EFEITOS DO RESFRIAMENTO DE CONCRETO EXPOSTOS À ALTAS TEMPERATURAS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10085121


Giovanna Castro Giles
Luan Mantuan Maiero
Wenderson Alexandre de Sousa Silva Perfe


Resumo

O concreto é amplamente utilizado na construção civil devido à sua resistência e durabilidade. Porém, quando exposto a altas variações de temperaturas, suas propriedades podem ser comprometidas. Tendo isso em vista, é necessário estudar os efeitos do resfriamento do concreto após sofrer uma alta temperatura, para garantir a segurança e qualidade dessa estrutura. Foi, então, realizada uma pesquisa bibliográfica analítico-exploratória que buscou compreender os efeitos da exposição do concreto a altas temperaturas e ao resfriamento, identificando técnicas que podem medir o impacto nas características do concreto. Observa-se que a diminuição da resistência à compressão e a mudança na cor do concreto são efeitos primários evidentes após a exposição a altas temperaturas. Além disso, a desidratação do cimento e a degradação das pontes de hidratação são responsáveis pela perda de resistência. Ressalta-se, ainda, a importância de analisar o tipo de resfriamento, entre lento e brusco, pois o resfriamento brusco causa danos mais significativos, assim como a escolha do método de resfriamento, pois este deve considerar as condições específicas de cada estrutura, sendo fundamental realizar análises e estudos específicos para cada caso, levando em conta a temperatura máxima alcançada, a duração da exposição e a composição do concreto.

Palavras-chave: Construção; Engenharia; Concreto; Calor; Resistência; Resfriamento.

Abstract

Concrete is widely used in civil construction due to its strength and durability. However, when exposed to high temperature variations, its properties can be compromised. With this in mind, it is necessary to study the effects of cooling concrete after suffering a high temperature, to guarantee the safety and quality of this structure. An analytical-exploratory bibliographic research was then carried out to understand the effects of exposing concrete to high temperatures and cooling, identifying techniques that can measure the impact on the characteristics of the concrete. Note that decreased resistance to variation and change in color of concrete are primary effects evident after exposure to high temperatures. Furthermore, dehydration of the cement and manipulation of hydration bridges are responsible for the loss of strength. It is also important to highlight the importance of analyzing the type of cooling, between slow and sudden, as sudden cooling causes more significant damage, as well as the choice of cooling method, as this must consider the specific conditions of each structure, being fundamental carrying out of specific analyzes and studies for each case, taking into account the maximum temperature reached, the duration of exposure and the composition of the concrete.

Keywords: Construction; Engineering; Concrete; Heat; Resistance; Cooling.

1. Introdução

O concreto está presente na sociedade a séculos, impulsionado durante a revolução industrial. O mesmo está presente de forma assídua nas obras e construções de diversas regiões do mundo (RIBEIRO, 2002).

Suas principais características de destaque são a resistência e a durabilidade, se tornando então um produto propício para as obras devido sua versatilidade (SOUZA, 2016).

Assim como os demais materiais, o concreto também sofre impactos devido as alterações do calor, o que pode comprometer sua resistência e sua qualidade.

A necessidade de um estudo abrangente sobre os efeitos do resfriamento de concreto, exposto a altas temperaturas, é fundamental para garantir a segurança e a qualidade das estruturas de engenharia.

O concreto, amplamente utilizado na construção civil, é submetido a condições extremas durante incêndios, terremotos e raios. Nessas situações, podem resultar em mudanças significativas em suas propriedades físicas e mecânicas.

As técnicas de resfriamento são empregadas para controlar a taxa de resfriamento do concreto e minimizar os efeitos adversos decorrentes da exposição ao calor intenso, conforme observado por Santos (2019). Portanto, a compreensão das alterações causadas pelo resfriamento do concreto colabora com o desenvolvimento de técnicas e estratégias eficazes para lidar com essas situações, assim como guia os profissionais a saberem como lidar de maneira mais apropriada (LORENZON, 2014).

Tendo isso em vista, essa pesquisa tem como objetivo, compreender os efeitos do resfriamento de concreto exposto a altas temperaturas, analisando como ocorre a absorção de calor, as suas características e por fim, identificado os efeitos da exposição do concreto a alta temperatura seguida de resfriamento, observando os elementos que podem prejudicar as características do concreto. Para tanto, foi realizado uma pesquisa bibliográfica em caráter analítico- exploratório, possibilitando a investigação de tais temáticas (SEVERINO, 2017).

