EFEITOS DOS VASOCONSTRITORES EM PACIENTES HIPERTENSOS E CARDIOPATAS; INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES: UMA REVISÃO DA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8422581


Leonardo Oliveira1
Tamiles Melo Santos2
Camila Jezini3


Resumo: O uso dos anestésicos locais na odontologia é essencial, pois sem eles não seria possível a realização de procedimentos odontológicos. O cirurgião-dentista deve estar apto a utilizá-los e ter amplo conhecimento em relação à farmacologia, aos vasoconstritores e à toxicidade dos sais anestésicos, uma vez que cardiopatia e hipertensão serão os tipos de doenças sistêmicas que mais serão encontradas no consultório odontológico. Relatórios do ministério da saúde apontam que o número de adultos com diagnóstico médico de hipertensão aumentou 3,7% em 15 anos no Brasil. De acordo com o estudo GBD 2019, a prevalência de doença cardiovascular foi estimada em 6,1% da população e vem crescendo desde 1990 devido ao crescimento e envelhecimento populacional. Por essas razões o cirurgião-dentista provavelmente receberá inúmeros cardiopatas em seu consultório. Este estudo visa construir uma revisão narrativa a partir de referências bibliográficas disponíveis na literatura científica nacional a respeito do tema, com o objetivo de mostrar a transcendência do conhecimento precedente das principais cardiopatias, suas características, escolha adequada dos anestésicos locais, para que a administração de anestésicos locais sejam seguras para cardiopatas e hipertensos.

Palavras-chave: Os efeitos do vasoconstritor em pacientes hipertensos e cardiopatas.

1 INTRODUÇÃO

Os anestésicos locais têm o potencial de bloquear temporariamente a condução nervosa em parte do corpo, limitando a perda de sensação com o paciente em estado consciente. Para ser considerado essencial, ele deve ter baixa toxicidade, não irritar os tecidos e não causar lesão na estrutura nervosa. A ação de iniciação deve ser rápida, durar tempo suficiente para realização do procedimento e ser reversível. Na odontologia são usados a amida e o estér, porém a amida é menos tóxica.

Os anestésicos locais com vasoconstrição podem ser administrados em pacientes com hipertensão, nesses casos os vasoconstritores epinefrina e felipressina são os mais indicados em procedimentos (pacientes com hipertensão grau I ou II controladas). Pode ocorrer um aumento da concentração de sangue, a potencialização desse efeito sistêmico pode ter associação com a terapia medicamentosa desses pacientes (anti-hipertensivos do tipo beta bloqueadores não seletivos ou diuréticos). O cirurgião-dentista deve realizar uma anamnese muito bem detalhada, uma anestesia com técnica eficaz (com vasoconstritor) e, por meio de técnicas de comunicação dentre outras, diminuir a ansiedade e o medo, acalmando o paciente. Essas são táticas para melhor atendimento e trazem benefícios ao hipertenso.

O uso dos anestésicos locais na odontologia é essencial, sem eles não seria possível a realização dos procedimentos odontológicos. O cirurgião-dentista deve estar apto a utilizá-los e ter amplo conhecimento em relação à farmacologia, aos vasoconstritores e à toxicidade dos sais anestésicos.

2 METODOLOGIA

O presente estudo é uma pesquisa de revisão integrativa da literatura, de caráter exploratória e descritiva, com abordagem qualitativa, baseada em coletas de dados oriundos da biblioteca virtual intitulada Google Acadêmico.

A revisão integrativa da literatura reúne resultados a partir de achados de outras pesquisas publicadas sobre o mesmo tema, com o objetivo de sintetizar e analisar dados obtidos, para o desenvolvimento de instruções científicas, permitindo uma análise mais ampla e holística do tema. Diminuindo dúvidas na conclusão da resolução do problema sobre o uso de anestésicos locais em hipertensos e cardiopatas.

A pesquisa exploratória tem por objetivo proporcionar familiaridade com o tema, dando luz a uma nova abordagem. Assumindo, assim, um formato de uma pesquisa bibliográfica.

A pesquisa descritiva correlaciona fatos a partir de observação, registro e agrupamento de dados, para compreensão dos fatos sem interferir na realidade, ou seja, é uma revisão sobre determinado problema de pesquisa.

