EFICÁCIA DA ELETROTERAPIA NO TRATAMENTO DA BEXIGA NEUROGÊNICA: REVISÃO DE LITERATURA

EFFICACY OF ELECTROTHERAPY IN THE TREATMENT OF NEUROGENIC BLADDER: A LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412011118


Arleson Pereira Castro1
Victória Hadassa De Araújo Batista1
Thaiana Bezerra Duarte2


Resumo

Introdução: A bexiga neurogênica é uma condição que afeta o controle da micção devido a disfunções nervosas, com causas como lesões na medula espinhal, Parkinson e esclerose múltipla. O manejo inclui tratamento como a eletroterapia. Tanto a estimulação elétrica intravesical quanto a neuromodulação sacral (SNM) mostraram-se eficazes na melhoria das variáveis miccionais, mas variam em termos de qualidade de vida, segurança e satisfação do paciente. Objetivo: Realizar uma revisão de literatura para avaliar a eficácia da eletroestimulação e suas diferentes abordagens no tratamento de pacientes com bexiga neurogênica, além de identificar o manejo mais eficaz e evidenciar benefícios proporcionados pela eletroterapia. Materiais e Métodos: Esta revisão de literatura analisa dados dos últimos 10 anos (2014 a 2024) sobre a eficácia da eletroterapia no tratamento da bexiga neurogênica. Foram realizadas buscas nas bases de dados SCIELO, PubMed e PEDro, utilizando descritores em português e inglês. Os critérios de inclusão foram artigos com pacientes adultos acometidos por AVC, Parkinson e Esclerose Múltipla que utilizaram eletroterapia. Artigos não disponíveis na íntegra e duplicados foram excluídos. Resultados: Esta revisão incluiu 6 artigos que demonstram a eficácia da eletroterapia no manejo da bexiga neurogênica, melhorando sintomas urinários, qualidade de vida e controle miccional, com baixos índices de complicações adversas relatadas. Conclusão: A eletroterapia é eficaz no tratamento da bexiga neurogênica, mostrando benefícios clínicos consistentes. No entanto, há limitações relacionadas à segurança e à satisfação, demandando mais pesquisas.

Palavras-chave: Eletroterapia. Bexiga neurogênica. Parkinson. Acidente Vascular Cerebral. Esclerose Múltipla.

Abstract

Background: Neurogenic bladder is a condition that affects urinary control due to nerve dysfunction, with causes such as spinal cord injuries, Parkinson’s, and multiple sclerosis. Management includes treatments like electrotherapy. Both intravesical electrical stimulation and sacral neuromodulation (SNM) have been shown to improve urinary variables, although they vary in terms of quality of life, safety, and patient satisfaction. Pourpose: To conduct a literature review to evaluate the effectiveness of electrostimulation and its different approaches in the treatment of patients with neurogenic bladder, as well as to identify the most effective management and highlight the benefits provided by electrotherapy. Methods: This literature review analyzes data from the past 10 years (2014 to 2024) on the effectiveness of electrotherapy in the treatment of neurogenic bladder. Searches were conducted in the SCIELO, PubMed, and PEDro databases, using descriptors in Portuguese and English. Inclusion criteria were articles with adult patients affected by stroke, Parkinson’s disease, and multiple sclerosis who used electrotherapy. Articles not available in full text and duplicates were excluded. Results: This review included 6 articles that demonstrate the efficacy of electrotherapy in the management of neurogenic bladder, improving urinary symptoms, quality of life, and bladder control, with low rates of reported adverse complications.. Conclusion: Electrotherapy is effective in the treatment of neurogenic bladder, showing consistent clinical benefits. However, there are limitations related to safety and satisfaction, requiring further research.

Keywords: Electrotherapy. Neurogenic bladder. Parkinson’s diasease. Stroke. Multiple sclerosis.

1 INTRODUÇÃO

A bexiga neurogênica é uma patologia que influencia na regulação da micção, manifestando-se pela perda de controle voluntário sobre o ato de urinar, decorrente de disfunções na bexiga ou no esfíncter urinário. Essas disfunções podem ser ocasionadas por uma variedade de condições que afetam os nervos responsáveis pelo controle desses órgãos (Scafuri; Pires; Onofre, 2022).

As principais etiologias da disfunção vesical neurogênica incluem lesão na medula espinhal, doença de Parkinson, diabetes, esclerose múltipla, acidente vascular cerebral, tumores cerebrais, entre outras patologias neurológicas. Além disso, condições como poliomielite, síndrome de Guillain – Barré, herpes genital, anemia e neurosífilis também podem contribuir para o desenvolvimento da bexiga neurogênica (Scafuri; Pires; Onofre, 2022).

