EFEITOS DO USO DE CANABINÓIDES EM PACIENTES IDOSOS COM DOR CRÔNICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA 

EFFECTS OF CANNABINOID USE IN ELDERLY PATIENTS WITH CHRONIC PAIN: A LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202410041356


Marfran José Cunha Urtiga1; Davi Abrantes Lucena Messias2; Fabian Chris de Lima Mendonça3; Gabrielly Vitória Fernandes Rocha4; Graziele Gleice da Silva5; Giovanna Gomes de Oliveira6; Isabel Moura Almeida7; João Heitor De Oliveira Fernandes8; Manuella Ribeiro Ximenes Lemos9; Matheus Henrique Pinto de Oliveira10


Resumo

Introdução: A dor crônica pode ser caracterizada como uma dor persistente ou recorrente que se estende regularmente por mais de 90 dias. O envelhecimento está frequentemente associado a um aumento na incidência de doenças crônicas e degenerativas, sendo a dor um problema particularmente comum entre os idosos. Tanto terapias farmacológicas quanto não farmacológicas fazem parte da abordagem terapêutica para o manejo da dor. No que diz respeito aos métodos complementares para o controle da dor, várias técnicas da medicina integrativa têm mostrado promessa no alívio dos sintomas referidos pelos pacientes com doenças crônicas, uso de fitoterápicos são exemplos notáveis dessas técnicas. O uso de Cannabis, que há anos é utilizado para o controle da dor, destaca-se na última categoria. Objetivo: Evidenciar  os possíveis benefícios e a eficácia do uso terapêutico dos canabinoides no tratamento da dor crônica em pacientes idosos. Metodologia: O presente estudo foi produzido de acordo com as recomendações previstas no documento PRISMA 2020 (PAGE et al, 2020). O primeiro passo foi a definição da pergunta de pesquisa segundo o protocolo PICO. Em seguida, procedeu-se às seguintes etapas: escolha do banco de dados; pesquisa no banco de dados de acordo com o tema de pesquisa, utilizando as palavras-chave definidas; avaliação dos artigos encontrados por título e resumo; avaliação dos artigos remanescentes por texto completo; sumarização dos resultados. Foi escolhida a plataforma PubMed/MEDLINE como fonte de pesquisa e informação. Conclusão: O uso de canabinoides em pacientes idosos com dor crônica representa uma abordagem promissora, demonstrando eficácia na redução da dor e melhora na qualidade de vida. No entanto, a avaliação dos eventos adversos é crucial, dado que a população idosa frequentemente enfrenta comorbidades e um perfil de medicamentos complexos, aumentando o risco de reações adversas. Assim, os canabinóides podem ser uma opção valiosa no manejo da dor crônica em idosos, mas requerem uma abordagem cautelosa e bem fundamentada por parte dos profissionais de saúde.

Palavras-chave: canabinóides, dor crônica, idosos.

Abstract 

Introduction: Chronic pain can be characterized as persistent or recurrent pain that lasts regularly for more than 90 days. Aging is often associated with an increased incidence of chronic and degenerative diseases, with pain being a particularly common issue among the elderly. Both pharmacological and non-pharmacological therapies are integral to the therapeutic approach for pain management. Regarding complementary methods for pain control, various integrative medicine techniques have shown promise in alleviating symptoms reported by patients with chronic conditions, with the use of herbal remedies being notable among these techniques. The use of cannabis, which has been utilized for pain management for years, stands out in this category. Objective: To highlight the potential benefits and efficacy of therapeutic cannabinoid use in the treatment of chronic pain in elderly patients.Methodology: This study was conducted in accordance with the recommendations outlined in the PRISMA 2020 document (PAGE et al., 2020). The first step involved defining the research question according to the PICO protocol. Subsequently, the following stages were carried out: selection of the database; searching the database based on the research theme using the defined keywords; evaluating the identified articles by title and abstract; assessing the remaining articles by full text; and summarizing the results. The PubMed/MEDLINE platform was chosen as the source for research and information. Conclusion: The use of cannabinoids in elderly patients with chronic pain represents a promising approach, demonstrating efficacy in pain reduction and improvement in quality of life. However, assessing adverse events is crucial, as the elderly population often faces comorbidities and a complex medication profile, increasing the risk of adverse reactions. Thus, cannabinoids may be a valuable option for managing chronic pain in the elderly, but they require a cautious and well-informed approach from healthcare professionals.

