EFEITOS DO EXERCÍCIO AERÓBICO NO QUADRO DE FADIGA ONCOLÓGICA EM PACIENTES SUBMETIDOS A QUIMIOTERAPIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

TIENTS UNDEFFECTS OF AEROBIC EXERCISE ON CANCER FATIGUE IN PAERGOING CHEMOTHERAPY: AN INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7496681


Marcelly Martins de Oliveira¹
Izabell Karlla do Nascimento Barros Barbosa¹
Orientadora: Profª Maria Carolina da Silva Cardoso Nanque²


RESUMO

Introdução: A fadiga oncológica é um sintoma recorrente e debilitante que afeta frequentemente pacientes em tratamento quimioterápico, apesar de comum recebe pouca atenção quanto ao seu tratamento, o exercício aeróbico vem se mostrando um aliado a pacientes fragilizados com essa sintomatologia.Com isso tem-se pesquisando sobre a eficácia do exercício aeróbico em pacientes oncológicos. Objetivo: Esse estudo tem a finalidade de analisar o potencial do exercício aeróbico como intervenção para a melhora no quadro de fadiga oncológica em pacientes submetidos ao tratamento quimioterápico. Métodos: Trata-se de uma revisão integrativa onde foram selecionadas as publicações mais relevantes sobre o tema abordado com intuito de descrever o efeito do treinamento aeróbico no quadro de fadiga oncológica. Os artigos provenientes desta obra foram retirados tanto da literatura internacional como da nacional, utilizando as bases de dados: PubMed, SciELO, Biblioteca virtual em saúde (BVS), LILACS e PEDro que discorrem sobre o tema. Ao termino do levantamento em literatura, em cada base de dados foram exclusos os artigos que não se enquadravam nos critérios de elegibilidade. Os trabalhos que se adequaram aos critérios estabelecidos para inclusão foram utilizados para confecção desta obra. Resultados e Discussão: Os resultados apresentados neste trabalho mostram que o exercício aeróbico na fadiga oncológica se mostra promissor tendo efetividade nos pacientes que são submetidos ao tratamento quimioterápico a curto e longo prazo, dos 6 estudos utilizados na discussão desse trabalho, 4 corroboram para a efetividade da intervenção com exercício aeróbico. Considerações finais: O treinamento aeróbico é considerado benéfico a curto e longo prazo em pacientes com fadiga oncológica, demonstrando efeitos positivos aos pacientes quando utilizado isoladamente e em conjunto a outras modalidades de exercício.

Palavras-chave: quimioterapia; exercício aeróbico; fadiga.

ABSTRACT

Introduction: Oncologic fatigue is a recurrent and debilitating symptom that often affects patients undergoing chemotherapy, although recurrent receives little attention regarding its treatment, aerobic exercise has been shown to be an ally to patients who are embroiled in this symptomatology. This has been researched on the efficacy of aerobic exercise in cancer patients. Objective: This study aims to analyze the potential of aerobic exercise as an intervention for improvement in oncologic fatigue in patients undergoing chemotherapy. Methods: This is an integrative review where the most relevant publications on the theme addressed were selected in order to describe the effect of aerobic training on the framework of oncologic fatigue. The articles from this work were taken from both international and national literature, using the databases: PubMed, SciELO, Virtual Health Library (VHL), LILACS and PEDro that discuss the theme. At the end of the literature survey, articles that did not fit the eligibility criteria were excluded in each database. The works that met the criteria established for inclusion were used to make this work. Results and Discussion: The results presented in this study show that aerobic exercise in oncologic fatigue is promising and is promising in patients who are submitted to chemotherapy treatment in the short and long term, of the 6 studies used in the discussion of this study, 4 corroborate for the effectiveness of the intervention with aerobic exercise. Final considerations: Aerobic training is considered beneficial in the short and long term in patients with oncologic fatigue, demonstrating positive effects to patients when used alone and in conjunction with other exercise modalities. Keywords: chemotherapy; aerobic exercise; fatigue.

Keywords: chemotherapy; aerobic exercise; fatigue.

