EFEITOS DO CATETER NASAL DE ALTO FLUXO NO TRABALHO RESPIRATÓRIO DE CRIANÇAS COM EXACERBAÇÃO ASMÁTICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202506100351


Camila de Fátima Santos1
Orientadores: Alex Oliveira2
Angélica Barboza3
Gabriel Salles4


RESUMO  

Objetivo: avaliar as evidências disponíveis na literatura sobre a  interferência do cateter nasal de alto fluxo no trabalho respiratório de pacientes  pediátricos com exacerbação dos quadros asmáticos. 

Métodos: Foram realizadas buscas de artigos científicos publicados nas  bases de dados Pubmed, Scielo, Google acadêmico, no período de 2017 a 2024.  Incluídos estudos que abordassem o uso do cateter nasal de alto fluxo e seus  efeitos no trabalho respiratório em asmáticos. 

Resultados: Um total de 8 artigos foram encontrados envolvendo o uso da  CNAF em pacientes asmáticos. No geral, a CNAF demonstrou potencial para  melhorar a oxigenação e reduzir o esforço respiratório, efeitos observados em  38% dos casos analisados. Cinco estudos compararam este dispositivo com  oxigenoterapia convencional e outros três com ventilação não-invasiva. Três  estudos (38%) relataram melhorias no componente respiratório com o uso do  CNAF, outros três (38%) obtiveram resultados menos favoráveis e em dois (25%)  não encontraram diferenças significativas entre as intervenções. 

Conclusão: Apesar dos benefícios respiratórios alcançados com o uso da  CNAF, os resultados não foram consistentes. Os efeitos podem variar  conforme a gravidade e as condições clínicas dos pacientes, além disso, quando  comparada a outras intervenções, a terapia não demonstrou superioridade  significativa nos estudos analisados. 

Palavras chaves: cateter nasal de alto fluxo, asma, efeitos fisiológicos,  trabalho respiratório, crianças.

ABSTRACT 

Objective: To evaluate the available evidence in the literature regarding  the impact of high-flow nasal cannula (HFNC) on the respiratory effort of pediatric  patients experiencing asthma exacerbations. 

Methods: A literature search was conducted in the databases PubMed,  SciELO, and Google Scholar for scientific articles published between 2017 and  2024. Studies were included if they addressed the use of HFNC and its effects  on respiratory effort in asthmatic patients. 

Results: A total of 8 articles were found that involved the use of HFNC in  asthmatic patients. Overall, HFNC showed potential to improve oxygenation and  reduce respiratory effort, effects observed in 38% of the analyzed cases. Five  studies compared HFNC with conventional oxygen therapy, and three others with  non-invasive ventilation. Three studies (38%) reported improvements in  respiratory function with HFNC use, another three (38%) showed less favorable  results, and the remaining two (25%) found no significant differences between  interventions. 

Conclusion: Despite the respiratory benefits observed with HFNC, the  results were not consistent. The effects may vary depending on the severity and  clinical condition of the patients. Furthermore, when compared to other  interventions, this therapy did not demonstrate significant superiority in the  studies reviewed. 

Keywords: high-flow nasal cannula, asthma, physiological effects,  respiratory effort, children.

INTRODUÇÃO 

A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas, que afeta  indivíduos suscetíveis e é caracterizada por obstrução intermitente ao fluxo  aéreo, tendo reversão espontânea ou com tratamento, bem como hiper  responsividade das vias a uma variedade de estímulos. 1 Decorre da interação  entre genética, exposição ambiental e outros fatores específicos que  desencadeiam os sintomas.2 É a doença crônica mais frequente em crianças e  adolescentes1, afetando 1 em cada 12 crianças nascidas, geralmente começa  na infância, com quase metade dos bebês sibilando no primeiro ano de vida, e a  maioria desenvolvendo asma persistente aos seis anos de idade 3. Nessa faixa  etária representa uma das principais causas de absenteísmo escolar, afetando o  desenvolvimento social e educacional dessa população4

Estima-se que aproximadamente 334 milhões de pessoas no mundo  sejam afetadas pela asma,5 com cerca de 250.000 óbitos anuais. No Brasil cerca  de 20 milhões de pessoas convivem com essa patologia, sendo esta responsável  por aproximadamente 350.000 internações por ano, e a terceira principal causa  de hospitalização no Sistema único de Saúde (SUS)4, gerando alto custo  econômico. 

