REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11540063
Ana Clara de Melo Naves
Bianca Ramos da Rocha Leite
Nathália Sandy Moreira
Orientadora: Dra. Priscylla Lilliam Knopp.
Colaboradora: Dra. Laila Cristina Moreira Damázio
RESUMO
OBJETIVO: Analisar os efeitos de uma breve intervenção com o Método Pilates sobre a dismenorreia primária em adolescentes. MÉTODO: Estudo experimental, com abordagem quantitativa, participaram 6 adolescentes com idade de 14 a 17 anos, que sofrem de dismenorreia primária, submetidas a oito sessões de exercícios de MAT Pilates. A avaliação e reavaliação das adolescentes foi feita através da anamnese, ficha de antecedente menstrual e Escala Visual Analógica. RESULTADOS: A média de dor antes da sessão foi 7 ± 3,22, após a sessão 0,667 ± 1,63 com p < 0.003. Enquanto a média de dor dos três ciclos anteriores a intervenção foi 6,45 ± 1,22, após o encerramento da intervenção, a média foi 5 ± 3,22, com p < 0.422. Antes da intervenção, todas as participantes (n=6) relataram presença de coágulos no fluxo menstrual, após, 83,33% (n=5) relataram coágulos e 16,66% (n=1) não. CONCLUSÃO: O Método Pilates proporcionou alívio imediato da dor na dismenorreia primária, sem melhorias estatisticamente significativas a longo prazo na redução da dor e na presença de coágulos no grupo de estudo. Sugerem-se estudos futuros com maior amostra e tempo de intervenção para avaliar melhor seus benefícios na saúde menstrual.
Descritores: Dismenorreia; Pilates; Fisioterapia; Adolescente.
ABSTRACT
OBJECTIVE: To analyze the effects of a brief intervention with the Pilates Method on primary dysmenorrhea in adolescents. METHOD: Experimental study with a quantitative approach, involving 6 adolescents aged 14 to 17 years who suffer from primary dysmenorrhea, subjected to eight sessions of MAT Pilates exercises. The evaluation and reevaluation of the adolescents were conducted through anamnesis, menstrual history form, and Visual Analog Scale. RESULTS: The average pain before the session was 7 ± 3.22, after the session 0.667 ± 1.63 with p < 0.003. The average pain of the three cycles prior to the intervention was 6.45 ± 1.22, and after the intervention, the average was 5 ± 3.22, with p < 0.422. Before the intervention, all participants (n=6) reported the presence of clots in the menstrual flow; after the intervention, 83.33% (n=5) reported clots and 16.66% (n=1) did not. CONCLUSION: The Pilates Method provided immediate pain relief for primary dysmenorrhea, with no statistically significant long-term improvements in pain reduction and presence of clots in the study group. Future studies with larger samples and longer intervention periods are suggested to better evaluate its benefits on menstrual health.
Keywords: Dysmenorrhea; Pilates; Physiotherapy; Adolescent.
INTRODUÇÃO
Dismenorreia primária (DP) refere-se à dor da cólica menstrual que geralmente inicia-se horas antes ou durante a menstruação, perdurando por tempo médio de 8 a 72 horas após o início dos sintomas1,2. Apresenta-se com quadro álgico localizado na região inferior do abdômen, que pode irradiar para a região toracolombar da coluna vertebral e coxa2,3,4.
A classificação deste quadro é feita a partir da ocorrência de dor sem o envolvimento de doenças pélvicas orgânicas1. Os sinais e sintomas da DP se manifestam cerca de 6 a 12 meses depois da menarca, sendo mais frequente em adolescentes quando comparados às mulheres adultas1. Um dos fatores etiológicos da algia relacionada à DP é a liberação de prostaglandinas, considerando que durante o fluxo menstrual existe uma maior liberação destes mediadores pró-inflamatórios, o que gera a contração uterina e, consequentemente, a sensação dolorosa1,5.