1 INTRODUÇÃO

A fadiga oncológica apresenta uma estreita relação ao tratamento oncológico ligado a quimioterapia, sendo a fadiga uma experiência comum aos seres humanos e que geralmente melhora com um período adequado de descanso, porém em pacientes no tratamento contra o câncer pode se tornar persistente e crônica, sendo descrita por esses pacientes como desagradável e angustiante1,2.

Conforme Mota et al. (2005)1 não existe consenso na literatura sobre a definição de fadiga, porém é comum observar nas definições descritas por diversos autores sobre a questão multifatorial dos sintomas que são narrados como uma sensação de cansaço persistente não sendo aliviado com repouso, provocando angústia, sintomas cognitivos e psicológicos além dos físicos, com variação de intensidade, afetando a capacidade dos pacientes de desenvolverem suas atividades usuais.

Perante essa situação, o exercício físico já vem sendo recomendado como intervenção terapêutica para a sintomatologia decorrente do câncer ou de seu tratamento há algum tempo, seus benefícios tem se mostrado eficientes tanto durante o tratamento como após ele. Seus benefícios vão desde a prevenção até intervenção terapêutica, beneficiando o paciente de diversas formas, atuando no funcionamento cardiovascular e cardiorrespiratório, melhorando a composição corporal, sistema imunológico, e manutenção do aparelho osteomioarticular, proporcionando ao paciente a manutenção e melhora de suas atividades de vida diária refletindo na sua imagem corporal, auto estima e humor3,4.

Estudos sobre a intervenção fisioterapêutica por meio de programas de exercício aeróbico levam em consideração diversos fatores, como a individualidade dos pacientes, os tipos de câncer, uso de técnicas associadas, intensidade do exercício, frequência de treino, e local onde a técnica será aplicada, para melhor avaliar o declínio funcional por queda dos níveis de energia e força, visando como essas afecções podem ser melhoradas3,4,5.

No pretérito os pacientes em tratamento contra o câncer eram orientados a repousar e evitar aos máximos esforços e atividades físicas no intuito de evitar ou diminuir a sensação de cansaço e fadiga. Todavia, a algum tempo já se sabe que o repouso excessivo e falta de atividade física afeta e reduzem, limitando-os nas suas atividades de vida diária, e na sua grande maioria vem somado para instauração da depressão e no declínio do funcionamento mental4.

A fadiga pertinente ao tratamento oncológico é uma barreira bastante comum, estando presente em grande parte dos pacientes com câncer, o tratamento desse sintoma é importante pois a partir de seu tratamento diversos fatores podem obter melhora desde sintomas físicos até o emocionais.

Esse estudo tem como finalidade analisar o potencial do uso do exercício aeróbico como intervenção terapêutica na melhora do quadro de fadiga oncológica em pacientes submetidos ao tratamento quimioterápico. Com isso, foi feito um levantamento na literatura com intuito de verificar a utilização do exercício aeróbico na melhora da fadiga oncológica, tendo como proposito principal essa obra, averiguar em dois pontos principais, são eles, se há benefícios do exercício aeróbico na melhora da fadiga oncológica, se os resultados obtidos são satisfatórios.

2 MÉTODOS

Trata-se de uma revisão integrativa, onde foram percorridas as seguintes etapas: estabelecimento da hipótese e objetivos da revisão integrativa; estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão de artigos (seleção da amostra como mostra o fluxograma); definição das informações a serem extraídas dos artigos selecionados; análise dos resultados; discussão e apresentação dos resultados. A pergunta condutora é: O exercício físico do tipo aeróbico é eficaz no sintoma da fadiga oncológica em pacientes submetidos ao tratamento quimioterápico?

Para a seleção dos artigos foram utilizadas as seguintes bases de dados on line: PubMed, Scielo, Biblioteca virtual em saúde (BVS), LILACS e PEDro. Os critérios de inclusão dos artigos definidos para a presente revisão integrativa foram: artigos publicados em português ou inglês, com os resumos disponíveis nas bases de dados selecionadas, no período compreendido entre 2003-2021; artigos publicados cuja metodologia adotada permitissem obter evidências fortes (níveis 1 ou 2), ou seja, síntese das evidências de todos relevantes ensaios clínicos e randomizados, ou ensaio clínico randomizado controlado bem delimitado.

