EFEITOS DURANTE E APÓS 30 MINUTOS DE CAMINHADA NÓRDICA SOBRE A POSTURA E A MARCHA DE IDOSOS COM E SEM A DOENÇA DE PARKINSON

EFFECTS DURING AND AFTER 30 MINUTES OF NORDIC WALKING ON POSTURE AND GAIT IN OLDER ADULTS WITH AND WITHOUT PARKINSON’S DISEASE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8052566


Amanda Persson Mascari
Flávia Roberta Faganello Navega


Resumo

A Caminhada Nórdica (CN) é uma forma de exercício físico que pode ser útil para melhora das alterações posturais e da marcha ocasionadas pela doença de Parkinson. Objetiva-se com este trabalha observar se há e quais são os efeitos em variáveis posturais e de marcha durante e logo após uma única sessão de 30 minutos de CN, em idosos saudáveis e idosos com a DP. Para isso 15 idosos com a DP (GDP) e 12 idosos saudáveis (GC) foram avaliados quanto a angulações posturais e quanto à parâmetros cinemáticos da marcha. Os indivíduos foram filmados em sua marcha convencional, e realizaram fotogrametria postural estática, antes e depois de executarem 30 minutos de CN, analisada pelo Corel Draw. Durante a CN, marcha e postura foram avaliadas através das filmagens pelo software Kinovea. Obteve-se que na fotogrametria estática, o ângulo da protusão de cabeça (PC) demonstrou-se maior no grupo GDP (p=0,001) e neste grupo, maior na reavaliação do que na avaliação inicial (p=0,007). A lordose lombar (LL) em ambos os grupos, foi também estatisticamente maior na reavaliação (p=0,03). Observou-se ainda na análise dinâmica, PC e Lordose Cervical (LC) maiores no grupo GDP, do que em GC (p=0,015 e p=0,004 respectivamente). O ângulo tíbio-társico (ATT) foi maior no grupo GC do que em GDP independente da avaliação (p=0,03). Portanto, conclui-se entre todas as variáveis posturais e da marcha analisadas, a CN apenas provocou aumento de PC no grupo GDP e de LL em ambos os grupos.

Palavras-chave: Caminhada nórdica. Doença de Parkinson. Marcha. Postura. Geriatria.

Abstract

Nordic Walking (NW) is a form of physical exercise that can be useful, among other factors, to improve postural and gait changes caused by Parkinson’s disease. The aim of this study was to observe if there are and what are the effects on postural and gait variables during and shortly after a single 30-minute NW session, in healthy older people and older people with PD. For this purpose, 15 old persons with PD (PDG) and 12 old persons without it (CG) were evaluated regarding postural
angulations and kinematic gait parameters. The individuals were filmed in their conventional gait, and underwent static postural photogrammetry, before and after performing 30 minutes of NC, analyzed by Corel Draw. During the NC, gait and
posture were evaluated through filming using the Kinovea software. It was observed that in static photogrammetry, the head protrusion angle (HP) was higher in the PDG group (p=0.001) and in this group, higher in the reassessment than in the initial assessment (p=0.007). Lumbar lordosis (LL) in both groups was also statistically higher in the reassessment (p=0.03). It was also observed in the dynamic analysis, higher HP and Cervical Lordosis (LC) in the PDG group than in the GC (p=0.015 and p=0.004 respectively). The tibiotarsus angle (TTA) was greater in the CG group than in the GDP group, regardless of the evaluation (p=0.03). Therefore, were concluded is that between all postural and kinematic analyzed variables, NW only affected increase in HP on PDG group and in LL on both groups.

Keywords: Nordic Walking. Parkinson Disease. Gait. Posture. Geriatrics.

Introdução

A Doença de Parkinson (DP), é uma doença neurodegenerativa crônica e progressiva, que usualmente afeta indivíduos de em média 58 a 62 anos de idade (ELBAZ, 2016). Apesar de ser descrita na História há mais de dois séculos, seus mecanismos continuam sendo estudados até hoje, e sua causa permanece incerta (KALIA E LANG, 2015). A DP ocasiona morte dos neurônios dopaminérgicos situados em uma região do mesencéfalo denominada substância negra pars compacta, responsável por produzir o neurotransmissor dopamina, e enviar informações aos núcleos da base. No corpo estriado, tal morte neuronal gera a diminuição da ação dos neurônios inibitórios – responsáveis pela ausência de movimentos involuntários. A redução da quantidade de dopamina circulante ocasiona desequilíbrio na inibição e excitação tônica e na seleção voluntária dos movimentos (MENOZZI, MACNAUGHTAN e SCHAPIRA, 2021), além de diversos outros sintomas que afetam o organismo de forma sistêmica (FULLARD, MORLEY, DUDA, 2017; MARIN et al, 2018; MEROLA, 2018)

