REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202511141457
Bruno Alexandre Chavez
Orientador: Prof. coordenador Ricardo Henrique Esquivel Azuma
RESUMO
A recuperação muscular é um componente essencial para o desempenho e a longevidade de atletas profissionais de futebol, cuja rotina de treinos e competições impõe intensa sobrecarga ao sistema musculoesquelético. Nesse contexto, a liberação miofascial manual surge como uma técnica promissora na fisioterapia esportiva, atuando na redução da dor muscular tardia, melhora da flexibilidade e aceleração do processo de recuperação pós-esforço. O presente estudo teve como objetivo analisar, por meio de uma revisão sistemática da literatura, a efetividade da liberação miofascial manual no recovery de atletas profissionais de futebol masculino. A busca foi conduzida nas bases PubMed, Scopus, Web of Science, SciELO e PEDro, considerando publicações entre 2010 e 2025. Dos 1.250 registros identificados, 20 estudos atenderam aos critérios de inclusão. Os resultados apontaram que a liberação miofascial manual promove benefícios significativos na recuperação muscular, na amplitude de movimento e na redução de marcadores de fadiga, como a creatina quinase e a dor muscular tardia. Além disso, observou-se impacto positivo indireto sobre a performance cognitiva e a tomada de decisão, favorecendo a integração entre percepção e execução motora. Conclui-se que a técnica é eficaz, de baixo custo e aplicável na rotina de fisioterapia esportiva, embora ainda sejam necessários estudos experimentais padronizados para determinar protocolos ideais de aplicação.
Palavras-chave: Fisioterapia esportiva; Liberação miofascial; Recuperação muscular; Futebol profissional; Desempenho atlético.
ABSTRACT
Muscle recovery is a key component for maintaining performance and longevity in professional soccer players, whose training and competition schedules impose high mechanical stress on the musculoskeletal system. In this context, manual myofascial release has emerged as a promising physiotherapy technique aimed at reducing delayed-onset muscle soreness, improving flexibility, and accelerating post-exercise recovery. This study aimed to analyze, through a systematic literature review, the effectiveness of manual myofascial release in the recovery process of professional male soccer players. A search was conducted in the PubMed, Scopus, Web of Science, SciELO, and PEDro databases, including publications from 2010 to 2025. Of the 1,250 records identified, 20 studies met the inclusion criteria. Results indicated that manual myofascial release produces significant benefits in muscle recovery, range of motion, and reduction of fatigue markers such as creatine kinase and delayed-onset muscle soreness. Additionally, indirect positive effects were observed on cognitive performance and decision-making, enhancing the integration between perception and motor execution. It is concluded that manual myofascial release is an effective, low-cost, and safe method suitable for sports physiotherapy practice, although further standardized experimental research is required to establish optimal application protocols.
Keywords: Sports physiotherapy; Myofascial release; Muscle recovery; Professional soccer; Athletic performance.
1 INTRODUÇÃO
A recuperação muscular é um processo essencial para a manutenção do desempenho esportivo, sobretudo em modalidades de alta intensidade, como o futebol profissional. A sobrecarga física resultante de treinos exaustivos e competições frequentes favorece o acúmulo de fadiga, reduz a capacidade de rendimento e aumenta o risco de lesões musculoesqueléticas (WIEWELHOVE et al., 2018). Nesse contexto, estratégias de recuperação têm sido cada vez mais exploradas pela fisioterapia esportiva, com o objetivo de otimizar a regeneração muscular, reduzir o tempo de recuperação e preservar a performance atlética (NOGUEIRA; ALMEIDA; SANTOS, 2021).
Entre os métodos aplicados, destaca-se a liberação miofascial manual, técnica que busca a manipulação dos tecidos moles para promover relaxamento da fáscia, redução de tensões e melhora da amplitude de movimento (PENTEADO et al., 2025). Segundo Schleip e Müller (2013), a fáscia exerce papel crucial na transmissão de forças, na estabilidade muscular e no movimento global do corpo, sendo sua adequada mobilidade determinante para a funcionalidade do sistema musculoesquelético. Assim, intervenções que atuem na fáscia podem contribuir de maneira significativa para a recuperação pós-esforço.
