REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8071231
Arthur Sette Tôrres de Almeida
Orientadora: Prof. Dra. Alessandra Vidal Prieto
Resumo
A síndrome dolorosa miofascial é uma disfunção neuromuscular que se manifesta em regiões musculares sensíveis tensas, resultando em dor referida. Os pontos gatilhos miofasciais são áreas dentro dessas bandas musculares que apresentam uma hiperirritabilidade, podendo ser classificados como ativos, provocando uma dor local e fraqueza ou pontos gatilhos latentes, que não apresentam sintomas mas podem causar dor, rigidez e/ou tensão muscular. O agulhamento a seco, consiste na inserção de uma agulha fina na musculatura para desencadear respostas locais de contração muscular. O objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia do agulhamento a seco em pontos gatilhos miofasciais como tratamento para dor. Foram realizadas buscas nas bases de dados SciELO, PubMed, Google Acadêmico e PEDro, no período de 2014 até junho de 2023, com descritores em português “Agulhamento a seco”, “Pontos gatilhos” e “Síndrome dolorosa miofascial”. E em inglês “trigger points”, “myofascial pain syndromes” e “Dry needle”. Foram incluídos apenas ensaios clínicos randomizados. Dos 951 artigos encontrados nas pesquisas, apenas 10 atenderam os critérios de inclusão. A revisão dos artigos indica que o agulhamento a seco em pontos gatilhos miofasciais é eficaz para melhorar a dor dos pacientes, respondendo à pergunta PICO proposta pelo estudo.
Abstract
Myofascial Pain Syndrome (MPS) is a neuromuscular dysfunction characterized by sensitive and tense muscle regions, resulting in referred pain. Myofascial trigger points (MTrPs) are hyperirritable areas within these muscle bands and can be classified as active, causing local pain and weakness, or latent, lacking symptoms but capable of causing pain, stiffness, and muscle tension. Dry needling involves the insertion of a thin needle into the muscles to trigger local muscle contraction responses. The aim of this study was to evaluate the efficacy of dry needling in myofascial trigger points as a treatment for pain. Searches were conducted in the SciELO, PubMed, Google Scholar, and PEDro databases from 2014 to June 2023, using Portuguese descriptors “Agulhamento a seco”, “Pontos gatilhos”, and “Síndrome dolorosa miofascial”, as well as English terms “trigger points,” “myofascial pain syndromes,” and “Dry needle.” Only randomized clinical trials were included. Out of the 951 articles found, only 10 met the inclusion criteria. The review of the articles indicates that dry needling in myofascial trigger points is effective in improving patient pain, addressing the PICO question proposed by the study.
1. Introdução
Segundo Bigongiari et. al (2018), a síndrome dolorosa miofascial (SDM) é caracterizada por uma disfunção neuromuscular local que se manifesta em regiões sensíveis das bandas musculares tensas resultando em dor referida em áreas distantes ou adjacentes à região sensível. A SDM acomete, prioritariamente, uma faixa etária entre 31 e 50 anos com maior número ao sexo feminino de meia idade e ao sexo masculino em idade mais avançada sendo assim uma das causas mais comuns de dor musulo esqueléticas e de incapacidade. (Silva et al., 2021).
Gomes e Oliveira (2022) pontuaram os pontos gatilhos miofasciais (PGM) como áreas localizadas dentro de uma banda muscular tensa que exibem uma hiperirritabilidade, caracterizada por nós ou pontos de tensão palpáveis. O ponto gatilho pode ser classificado de duas formas, entre ativo ou latente: o ponto gatilho ativo provoca dor local e fraqueza devido à inibição muscular, já o ponto gatilho latente aparece de forma assintomática, apresentando dor quando pressionado, além de rigidez e tensão muscular.
Para uma abordagem eficaz no tratamento da SDM causada por PGM, é crucial identificar e corrigir as causas subjacentes. O tratamento consiste na utilização de analgésicos leves, injeções locais de anestésicos e corticosteróides, liberação miofascial, além de técnicas como compressão isquêmica ou liberação por pressão, correção de desequilíbrio biomecânico, organização da relação capacidade e demanda e o agulhamento a seco (AS). (Ferreira et al., 2019).
O AS, também conhecido como Dry Needle, envolve a inserção de uma agulha fina nos PGM para interromper mecanicamente sua atividade, desencadeando respostas locais de contração. O método mais comum do AS é chamado de técnica “Fast In, Fast Out” que consiste na inserção de uma agulha em um PGM até que a primeira resposta local de contração seja produzida; Em seguida, a agulha é movida em um sentido reto para cima e para baixo com o objetivo de para respostas adicionais de contração local (Lew et al., 2020). Essa terapia baseia-se no raciocínio tradicional da medicina ocidental e os locais para inserção de agulha estão localizados em músculos esqueléticos ensinados em qualquer curso básico de anatomia. O agulhamento seco é uma técnica de fácil aprendizado e um curso básico geralmente é ministrado em um período de 2 a 4 dias. (Kalichman e Vulfson. 2010).