Keywords: cannabinoids, chronic pain, elderly.

1. Introdução

A dor crônica pode ser caracterizada como uma dor persistente ou recorrente que se estende regularmente por mais de 90 dias, podendo levar a incapacitação e perturbações físicas e mentais. Estima-se que afete de 15% a 30% da população adulta, culminando em um impacto significativo na qualidade de vida e na função psicossocial dos indivíduos (Bonfim et al., 2020). 

É fundamental salientar que a maioria das pessoas afetadas pela dor crônica é composta por mulheres e que seu desenvolvimento está interligado a várias patologias: Doenças reumatológicas, diabetes, fibromialgia, entre outras (Brasil, 2023).

O envelhecimento está frequentemente associado a um aumento na incidência de doenças crônicas e degenerativas, sendo a dor um problema particularmente comum entre os idosos. Aqueles que lidam com dor crônica costumam apresentar dificuldades significativas em realizar atividades diárias, o que eleva o risco de quedas e contribui para o desenvolvimento de ansiedade, depressão e isolamento social (Siqueira et al., 2021). 

A complexidade da dor  crônica em  idosos é agravada por inúmeros fatores, incluindo comorbidades médicas, alterações fisiológicas relacionadas à idade, polifarmácia e declínio funcional. As condições dolorosas mais comuns que afetam os idosos  estão  relacionadas  com  a  artrite,  embora  a  prevalência de  doenças  sistêmicas  crônicas  que também  podem  resultar em dor, como complicações diabéticas,  dor  relacionada  com  o cancro e dor após acidente vascular cerebral (Bezerra et al., 2024). 

Tanto terapias farmacológicas quanto não farmacológicas fazem parte da abordagem terapêutica para o manejo da dor. Farmacologicamente, o manejo da dor crônica é rotineiramente realizado com o uso de medicamentos analgésicos, principalmente os opióides. No entanto, a administração dessa classe farmacológica a longo prazo pode gerar inúmeras adversidades à saúde do paciente, como a dependência, o desenvolvimento de tolerância e a síndrome de abstinência, além de elevar o risco de ocorrência de efeitos adversos (Barbosa et al., 2024).

No que diz respeito aos métodos complementares para o controle da dor, várias técnicas da medicina integrativa têm mostrado promessa no alívio dos sintomas referidos pelos pacientes com doenças crônicas. Massagem, exercício, acupuntura, e o uso de fitoterápicos são exemplos notáveis dessas técnicas. O uso de Cannabis, que há anos é utilizado para o controle da dor, destaca-se na última categoria (Goldstein et al., 2018).

A utilização de plantas com finalidade medicinal é uma prática milenar que surgiu a partir da observação da natureza realizada pelo ser humano ao analisar seu consumo por parte dos animais e os respectivos efeitos. A Cannabis sativa L., popularmente conhecida como cânhamo ou maconha, apresenta em sua composição diferentes substâncias, das quais se destacam o Delta-9-Tetra-Tetrahidrocanabinol (∆9-THC) e o Canabidiol (CBD). Atualmente, estes passaram a ser alvo de diversos estudos a fim de verificar seu potencial terapêutico para múltiplas patologias (Sampaio et al., 2021). 

O canabidiol (CBD) interage com diversos receptores endógenos (endocanabinoides), proporcionando uma ação terapêutica no tratamento da dor crônica, além de outras condições como depressão, ansiedade, epilepsia e psicose. Essa interação ajuda na modulação de respostas neuroquímicas e fisiológicas, oferecendo um potencial analgésico significativo (Loss et al.,2021).

Assim, o CBD apresenta a capacidade de interagir com os receptores endógenos presentes no sistema endocanabinoide, diminuindo a excitabilidade neuronal, gerando efeito analgésico e sendo um potencial composto aplicável como adjuvante na manutenção da dor crônica (Cecilio  et al., 2023).

