REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8043344
Silvio Monteiro Guimarães Neto
Vitor Felipe Duarte Tenório
Orientadora: Prof. Dra. Alessandra Vidal Prieto
Resumo:
Introdução: Atletas, geralmente, apresentam uma perda da amplitude de movimento devido à alta carga de treinamentos e práticas esportivas, o que pode acabar aumentando as chances de ocorrerem lesões musculoesqueléticas. A auto liberação miofascial com foam roller é uma técnica realizada ativamente pelos atletas, que descarregam o peso do próprio corpo sobre o rolo realizando uma pressão razoável sobre o tecido alvo. Pela praticidade, vem se tornando cada vez mais popular entre os amantes de esportes, pois além da facilidade de uso pode ser realizada em diversos lugares.
Propósito: O propósito dessa revisão foi avaliar criticamente as evidências atuais para responder o seguinte questionamento: Qual a eficácia da auto liberação miofascial na amplitude de movimento dos membros inferiores de indivíduos atletas?
Métodos: A estratégia de busca se limitou a estudos publicados, entre 2013 e 2023, em bases de dados conhecidas. Os estudos presentes nesta revisão respeitaram os seguintes critérios: (1) produzidos em formato de estudo clínico randomizado controlado, (2) que avaliaram a amplitude de movimento e (3) que utilizaram a auto liberação miofascial como uma das formas de intervenção comparada com outra terapia convencional. A escala PEDro foi utilizada para qualificar os trabalhos incluídos.
Resultados: Um total de 5 artigos se adequaram aos critérios de inclusão. A auto liberação miofascial com foam roller parece ter benefícios de curto prazo sobre a amplitude de movimento dos membros inferiores de indivíduos atletas.
Conclusão: Pesquisas sobre o efeito da auto liberação miofascial sobre a amplitude de movimento ainda são consideradas uma área emergente. Os resultados dessa revisão sistemática propõem que a auto liberação miofascial com foam roller pode gerar melhora da amplitude de movimento dos membros inferiores de indivíduos atletas. No entanto, em virtude da diversidade de métodos utilizados pelos estudos, não existe um consenso sobre o melhor protocolo de intervenção de auto liberação miofascial.
Palavras-chaves: Athletes, myofascial release treatment, foam roller, self myofascial release e joint range of motion”.
Abstract:
Introduction: Athletes, generally, present a loss of range of motion due to the high load of training and sports practices, which may end up increasing the chances of musculoskeletal injuries occurring. Myofascial self-release with the foam roller is a technique performed actively by athletes, who unload their own body weight onto the roller, applying reasonable pressure on the target tissue. Due to its practicality, it has become increasingly popular among sports enthusiasts, because besides being easy to use, it can be performed in several places.
Purpose: The purpose of this review was to critically evaluate the current evidence to answer the following question: What is the effectiveness of myofascial self-release on the range of motion of the lower limbs in athletes?
Methods: The search strategy was limited to studies published between 2013 and 2023 in known databases. The studies present in this review met the following criteria: (1) produced in a randomized controlled trial format, (2) that evaluated range of motion, and (3) that used myofascial self-release as one form of intervention compared to another conventional therapy. The PEDro scale was used to qualify the included papers.
Results: A total of 5 papers fit the inclusion criteria. Myofascial self-release with foam roller seems to have short-term benefits on lower limb range of motion in athletes.
Conclusion: Research on the effect of myofascial self-release on range of motion is still considered an emerging area. The results of this systematic review propose that myofascial self-release with the foam roller may improve lower limb range of motion in athletes. However, because of the diversity of methods used by the studies, there is no consensus on the best myofascial self-release intervention protocol.
Keywords: Athletes, myofascial release treatment, foam roller, myofascial self-release e joint range of motion”.
Lista de abreviaturas e siglas:
ADM Amplitude de movimento
ALM Auto liberação miofascial
FNP Facilitação neuromuscular proprioceptiva
1. Introdução
A prática de esportes é vista como um elemento importante no desenvolvimento do ser humano pois manifesta diversas características pessoais, como a competitividade e o trabalho em equipe. Aprimora também algumas características físicas, como: resistência, força e velocidade. Dessa forma, praticar esportes é uma atividade que faz parte do cotidiano dos seres humanos, não havendo limites de idade, podendo ser feito da infância até a velhice. Jovens adultos formam a parte da população que mais se dedica a fazer esportes. Tanto nos esportes individuais quanto nos coletivos, o desenvolvimento da força, da resistência, da velocidade e de uma amplitude de movimento eficiente se mostram importantes para um bom desempenho esportivo (AFANADOR-RESTREPO et al., 2023).