Os sintomas motores oriundos dessa disfunção incluem principalmente a bradicinesia, alterações posturais, tremor de repouso e rigidez muscular (KALIA e LANG, 2015), condições que dificultam a vida cotidiana dos indivíduos e prejudicam a realização de movimentos, sua agilidade, as reações posturais frente à desequilíbrios, a marcha (WILCZYNSKI et al, 2017) e ocasionam dor (MOSTOFI et al, 2021). Nessas alterações, vê-se uma importante atuação da Fisioterapia para melhora sintomatológica e maior independência funcional (MAK et al, 2017).

Estudos apontam que a fisioterapia pode proporcionar à pacientes com DP diminuição das alterações posturais, um objetivo de tratamento importante devido a sua influência em múltiplos aspectos como por exemplo na geração de restrição de amplitude de movimento (ADM) (CANO-DE-LA-CUERDA et al, 2020), em contribuir para disfunções pulmonares (D’ARRIGO et al, 2020), no desequilíbrio estático e dinâmico (SALARI et al, 2022; SARASSO et al, 2020) e na incapacidade de realização das atividades de vida diária (AVDs) (TICKLE-DEGNEN et al, 2021). Os reflexos da reabilitação fisioterapêutica se veem também ao passo em que é possível influenciar a melhora de parâmetros cinemáticos da marcha – como a largura e o comprimento de passo – cruciais a ser enfatizados nesta população para diminuição do número de quedas e aumento de mobilidade (ALCOCK et al, 2018; YAMADA et al, 2020).

Desta forma, no cenário da atuação fisioterapêutica ao indivíduo com a DP, tem ganhado a atenção dos pesquisadores na área da saúde ao redor do mundo uma forma de atividade física denominada Caminhada Nórdica (CN) (BOMBIERI, 2017; CUGUSI, 2017; FRANZONI, 2018). Esta modalidade consiste em uma caminhada com uso de bastões a serem levados pelas mãos de uma forma específica durante o percurso. É baseada na modalidade esportiva do ski, em que os praticantes caminham determinadas distâncias na neve com bastões nas mãos para impulsão e um equipamento próprio nos pés (CUGUSI, 2017). A CN surgiu nos países nórdicos e teve suas primeiras menções ao que se sabe, em torno de 1966, na Finlândia (Associação Internacional de Caminhada Nórdica) e demonstra-se uma interessante opção de tratamento, ao passo em que: utiliza movimentos fluidos que contraem ativamente em todo o percurso a musculatura dos membros superiores (MMSS) e do tronco requirindo do indivíduo maior utilização de força muscular dos grupamentos envolvidos a estes (CUGUSI et al. 2017; PELLEGRINI et al, 2015); estimula a aprendizagem de movimentos que requerem coordenação motora; gera dissociação de cinturas escapulares; aumento do comprimento do passo, e pode ser útil e utilizável a qualquer indivíduo, contanto que seja apto a caminhar de forma independente e que possua condições cognitivas para o aprendizado da técnica (LEE e PARK, 2015; CUGUSI et al, 2017).

Como descrito, são muitos os ganhos indicados pela literatura na população parkinsoniana com a prática da técnica (FRANZONI, 2018; MONTEIRO, 2017). Neste estudo, pretende-se observar se há e quais são os efeitos imediatos em variáveis posturais e de marcha durante e logo após uma única sessão de 30 minutos de CN em idosos saudáveis e idosos com a DP, comparando os resultados obtidos com registros feitos antes da atividade. Além disso, também comparar as variáveis analisadas entre a população que possui a doença e a que não possui. Assim, procura-se neste trabalho através do protocolo proposto por Arcila e colaboradores (2017) analisar se os resultados obtidos por estes e outros pesquisadores, se replicam na população aqui analisada. Métodos O estudo consiste em um ensaio clínico não controlado no qual foram incluídos idosos diagnosticados com DP idiopática, e classificados entre os estágios de I a III na escola de Hoehn e Yahr (1967) e idosos da comunidade, com idade acima de 60 anos, ambos ativos fisicamente. Os indivíduos solícitos a participar foram realocados para dois grupos: o grupo controle (GC) (n=12) e o grupo de idosos com a doença de Parkinson (GDP) (n=15), em uma amostra de conveniência.

