EFICÁCIA DA FACILITAÇÃO NEUROMUSCULAR PROPRIOCEPTIVA NA REABILITAÇÃO DE ENTORSE DE TORNOZELO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202409041438


Bruna Marcelly Realino Lima,
Orientadoras:
Profa. Dra. Gislene Guimarães Garcia Tomazini,
Profa. Dra. Pâmela Camila Pereira


RESUMO

Introdução: Os entorses de tornozelo são as lesões musculoesqueléticas mais frequentes, sobretudo em atletas e pessoas fisicamente ativas. Mais de 70% dos indivíduos que sofrem entorse de tornozelo desenvolvem sintomas residuais como dor, instabilidade articular, comprometimento da propriocepção e do controle neuromuscular, fatores que aumentam as chances de recidiva e do desenvolvimento de Instabilidade Crônica do Tornozelo (ICT). A reabilitação adequada do tornozelo reduz significativamente o risco de entorses recorrentes, contudo ainda não foram elucidados os métodos mais eficazes e menos dispendiosos para o tratamento, devido aos complexos mecanismos de lesão, mas sabe-se que o treinamento neuromuscular e proprioceptivo é seguro e eficiente na reabilitação do tornozelo, resultando em melhorias na função sensório-motora. Baseado na literatura, a Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP) é uma alternativa plausível para o tratamento de entorse de tornozelo, por ser uma técnica abrangente que envolve a ativação nervosa, muscular e proprioceptiva. Objetivo: Analisar e descrever os benefícios da técnica de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva na reabilitação de entorse de tornozelo.

Palavras-chave: Equilíbrio. Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva. Fisioterapia. Tornozelo. Propriocepção.

ABSTRACT

Introduction: Ankle sprains are the most common musculoskeletal injuries, especially in athletes and physically active people. More than 70% of individuals who suffer from a developmental sprain develop residual symptoms such as pain, joint instability, impaired proprioception and neuromuscular control, factors that increase the chances of recurrence and the development of Chronic Ankle Instability (CTI). Adequate ankle rehabilitation significantly reduces the risk of recurrent problems, but the most effective and least expensive methods for treatment have not yet been elucidated, due to the injury mechanisms, but it is known that neuromuscular and proprioceptive training is safe and efficient in ankle rehabilitation, resulting in improvements in sensorimotor function. Based on the literature, Proprioceptive Neuromuscular Facilitation (PNF) is a plausible alternative for the treatment of ankle sprains, as it is a comprehensive technique that involves nervous, muscular and proprioceptive activation. Objective: To analyze and describe the benefits of the Proprioceptive Neuromuscular Facilitation technique in the rehabilitation of ankle sprains.

Keywords: Balance. Proprioceptive Neuromuscular Facilitation. Physiotherapy. Ankle. Proprioception.

1 INTRODUÇÃO

Os entorses de tornozelo são as lesões musculoesqueléticas mais frequentes, sobretudo em atletas e pessoas fisicamente ativas, acometendo cerca de 40% da população geral. Essas lesões são responsáveis por pelo menos 14% de todas as visitas hospitalares de emergência, além do fato de que 50% das pessoas que sofrem uma lesão de tornozelo não relatam ou procuram atendimento especializado (ALGHADIR et al., 2020; RUIZ-SÁNCHEZ et al., 2022; ZANGH, J. et al., 2023).

A estabilidade articular do tornozelo se deve a restrições ligamentares, a congruência da superfície articular, como a morfologia das superfícies articulares, da cápsula articular, e a unidades musculotendíneas ativas fornecendo equilíbrio dinâmico. Os mecanismos mais comuns nos entorses de tornozelo envolvem geralmente uma inversão ou rotação interna excessiva, neste momento os músculos fibulares são uma importante linha de defesa, juntamente com os ligamentos, neutralizando a força excessiva de inversão (SARCON et al., 2019; D’HOOGHE; CRUZ; ALKHELAIFI, 2020; WAGEMANS et al., 2022).