Este estudo foi realizado em etapas. A primeira delas foi a formulação do problema, aprofundando-se nas características dos vasoconstritores. A segunda etapa foi reunir coletas de dados de artigos retirados de fontes disponíveis da base de dados da biblioteca virtual em saúde. Os descritores utilizados foram: efeitos de “vasoconstritores” em “pacientes” “hipertensos” e “cardiopatas” com o auxílio do operador booleano “AND”.

Como critério de inclusão foram selecionados artigos científicos disponíveis na íntegra, no idioma português, com pesquisas originais e relatos de experiências e reflexões teóricas, disponibilizados entre 2011 e 2023 e que atendam aos objetivos propostos neste estudo. Os artigos excluídos foram aqueles encontrados em duplicidade na base de dados e os que não possuíam adesão à temática da pesquisa.

Foram encontrados 460 artigos, ao aplicar os critérios de inclusão e exclusão, 7 artigos foram selecionados para revisão.

Após essa busca os dados foram organizados em quadro-síntese, contendo as seguintes informações: título, autores, periódico, ano e região de publicação e principais resultados, como apresentado na Tabela 1.

Tabela 1 – Distribuição dos estudos segundo título, autor, periódico, ano de publicação, região de publicação e principais resultados

TítuloAutoresPeriódicoAnoRegião publicadaPrincipais resultados
1A importância do conhecimento teórico e prático na anestesiaManoel Marcos Pedrosa, Patrícia Peixoto Gomes, Larissa F. de PinhoRevista Cathedral2020Boa Vista-RREvidenciou que para o atendimento de pacientes hipertensos é imprescindível uma boa anamnese e conhecimento sobre a dinâmica dos vasoconstritores no organismo de ação e reação da droga para que se obtenha a resposta desejada. Possibilitando que o cirurgião-dentista faça aplicação do anestésico com segurança.
2Relação do vasoconstrictor presente no anestésico local em pacientes cardiopatasMilena Andrade Lima, Ana Gomes, Andreza Santos, Vanessa SouzaCiências da saúde2022Vargem Grande-SPObserva-se que com o uso de lidocaína a 2% associada à epinefrina 1:100.000 ou 1:200.000, com proporção 1,8 ml, não houve nenhum indicador de alteração e a dosagem foi eficiente.
Notou-se que o uso de epinefrina em doença cardiovascular (DCV) não ocorre o risco de complicações cardiovasculares.
3Uso de mepivacaína 2% associada à epinefrina em pacientes hipertensos durante tratamento odontológicoAlan Garcia EssadoUniversidade de Uberaba2019Uberaba-MGEnfatiza-se a importância do uso do anestésico local durante o tratamento. Ainda que seja um tema controverso, o uso da epinefrina em pacientes hipertensos revela várias vantagens, desde que as doses de segurança sejam respeitadas.
4Tratamento de pacientes cardiopatas na clínica odontológicaMaysa Barros, Cristiano Gaujac, Cleverson Trento, Maria AndradeRevista saúde e pesquisa- UFS2011SergipeFoi constatado que o uso de anestésicos locais em cardiopatas é um assunto muito controverso, por haver algumas impossibilidades de uso de vasoconstritores. A bupivacaína tem maior duração anestésica, mas é contraindicada em pacientes cardiopatas, a prilocaína é o anestésico mais indicado para pacientes cardiopatas por não elevar a pressão arterial (PA).
5Manejo odontológico em pacientes portador de cardiopatia congênitaBeatriz Moreira, Gabrielle Pfaltgraff, Thamires Monteiro, Ednaldo José da SilvaBrazilian Journal of implantology and Health sciences2023Rio de Janeiro-RJComprova-se que não há contraindicação no uso de vasoconstritores, desde que sejam administrados com cautela e aspiração preliminar, em pacientes cardiopatas deve-se fazer uma diminuição da droga de 0,2 mg para 0,04 mg
6O uso de anestésicos locais na odontologia em pacientes hipertensos: revisão de literaturaAnna Beatriz Baptista Bezerra, Emily Àvila Del Barco BarbosaFaculdade Unidas do Norte de Minas-FUNORTE2023Várzea Grande-MTObserva–se uma dificuldade na hora do atendimento em constatar se a PA elevada é devido ao estresse e ansiedade que geralmente ocorre em alguns casos ou se é PA elevada, por haver aumento dos hormônios circulantes (catecolamina) ou se é PA instável da doença pré-existente.
7Efeitos de anestésicos locais em pacientes odontológicos portadores de comorbidadesRafaella Praes, Bárbara Carvalho, Camila Xavier, Maria Clara Fernandes, Thércia BittencourtRevista integrativa. Bionorte2022Montes Claros-MGEvidenciou que os benefícios dos anestésicos locais superam os riscos, mesmo em pacientes hipertensos e cardiopatas, os vasoconstritores mostraram-se benéficos por diminuir efeitos sistêmicos na liberação de catecolaminas endógenas.
Fonte: Elaboração própria (2023).

