EFEITOS DO USO DA SEMAGLUTIDA EM PACIENTES COM OBESIDADE: UMA REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8280155


Laura Cristina Alves de Sousa1; Aline Luna Andrade2; Amanda Rocha Albuquerque3; Francisco Expedito Ramos Aguiar Sobrinho 4; Geórgia Maria de Araújo Tenório Sampaio5;  Isabelly Sampaio Bezerra6; Júllia Barros Maciel7; Letícia De Souza Pinto8; Márcio Ribeiro Lucena9; Maria Juliana Araújo Oliveira Brasileiro10.


Resumo

Introdução: A obesidade é amplamente reconhecida como uma patologia crônica que se caracteriza pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo. Esse acúmulo está intrinsecamente ligado a diversas comorbidades graves. Frente a essa conjuntura crítica, a busca incessante por abordagens terapêuticas inovadoras e eficazes emergiu como uma prioridade incontestável, visando enfrentar a intrincada complexidade da obesidade. Nesse contexto, nos últimos anos, a semaglutida, comercialmente conhecida como Ozempic ®, um agonista do receptor do peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1), destacou-se como uma opção terapêutica promissora no tratamento da obesidade. Em comparação com outros medicamentos da mesma classe, a semaglutida demonstra superioridade, especialmente em relação às terapias injetáveis, exibindo efeitos mais eficazes.
Objetivo: Avaliar os efeitos do uso da semaglutida em pacientes com obesidade ou sobrepeso, a partir dos 12 anos de idade. Metodologia: Na plataforma Pubmed/MEDLINE, pesquisou-se no dia três de agosto por artigos em português, inglês ou espanhol nos últimos cinco anos (2018 a 2023), relacionados às palavras-chave “obesidade” ou “obesity” e “semaglutida” ou “semaglutide”. Resultados: A semaglutida foi associada de forma estatisticamente significativa nos resultados relacionados à perda de peso, incluindo o valor absoluto da perda de peso, percentual de perda de peso, índice de massa corporal (IMC) e circunferência da cintura. A perda de peso média no grupo em uso de semaglutida 50mg por dia foi de 15,1% em 68 semanas, o que significou uma diferença de 12,7% em comparação com o grupo placebo. Conclusão: A partir da análise dos artigos revisados, evidencia-se que a semaglutida foi eficiente na redução de peso e no controle do apetite, especialmente em comparação com outras opções farmacológicas disponíveis. Além disso, observou-se ação na redução da hemoglobina glicada, na diminuição do risco cardiometabólico — associado ao controle do colesterol VLDL, redução da pressão arterial, dos níveis de proteína C reativa (PCR) e da circunferência de cintura.