Em pacientes pediátricos, as exacerbações agudas da asma são causa  comum de internações hospitalares6. Esses episódios são caracterizados por  aumento progressivo de falta de ar, tosse, chiado, aperto no peito ou a  combinação de algum desses sintomas, que podem estar acompanhados por  diminuição do fluxo expiratório o que requer tratamento urgente.7, pois se trata  de uma condição potencialmente fatal8. Comumente ocorre após à exposição a  um agente externo e\ou à baixa adesão ao tratamento9.  

O tratamento tem por objetivo atingir e manter o controle da doença, bem  como prevenir riscos futuros, como, exacerbação, instabilidade da doença,  efeitos adversos da terapia e perda acelerada da função pulmonar.10. O  tratamento baseia-se, sobretudo na terapia medicamentosa, sendo constituída principalmente pelo uso precoce dos corticoides inalatórios que não só  melhoram os sintomas, mas também preservam a função pulmonar a longo  prazo.11 Como parte do tratamento não medicamentoso, a reabilitação pulmonar  vem sendo introduzida como uma terapia complementar para controle da asma,  tratando-se de uma abordagem multidisciplinar com intervenções baseadas em evidências que incluem treinamento respiratório, educação do paciente, prática  de exercícios e mudança de comportamento, com o intuito de melhorar a  condição física e psicológica do paciente.12, 13 

Nesse contexto, o acompanhamento fisioterapêutico desempenha um  papel fundamental no manejo da asma, seus objetivos são aprimorar o  condicionamento cardiopulmonar e da mecânica respiratória, o aumento da força  muscular, a redução dos sintomas e uso de medicamentos, a promoção de higiene brônquica quando necessário e consequentemente, a melhora da qualidade de vida.14 Para tanto, diversas intervenções, recursos e dispositivos  podem ser utilizados.  

Dentre os dispositivos destaca-se o cateter nasal de alto fluxo (CNAF),  que é um tipo de suporte respiratório não invasivo que fornece uma mistura de  gás de maneira aquecida e umidificada por meio de uma cânula nasal. Trata-se  de um equipamento de fácil utilização e é mais bem tolerado por crianças quando  comparado ao uso de suporte ventilatório não invasiva com pressão positiva15

Durante a exacerbação da asma ocorre obstrução e dificuldade  respiratória, expressa pelo aumento da frequência cardíaca, frequência respiratória e do trabalho respiratório. Para pacientes que não apresentam  melhora com o tratamento farmacológico, o CNAF pode ser uma alternativa  eficaz, isso se deve aos seus efeitos fisiológicos, que incluem eliminação do  espaço morto anatômico, fornecimento de pressão de distensão positiva,  melhora na oxigenação e na mecânica respiratória, redução da broncoconstrição  e estímulo da eliminação de secreção através do ar aquecido e umidificado17,  que pode contribuir potencialmente para a redução do esforço  inspiratório.18,19,20,21

Dessa forma, a presente revisão de literatura tem por objetivo avaliar as  evidências disponíveis na literatura sobre a interferência do cateter nasal de alto  fluxo no trabalho respiratório de pacientes pediátricos com exacerbação dos  quadros asmáticos. 

MÉTODOS  

Foram realizadas buscas de artigos científicos publicados no período de  2017 a 2024, indexados nas bases de dados Pubmed, Scielo, Google  acadêmico, utilizando os seguintes descritores: high flow nasal catheter, asthma, physiological effects, breathing work, children. Os critérios de inclusão foram  estudos que abordassem o uso do cateter nasal de alto fluxo e seus efeitos no  trabalho respiratório em asmáticos, os critérios de exclusão foram os artigos que  citaram outras intervenções e não se adequassem ao critério de inclusão. 