2. Revisão bibliográfica

2.1 Concreto

O uso do concreto na construção civil é amplamente difundido e tem desempenhado um papel fundamental ao longo da história da humanidade. O concreto é um material composto, resultante da mistura de aglomerantes, agregados e água, que forma uma massa moldável e resistente quando endurecida.

A origem do uso do concreto remonta a civilizações antigas, como os romanos, que já utilizavam uma forma primitiva dessa substância em suas construções (COSTA et al., 2002).

2.1.1 História

No contexto histórico, o uso do concreto teve um grande avanço durante a Revolução Industrial, no século XIX, com o desenvolvimento de técnicas de produção em massa e o aperfeiçoamento das propriedades do material. A descoberta do cimento Portland, em meados do século XIX, foi um marco importante para o progresso do concreto como material de construção (RIBEIRO, 2002).

Observado por Souza (2016), a história do concreto utilizado nas construções remonta a antiguidade. O concreto romano foi o primeiro material artificial fabricado e utilizado em larga escala na construção, representando um avanço técnico significativo para a época. No entanto, é necessário ressaltar que os romanos não empregavam o sistema de formas de concreto como conhecemos hoje. Ao invés disso, eles fabricavam peças de construção em concreto, principalmente tijolos, e aproveitavam ao máximo a excelente capacidade de compressão dos materiais. Outra técnica amplamente utilizada era o preenchimento do interior das paredes com pedras e tijolos quebrados, entre camadas de argamassa de cal, pozolana e areia. Essa técnica é conhecida, atualmente, como concreto ciclópico (SOUZA, 2016).

Figura 1: Concreto ciclópico utilizado pelos romanos (SOUZA, 2016, p.18)

Souza (2016) ressalta que a contribuição dos romanos para o desenvolvimento da arquitetura e engenharia foi essencial para a sociedade, assim como o cimento desempenhou um papel importante na obtenção de um material que apresentava características cruciais, tais como impermeabilidade, estanqueidade, resistência e facilidade de moldagem. Os romanos utilizaram amplamente esse material em suas obras: sua utilização foi direcionada à produção de materiais resistentes, como o concreto, como exemplificado pelos alvéolos presentes na cúpula do Panteão. Filho (2023) ressalta que o desenvolvimento do cimento ocorreu por meio do controle da hidraulicidade, através da mistura entre o calcário e argila. Esse cimento era fabricado por meio do aquecimento dos dois componentes, eliminando as partículas de CO2. Já o cimento moderno foi criado apenas em 1845, pelo Isaac Johson, o qual queimou uma mistura de argila e de greda (giz) até a formação do clinquer, possibilitando então, as reações fundamentais para a formação dos compostos responsáveis pela sua resistência. Além disso, de acordo com o autor:

“O nome “cimento Portland” foi adotado devido a semelhança de cor e de qualidade do cimento hidratado com a pedra de Portland, sendo empregado até os dias atuais para designar um aglomerante obtido pela mistura harmônica de materiais calcários e argilosos, ou outros materiais contendo sílica e/ou alumina e/ou óxido de ferro, aquecidos a uma temperatura necessária para a clinquerização” (FILHO, 2023, p. 17).

A versatilidade do concreto permite sua aplicação em diversos tipos de estruturas, desde fundações e pilares até lajes e paredes. Além disso, sua resistência mecânica e durabilidade fazem dele um material de grande valor para construções de grande porte, como pontes, barragens e arranha-céus. O concreto armado, consiste na inserção de armaduras metálicas em sua composição, possibilitando maior capacidade de suportar cargas e o torna ainda mais resistente (SOUZA, 2016).

No entanto, o uso do concreto não se limita apenas à resistência estrutural. Conforme ressaltado por Couto, et al. (2013), ele também é utilizado para fins estéticos, como em elementos arquitetônicos, fachadas e revestimentos. Nesses casos, o concreto pode receber diferentes acabamentos, como polimento, texturização e coloração, proporcionando uma variedade de possibilidades estéticas.

2.1.2 Concreto na atualidade

Outro aspecto importante é a influência das inovações tecnológicas no desenvolvimento do concreto. Atualmente, novas técnicas e aditivos têm sido empregados para melhorar suas propriedades, como a resistência ao fogo, ao desgaste e à corrosão. Pesquisas e estudos têm sido realizados para tornar o concreto ainda mais sustentável, buscando reduzir seu impacto ambiental e promover a economia de recursos naturais (LIMA et al., 2014).