O futebol profissional exige do atleta elevada capacidade física em ações como acelerações, desacelerações, sprints, saltos e mudanças bruscas de direção. Tais demandas resultam em microtraumas musculares repetitivos, os quais, quando não tratados de forma eficiente, podem comprometer a performance e aumentar a incidência de lesões (BANGSBO et al., 2014). Nessa perspectiva, Cruz et al. (2020) ressaltam que o uso de técnicas de recuperação adequadas é indispensável para prolongar a longevidade esportiva e minimizar afastamentos.
Apesar de o uso da liberação miofascial ter se popularizado nos últimos anos, ainda não existe consenso absoluto sobre sua real efetividade em atletas de alto rendimento. Ferreira et al. (2023) destacam que, embora evidências apontem benefícios na flexibilidade, na redução da dor muscular e na melhora da circulação, estudos comparativos com outros métodos de recuperação revelam resultados divergentes. Diante disso, revisões sistemáticas tornam-se fundamentais, pois permitem reunir achados científicos recentes e oferecer embasamento para a prática clínica (HIGGINS et al., 2022).
Dessa forma, compreender a efetividade da liberação miofascial manual na recuperação de atletas profissionais de futebol masculino é de grande relevância para a fisioterapia esportiva. Este estudo pretende analisar as evidências disponíveis, buscando identificar de que forma essa técnica pode contribuir para a recuperação muscular, a prevenção de lesões e a manutenção da performance em um esporte de alta exigência física.
2 PROBLEMA
A liberação miofascial manual apresenta efetividade comprovada na recuperação muscular, na prevenção de lesões e na manutenção do desempenho físico em atletas profissionais de futebol masculino?
3 HIPÓTESES
Hipótese principal (H1): A liberação miofascial manual é eficaz na melhora da recuperação muscular, na prevenção de lesões e na manutenção da performance em atletas de futebol masculino profissional.
Hipótese nula (H0): A liberação miofascial manual não apresenta efeitos significativos na performance, na recuperação ou na prevenção de lesões em atletas de futebol masculino profissional.
4 JUSTIFICATIVA
O futebol profissional é caracterizado por alta intensidade competitiva e um calendário de treinos e jogos que impõe sobrecarga significativa ao sistema musculoesquelético. Essa rotina favorece o surgimento de fadiga e aumenta a vulnerabilidade a lesões, fatores que comprometem não apenas a performance imediata, mas também a longevidade da carreira esportiva (BANGSBO et al., 2014). Assim, a implementação de métodos de recuperação eficazes é indispensável para manter a integridade física e otimizar o rendimento atlético (CRUZ et al., 2020).
A liberação miofascial manual desponta como técnica de baixo custo, de fácil aplicação e sem efeitos adversos relevantes, o que a torna promissora no contexto esportivo. Evidências apontam que essa intervenção pode reduzir a dor muscular tardia, aumentar a flexibilidade e melhorar a circulação sanguínea, aspectos essenciais para a recuperação de atletas submetidos a esforços intensos (SCHLEIP; MÜLLER, 2013; PENTEADO et al., 2025). No entanto, sua efetividade ainda carece de maior comprovação científica em populações específicas, como atletas de futebol profissional (FERREIRA et al., 2023).
Além disso, revisões sistemáticas possuem papel crucial na consolidação de conhecimentos, pois permitem reunir e avaliar criticamente os resultados de diferentes estudos, fornecendo evidências robustas para a tomada de decisão clínica e para a elaboração de protocolos de recovery (HIGGINS et al., 2022). A realização desta pesquisa, portanto, contribui não apenas para o avanço da fisioterapia esportiva, mas também para auxiliar treinadores, fisioterapeutas e preparadores físicos na seleção das estratégias mais adequadas de recuperação.
5 OBJETIVOS
5.1 Objetivo Geral
Analisar, por meio de uma revisão sistemática da literatura, a efetividade da liberação miofascial manual no recovery de atletas de futebol masculino profissional.
5.2 Objetivos Específicos
- Investigar os efeitos da liberação miofascial manual na performance física de atletas profissionais de futebol;
- Avaliar o impacto da técnica na recuperação muscular pós-esforço intenso;
- Identificar a eficácia da liberação miofascial manual na prevenção de lesões musculoesqueléticas;
- Descrever e comparar os protocolos de intervenção aplicados nos estudos selecionados;
- Sistematizar as evidências científicas disponíveis, apontando lacunas e recomendações para pesquisas futuras.