O déficit da amplitude de movimento (ADM) articular é um distúrbio frequente em pessoas fisicamente ativas e, certamente, pode torná-las predispostas a lesões musculoesqueléticas. Diferentes causas podem contribuir para a perda da amplitude de movimento, por exemplo: lesões prévias, flexibilidade pobre e períodos de imobilização. A perda da amplitude de movimento do tornozelo aumenta as chances de ocorrerem diversas lesões nos membros inferiores. Pronação excessiva da articulação subtalar, metatarsalgias, entorses de tornozelo, tendinopatia de Aquiles, fascite plantar e lesões dos ligamentos cruzados dos joelhos são apenas algumas das contusões que podem vir a acontecer devido uma ADM anormal (STANEK; SULLIVAN; DAVIS, 2018).
Quando exercícios e técnicas, que melhoram a ADM, são executados antes da prática esportiva, espera-se que a performance do atleta também melhore. A liberação miofascial é uma técnica que visa aumentar a ADM, visto que, se baseia na terapia manual, ajudando a reduzir as aderências presentes no tecido fascial. A liberação miofascial pode ser feita de diversas maneiras, dentre elas: rolfing, massagem, técnicas osteopáticas para tecidos moles, dessensibilização de pontos gatilhos, técnicas de músculo energia e outros mais. A maioria das técnicas citadas é feita de maneira passiva, ou seja, são realizadas por um profissional (SULOWSKA-DASZYK; SKIBA, 2022).
Dentro da liberação miofascial, existe uma técnica bastante conhecida no meio esportivo, a auto liberação miofascial (ALM). Diferentemente da maioria das outras que são feitas de maneira passiva, na ALM o paciente é totalmente responsável pela execução do tratamento. O paciente utiliza o peso do próprio corpo e algumas ferramentas, como bolas de massagem e foam rollers, objetivando aplicar pressão sobre o tecido em questão. Os foam rollers que são usados tem o formato cilíndrico e são feitos de espuma em diferentes texturas, tamanhos e densidades. Eles são bem práticos de usar e baseiam-se no tratamento de grandes grupos musculares, sendo desligados da porção proximal até a porção distal desses músculos, e vice-versa (ROMERO-MORALEDA et al., 2019) .
Quando um ponto-gatilho é encontrado, o foam roller é mantido sobre a área dolorida para realizar uma compressão sustentada sobre esse ponto. Acredita-se que a eficácia da ALM advém do deslizamento e da pressão direta sobre os tecidos moles, que promovem o rompimento das aderências fibrosas e o aquecimento da fáscia, restaurando a elasticidade do tecido fascial (MOHR; LONG; GOAD, 2014) .
Com base no exposto acima, o objetivo deste estudo é verificar a eficácia da auto liberação miofascial na amplitude de movimento dos membros inferiores de indivíduos atletas.
2. Métodos
2.1. Desenho do estudo
Este estudo, classificado como revisão sistemática, buscou responder ao seguinte questionamento: Qual a eficácia da auto liberação miofascial na amplitude de movimento dos membros inferiores de indivíduos atletas? A partir de tais questionamentos, procedeu-se à busca de artigos científicos que preenchessem os requisitos de elegibilidade e que fossem aceitos na literatura científica.
Assim, foram selecionados artigos completos, disponíveis em língua portuguesa e inglesa, sendo incluídos estudos (a) publicados no período de 2013 a 2023, (b) em formato de estudo clínico randomizado controlado, (c) que avaliaram a amplitude de movimento e (d) que utilizaram a auto liberação miofascial como uma das formas de intervenção comparada com outra terapia convencional. Além disto, na fase 1 da revisão sistemática, foram excluídos a partir dos títulos e resumos, resenhas, cartas, conferências, resumos, editoriais, estudo de caso, artigos com amostra de coorte, e estudos que (a) foram publicadas antes de 2013, (b) que não discutiram sobre a amplitude de movimento, (c) que não usaram a auto liberação miofascial como meio de tratamento e (d) que não foram produzidos em formato de estudos clínicos randomizados controlados.
