incluindo o impacto na cognição, comportamento e desenvolvimento global. Este estudo é pioneiro na avaliação do efeito a longo prazo da suplementação de DHA em uma coorte de alta vulnerabilidade, fornecendo insights valiosos sobre intervenções nutricionais para otimizar os resultados de saúde em bebês prematuros (Guillot et al., 2024).

Graaff et al. (2015) investigaram os efeitos de uma dieta materna deficiente em ácidos graxos ômega-3 durante o desenvolvimento fetal, focando no comportamento e na resposta ao estresse em roedores adultos. Motivado pela crescente evidência de que deficiências nutricionais durante a gestação podem ter impactos adversos a longo prazo na saúde mental e no comportamento, o estudo observou que a deficiência de DHA resultou em uma resposta exagerada ao estresse do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e em comportamentos associados à depressão e ansiedade em ratos machos na idade adulta.

Essas observações indicam que a falta de DHA durante períodos críticos de desenvolvimento pode predispor a prole a distúrbios neuropsiquiátricos, reforçando a importância de uma dieta equilibrada e rica em ômega-3 durante a gestação para evitar consequências adversas na saúde mental a longo prazo. O estudo destaca a necessidade de maior conscientização sobre a importância do DHA na dieta materna, especialmente em populações com acesso limitado a fontes naturais de ômega-3 (Graaff et al., 2015).

Khandelwal et al. (2018) examinaram o impacto da suplementação de DHA em populações indianas, onde as dietas tradicionais frequentemente são ricas em ácidos graxos ômega-6, mas deficientes em DHA devido ao baixo consumo de peixes e outros alimentos ricos em ômega-3. Este estudo concentrou-se no impacto da suplementação durante os primeiros 1000 dias de vida, uma janela crítica para o desenvolvimento cerebral e neurocognitivo. Os autores destacam que a deficiência de DHA durante esse período pode resultar em efeitos adversos persistentes no desenvolvimento cognitivo e no comportamento infantil.

A investigação argumenta que intervenções nutricionais direcionadas são essenciais em regiões onde a dieta tradicional não fornece níveis adequados de DHA, sendo crucial para assegurar o desenvolvimento neurológico saudável das crianças. O estudo ressalta a importância de políticas públicas que promovam a suplementação de DHA em populações vulneráveis para prevenir deficiências cognitivas e comportamentais a longo prazo (Khandelwal et al., 2018).

Morton et al. (2020) exploraram a relação entre a ingestão materna de nutrientes e o desenvolvimento cerebral de bebês prematuros, com ênfase nos ácidos graxos ômega-3, como o DHA. Utilizando técnicas avançadas de imagem cerebral, o estudo correlacionou a densidade tecidual cerebral com a ingestão de nutrientes específicos, revelando que uma ingestão elevada de DHA estava associada a volumes maiores de tecido em regiões cerebrais críticas, como o córtex frontal e o corpo caloso. Essas áreas são essenciais para funções cognitivas superiores, como memória e controle executivo.

Os resultados indicam que a suplementação materna de DHA pode promover um desenvolvimento estrutural mais robusto do cérebro em bebês prematuros, possivelmente atenuando os riscos de déficits cognitivos e de desenvolvimento associados à prematuridade extrema. Este estudo oferece informações valiosas para a inclusão de DHA nas recomendações nutricionais para gestantes, particularmente aquelas em risco de parto prematuro (Morton et al., 2020).

5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em conclusão, a revisão dos estudos proporciona uma visão aprofundada sobre a suplementação de DHA e seu impacto no desenvolvimento infantil. Embora os resultados variem entre os estudos, uma tendência clara é a de que a suplementação pode beneficiar o desenvolvimento cognitivo e neurológico, especialmente em populações vulneráveis, como bebês prematuros e gestantes com dietas deficitárias em DHA. A evidência acumulada ressalta o papel crucial dos ácidos graxos ômega-3 na formação e na função cerebral, e destaca a necessidade de uma abordagem nutricional estratégica para otimizar esses benefícios.

No entanto, os estudos também indicam que a eficácia da suplementação pode depender de fatores como a dosagem, o período de administração e as características individuais dos participantes. Isso sugere a importância de um planejamento cuidadoso e de uma personalização das intervenções para maximizar os resultados positivos. Além disso, as variações metodológicas e os diferentes critérios de seleção utilizados nos estudos ressaltam a necessidade de pesquisas adicionais para esclarecer os mecanismos exatos pelos quais o DHA influencia o desenvolvimento infantil e para estabelecer diretrizes mais precisas para sua utilização.

Essas conclusões fornecem uma base sólida para futuras investigações e para o desenvolvimento de políticas públicas e práticas clínicas voltadas para a promoção da saúde neurológica infantil. A contínua exploração e refinamento das estratégias de suplementação de DHA poderão contribuir significativamente para a melhoria da saúde e do desenvolvimento das crianças em diferentes contextos e populações.

6. REFERÊNCIAS

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1 Graduando do Curso Superior de Nutrição da Universidade Federal de Alagoas. e-mail: ellen.freire@fanut.ufal.br

2 Graduando do Curso Superior de Nutrição da Universidade Federal de Alagoas. e-mail: andressa.vercoza@fanut.ufal.br

3 Graduada do Curso Superior de Nutrição da Universidade Federal do Piauí. e-mail: dessa1364@ufpi.edu.br.

4 Graduada do Curso Superior de Enfermagem do Centro Universitário Santo Agostinho. e-mail: Maria.cdob17@gmail.com

5 Graduando do Curso Superior de Medicina do UNINORTE. e-mail: c_claudiney@yahoo.com.br