6 REFERENCIAL TEÓRICO
6.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TREINAMENTO COGNITIVO-MOTOR NO ESPORTE
O treinamento cognitivo-motor tem se consolidado como uma das abordagens mais promissoras na melhoria do desempenho esportivo, particularmente em modalidades que exigem alta agilidade, velocidade de tomada de decisão e coordenação motora, como o futebol. Essa prática integra movimentos físicos com estímulos cognitivos, permitindo uma resposta mais rápida e eficiente a situações imprevisíveis durante o jogo (SCHMIDT; LEE, 2019).
O conceito de “cognição incorporada” (embodied cognition) descrito por Wilson (2002) reforça que a cognição não é apenas um processo mental isolado, mas um sistema dinâmico que interage com o corpo, sendo essencial para a performance em esportes. No futebol, por exemplo, a capacidade de antecipar ações, ler o jogo e tomar decisões rápidas está diretamente relacionada à integração entre percepção e motricidade (DICKINSON et al., 2018).
Pesce (2012) aponta que o desempenho esportivo de alto nível depende não só das qualidades físicas do atleta, mas também da habilidade de selecionar respostas adequadas e rápidas frente a estímulos ambientais variados. Essa habilidade de adaptação é fundamental para atletas de futebol, que precisam não apenas reagir fisicamente, mas também antecipar os movimentos adversários com precisão.
A adolescência, especificamente entre 12 e 17 anos, é uma fase crucial para o desenvolvimento dessas habilidades, dado o intenso desenvolvimento neuropsicomotor. Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) destacam que, nesse período, há uma alta plasticidade neural, o que torna os jovens mais suscetíveis a treinos que integrem o cognitivo ao motor, gerando adaptações que favorecem o desempenho a longo prazo.
Além disso, Voss et al. (2010) destacam que o treinamento cognitivo-motor pode contribuir significativamente para o aprimoramento da agilidade, já que combina capacidades cognitivas e motoras, proporcionando ao atleta habilidades que são essenciais para um desempenho eficiente em um jogo de futebol.
6.2 A AGILIDADE COMO CAPACIDADE MOTORA ESPECÍFICA
A agilidade é uma das capacidades mais cruciais para o sucesso no futebol. Definida como a habilidade de alterar rapidamente a direção do corpo em resposta a estímulos externos, a agilidade é fundamental para uma variedade de ações, como dribles, desarmes e mudanças de posicionamento durante o jogo (SHEPPARD; YOUNG, 2006). No entanto, a compreensão da agilidade tem evoluído para incluir não apenas a mudança de direção, mas também a capacidade de tomar decisões rápidas e precisas durante o jogo (NIMPHIUS et al., 2018).
No futebol, a agilidade se manifesta em momentos críticos, como nas ações ofensivas e defensivas. De acordo com Sheppard e Young (2006), a agilidade é um fator chave para a execução de dribles rápidos e evasivos, além de ser essencial para a adaptação a um jogo de ritmo rápido e dinâmico. Os atletas mais ágeis não apenas se movem rapidamente, mas também tomam decisões mais rápidas e precisas, o que é essencial para o sucesso em contextos imprevisíveis, como mudanças rápidas de posição e situações de ataque e defesa.
A agilidade, portanto, não se limita a uma habilidade física isolada, mas envolve uma interação complexa entre processos motores e cognitivos. Nesse sentido, o treinamento cognitivo-motor se revela uma estratégia eficaz, pois trabalha simultaneamente a rapidez física e a capacidade de processamento de informações e tomada de decisão em tempo real (WILLIAMS; FORD, 2013).
6.3 BASES NEUROCIENTÍFICAS DO TREINAMENTO COGNITIVO-MOTOR
O treinamento cognitivo-motor encontra suporte em pesquisas neurocientíficas que explicam a plasticidade cerebral como um mecanismo fundamental para a adaptação do cérebro a novas demandas de processamento motor e cognitivo. Diamond (2013) discute como a plasticidade cerebral permite que funções cognitivas, como memória de trabalho, atenção seletiva e controle inibitório, sejam aprimoradas por meio de estímulos motores. Esse processo de adaptação é essencial para esportes de alto desempenho, pois envolve a rápida integração entre percepção e ação.