3 Resultados e Discussão

Os resultados deste estudo demonstram que não há consenso quanto ao uso de vasoconstritor em pacientes hipertensos e cardiopatas. Os artigos estão distribuídos em duas categorias temáticas que divergem. Os artigos nº 1,2,3,5,6,7 corroboram que não há contraindicação para o uso de anestésicos em pacientes hipertensos e cardiopatas, enquanto o artigo nº 4 afirma que há contraindicação de anestésicos local com vasoconstritor para pacientes cardiopatas.

3.1 Vasoconstritores

Os vasoconstritores são químicos associados aos sais anestésicos (função de absorver lentamente), diminui a toxicidade, aumenta o tempo de duração e a efetividade do bloqueio anestésico. Os vasoconstritores mais utilizados são a adrenalina/epinefrina, a noradrenalina/noraepinefrina, a fenilefrina e o octapressin/felipressina (SANAR, 2020).

Os vasoconstritores são substâncias que causam a constrição dos vasos sanguíneos, o que leva a uma diminuição do diâmetro desses vasos. Isso resulta em um aumento da resistência vascular periférica e, consequentemente, em um aumento da PA.

Esses medicamentos são usados em diversas situações clínicas, como no tratamento da hipotensão, alívio de congestão nasal, redução de sangramento localizado e em procedimentos médicos para diminuir o fluxo sanguíneo em áreas específicas.

Alguns exemplos de vasoconstritores incluem a adrenalina, a noradrenalina e a fenilefrina. Eles atuam ativando os receptores adrenérgicos nas paredes dos vasos sanguíneos, levando à contração desses vasos. No entanto, seu uso deve ser cuidadosamente monitorado, pois se inadequado ou excessivo pode levar a efeitos colaterais indesejados, como aumento da PA, palpitações e isquemia tecidual. É importante ressaltar que os vasoconstritores devem ser utilizados sob orientação médica, pois seu uso indiscriminado pode ser prejudicial à saúde.

Segundo Lima et al. (2022), a anestesia local é a perda da sensação em uma área circunscrita do corpo causada pela depressão da excitação nervosa ou pela inibição do processo de condução nos nervos periféricos.

3.1.1 Efeitos dos vasoconstritores em pacientes hipertensos

O maior risco na clínica em pacientes hipertensos (asa III) é a eficácia no controle da dor e a diminuição do estresse e ansiedade.

Os vasoconstritores são contraindicados para pacientes com angina de peito, em infarto de miocárdio ocorrido a menos de 6 meses, acidente cardiovascular atual, cirurgia do miocárdio (revascularização), insuficiência cardíaca refratária, assim como hipertireoidismo e diabetes mellitus não controlados, e hipersensibilidade a sulfitos.

Em casos nos quais é necessário o uso de anestésicos nesses pacientes hipertensos, é indicado aos pacientes que estão em tratamento ou com a patologia controlada. O máximo recomendado é 1:100.00 (adrenalina com vasoconstritor), não podendo exceder 2 tubetes por paciente (dosagem segura) (ANDRADE, 2002).