Os critérios de elegibilidade comuns a todos os participantes foram: marcha independente, ausência de dor, fratura e lesão grave em tecidos moles (nos seis meses pregressos ao estudo) e ausência de histórico de doenças cardiovasculares ou respiratórias não controladas e alterações cognitivas. Para participar da pesquisa, todos os sujeitos deveriam apresentar pontuação de acordo com o nível de escolaridade no Montreal Cognitive Assessment (MoCA), e não realizar qualquer outro tratamento nos dias do estudo. Os pacientes com DP não poderiam estar em fase de adaptação farmacológica e todos os procedimentos de coleta foram realizados na fase “on” dos medicamentos para doença de Parkinson, sendo solicitados a ingerir a medicação aproximadamente uma hora antes da realização das coletas de dados. Os participantes foram instruídos a informar à pesquisadora sobre qualquer mudança na medicação utilizada. A coleta de dados foi realizada em dois dias consecutivos e de forma individual.

O projeto foi encaminhado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp-Marília (3.201.995/2019).

Primeiro dia de coleta de dados

No primeiro dia, foi realizada com cada participante a avaliação inicial com a caracterização da amostra: aplicação de uma ficha a ser preenchida com dados pessoais e antropométricos, o questionário Montreal Cognitive Assessment (MoCA), além da Escala Unificada de Avaliação da Doença de Parkinson (UPDRS) ao grupo GDP. Neste mesmo dia da avaliação inicial, foi avaliada a postura dos indivíduos através da fotogrametria e foram filmados executando sua marcha convencional para avaliação cinemática. Ao fim deste dia, foi feita a familiarização com a CN por 30 minutos. Nesta, os indivíduos foram instruídos e treinados a como executar corretamente a técnica, segundo adaptação do protocolo de Arcila e colaboradores (2017). Inicialmente foi feito o ajuste da posição do bastão para a altura de cada um (formando-se um ângulo nos cotovelos de aproximadamente 90 graus em ortostatismo). Em seguida os participantes caminharam em um trajeto de 120 metros de maneiras distintas, para que compreendessem a técnica de maneira gradual. Primeiramente, o fizeram apenas carregando os bastões pelas mãos na horizontal. Depois, já com as luvas devidamente acopladas, arrastaram os mesmos pelo trajeto
quatro vezes sendo instruídos a movimentar os braços dinamicamente, de maneira que a fase de apoio de um pé durante um passo, fosse acompanhada pela colocação
a frente do bastão do lado oposto no mesmo passo, e vice-versa. Em seguida, aprenderam como colocar os bastões no chão corretamente durante a marcha: Os deixando sempre na diagonal, e implicando pressão em direção ao solo, para obter
impulsão à frente durante o exercício.

Figura 1: Voluntário em ambiente de coleta realizando a Caminhada Nórdica, com a sinalização de pontos importantes à execução da técnica

Fonte: Elaborada pela autora

Caminharam desta forma, aplicando todas as etapas anteriores, pela quantidade de vezes necessária à compreensão na distância estabelecida. Por fim, já realizando a CN corretamente, foram instruídos quanto às características de marcha adequadas para eles, como manter a postura ereta durante o percurso, realizar passos longos, e preconizar o toque do calcâneo como contato inicial do pé com o solo. Caminharam então desta forma, mais vezes pelo percurso estabelecido. Como última etapa do aprendizado da CN, foram instruídos sobre o abrir e fechar das mãos (a mão que está para trás, assim que chega a esta posição, deve abrir-se, de forma que o bastão fique preso ao indivíduo apenas por sua luva). Este último ponto foi o último a ser aplicado junto aos demais treinados, e para fim deste dia de coleta, o participante realizou mais voltas no percurso utilizando todos os passos aprendidos. Alguns passos foram executados mais que os outros, pois observou-se maior ificuldade dos praticantes iniciantes da CN para executá-los, como por exemplo para
coordenar braços e pernas durante a marcha. Assim, obtiveram mais tempo para compreender estas tarefas, dentro dos 30 minutos em média estabelecidos para familiarização. A velocidade da marcha dos participantes não foi uma variável controlada neste estudo. Dado o nível de complexidade do gesto esportivo para a população em questão e os diferentes graus de acometimento da doença no grupo GDP, foi priorizado o desempenho correto da técnica por todo o trajeto, o que por vezes resultou em alternâncias das velocidades de marcha utilizadas.