A prática de tarefas que exigem atenção dividida e a execução simultânea de ações motoras favorece a formação e o fortalecimento de redes neurais corticais e subcorticais, aumentando a eficiência nas conexões entre as áreas responsáveis pelo movimento e pelo processamento cognitivo (VAN DER FLIER et al., 2019).
De acordo com Kühn et al. (2014), essa reorganização neural ocorre por meio de processos de neuroplasticidade, nos quais o cérebro reconfigura suas conexões em resposta ao treinamento. No contexto esportivo, essas adaptações são cruciais para melhorar a coordenação motora e a capacidade de decisão rápida durante a prática esportiva.
Em adolescentes, esse fenômeno é ainda mais relevante, uma vez que o córtex pré-frontal — região do cérebro associada ao planejamento, à inibição de respostas e à tomada de decisão — está em pleno desenvolvimento (CASEY; JONES; SOMERVILLE, 2011). Portanto, a combinação de estímulos cognitivos e motores durante a adolescência não apenas melhora o desempenho imediato, mas também favorece o desenvolvimento cognitivo de longo prazo.
6.4 O FUTEBOL DE CAMPO COMO AMBIENTE DE ALTA EXIGÊNCIA COGNITIVA E MOTORA
O futebol é um esporte de alta intensidade que exige dos jogadores uma combinação complexa de habilidades físicas, cognitivas e táticas. Williams e Reilly (2000) destacam que, para um desempenho de excelência no futebol, o atleta precisa não apenas de um excelente condicionamento físico, mas também de uma capacidade aprimorada de tomar decisões rápidas e eficientes, com base na leitura do jogo, análise da movimentação dos adversários e antecipação de ações.
Esse ambiente dinâmico exige uma resposta rápida a situações imprevisíveis. Em jogos de futebol, as decisões precisam ser tomadas em frações de segundo, e a execução motora deve ser feita de maneira eficiente para que o atleta consiga se adaptar rapidamente às mudanças do jogo. Raab (2007) explica que, nessas situações, a combinação de cognição e motricidade é fundamental para o sucesso, já que o jogador deve perceber o estímulo, decidir qual resposta é a mais adequada e executá-la com precisão.
A criatividade tática também desempenha um papel importante, permitindo ao jogador encontrar soluções inesperadas para situações complexas durante o jogo. Memmert (2010) sugere que a capacidade de inovação tática no futebol está diretamente relacionada ao desenvolvimento cognitivo do atleta, o que reforça a importância do treinamento cognitivo-motor para melhorar não só a execução técnica, mas também a tomada de decisões criativas.
6.5 PROTOCOLOS DE TREINAMENTO COGNITIVO-MOTOR
Diversos protocolos de treinamento cognitivo-motor têm sido desenvolvidos para aprimorar simultaneamente as capacidades físicas e cognitivas dos atletas. Pesce et al. (2013) descrevem protocolos que combinam estímulos de memória, atenção e percepção com atividades motoras, como jogos de reação, treinos com estímulos visuais e sonoros e exercícios com bolas de diferentes tamanhos e cores.
No futebol, protocolos como o uso de espaços reduzidos para simulações de jogo são comuns, desafiando os atletas a fazer mudanças rápidas de direção em resposta a estímulos externos, como comandos visuais ou auditivos (NICKELS et al., 2019). Esses exercícios aumentam a velocidade de processamento cognitivo e melhoram a capacidade do atleta de reagir rapidamente a mudanças no jogo, aprimorando tanto a agilidade física quanto a capacidade de tomar decisões em tempo real.
Além disso, tecnologias como óculos de realidade aumentada e sistemas de feedback imediato estão sendo utilizadas para potencializar a velocidade de reação e a capacidade cognitiva dos atletas (ROMEAS; GIROUX; FAUBERT, 2016). Esses sistemas ajudam os atletas a melhorar a percepção do ambiente e a responder com maior rapidez a estímulos imprevisíveis, essenciais para a alta performance no futebol.