2.2. Estratégia de busca
Foram selecionadas as bases de dados eletrônicas PUBMed (MEDLINE), EBsco e PEDro. A estratégia de busca incluiu os descritores propostos no Medical Subject Headings (MeSH) referentes à Atletas: “Athletes”, “Professional Athletes”, “Elite Athletes”, “Athlete”, “Professional Athlete”, ““Elite Athlete”; à liberação miofascial: “Myofascial release therapies, “Myofascial release”, “Myofascial Release Treatment”, “Myofascial release treatments”, “Myofascial treatments”, “Myofascial treatment”, “Foam roller” e “Self myofascial release”;e à amplitude de movimento: “Joint range of motion”, “Joint” e “Range of motion” associados a uma lista sensível de termos para busca de ensaios clínicos. Todas as estratégias de busca foram desenvolvidas nos meses de janeiro a abril de 2023.
O gerenciamento dos arquivos foi realizado com o software Mendeley visando identificação e controle das referências bibliográficas, principalmente quanto ao potencial de duplicidade de artigos científicos existentes em diferentes bases de dados.
2.3. Seleção dos estudos e extração dos dados
Os títulos e resumos de todos os artigos identificados pela estratégia de busca foram avaliados por dois autores deste trabalho, de forma independente. Na segunda fase da revisão sistemática os revisores avaliaram independentemente os artigos completos e fizeram suas seleções, de acordo com os critérios de elegibilidade pré-especificados. As discordâncias entre os revisores foram resolvidas por consenso.
Os dados extraídos foram: identificação da publicação, local (País) da realização do estudo, quantidade de participantes (“n” da amostra de ambos os grupos), pontuação na Escala PEDro, intervenção do grupo experimental (GE), intervenção do grupo controle (GC), duração das intervenções, instrumentos e/ou testes utilizados e desfecho final do estudo.
2.4. Risco de Viés e Avaliação da qualidade metodológica
O risco de viés e a qualidade metodológica dos ensaios clínicos incluídos foram avaliados de forma independente por dois revisores por meio da escala PEDro, que baseia-se na lista de Delphi, desenvolvida por Verhagen et al. (1998) . A pontuação PEDro varia de 1 ponto (sem qualidade) até 10 pontos (excelente qualidade). As discordâncias foram resolvidas por consenso.
2.5. Resultados
Através da pesquisa feita inicialmente foram encontrados 68 artigos, sendo que destes, 63 artigos foram excluídos por não se adequarem aos critérios de inclusão. As razões para as exclusões estão expostas no esquema do PRISMA. A tabela da escala PEDro fornece a pontuação de todos os artigos incluídos no presente estudo.
2.6. Características dos estudos
Todos os artigos somados contaram com um total de 189 participantes saudáveis e ativos (Mulheres – 49, Homens – 140) que tinham entre 17 e 45 anos de idade. Um estudo abordou atletas de futebol (23 participantes), um estudo contou com indivíduos recreativamente ativos (40 participantes), um estudo focou em jogadores de rúgbi (53 participantes), um estudo abordou jogadores profissionais de tênis (11 participantes) e um estudo tratou de corredores de longa distância (62 participantes).
2.7. Fluxograma dos estudos incluídos para pesquisa
2.8. Tabela descritiva dos estudos selecionados
2.9. Tabela PEDro
A qualidade dos estudos incluídos estão resumidas na Tabela PEdro. Os escores totais para a qualidade metodológica variaram de 5 à 7 pontos (MOHR et al., 2014;LOPEZ-SAMANES et al., 2021;AUNE et al., 2019; GUILLOT et al., 2019;
SULOWSKA-DASZYK; SKIBA, 2022), sendo que dois dos estudos receberam 5 pontos (MOHR et al., 2014;LOPEZ-SAMANES et al., 2021), um recebeu 6 pontos (AUNE et al., 2019) e dois receberam 7 pontos (GUILLOT et al., 2019; SULOWSKA-DASZYK; SKIBA, 2022), o que permite classificar a qualidade dos estudos como boa à ótima.
Legenda: Item 1 não é considerado para a contagem final porque é um item que avalia a validade externa; Item 2, alocação aleatória; Item 3, alocação oculta; Item 4, Medida que caracterize o baseline; Item 5, sujeitos cegos; Item 7, avaliadores cegos; Item 8, menos de 15% de desistência; Item 9, intenção de tratamento; Item 10, comparação intergrupos; Item 11, medida de precisão e medida de variabilidade
3. Foam roller
Como há diversos tipos de foam rollers no mercado, cada estudo fez uso de um modelo diferente. Mohr et al utilizaram o foam roller CanDo EVA de 15 cm x 91 cm. Aune et al usaram o foam roller SKLZ TRAINER. Guillot et al recorreram ao foam roller de alta densidade (51 kg.m3). Lopez-Samanes et al utilizaram o foam roller de densidade média.