O local é a natureza da lesão neurológica influencia o padrão de disfunção. Dessa forma, portadoras da bexiga neurogênica podem apresentar alterações no padrão miccional normal, tanto na fase de enchimento vesical quanto na fase de esvaziamento (Penicker, 2020). A sintomatologia varia conforme o subtipo específico dessa condição. Na bexiga neurogênica hiperativa, os sintomas predominantes incluem, incontinência urinária, urgência miccional, polaciúria, disúria e perda de controle da micção. Já na bexiga neurogênica hipoativa, os sintomas principais compreendem a sensação de esvaziamento incompleto da bexiga após a micção, gotejamento pós miccional ou incontinência urinária funcional (Scafuri; Pires; Onofre, 2022).

O manejo da bexiga neurogênica é multifacetado e depende da etiologia subjacente. As abordagens terapêuticas incluem tratamento medicamentoso, procedimentos cirúrgicos e fisioterapia. No âmbito da fisioterapia, a eletroterapia é considerada uma estratégia fisioterapêutica eficaz, intervindo na redução da sintomatologia e promoção de qualidade de vida do paciente (Oliveira, 2014).

Sendo a eletroterapia uma opção de tratamento que promove resultados significativos ao paciente com disfunção miccional neurogênica, compreender os benefícios e limitações desse recurso terapêutico possibilita a orientação de intervenções clínicas mais eficazes, otimizando os resultados para os afetados por essa condição. Assim, a análise de evidências científicas traz a compreensão do estado atual do conhecimento sobre esse tema, além de identificar lacunas e colaborar para o direcionamento de futuras pesquisas e práticas clínicas voltadas para o tratamento da bexiga neurogênica.

Desse modo, este estudo tem como objetivo realizar uma revisão de literatura para avaliar a eficácia da eletroestimulação e suas diferentes abordagens no tratamento de pacientes com bexiga neurogênica. Visa ainda identificar o manejo mais eficaz e evidenciar benefícios proporcionados pela eletroterapia nesses pacientes.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Este estudo constitui uma revisão de literatura com o propósito de analisar dados dos últimos 10 anos (2014 a 2024) relativos à eficácia da eletroterapia no tratamento da bexiga neurogênica. Para esta investigação, foi realizado um levantamento nas bases de dados como Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Pubmed e Physiotherapy Evidence Database (PEdro), empregando-se palavras chaves nos idiomas português e inglês. Os descritores seguintes são: Bexiga Urinária Neurogênica, Terapia por Estimulação Elétrica, Esclerose Múltipla e Acidente Vascular Cerebral. O período da pesquisa foi elaborado em agosto de 2024. Os critérios de inclusão englobaram pacientes acometidos por Acidente Vascular Cerebral, Parkinson e Esclerose Múltipla, artigos que utilizaram eletroterapia como intervenção na população adulta.

Já os critérios de exclusão consistiram em artigos não disponíveis na íntegra e duplicados.

Os resultados obtidos foram apresentados utilizando tabelas e descrições textuais.

3 RESULTADOS

Inicialmente, foram selecionados 47 artigos nas bases de dados PubMed, SciELO e PEdro. Após a exclusão de 8 artigos duplicados, 39 títulos e resumos foram lidos. Desses 31 artigos, foram excluídos por abordarem outras patologias, outros tratamentos e por ser estudo de revisão. Os 8 artigos restantes foram lidos na íntegra, resultando na exclusão de 2 artigos por não estar disponível na íntegra e por estar em idioma diferente, assim, 6 artigos foram incluídos na revisão final conforme na figura 1.

Figura 1. Fluxograma do estudo.

Na tabela 1, observa-se cada artigo descrito de maneira individual, detalhada e objetiva, apresentando, respectivamente, autor, ano, tipo de estudo, objetivo, metodologia, resultados. Essa estrutura facilita a leitura e compreensão, garantindo um entendimento completo do conteúdo.

Tabela 1. Síntese dos artigos selecionados para revisão.

A tabela 2 organiza os resultados dos artigos analisados com base nos critérios: autor, ano, quantidade de participantes, idade média dos indivíduos e principais resultados obtidos. Essa estrutura objetiva permite uma visão rápida e simplificada das características e conclusões de cada estudo, facilitando comparações e interpretações dos dados apresentados.

Tabela 2. Síntese de resultados.

A tabela 3 organiza os resultados dos artigos analisados com base nos critérios: autor, ano, recurso utilizado e resultados. Essa abordagem objetiva proporciona uma visão concisa e clara das especificações e achados de cada estudo, permitindo uma comparação e interpretação eficiente dos dados apresentados.

