REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th1024110718021
Jennyfer Morato Alves1
Macerlane de Lira Silva2
Cicera Tavares de Lucena3
Josefa Taynara Gomes dos Santos4
Yngrid Vicente da Silva5
Francisco Jardel Feijó e Silva6
Márcia Gomes Rufino7
Cicera Mykellandy Gonçalves Monteiro8
Cícera Mykaelly Gonçalves Monteiro9
Camila Alves Nogueira10
Ankilma Andrade Feitosa11
Geane Silva Oliveira12
Andrea Cavalcante Macedo13
Gandavya Aguiar Machado14
Francisca Eridan Fonteles Albuquerque15
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é reconhecido como uma condição de extrema complexidade, indo além de uma definição precisa, uma vez que não existem instrumentos capazes de testá-lo ou mensurá-lo de forma exata. Em outras palavras, as pesquisas realizadas até o momento não alcançaram uma solução definitiva ou “cura” para o TEA, o que evidencia a necessidade de acompanhamento ao longo de toda a vida do indivíduo (COSTA, 2022).
A prevalência do TEA tem apresentado um aumento significativo nos últimos anos, ressaltando a urgência da implementação de estratégias específicas para a interação entre profissionais de saúde, especialmente enfermeiros, e pacientes autistas. O ambiente de saúde, frequentemente complexo e desafiador, demanda abordagens adaptativas que considerem as características singulares desse espectro, visando promover a inclusão e a qualidade nos cuidados prestados (GIOLO; GARCEZ, 2022).
Nesse cenário específico, o desafio é singular e, ao mesmo tempo, uma oportunidade para aprimorar as estratégias de comunicação, levando em consideração as características e necessidades específicas dos pacientes autistas atendidos no contexto de saúde.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que mais de 70 milhões de pessoas em todo o mundo são autistas. No Brasil, acredita-se que cerca de um milhão de indivíduos apresentam Transtorno do Espectro Autista (TEA), sendo que 90% deles não receberam um diagnóstico adequado. O TEA é caracterizado como uma perturbação do neurodesenvolvimento humano, afetando as áreas de interação social, comunicação e comportamento, sendo frequentemente identificado em crianças pré-escolares (MAGALHÃES et al., 2020).
No contexto brasileiro, diversos agentes, como profissionais de saúde, educação, pais e familiares, têm desempenhado papéis fundamentais na conquista dos direitos fundamentais das pessoas com TEA por meio de políticas específicas. A Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, regida pela Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, assegura à pessoa com TEA o direito à vida digna, integridade física e moral, livre desenvolvimento da personalidade, segurança, lazer e proteção contra qualquer forma de abuso e exploração (BRASIL, 2012).
Diante desse contexto, a atuação profissional requer não apenas a compreensão das comorbidades associadas, mas também a consideração dos fatores sintomáticos e idiopáticos que contribuem para a complexidade na capacidade do autista em estabelecer relações interpessoais.
Logo, a presente pesquisa busca preencher lacunas cruciais no entendimento e na abordagem do TEA, destacando a importância de estratégias específicas no contexto da saúde, particularmente na atuação dos enfermeiros. Ao considerar a complexidade do TEA, a falta de instrumentos precisos para sua avaliação e a crescente necessidade de uma abordagem adaptativa, espera-se que os resultados desta pesquisa contribuam para aprimorar as práticas da equipe multiprofissional que atuam no Espaço Terapêutico Evoluir (ETE) no município de Brejo Santo.
Com uma abordagem centrada nas características individuais dos pacientes autistas, a pesquisa visa promover a inclusão, melhorar a qualidade dos cuidados prestados e fornecer insights valiosos para profissionais de saúde e demais atores envolvidos no suporte às pessoas com TEA.
A justificativa para a pesquisa é fundamentada na crescente prevalência do TEA e na necessidade urgente de adaptações nas práticas de saúde para melhor atender a essa população. O aumento significativo na incidência do TEA nos últimos anos destaca a importância de desenvolver estratégias específicas para a interação entre profissionais de saúde, especialmente enfermeiros, e pacientes autistas.
O ambiente de saúde, frequentemente caracterizado por sua complexidade e desafios, demanda abordagens adaptativas que levem em consideração as características singulares do espectro autista. A falta de compreensão adequada e de estratégias específicas de comunicação pode resultar em dificuldades para os pacientes autistas receberem cuidados de qualidade, comprometendo sua inclusão no sistema de saúde.