Em virtude das características específicas para o acesso das cinco bases de dados selecionadas, as estratégias utilizadas para localizar os artigos foram adaptadas para cada uma das palavras chaves e os critérios de inclusão da revisão integrativa, previamente estabelecidos para manter a coerência na busca dos artigos e evitar possíveis vieses. As palavras-chave utilizadas foram quimioterapia, exercício aeróbico e fadiga. A busca foi realizada pelo acesso on-line e, utilizando os três critérios de inclusão, a amostra final desta revisão integrativa foi constituída de 12 artigos.

Os resultados são apresentados de forma descritiva, fazendo uso de tabelas, objetivando-se captar as evidências sobre o exercício aeróbico na melhora da fadiga oncológica em pacientes submetidos a quimioterapia.

3 RESULTADOS

Perante as buscas, na base de dados PubMed foram encontrados 138 artigos com os descritores em inglês utilizando os filtros: texto completo grátis, ensaio clinico, últimos 10 anos, contudo, foram descartados 132 por apresentarem fuga ao tema, associação do exercício aeróbico a outra técnica, ou que não atenderam aos critérios de inclusão e exclusão. A pesquisa na base de dados BVS obteve 37 artigos utilizando os descritores em português, com os filtros: ensaio clinico controlado, texto completo e últimos 10 anos dos quais foram excluídos 36 por fuga do tema, por duplicidade e por não se enquadrar nos critérios de inclusão e exclusão. Na base LILACS foram achados oito resultados, com descritores em português e sem filtros, contudo os oitos foram excluídos por fuga do tema e por possuir desenho de estudo diferente do estabelecido nos critérios de inclusão. Na PEDRO, foram encontrados 50 estudos utilizando a frase em inglês: Aerobic exercise and fatigue cancer randomized study, na qual foram excluídos 46 por fuga ao tema e não se enquadrarem nos critérios de inclusão. Na Scielo foram encontrados doze resultados utilizando as palavras: aerobic exercise and cancer, sem nenhum tipo de filtro, contudo foram excluídos sete por fuga ao tema e não se enquadrarem nos critérios de inclusão.

Sendo assim, a amostra final desta revisão foi composta por doze artigos que atenderam aos critérios de inclusão e exclusão. Onde, desses doze, apenas seis foram inclusos na Tabela.1 por serem: ensaio longitudinal randomizado e controlado, ensaio clínico randomizado, estudo randomizado e controlado, estudo piloto randomizado controlado e ensaio controlado randomizado.