Diante disso, o presente trabalho teve como finalidade avaliar os possíveis benefícios e a eficácia do uso terapêutico dos canabinoides no tratamento da dor crônica em pacientes idosos, a partir de uma revisão bibliográfica.

 2. Metodologia

2.1 Protocolo e registro

No que diz respeito ao protocolo, o presente estudo foi produzido de acordo com as recomendações previstas no documento PRISMA 2020 (PAGE et al, 2020). Assim sendo, o primeiro passo foi a definição da pergunta de pesquisa segundo o protocolo PICO, que exige a definição da população-alvo (p) a ser estudada, a intervenção (i) a ser avaliada, o cenário comparativo (c) e os desfechos (o). Nesse contexto, a determinação foi feita da seguinte forma: pacientes idosos com dor crônica (p); uso de canabinóides como terapêutica adjuvante (i); tratamento convencional (c); efeito nos sintomas de dor (o). 

Em seguida, procedeu-se às seguintes etapas: escolha do banco de dados; pesquisa no banco de dados de acordo com o tema de pesquisa, utilizando as palavras-chave definidas; avaliação dos artigos encontrados por título e resumo; avaliação dos artigos remanescentes por texto completo; sumarização dos resultados.

2.2 Banco de dados

Para a seleção dos artigos, foi necessário, de início, definir qual seria o banco de dados. Nesse contexto, foi escolhida a plataforma PubMed/MEDLINE como fonte de pesquisa e informação, de modo que a busca foi realizada neste banco de dados no dia 10 de setembro de 2024.

2.3 Pesquisa na base de dados

Quanto à pesquisa na base de dados, utilizou-se as palavras-chave epinefrina, reanimação neonatal e retorno à circulação espontânea,  com a restrição de que os artigos tivessem sido publicados nos últimos 10 anos. Além disso, foram excluídos artigos incompletos e estudos que não tinham relação com a pergunta de pesquisa após avaliação por texto completo.

Desse modo, foram encontrados 64 artigos, a partir do seguinte mecanismo de pesquisa:

Pubmed/MEDLINE: (canabinoides) AND (dor crônica) AND (idosos) AND (year_cluster:[2014 TO 2024])

2.4 Critérios de seleção

Quanto ao processo de seleção, os estudos foram avaliados, de início, por título e resumo, de modo que aqueles que não tratavam da pergunta de pesquisa foram excluídos. Posteriormente, os artigos que permaneciam elegíveis foram analisados por texto completo, cada estudo tendo sido avaliado por pelo menos dois autores. Nesse momento, os critérios de exclusão aplicados foram: impossibilidade de identificar o texto completo e identificação de graves conflitos de interesse, de modo que cinco artigos cumpriram os critérios de seleção e foram incluídos nesta revisão.

2.5 Limitações e vieses

Quanto às limitações deste estudo, é natural que revisões de literatura estejam sujeitas a múltiplos vieses eventualmente não corrigidos, na medida em que apenas a randomização em ensaios clínicos é capaz de eliminar o efeito de variáveis confundidoras. No entanto, para melhorar a qualidade da evidência produzida, o processo de seleção foi realizado de acordo com critérios objetivos estabelecidos previamente e a decisão de inclusão era consensual de pelo menos dois autores. Além disso, a produção de uma análise sumária de cada artigo era feita também por pelo menos dois autores, reduzindo o viés de interpretação. 

Outrossim, vale ressaltar que, apesar das medidas acima aplicadas, a inclusão de estudos observacionais nesta revisão não permite concluir acerca da causalidade no tema estudado, mas cumpre o importante papel de sumarizar a evidência científica disponível em busca de convergências.