A pesquisa se justifica ao direcionar seu foco para as práticas da equipe multiprofissional que atua no Espaço Terapêutico Evoluir (ETE) no município de Brejo Santo. Este contexto específico oferece uma oportunidade única para estudar e aprimorar as estratégias de comunicação, uma vez que apresenta desafios e características próprias que podem impactar diretamente a interação entre profissionais de saúde e pacientes autistas atendidos nessas unidades.
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
- Analisar a efetividade das estratégias de comunicação terapêutica estabelecidas pelos profissionais do Espaço Terapêutico Evoluir (ETE).
2.2 Objetivos específicos
- Apontar como a equipe multiprofissional do Espaço Terapêutico Evoluir (ETE) promove a comunicação;
- Avaliar o impacto das estratégias de comunicação implementadas na equipe multiprofissional;
- Apresentar os desafios enfrentados e a interação profissional/paciente e familiar.
3 METODOLOGIA
3.1 Tipo de Estudo
A pesquisa realizada foi de campo, transversal, do tipo descritiva, com uma abordagem quantitativa. A pesquisa de campo tem como objetivo obter informações sobre um problema específico, buscando uma resposta, verificar uma hipótese ou descobrir novos fenômenos e suas relações (MARCONI e LAKATOS, 2017).
A pesquisa transversal, por sua vez, consiste em um estudo epidemiológico no qual fatores de risco e efeitos são observados simultaneamente, permitindo a análise de associações e prevalências em um único momento histórico (BORDALO, 2020).
As pesquisas descritivas têm como principal objetivo observar, registrar, analisar, classificar e interpretar fatos sem que o pesquisador interfira diretamente neles (MARCONI e LAKATOS, 2017).
Por fim, a abordagem quantitativa caracteriza-se pela utilização de dados numéricos e estatísticos para descrever padrões, relações ou variações em fenômenos específicos (FACHIN, 2022).
3.2 Local do Estudo
A pesquisa foi realizada no Espaço Terapêutico Evoluir (ETE) município de Brejo Santo – CE. Brejo Santo que é um município brasileiro do Estado do Ceará. A população total do município é de 45.190 habitantes, segundo a última estimativa do IBGE. Sua área é de 661,959 km² km² representando 0.445% do estado e 0.0445% de toda região. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) municipal é de 0,647, segundo o IBGE (IBGE, 2022).
O ETE é um núcleo dedicado a fornecer assistência garantindo linhas de cuidado em saúde, com foco na elaboração de Projetos Terapêuticos Singulares (PTS). Seu objetivo primordial é promover a funcionalidade e facilitar a participação social de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em diversos contextos.
É importante ressaltar que o ETE opera como um núcleo de gestão municipal, tendo sido inaugurado em outubro de 2023. As atividades realizadas pelo ETE de Brejo Santo estão fundamentadas na busca pela excelência no acolhimento, visando proporcionar atenção integral às crianças, adolescentes e suas famílias.
3.3 Participantes do Estudo
Farão parte da pesquisa todos os profissionais que compõem a equipe multiprofissional que atua no Espaço Terapêutico Evoluir (ETE) que já acompanhou ou está acompanhando crianças autistas. Os profissionais que fazer parte da equipe multiprofissional do ETE são: Médico Psiquiatria, Médica Neurologista infantil, Medica Pediátrica e Nutrologia Pediátrica, Médica Gastro Pediátrica, Psicóloga com Terapia cognitiva, Psicóloga com Neuropsicologia, Psicóloga com ABA, Assistente social, Fisioterapeuta, Fonoaudiologia, Terapeuta ocupacional, Nutricionista, Pedagoga e Atendente terapêutica com ABA.
A amostra foi composta 11 profissionais que se dispuserem a participar do referido estudo, levando em consideração os critérios de inclusão e exclusão:
- Critério de inclusão: profissionais da equipe que estavam atualmente em exercício e manifestem interesse em participar foram considerados;
- Critério de exclusão: foram excluídos da pesquisa os profissionais que estavam em licença ou afastamento durante o período do estudo, visando assegurar a consistência na coleta de dados.
3.4 Etapas do desenvolvimento
Inicialmente a carta de anuência (APÊNDICE A), foi encaminhada à coordenação da Secretaria de Saúde do município de Brejo Santo, juntamente com o esclarecimento dos objetivos e metodologia proposta pelo referido trabalho, com fins de obter a autorização para a realização da pesquisa no referido local. Posteriormente o projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).