Sulowska-Daszyk e Skiba usaram o foam roller de alta densidade 4Fizjo.
3.1. Foam rolling: ADM apenas do quadril
Dos artigos selecionados, 2 mensuraram apenas a ADM do quadril após o protocolo de intervenção. Em Mohr et al, 40 indivíduos voluntários participaram do estudo. Eles foram divididos em um grupo controle (alongamento estático) e em um grupo intervenção (foam roller). O grupo de intervenção colocou o foam roller entre a tuberosidade isquiática e uma superfície dura, mantendo as pernas estendidas e os tornozelos orientados para cima. Eles foram orientados a suportar o peso corporal com os braços estendidos permitindo uma pressão entre os isquiotibiais e o rolo. Os sujeitos moveram o rolo da tuberosidade isquiática em direção à fossa poplítea e vice-versa, conforme determinado com o metrônomo. O protocolo incluiu 3 repetições de 1 minuto com um intervalo de 30 segundos entre as repetições para que os participantes pudessem descansar os braços. A ADM de flexão passiva do quadril foi medida com um inclinômetro de bolhas. Cada medida foi tirada da perna dominante enquanto o indivíduo estava deitado em uma mesa acolchoada em supino. Para auxiliar nas mensurações, foi feito o uso de dois cintos bem ajustados para minimizar qualquer movimento acessório do membro inferior não dominante. O grupo que realizou a ALM obteve maiores ganhos de ADM na flexão passiva do quadril do que o grupo que fez apenas o alongamento estático.
Lopez-Samanes et al contaram com 11 tenistas profissionais que estavam ranqueados entre os 300 melhores da Espanha e participaram dos torneios do circuito mundial da Federação Internacional de Tênis (ITF). Os participantes foram orientados a evitarem atividades extenuantes 24 horas antes da execução dos testes. Os atletas participaram de duas sessões experimentais iguais, entretanto realizaram diferentes aquecimentos. Um grupo realizou o aquecimento com exercícios dinâmicos e o outro grupo utilizou o foam roller. Cada grupo, em sua determinada intervenção, realizou um aquecimento de 8 minutos. O grupo foam roller aplicou o rolo em ambas as pernas, especificamente nos seguintes músculos: quadríceps, isquiotibiais, glúteos e gastrocnêmios por 60 segundos. Ambos os grupos apresentaram ganhos na ADM do membro inferior dominante, mas não apresentaram diferenças significativas entre os protocolos.
3.2. Foam rolling: ADM de quadril e joelho
Sulowska-Daszyk e Skiba analisaram 62 corredores de longa distância (18 mulheres e 44 homens). Os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos: o grupo 1 (32 corredores) realizou a ALM com foam roller e o grupo 2 (30 corredores) não realizou nenhuma intervenção. Os participantes do grupo 1 realizaram a técnica nos seguintes músculos: isquiotibiais, quadríceps, glúteo máximo, adutores do quadril, tensor da fascia lata e gastrocnêmios. Rolou-se o foam roller da inserção proximal em direção a inserção distal do músculo alvo com uma pressão constante e velocidade de 2,5 cm/s. Os participantes foram instruídos a realizarem 10 repetições por grupo muscular, o que durou, em média, 2 minutos cada. Foi realizado em ambas as pernas e apenas sobre os músculos, nunca sobre ossos, articulações e tendões. O grupo foam roller apresentou melhoras significativas na ADM do quadril e do joelho, enquanto o grupo 2 obteve um ganho razoável da ADM do quadril.