Tabela 1 : Tabulação dos artigos para discussão

AUTORESTITULOOBJETIVOMETODOLOGIARESULTADOCASP
CHO, Maria H., et al (2012).Comparisons of Exercise Dose and Symptom Severity Between Exercisers and Nonexercisers in Women During and After Cancer Treatmen.Descrever as características da dose de exercício (ou seja, frequência, duração e intensidade) e avaliar as diferenças na gravidade dos sintomas (ou seja, fadiga, distúrbios do sono, depressão e dor) entre mulheres que fizeram e não exercitaram durante e após o tratamento do câncer.ESTUDO: Ensaio longitudinal, randomizado e controlado. AMOSTRA: 119 mulheres, classificados em dois grupos: praticantes e não praticantes de exercícios. Os praticantes de exercícios foram definidos como mulheres que atendiam a critérios de inclusão. Não praticantes de exercícios foram definidos como mulheres que não atendiam aos critérios de inclusão. A avaliação da dose de exercício foi concluída no início (T1: a semana antes do ciclo de quimioterapia), no final do tratamento do câncer (T2) e no final do estudo (T3: aproximadamente um ano após a avaliação T1).No T1 e T2 os praticantes de exercícios apresentaram menores escores de fadiga e depressão. Em T3, não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos em qualquer pontuação de gravidade dos sintomas.  Nível A  
COLEMAN, Elizabeth Ann., et al (2012).Effects of Exercise on Fatigue, Sleep, and Performance: A Randomized Trial    Comparar o cuidado usual com um programa de exercícios individualizado domiciliar (HBIEP) em pacientes recebendo tratamento intensivo para mieloma múltiplo (MM) e terapia com epoetina alfa.ESTUDO: Ensaio clinico randomizado. AMOSTRA: 187 pacientes com MM recém-diagnosticado inscritos em um estudo separado que avaliou a eficácia do regime de terapia total, com ou sem talidomida.Não houve diferenças estatisticamente significativas entre os grupos experimental e controle para fadiga, sono ou desempenho (capacidade aeróbia). Diferenças estatisticamente significativas foram encontradas em cada um dos resultados do estudo para todos os pacientes à medida que o tratamento progredia e os pacientes experimentavam mais fadiga e pior desempenho e sono noturno (capacidade aeróbia).Nível A  
ROGERS, Laura Q., et al (2014).  Biobehavioral Factors Mediate Exercise Effects on Fatigue in Breast Cancer Survivors  Este estudo teve como objetivo examinar os mediadores da resposta à fadiga a uma intervenção de exercício para sobreviventes do câncer de mama em um estudo piloto randomizado controlado.ESTUDO: Estudo piloto randomizado controlado. AMOSTRA: Sobreviventes de câncer de mama na pós-menopausa (n = 46; estágio 2), fora do tratamento primário e relatando fadiga e / ou disfunção do sono foram randomizados para uma intervenção de exercício de 3 meses (160 min de caminhada aeróbica de intensidade moderada, treinamento de resistência duas vezes por semana com resistência bandas) ou grupo de controle.  Usando os testes de diferença nos coeficientes de Freedman-Schatzkin, o aumento na intensidade da fadiga foi significativamente mediado por interleucina e fator de necrose tumoral (TNF). No grupo de intervenção, maior fadiga basal, ansiedade, depressão e interferência percebida na barreira do exercício previram um maior declínio na interferência da fadiga e / ou fadiga geral durante a intervenção.Nível A
TRAVIER, Noémie., et al (2015).Effects of an 18-week exercise programme started early during breast cancer treatment: a randomised controlled trial.    Os exercícios iniciados logo após o diagnóstico de câncer de mama podem prevenir ou diminuir as queixas de fadiga. O estudo de Atividade Física durante o Tratamento do Câncer (PACT) foi projetado para examinar principalmente os efeitos de uma intervenção de exercício de 18 semanas na prevenção de um aumento da fadiga.ESTUDO: um ensaio clínico randomizado. AMOSTRA: 204 pacientes com câncer de mama para tratamento usual ou exercícios aeróbicos e de resistência supervisionados. Por definição, todos os pacientes receberam quimioterapia entre o início do estudo e 18 semanas. Fadiga, qualidade de vida, ansiedade, depressão e aptidão física foram medidos em 18 e 36 semanas.A fadiga física aumentou significativamente menos durante o tratamento do câncer no grupo de intervenção em comparação com o controle. Os resultados para fadiga geral foram comparáveis, mas não alcançaram significância.Nível A
CARAYOL, Marion., et al (2019).  Short- and long-term impact of adapted physical activity and diet counseling during adjuvant breast cancer therapy: the “APAD1” randomized controlled trial.  A intervenção de Atividade Física e Dieta Adaptada (APAD) foi avaliada por sua capacidade de diminuir a fadiga (desfecho primário), ansiedade, depressão, índice de massa corporal (IMC) e massa gorda, e melhorar o desempenho muscular e cognitivo, e qualidade de vida (QV).ESTUDO: Ensaio controlado randomizado. AMOSTRA: Mulheres com diagnóstico de câncer de mama precoce (N = 143, idade média = 52 ± 10 anos) foram randomizadas para APAD ou tratamento usual (UC). O APAD incluiu três vezes por semana sessões de exercícios aeróbicos e de resistência mistos de intensidade moderada e 9 consultas dietéticas.Efeitos benéficos significativos da intervenção APAD foram observados em todos os PROs (ou seja, fadiga, QV, ansiedade, depressão) em 18 e 26 semanas. O efeito significativo sobre a fadiga e a QV persistiu até o acompanhamento de 12 meses. Diminuições significativas no IMC, massa gorda e aumento da resistência muscular e flexibilidade cognitiva foram observada em 26 semanas, mas não persistiu depois.Nível A  
HIENSCH, Anouk., et al (2021).Inflammation Mediates Exercise Effects on Fatigue in Patients with Breast CancerO ensaio clínico randomizado e controlado OptiTrain mostrou efeitos benéficos sobre a fadiga após uma intervenção com exercícios de  16 semanas em pacientes com câncer de mama submetidas a quimioterapia adjuvante.ESTUDO: Estudo randomizado e controlado. AMOSTRA: Duzentas e quarenta mulheres programadas para quimioterapia foram randomizadas para 16 semanas de treinamento intervalado de resistência e alta intensidade (RT-HIIT), treinamento aeróbio de intensidade moderada e treinamento intervalado de alta intensidade (AT-HIIT) ou cuidado usual (UC). As análises de mediação foram conduzidas para explorar se as mudanças nos marcadores de inflamação mediaram o efeito do exercício sobre fadiga.No geral, a quimioterapia levou a um aumento da inflamação. Os aumentos de IL-6 (citocina pleiotrópica) e CD8a (células T glicoproteína de superfície) foram, no entanto, significativamente menos pronunciadas após RT-HIIT em comparação com UC. Mudanças na IL-6 e CD8a mediaram significativamente os efeitos do exercício na fadiga geral e física respectivamente. Nenhuma diferença significativa entre os grupos nos marcadores inflamatórios em 16 semanas foi encontrada entre AT-HIIT e UC.Nível A  