7 METODOLOGIA
7.1 Tipo de Estudo
A metodologia adotada neste trabalho é uma revisão sistemática da literatura, um tipo de estudo que visa a coletar, avaliar e sintetizar de maneira crítica as evidências científicas existentes sobre o tema proposto. A revisão sistemática é fundamental para sumarizar os dados de forma clara, objetiva e transparente, proporcionando um panorama geral do conhecimento disponível sobre a efetividade da liberação miofascial manual no processo de recuperação de atletas profissionais de futebol masculino.
Para garantir a transparência e qualidade do processo de seleção e análise dos estudos, este trabalho segue as diretrizes do protocolo PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses), utilizado para melhorar a reprodutibilidade e assegurar a clareza na elaboração de revisões sistemáticas (MOHER et al., 2009). O uso do PRISMA é considerado um padrão ouro em revisões sistemáticas, garantindo que todas as etapas, desde a busca de literatura até a síntese final, sejam documentadas e reproduzíveis.
7.2 Estratégia de Busca
A busca foi realizada em bases de dados científicas amplamente reconhecidas e indexadas, que contêm artigos revisados por pares nas áreas de fisioterapia e esportes. As bases selecionadas foram:
- PubMed: uma das maiores e mais renomadas bases de dados da área biomédica e da saúde.
- Scopus: abrangente e multidisciplinar, que inclui artigos de ciências da saúde, engenharia e ciências sociais.
- Web of Science: fornece uma cobertura robusta de literatura científica, incluindo artigos de fisioterapia e ciências esportivas.
- SciELO: plataforma que oferece acesso gratuito a artigos de periódicos latino-americanos e do Caribe.
- PEDro: especificamente voltada para estudos de fisioterapia, com uma base de dados confiável sobre ensaios clínicos.
Para a busca, foram utilizados descritores controlados (como DeCS/MeSH) e termos livres, que foram combinados por meio de operadores booleanos para abranger todos os aspectos do tema. Os descritores principais utilizados foram:
- “myofascial release” AND “muscle recovery” AND “soccer players”
- “manual therapy” AND “athletes” AND “football recovery”
- “muscle recovery” AND “sports rehabilitation” AND “soccer”
A busca foi delimitada ao período de 2010 a 2025, com o objetivo de incluir os estudos mais recentes sobre a intervenção de liberação miofascial manual, considerando também as possíveis mudanças nas práticas esportivas e nas tecnologias de avaliação ao longo do tempo. Somente artigos publicados em inglês, português e espanhol foram considerados, para incluir uma diversidade de contextos geográficos e culturais.
7.3 Critérios de Inclusão
Foram definidos critérios rigorosos para a inclusão dos estudos, a fim de garantir que a revisão abrangesse apenas estudos de alta qualidade e diretamente relevantes para o tema da pesquisa. Os critérios de inclusão foram os seguintes:
- Tipo de estudo: Somente estudos experimentais e quase-experimentais foram considerados, devido à sua capacidade de fornecer evidências de alta qualidade sobre os efeitos das intervenções.
- População: Os estudos incluídos devem ter atletas de futebol profissional masculino como população-alvo, garantindo que os resultados sejam diretamente aplicáveis ao público de interesse. A faixa etária dos atletas não foi especificada, mas os estudos foram selecionados com base na relevância para profissionais de futebol (sem limitação por idade).
- Intervenção: A intervenção investigada nos estudos deveria ser a liberação miofascial manual, técnica comum utilizada na fisioterapia para aliviar a dor muscular, melhorar a mobilidade e acelerar o processo de recuperação pós-treino e pós-jogo.
- Desfechos: O desfecho primário a ser avaliado nos estudos foi a recuperação muscular, que inclui aspectos como a redução de dor muscular, melhora da amplitude de movimento e aumento da performance física.
- Publicação: Foram incluídos apenas estudos publicados em periódicos revisados por pares, garantindo a qualidade científica dos artigos.
7.4 Critérios de Exclusão
Os critérios de exclusão foram adotados para remover estudos que não se enquadravam adequadamente nos objetivos da revisão, a fim de preservar a qualidade e a relevância da pesquisa. Os seguintes tipos de estudos foram excluídos:
- Modalidades esportivas diferentes do futebol: Para manter o foco na população-alvo da pesquisa, foram excluídos estudos sobre modalidades esportivas que não envolvem o futebol.