Segundo dia da coleta de dados

No segundo dia, os participantes realizaram a sessão de treino que foi composta por 5 minutos iniciais de aquecimento, 30 minutos de CN e 5 minutos finais de alongamento. Durante a CN foram avaliados parâmetros angulares da postura e
alguns parâmetros cinemáticos da marcha a serem descritos abaixo, pelas filmagens feitas ao decorrer do trajeto. Dez minutos após a finalização do treino os pacientes foram reavaliados da mesma maneira que no primeiro dia, quanto à sua marcha convencional e postura.

Análise das filmagens de marcha

Os pacientes caminharam por um trajeto oval de 120 metros e ao passarem pela área de coleta dos dados da marcha, foram filmados em torno de 10 metros. Essa mesma situação ocorreu durante a avaliação inicial e final da marcha (primeiro e
segundo dia, respectivamente), e durante os 30 minutos de CN. Durante todo o percurso da CN, os indivíduos eram estimulados verbalmente pela pesquisadora para que não olhassem para os pés ao andar através da frase: “mantenha o olhar para frente, olhe para o horizonte”, e foram instruídos pelo menos uma vez durante os 30 min com a frase: “dê passos longos”.

As mesmas filmagens foram utilizadas para análise de postura e das variáveis cinemáticas da marcha. Ambas as análises foram feitas, a partir da marcação de pontos anatômicos feitos com bolinhas de isopor aderidas à pele/vestimenta do participante em pontos específicos de acordo com o utilizado por Iunes (2005).

Para análise da postura dos participantes antes e depois da sessão de CN, foi utilizado a Fotogrametria Computadorizada. Os ângulos analisados com a união dos pontos anteriormente descritos no plano sagital são: protusão da cabeça (PC), lordose cervical (LC), cifose torácica, lordose lombar (LL), flexo de quadril (FQ) e ângulo tíbio-társico (ATT) (IUNES, 2005).

Para a avaliação da postura estática antes e depois da CN, os indivíduos foram instruídos a permanecer em postura ortostática, a uma distância de 3 m do centro da lente da câmera fotográfica Sony DSC-W830 sobre uma marca no chão e foram fotografados.

Os indivíduos foram apenas instruídos a “manter o olhar para frente”, para que não houvesse influência do comando verbal em suas posturas. Todos os registros foram realizados pelo mesmo examinador, e no plano frontal posterior e no plano
sagital de ambos os lados.

As fotografias foram analisadas pelo programa Corel Draw 2018, com o qual é possível criar e editar imagens. Através dele foram traçadas as retas necessárias para medição das angulações a serem analisadas, além do cálculo das mesmas (IUNES, 2005). Para análise dos dados das angulações posturais, foi considerado o valor de 180° menos o valor em questão. Por exemplo, se o valor de LL de um indivíduo foi de 20°, o valor que consideramos para análise foi de 160° (180-20). Esta alteração foi
realizada, para que a interpretação dos dados fosse facilitada, já que sem a utilização do ângulo complementar a 180°, a compreensão poderia se tornar confusa ao leitor – como segundo nosso exemplo, em que seria: “quanto menor o valor de LL, maior a lordose deste indivíduo”.

Também foi traçado como referencial para as análises, um fio de prumo partindo das extremidades do EVA posto ao chão, em direção ao teto do local.

As análises de marcha eram feitas através do software Kinovea. A cada passo dado na zona de filmagem, era selecionado o frame do exato momento do toque do calcâneo. Neste momento então, foram analisadas as características posturais já
descritas bem como os parâmetros de marcha em cada frame. Para cada frame, foram descritos os valores presentes quanto ao comprimento (CP) e a largura da passada (LP). O CP foi considerado como a distância entre o maléolo lateral do pé a frente em fase de apoio do calcâneo, e o maléolo medial do pé logo atrás. A LP por sua vez, foi vista através da distância entre os calcâneos dos pés em cada passo (AMARAL- FELIPE et al, 2017).

Os dados cinemáticos referentes às variáveis a serem consideradas são apresentados em valores de média e desvio-padrão. Os dados de comprimento de passada serão normalizados a partir do comprimento do membro inferior direito de cada participante (AMARAL-FELIPE et al, 2017).