Apesar de todas as vantagens do concreto, é importante considerar também suas limitações. O concreto pode sofrer fissuras devido à retração durante a secagem e à variação de temperatura. Além disso, sua resistência diminui em altas temperaturas, o que pode comprometer a estabilidade de uma estrutura em caso de incêndio (NEVILLE, 2013).

2.2 Concreto submetido a altas temperaturas

A exposição do concreto a altas temperaturas é um fenômeno que pode resultar em alterações significativas nas propriedades físicas e mecânicas.

Ao ser submetido a temperaturas elevadas, o concreto pode sofrer degradação, comprometendo sua resistência e durabilidade (Lima et al. 2004). Segundo Rocha (2018), a exposição a altas temperaturas causa alterações na microestrutura do concreto, e resulta em baixa resistência e aumento da porosidade. Essas mudanças ocorrem devido a processos como a evaporação da água presente no concreto, a desidratação do cimento e a expansão térmica dos componentes do material. A deterioração do concreto exposto ao calor pode levar ao surgimento de fissuras, lascamentos e até mesmo ao colapso estrutural (FERNANDES, et al. 2017).

Conforme observado por Santos (2019), existem três principais mecanismos de transmissão de calor: convecção, radiação e condução. Estes fenômenos desempenham papéis distintos na transferência de energia térmica e influenciam o comportamento do concreto quando exposto a altas temperaturas.

A convecção é o processo de transferência de calor por meio do movimento de um fluido, como o ar ou a água, que atua como meio de transporte para a energia térmica. Santos (2019), destaca que a convecção pode ser natural, quando ocorre devido às diferenças de densidade e consequentemente o movimento do fluido, ou forçada, quando é induzida por algum dispositivo externo. No caso do concreto, a convecção pode ocorrer pela circulação de ar quente próximo à superfície exposta, levando a uma transferência mais eficiente do calor. De acordo com o autor:

“O mecanismo de transferência de calor por convecção, em geral, é bastante complexo e depende de numerosos fatores, tais como:
– Diferença de temperatura entre o ar e o corpo;
– Velocidade de deslocamento do ar (vento);
– Propriedades físicas e térmicas do ar;
– Natureza, forma, rugosidade, dimensões e orientação do corpo”(SANTOS, 2019, p. 6).

Conforme destacado por Santos (2019), Newton estudou a propagação de calor por unidade de tempo Qc. Idealizando a equação baseada na fórmula de Fourier, que é conhecida como a Lei de Resfriamento de Newton, em que h representa a condutância convectiva térmica unitária, A,é a área superficial de contato com o fluido, Ts é a temperatura da superfície e Tf é a temperatura do fluido perturbado distante da superfície transmissora de calor. Quando dividido Qc pela área superficial A, é obtido o fluxo de calor transferido porconvecção qc.

Já a radiação térmica é a transferência de calor por meio da emissão e absorção de radiação eletromagnética. Santos (2019), explica que todos os corpos emitem radiação térmica devido à sua temperatura. No caso do concreto exposto a altas temperaturas, ele irradia calor na forma de radiação infravermelha. A radiação térmica é capaz de atravessar o espaço vazio e aquecer corpos distantes, sem a necessidade de um meio material. Esse fenômeno é essencial para a propagação do calor em ambientes onde não há contato físico direto. Conforme destacado por Santos (2019), o mecanismo de transmissão de calor por radiação não depende do material para se propaga. Sua avaliação ocorre por meio da lei de radiação de Stefan-Boltzmann, em que a quantidade total de energia radiante por unidade de área que emite uma superfície à temperatura absoluta Tabs. Conforme destacado abaixo:

Cabs – Constante de Stefan- Boltzmann
F- Fator de forma
E – emissividade

Por fim, a condução térmica é o processo de transferência de calor através de um meio sólido, líquido ou gasoso. O qual as moléculas ou átomos transmitem energia térmica uns aos outros. Santos (2019), ressalta que o concreto é um material com baixa condutividade térmica, onde o mesmo não conduz calor de maneira eficiente. No entanto, em altas temperaturas, ocorrem mudanças nas propriedades térmicas do concreto, como a diminuição da sua resistência e o aumento da sua condutividade térmica. Podendo levar a uma maior transferência de calor através da condução no material.