RESULTADOS  

Foram encontrados um total de 8 artigos que abordaram pacientes  pediátricos com idade variando de 1 a 18 anos, que se encontravam em  ambiente hospitalar, nos setores de enfermaria, emergência e UTIP com quadro  de asma leve, moderada a grave. Os estudos compararam a utilização do CNAF  com oxigenoterapia convencional e ventilação não-invasiva e apresentaram  seus efeitos no componente respiratório. 

Tabela 1- Extração de dados.

Autor\AnoTipo de estudoCaracterística da amostraTipos de intervençãoPrincipais variáveis analisadasResultados
Rogerson
et al (2024)22
Estudo de
coorte retrospectivo de centro
único.
Crianças de 2
a 18 anos
com asma
aguda grave
tratados com:
CNAF: 443
Não tratados
com CNAF:
443.
Asma aguda
severas
tratados com
CNAF.
Não tratados
com CNAF,
utilizando
máscara de
oxigênio.
Comparar os
efeitos fisiológicos e os
resultados
clínicos de
crianças
asmáticas grave
com CNAF
versus
principalmente
máscara de
oxigênio.
Grupo CNAF
apresentaram
melhorias
menores de
FC, FR, PASS
após 24 horas
de hospitalização
e maior tempo
de internação
na UTIP e
hospitalar.
Ballestero
et al (2018)
23
Estudo
Piloto
Prospectivo
randomizado de centro
único.
Crianças de 1
a 14 anos
com
exacerbação
de asma
moderada a
grave.
GE: N 30.
GC: N 32.
Grupo
Experimental:
tratados com
CNAF.
GC:
Oxigenoterapia
convencional.
Avaliar a
eficácia do
CNAF em
crianças asma e
insuficiência
respiratória
moderada no
pronto-socorro.
Diminuição de
2 no PS,
aumento na
SpO2\FIO2,
redução na
FR, FC e PS
em ambos os
grupos.
Benítez et
al (2019)09
Ensaio
clínico
randomizado controlado
aberto.
Pacientes
maiores que 2
anos com
crise
moderada\grave de asma
que não
responderam
à terapia
inicial.
G1 (CNAF): N
32
G2 (Controle):
N 33
G1: Recebeu
terapia com
CNAF.
G2: Recebeu
oxigenoterapia através de
máscara facial
simples,
cânula nasal
simples e
máscara sem
reinalação.
Determinar a
eficácia da
CNAF em
crianças com
mais de 2 anos
de idade que
apresentam
crises asmáticas
que não
respondem ao
tratamento
inicial.
Sem
diferenças
significativas
na diminuição
de mais de 2
pontos no PIS
em 2 e em 6
horas. Sem
internações na
UTIP ou
apresentação
de complicações.
Martínez et
al (2018)24
Estudo
observacional
retrospectivo e
analítico.
Crianças de 4
a 15 anos
com
exacerbação
moderado a
grave internados na enfermaria
pediátrica
G1: N 40.
G2: N 496.
G1: Pacientes
tratados com
CNAF.
G2: Tratados
com oxigenoterapia
convencional.
Analisar a o
tratamento das
exarcebações
da asma em crianças
utilizando CNAF
ou oxigenoterapia.
Grupo CNAF
redução na
FC, FR e EP
nas primeiras
horas. Maior
tempo de
internação,
dias de