A filmagem obtida durante a sessão de CN, foi utilizada para através do software Kinovea, avaliar-se a postura dos participantes durante a CN e as caminhadas convencionais que ocorreram antes e depois desta. De cada toque do calcâneo do membro inferior esquerdo abrangido pela filmagem, era originado um frame a ser analisado quanto às angulações citadas neste trabalho.

Análise estatística

A análise estatística foi realizada por meio do software PASW statistics 18.0® (SPSS). A normalidade dos dados foi confirmada pelo teste de Shapiro-Wilk. Em seguida a análise estatística foi realizada pelo teste ANOVA Two Way com medidas repetidas e com Post Hoc de Bonferroni. Os dados referentes a caracterização da amostra foram analisados por meio do teste t de Student. Em todos os testes estatísticos foi adotado o nível de significância de p<0.05.

Resultados

Dos 27 participantes recrutados para a pesquisa, apenas 23 foram inclusos no estudo. Durante as coletas de dados, foi observado que 3 participantes (1 pertencente ao grupo GC e 2 ao grupo GDP) não obtiveram êxito no aprendizado da técnica
corretamente segundo nossa observação, e realizaram a CN de forma incorreta pela maior parte do trajeto percorrido. Um outro indivíduo também não foi incluso em nossos dados finais, pois uma forte chuva impediu a etapa da coleta de dados ao ar
livre ser concluída, e o participante em questão não possuiu disponibilidade para retornar nenhum outro dia para que refizéssemos as coletas.

A caracterização dos sujeitos do estudo está expressa na Tabela 1. A análise estatística mostrou que os grupos eram homogêneos em relação à idade, estatura, peso e IMC.

Tabela 1. Caracterização da amostra, valores apresentados em média ± desvio padrão.

A Anova Two-Way Medidas Repetidas não apontou efeito de grupo, avaliação e interação entre os grupos e as avaliações para LP e CP (tabela 2).

Tabela 2. Valores (média± DP) e resultado da ANOVA Two way medidas repetidas, de CP e LC dos grupos GC e GDP antes, durante (15 min) e após a CN.

A tabela 3 mostra os valores de média e desvio padrão e os resultados da ANOVA Two Way de Medidas Repetidas da avaliação postural estática. A análise apontou efeito de grupo apenas para a variável PC (p=0,001; F=23,09) o que mostra
que os grupos apresentaram diferença da PC independente da avaliação. As demais variáveis não apresentaram efeito de grupo. Em relação ao efeito das avaliações, apenas a variável LL apontou diferença significativa (p=0,03; F=6,065) o que mostra
que a LL foi diferente entre a avaliação e reavaliação independentemente do grupo. As demais variáveis não apresentaram efeito de avaliação. Em relação à interação
grupos e avaliações, a análise estatística apontou diferença significativa apenas para a variável PC (p=0,007; F=11,31). O teste post hoc de Bonferroni apontou diferença entre os grupos na avaliação (p=0,028) e na reavaliação (p=0,000), e também apontou diferença significativa entre a avaliação e reavaliação do GDP (p=0,026) e não apontou diferença entre avaliação e reavaliação do GC (p=0,41).

Tabela 3. Valores (média± DP), e resultado da ANOVA Two way medidas repetidas, antes e depois da CN, na fotogrametria postural estática.

Tabela 4. Anova Two-Way Medidas Repetidas, valores de médias ± desvios padrão das variáveis posturais dos grupos GC e GDP antes, durante e após a CN (postura dinâmica).

O resultado da análise postural dinâmica (Tabela 4) mostrou diferença significativa nas medidas de PC, LC (ANOVA p=0,004) e ATT (ANOVA p=0,03) entre os grupos independentemente da avaliação.

Discussão

Através da avaliação da marcha convencional e com bastões de CN, este estudo analisou idosos com e sem a DP quanto à parâmetros cinemáticos da marcha (CP e LP) e quanto às angulações posturais (PC, LC, CT, LL, ATT, FQ) comumente
alteradas em disfunções posturais e de marcha. Esperava-se que a realização da CN acarretasse melhora da postura e nas variáveis cinemáticas da marcha nos indivíduos com e sem a DP.