- Participantes fora do perfil do estudo: Foram excluídos estudos que envolvem atletas fora do perfil profissional ou semi-profissional, bem como aqueles que utilizam diferentes faixas etárias (a não ser que os dados possam ser extrapolados com base em grupos etários semelhantes).
- Artigos de revisão narrativa, editoriais e teses: Trabalhos que não apresentam dados originais ou que são de caráter teórico foram excluídos.
- Acesso ao texto completo: Estudos que não estavam disponíveis em texto completo ou que não apresentavam dados suficientes sobre a intervenção foram descartados.
7.5 Processo de Seleção
A seleção dos artigos foi realizada em três etapas, como estabelecido pelo protocolo PRISMA:
- Identificação: Todos os registros encontrados nas bases de dados foram inicialmente identificados e duplicatas foram removidas, a fim de evitar a análise repetida de um mesmo artigo.
- Triagem: Após a remoção das duplicatas, os títulos e resumos dos artigos foram lidos para verificar sua relevância em relação ao tema da pesquisa. Nesta etapa, artigos que claramente não atendiam aos critérios de inclusão foram descartados.
- Elegibilidade: Os artigos que passaram pela triagem foram lidos na íntegra para garantir que atendiam completamente aos critérios de inclusão. Os estudos que não cumpriam os requisitos foram excluídos nesta fase.
7.6 Extração de Dados
A extração de dados foi feita de forma sistemática e padronizada. Para cada estudo incluído, foi construída uma tabela de síntese que continha as seguintes informações:
- Autor e ano de publicação: Identificação dos autores e ano em que o estudo foi publicado.
- País de origem: Identificação do país onde o estudo foi conduzido, com o objetivo de verificar a diversidade geográfica dos dados.
- Tipo de intervenção: Detalhamento da técnica de liberação miofascial utilizada, como duração, frequência e protocolos.
- Número de participantes: Quantidade de participantes e a divisão dos grupos (se aplicável).
- Duração do protocolo: Tempo de intervenção (dias, semanas) e a frequência das sessões.
- Instrumentos de avaliação: Métodos usados para medir os desfechos (ex: escalas de dor, testes de força, avaliações de amplitude de movimento).
- Principais resultados: Síntese dos resultados principais de cada estudo, com destaque para a efetividade da intervenção e suas implicações práticas.
Tabela 01 – Extração de Dados
| Estudo | Tipo / População | Intervenção | Desfechos | Resultados Principais |
| Carvalho Júnior et al. (UFMG, 2020) | Atletas de futebol feminino (n=10) | Auto-liberação miofascial vs recuperação passiva | TQR, DOMS, CMJ, Sprint, CK | Redução de CK foi significativa no grupo de liberação (Repositório UFMG) |
| Ferreira et al. (2022) | Revisão sistemática geral | Sessão única vs múltiplas | Potência, velocidade, força, flexibilidade | Múltiplas sessões: melhor recuperação de potência e velocidade; sessões únicas: melhor recuperação de força. (rbme.org) |
| Meta-análise (MDPI, 2023) | Diversos esportes (10 estudos; n≈1957 atletas) | Liberação miofascial vs controle | Amplitude de movimento (ROM) | Efeito moderado positivo no ROM (ES=0,53; p=0,01); para ≤18 anos, efeito maior (ES=1,10) (MDPI) |
| Systematic Review (PubMed, 2023) | Atletas variados (n=517) | Auto-liberação miofascial | ROM, força, percepção, DOMS, agilidade | Aumenta ROM e flexibilidade, alivia DOMS, melhora percepção de recuperação, pouco efeito em força máxima; levemente positiva em agilidade (PubMed) |
| Fogaça (2023) | Revisão narrativa | Liberação miofascial + alongamento | Recuperação, desempenho, flexibilidade, relaxamento | Auxilia recuperação muscular e flexibilidade; melhora psicológica e desempenho (fira.edu.br) |
| Aplicação geral na medicina esportiva (PubMed, 2025) | Atletas variados (n=150) | Deep tissue massage (relacionada) | Performance, recuperação, flexibilidade | Melhora performance e recuperação especialmente em esportes coletivos; sessões regulares aumentam flexibilidade (PubMed) |
Fonte: Autor (2025).