Devido a lei de Stefan-Boltzmann, é possível calcular por meio de um único coeficiente o conjunto de transferência h de calor dos três mecanismos analisados. Sendo que o h seria o coeficiente de transferência de calor por radiação. Segundo abaixo:

De acordo com Santos (2019), a lei de Stefan-Boltzmann desempenha um papel fundamental no cálculo do coeficiente de transferência de calor por radiação, é representado por “h”. Essa lei estabelece uma relação direta entre a emissividade de um corpo e a taxa de transferência de calor por radiação. A lei de Stefan- Boltzmann estabelece que a taxa de transferência de calor por radiação é proporcional à quarta potência da diferença de temperatura entre a superfície de um corpo e o ambiente. Com base nessa equação, é possível calcular a taxa de transferência de calor por radiação em um corpo de concreto exposto a altas temperaturas. Abaixo é possível verificar os mecanismos de transferência de calor em uma estrutura de concreto.

Figura 2: Transferência de calor em uma estrutura de concreto em fase de construção (Santos,2019)

Para compreender o comportamento do concreto em altas temperaturas, são realizados cálculos de resistência ao calor. Nince (2006), explica que estes cálculos consideram diversos fatores, como a temperatura de exposição, o tipo de concreto utilizado, a taxa de aquecimento, a umidade relativa e a geometria da estrutura. Essas informações são utilizadas para determinar a temperatura máxima.

Assim como a medição da temperatura em uma estrutura de concreto exposta a altas temperaturas é um aspecto fundamental para a análise do seu comportamento térmico. Santos (2019), destaca que essa medição pode ser feita por meio de termopares ou termômetros infravermelhos. Os termopares são sensores que fornecem dados precisos sobre a temperatura do concreto em pontos específicos. Enquanto os termômetros infravermelhos permitem a medição remota da temperatura em uma área maior.

Santos (2022), ressalta a importância das simulações numéricas e dos modelos computacionais na análise do comportamento do concreto em altas temperaturas. Essas ferramentas permitem simular o processo de aquecimento do concreto, considerando suas propriedades térmicas e mecânicas, bem como as condições ambientais e de carregamento. Dessa forma, é possível obter informações detalhadas sobre a resposta térmica do concreto e avaliar os efeitos das altas temperaturas em diferentes situações.

3. Metodologia

3.1 Critério de seleção dos estudos

Os materiais utilizados foram selecionados por meio dos critérios de inclusão, como: artigos, livros, teses e dissertações em língua portuguesa, que contemplassem a temática, encontrados pelas seguintes palavras-chave: Construção; Engenharia; Concreto; Calor; Resistência; Resfriamento.

3.2 Fontes de informações consultadas

Para constituir essa pesquisa, utilizamos a base de dados do google acadêmico e inserimos as seguintes palavras chaves: Construção; Engenharia; Concreto; Calor; Resistência; Resfriamento. Em seguida, selecionamos algumas pesquisas pelo título e, posteriormente, lemos os materiais selicionados e filtramos os mais relevantes para serem utilizados nessa revisão.

3.3 Análise de dados coletados

Coletamos dados a partir de 23 materiais diversificados, entre eles artigos, livros, teses e dissertações. O que permite obter resultados mais precisos sobre o tema. Foi possível identificar o contexto histórico do uso do concreto na sociedade, assim como as questões termodinâmicas que o envolvem, como sua resistência e o efeito do resfriamento do concreto que foi exposto a altas temperaturas.

4. Resultado e discussão

4.1 Processo de resfriamento do concreto

O processo de resfriamento do concreto desempenha um papel crucial na sua qualidade, resistência e durabilidade. É especialmente importante quando o concreto é submetido a altas temperaturas, como em situações de incêndio ou durante a cura inicial.

Diversas técnicas de resfriamento são empregadas para controlar a taxa de resfriamento do concreto e minimizar os efeitos adversos decorrentes da exposição ao calor intenso. Conforme observado por Santos (2019), a transferência rápida de calor, especialmente em elementos de concreto mais espessos, é um fenômeno amplamente observado. Evidenciado que a superfície do concreto, em contato com o ambiente, perde calor de maneira mais rápida do que o núcleo do elemento de concreto, consequentemente, a temperatura da superfície sofre um aumento muito menor do que no interior do concreto. Sendo que, à medida que a temperatura aumenta, ocorre a propagação do calor a partir do núcleo, expandindo a zona de influência térmica na superfície, durante esse período.