Palavras-chave: obesidade; semaglutida

1. Introdução

A obesidade é amplamente reconhecida como uma patologia crônica que se caracteriza pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo. Esse acúmulo está intrinsecamente ligado a diversas comorbidades graves, incluindo diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e distúrbios metabólicos. A escalada dessa condição também atingiu proporções epidêmicas, transcendendo fronteiras e apresentando desafios substanciais tanto para a saúde pública quanto para o bem-estar individual. Nesse sentido, no contexto brasileiro, as estatísticas são igualmente alarmantes: entre 2003 e 2019, o percentual de adultos obesos no país aumentou de 12,2% para 26,8%; além disso, a proporção de pessoas com excesso de peso subiu de 43,3% para 61,7%. Nesse contexto, esses dados revelam que cerca de um em cada quatro indivíduos acima dos vinte anos é categorizado como obeso.
Adicionalmente, mais de metade da população é classificada como estando em situação de sobrepeso (BRASIL, 2019).
Frente a essa conjuntura crítica, a busca incessante por abordagens terapêuticas inovadoras e eficazes emergiu como uma prioridade incontestável, visando enfrentar a intrincada complexidade da obesidade. Nesse contexto, nos últimos anos, a semaglutida, comercialmente conhecida como Ozempic ®, um agonista do receptor do peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1), destacou-se como uma opção terapêutica promissora
no tratamento da obesidade. Em comparação com outros medicamentos da mesma classe, a semaglutida demonstra superioridade, especialmente em relação às terapias injetáveis, exibindo efeitos mais eficazes.
Originalmente aprovada para o controle dos níveis glicêmicos em pacientes com diabetes tipo 2, a semaglutida revelou efeitos notáveis na regulação do apetite, no metabolismo energético, na redução de peso e até nos aspectos cardiovasculares. Esses efeitos a tornaram alvo de estudo para a exploração de seu potencial papel na
gestão da obesidade, tanto de forma isolada quanto em combinação com outras intervenções (STEINBERG; CARLSON, 2019).
Diante disso, o presente artigo científico tem como propósito fornecer uma análise abrangente dos efeitos do uso da semaglutida no tratamento da obesidade em pacientes com obesidade ou sobrepeso, a partir dos 12 anos de idade. Para isso, serão abordados não apenas os mecanismos farmacológicos subjacentes à sua ação, mas também os resultados clínicos provenientes de estudos recentes que meticulosamente avaliaram sua
eficácia e segurança. Além disso, serão consideradas as informações pertinentes para a prescrição e utilização clínica da semaglutida.
Adicionalmente, serão explorados os possíveis desafios inerentes e as perspectivas promissoras ligadas à incorporação da semaglutida no amplo leque terapêutico para a obesidade. Ao enriquecer nossa compreensão acerca do papel da semaglutida no contexto do tratamento da obesidade, este estudo visa oferecer insights valiosos, direcionando benefícios tangíveis não somente para os profissionais de saúde, pesquisadores e
formuladores de políticas, mas também contribuindo de modo substancial para aprimorar a gestão dessa relevante condição de saúde pública em âmbito global.

2. Metodologia

A elaboração desta revisão de literatura baseou-se nos itens do checklist PRISMA. Diante disso, a pesquisa foi realizada em seis etapas: definição da pergunta de pesquisa; identificação de estudos relacionados à pergunta de pesquisa; avaliação de título e resumo dos artigos identificados; busca pelo texto completo dos artigos selecionados; avaliação do texto completo, quando identificado; inclusão e relato dos artigos incluídos na amostra.

Inicialmente, o problema de pesquisa foi definido seguindo o formato PICO: (p) pacientes acima de 12 anos de idade com obesidade ou sobrepeso, (i) uso de semaglutida como opção terapêutica, (c) sem critérios de comparação, (o) efeitos na perda de peso. Logo, definiu-se a pergunta de pesquisa: “Há relação entre o uso de semaglutida como opção farmacológica e a perda de peso em pacientes a partir de 12 anos de idade?”.

Em um segundo momento, foi realizada pesquisa na base de dados MEDLINE utilizando as palavras-chave “semaglutida” ou “semaglutide” e “obesidade” ou “obesity”, com a condição de que os estudos tivessem sido publicados nos últimos 5 anos (2018 a 2023). Nesse momento, os estudos foram analisados por título e resumo, de modo que os artigos que não tinham relação com a pergunta de pesquisa foram excluídos.

Posteriormente, prosseguiu-se com a busca e na avaliação do texto completo dos artigos selecionados, de maneira que aqueles estudos em que não foi possível encontrar o texto completo foram excluídos. Nesse contexto, cada um dos artigos restantes foi avaliado por pelo menos dois autores, com foco na análise da metodologia, discussão e resultados.

As informações extraídas das pesquisas foram sumarizadas em uma tabela. Primeiramente, a tabela foi utilizada para a construção do trajeto de pesquisa nas diversas plataformas, e em um segundo momento para a identificação das características e realização do checklist PRISMA nos artigos para avaliar a inclusão ou não dos mesmos. Ademais, nota-se que os artigos foram agrupados em primeiro momento pelo autor, segundo: título do artigo, autores, ano de publicação, tipo de estudo, objetivo do estudo e principais achados.