3. Resultados e Discussão 

Quadro 1: Resultados

Título do ArtigoAno de PublicaçãoObjetivoAchados relevantes
Cannabinoids in the Older Person: A Literature Review2020Avaliar possíveis indicações, evidências, contra-indicações e efeitos colaterais relacionados ao uso de canabinóides em pacientes idososA cannabis inalada demonstrou eficácia, mostrando uma relação dose-resposta significativa entre a potência e a redução da dor neuropática crônica. Uma avaliação de 2017 indicou que o nabilone pode melhorar a dor em condições como neuropatia diabética e esclerose múltipla, com poucos efeitos adversos. O dronabinol, também um análogo sintético do THC, apresentou redução significativa da dor quando usado como adjuvante aos opioides em um ensaio controlado por placebo, embora outros estudos não tenham conseguido reproduzir esses resultados a longo prazo. O nabiximols, um extrato de cannabis que combina THC e CBD, mostrou benefícios a curto prazo na dor neuropática, mas com evidências a longo prazo incertas. Uma revisão Cochrane apontou que os canabinóides foram mais eficazes que placebo na redução da severidade da dor, mas a ausência de evidências de alta qualidade foi enfatizada.
Epidemiological characteristics, safety and efficacy of medical cannabis in the elderly2018Avaliar não só as características da população idosa em uso de cannabis medicinal, mas também a segurança e a eficácia dessa terapêuticaA idade média era de 74,5 anos. Após seis meses de tratamento, o nível de dor foi reduzido de uma mediana de 8 em uma escala de 0-10 para uma mediana de 4. Nesse contexto, 18,1% dos pacientes reduziram a dose ou pararam de utilizar opióides.
Cannabis and cannabinoids for the treatment of people with chronic noncancer pain conditions: a systematic review and meta-analysis of controlled and observational studies2018Avaliar a eficácia do uso dos canabinóides no manejo da dor crônica não cancerosaNos 47 ensaios clínicos randomizados, as taxas de eventos agrupadas para uma redução de 30% na dor foram de 29,0% (canabinóides) contra 25,9% (placebo), diferença que foi estatisticamente significativa. O número necessário para tratar para obter benefício foi de 24 (intervalo de confiança [IC] de 95%: 15-61). Para uma redução de 50% na dor, as taxas de eventos agrupados foram de 18,2% contra 14,4%, diferença que não foi significativa. A mudança agrupada na intensidade da dor (diferença média padronizada: −0,14, IC de 95%: −0,20 a −0,08) foi equivalente a uma redução de 3 mm em uma escala analógica visual de 100 mm em relação aos grupos placebo.
Preliminary evaluation of the efficacy, safety, and costs associated with the treatment of chronic pain with medical cannabis2018Determinar a incidência, intervenções e resultados da ressuscitação cardiopulmonar (CPR) em uma UTIN de referência quaternária.29 pacientes foram avaliados antes e após 3 meses de tratamento. A qualidade de vida e a dor melhoraram, medidas pela mudança no escore European Quality of Life 5 Dimension Questionnaire (antes 36 – depois 64, P < 0,0001) e pela mudança na escala Pain Quality Assessment Scale: paroxismal (antes 6,76 – depois 2,04, P < 0,0001), superficial (antes 4,20 – depois 1,30, P < 0,0001), profundo (antes 5,87 – depois 2,03, P < 0,0001) e desagradável (antes “miserável” – depois “irritante”, P < 0,0001). Efeitos adversos foram relatados em 10% dos pacientes tratados.
Clinical Evidence for Utilizing Cannabinoids in the Elderly2016Avaliar o potencial terapêutico dos canabinoides no paciente idosoDevido à escassez de pesquisas, o tratamento com canabinóides é predominantemente uma terapia aditiva/substitutiva, considerada o último recurso quando o protocolo de terapia convencional falha. Dessa forma, no curso natural da doença de Parkinson, os canabinóides podem ser utilizados como um tratamento de terceira linha ou complementar, com evidências indicando sua eficácia na redução de tremores, discinesia, rigidez e dor, além de melhorar o sono. Assim como na doença de Parkinson, os médicos que tratam pacientes com demência muitas vezes não conseguem oferecer um tratamento eficaz para os sintomas neuropsiquiátricos, resultando em tratamentos com possíveis efeitos prejudiciais. O uso de cannabis medicinal na demência parece ser uma opção segura para problemas comportamentais, embora os dados clínicos ainda sejam inadequados. Outras condições para as quais as evidências são escassas e que impedem recomendações incluem distúrbios do sono e perda de peso; dados adicionais são urgentemente necessários. Por fim, a literatura médica sugere que os canabinóides têm um perfil relativamente seguro para uso em geriatria, sendo a sonolência a queixa mais comum. Esse perfil de segurança é o cerne do tratamento com canabinóides, tornando-o um possível jogador chave no cuidado médico de idosos.