3.3. Foam rolling: ADM de quadril, joelho e tornozelo
Guillot et al realizaram dois experimentos, no primeiro eles contaram com 30 jogadores de rúgbi de nível nacional e no segundo, realizado um mês após o fim do primeiro experimento, com 23 jogadores. Nenhum dos jogadores participou de ambos os experimentos, sendo assim, foram selecionados diversos jogadores de times diferentes. Nenhum dos jogadores estava lesionado durante o período das intervenções. O estudo durou 7 semanas e foi dividido em: pré-teste (semana 0), 15 sessões contínuas de foam roller (semana 1-6) e pós teste (semana 7). No primeiro experimento, os atletas do grupo 1 (10) foram instruídos a rolarem o foam roller no músculo alvo por 40 segundos, enquanto os jogadores do grupo 2 (10), por 20 segundos. Um terceiro grupo controle (10) não realizou nenhuma intervenção com foam roller, apenas uma atividade neutra por um período de tempo equivalente (pedalar com uma baixa intensidade). Foi utilizado o foam roller em 5 grupos musculares (extensores e adutores de quadril, extensores e flexores de joelho e plantiflexores). O protocolo consistia em uma sessão para cada grupo muscular e os participantes foram orientados a rolarem o rolo para frente e para trás, entre as inserções dos músculos. Os jogadores do primeiro grupo realizaram 14 repetições para frente e para trás, enquanto os atletas do segundo grupo fizeram 7 movimentos de ida e volta. No segundo experimento, que aconteceu um mês após o fim do primeiro, o estudo se estendeu por um período de 5 semanas e, como intervenção, utilizaram um treinamento de resistência durante 24 sessões de exercícios com banda elástica. Tais exercícios foram realizados em cada membro inferior por 35 segundos. O grupo controle realizou um treinamento postural passivo dos membros inferiores sem resistência elástica. No primeiro experimento, ambos os grupos intervenção (1 e 2) apresentaram maiores ganhos de ADM do que o grupo controle. No segundo experimento, não houve diferenças significativas na ADM entre o grupo intervenção e o grupo controle.
3.4. Foam rolling: ADM apenas do tornozelo
Em Aune et al, 23 atletas de futebol feminino (11) e masculino (12) de clubes da primeira divisão do campeonato norueguês se mostraram aptos a participarem do estudo. Os testes foram realizados nos centros de treinamento dos clubes durante o verão de 2017 e fora de temporada, período em que não há jogos oficiais. Os atletas completaram 3 sessões de testes separados: no dia 1 (após 30 minutos), no dia 2 (após 24 horas) e no dia 28 (após 4 semanas). Os participantes foram divididos em dois grupos: grupo controle (exercícios excêntricos) e grupo intervenção (foam roller). O protocolo do grupo intervenção consistiu em 3 sessões de 60 segundos, rolando o rolo pelos gastrocnêmios. Foram estabelecidos 30 segundos de descanso entre as sessões. Eles foram instruídos a começarem o movimento a partir do topo da panturrilha e irem em direção ao tendão calcâneo. O tempo que eles deveriam realizar a técnica não foi controlado, mas foi escolhido pelo paciente. Somente a perna dominante foi levada em consideração. O protocolo foi realizado antes das sessões diárias de treinamento de futebol durante as 4 semanas de duração do estudo. A ADM de dorsiflexão do tornozelo aumentou significativamente após as 4 semanas de duração do estudo, mas não houveram grandes diferenças entre os ganhos de ADM dos grupos controle e intervenção.
4. Discussão
O objetivo principal desta revisão sistemática foi examinar a literatura atual sobre o efeito da ALM com foam roller na ADM das principais articulações dos membros inferiores de indivíduos atletas. A ALM é uma opção atrativa no âmbito esportivo, sendo cada vez mais adotada como estratégia tanto para a recuperação muscular quanto para a preparação ou aquecimento antes e depois do treino. (SILVA; SANTOS; SOUZA, 2017) .
Qual a eficácia da auto liberação miofascial na amplitude de movimento dos membros inferiores de indivíduos atletas?
Essa revisão sistemática preconiza que a ALM com foam roller foi capaz de melhorar, significativamente, a ADM dos membros inferiores de tais indivíduos. Esses achados sugerem que um protocolo de ALM com foam roller executado por 20 segundos a 2 minutos (3 a 15 sessões) com descanso de 30 segundos entre as séries, antes da realização de um exercício, pode proporcionar melhora da ADM dos atletas, subsequentemente diminuindo os riscos de lesões.
Admitiu-se que as modificações na ADM podem ocorrer devido às propriedades viscoelásticas e tixotrópicas atípicas do tecido fascial. O atrito do foam roller com o músculo mobiliza o tecido cicatricial e aumenta tanto a temperatura intramuscular quanto o fluxo sanguíneo, recuperando o estado comum da fáscia (CHEATHAM et al., 2015). Alguns pesquisadores compararam a efetividade de um protocolo de ALM com foam roller versus uma intervenção baseada na facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) na ADM dos membros inferiores. Os resultados mostraram que ambos os grupos alcançaram uma maior ADM, entretanto, o grupo FNP apresentou resultados mais significativos (PÉREZ-BELLMUNT et al., 2023).