Os entorses de tornozelo são classificados em grau I, II ou III, com base na gravidade da lesão ligamentar. Clinicamente, o grau I apresenta leve edema, sensibilidade e pouca dificuldade na Amplitude de Movimento (ADM) enquanto que a grau II, inclui ruptura parcial do ligamento; já no entorse grau III, se observa edema difuso, incapacidade de sustentação de peso no membro lesionado e ruptura do ligamento. Além disto, mais de 70% dos indivíduos que sofrem entorse de tornozelo desenvolvem sintomas residuais como dor, instabilidade articular, comprometimento da propriocepção e do controle neuromuscular, fatores que aumentam as chances de recidiva e do desenvolvimento de Instabilidade Crônica do Tornozelo (ICT). Ainda assim, não se trata apenas de um problema local e sim sistemático que afeta outras articulações, envolvendo propriocepção, equilíbrio e padrão de movimento bilateralmente (SARCON et al., 2019; ALGHADIR et al., 2020; D’HOOGHE; CRUZ; ALKHELAIFI; 2020; HALABCHI; HASSABI, 2020; LIN, et al., 2021; ZANGH, J. et al., 2023; ZANGH, P. et al., 2023).

Segundo o estudo de Lin e colaboradores (2021), a prevalência de instabilidade crônica do tornozelo em indivíduos com história de entorse foi de 46%. Em contrapartida, a reabilitação adequada do tornozelo reduz o risco de entorse recorrente em 40%, comparado com os cuidados habituais. Contudo, ainda não se evidenciou quais os métodos de treinamento mais eficazes e menos dispendiosos para pacientes com instabilidade do tornozelo; devido aos complexos mecanismos de lesão, uma intervenção clínica não pode ser avaliada objetivando apenas a melhoria de indicadores individuais, como a força muscular. O treinamento neuromuscular e proprioceptivo é seguro e eficiente na reabilitação do tornozelo, resultando em maiores melhorias na função sensório-motora (ERIC; MCLNNIS; BORG-STEIN, 2019; ALGHADIR, et al., 2020; WAGEMANS et al., 2022; WANG et al., 2022; HOC et al., 2023; ZHANG, J. et al. 2023).

Tendo em vista a necessidade de um tratamento com enfoque no treinamento neuromuscular, a Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP) é uma alternativa plausível para o tratamento de entorse de tornozelo, por ser uma técnica abrangente que envolve a ativação nervosa, muscular e proprioceptiva. O princípio da técnica enfatiza o potencial do paciente, utilizando o reforço de músculos mais fortes por meio de repetições de movimentos funcionais com o objetivo de melhorar a função. Além disso, os sistemas exteroceptivo e proprioceptivo utilizados durante a aplicação da FNP, promovem estabilidade em situações estáticas e dinâmicas, melhorando o desempenho nas atividades funcionais (JEANBART; TANNER-BRAM, 2021; LAMP et al., 2023).

Desse modo, o objetivo do presente estudo é analisar e descrever os benefícios da técnica de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP) na reabilitação de entorse de tornozelo.

2 MÉTODOS

Trata-se de uma revisão narrativa de literatura, por meio de diferentes tipos de documentos publicados entre os anos de 2019 e 2024, nas línguas inglesa e portuguesa. Para elaboração deste estudo, foram utilizadas as bases de dados eletrônicas como: Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Literatura Latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Physioterapy Evidence Database (PEDro), PubMed e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).

Visando assegurar as buscas, consultou-se o Descritor em Ciências da Saúde (DeCS): Equilíbrio; Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva; Fisioterapia; Tornozelo; Propriocepção. Os descritores  foram combinados entre si ou não, por meio  da utilização do operador booleano em português E e OU, e em inglês AND e OR. Foram incluídos artigos originais que abordavam a utilização do método Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva e sua eficácia quanto a alterações proprioceptivas e de equilíbrio, a redução de força muscular, bem como, redução da amplitude de movimento e quanto a redução do quadro álgico. Foram excluídos aqueles que não abordavam a técnica de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva e aqueles que não foram publicados entre os anos de 2019 e 2024.