Fonte: autores

3.1 Efeitos dos canabinóides em pacientes idosos com dor crônica

O uso de canabinoides no tratamento da dor crônica em pacientes idosos têm emergido como uma área de crescente interesse, especialmente devido à sua eficácia relatada e ao perfil de segurança relativamente favorável. A cannabis inalada demonstrou uma relação dose-resposta significativa na redução da dor neuropática crônica, indicando que a potência dos canabinoides pode influenciar diretamente no alívio da dor. Uma avaliação de 2017 revelou que o nabilone pode ser benéfico em condições como neuropatia diabética e esclerose múltipla, apresentando poucos efeitos adversos, o que é crucial em uma população vulnerável. O dronabinol, um análogo sintético do THC, apresentou eficácia ao ser utilizado como adjuvante aos opioides, embora a falta de consistência em estudos de longo prazo suscite dúvidas acerca desse efeito. Já o nabiximols, que combina THC e CBD, mostrou benefícios a curto prazo, mas suas evidências a longo prazo ainda são incertas. A revisão Cochrane ressaltou que, embora os canabinoides sejam mais eficazes que o placebo na redução da severidade da dor, a qualidade das evidências ainda é insuficiente (BEEDHAM et al, 2020).

Nos ensaios clínicos avaliados, a média de idade dos participantes era de 74,5 anos, e as intervenções resultaram em uma redução significativa da dor, com uma mediana de 8 a 4 em uma escala de 0 a 10 após seis meses de tratamento. Além disso, 18,1% dos pacientes conseguiram reduzir ou parar o uso de opioides, o que é um resultado promissor, considerando os riscos associados ao uso prolongado desses medicamentos em idosos (ABUHASIRA et al, 2018).

Em uma revisão de ensaios clínicos que avaliou a aplicação dos canabinóides na dor crônica não associada ao câncer, as taxas de eventos agrupadas mostraram uma redução de 30% na dor em 29,0% dos pacientes tratados com canabinoides, comparado a 25,9% no grupo placebo, destacando a eficácia clínica do tratamento. A melhoria na qualidade de vida, avaliada pelo European Quality of Life 5 Dimension Questionnaire, também aponta para o impacto positivo dos canabinoides na vida dos pacientes (STOCKINGS et al, 2018).

É importante ressaltar que, devido à escassez de pesquisas, os canabinoides são muitas vezes considerados como terapia aditiva ou substitutiva, utilizadas quando os tratamentos convencionais falham. Isso é especialmente relevante em condições como a doença de Parkinson e demência, onde os canabinoides podem oferecer uma opção segura e eficaz para o manejo de sintomas, embora mais estudos sejam necessários para validar esses achados.

3.2 Eventos adversos relacionados ao uso de canabinóides em pacientes idosos

O uso de canabinoides em pacientes idosos, especialmente aqueles com dor crônica, tem demonstrado eficácia terapêutica, mas também levanta preocupações sobre eventos adversos. Apesar da eficácia da cannabis inalada e de outros canabinoides, como nabilone e dronabinol, o perfil de segurança precisa ser cuidadosamente avaliado nesta população vulnerável.

Embora a avaliação de 2017 tenha indicado que o nabilone melhora a dor em condições como neuropatia diabética e esclerose múltipla com poucos efeitos adversos, é fundamental considerar que pacientes mais velhos frequentemente apresentam comorbidades e polifarmácia, o que pode aumentar o risco de interações medicamentosas e complicações. O dronabinol, por exemplo, mostrou-se eficaz como adjuvante a opioides, mas a inconsistência de seus resultados em estudos de longo prazo sugere que seus efeitos adversos podem não ser completamente compreendidos.