3. RESULTADOS

Título do ArtigoAutor(es)Ano de Publicaçã oTipo de estudoObjetivo do estudoPrincipais achados
Efficacy and safety  of subcutaneous semaglutide in adults with overweight or obese: a subgroup meta-analysis of randomized controlled trials.Zhang, Rui; Hou, Qin-Chuan; Li, Bing-Hong; Deng, Ling; Yang, Yu-Mei;  Li, Ting-Xin; Yao, Xiao-Qin; Yang, Liang-Liang; Lin, Xi-Long; Liao, Yi-Qian; Wang, Lin; Liu, Yu-Ping; Tan, Jing; Wan, Zheng-Wei; Shuai, Ping.2023Revisão        de ensaios clínicos randomizadosAvaliar os diferentes efeitos da semaglutida no controle de peso sob diversas circunstâncias de administraçãoA semaglutida foi associada de forma estatisticamente significativa nos resultados relacionados à perda de peso, incluindo o valor absoluto da perda de peso, percentual de perda de peso, índice de massa corporal (IMC) e circunferência da cintura. Dosagem semanal elevada, duração de tratamento a longo prazo e índice de massa corporal basal severo (obesidade Classe II) foram fatores associados a maior perda de peso. Reações adversas totais ocorreram com mais frequência no grupo de administração diária do que no grupo semanal (P para interação = 0,01). Durante o tratamento, a taxa de incidência de hipoglicemia foi maior no grupo sem intervenção no estilo de vida em comparação com o grupo com intervenção no estilo de vida (P para interação = 0,04).
Oral
semaglutide 50 mg taken once per day in adults with
overweight or
obesity (OASIS 1): a randomised,
double-blind,
placebo contro lled, phase 3
trial.
Knop, Filip
K; Aroda, Vanita R; do
Vale, Ruben
D; Holst-Hansen, Thomas;
Laursen,
Peter N;
Rosenstock,
Julio;
Rubino,
Domenica M;
Garvey, W
Timothy.
2023Ensaio clínico
randomizado
Avaliar a eficácia
e a segurança do
uso da
semaglutida em
pacientes com
obesidade e sem
diabetes tipo 2
A perda de peso média no
grupo em uso de semaglutida
50mg por dia foi de 15,1% em 68 semanas, o que significou uma diferença de 12,7% em comparação com o grupo placebo. Um maior número de participantes alcançou reduções no peso corporal de pelo menos 5% (269 [85%] de 317 versus 76 [26%] de 295; odds ratio [OR] 12,6, Intervalo de Confiança de 95% 8,5 a 18,7; p < 0,0001), 10% (220 [69%] versus 35 [12%]; OR 14,7, 9,6 a 22,6), 15% (170 [54%] versus 17 [6%]; OR
17,9, 10,4 a 30,7) e 20% (107
[34%] versus 8 [3%]; OR 18,5,
8,8 a 38,9) na semana 68 com o semaglutide oral de 50 mg em comparação com o placebo.
Eventos adversos foram mais frequentes com o semaglutide oral de 50 mg (307 [92%] de 334) do que com o placebo (285 [86%] de 333). Eventos adversos gastrointestinais
(principalmente leves a moderados) foram relatados por 268 (80%) participantes que utilizaram o semaglutide oral de 50 mg e por 154 (46%) que receberam o placebo.
Two-year effect of
semaglutide
2.4 mg on
control of
eating in
adults with
overweight/ob
esity: STEP 5.
Wharton,
Sean;
Batterham,
Rachel L;
Bhatta,
Meena;
Buscemi,
Silvio;
Christensen,
Louise N;
Frias, Juan P;
Jódar,
Esteban;
Kandler,
Kristian;
Rigas,
Georgia;
Wadden,
Thomas A;
Garvey, W
Timothy.
2023Ensaio clínicoAvaliar o efeito
do uso de 2.4mg
de semaglutida
em adultos no
controle do
apetite
Nos participantes que
concluíram o Questionário de Controle da Alimentação