A seleção e extração de dados foi realizado em duas fases. Na primeira fase, foram selecionados artigos fundamentados no título e resumo, de acordo com os critérios de elegibilidade. Na segunda fase, após a leitura dos artigos, os mesmos foram selecionados, de forma independente.

3 RESULTADOS

Foram encontrados 31 artigos, sendo 5 na PEDro, 6 na sciELO, 2 na BVS, 16 na PubMed, 2 na Lilacs. Após a seleção dos estudos, conforme ilustrado na Figura 1, foram incluídos 11 e excluídos 18 por não abordarem o uso da FNP como protocolo para redução do quadro álgico, melhora da propriocepção e do equilíbrio, bem como, no aumento da ADM e da força muscular, em ensaios clínicos; ou por não relacionarem a técnica em questão com as alterações citadas, em caso de revisão de literatura; e desses 2 estudos eram duplicados.

Na Tabela 1 pode-se observar os resultados encontrados em cada estudo incluído, descritos a seguir:

Alahmari et al. (2020), por meio de um ensaio clínico randomizado em pacientes pós-entorse de tornozelo avaliou a eficácia da técnica FNP isolada e associada a Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS), ambos no músculo tríceps sural. O grupo TENS-FNP apresentou melhoras significativas na dor, flexibilidade, propriocepção na dorsiflexão e flexão plantar, equilíbrio nas direções anterior, posterior, posterolateral e posteromedial, aumento na ADM e força muscular em relação ao grupo que utilizou apenas a FNP.

Song et al. (2020), Shen et al. (2021) e Gao et al. (2023) utilizaram o método FNP em pacientes idosos com osteoartrite de joelho durante 12 semanas, 6 semanas e 8 semanas, respectivamente, de tratamento. Ambos concluíram que a intervenção de facilitação neuromuscular proprioceptiva foi eficaz para melhoras os sintomas da osteoartrite de joelho, como a dor, a redução de ADM, do momento de adução do quadril e da propriocepção articular do joelho. No estudo de Park et al. (2024), foram incluídos 10 participantes com pós-operatório de artroplastia de joelho os quais foram submetidos a técnicas de FNP e exercícios com bola BOSU durante duas semanas; foi observado que ambos os grupos FNP e bola BOSU tiveram melhoras significativas na dor, ADM e redução no valor do TUG, enquanto que apenas o grupo FNP obteve aumento significativo na flexibilidade.

Figura 1- Fluxograma de estudos incluídos.

Fonte: Autoria própria.

Chen e colaboradores (2024), compararam os efeitos do treinamento vibratório de corpo inteiro e da FNP nas características biomecânicas dos MMII em pacientes com instabilidade funcional do tornozelo e concluíram que ambos os métodos reduziram o ângulo máximo de abdução do quadril, ângulo máximo de flexão do joelho, velocidade angular máxima de inversão do tornozelo e ângulo de flexão do joelho, e aumentou a dorsiflexão do tornozelo. Kruse et al. (2022) comparou o alongamento FNP e o alongamento estático em relação a ADM do tornozelo e no comportamento músculo-tendão do gastrocnêmio em crianças com Paralisia Cerebral; concluíram que não houveram alterações significativas nos ângulos máximos de flexão plantar e de repouso da sola do pé, bem como, no comprimento do ventre muscular após ambas técnicas de alongamento.