4 DISCUSSÃO

A fadiga oncológica apresenta manifestações frequentes nos pacientes em tratamento quimioterápico (associado ou não ao tratamento radioterápico) podendo estar relacionada não só a terapia medicamentosa, como ao próprio tumor primário e outras condições decorrentes, embora frequente em pacientes com câncer, a fadiga oncológica é subdiagnosticada e recebe pouca atenção dos profissionais de saúde. A fadiga pode ser definida como um cansaço físico, emocional e/ou cognitivo, persistente e subjetivo que não é proporcional a atividade realizada2.

Sabe-se que a fadiga oncológica tem caráter multifatorial, dentre os diversos fatores que impactam nesse processo podemos destacar o descondicionamento físico pela perda de massa corpórea, desequilíbrio de marcadores inflamatórios, comorbidades existentes, e fatores psicossociais que afetam sono e humor 6. Essas alterações no funcionamento metabólico do corpo, reduzem a capacidade desses pacientes de executar as suas atividades de vida diária. O exercício físico é uma intervenção que já vem sendo utilizada e estudada a algum tempo, e tem demonstrado benefícios na qualidade de vida desses pacientes 4,6,7.

Cho et al. (2012)8 realizou um estudo com mulheres praticantes e não praticantes de exercício físico que compara a relação entre o exercício e a gravidade dos sintomas em mulheres com câncer de mama, esse estudo buscou documentar a dose e frequência de exercício físico ideal para a melhora da fadiga, distúrbios do sono e depressão. Os critérios utilizados para a escolha do tipo de exercício estavam em conformidade com a ACS (American Cancer Society) que recomenda para paciente de câncer, exercícios aeróbicos de três a cinco vezes por semana, durante 20 a 60 minutos por sessão, em intensidade moderada.

O estudo realizado por Cho et al. (2012)8 utilizou um quantitativo de 119 mulheres que foram divididas em dois grupos, mulheres que praticavam exercício físico, e mulheres não praticantes de exercício, essas mulheres foram analisadas antes do início do estudo e ao final dele por meio de formulários específicos para cada sintoma. A pesquisa demonstra que no grupo com as praticantes de exercício tiveram uma significante diminuição dos níveis de fadiga e depressão em comparação com o grupo das não praticantes, a diferença no sono não foi significativa em ambos os grupos, e os resultados mais relevantes ocorreram durante o tratamento e logo após o seu termino, em uma avaliação 1 ano depois as diferenças não foram significativas.