(semaglutida, n = 88; placebo, n = 86), as mudanças médias
no peso corporal foram de
-14,8% (semaglutida) e -2,4%
(placebo). As pontuações
melhoraram significativamente
com o semaglutida em
comparação com o placebo nos domínios de Controle do Desejo e Desejo por Alimentos Salgados nas semanas 20, 52 e 104 (p < 0,01); nos domínios
de Humor Positivo e Desejo
por Alimentos Doces nas
semanas 20 e 52 (p < 0,05); e
para fome e saciedade na
semana 20 (p < 0,001). As
melhorias nas pontuações dos domínios de desejo estavam positivamente correlacionadas com as reduções no peso corporal do início até a semana
104 com o semaglutida. Na
semana 104, as pontuações
para desejo de comer alimentos salgados e picantes, desejos
por laticínios e alimentos ricos em amido, dificuldade em resistir aos desejos e controle da alimentação foram significativamente reduzidas com o semaglutida em
comparação com o placebo
(todos p < 0,05).
Efficacy and
Safety of
Liraglutide
and Semaglutide
on Weight
Loss in People
with Obesity
or Overweight: A Systematic
Review.
Xie, Zeyu; Yang, Sensen;
Deng,
Weishang;
Li, Jinjian;
Chen, Jisheng.
2022Revisão
sistemática
Avaliar o efeito e
a segurança da
semaglutida e da liraglutida no
tratamento de
pacientes com
obesidade ou
sobrepeso
A Semaglutida 2,4 mg
apresenta uma vantagem
absoluta na perda de peso e na diminuição do HbA1c, mas a incidência de eventos adversos totais também é a mais alta, com a possibilidade de hipoglicemia. Além disso, embora o Liraglutida 3,0 mg tenha sido menos eficaz do que o Semaglutida 2,4 mg, o perfil de segurança é melhor, tendo em vista que o grupo em uso de semaglutida presenciou mais eventos adversos.
Semaglutide
2.4 Mg for the
Management
of Overweight
and Obesity:
Systematic
Literature
Review and
Meta-Analysis
Smith, Inger;
Hardy, Emily;
Mitchell, Stephen;
Batson, Sarah
2022Revisão
sistemática
Comparar os
efeitos da
semaglutida
2.4mg por
semana com
outras opções
farmacológicas
para o tratamento
da obesidade ou
sobrepeso
Em todas as populações, o
semaglutida 2,4 mg foi
associado a um maior
percentual de mudança no peso corporal em relação à linha de base após 52 semanas de tratamento, em comparação com todos os comparadores disponíveis. Em todas as
populações, o semaglutida
esteve associado a uma maior probabilidade de os
participantes perderem ≥5% do peso corporal basal após 12 semanas, em comparação com
todos os comparadores
disponíveis.
Once-Weekly
Semaglutide in
Adolescents
with Obesity.
Weghuber,
Daniel;
Barrett,
Timothy;
Barrientos-Pé rez,
Margarita;
Gies, Inge;
Hesse, Dan;
Jeppesen,
Ole K; Kelly,
Aaron S;
Mastrandrea,
Lucy D; Sørrig,
Rasmus;
Arslanian,
Silva.
2022Ensaio clínico
randomizado
Avaliar a eficácia
da semaglutida
2,4mg por semana no
tratamento da
obesidade em
pacientes
adolescentes
(entre 12 e 18
anos)
A mudança média no IMC da linha de base para a semana 68 foi de -16,1% com o semaglutida e 0,6% com o
placebo (diferença estimada,
-16,7 pontos percentuais;
intervalo de confiança de 95% [IC], -20,3 a -13,2; P < 0,001).
Na semana 68, um total de 95 de 131 participantes (73%) no grupo do semaglutida
apresentaram perda de peso de 5% ou mais, em comparação com 11 de 62 participantes (18%) no grupo do placebo