Lamp et al. (2023) utilizou as técnicas FNP de estabilização rítmica e reversão de estabilizadores em mulheres com mais de 70 anos com déficits de equilíbrio; concluíram que uma única sessão de estabilização rítmica ou reversão de estabilizadores reduziu o tempo de TUG e aumento na distância percorrida no Teste de Alcance Funcional. Du-Jin, Lee e Se-Yeon (2021) investigou os efeitos de duas intervenções pé-tornozelo na capacidade de equilíbrio, arco do pé, força do tornozelo, espessura da fáscia plantar e funções do pé em pessoas obesas por 4 semanas; na intervenção FNP, o equilíbrio, a diferença de altura no teste de queda do navicular, a força do tornozelo, a espessura da fáscia plantar e a função do pé melhoraram significativamente em comparação com antes da intervenção, sendo mais eficaz que a intervenção aplicada no outro grupo.

Por fim, Nguyen, Chou e Hsieh (2022) por meio de uma revisão sistemática avaliaram os benefícios da FNP no equilíbrio e na função da marcha em pacientes com AVC e observaram que a técnica melhora o equilíbrio e as habilidades de marcha, em especial a técnica com foco no controle do tronco. Em relação ao aumento da força muscular, Nobre et al. (2020) observou em um grupo de 10 atletas que houve aumento significativo após aplicação de técnicas de Kabat no complexo do ombro, em relação ao grupo que manteve o treinamento habitual.

Tabela 1 – Distribuição dos estudos encontrados nas bases de dados.

AUTORMETODOLOGIAINTERVENÇÕESRESULTADOS
ALAHMARI et al. (2020).Ensaio clínico randomizado realizado com 60 indivíduos com entorse lateral de tornozelo, há pelo menos 3 meses.12 sessões de tratamento, 3 vezes por semana. G1: FNP (manter-relaxar) com TENS; G2: alongamento FNP; GC: não recebeu tratamento.O G1 e G2 apresentaram redução de dor, melhoras no equilíbrio, flexibilidade, propriocepção, e na força muscular (p ≤ 0,01).
SONG et al. (2020)36 idosos com osteoartrite de joelho. Divididos em grupo FNP e grupo controle.O  grupo FNP recebeu intervenções por 12 semanas.O grupo FNP apresentou diminuição da dor; aumento da ADM do quadril, joelho e tornozelo (p = 0,044).
PARK et al. (2024).10 participantes com pós- operatório de artoplastia total de joelho. Divididos em grupo FNP e grupo bola BOSU.Durante 2 semanas. Grupo FNP: técnicas de manter- relaxar,            estabilização rítmica e exercícios isotônicos; grupo bola BOSU: exercícios na bola por 20 minutos.O grupo FNP apresentou melhora na flexibilidade (p < 0,016), ADM (p < 0,025) e na função muscular (p <0,044).
NGUYEN; CHOU; HSIEH (2022).Revisão sistemática na literatura entre publicada 1960 e 2021. Incluindo estudos com pacientes com AVC crônico, utilizando FNP em alterações relacionadas ao equilíbrio e à marcha.Efeitos do FNP combinado com estratégias não-FNP em comparação a outros métodos de tratamento.4 estudos mostraram melhorias nas distâncias para Teste de Alcance Funcional; 6 estudos no TUG e 5 no desempenho do Teste de Caminhada de 10 minutos depois da intervenção FNP.
LAMP, et al (2023).Mulheres com mais de 70 anos foram alocadas em três grupos: RS, SR e controle (CR).Grupo RS: estabilização rítmica; grupo SR: reversão dos estabilizadores durante 15 min ambos; grupo CR: não utilizou técnicas de FNP.Redução no tempo do TUG e aumento na faixa do Teste de Alcance Funcional (p ≤ 0,05) nos grupos RS e SR.
NOBRE, et al. (2020).21 atletas de handebol do sexo masculino divididos em grupo controle (GC) e grupo Kabat (GK). O estudo finalizou com 7 indivíduos no GC e 11 indivíduos no KG.GC: rotina de treinamento; GK: técnica de reversão dinâmica durante 15 minutos.O GK apresentou aumento força em todos os músculos do complexo do ombro. Em relação à velocidade de lançamento, o GK foi o único que apresentou aumento significativo.
GAO, et al. (2023).32 idosos (entre 66 e 72 anos) com osteoartrite de joelho foram distribuídos entre grupo FNP e grupo controle.Grupo FNP: alongamento FNP por 8 semanas, 3 sessões por semana; grupo controle: de palestras sobre saúde por 8 semanas.No grupo FNP, o escore de dor diminuiu (p < 0,001). Na marcha teve aumento na velocidade de cruzamento (p = 0,003) e a folga do pé (p = 0,001) diminuiu.
KRUSE, et al. (2022).Ensaio clínico randomizado, utilizando FNP ou alongamento estático na ADM da articulação do tornozelo e no músculo gastrocnêmio em 18 crianças com PC.Grupo FNP: alongamento com 5 segundos de contração isométrica e 25 segundos de alongamento; grupo alongamento estático: alongamento por 30 segundos.A ADM do tornozelo aumentou (p < 0,05), sem qualquer diferença entre grupos.
SHEN, et al. (2021).Ensaio randomizado, com 36 idosos com osteoartrite de joelho distribuídos aleatoriamente nos grupos de FNP e controleO grupo FNP recebeu alongamento FNP durante 6 semanas, 3 sessões por semana e o grupo controle recebeu palestras sobre saúde.O grupo FNP apresentou redução na dor (p < 0.001) e aumento na propriocepção articular (p = 0.006).
CHEN, et al. (2024).22 estudantes com instabilidade unilateral do tornozelo.Divididos em grupo de treinamento vibratório de corpo inteiro e grupo de facilitação neuromuscular proprioceptiva.Redução no ângulo de abdução do quadril (p=0,69), no ângulo de flexão do joelho (p=0,39), velocidade angular de inversão de tornozelo (p=0,62); aumento de dorsiflexão (p=-0,52).
DU-JIN; LEE; SE- YEON (2021).Ensaio clínico randomizado com 44 participantes com IMC ≥25 kg/m 2.Método FNP realizado com faixa elástica por meio dos padrões de flexão e extensão dos padrões de perna diagonal 1 (D1) e diagonal 2 (D2).Melhora no equilíbrio, teste de queda do navicular, força do tornozelo e na função do pé (p < 0,05); aumento da força dos eversores e dorsiflexores (p<0,05 e p < 0,01).