Tabela 3. Síntese de recursos utilizados e efectividade.

4 DISCUSSÃO

Esta revisão, com base nos estudos selecionados, evidencia que a eletroterapia é um recurso eficaz no tratamento da bexiga neurogênica. Os estudos demonstraram que a aplicação da eletroterapia resultou em melhorias significativas na sintomatologia e qualidade de vida pacientes. Apesar de alguns eventos adversos os benefícios da eletroterapia superam os riscos, tornando-a uma opção viável e promissora para o manejo da bexiga neurogênica.

Entre os cinco artigos selecionados, Yune et al. (2018) utilizaram a técnica de estimulação elétrica intravesical para o tratamento dos sintomas urinários. Em contraste, os outros autores adotaram a neuromodulação sacral como abordagem terapêutica. Dentre estes, apenas Engeler et al. (2015) implementaram o uso do gerador de pulsos InterStim II no tratamento dos pacientes. Ambas as técnicas mostraram eficácia significativa no tratamento da bexiga neurogênica e melhoria das variáveis miccionais.

No estudo de Yune et al. (2018), a utilização da estimulação elétrica intravesical resultou em melhorias significativas no incômodo dos sintomas e na qualidade de vida relacionada à saúde, no prolapso de órgãos pélvicos e no desconforto urinário. Esses resultados foram medidos pelo Inventário de Angústia do Assoalho Pélvico (PFDI) e também incluíram a redução na frequência e na incontinência urinária de urgência. Contudo, foi observado um evento adverso: uma infecção do trato urinário durante o período do estudo.

Corroborando esses achados, Madersbacher (2019) explica que a eletroterapia intravesical (IVES) pode melhorar a função vesical em casos de bexiga neurogênica, principalmente por meio da estimulação das aferências dos mecanorreceptores Aδ. Essa estimulação induz a percepção de enchimento vesical e a urgência miccional, promovendo uma resposta eferente que resulta em maior controle consciente da micção. Para a eficácia da IVES, é essencial que o paciente apresente lesão nervosa incompleta, com pelo menos algumas fibras aferentes preservadas entre a bexiga e o córtex, bem como lesão medular parcial com sensação dolorosa nos dermátomos sacrais S3 e S4. Critérios adicionais incluem a integridade dos mecanorreceptores, um detrusor funcionalmente capaz de contrair-se e um córtex apto a processar estímulos aferentes. Observadas essas condições, a IVES mostra-se eficaz e segura, sendo raro o surgimento de efeitos adversos, exceto eventuais infecções urinárias, como relatado também por Yune et al. (2018). A indicação ideal para a IVES é em pacientes com detrusor neuropático hipoativo, hipossensível e hipocontrátil.

Os demais autores selecionados, estudaram a neuromodulação sacral (SNM) como tratamento para a bexiga neurogênica:

Meng et al. (2024) destacaram a eficácia da SNM, mas não detalharam os benefícios do tratamento, pois o foco do estudo foi determinar se havia diferenças nos parâmetros de estimulação para diferentes indicações de SNM e as recomendações de programação apropriadas.

Banakhar (2022) avaliou a eficácia da terapia de SNM para sintomas do trato urinário inferior (LUTS) causados por doenças neurológicas. O estudo mostrou um aumento significativo no volume miccional, redução dos episódios de vazamento e do resíduo pós- miccional, além da diminuição do número de cateterismos intermitentes diários. Houve uma alta taxa de satisfação dos pacientes.

De acordo com De Wachter et al. (2019), uma meta-análise publicada em 2010, que incluiu dados de 26 estudos com um acompanhamento médio de 26 meses, relatou uma taxa de sucesso de 68% durante a fase de teste e de 92% após o implante definitivo da neuromodulação sacral (SNM). Esses estudos evidenciaram progressos significativos em parâmetros de controle urinário, como a redução de episódios de vazamento, diminuição do uso de absorventes, menor frequência de micções e a redução da necessidade de cateterização, resultados que concordam com os dados encontrados por Banakhar (2022).

No estudo de Peters et al. (2013), também mencionado por De Wachter et al. (2019), observou-se uma melhora sustentada na frequência e urgência urinária em pacientes com condições neurológicas, incluindo esclerose múltipla e doença de Parkinson, com resultados positivos até 24 meses após o implante definitivo. Em casos de esclerose múltipla, 94% dos pacientes apresentaram uma melhora superior a 70% nos sintomas relacionados ao armazenamento e esvaziamento vesical, mantendo alta satisfação após três anos de acompanhamento, o que reforça as elevadas taxas de satisfação relatadas por Banakhar (2022). Além disso, a SNM mostrou-se eficaz na restauração da capacidade de micção em pacientes com retenção urinária, alcançando uma taxa de sucesso de 86%, o que pode justificar a redução observada no número de cateterismos intermitentes diários no estudo de Banakhar (2022). A terapia também demonstrou ser benéfica para o tratamento de incontinência fecal em pacientes com lesões medulares incompletas, com taxas de sucesso variando entre 59% e 92%.