(odds ratio estimado, 14,0; IC 95%, 6,3 a 31,0; P < 0,001). As reduções no peso corporal e as melhorias nos fatores de risco
cardiometabólicos
(circunferência da cintura e
níveis de hemoglobina glicada, lipídios [exceto colesterol
HDL] e alanina
aminotransferase) foram
maiores com o semaglutide do que com o placebo. A
incidência de eventos adversos gastrointestinais foi maior com o semaglutida do que com o
placebo (62% vs. 42%). Cinco
participantes (4%) no grupo do semaglutida e nenhum
participante no grupo do
placebo apresentaram
colelitíase. Eventos adversos
graves foram relatados em 15 de 133 participantes (11%) no grupo do semaglutide e em 6 de 67 participantes (9%) no grupo do placebo.
Semaglutide
improves
cardiometabol
ic risk factors
in adults with
overweight or
obesity: STEP
1 and 4
exploratory
analyses.
Kosiborod,
Mikhail N;
Bhatta,
Meena;
Davies,
Melanie;
Deanfield,
John E;
Garvey, W
Timothy;
Khalid, Usman;
Kushner,
Robert;
Rubino,
Domenica M;
Zeuthen,
Niels; Verma,
Subodh.
2022Ensaio clínico
randomizado
Avaliar os efeitos
da semaglutida
2,4mg no risco
cardiometabólico
em pacientes com
obesidade e
sobrepeso sem
diabetes
No PASSO 1, as reduções na
circunferência da cintura, PAS, PAD, GEA, insulina sérica em jejum, lipídios e HOMA-IR foram maiores com o semaglutida em comparação com o placebo (p ≤ 0,001).
Reduções na PAS, colesterol
não-HDL, colesterol de
lipoproteína de baixa
densidade e GEA foram
geralmente maiores com o
semaglutida do que com o
placebo dentro das categorias de perda de peso. Reduções não significativas no risco de
DCV foram observadas com o semaglutida em relação ao placebo (p > 0,05). No PASSO 4, as melhorias na
circunferência da cintura, PAS, GEA, insulina sérica em jejum e lipídios durante a fase de uso do semaglutida (semana 0-20)
foram mantidas ao longo das semanas 20-68 com a
continuação do semaglutida,
mas pioraram após a troca para o placebo (p < 0,001 [semana 20-68]). Reduções líquidas no uso de medicamentos anti-hipertensivos/hipolipemia
ntes ocorreram com o
semaglutida em comparação
com o placebo (em ambos os ensaios).
Efficacy and
safety of
semaglutide
on weight loss
in obese or
overweight
patients
without
diabetes: A
systematic
review and
meta-analysis
of randomized
controlled
trials.
Gao, Xueqin;
Hua, Xiaoli;
Wang, Xu;
Xu, Wanbin;
Zhang, Yu;
Shi, Chen;
Gu, Ming.
2022Revisão
sistemática e
metanálise
Avaliar a eficácia
da semaglutida no tratamento da
obesidade ou
sobrepeso
Oito estudos envolvendo 4.567 pacientes foram incluídos na meta-análise. Comparado ao placebo, o semaglutide induziu
uma perda significativa de peso corporal (DM -10,09%; IC 95% -11,84 a -8,33; p <
0,00001), promoveu uma
redução maior no índice de
massa corporal (DM -3,71
kg/m2; IC 95% -4,33 a -3,09; p< 0,00001) e na circunferência da cintura (DM -8,28 cm; IC
95% -9,51 a -7,04; p <
0,00001), alcançou perda de
peso de mais de 5%, 10%, 15% e 20% com uma proporção maior de participantes. A semaglutida apresentou um efeito positivo na pressão arterial, proteína C-reativa e perfil lipídico, exibiu mais
efeitos adversos do que o
placebo, principalmente
reações gastrointestinais. Os resultados foram estáveis e confiáveis, com dependência de dose.