Após a aprovação pelo CEP, o presente trabalho juntamente com seus objetivos de estudo foi apresentado aos colaboradores, após aceite e autorização, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APENDICE B), pelos mesmos, em seguida foram realizadas as coletas de dados.
Para a coleta de dados será aplicado um questionário, o qual abordou uma variedade de aspectos relacionados à comunicação com pacientes autistas, permitindo uma compreensão abrangente da perspectiva dos profissionais da ETE do município de Brejo Santo (APÊNDICE C).
3.5 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário semi-estruturado, construído pelos autores, contendo questões objetivas, elaboradas de acordo com os objetivos propostos e referentes aos dados sócios demográficos. Sendo assim dividido em duas etapas, na primeira etapa foi abordado às características sócios demográficos dos participantes e a segunda contará com questionamentos pertinentes à temática, buscando alcançar os objetivos propostos.
3.6 Organização e análise de dados
Os dados obtidos foram tabulados e analisados utilizando o software estatístico SSPS, versão 29, que foi lançada em 2022, que permite uma organização eficiente dos dados e a realização de análises estatísticas detalhadas. Cada resposta apresentada pelos entrevistados foi registrada em uma planilha do Excel, com colunas correspondentes às diferentes questões ou variáveis estudadas. Após a tabulação dos dados, foram realizadas análises estatísticas, e discutidas a luz da literatura pertinente.
3.7 Aspectos éticos e legais
O projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro Universitário Santa Maria.
Para realização desse estudo foi observado os pressupostos da resolução 510/2016 do Conselho Nacional de saúde (CNS)/MS que trata de pesquisas e testes em seres humanos (BRASIL, 2016).
Ao primeiro contato com a participante, foi esclarecido todos os aspectos relativos à pesquisa, em seguida, será fornecido o TCLE (APÊNDICE A), onde o mesmo apresentou a proposta do estudo através de uma linguagem acessível e objetiva, que permitirá o melhor entendimento dos sujeitos, assegurando-lhes a importância de sua participação no estudo, assim como liberdade de participar ou não, o direito a desistência bem como o sigilo durante qualquer fase da pesquisa, sem danos a sua assistência, trabalho, família ou imagem. Além da solicitação de publicação dos resultados em eventos científicos acadêmicos.
O estudo contou com a participação de 11 profissionais de saúde, atuantes no Espaço Terapêutico Evoluir (ETE). Esses profissionais tiveram seus dados sociodemográficos analisados de forma detalhada, permitindo uma compreensão abrangente e aprofundada do perfil demográfico dos participantes envolvidos na pesquisa.
4.1 RESULTADOS DA ENTREVISTA REALIZADA COM OS PROFISSIONAIS
Dados Sociodemográficos
A maioria dos profissionais (41,7%) está na faixa de 25-34 anos, seguidos por 35-44 anos (33,3%). Esses dados sugerem que o grupo possui um perfil jovem-adulto com considerável experiência profissional, refletindo maturidade e potencial para aprendizado contínuo.
Essa distribuição é detalhada no Gráfico 01, permitindo uma visualização clara das proporções de cada faixa etária.
Gráfico 01: Distribuição dos participantes por faixa etária, Brejo Santo, 2024.
Fonte: Pesquisa direta, 2024.
Em relação ao gênero, houve predomínio no sexo feminino (91,7%). O dado reflete uma tendência comum em profissões ligadas à saúde e cuidado, onde mulheres geralmente representam a maioria.
No que diz respeito ao nível de escolaridade, os profissionais majoritariamente possuem Ensino Médio (33,3%) ou Especialização (33,3%). O percentual significativo de profissionais com nível técnico e de especialização demonstra uma combinação entre formações mais práticas e uma busca por aprimoramento acadêmico. A distribuição completa de todos os níveis de escolaridade está representada no Gráfico 02, destacando o equilíbrio entre diferentes graus de formação.
Gráfico 02: Distribuição dos participantes por nível de escolaridade, Brejo Santo, 2024.
Fonte: Pesquisa direta, 2024.