Com isso, o intuito do presente estudo é verificar os efeitos do agulhamento a seco na síndrome dolorosa miofascial.
2. Metodologia
O presente estudo trata-se de uma revisão sistemática e tem por objetivo responder a seguinte pergunta PICO:Quais são os efeitos do agulhamento a seco na síndrome dolorosa miofascial? Portanto, foi realizada a busca de artigos completos que atendiam o critério de elegibilidade.
Assim foram selecionados artigos completos, disponíveis em português e inglês. Assim foram incluídos neste estudo (a) delineado como ensaios clínicos randomizados, (b) que avaliavam os PGM antes da intervenção, (c) que utilizavam alguma técnica de AS como forma de tratamento (d) que aplicavam algum instrumento para quantificar a dor. Na primeira fase da revisão sistemática foram retirados estudos que não se encaixavam como ensaio clínico randomizado e que foram publicados antes do ano de 2014. Na segunda fase foram excluídos artigos a partir dos títulos e resumos. Já na terceira e última fase foram excluídos artigos que não possuíam forma de acesso gratuito.
2.1 Estratégia de Busca
A coleta de dados foi realizada entre os meses de Março a Maio de 2023. Foram realizadas buscas por artigos publicados nas bases de dados PubMed, Google Acadêmico, PEDro e Scielo no período de 2014 até junho de 2023. Foram utilizados os descritores em português “Agulhamento a seco”, “Pontos gatilhos” e “Síndrome dolorosa miofascial”. E em inglês “trigger points”, “myofascial pain syndromes” e “Dry needle”.
O gerenciamento de dados dos artigos foi realizado com o software Mendeley buscando ter o controle de duplicidade dos artigos científicos pertencentes às diferentes bases de dados existentes.
2.2 Seleção de Estudos e Extração dos Dados
Os títulos e resumos de todos os artigos selecionados foram avaliados pelo autor deste trabalho visando excluir os estudos que não utilizavam a técnica de AS em PGM. Na segunda fase foram avaliados os artigos completos de acordo com os critérios de elegibilidade pré-especificados.
Os dados extraídos serão: Pontuação na escala PEDro, identificação da publicação, quantidade amostral (n) do estudo, idade dos participantes, objetivo do estudo e conclusão.
2.3 Risco de Viés e Avaliação da Qualidade Metodológica
O risco de viés e a qualidade metodológica foram avaliados por meio da escala PEDro (tabela 2), ela é baseada na lista de Delphi, desenvolvida por Verhagen e seus colegas da Universidade de Maastricht em 1998. Possui uma pontuação que varia de 1 ponto (sem qualidade) até 10 pontos (excelente qualidade). Artigos que receberam nota menor que 5 pontos não foram incluídos no presente estudo.
3. Resultados
Foi realizado um fichamento com os artigos selecionados, totalizando 10 artigos ao final da pesquisa. Ao todo a análise amostral foi de 662 pessoas em um total de 39 sessões, somando os dez estudos.
3.1 Busca na Literatura
A busca permitiu identificar 951 artigos. Depois de uma avaliação geral foram excluídos Foram excluídos 667 artigos por não ser um ensaio clínico randomizado e ou por ter sido realizado antes do ano de 2014, 246 estudos que não apresentavam os critérios de elegibilidade observados pelos títulos, resumos e na íntegra e 10
artigos que não permitiam acesso de forma gratuita. Por fim, 10 estudos foram considerados relevantes para serem incluídos nessa revisão. A figura 1 demonstra o fluxograma desse processo.
3.2 Descrição dos Estudos
As características principais retiradas dos estudos selecionados estão descritas na Tabela 1. Dentro os estudos analisados, verificou-se que a amostra mínima apresentada foi de 19 pessoas (Ortíz, A. et al., 2020) e a máxima apresentou uma amostra de 160 pessoas (Gildir, S et al., 2019). A idade variou de 18 anos (Koszalinski, A. et al., 2020; Álvarez, S. et al., 2022; Sacristán, L. et al.,
2022; Cotchett, M. et al., 2014; Khatir, S. et al., 2021) à 80 anos (Ortíz, A. et al., 2020).
3.3 – Figura 1: Fluxograma dos estudos incluídos para revisão
3.2 – Tabela comparativa de artigos que abordam a utilização do agulhamento a seco
3.3 – Escala PEDro
1- *Critério de Elegibilidade (não é adicionado a pontuação total, que é 10); 2- Distribuição Aleatória; 3- Alocação secreta dos sujeitos; 4- Semelhança entre os grupos inicialmente; 5- “Cegamento” dos Sujeitos; 6- “Cegamento” dos terapeutas; 7“Cegamento” dos avaliadores; 8- Acompanhamento adequado; 9- Análise da intenção do tratamento; 10- Comparação intergrupos; 11- Medidas de precisão e variabilidade.