Embora a SNM seja uma técnica minimamente invasiva, a SNM pode estar associada a eventos adversos, como a migração dos eletrodos e infecções, geralmente de fácil manejo. As elevadas taxas de satisfação observadas por Banakhar (2022) refletem os achados de estudos anteriores, que demonstram que a maioria dos pacientes experimenta melhoras significativas na qualidade de vida após a terapia com SNM.

Kutukoglu et al. (2023) relataram a experiência de um centro de referência terciário no tratamento de 42 pacientes com sintomas refratários do trato urinário inferior por meio da neuromodulação sacral (SNM). O tratamento foi dividido em duas fases: uma fase de avaliação, em que um eletrodo temporário é implantado para verificar a resposta do paciente, e uma fase de implante permanente, realizada apenas nos casos com melhora significativa na fase inicial. O estudo, que demonstrou uma taxa de sucesso de 58,5% na redução dos sintomas, evidenciou a eficácia e a segurança da SNM no tratamento de disfunções urinárias tanto idiopáticas quanto neurogênicas. Além disso, os pacientes relataram uma melhora significativa na qualidade de vida e uma redução nos episódios de incontinência.

O estudo de Kütükoğlu et al. (2023) reforça e amplia os achados de Scheepens et al. (2002) sobre a neuromodulação sacral (SNM) no tratamento de disfunções urinárias. Ambos os estudos adotaram um protocolo semelhante, com fases de avaliação e implante permanente. Os resultados de longo prazo para os procedimentos de SNM padrão são amplamente documentados, com taxas de sucesso relatadas entre 60–70% para diversas indicações. Os efeitos colaterais, geralmente leves e temporários, incluíram dor no local do implante e infecções menores, tratadas com sucesso, sendo raros os casos de complicações graves. Além disso, os pacientes demonstraram uma melhora sustentada na qualidade de vida, com maior satisfação em relação à função urinária e um impacto reduzido dos sintomas nas atividades diárias.

Meng et al. (2024) também buscaram confirmar se pacientes de ambos os sexos apresentam benefícios semelhantes após o tratamento com SNM. O estudo demonstrou que ambos os sexos apresentaram melhorias ao longo do tempo; contudo, os escores de qualidade de vida e vida sexual foram considerados insatisfatórios durante todo o período de tratamento. Diferenças foram observadas no volume miccional máximo e médio, e a satisfação geral com o tratamento variou entre os sexos.

Engeler et al. (2015) avaliaram a eficácia e segurança da SNM em pacientes com esclerose múltipla ao longo de estudo de três anos. Após o implante do gerador de pulsos (InterStim II), as melhorias nas variáveis miccionais persistiram por três anos. Houve melhorias significativas no volume miccional, resíduo pós-miccional, frequência miccional e número de episódios de incontinência. Apenas dois pacientes não apresentaram benefícios, e não houve complicações maiores.

Ambas as técnicas, estimulação elétrica intravesical e neuromodulação sacral (SNM), demonstraram eficácia significativa no tratamento da bexiga neurogênica, resultando em melhorias substanciais nas variáveis miccionais. A SNM, em particular, provou ser eficaz nos estudos selecionados com diferentes populações de pacientes, destacando sua versatilidade e abrangência no tratamento deste distúrbio.

A estimulação elétrica intravesical apresentou melhorias marcantes na qualidade de vida relacionada à saúde dos pacientes. Em contraste, a SNM mostrou resultados variáveis nesse aspecto, com alguns estudos indicando escores de qualidade de vida e vida sexual insatisfatórios. Esses achados sugerem que, embora a SNM seja eficaz na modulação dos sintomas urinários, ela pode não proporcionar um impacto significativo em aspectos mais amplos da qualidade de vida dos pacientes.

No que diz respeito à segurança, a estimulação elétrica intravesical teve um evento adverso relevante, uma infecção urinária. Por outro lado, a SNM foi amplamente considerada segura na maioria dos estudos, com poucas complicações maiores relatadas. Isso indica que a SNM pode ser uma opção mais segura em termos de efeitos adversos significativos.