Referente à área de atuação, obteve-se os seguintes resultados: Auxiliares terapêuticos (25,0%) e psicólogos (16,7%) foram os grupos mais representados. A diversidade nas áreas de atuação reflete a abordagem multiprofissional do ETE, fundamental no cuidado de pacientes autistas. Para uma visão completa da diversidade das áreas, o Gráfico 03 apresenta a distribuição entre as categorias profissionais.
Gráfico 03: Distribuição dos participantes por área de atuação, Brejo Santo, 2024.
Fonte: Pesquisa direta, 2024.
A respeito do tempo de experiência, a maior parte (50,0%) possui experiência entre 1-10 anos. Esses dados reforçam que a equipe tem uma base de profissionais com experiência moderada, contribuindo para o manejo adequado de casos complexos.
4.2 Experiência e Percepção sobre Comunicação com Pacientes Autistas
A pesquisa revelou que 66,7% dos profissionais interagem diariamente com pacientes autistas, demonstrando alta exposição prática que favorece o desenvolvimento de estratégias personalizadas.
A colaboração entre os profissionais é essencial para analisar desde habilidades sociais até dificuldades de comunicação. Essa abordagem multidisciplinar permite uma avaliação detalhada das características individuais e promove uma perspectiva holística no processo diagnóstico.
Pereira et al. (2020) ressaltam que o estabelecimento de uma comunicação funcional influencia diretamente a evolução e o progresso geral do indivíduo, promovendo melhorias na qualidade de vida. Além disso, esse desenvolvimento proporciona um retorno positivo, favorecendo maior autonomia, liberdade de escolha e capacidade de expressão.
Em relação ao treinamento, 75% consideram possuir capacitação suficiente, embora 25% apontem a necessidade de formações mais direcionadas. No quesito confiança na comunicação, 75% dos participantes sentem-se confiantes, mas 16,7% mantêm uma percepção neutra, indicando áreas para aperfeiçoamento.
As estratégias mais eficazes relatadas foram o uso de figuras e imagens (66,7%), linguagem simples (75%) e rotina consistente (58,3%), enquanto os dispositivos tecnológicos foram menos valorizados, com 41,7% considerando-os pouco eficazes. Esses dados reforçam a relevância de abordagens visuais e estruturadas, além de indicarem possíveis desafios na aplicação de tecnologias, como falta de recursos ou dificuldades de adaptação.
Togashi e Walter (2016) destacam que, quando um indivíduo apresenta ausência de fala ou uma fala não funcional, é essencial buscar ferramentas e mecanismos alternativos que facilitem o processo de comunicação. Nesse contexto, a comunicação alternativa e ampliada pode desempenhar um papel fundamental, oferecendo recursos que contribuem para o desenvolvimento e a efetividade da comunicação.
Por fim, 75% dos profissionais avaliaram o envolvimento familiar como altamente eficaz, evidenciando o papel central da família no processo terapêutico e a necessidade de esforços contínuos para ampliar essa participação.
Coelho, Santiago e Silva (2023) enfatizam a importância da participação ativa dos pais no processo terapêutico de crianças autistas, dado o papel fundamental que desempenham no desenvolvimento e no bem-estar de seus filhos. O envolvimento e o apoio parental podem exercer uma influência significativa no progresso terapêutico, considerando que os pais estão presentes de forma contínua na vida da criança.
4.3. Desafios e Necessidades
A pesquisa identificou barreiras na comunicação, como barreira linguística (33,3%) e falta de recursos (25%), destacando a necessidade de treinamentos e investimentos em materiais de apoio para tornar a comunicação mais clara e acessível.
Lopes (2017) destaca que os profissionais devem estar preparados para oferecer uma escuta qualificada, considerando a história de vida, a rotina e o histórico clínico da criança. Além disso, é fundamental estabelecer um vínculo com a família e com a criança, promovendo um ambiente de segurança e confiança. Uma estratégia importante é observar a criança com TEA em momentos de atividade livre, permitindo identificar como ela se comunica e se relaciona fora do ambiente do consultório.
Sobre treinamentos adicionais, 66,7% dos participantes apontaram a importância de sessões com especialistas, enquanto 41,7% mencionaram workshops práticos, indicando que, embora a teoria seja amplamente compreendida, há uma carência de aplicação prática em situações reais.
Como principal sugestão de melhoria, 66,7% recomendaram um maior envolvimento familiar, reforçando o papel central da família no desenvolvimento e progresso do paciente, em alinhamento com as evidências presentes na literatura.