Uma forma de tratamento não medicamentoso para este distúrbio é a prática de exercício físico, pois o mesmo promove um ajuste do metabolismo, das funções hemodinâmicas e do fluxo sanguíneo, ademais, ocorre uma liberação de opioides endógenos que elevam o limiar de dor, tornando o funcionamento uterino mais harmônico4,5. Ademais, o Método Pilates criado por Joseph Pilates, consiste em um conjunto de exercícios que tem como filosofia alcançar o bem-estar geral do ser, possui uma modalidade de exercícios no solo, denominados MAT Pilates que através dos princípios de concentração, centralização, fluidez do movimento, precisão, controle e respiração, conquista seu diferencial quanto a sua forma de condicionamento6. Outrossim, estes exercícios contam com a ativação do centro de força, denominado Power house, sendo ele composto pelos músculos reto abdominal, oblíquos internos, oblíquos externos, multífidos, transverso do abdome, músculos do assoalho pélvico, diafragma, glúteos (mínimo, médio e máximo) e psoas, fator que contribui para que o método possa ser uma importante forma de controle dos sinais e sintomas da DP através dos exercícios físicos4,6,7.
Desta forma, o objetivo desta pesquisa foi analisar os efeitos de uma breve intervenção com o Método Pilates sobre a dismenorreia primária em adolescentes.
MÉTODO
Trata-se de estudo experimental, com abordagem quantitativa. Esta pesquisa seguiu os preceitos éticos emitidos pelo Conselho Nacional de Saúde, segundo resolução nº466, de 12 de dezembro de 2012, além da prévia aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Presidente Antônio Carlos – UNIPAC de Barbacena sob parecer nº 6.594.923/2023. A pesquisa foi realizada na cidade de Barbacena-MG, durante os meses de março e abril de 2024, sendo a amostragem definida por conveniência, elencando como local de pesquisa um colégio privado da rede de ensino do município. A escola selecionada para a realização da pesquisa possui três turmas de ensino médio, uma turma de 1º ano, uma de 2º ano e outra de 3º, desta forma, foram convidadas a participar da pesquisa as meninas integrantes destas turmas. Participaram desta pesquisa, seis alunas do 1º ano do Ensino Médio. As pesquisadoras optaram por realizar a pesquisa em adolescentes estudantes do ensino médio devido a prevalência da dismenorreia primária ser agravada nesta faixa etária. O atendimento ocorreu durante o horário de aula das participantes, duas vezes por semana, em dias alternados. Foi adotado como critério de inclusão, meninas na faixa etária de 14 a 17 anos de idade, que sofrem de dismenorreia primária. Foram excluídas as meninas que possuem alguma doença pélvica orgânica como a síndrome do ovário policístico, endometriose, dentre outras patologias, ou que façam uso crônico de fármacos esteroides e/ou utilizem dispositivos intrauterinos (DIU). Foi garantido sigilo e confidencialidade às participantes, além da necessidade da autorização para participação da pesquisa pela assinatura do termo de assentimento e termo de esclarecimento livre e esclarecido. A coleta de dados foi feita a partir da anamnese e aplicação do Questionário adaptado para Avaliação de Dor Pélvica da The International Pelvic Pain Society para analisar o antecedente menstrual no primeiro dia de atendimento. Ademais, foi aplicada durante a anamnese a EVA (Escala Visual Analógica) para mensurar a dor pélvica resultante da fase menstrual dos 3 ciclos anteriores, de acordo com a percepção da própria voluntária e, quando estava no período menstrual durante o atendimento, a escala foi aplicada antes e após a realização dos exercícios. Durante a reavaliação, as voluntárias responderam novamente à EVA e ao Questionário para Avaliação de Dor Pélvica da The International Pelvic Pain Society adaptado. Antes de iniciar as sessões, as participantes receberam orientações sobre os princípios do Método e foram posicionadas em decúbito dorsal, com as mãos sobre a região inferior da caixa torácica, realizando uma contração abdominal e sentindo as costelas sendo rebaixadas. Para que observassem a eficácia na contração da musculatura abdominal relacionada ao power house, a mensuração foi realizada com utilização de um mesmo esfigmomanômetro, calibrado e insuflado a 70mmHg, posicionado na região lombar das participantes e, conforme realizavam a contração, obtinham o biofeedback pressórico da força de contração muscular12. A coleta foi realizada