Destaca-se que o concreto apresenta um módulo de elasticidade relativamente baixo. Resultando na absorção da tensão térmica por meio da fluência. Em seguida, durante um período subsequente, o concreto ganha rapidamente tanto resistência quanto rigidez. É válido mencionar que a zona central contrai-se mais do que a zona da superfície, onde a temperatura é mais alta em comparação com a proximidade da mesma. A contração abrupta da zona da superfície, que é restringida pela zona do núcleo, resulta em tensões de tração na superfície. Se a tensão de tração ou a capacidade de deformação do concreto forem excedidas, fissura podem ocorrer, prejudicando a capacidade de resistência do concreto.

Figura 3: Processo de compressão e tração (Santos, 2019, p. 17).

De acordo com Nunes (2018), o resfriamento do concreto após a exposição a altas temperaturas é essencial para prevenir a ocorrência de danos, como a formação de fissuras e a perda de resistência. O choque térmico pode levar a um rápido resfriamento do concreto, resultando em tensões internas que comprometem a sua integridade estrutural. Técnicas adequadas de resfriamento são adotadas para promover uma transição gradual de temperatura e minimizar os efeitos negativos.

Dentre as técnicas de resfriamento, uma das mais utilizadas é a aplicação de água ou nebulização sobre a superfície do concreto, conhecida como resfriamento por aspersão. Silva (2019), destaca que essa técnica promove a dissipação de calor por meio da evaporação da água, reduzindo a temperatura do concreto de maneira controlada. A utilização de agentes de resfriamento, como gelo ou nitrogênio líquido, também é empregada para acelerar o resfriamento do concreto em situações emergenciais.

Outra técnica de resfriamento é a imersão do concreto em tanques de água, conhecida como resfriamento por imersão. Coelho et al. (2020), relata que essa abordagem permite um resfriamento mais uniforme do concreto, evitando a ocorrência de tensões internas decorrentes de resfriamentos desiguais em diferentes partes da estrutura. É importante considerar a taxa de resfriamento adequada para evitar a formação de fissuras devido à diferença brusca de temperatura.

É fundamental ressaltar que a escolha da técnica de resfriamento depende dediversos fatores, como a natureza da estrutura, a espessura do concreto, a taxa de aquecimento e a temperatura máxima atingida.

Bueno (2019), destaca a importância de realizar estudos experimentais para avaliar os impactos das diferentes técnicas de resfriamento na resistência residual do concreto após a exposição a altas temperaturas. Santos (2019), ressalta que um resfriamento inadequado pode resultar em fissuras e redução da resistência do concreto. Por outro lado, um resfriamento controlado e adequado pode minimizar os danos causados pelo calor intenso, preservando as características mecânicas e estruturais do concreto.

4.2 Efeitos da exposição do concreto à altas temperaturas, perante ao resfriamento

O resfriamento do concreto exposto a altas temperaturas é um aspecto crucial a ser considerado, uma vez que a exposição térmica pode causar uma série de efeitos e mudanças no material, um dos efeitos mais evidentes é a diminuição da resistência à compressão do concreto.

Souza e Moreno (2010), destacam que as altas temperaturas afetam a estrutura cristalina do material, promovendo a desidratação do cimento e a degradação das pontes de hidratação, resultando em uma perda considerável de resistência e capacidade de suportar cargas.

Wendt (2006), aponta que o concreto exposto a alta temperatura pode apresentar mudanças na cor, o que pode servir como um indicativo das temperaturas alcançadas e da degradação térmica. Isso ocorre devido à oxidação dos pigmentos presentes no concreto, resultando em uma coloração mais escura ou até mesmo em manchas visíveis. Observado por Lorenzon (2014), a variação da cor do concreto varia de acordo coma temperatura em que o mesmo é exposto. Sendo exemplificada abaixo:

Figura 4: Modificação da coloração do concreto sob altas temperaturas (CANOVAZ(1988) apud. LORENZON (2014))

Outro efeito importante é a redução na durabilidade do concreto. A exposição a altas temperaturas pode acelerar o processo de carbonatação e corrosão das armaduras, devido à degradação do filme passivo de óxido de ferro que protege o aço, aumentando o risco de deterioração estrutural e comprometimento da vida útil da estrutura de concreto. As mudanças nas propriedades físicas do concreto também são observadas após a exposição a altas temperaturas. Vanalli et al. (2021), menciona que o aumento da temperatura pode resultar em uma redução na velocidade de propagação das ondas ultrassônicas no concreto, o que indica uma alteração na microestrutura e na rigidez do material.