4.4 Percepções sobre as estratégias de comunicação
Os relatos qualitativos destacam uma visão positiva das estratégias aplicadas, com ênfase na individualização do plano terapêutico e no envolvimento familiar. Uma das observações:
“A equipe multiprofissional […] consegue alcançar resultados satisfatórios na autonomia do usuário.”
Gomes et al. (2015) ressaltam a importância de compreender e manejar o transtorno, uma vez que o comportamento, as dificuldades de comunicação e os déficits cognitivos são fatores frequentemente associados ao aumento do estresse parental.
Diante desse contexto é de grande valia destacar a importância de adaptar abordagens às necessidades específicas de cada paciente e engajar os familiares no processo.
Apesar dos resultados satisfatórios, foram apontados desafios, como indicado no relato:
“[…] temos evolução na maioria das crianças, mas há casos mais difíceis que precisam de estudos e planos mais adaptativos.”
Esse comentário evidencia o sucesso da abordagem geral, mas reforça a necessidade de flexibilidade no manejo de casos mais complexos.
Em um estudo conduzido por Dias et al. (2021), foi destacado que os participantes apontaram diversas dificuldades no tratamento, incluindo o desafio de estabelecer condutas que atendam às necessidades da criança. Essas dificuldades estão relacionadas à falta de engajamento, ao desconhecimento sobre o transtorno, à sobrecarga dos pais e, em alguns casos, à falta de aceitação por parte de familiares.
Além disso, na pesquisa realizada no ETE do município de Brejo Santo, identificou-se que os participantes destacaram a valorização do suporte técnico e ético como um aspecto essencial, evidenciado em suas falas.
“[…] Parabenizo a resolutividade, ética e compromisso social.”
Ressaltando a confiança nos profissionais do espaço terapêutico, aspecto fundamental para garantir a qualidade do atendimento.
4.5 Aspectos mais valorizados nas interações terapêuticas
Os participantes destacaram aspectos fundamentais para o sucesso das intervenções terapêuticas. O planejamento e a personalização das ações foram enfatizados na fala, demonstrando como um ambiente estruturado e abordagens personalizadas são eficazes:
“[…] planejamento bem executado ajuda na confiança e no desenvolvimento de habilidades.”
Nascimento, Bitencourt e Fleig (2021) apontam que a prática profissional no atendimento a pessoas com autismo demanda não apenas a compreensão de comorbidades associadas, mas também a análise de fatores sintomáticos e idiopáticos que aumentam a complexidade do diagnóstico e do manejo terapêutico. A literatura científica já evidencia a ansiedade frequente das mães quanto à busca por terapias que promovam mudanças positivas no comportamento de seus filhos, contribuindo para a redução dos sintomas e para a melhoria da qualidade de vida de ambos.
A integração e a troca de experiências também foram valorizadas, como indicado em:
“[…] a troca entre profissionais, seja dentro do espaço ou fora, contribui para o trabalho.”
Isso reflete o impacto positivo da abordagem multiprofissional e da cooperação entre os terapeutas. Chaim et al (2020) ressaltam que a prática profissional requer mais do que a compreensão das comorbidades associadas, sendo fundamental também considerar os fatores sintomáticos e idiopáticos que aumentam a complexidade no entendimento da capacidade de interação social dos indivíduos com autismo.
Além disso, o envolvimento familiar foi identificado como pilar central do processo, evidenciado na observação:
“[…] a integração entre equipe e família é essencial.”
Esse ponto reforça o papel da família como o principal fator de sucesso terapêutico, alinhando-se aos dados quantitativos apresentados. A atuação profissional no tratamento do autismo vai além da compreensão das comorbidades associadas, envolvendo também a análise de fatores sintomáticos e idiopáticos que dificultam a capacidade do autista de estabelecer relações.
A literatura científica destaca a ansiedade das mães em relação a terapias que possam modificar o comportamento dos filhos, melhorando os sintomas e a qualidade de vida. No entanto, os grupos relacionados ao autismo apresentam divergências, como dificuldades de relacionamento social, aversão ao toque e, em alguns casos, um forte apego aos pais, o que aumenta o estresse familiar (NASCIMENTO, BITENCOURT e FLEIG, 2021).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo evidenciou a relevância das estratégias de comunicação terapêutica no atendimento a pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Espaço Terapêutico Evoluir (ETE). As análises realizadas destacaram o impacto positivo de abordagens personalizadas, como o uso de figuras, linguagem simples e rotinas consistentes, bem como o papel central do envolvimento familiar no sucesso das intervenções terapêuticas.