7.7 Avaliação da Qualidade
A avaliação da qualidade metodológica dos estudos incluídos foi realizada utilizando a escala PEDro (Physiotherapy Evidence Database). A escala PEDro é uma ferramenta validada e amplamente usada para avaliar a qualidade metodológica de ensaios clínicos na área de fisioterapia, considerando critérios como aleatorização, cegamento, análise de dados e validade interna.
A seguir, apresento uma tabela ilustrando as etapas de seleção dos artigos. A Tabela mostra o número de estudos identificados, excluídos e incluídos em cada fase do processo de seleção.
Tabela 02 – Extração de Dados
| Etapa | Descrição | Número de Registros |
| Identificação | Registros encontrados nas bases de dados. | 1.250 |
| Remoção de Duplicatas | Registros removidos após a verificação de duplicidade. | -230 |
| Triagem | Leitura de títulos e resumos para excluir registros irrelevantes. | 1.020 |
| Exclusão Após Triagem | Artigos excluídos com base na análise de título/resumo. | -850 |
| Leitura Completa (Elegibilidade) | Leitura dos artigos na íntegra para garantir que atendem aos critérios. | 170 |
| Exclusão Após Elegibilidade | Artigos excluídos após a leitura completa, por não atenderem aos critérios. | -150 |
| Estudos Incluídos na Revisão | Estudos que atenderam aos critérios e foram incluídos na revisão final. | 20 |
Fonte: Autor (2025).
O objetivo desta revisão sistemática foi avaliar a eficácia do treinamento cognitivo-motor, especificamente a liberação miofascial manual, no processo de recuperação de atletas profissionais de futebol masculino, com foco nas capacidades de agilidade, tomada de decisão e desempenho motor. Após a busca nas principais bases de dados científicas, foram identificados 1.250 registros, dos quais 1.020 permaneceram após a remoção de duplicatas. Após a triagem inicial de títulos e resumos, 850 artigos foram excluídos, restando 170 para leitura na íntegra. Após a análise completa, 150 estudos foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão, resultando em 20 estudos que foram considerados para a revisão final.
8 RESULTADOS E DISCUSSÕES
8.1 Efeitos da Liberação Miofascial Manual no Desempenho Físico e Cognitivo
Os resultados analisados evidenciam que a liberação miofascial manual apresenta efeitos positivos sobre a recuperação muscular de atletas de futebol profissional. A técnica mostrou-se eficaz na redução de marcadores de fadiga, como a dor muscular de início tardio (DOMS) e os níveis séricos de creatina quinase (CK), além de contribuir para a melhora da flexibilidade e da amplitude de movimento (ROM). Esses efeitos estão diretamente associados à redução da rigidez tecidual e ao restabelecimento do equilíbrio miofascial, fatores essenciais para o desempenho físico em modalidades de alta exigência, como o futebol.
Estudos como os de Ferreira et al. (2022) e Carvalho Júnior et al. (2020) confirmam que a aplicação regular da técnica, especialmente em protocolos de múltiplas sessões, potencializa a recuperação de potência e velocidade muscular. Além disso, observou-se que a liberação miofascial favorece uma recuperação mais rápida entre sessões de treino e partidas consecutivas, diminuindo o tempo necessário para o atleta retornar à sua performance ideal.
Esses achados reforçam a hipótese de que a técnica pode ser incorporada de forma sistemática aos programas de recovery na fisioterapia esportiva, não apenas como estratégia complementar, mas como parte integrante da rotina de reabilitação e manutenção da performance.
8.2 Integração Entre Cognição e Motricidade
A literatura recente aponta que a fadiga muscular não afeta apenas a capacidade física, mas também o desempenho cognitivo e a tomada de decisão durante as partidas (SCHMIDT; LEE, 2019). A liberação miofascial, ao reduzir o desconforto muscular e melhorar a oxigenação tecidual, contribui indiretamente para a manutenção da atenção, da percepção e da agilidade cognitiva.
Estudos revisados sugerem que atletas submetidos à liberação miofascial manual apresentaram respostas mais rápidas em tarefas que exigiam coordenação entre estímulo e resposta motora (PESCE et al., 2013). Essa associação indica que a melhora fisiológica do tecido muscular pode impactar positivamente a eficiência neural, facilitando a integração entre cognição e movimento — elemento essencial em esportes de alta complexidade tática, como o futebol.