A satisfação dos pacientes também variou entre as duas técnicas. A SNM apresentou uma alta taxa de satisfação em alguns estudos, como observado por Banakhar (2022). No entanto, outros estudos, como o de Meng et al. (2024), observaram variações na satisfação geral, especialmente entre os sexos. Isso sugere que a satisfação com a SNM pode ser influenciada por fatores demográficos e individuais, que devem ser considerados ao escolher o tratamento.

Os achados do estudo de Meng et al. (2024) revelam que, embora a Neuromodulação Sacral (SNM) tenha proporcionado melhorias nas variáveis miccionais para pacientes de ambos os sexos, os escores de qualidade de vida e vida sexual permaneceram insatisfatórios ao longo de todo o período de tratamento.

Um dos possíveis fatores para essa discrepância pode estar relacionado aos aspectos fisiológicos do tratamento. A SNM é predominantemente focada na modulação dos sintomas urinários, o que pode não ser suficiente para impactar de forma significativa a função sexual e a qualidade de vida global dos pacientes (Parra; Ribeiro, 2023).

Além disso, as expectativas dos pacientes podem influenciar os resultados percebidos. Muitos pacientes esperam melhorias abrangentes em vários aspectos da vida, incluindo a vida sexual e a qualidade de vida. Quando essas expectativas não são atingidas, a satisfação com o tratamento pode ser comprometida (Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências, 2015).

Outro ponto relevante são os efeitos colaterais e a adaptação ao dispositivo. Mesmo com a eficácia no controle dos sintomas urinários, o desconforto associado ao uso contínuo do dispositivo pode impactar negativamente a percepção de bem-estar dos pacientes (Parra; Ribeiro, 2023).

Fatores psicológicos e emocionais também desempenham um papel crucial. Pacientes com condições crônicas, como a esclerose múltipla, podem experimentar níveis elevados de ansiedade, depressão e estresse, que afetam negativamente a qualidade de vida e a vida sexual, independentemente das melhorias nas variáveis miccionais (Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências, 2015).

As diferenças de gênero podem influenciar a percepção de satisfação com o tratamento. Homens e mulheres podem ter critérios distintos para avaliar a qualidade de vida e a vida sexual, e fatores culturais e sociais podem moldar essas percepções de maneira diferenciada (Parra; Ribeiro, 2023).

Esses fatores sugerem que, para melhorar os escores de qualidade de vida e vida sexual, é necessário um enfoque multifacetado que inclua não apenas o tratamento dos sintomas urinários, mas também o suporte psicológico, a gestão de expectativas e a consideração das diferenças de gênero (Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências, 2015).

Embora a literatura demonstre que a eletroterapia é uma abordagem eficaz e benéfica para o tratamento da disfunção vesical neurogênica, as evidências disponíveis apresentam limitações, incluindo alta heterogeneidade metodológica, tamanhos amostrais reduzidos e a escassez de ensaios clínicos randomizados e controlados. Além disso, há uma carência de estudos que explorem a eficácia e segurança da neuromodulação sacral em diferentes grupos de pacientes, bem como uma notável escassez de evidências de parâmetros utilizados nas intervenções. Dessa forma, é essencial o desenvolvimento de estudos bem delineados, com maior padronização dos parâmetros aplicados e inclusão de populações mais amplas e diversas. Esses avanços podem contribuir para a consolidação de práticas baseadas em evidências, otimizar o manejo clínico da bexiga neurogênica e aprofundar o conhecimento sobre a aplicabilidade da eletroterapia em diferentes contextos clínicos.

5 CONCLUSÃO

A eletroterapia tem se mostrado uma abordagem eficaz e promissora no manejo da bexiga neurogênica, proporcionando melhorias significativas nas varia miccionais e na qualidade de vida dos pacientes. Técnicas como a estimulação elétrica intravesical e a neuromodulação sacral evidenciam benefícios clínicos consistentes, embora apresentem limitações relacionadas à segurança e à satisfação em determinados contextos. Apesar das contribuições positivas, as evidências disponíveis enfrentam limitações. A consolidação do conhecimento sobre a eletroterapia no tratamento da bexiga neurogênica tem o potencial de fortalecer práticas baseadas em evidências e fornecer diretrizes clínicas mais robustas.

Investir em pesquisas que aprofundem esses aspectos é fundamental para aprimorar o manejo dessa condição, promovendo um cuidado mais eficaz, seguro e centrado nas necessidades dos pacientes.

Referências

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1 Discente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE.

2 Doutorado em Reabilitação e Desempenho Funcional, Docente do Curso de Fisioterapia e Fonoaudiologia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE e do Curso de Medicina da Afya Faculdade de Ciências Médicas Itacoatiara.

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