Em relação às variáveis cinemáticas da marcha não foi encontrada diferença significativa entre os grupos em nenhum dos momentos de avaliação (inicial, CN-15 e final), ainda que segundo a literatura indivíduos com a DP comumente possuam valores menores destas variáveis, do que indivíduos sem a doença (ALCOOK et al, 2018; GALNA et al, 2015). Tal resultado pode ter sido visto no grupo GDP devido ao não acometimento da doença neste aspecto no estágio da DP em que se encontravam, e ao fato de que praticavam atividade física regularmente.

Na avaliação intragrupos também não foram encontradas alterações significativas nas variáveis cinemáticas da marcha. Era esperado o aumento dessas variáveis com a CN, assim como o obtido na literatura já que havia um comando verbal
explícito que orientou passos longos durante a realização da técnica segundo protocolo seguido, e já que a técnica utiliza de uma sugestão externa mecânica e sonora (uso dos bastões) (HERFURTH et al, 2015). Pensou-se assim, que a automatização da marcha poderia ser facilitada e por isso haveria a possibilidade de passos maiores e mais seguros. Por fim, a CN também propõe que os bastões geram impulsão do indivíduo à frente durante a marcha, o que em teoria os permitiria dar
passos maiores (BOMBIERI et al, 2017).

Por outro lado, um ponto que se deve levar em consideração para não ter sido encontrado tais alterações esperadas em ambos os grupos, é a realização da dupla tarefa durante a CN. Segundo uma revisão sistemática realizada por Muir-Hunter & Wittwer (2016), a maioria dos artigos encontrados na literatura demonstram uma associação entre um pior desempenho da marcha durante a realização de dupla tarefa em idosos. De maneira semelhante, estudos realizados com indivíduos com DP, também mostram um pior desempenho da realização da marcha durante a execução de dupla-tarefa (MUIR-HUNTER, 2016; PEREIRA-PEDRO et al, 2022). No presente estudo foi observado que durante as coletas os indivíduos dispenderam de muita atenção ao processo de alternância entre bastões e pernas exigido pela CN, dificuldade ocasionada pela complexidade dessa dupla-tarefa para a população estudada. Como este era o primeiro contato com a técnica, os participantes podem não ter conseguido executar todos os comandos orientados corretamente (como o de que caminhassem com passos longos), já que possuíam sua atenção focada no manuseio correto dos bastões. Com a observação durante a coleta de dados e nas filmagens, percebeu-se que indivíduos que possuíram maior facilidade e rapidez no aprendizado da técnica, obtiveram maiores valores de CP e LP durante a CN do que na marcha executada durante a avaliação inicial e a final.

A avaliação postural estática fora realizada com cada participante no primeiro dia de coleta para registro de dados de sua postura convencional (na avaliação) e no segundo dia para observação de como ficou sua postura após a CN (reavaliação), e verificou-se diferença significativa entre os grupos quanto à PC. O grupo GDP possuía maior protusão que o grupo GC em todas as avaliações (p=0,001), o que corrobora com o que a literatura sobre a DP descreve quanto a postura em padrão flexor e a prevalência de antecollis, comum nesta população. Verificamos também, que a PC aumentou após a realização da CN no GDP (p=0,007), o que pode ter ocorrido devido à adoção de um desvio postural compensatório à fadiga ocasionada pelo esforço realizado, sintoma limitante e que segundo a literatura é relatado por 50% dos indivíduos com a doença (SICILIANO et al, 2018; NASSIF e PEREIRA, 2018; FRIEDMAN et al, 2016). Apesar de não ser um dado avaliado e quantificado pelo estudo, todos os indivíduos do grupo GDP relataram grande cansaço ao fim da
realização da CN.

A variável LL apresentou alteração significativa quando comparado a avaliação e a reavaliação, em ambos os grupos (p=0,03). Tal alteração pode ter sido ocasionada pela dificuldade de recrutamento efetivo da musculatura da cadeia posterior e anterior do tronco, responsáveis pela manutenção da postura ereta, devido à fadiga, ou à pouca força e resistência muscular. A população, idosa, pode ter adotado a acentuação da lordose da coluna lombar e retroversão pélvica, como consequência
da não-contração da musculatura estabilizadora do tronco, seja esta ocasionada pela fatigabilidade sintomatológica da DP, pelo cansaço fisiológico resultante da atividade física, ou pelo destreino da musculatura envolvida. Ainda, supõe-se que uma
explicação possível, seria que o aumento da LL logo após o exercício, pode ser um efeito da intenção dos indivíduos de parecerem mais eretos para as fotos realizadas, utilizando a hiperlordose lombar como estratégia para isso. Como haviam sido instruídos no primeiro dia da coleta de dados que a pesquisa avaliaria sua postura e marcha, após a CN podem ter se empenhado em demonstrar que esta primeira
melhorou.