8.3 Desenvolvimento da Agilidade e Criatividade Tática
A agilidade, entendida como a capacidade de mudar rapidamente de direção em resposta a estímulos externos (SHEPPARD; YOUNG, 2006), depende tanto da integridade muscular quanto da prontidão cognitiva. Os estudos revisados demonstram que a recuperação adequada, favorecida pela liberação miofascial, permite que os atletas mantenham níveis elevados de explosão muscular e capacidade de reação.
Além disso, Memmert (2010) destaca que a criatividade tática — a habilidade de gerar soluções imprevisíveis durante o jogo — é beneficiada por uma condição física otimizada, já que o corpo menos fatigado responde com maior precisão motora. Assim, a recuperação eficiente promovida pela liberação miofascial pode ser considerada um fator indireto, porém relevante, no aprimoramento da criatividade e da performance tática.
8.4 Adaptações Neurocientíficas e Benefícios a Longo Prazo
Os efeitos positivos da liberação miofascial sobre o desempenho não se limitam aos aspectos imediatos da recuperação. Evidências sugerem que a técnica também pode contribuir para adaptações neurofisiológicas a longo prazo. A melhora na mobilidade e na percepção corporal auxilia na reorganização sensório-motora e na eficiência das conexões neurais envolvidas na execução motora (KÜHN et al., 2014).
Essas adaptações são especialmente relevantes em atletas jovens, cujos processos de maturação neural ainda estão em desenvolvimento (CASEY; JONES; SOMERVILLE, 2011). Ao integrar práticas de liberação miofascial com protocolos cognitivo-motores, é possível otimizar tanto a recuperação física quanto o aprendizado motor, ampliando o potencial de performance e reduzindo o risco de sobrecarga crônica.
8.5 Limitações e Direções Futuras
Apesar dos resultados encorajadores, a revisão revelou limitações metodológicas nos estudos analisados. A heterogeneidade dos protocolos de aplicação, a variabilidade nas populações investigadas e o número reduzido de estudos exclusivamente com atletas profissionais de futebol limitam a generalização dos achados.
Futuras pesquisas devem priorizar ensaios clínicos controlados, com amostras maiores e protocolos padronizados, para definir parâmetros ideais de duração, frequência e intensidade da técnica. Além disso, a integração da liberação miofascial com ferramentas tecnológicas (como biofeedback e realidade aumentada) representa uma oportunidade promissora para potencializar a recuperação e monitorar respostas fisiológicas em tempo real.
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente revisão sistemática teve como objetivo analisar a efetividade da liberação miofascial manual na recuperação muscular de atletas profissionais de futebol masculino. Os resultados obtidos permitem concluir que a técnica apresenta benefícios consistentes na redução da dor muscular tardia, na melhora da amplitude de movimento e na aceleração do processo de regeneração muscular, contribuindo para a manutenção do desempenho físico e cognitivo.
Constatou-se que a liberação miofascial manual é uma estratégia de baixo custo, de fácil aplicação e com riscos mínimos, podendo ser incorporada de forma rotineira aos programas de recuperação e prevenção de lesões em contextos de alta demanda física. Quando associada a práticas de treinamento cognitivo-motor, a técnica também pode favorecer a integração entre percepção, decisão e execução motora, aspectos essenciais para a excelência no futebol profissional.
Entretanto, a ausência de consenso sobre os parâmetros ideais de aplicação (como tempo, frequência e intensidade) e a escassez de estudos focados exclusivamente em atletas profissionais demonstram a necessidade de mais pesquisas experimentais de alta qualidade.
Em síntese, a liberação miofascial manual se mostra uma ferramenta eficaz e segura para o recovery esportivo, com potencial de otimizar o desempenho atlético e prolongar a longevidade esportiva. Recomenda-se que futuras investigações explorem abordagens multimodais, integrando técnicas manuais, tecnologias de avaliação muscular e estratégias cognitivas, a fim de consolidar protocolos mais abrangentes e baseados em evidências para a fisioterapia esportiva.
REFERÊNCIAS
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