oxigênio, terapia com esteroides, e readmitidos
após a alta.
Baudin et
al (2017)25
Estudo
observacional e
retrospectivo.
Crianças de 1
a 18 anos
com
diagnóstico
asmático, G. CNAF: N
39.
G.
oxigenoterapia padrão:
N:30.
G CNAF
recebeu
terapia com
alto fluxo.
G
Oxigenoterapia padrão:
tratados com
máscara não
reinalante e
com cânula
nasal padrão.
Falha da terapia
com o CNAF,
valores de
gases
sanguíneos e a
mudança dos
parâmetros
clínicos FR, FC,
razão
StO2\FIO2.
Grupo CNAF
apresentaram
melhora no
pH, Pco2, FR,
FC e
oxigenação.
1 criança
falhou no
grupo CNAF e
1 paciente foi
descontinuado
devido
pneumotórax.
Delgado et al (2023)26Estudo
observacional
prospectivo,
e
longitudinal.
Asmáticos,
menores que
18 anos
internados na
UTI
Pediátrica.
Grupo CNAF:
N-56.
Grupo
VNI+CNAF:
N-14.
Grupo VNI: N-
6.
Grupo VM: N-
0.
Grupo VNI:
tratados com
pressão
positiva bi-
level.
Grupo: CNAF+
VNI: a VNI
utilizada
primeiro em
todos os
casos.
Grupo CNAF:
foram tratados
com cateter
nasal de alto
fluxo.
Analisar as
terapias
aplicadas em
crianças
internadas na
UTIP com asma,
também avaliar
a utilização de
CNAF nesses
pacientes e
comparar sua
evolução e
complicação
com os que
receberam VNI.
Grupo apenas
com CNAF O
número de
dias na UTIP
foi menor,
redução no
PCO2,
apresentaram
maior razão
StO2\FIO2.
David et al
(2024)27
Ensaio
clínico
paralelo,
randomizado cego.
Pacientes
entre 5 a 16
anos com
diagnóstico
confirmado de
asma e que
apresentasse
m
brocoespasm
o.
Grupo Bilevel:
N- 25
Grupo CNAF:
N-25.
Grupo Bilevel:
pressão
positiva em
dois níveis e
exercícios de
reeducação
diafragmática.
Grupo CNAF
recebeu
terapia com
alto fluxo e
exercícios de
redução
diafragmática.
Avaliar e
comparar a
eficácia do uso
de cânula nasal
de alto fluxo e
pressão positiva
como
intervenções de
fisioterapia
respiratória com
exacerbação de
asma.
Grupo CNAF
teve menos
dias de uso de
oxigênio, de
broncodilatado
r, dias de
hospitalização
e melhora na
CVF.
Reduções de
FC\FR nos
grupos não
foram
significativas.
Pilar et a l(2017)28Estudo
observacional
retrospectivo.
Crianças de 1
a 14 anos
com
diagnóstico
de asma.
Grupo CNAF:
N-20.
Grupo VNI: N-
22.
Grupo CNAF:
Tratados com
CNAF.
Grupo VNI:
utilizaram dois
níveis de
pressão.
Em caso de
falha o grupo
CNAF seriam
mudados para
VNI, e os da
VNI para VMI.
Avaliar a falha
do suporte
respiratório
inicial havendo
necessidade de
mudar para um
suporte mais
alto, além do
tempo de
utilização do
suporte e
permanência na
UTIP.
Grupo CNAF
teve falha de
tratamento em
8 crianças,
maior tempo
na UTIP e a
duração de
suporte
respiratório foi
maior no
grupo de falha
do CNAF.
Fonte: tabela desenvolvida pelo próprio autor.