4. Discussão
O presente estudo buscou evidenciar a eficácia do AS em PGM como forma de intervenção para a SDM. É comum as pessoas se queixarem de tensão musculares no dia a dia, e dentro dessas áreas de tensões musculares encontramos PGM, que podem provocar dor, resultando na SDM. Essa síndrome é uma das causas mais comuns de dor músculo esquelética e incapacidade (Silva et al., 2021), o que consequentemente atrapalha as atividades diárias das pessoas. Entretanto, existem várias formas de tratamentos para esse problema e o agulhamento a seco vem ganhando bastante espaço para o tratamento da SDM, se mostrando eficaz para diminuir a quantidade PGM nas bandas musculares tensas (Sánchez, A. et al., 2017).
Os estudos analisados nesta revisão sistemática trouxeram evidências significativas na melhora da dor nos grupos que utilizaram a intervenção do AS em PGM. Todos os 10 artigos utilizaram instrumentos de avaliação da dor para analisar os resultados. Duas escalas foram utilizadas, a Escala Analógica Visual (EVA) por 6 artigos (Ziaeifar, M. et al., 2019; Gildir, S et al., 2019; Álvarez, S. et al., 2022; Sacristán, L. et al., 2022; Sánchez, A. et al., 2017; Cotchett, M. et al., 2014) que consiste em um score para aferir a intensidade da dor que varia de 0 (nenhuma dor) à 10 (nível máximo de dor). Já os outros 4 estudos (Koszalinski, A. et al., 2020; Lobo, C. et al., 2018; Ortíz, A. et al., 2020; Khatir, S. et al., 2021) utilizaram da Numeric Pain Rating Scale (NPRS) que também funciona como uma escala numérica para quantificar a dor. Alguns dos artigos também associaram essas escalas com a utilização da da instrumentação para avaliar o limiar de pressão da dor – Pressure Pain Threshold (PPT).
Outras duas revisões sistemáticas com estudo sobre o mesmo tema, puderam chegar à mesma conclusão a respeito da eficácia do AS na melhora da dor. Ferreira et. al (2019) selecionou 11 ensaios clínicos aleatórios e pode concluir que a técnica do agulhamento a seco é eficaz quando comparada a nenhuma intervenção ou au AS simulado. Já Silva et. al (2021) selecionou 10 ensaios clínicos randomizados, porém diferente deste presente estudo, foi limitado a amostra para pessoas que apresentavam SDM apenas na região da coluna cervical, o que é interessante pois seria possível analisar as diferentes técnicas do AS para o tratamento do mesmo problema, porém o estudo não trouxe essa informação. Porém, os autores trouxeram uma comparação do agulhamento a seco com outras técnicas da fisioterapia, tanto na associação dos tratamentos como de forma individual. E chegaram à conclusão que o AS se torna mais eficaz na melhora da dor quando associado a outra forma de intervenção.
Nos artigos citados por este presente estudo, 9 dos 10 artigos escolheram pela técnica de Hong que constitui-se de aplicar a agulha no PGM e realizar movimentos rápidos para cima (sem remover totalmente do corpo do paciente) e para baixo com o intuito de obter o Local Twitch Response (LTR), uma contração involuntária na parte tensa da banda muscular onde foi realizada a aplicação. Essa é considerada a técnica mais eficaz para o alívio completo e imediato da dor. Apenas um estudo (Khatir, S. et al., 2021) utilizou a técnica estacionária de inserção da agulha perpendicular ao PG. Essa técnica consiste em aplicar a agulha e deixá-la por um tempo sem manipulação (Carvalho, A. et al., 2017).
A quantidade de sessões realizadas na intervenção variou entre 1 sessão (Sacristán, L. et al., 2022 e Lobo, C. et al., 2018) à 8 sessões (Koszalinski, A. et al., 2020). O que também foi encontrado em Ferreira et al (2019) onde traz o relato que alguns autores preconizam que uma a três sessões são o suficiente para casos subagudos. Já para os mais crônicos, a quantidade de sessões necessárias passa a ser de três ou mais sessões. Esses números podem variar de caso para caso, pois a resposta biológica de cada pessoa é diferente da outra. Porém, independente do número de atendimentos realizados, todos os artigos desta revisão apresentaram como resultado a melhora da intensidade, frequência e limiar de pressão da dor (dos textos que avaliaram o PPT) dos pacientes com a intervenção do AS em PGM quando comparada à avaliação no pré atendimento, além de outras questões analisadas referentes aos objetivos de cada ensaio clínico randomizado, como: Melhora da incapacidade, manutenção da força, melhora da função e diminuição da quantidade dos PGM nos membros em questão.
5. Conclusão
A aplicação do agulhamento a seco em pontos gatilhos miofasciais é eficaz para uma melhora significativa no quadro de dor dos pacientes. Portanto o AS em PGM é uma boa escolha de tratamento, podendo ser associada ou não a outras formas de intervenção da fisioterapia.
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