Um estudo multicêntrico controlado realizado por Travier et al. (2015) 9 sobre o uso de exercício físico no câncer de mama, logo após o diagnóstico, por meio de uma intervenção de 18 semanas com exercícios aeróbicos associados a exercícios de força para prevenir o aumento da fadiga. O protocolo foi realizado com 204 mulheres que foram divididas aleatoriamente em dois grupos, onde 102 foram designadas aos cuidados usuais e 102 aos exercícios aeróbicos e de resistência supervisionados, todas as pacientes receberam tratamento quimioterápico ao longo das 18 semanas. O programa de exercícios realizado com grupo intervenção consiste em duas sessões de exercício aeróbico e de força semanal feito de forma supervisionada pelo fisioterapeuta. Além da recomendação de serem fisicamente ativos por 30 minutos 3 vezes por semana de forma livre que é o recomendado pelas diretrizes holandesas que foi incluído como atividade aeróbica. Enquanto os participantes randomizados foram orientados a manter o seu padrão habitual de atividade física.

Ao fim da intervenção a fadiga foi avaliada por meio do Inventário de Fadiga Multidimensional (MFI) e a Lista de Qualidade de Fadiga (FQL) na 18º semana, e uma reavaliação foi realizada com 36 semanas, a partir de então foi percebido que tanto o grupo intervenção quanto o grupo controle obtiveram aumento nos níveis de fadiga, porém esse aumento foi significativamente menor no grupo intervenção, já na avaliação após 36 semanas os achados não foram significativos. Concluindo assim que o tratamento realizado de forma precoce é benéfico a curto prazo na redução da fadiga.

Os estudos de Travier et al. (2015)9 e Cho et al. (2012)8 trazem como desfecho um bom resultado na avaliação final de suas intervenções, porém em avalições posteriores ao término da intervenção os resultados já não se mostraram relevantes, o que é compreensível sabendo-se que o exercício físico necessita de constância para manter todos os seus benefícios. Observando a média de tempo de intervenções de estudos como esses Carayol et al. (2019)10 traz uma intervenção cuja a atenção é voltada para o longo prazo, com a intenção de que os benefícios da intervenção perdurem mesmo após o final do acompanhamento. A intervenção de Carayol et al. (2019)10 foi realizada com 143 mulheres divididas em um grupo intervenção denominado APAD, que recebeu um programa de exercícios aeróbicos e de resistência três vezes por semana durante 26 semanas, juntamente a orientações nutricionais e um grupo de cuidado usual UC.

Na avaliação dos resultados a melhora da fadiga no grupo APAD se mostrou presente nas avaliações realizadas em 18 semanas e 26 semanas (durante a intervenção), e seis meses e 1 ano (após o final da intervenção), sendo assim o primeiro estudo a demonstrar efeitos duradouros na melhora da fadiga oncológica, sendo possível observar melhora também na QV (qualidade de vida

No trabalho realizado por Rogers et al. (2014)11 com pacientes sobreviventes ao câncer de mama foi observado a melhoria de diferentes aspectos relacionados a fadiga, dando destaque a três principais fatores, são eles, fatores biológicos e fatores biopsicocomportamentais. Os participantes que atenderam aos critérios exigidos foram divididos em um grupo controle e um grupo intervenção aleatoriamente, onde o grupo de intervenção foi designado a realizar exercícios aeróbicos e de força de forma combinada, que incluiu caminhada aeróbica 4 vezes por semana e treino resistido 2 vezes por semana em conjunto as sessões de treino aeróbico por três meses, e o grupo controle foi orientado a manter suas atividades normalmente como de costume. Tal pesquisa não obteve resultados significativos na melhora da fadiga, visto que os parâmetros utilizados para contabilizar se houve mudanças no padrão de fadiga não levaram em consideração a adesão das pacientes aos exercícios durante o tempo da intervençãopodendo-se afirmar que houveram falhas que podem ter influenciado no resultado final do trabalho.