Legendas: CNAF: Cateter Nasal de Alto Fluxo; FC: Frequência Cardíaca; FR: Frequência  Respiratória; PASS: Pediatric Asthma Severity Score; UTIP: Unidade de Terapia Intensiva  Pediátrica; GE: grupo experimental; GC- grupo controle; DE: Departamento de emergência; OS:  Escore Pulmonar; SpO2: Saturação de Oxigênio; FIO2: Fração inspirada de oxigênio; PIS: Pulmonary Index Score; pH: potencial de hidrogênio; pCO2: pressão parcial de dióxido de  carbono; VNI: Ventilação Não-Invasiva; VMI: Ventilação Mecânica Invasiva. 

Tabela 2- Comparação dos dispositivos utilizados nos estudos.

Fonte: tabela desenvolvida pelo próprio autor.

Os resultados acima apresentam as intervenções com as quais o cateter  nasal de alto fluxo foi comparado, além das respostas obtidas com as  intervenções. Cinco desses estudos compararam o uso do CNAF com a oxigenoterapia convencional (63%). Ballestero23 e Baudin25 observaram  resultados positivos, com melhora das variáveis respiratórias FR, FC, pH, pCO2,  e escore pulmonar no grupo tratado CNAF em relação ao de oxigenoterapia. Em  contrapartida, Rogerson22 e Martínez24 relataram melhorias menos expressivas  no grupo CNAF, além de um maior tempo de internação hospitalar. Já no estudo  de Benitez09 as diferenças entre os dois grupos não foram significativas,  impedindo conclusões precisas sobre a superioridade de uma intervenção em  relação à outra. 

Os outros três estudos compararam o CNAF com ventilação não invasiva (38%). Delgado26 alcançou resultados superiores com CNAF, evidenciados por  melhora no pH e na oxigenação. David27 também identificou benefícios, com  aumento na capacidade vital forçada, no entanto, não houve diferença  significativa na FC e FR entre os grupos. Já Pilar28 verificou que 40% dos  pacientes tratados com CNAF apresentaram falha terapêutica, sendo necessária  a transição para outro suporte respiratório. 

Dessa forma, as evidências apontam que a utilização do CNAF, apresentou em sua maioria resultados semelhantes aos alcançados com outros  dispositivos respiratórios, como a VNI e a Oxigenoterapia. Embora amplamente  utilizada, a oxigenoterapia fornece apenas oxigênio suplementar, podendo ser associada à nebulização de fármacos como corticoides e broncodilatadores. Já  a VNI é considerada uma importante ferramenta não farmacológica no manejo  da asma, fisiologicamente promove recrutamento alveolar, melhora trocas  gasosas, e auxilia na redução do trabalho respiratório27. Apesar do crescente  número de estudos, as evidências disponíveis sobre o papel da VNI em  asmáticos são insuficientes29 e seu uso apresenta limitações como desconforto,  assincronia e intolerância relacionados às interfaces utilizadas, sobretudo na  população pediátrica. Assim, os resultados aqui apresentados sugerem que o  CNAF não demonstrou benefícios superiores em comparação à essas  intervenções já utilizadas no controle da asma. 

Gráfico 1- Resultados sobre a utilização do CNAF.

Fonte: gráfico desenvolvido pelo próprio autor.

Com base na análise dos oito artigos avaliados, o Gráfico 1 apresenta  uma síntese dos resultados sobre os efeitos do CNAF em pacientes asmáticos.  Em três estudos (38%) foram obtidas melhorias clínicas relevantes. Outros três  (38%) relataram benefícios menos expressivos. Já em dois (25%) não foram  encontradas diferenças significativas nas variáveis respiratórias, quando  comparado a outras intervenções. 

Gráfico 2- Resultados obtidos nos ensaios clínicos.

Fonte: gráfico desenvolvido pelo próprio autor.

O gráfico acima apresenta os principais resultados obtidos com o uso da  cânula nasal de alto fluxo em asmáticos. Em alguns estudos, foi observado  melhora na frequência cardíaca e frequência respiratória (38%), no pH (13%), no  Escore Pulmonar (25%), na pCO2 (25%), aumento da oxigenação evidenciada  pela melhora da relação StO2\FIO2 (38%). No entanto, os resultados não foram  semelhantes em todos os estudos, em dois deles, não foram observadas  diferenças significativas com a utilização CNAF (25%), em outro estudo, o uso  desse dispositivo apresentou piores desfechos nas variáveis respiratórias FC e  FR (13%), adicionalmente, em um outro estudo 40% dos pacientes  apresentaram falha terapêutica com o CNAF (13%). 

Sob uma perspectiva geral, a CNAF demonstrou potencial para melhorar  a oxigenação e reduzir o esforço respiratório nesse grupo de pacientes, efeitos  observados em 38% dos casos analisados. Tais efeitos são relevantes durante  as exacerbações da asma, em que o broncoespasmo, o edema das vias aéreas  e ao aumento da produção de muco, levam à obstrução e dificuldade respiratória,  gerando aumento do trabalho respiratório e comprometendo as trocas gasosas,  podendo assim, favorecer a melhora clínica desses pacientes. 