Fonte: Autoria própria.

4 DISCUSSÃO

O entorse de tornozelo é uma das lesões musculoesqueléticas mais recorrentes entre a população fisicamente ativa, atingindo cerca de 7% da população geral por ano. A alta incidência, em parte, se deve à recidiva de novas lesões após uma entorse inicial. Quando não tratado adequadamente os sintomas advindos do entorse pode progredir para disfunções como sinovite, tendinopatia, rigidez articular, fraqueza muscular, dor persistente, e ainda, para uma instabilidade crônica de tornozelo quando os sintomas persistem por 6 meses ou mais. Esta disfunção afeta sistematicamente outras articulações do corpo e pode causar ainda mais lesões como entorse recorrente de tornozelo, desenvolvimento precoce de osteoartrite e aumento da carga no ligamento cruzado anterior (LCA), resultando na instabilidade funcional e mecânica (HERZOG et al., 2019; LIN et al., 2021; OLIVEIRA et al., 2023; MAZLOUM; AKBARI; GHOLAMPOUR, 2023).

O entorse pode prejudicar, além da estabilidade mecânica das estruturas cápsula-ligamentares, as funções sensório-motoras do tornozelo levando a uma insuficiência funcional. Ao lesionar um ligamento, as terminações nervosas proprioceptivas podem ser afetadas e levar à interrupção dos sinais proprioceptivos, contribuindo para a incapacidade funcional. Portanto, acredita-se que o comprometimento dos receptores proprioceptivos dos ligamentos lesionados contribui significativamente para recidivas de lesão do tornozelo e subsequente desenvolvimento de ICT (ORTEGA-AVILA et al., 2020; XUE et al., 2023; ZHANG, J. et al., 2023).