Discussão

A semaglutida é um medicamento que faz parte da classe dos análogos de GLP-1. Os análogos de GLP-1 constituem uma classe farmacológica que tem demonstrado eficácia no manejo do diabetes mellitus tipo 2. Esses agentes são concebidos para mimetizar a atividade biológica endógena do peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1), um hormônio pancreático secretado em resposta à ingestão de alimentos.

Por meio da ativação dos receptores de GLP-1, situados principalmente nas células beta pancreáticas e no trato gastrointestinal, os análogos de GLP-1 desencadeiam uma série de respostas fisiológicas propícias à regulação glicêmica.

A ação intrínseca dos análogos de GLP-1 engloba a potencialização da secreção de insulina pelas células beta pancreáticas de maneira dependente da glicose, o que reduz eficazmente a hiperglicemia pós-prandial. Adicionalmente, esses agentes inibem a liberação de glucagon, minimizando a gliconeogênese hepática e, portanto, atenuando a produção endógena de glicose. Além disso, os análogos de GLP-1 prolongam o esvaziamento gástrico, contribuindo para uma menor taxa de absorção da glicose proveniente da dieta.

4.1 Efeitos na perda de peso

O impacto terapêutico dos análogos de GLP-1 se estende além do controle glicêmico, abarcando benefícios metabólicos adicionais. A modulação do apetite é um efeito decorrente da ação central dos análogos de GLP-1, resultando em uma sensação de saciedade e influenciando positivamente a gestão do peso corporal. Esses compostos têm se mostrado particularmente relevantes em pacientes com diabetes tipo 2 que apresentam resistência à insulina e dificuldades no controle glicêmico, tendo sido associados à redução de peso também em pacientes diabéticos, além dos não-diabéticos.

A literatura revisada indica que a semaglutida foi eficiente na redução do peso corporal em pacientes obesos ou com sobrepeso, em comparação tanto com grupos placebo quanto com outras intervenções farmacológicas. No que diz respeito às vias pelas quais a semaglutida promove a perda de peso, pode-se citar como uma das principais vias a regulação do apetite e da saciedade. Quando a semaglutida é administrada, ela ativa os receptores de GLP-1 no cérebro, em áreas como o hipotálamo, que desempenham um papel crucial no controle do apetite. Essa ativação resulta em uma sensação prolongada de saciedade após as refeições, levando a uma redução na ingestão alimentar.

Além disso, a semaglutida também influencia o esvaziamento gástrico, ou seja, a velocidade com que o estômago libera o conteúdo para o intestino delgado. Essa ação retarda o esvaziamento gástrico, o que contribui para uma absorção mais lenta dos nutrientes, incluindo a glicose. Isso ajuda a manter os níveis de açúcar no sangue mais estáveis ao longo do tempo e contribui para a sensação de saciedade após as refeições.

A redução da produção de glucagon pelo pâncreas é outro mecanismo que contribui para a perda de peso induzida pela semaglutida. O glucagon é um hormônio que promove a liberação de glicose pelo fígado.

Ao inibir a produção excessiva de glucagon, a semaglutida reduz a produção hepática de glicose, o que, por sua vez, auxilia no controle dos níveis de açúcar no sangue e na perda de peso.

4.2 Efeitos sobre o risco cardiometabólico

Foram relatados, na literatura revisada, efeitos significativos sobre o risco cardiometabólico, no sentido de reduzi-lo. Isso ocorre, presumivelmente, pela redução da circunferência de cintura, da resistência insulínica, do colesterol não-HDL, da pressão arterial e dos níveis de proteína C reativa. Nesse contexto, observa-se que a semaglutida atua na melhora da saúde geral do paciente obeso, na medida em que atua também sobre as comorbidades comumente associadas.

No que concerne à redução da pressão arterial, esta pode ser explicada por alguns efeitos bioquímicos, entre os quais destaca-se o efeito direto sobre os vasos sanguíneos, na medida em que a ativação do receptores de GLP-1 pode promover a vasodilatação. Isso ocorre através do estímulo da produção de óxido nítrico, uma molécula com importante função vasodilatadora. Essa vasodilatação contribui para a redução da resistência vascular periférica e, consequentemente, para a diminuição da pressão arterial.

Outrossim, pode-se pensar na influência na regulação nervosa, já que a semaglutida também pode afetar o sistema nervoso autônomo, que controla a pressão arterial. A ativação dos receptores de GLP-1 pode modular a atividade do sistema nervoso simpático, responsável pelo aumento da pressão arterial. Ao reduzir a atividade do sistema nervoso simpático, a semaglutida pode contribuir para a diminuição dos níveis de pressão arterial.