O estudo de Coleman et al. (2012)12 traz um ensaio randomizado que objetiva comparar o cuidado usual, com um programa de exercícios individualizado domiciliar (HBIEP) que faz uso de exercícios aeróbicos em conjunto com exercícios de força na melhora da fadiga e do sono para pacientes em tratamento intensivo de Mieloma Múltiplo (MM).  Os pacientes foram divididos aleatoriamente, em um grupo intervenção e grupo controle, onde o grupo controle foi orientado a seguir as prescrições médicas e realizar caminhadas de 20 minutos três vezes na semana para se manter ativos, enquanto o grupo designado a realizar o HBIEP recebeu uma prescrição individualizada, com exercícios de força, e caminhada aeróbica, onde o treino aeróbico e de força deveriam ser realizados em dias alternados, por 15 semanas. 

Os pacientes foram treinados para que realizassem o programa de exercícios em casa, e foram orientados a realizar os exercícios conforme a sua rotina permitisse, e então enviavam semanalmente aos pesquisadores a documentação de seu desempenho e o programa era frequentemente adaptado conforme a individualidade dos pacientes. Por meio da análise dos dados enviados pelos pacientes e de uma reavaliação utilizando as escalas utilizadas no início do estudo chegou-se à conclusão de que nenhum exercício trouxe melhoras significativas na fadiga e sono dos pacientes. No entanto o protocolo foi realizado apenas durante o tratamento, podendo ser ainda explorado em períodos pós tratamento de câncer para buscar possíveis efeitos positivos. Além do que maioria dos pacientes recebeu tratamento a distância e a coleta de dados foi feita a partir de auto relato dos participantes, o que pode ter gerado falhas nos resultados.

Em contrapartida um estudo randomizado e controlado realizado por Hiensch et al. (2021)6 demonstrou os efeitos positivos do exercício físico na fadiga de pacientes em tratamento quimioterápico com um programa de 16 semanas de intervenção, onde o objetivo de tal intervenção foi avaliar se haveria melhora no quadro de fadiga desses pacientes por meio de marcadores inflamatórios. Esse estudo foi realizado utilizando como base um modelo de intervenção anteriormente publicado denominado OptiTrain que é um ensaio clinico randomizado controlado que avalia a melhora da fadiga, QV e aptidão física por meio de exercícios físicos em pacientes de câncer de mama submetidas a tratamento quimioterápico. O estudo foi realizado com 240 mulheres com câncer de mama que foram divididas em três grupos, AT-HIIT com 80 mulheres, realizou treinamento aeróbico de moderada intensidade intercalado com aeróbico intermitente de alta intensidade duas vezes por semana; grupo RT-HIIT com 79 mulheres, foi designado a praticar exercício de resistência seguidos por atividade aeróbica intermitente de alta intensidade 2 vezes por semana; e um grupo denominado UC com 81 mulheres foi orientado a manter as suas atividades usuais.

A avaliação dos resultados foi feita por meio da análise de amostras de sangue, que foram coletadas antes e ao fim do programa de exercícios, e por questionários (Piper Fatigue Scale) e análise física. Os resultados obtidos no grupo AT-HIIT foram notavelmente significantes em relação ao grupo UC utilizando como base de comparação o estudo OptiTrain original, porém em relação a análise de marcadores inflamatório o grupo que obteve melhores resultados foi o RT-HIIT que demonstrou um menor aumento no números das IL-6 e CD8a (que são os marcadores inflamatórios mais importantes em relação a fadiga causada pelo tratamento quimioterápico) em comparação ao grupo UC, enquanto no grupo AT-HIIT não foi possível observar efeitos significantes nos marcadores inflamatórios em comparação ao grupo UC. Em relação ao exercício aeróbico esse estudo corrobora com o estudo de Cho et al. (2012) que demonstra resultados positivos do grupo de intervenção com atividade aeróbica em comparação com o grupo de atividades usuais, pois o grupo AT-HIIT demonstra resultados positivos em ralação ao grupo UC.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nesse estudo foi possível constatar que o exercício aeróbico se mostra efetivo na melhora do quadro de fadiga de pacientes oncológicos submetidos a quimioterapia, contribuindo na diminuição do declínio clínico dos pacientes, e melhora da qualidade de vida a curto e longo prazo, e além disso é viável observar que os benefícios do exercício aeróbico são potencializados quando combinados a outras modalidades de exercício. As limitações dessa obra estão na pequena quantidade de evidencias analisadas, visto que há uma baixa quantidade de ensaios voltados ao uso do exercício aeróbico de forma isolada, demonstrando a necessidade de mais pesquisas voltadas para essa técnica quando aplicada a pacientes sob tratamento quimioterápico.