Sendo assim, na reabilitação de entorse, o tratamento das lesões do tornozelo deve incluir o controle da dor, restabelecer toda a amplitude de movimento do tornozelo, bem como melhor a força muscular, a propriocepção e o equilíbrio. A reabilitação por meio de exercícios físicos pode reduzir a instabilidade funcional do tornozelo e a prevalência de lesões recorrentes, além de resultar na recuperação precocemente. Além do mais, a combinação da cinesioterapia com a terapia manual é de grande valia (HALABCHI; HASSABI, 2020).

O programa de tratamento deve ser abrangente e progressivo, incluindo terapêuticas voltadas para ADM, flexibilidade, resistência, exercícios neuromusculares e proprioceptivos, e exercícios funcionais. O treinamento neuromuscular, em especial, é seguro e demasiadamente eficaz, por não interferir negativamente no quadro álgico e inflamatório, bem como em novas lesões. Assim, é de grande importância ser realizado durante todo período de reabilitação, desde a fase aguda da lesão de entorse (HALABCHI; HASSABI, 2020).

Como um método de alongamento, a FNP usa a contração muscular para desencadear a atividade neuromuscular, induzir a flexibilidade e aumentar a amplitude de movimento. Nas técnicas de contrair-relaxar e manter-relaxar, são produzidos forças e alongamentos; a técnica de manter-relaxar é realizada usando contração agonista, e em seguida, contração isométrica de um músculo que está tenso, seguida de contração concêntrica do músculo tenso oposto; beneficiando-se do alongamento dinâmico com alongamentos estáticos isométricos (ALAHMARI et al., 2020; SONG et al., 2020).

A explicação neurofisiológica dos efeitos positivos da FNP, na dor e no ganho de ADM, se deve ao fato de que quando há a resistência ao alongamento no músculo que está sendo alongado, a força é vista como estímulos nocivos pelo SNC, o que desencadeia a ativação dos Órgãos Tendinosos de Golgi (OTG) para inibir a força e prevenir lesões, inibindo, consequentemente a dor. Os ganhos de ADM por meio do alongamento FNP se deve a redução na excitabilidade do músculo estirado por conta dos sinais inibitórios enviados dos OTGs desse mesmo músculo (inibição autogênica) e também do músculo antagonista (inibição recíproca), diminuindo a tensão muscular (SONG et al., 2020).

A FNP pode facilitar o controle muscular central, melhorando equilíbrio através da estimulação proprioceptiva de músculos e tendões. O uso da técnica de Estabilização Rítmica (ER) pode promover melhores efeitos agudos quando comparados a outras técnicas convencionais em relação ao equilíbrio dinâmico devido aos variados estímulos sensoriais durante a execução dos exercícios, resultando no aumento da capacidade de co-contração dos músculos estabilizadores globais (LAMP et al., 2023).

Para mais, a facilitação neuromuscular proprioceptiva desenvolve e melhora o aprendizado motor, a força muscular e a coordenação motora. O treinamento de força muscular por meio da FNP é baseado na aplicação de resistências específicas para auxiliar a contração muscular, proporcionando aumento da força muscular de forma abrangente e sinérgica, enfatizando o equilíbrio muscular por utilizar múltiplos grupos musculares e não apenas um músculo isolado (NOBRE et al., 2020 apud RHYU; KIM; PARK, 2015).

5 CONCLUSÃO

Em suma, constatou-se que a utilização da Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva no protocolo de reabilitação de entorse de tornozelo é eficaz visando reestabelecer a ADM adequada, a força muscular, a propriocepção e o equilíbrio, e a função biomecânica e sensório-motora do tornozelo. Consequentemente, reduzindo o alto índice de recidivas de entorses de tornozelo.

A partir disso, faz-se necessário mais estudos clínicos utilizando a técnica especificamente em pacientes com pós entorse de tornozelo.

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