em local específico e privado destinado pela direção da escola. Realizaram-se duas sessões por semana, através de um programa de oito exercícios de MAT Pilates (Pilates no Solo), sendo eles: Alongamento Unilateral da Perna (oito repetições cada membro), Alongamento Unilateral modificado da perna (dez repetições cada membro), Preparação Para a Ponte Sobre os Ombros (dez vezes cada membro), Ponte (doze repetições), Elevação do Tórax (doze repetições), Apoio Frontal (trinta segundos), Esfinge (doze repetições) e Natação (doze repetições cada membro). Cada participante da pesquisa foi submetido a 10 atendimentos no total, sendo que o primeiro atendimento foi destinado à avaliação e o último à reavaliação. O quantitativo de sessões foi estipulado considerando o tempo disponível no cronograma de Trabalho de Conclusão de Curso do UNIPAC para a realização da coleta de dados. Uma pesquisadora ficou responsável por realizar os comandos verbais e visuais para os exercícios e duas pesquisadoras responsáveis por corrigir a postura das participantes durante a prática. A verificação de dados foi realizada por meio de análise estatística pelo teste t-student para amostras emparelhadas, através do software estatístico Jamovi, versão 2.3.28.0, utilizando o nível de significância de 95% (p < 0,05). A análise foi feita com a comparação entre os índices de dor pela EVA (Escala Visual Analógica) da seguinte forma: Índice de dor da cólica menstrual antes da sessão e imediatamente após a realização dos exercícios e índice de dor da cólica menstrual dos três ciclos anteriores e após a finalização completa da intervenção, no próximo ciclo menstrual. A partir desses dados, foi realizada comparação dos efeitos da intervenção de forma imediata e a curto prazo. Foi realizada também uma comparação do antes e depois do antecedente menstrual das voluntárias, em relação a presença de coágulos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Vinte e sete meninas foram convidadas para participar da pesquisa, das quais, onze aderiram à pesquisa. Ademais, três meninas não se encaixavam nos critérios de inclusão e apenas seis meninas aderiram a intervenção completa. Desta forma, seis alunas do ensino médio participaram da intervenção completa, tendo como média de idade 14,7 ± 0,816 anos.
A tabela I representa o índice de dor das participantes através da escala EVA, antes da sessão e imediatamente após à sessão, enquanto o Gráfico 1 representa a média de dor antes da sessão e imediatamente após a sessão. Tendo como média de dor antes da sessão 7 ± 3,22. Após a sessão, a média de dor foi de 0,667 ± 1,63 com p < 0.003, apresentando redução estatisticamente significativa no nível de dor da DP, houve também redução do desvio padrão da dor após a sessão de Pilates, sugerindo uma maior uniformidade nos níveis de dor entre as participantes. A partir destas análises, é possível observar uma resposta positiva da aplicação do Método Pilates em relação ao quadro álgico à curto prazo.
Tabela I – Índice de dor através da escala EVA durante intervenção
Gráfico 1: Média de dor antes da sessão e imediatamente após a sessão
Já a tabela II representa os valores da média de dor dos três ciclos anteriores e o índice de dor após a finalização da intervenção completa e o Gráfico 2 representa a média de dor antes da intervenção e após a intervenção completa. Na avaliação realizada através do questionário de antecedentes menstruais, foram coletados os índices de dor dos três meses anteriores à intervenção (janeiro, fevereiro e março), com média de 6,45 ± 1,22 e, após o encerramento da intervenção, o quadro álgico do ciclo menstrual seguinte foi avaliado, apresentando média de 5 ± 3,22, com p < 0.422. Nota-se que não houve melhora estatisticamente significativa do quadro álgico em relação aos ciclos anteriores e o ciclo após a finalização da intervenção, bem como uma não homogeneidade dos índices de dor quando finalizada a intervenção.
Tabela II – Índice de dor através da escala EVA nos três ciclos anteriores e no ciclo posterior à intervenção
Gráfico 2: Média de dor antes da intervenção e média de dor após a intervenção completa
Ademais, antes do início da intervenção, 100% das participantes (n=6) relatavam presença de coágulos no fluxo menstrual, após a intervenção completa, apenas 16,66% das participantes (n=1) relataram ausência de coágulos, tendo 83,33% (n=5) relatado que os coágulos continuaram.