As demais angulações analisadas (LC, CT, FQ e ATT) não demonstraram diferenças significativas nas análises entre grupos e/ou avaliações (p>0,05).

Na tabela 4 estão descritos os valores obtidos das angulações posturais durante a marcha: na avaliação inicial e na reavaliação nas quais caminharam de forma convencional, e durante a CN. Observou-se diferença significativa na variável PC, quando comparados os grupos GC e GDP, independente da avaliação em questão. O grupo GDP demonstrou maior PC do que GC. A LC apresentou-se significativamente maior em GDP do que em GC, independentemente da avaliação (p=0,004). Ambos os grupos tiveram pequena acentuação da LC durante a CN, porém o grupo GDP no geral possuía valores maiores dessa variável que o grupo GC, já no momento da avaliação inicial. Estes fatos novamente corroboram com o que descreve a literatura a respeito das alterações posturais na população com DP, ligadas à camptocormia e antecollis (MOON et al, 2016).

A variável ATT, que representa a amplitude da dorsiflexão durante a marcha, apresentou maiores valores na população sem a DP, quando comparadas à GDP, independente da avaliação (p=0,03). Tal achado provavelmente é oriundo de manifestações da doença influentes na marcha, como a rigidez articular (WIJEMANNE e JANKOVIC, 2019).

No GC, observa-se diminuição de FQ e CT durante a CN e na reavaliação, quando comparados à caminhada convencional realizada no primeiro dia. Ao mesmo tempo, vê-se aumento do CP neste grupo nos mesmos momentos. Assim, há possibilidade de a diminuição da FQ nos momentos citados ser consequência de melhora postural. Ressaltamos que as suposições deste parágrafo são realizadas sobre valores que apesar de diminuir ou aumentar, não consistiram em um p significativo (p>0,05).

Durante as coletas de dados, o ponto negativo da realização da CN mais relatado pelos participantes no geral, foi a dificuldade de coordenação motora. Os indivíduos demonstraram tanto via relato verbal, quanto pelas observações da pesquisadora, certo grau de dispersão da concentração no manuseio dos bastões, quando se preocupavam em focar em outra tarefa da CN (como manter-se olhando para o horizonte, dar passos grandes ou manter a postura ereta). Outros autores também relataram em seus estudos a mesma relação de dificuldade em pessoas com
a DP e a execução de dupla-tarefa entre atividades motoras, e nestes trabalhos a dupla-tarefa também ocasionou diminuição do comprimento do passo e da velocidade de marcha na população parkinsoniana.

Pensa-se assim, que um maior tempo para aprendizado da técnica como utilizado por outros pesquisadores (MONTEIRO et al, 2017) seja de fato a melhor opção para que haja menor influência das dificuldades oriundas da realização de duas
tarefas concomitantes, já presentes devido à DP e ao envelhecimento, e vê-se esta como a principal limitação deste estudo. Havendo segurança no manuseio dos bastões e certo automatismo oriundo de seu aprendizado, as variáveis aqui
observadas poderão ser avaliadas em outros trabalhos a ser realizados a posteriori com maior acurácia, de forma que haja sobre elas menor influência da complexidade da execução da CN para os praticantes.

Conclusão

Segundo as evidências obtidas neste trabalho, 30 minutos de CN ocasionaram aumento da PC no grupo GDP e aumento da LL no grupo GDP e GC, o que parece refletir a dificuldade relacionada à fadiga muscular e adoção de desvio postural
compensatório dos participantes após a atividade física. As demais variáveis posturais e cinemáticas da marcha avaliadas não apresentaram diferença significativa em nenhuma avaliação, demonstrando assim que o exercício não proporcionou aos participantes nesses aspectos, melhora ou piora significativa dos parâmetros. Desta forma, sugere-se para próximos estudos a realização de um período mais extenso de
aprendizado da técnica, já que foi observado dificuldade de sua execução completa pelos participantes dentro dos 30 minutos de familiarização e nos 30 minutos de execução propostos, o que pode ter contribuído com os resultados aqui presentes.
Além disso, sugere-se também a realização de programas de treinamentos com grupos de idosos com a DP para observação completa dos efeitos crônicos da modalidade nesta população.

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