REFERÊNCIAS

1 MOTA DDCF, Cruz DALM, Pimenta CAM. Fadiga: uma análise de conceito. Acta Paul Enferm [Internet] 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ape/v18n3/a09v18n3.pdf (Scielo)

2 MANSANO-SCHLOSSER, Thalyta Cristina; CEOLIM, Maria Filomena. Fadiga em idosos em tratamento quimioterápico. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 67, p. 623-629, 2014 (Scielo)

3 SEGAL RJ, Reid RD, Courneya KS, Malone SC, Parliament MB, Scott CG, Venner PM, Quinney HA, Jones LW, D’Angelo ME, Wells GA. Resistance exercise in men receiving androgen deprivation therapy for prostate cancer. J Clin Oncol. 2003 May 1;21(9):1653-9. doi: 10.1200/JCO.2003.09.534. PMID: 12721238. PubMed

4 BATTAGLINI, Claudio et al. Efeitos do treinamento de resistência na força muscular e níveis de fadiga em pacientes com câncer de mama. Revista Brasileira de Medicina do esporte, v. 12, p. 153-158, 2006. (BVS e Scielo)

5 BATTAGLINI CL, Hackney AC, Garcia R, Groff D, Evans E, Shea T. The effects of an exercise program in leukemia patients. Integr Cancer Ther. 2009 Jun;8(2):130-8. doi: 10.1177/1534735409334266. PMID: 19679621. PubMed

6 HIENSCH, Anouk E. et al. A inflamação medeia os efeitos do exercício sobre a fadiga em pacientes com câncer de mama. Medicina e ciência nos esportes e exercícios, v. 53, n. 3, pág. 496, 2021.

7 NASCIMENTO, Elaine Batista do; LEITE, Richard Diego; PRESTES, Jonato. Câncer: benefícios do treinamento de força e aeróbio. Revista da Educação Física/UEM, v. 22, p. 652-658, 2011.

8 CHO, Maria H. et al. Comparações de dose de exercício e gravidade dos sintomas entre praticantes e não praticantes de exercícios em mulheres durante e após o tratamento do câncer. Jornal da dor e gerenciamento de sintomas, v. 43, n. 5, pág. 842-854, 2012.

9 TRAVIER, Noémie et al. Efeitos de um programa de exercícios de 18 semanas iniciado precocemente durante o tratamento do câncer de mama: um ensaio clínico randomizado. Medicina BMC , v. 13, n. 1, pág. 1-11, 2015.

10 CARAYOL, Marion et al. Impacto de curto e longo prazo da atividade física adaptada e aconselhamento dietético durante a terapia adjuvante do câncer de mama: o ensaio clínico randomizado “APAD1”. BMC cancer , v. 19, n. 1, pág. 1-20, 2019.

11 ROGERS, Laura Q. et al. Biobehavioral factors mediate exercise effects on fatigue in breast cancer survivors. Medicine and science in sports and exercise, v. 46, n. 6, p. 1077, 2014.

12 COLEMAN, Elizabeth Ann et al. Efeitos do exercício na fadiga, sono e desempenho: um ensaio randomizado. In: Fórum de enfermagem oncológica . NIH Public Access, 2012. p. 468.


¹Graduanda(s) em fisioterapia pelo Centro Universitário do Vale do Ipojuca – UNIFAVIP | WYDEN | Caruaru-PE | Brasil
²Docente do curso de fisioterapia do Centro Universitário do Vale do Ipojuca – UNIFAVIP | Caruaru-PE | Brasil