Segundo os autores Paiva e Cavalcante (apud GOMES; PEDROSA; PINHO, 2020) no artigo 1, é imprescindível uma boa anamnese e conhecimento sobre a dinâmica dos vasoconstritores no organismo de ação e reação. Possibilitando o cirurgião-dentista a fazer aplicação dos anestésicos locais com segurança.

3.1.2 Indicações e contraindicações em pacientes hipertensos

A literatura revisada no artigo 3 (ESSADO, 2019) enfatiza o uso anestésico local durante o tratamento, ainda que seja controverso o uso da epinefrina em pacientes hipertensos revela várias vantagens, desde que sejam respeitadas as doses de segurança.

Segundo Parise e colaboradores (2017 apud BEZERRA; BARBOSA, 2023) no artigo 6, observa-se uma dificuldade na hora do atendimento em constatar se a PA elevada é devido ao estresse e à ansiedade que geralmente ocorre em alguns casos ou se é PA elevada, por haver aumento dos hormônios circulantes (catecolamina) ou se a PA instável é da doença pré-existente.

3.1.3 O uso de vasoconstritor em pacientes cardiopatas

Segundo a literatura do artigo 2 (LIMA et al., 2022) observa-se que com o uso de lidocaína a 2% associada à epinefrina 1:100.00 ou 1:200.00 com proporção 1,8 ml não houve nenhum indicador de alteração e a dosagem foi eficiente. Notou-se que com o uso de epinefrina em DCV não ocorre o risco de complicações cardiovasculares.

De acordo com a literatura no artigo 7 (PRAES et al., 2020) os benefícios dos anestésicos locais superam os riscos, mesmo em pacientes hipertensos e cardiopatas, os vasoconstritores mostram-se benéfico por diminuir efeitos sistêmicos na liberação catecolamina endógenas.

3.1.4 Indicações e contraindicações em pacientes cardiopatas

Segundo o artigo 4 (BARROS et al., 2011) a bupivacaína é um anestésico com maior durabilidade, mas é contraindicado em pacientes cardiopatas, sendo a prilocaína o anestésico indicado para pacientes cardiopatas por não elevar a PA (LEME; CARVALHO; SALINAS, 2003).

O artigo 5 (MOREIRA et al., 2023) revela que não há contraindicação no uso de vasoconstritores, desde que sejam administrados com cautela e aspiração preliminar, em pacientes cardiopatas deve-se fazer uma diminuição da droga de 0,2 mg para 0,04 mg.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio de uma busca bibliográfica sobre o tema abordado, foi possível observar a importância do profissional de odontologia na abordagem assertiva na hora da anestesia. É de suma importância que o cirurgião-dentista realize a correta anamnese do paciente, tenha um olhar individualizado na hora do atendimento, faça a verificação da PA e o teste de glicemia e conheça o histórico de doenças pré-existentes do paciente. Tais medidas o auxiliarão na tomada de decisão correta e, em intercorrências médicas, o dentista terá condições de exercer a melhor conduta para o bem-estar do paciente. Além das medidas supracitadas, o controle de ansiedade deve ser observado em alguns casos. É notório as dificuldades de alguns alunos e profissionais de odontologia na hora da administração de anestésicos, ressaltar-se que todo profissional deve estar apto e deve sempre procurar estar atualizado sobre administração dos anestésicos para evitar intercorrências no consultório.

Mesmo sendo um ato da rotina do consultório odontológico, o ato de anestesiar um paciente com um anestésico local, requer uma escolha minuciosa e não deve ser negligenciada, o profissional deve ter um bom conhecimento técnico, realizar anamnese para entender e conhecer melhor a saúde do paciente, o cirurgião-dentista deverá entender sobre as patologias sistêmicas, assim como a dosagem para cada uma delas, evitando iatrogenias.

Conclui-se que na anamnese deve-se avaliar o histórico de doenças pré-existentes bem como o controle de ansiedade do paciente no dia do procedimento, ter aptidão na hora da escolha do anestésico fará toda a diferença no atendimento.

REFERÊNCIAS

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1 Acadêmico de Odontologia – Universidade Santa Úrsula
2 Acadêmico de Odontologia – Universidade Santa Úrsula
3 Coordenadora: Cirurgiã-dentista; Especialista em Periodontia – Universidade Santa Úrsula