Um outro estudo analisou os efeitos da ALM com foam roller e do alongamento estático e dinâmico na ADM de adultos jovens. Concluíram que o grupo foam roller foi o que obteve os resultados mais satisfatórios no ganho da flexibilidade dos músculos quadríceps e isquiotibiais, sem que houvesse perda da força muscular, podendo ser incluído em um programa de aquecimento para adultos jovens (SU et al., 2017).
Em um momento oportuno, foi realizada uma análise entre um grupo que performou um protocolo de ALM com foam roller e um grupo que realizou alongamento estático, ambos por um período de 60 segundos. Os resultados demonstram que a ALM com foam roller pode aumentar a ADM mas que os efeitos sobre a rigidez tecidual e o deslizamento fascial, importantes fatores influenciadores da ADM, ainda não foram avaliados. Sendo que, diferentemente do alongamento estático, a ALM com foam roller aparentemente não apresenta prejuízos ao desempenho muscular (KRAUSE et al., 2017).
Os efeitos a curto prazo da ALM com foam roller, do alongamento estático e da combinação das duas intervenções na ADM de dorsiflexão do tornozelo foram analisados em adolescentes atletas que tinham pelo menos seis meses de experiência com o foam roller. Ambos os protocolos obtiveram um aumento significativo da flexibilidade dos flexores plantares do tornozelo, o que melhorou a ADM do tornozelo. O mais interessante foi que o estudo concluiu que uma combinação de ambas as técnicas foi capaz de gerar um ganho ainda maior da ADM de dorsiflexão do tornozelo ( ŠKARABOT; BEARDSLEY; ŠTIRN, 2015) .
Os corredores podem realizar a ALM com foam roller após suas sessões de treinamento em virtude dos benefícios sobre a ADM de dorsiflexão dos tornozelos, que se mostrou um fator importante na biomecânica do esporte e na prevenção de lesões ( ROMERO-FRANCO, 2019)
4.1. Aplicação clínica
Levando-se em consideração os resultados obtidos nesse estudo, alguns pontos devem ser observados. Primeiro, ainda são poucas as pesquisas que visam mensurar a ADM pós ALM com foam roller. Havendo uma ampla diversidade sobre os parâmetros de intervenção e medidas de resultados, tais como: quantidades de sessões, tempo de descanso entre as séries e quanta pressão deve ser exercida, por exemplo. Segundo, como é uma prática cada vez mais comum entre os atletas, o mercado produziu diferentes tipos de foam roller, o que fica nítido nos estudos incluídos nesta revisão visto que cada um utilizou um foam roller diferente. Entretanto, acredita-se que um foam roller de alta densidade provoca maiores efeitos sobre os tecidos moles do que um de baixa densidade. Terceiro, todas as pesquisas encontraram apenas resultados a curto prazo, ou seja, os resultados a longo prazo ainda são uma incógnita. Quarto, ainda há dúvidas acerca da fisiologia dos mecanismos responsáveis pelas alterações provocadas pelo foam roller.
4.2. Limitações
Os estudos sobre os efeitos da ALM com foam roller ainda são classificados como pesquisas em áreas emergentes, e essa revisão sistemática é limitada pelos critérios de busca. As principais limitações foram: métodos variados, pequenos tamanhos de amostra e medidas de resultados que tornam difícil uma comparação direta entre os estudos e um desenvolvimento, em consenso, de um programa ideal e a pouca quantidade de evidências de alta qualidade que ainda são uma barreira para se tirar conclusões sólidas. As próximas pesquisas devem se atentar a replicar os métodos e utilizar amostras maiores.
5. Conclusão
Os resultados dessa revisão sistemática conclui-se que a auto liberação miofascial com foam roller produziu efeitos positivos de curto prazo sobre a amplitude de movimento das principais articulações (quadril, joelho e tornozelo) dos membros inferiores de indivíduos atletas. Todavia, em virtude da diversidade de métodos utilizados pelos estudos, não existe um consenso sobre o melhor protocolo de intervenção de ALM com foam roller (cadência, número de sessões, pressão). Porém, a pouca quantidade de evidências de alta qualidade ainda é uma barreira para se tirar conclusões sólidas. As próximas pesquisas devem se atentar a replicar os métodos e utilizar amostras maiores.
6. Referências Bibliográficas
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