No contexto do uso de nabiximols, que combina THC e CBD, os benefícios a curto prazo foram evidentes, mas as incertezas em evidências a longo prazo destacam a necessidade de cautela. A revisão Cochrane indicou que os canabinoides foram mais eficazes que o placebo na redução da dor, mas a falta de evidências de alta qualidade implica que os riscos associados ainda não estão completamente elucidados.

Os dados coletados em ensaios clínicos randomizados, que indicaram que 10% dos pacientes relataram efeitos adversos, precisam ser interpretados com cautela, considerando a média de idade de 74,5 anos dos participantes. Essa faixa etária é propensa a reações adversas devido a fatores como a fisiologia alterada, maior suscetibilidade a efeitos colaterais e a presença de outras condições de saúde. Efeitos adversos comuns, como sonolência, podem impactar significativamente a qualidade de vida e a funcionalidade dos pacientes.

Além disso, o uso de canabinoides como terapia aditiva ou substitutiva em situações onde as opções de tratamento convencionais falharam deve ser monitorado de perto. A aplicação de canabinoides em condições como a doença de Parkinson e demência apresenta um potencial terapêutico, mas também os médicos devem estar cientes dos riscos associados ao tratamento, especialmente considerando que muitos pacientes idosos podem não tolerar bem os efeitos colaterais.

Em conclusão, enquanto os canabinoides oferecem uma alternativa terapêutica promissora para o manejo da dor crônica em idosos, é essencial que os profissionais de saúde conduzam uma avaliação minuciosa dos riscos e benefícios. A pesquisa contínua é necessária para esclarecer a segurança a longo prazo e para otimizar os protocolos de tratamento, garantindo que os pacientes idosos possam usufruir dos benefícios dos canabinoides com o menor risco possível de efeitos adversos.

4. Conclusão

O uso de canabinoides em pacientes idosos com dor crônica representa uma abordagem promissora, demonstrando eficácia na redução da dor e melhora na qualidade de vida. Estudos mostram que substâncias como nabilone, dronabinol e nabiximols podem oferecer alívio significativo, especialmente em condições como neuropatia diabética e esclerose múltipla. No entanto, a avaliação dos eventos adversos é crucial, dado que a população idosa frequentemente enfrenta comorbidades e um perfil de medicamentos complexos, aumentando o risco de reações adversas.

Embora os canabinoides apresentem um perfil de segurança relativamente favorável, especialmente com sonolência como efeito colateral mais comum, a necessidade de mais pesquisas e dados de alta qualidade é evidente. A monitorização cuidadosa e a personalização do tratamento são fundamentais para maximizar os benefícios terapêuticos enquanto minimizam os riscos. Assim, os canabinoides podem ser uma opção valiosa no manejo da dor crônica em idosos, mas requerem uma abordagem cautelosa e bem fundamentada por parte dos profissionais de saúde.

5. Referências

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1Graduando em medicina pela Afya Paraíba – Faculdade de Ciências Médicas.
marfranjose@gmail.com
2Graduando em medicina pela Afya Paraíba – Faculdade de Ciências Médicas.
dmestudos4321@gmail.com
3Graduando em medicina pela Afya Paraíba – Faculdade de Ciências Médicas.
fabianlima172@gmail.com
4Graduanda em medicina pela Faculdade Nova Esperança (FAMENE).
gabriellyro.cha241912@gmail.com
5Graduanda em medicina pela Afya Paraíba – Faculdade de Ciências Médicas.
m24contato@gmail.com
6Graduanda em medicina pela Afya Paraíba – Faculdade de Ciências Médicas.
gg289491@gmail.com
7Graduanda em medicina pela Afya Paraíba – Faculdade de Ciências Médicas.
bel.mouraalmeida@gmail.com
8Graduando em medicina pela Afya Paraíba – Faculdade de Ciências Médicas. joaoheitorfernandesof@hotmail.com
9Graduanda em medicina pela Afya Paraíba – Faculdade de Ciências Médicas.
m24contato@gmail.com
10Graduando em medicina pela Afya Paraíba – Faculdade de Ciências Médicas.
matheus.18hpo@gmail.com