É importante ressaltar que o impacto dessas mudanças e efeitos depende de diversos fatores, como a temperatura máxima alcançada, a duração da exposição e a composição do concreto. É fundamental realizar análises e estudos específicos para cada caso, a fim de avaliar o grau de deterioração e adotar medidas adequadas de reparo e reforço estrutural.

Lorenzon (2014), ressalta que o resfriamento do concreto pode ocorrer de duas formas, da forma lenta ou brusca, o resfriamento lento refere-se à redução gradual da temperatura do concreto exposto a altas temperaturas. Esse processo é realizado de forma controlada, permitindo que o concreto se adapte gradualmente às mudanças térmicas. Destaca-se que o resfriamento lento pode resultar em uma menor formação de tensões internas, proporcionando uma maior preservação das propriedades mecânicas do material. Isso ocorre porque o resfriamento gradual permite que o concreto se contraia de maneira uniforme, reduzindo o risco de fissuras e danos estruturais.

Por outro lado, o resfriamento brusco envolve a rápida redução da temperatura do concreto, exposto a alta temperatura. Esse método de resfriamento pode ser aplicado através de técnicas como o jateamento de água, imersão em líquidos refrigerantes ou uso de ar comprimido resfriado. Lorenzon (2014), destaca que o resfriamento brusco pode resultar em tensões térmicas elevadas e diferenças de temperatura significativas entre a superfície e o núcleo do concreto, podendo levar à formação de fissuras e danos estruturais devido à contração desigual do material. Sua análise determinou que de fato o resfriamento brusco causa mais danos ao concreto, tendo uma variação máxima de 14% em comparação aos concretos expostos ao resfriamento lento. Assim como é destacado por Lima (2005), que as propriedades químicas do concreto também podem ser alteradas devido ao processo de exposição a altas temperaturas e ao resfriamento.

5. Considerações finais

A diminuição da resistência à compressão do concreto após exposição a altas temperaturas foi um dos efeitos mais evidentes identificados por Souza e Moreno (2010), este fenômeno está diretamente relacionado à alteração da estrutura cristalina do material, resultando na desidratação do cimento e na degradação das pontes de hidratação. Consequentemente, ocorre uma perda considerável de resistência e capacidade de suportar cargas.

A mudança na cor do concreto exposto a altas temperaturas, conforme apontado por Wendt (2006), pode servir como um indicativo das temperaturas alcançadas e da degradação térmica ocorrida. Essa alteração ocorre devido à oxidação dos pigmentos presentes no concreto, resultando em uma coloração mais escura ou até mesmo em manchas visíveis. Tendo em vista que a variação da cor do concreto está diretamente relacionada à temperatura em que o material é exposto. O concreto exposto a altas temperaturas pode apresentar uma redução na durabilidade, a aceleração dos processos de carbonatação e corrosão das armaduras é um dos fatores responsáveis por essa diminuição, devido à degradação do filme passivo de óxido de ferro que protege o aço. Esses processos aumentam o risco de deterioração estrutural e comprometem a vida útil da estrutura de concreto.

Diante do contexto do resfriamento do concreto exposto a altas temperaturas. O estudo de Lorenzon (2014), enfatizou a importância da escolha adequada entre o resfriamento lento e brusco, tendo em vista que o resfriamento lento, realizado de forma controlada e gradual, permite que o concreto se adapte às mudanças térmicas, reduzindo o risco de fissuras e danos estruturais. Já o resfriamento brusco, que ocorre de forma rápida, pode resultar em tensões térmicas elevadas e diferenças de temperatura significativas entre a superfície e o núcleo do concreto, aumentando o risco de fissuras e danos.

Os estudos analisados, como os de Bueno (2019) e Coelho et al. (2020), ressaltam que o resfriamento brusco causa danos mais significativos ao concreto em comparação ao resfriamento lento. A variação máxima de 14% foi observada nos concretos submetidos ao resfriamento brusco, evidenciando a importância de considerar cuidadosamente o método de resfriamento de acordo com as condições específicas de cada estrutura.

Por fim, é fundamental destacar que o impacto das mudanças e efeitos mencionados depende de vários fatores, como a temperatura máxima alcançada, a duração da exposição e a composição do concreto, portanto, é essencial realizar análises e estudos específicos para cada caso, a fim de avaliar o grau de deterioração e adotar medidas adequadas de reparo e reforço estrutural, assim como fica aberta a necessidade de um estudo físico comparativo para avaliar as alterações do concreto diante tais situações.

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