Os resultados também apontaram desafios significativos, como barreiras linguísticas, falta de recursos e a necessidade de treinamentos mais direcionados. A identificação dessas dificuldades reforça a importância de investimentos contínuos em capacitação e infraestrutura, a fim de aprimorar o suporte oferecido aos pacientes e suas famílias.
Além disso, a pesquisa revelou a eficácia da abordagem multiprofissional e da troca de experiências entre os profissionais, elementos fundamentais para a construção de um ambiente de cuidado inclusivo e de qualidade. A valorização da ética, da resolutividade e do compromisso social demonstrada pelos participantes reforça o potencial do ETE como um modelo de excelência no atendimento a pessoas com TEA.
Por fim, os dados apresentados fornecem subsídios importantes para o desenvolvimento de políticas e práticas que promovam a inclusão e a qualidade do cuidado no contexto do TEA. Espera-se que este estudo contribua para o avanço das discussões acadêmicas e profissionais sobre o tema, além de inspirar melhorias contínuas nos serviços de saúde voltados a essa população.
REFERENCIAS
BORDALO, M. Epidemiologia transversal: conceitos e aplicações. Rio de Janeiro: Editora Saúde, 2020.
COELHO, A. N.; SANTIAGO, R. L. B.; SILVA, S. R. A participação dos pais como agentes de mudança no processo terapêutico da criança autista. Ciências da Saúde, v. 27 – Ed. 129, 2023.
CHAIM, M. P. M. et al. Fenomenologia da qualidade de vida de crianças autistas. Rev Abordagem Gestalt. v. 26, n. 2, p. 122-34. 2020.
DIAS, E. G. et al. Desafios profissionais em um centro de reabilitação para crianças autistas. Revista Saúde e Desenvolvimento, Curitiba, v. 15, n. 23, p. 10-20, 2021
BRASIL. Lei Ordinária Federal nº 12.764. Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Brasília, DF: Senado Federal; 2012.
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016. Dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 24 maio 2016. Seção 1, p. 44-46.
COSTA, S. R. Transtorno do espectro autista: desafios e perspectivas no atendimento de profissionais de saúde em um centro de reabilitação na região Seridó Potiguar. Trabalho apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Educação, Trabalho e Inovação em Medicina da Escola Multicampi de Ciências Médicas / Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Caicó, 2022.
FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia quantitativa. São Paulo: Atlas, 2022.
GIOLO, A. M.; GARCEZ, L. A inclusão de crianças autistas no ensino regular. Aletheia, Canoas, v. 55, n. 1, p. 168-191, jun. 2022.
GOMES, P. T. M. et al. Autismo no Brasil, desafios familiares e estratégias de superação:revisão sistemática. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, v. 91, n. 2, p. 111-121, 2015.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE, 2022.
LOPES, C. N. N. et al. Conhecendo o transtorno do espectro autista. Cartilha institucional,João Pessoa, p. 1-26, 2017.
MAGALHÃES, J. M. Assistência de enfermagem à criança autista: revisão integrativa. Rev. Enfermería Global, Nº 58, Abril, 2020.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
NASCIMENTO, I. B.; BITENCOURT, C. R.; FLEIG. R. Estratégias para o transtorno do espectro autista: interação social e intervenções terapêuticas. J Bras Psiquiatr. v. 70, n. 2, p.179-87. 2021.
PEREIRA, Érika Tamyres et al. Comunicação alternativa e aumentativa no transtorno do espectro do autismo: impactos na comunicação. Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, v. 32, n. 6, 2020.
TOGASHI, Cláudia Miharu.; WALTER, Cátia Crivelenti de Figueiredo. As Contribuições do Uso da Comunicação Alternativa no Processo de Inclusão Escolar de um Aluno com Transtorno do Espectro do Autismo. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 22, n. 3, p. 351-366. 2016.
1 jennyfermorqrobs@hotmail.com
5 yngridvicente.bs@gmail.com
6 jarfeijo@gmail.com
7 marcia_merilee@hotmail.com
8 mykellandy@hotmail.com
9 mykaellygm@hotmail.com
13 andreacavalcanteto@gmail.com
14 gandavya.diniz@gmail.com