DISCUSSÃO 

O uso do CNAF tem ganhado destaque nos últimos anos devido aos seus  efeitos positivos na redução do esforço respiratório e na melhora da oxigenação. Esses efeitos estão relacionados ao fornecimento de alto fluxo de gás que facilita a remoção de CO2 das vias aéreas superiores, contribuindo para a correção da  hipercapnia; auxilia na redução do trabalho respiratório pela entrega de fluxo  adequado de oxigênio, revertendo o quadro de hipoxemia; o ar aquecido e  umidificado melhora a mecânica pulmonar e reduz o consumo energético, além  disso, o ar aquecido promove distensão do trato respiratório e otimização do  volume residual, gerando pressão positiva.30 Esses efeitos são particularmente  relevantes em crianças com condições respiratórias obstrutivas, como na asma,  em que a carga sobre os músculos respiratórios pode ser muito alta, levando ao  aumento do trabalho respiratório20

Esses resultados foram evidenciados no estudo piloto prospectivo e  randomizado de Ballestero e outros autores (2018)23, que avaliou crianças em  exacerbação moderada a grave da asma, comparando o CNAF com oxigenoterapia convencional. O estudo demonstrou benefícios do CNAF, com  melhora precoce, nas primeiras duas horas de tratamento, comprovado pela  melhora da frequência respiratória, frequência cardíaca, relação Sto2\FIO2 e  redução no escore pulmonar. 

Da mesma maneira, Martínez e outros autores (2018)24, relataram sua  experiência, comparando a utilização do CNAF com oxigenoterapia  convencional em pacientes pediátricos em crises de asma moderada a grave,  onde o grupo tratado com CNAF apresentou redução do escore pulmonar, na  frequência respiratória e cardíaca nas primeiras 3-6 horas de tratamento, com  consequente melhora do paciente. 

Baudin e outros autores (2017)25 em seu estudo observacional  retrospectivo em crianças com estados asmáticos, observaram melhorias  clínicas significativa com o uso do CNAF em comparação à oxigenoterapia  padrão, incluindo quedas nos valores de FC, FR, além de melhora gasométrica  nas primeiras 24 horas. 

Já Delgado e outros autores (2023)26, em seu estudo observacional  prospectivo e longitudinal, avaliaram três grupos de crianças com asma, CNAF  isolado, CNAF associado com VNI e apenas VNI. O grupo tratado apenas com  CNAF apresentou aumento na relação StO2\FIO2, redução dos níveis de pCO2  e menor número de dias de hospitalização. 

Sendo que, a melhora na oxigenação, redução precoce do trabalho  respiratório, e o consequente aumento no conforto do paciente são vitais para  evitar complicações, como atelectasia e fadiga respiratória progressiva. Esses  benefícios podem contribuir para a prevenção da necessidade de  escalonamento para formas mais invasivas de suporte ventilatório, como a  ventilação mecânica, considerando que a maioria das crianças asmáticas são  intubadas devido a insuficiência respiratória por trabalho respiratório excessivo. 

Em contrapartida, Rogerson e outros autores (2024)22 em seu estudo  retrospectivo de caso-controle com pacientes em asma aguda grave,  compararam o uso do CNAF com máscara facial de oxigênio. Analisaram a  mudança nos sintomas nas primeiras 24 horas de hospitalização, verificando que  o grupo tratado com CNAF apresentou melhorias menores na FC, FR e escore  PASS, além de maior tempo de permanência na UTIP e de internação hospitalar.

Da mesma forma, Benítez e outros autores (2019)09 em seu ensaio clínico  randomizado compararam CNAF com oxigenoterapia convencional, não  encontraram diferenças no escore PIS (esforço respiratório, FR, saturação de  oxigênio) em 2 horas de tratamento até a alta hospitalar, concluindo que a terapia  de alto fluxo no estudo não apresentou benefícios adicionais para esse grupo de  pacientes em relação a oxigenoterapia convencional. 