Como descoberta extra durante a pesquisa, em relação à força de contração do músculo Transverso do Abdome, a média durante o início da intervenção era de 26,0 ± 13,87, enquanto na reavaliação das participantes, essa média passou a ser 71,0 ± 7,42, com p < 0.004. Estes valores sugerem que houve um ganho de força na contração do músculo, evidenciados pela diferença estatística significativa. A tabela III apresenta os valores da força muscular no início e após a intervenção completa, enquanto o Gráfico 4 demonstra os valores médios, também da força de contração muscular do Transverso, no início e após a intervenção completa.
Tabela III – Força muscular do músculo transverso do abdome durante o início da intervenção e após a intervenção completa.
Gráfico 4: Média de força da contração do músculo Transverso do Abdome no início e após a intervenção.
Através dos relatos coletados durante a realização da pesquisa, observou-se a grande influência da DP sobre as adolescentes. O alto índice de dor interfere na qualidade de vida das mulheres, sendo a dor uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a danos teciduais reais ou potenciais, é necessário considerar sua importância e validar esta dor tão comum e com grande impacto individual e interpessoal3,8.
Considerando os dados obtidos através do presente estudo, nota-se que a realização de exercícios do Método Pilates contribuiu de forma significativa para a redução do quadro álgico da DP e sintomas associados de forma imediata. A partir do indício de que a DP ocorre devido ao aumento da liberação das prostaglandinas, mediadores químicos que atuam intermediando as contrações uterinas durante o ciclo menstrual e promovem a vasodilatação, é possível dizer que o Método Pilates exerce esse efeito sobre a DP através do aumento da circulação sanguínea, do equilíbrio entre corpo e mente, além do aumento do limiar de dor decorrente da liberação de opioides endógenos como a endorfina, que atua diretamente na tolerância à dor e redução de tensões.4,5,9,10.
Entretanto, com a avaliação a longo prazo dos efeitos gerados pelos exercícios após o término da intervenção, verificou-se que a redução da dor não ocorreu de forma significativa no ciclo seguinte ao término da intervenção, bem como a presença de coágulos no fluxo menstrual, que também não foi possível verificar melhora significativa após a intervenção completa. A não manutenção da redução do quadro álgico após a finalização da intervenção pode ter ocorrido devido a diminuição do limiar de dor causado pela redução da liberação de endorfina, uma vez que estudos relatam que a melhora da dor se deve ao fato do exercício físico favorecer a analgesia através da ação de opioides endógenos, que atuam tanto nas sensações dolorosas, quanto na redução de ansiedade e tensão1,4,5. Esses fatores abrem a discussão para estudos futuros com maior tempo de intervenção, bem como maior número de participantes a fim de verificar o comportamento do quadro álgico e da presença de coágulos a longo prazo.
Ademais, de acordo com a literatura, a dor gerada pela presença de coágulos no fluxo menstrual, se dá pela passagem dos coágulos pelo canal cervical, tendo isso vista, de acordo com os dados coletados, o relato de dor antes do início da intervenção e após o término da mesma, também pode estar relacionado a presença destes coágulos, que não sofreram melhora a partir da intervenção11.
A partir dos resultados obtidos nessa pesquisa, como achado extra, levanta-se a hipótese de que a força muscular do transverso do abdome está diretamente relacionada à redução da algia aguda na DP, entretanto, para uma comprovação científica, seria necessário um estudo com uma amostra maior e maior tempo de intervenção12.
CONCLUSÃO
A partir do presente estudo, conclui-se a aplicação do Método Pilates demonstrou efeito significativo no alívio imediato da dor na dismenorreia primária, embora não tenha produzido melhorias estatisticamente significativas a longo prazo no alívio da dor menstrual nem na redução da presença de coágulos no grupo estudado. Estes resultados sugerem que o Método Pilates é uma estratégia útil e não medicamentosa para o manejo de dor aguda, mas sua eficácia em um prazo um pouco maior pode ser limitada, ao menos para o grupo estudado. Desta forma, estudos futuros com amostras maiores e intervenções prolongadas são necessários para melhor avaliar os benefícios do Pilates em diferentes aspectos da saúde menstrual.
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BARBACENA 2024
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