Ademais, cabe ressaltar os efeitos metabólicos e ponderais, uma vez que a melhoria no controle glicêmico promovida pela semaglutida pode ter efeitos benéficos indiretos sobre a pressão arterial. O controle da glicemia pode ajudar a prevenir danos aos vasos sanguíneos que ocorrem devido à hiperglicemia crônica. Além disso, a perda de peso frequentemente associada ao uso da semaglutida pode contribuir para a redução da pressão arterial, de maneira que uma redução de 5% no peso corporal pode ocasionar redução de 20 a 30% na pressão arterial, segundo a 7a Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial.

4.3 Eventos adversos

A semaglutida, como um agonista do receptor de GLP-1 (peptídeo-1 semelhante ao glucagon), tem impactos variados nos processos metabólicos e gastrointestinais do organismo, alguns dos quais podem influenciar a formação de cálculos biliares.

Na literatura revisada, observou-se relato de colelitíase em pacientes tratados com semaglutida. Um dos mecanismos pelos quais a semaglutida pode contribuir para a colelitíase está relacionado ao retardo do esvaziamento gástrico que ocorre após a sua administração. Esse retardo pode levar a uma estase prolongada da bile na vesícula biliar, criando um ambiente propício para a cristalização e formação de cálculos biliares.

Além disso, a bile mais concentrada devido à estase pode favorecer o acúmulo de componentes que compõem os cálculos.

Além disso, a perda de peso associada ao uso da semaglutida pode contribuir para o aumento do risco de colelitíase. A rápida perda de peso, especialmente em indivíduos com sobrepeso ou obesidade, pode levar a mudanças na composição da bile e à redução do fluxo biliar, o que também pode favorecer a formação de cálculos biliares (MANCINI, 2001).

Observou-se também a ocorrência de hipoglicemia, que pode estar associada com o uso de outras medicações hipoglicemiantes em associação, no caso de pacientes diabéticos; jejuns prolongados, devido à saciedade gerada pela semaglutida e com altas doses, de maneira que mais pesquisas devem avaliar a dose ideal para cada pessoa.

5 Conclusão

A partir da análise dos artigos revisados, evidencia-se que a semaglutida foi eficiente na redução de peso e no controle do apetite, especialmente em comparação com outras opções farmacológicas disponíveis.

Além disso, observou-se ação na redução da hemoglobina glicada, na diminuição do risco cardiometabólico— associado ao controle do colesterol VLDL, redução da pressão arterial, dos níveis de proteína C reativa (PCR) e da circunferência de cintura. Esses achados indicam que a semaglutida é uma opção a ser considerada no tratamento da obesidade por atuar não só no controle do peso corporal, mas também no que concerne às comorbidades comumente associadas, como diabetes, dislipidemia e doenças cardiovasculares.

No entanto, houve relato de mais efeitos adversos relacionados à semaglutida comparativamente a outras drogas, como a liraglutida, por exemplo. Esses efeitos incluíram não só, mas especialmente eventos adversos gastrointestinais; hipoglicemia e colelitíase.

Nesse contexto, foi observada uma relação dose-dependente, de maneira que os pacientes submetidos à dose de 50mg por dia relataram mais eventos adversos gastrointestinais (80%) em relação ao grupo submetido à dose de 2.4mg por semana (62%). Diante disso, evidencia-se a necessidade de mais estudos avaliando a resposta terapêutica e a incidência de eventos adversos em diferentes doses, de maneira a padronizar o tratamento do paciente com obesidade da melhor forma possível.

Referências

BRASIL. Um em cada quatro adultos do país estava obeso em 2019; Atenção Primária foi bem avaliada.
Agência IBGE Notícias Estatísticas Sociais, 2019. Disponível em: Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/29204um-em-cada-quatro-adultos-do-pais-estava-obeso-em-2019. Acesso em: 03 de agosto de 2023.

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1. Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU)
2. Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário Santa Maria (UNIFSM) 
3. Graduanda em Medicina pela Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS) 
4. Graduando em Medicina pela Universidade Estadual de Pernambuco (UPE) 
5.Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU)
6. Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário Santa Maria (UNIFSM) 
7. Graduanda em Medicina pela Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS) 
8. Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU)
9. Graduando em Medicina pelo Centro Universitário Santa Maria (UNIFSM) 
10. Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário Santa Maria (UNIFSM)