David e outros autores ((2024)27 em seu ensaio clínico randomizado,  paralelo e cego, compararam a aplicação de pressão positiva de dois níveis ao  CNAF como intervenção fisioterapêutica em exacerbações asmáticas. O CNAF  demonstrou vantagens em relação a VNI, com redução da necessidade de uso  de oxigênio, dias de internação e uso de broncodilatadores, além da melhora da  capacidade vital forçada na alta. Entretanto, as diferenças em FR e FC entre os  grupos não foram significativas. 

Por outro lado, Pilar e outros autores (2017)28 em seu estudo  observacional retrospectivo, descreveram sua experiência ao comparar o uso de  CNAF com VNI em crianças asmáticas, relataram que 40% das crianças  inicialmente tratadas com CNAF precisaram ser transicionadas para outro  suporte respiratório, sendo este a VNI, devido a falha terapêutica. Esse grupo  teve maior tempo de suporte respiratório e permanência na UTIP. O estudo  também identificou possíveis fatores preditivos de sucesso do CNAF, como a FC  inferior a 146 bpm, e FR menor que 55 ipm. 

A VNI tem papel relevante no manejo das crises asmáticas, estudos  recomendam a pressão positiva como suporte fisiológico nessa condição. No  entanto, sua utilização pode estar associada a desconforto e intolerância relacionados à interface, tornando seu nível de evidência ainda limitado. Nesse  contexto, o CNAF vem ganhando espaço por apresentar melhor tolerância por  parte dos pacientes, além de poder contribuir nos períodos de exacerbação por  meio de seus mecanismos de ação. Apesar disso, a literatura não define com  clareza qual o grau de exacerbação que requer o início da CNAF, tampouco  estabelece critérios claros para sua descontinuação. 

Diante das informações apresentadas, embora alguns estudos  evidenciam efeitos positivos do CNAF sobre o componente respiratório em  asmáticos, não é possível afirmar com segurança sua real eficácia, uma vez que,  os resultados podem variar conforme o perfil do pacientes e a gravidade da condição. Ademais, ao comparar o uso do CNAF com outras modalidades  terapêuticas, ainda não há evidências conclusivas que comprovem a  superioridade de uma sobre outra no tratamento respiratório desse perfil de  pacientes. Assim como, são necessários mais estudos para determinar critérios  para o início da terapia com CNAF e identificar os pacientes com menos  probabilidade de resposta, considerando que a falha desse recurso pode  retardar o início de outra forma de suporte mais eficaz28, além de estar associada a mortalidade e maior tempo de internação hospitalar17

CONCLUSÃO 

Este estudo avalia os efeitos do cateter nasal de alto fluxo no trabalho  respiratório de pacientes asmáticos em exacerbação. Os achados indicam que  o CNAF pode ser uma intervenção viável no controle de sintomas respiratórios. Contudo, a efetividade na utilização desse recurso não foi observada de forma  consistente em todos os estudos analisados, em algumas investigações não  houve diferenças significativas com a utilização do dispositivo, tampouco  superioridade em relação a outras intervenções, o que impede a formulação de  conclusões quanto à sua eficácia no manejo dessa condição. 

Diante disso, torna-se evidente a necessidade de novos estudos que  permitam identificar com mais precisão as indicações específicas e os perfis de  pacientes nas quais a terapia com alto fluxo seja mais eficaz para alívio do  desconforto respiratório em crianças asmáticas.

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1Fisioterapeuta, Aprimoranda do Curso de Aprimoramento em Fisioterapia Hospitalar.
2Doutor em ciências da Saúde, Mestre em Terapia Intensiva, Especialista em Reabilitação  Cardio pulmonar, Residência em Fisioterapia Hospitalar, Gestor de Serviço em Saúde.
3Mestre em Ciências da Saúde, Especialização em Fisioterapia Neuro Funcional,  Especialização em Cardio Respiratória e Especialização em Insuficiência Respiratória e  Cardiovascular em UTI: monitorização e tratamento.
4Mestre em Ciências da Saúde, Especialista em Terapia Intensiva.