EFEITOS DE UM PROGRAMA DE INTERVENÇÃO DE CURTA DURAÇÃO NAS HABILIDADES MOTORAS FUNDAMENTAIS DE CRIANÇAS DO PRIMEIRO ANO ESCOLAR

EFFECTS OF A SHORT-TERM INTERVENTION PROGRAM ON THE FUNDAMENTAL MOTOR SKILLS OF CHILDREN IN THE FIRST GRADE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202410221912


Gabrieli Schulz1,
Alessandra Bombarda Müller2


RESUMO

O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos de um programa de intervenção nas habilidades motoras fundamentais de crianças do primeiro ano de uma escola estadual do município de São Leopoldo-RS. A amostra foi composta por 40 crianças que se enquadraram nos critérios de inclusão da pesquisa, das quais 21 eram do sexo masculino, com idades entre 6 e 7 anos. Os procedimentos realizados consistiram em pré-teste, seguido de programa interventivo e pós-teste, sendo as fases pré e pós-teste necessárias para avaliar o desempenho de habilidades motoras fundamentais, pela bateria de testes Test of Gross Motor Development (TGMD-3). Para a análise do efeito do programa de intervenção motora, de acordo com o gênero nas habilidades motoras fundamentais, foram conduzidas análises de equações de estimativa generalizada. As diferenças encontradas foram avaliadas a partir do teste de múltiplas comparações de Bonferroni, adotando o nível de significância a<0,05. Os resultados demonstraram diferença significativa nas médias de pré e pós-teste para todas as habilidades do TGMD-3, exceto na corrida entre as habilidades de locomoção, onde desde o pré-teste as crianças apresentaram desempenho positivo. Não houve diferença significativa na comparação das habilidades entre os gêneros.

Palavras-chave: Desenvolvimento Infantil; Atividade Motora; Saúde Escolar.

ABSTRACT

This study aims to evaluate the effects of an interventional program in the fundamental motor skills of children studding at the first year of Elementary School in São Leopoldo city, Rio Grande do Sul State. The study sample was composed by 40 children that were included in the study criteria, from these 21 were male with ages between six and seven years old. The procedures realized consisted on a “pre-test” followed by an Interventional Program with a “post-test”. The fundamental motor skills performances of the “pre-test” and the “post-test” were evaluated by the Test of Gross Motor Development (TGMD-3). To analyze the effect of the motor interventional program in the fundamental motor abilities related with gender, generalized estimation equations were tested. The differences found were evaluated by the Bonferroni multiple comparison test, using Level of significance a<0,05. The results demonstrated significant difference in the medias of “pre-test” and “post-test” to all abilities tested by TGMD-3, except in the “running” during locomotion, where since the beginning of the tests children showed positive performance. There was no significant difference in the comparison of gender and motor abilities.

Keywords: Child Development; Motor Activity; School Health.

INTRODUÇÃO

O ser humano está em constante desenvolvimento desde o início da vida no ambiente uterino, e segue evoluindo conforme a interação entre o meio e os estímulos que recebe (BARDARO, 2009). A cada momento, os sistemas sensoriais e motor se organizam de acordo com mudanças e transformações em um processo de aprendizagem e aquisição de conhecimento constante (ROSSI, 2012).

As interações entre o meio e os estímulos recebidos ocasionam movimentos, que os modificam ou melhoram (MONTANHA, 2013). Este processo pode ser considerado como desenvolvimento motor. Tais modificações são proporcionadas pelos estímulos recebidos, gerados por condições e questões orgânicas, biológicas, culturais, ambientais, socioeconômicas e de tarefas (ROSSI, 2012; NUNES, 2011).

O período escolar é considerado um dos mais importantes na infância, pois é o estágio em que se recebe grande variedade de estímulos por diversas formas, promovendo interações que estimulam as crianças frente a situações que possibilitam a aquisição de habilidades motoras, cognitivas e sensitivas e favorecem o desenvolvimento neuropsicomotor de maneira enriquecedora. As habilidades motoras e psicomotoras na infância podem ser consideradas como o fundamento para a construção de procedimentos mais complexos no desenvolvimento, assim como para a produção de um futuro saudável (SILVA, 2013). As aquisições motoras e cognitivas estão interdependentes: se uma delas está debilitada apresentará reflexo na outra. Trabalhar a motricidade favorece a progressão de habilidades básicas, sendo o movimento elemento também para os alcances intelectuais (FALCÃO, 2013).

A escola é um ambiente de extrema influência no desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo das crianças. O fisioterapeuta também é um profissional que se enquadra neste ambiente, pois pode auxiliar de diversas formas, contribuindo para o processo evolutivo das crianças, identificando eventuais problemas ou atrasos. (SILVA, 2013; BARDARO, 2009).

No modelo teórico apresentado por Gallahue (1980) para o entendimento dos estágios do desenvolvimento motor, as idades de 6 e 7 anos são classificadas como uma fase madura no desenvolvimento motor, com potencial para que as habilidades motoras fundamentais estejam desenvolvidas até essas idades. Tal fase coincide com o período do ingresso escolar, considerado crítico, pois se inicia uma nova etapa da infância. A entrada no ensino fundamental é uma fase em que se recebem diversas influências, gerando novas experiências motoras e psíquicas, as quais favorecem a organização de conhecimentos na vida da criança e possibilitam a melhora ou aquisição de competências. A partir dessa fase, até os dez anos de idade, a organização dos sistemas sensorial e motor tem um rápido avanço, que colabora para a formação de habilidades de movimento e, consequentemente permite a construção de padrões motores, podendo servir como alicerce para a constituição social e cognitiva (FERREIRA; MARTINEZ; CIASCA, 2010).

As habilidades motoras fundamentais comumente são avaliadas em duas dimensões – locomoção e controle do objeto (BRANCALEON et al., 2015; DA SILVEIRA; CARDOSO; DE SOUZA, 2014; LOGAN, 2012). Muitos estudos avaliando essas habilidades em crianças escolares detectam atrasos no desenvolvimento (VALENTINI, 2002; SACON et al., 2013). Por exemplo, Braga e colaboradores (2009) realizaram um programa de intervenção motora com 12 intervenções, em dois grupos. Nesse programa, um grupo realizou atividades de locomoção e controle de objetos de acordo com modelo em bloco e outro grupo que realizou estas atividades de forma mista e aleatória. Os autores não encontraram diferenças significativas entre as formas que foram treinadas as habilidades motoras, e os dois programas demonstraram auxiliar na melhora da execução das mesmas. Constata-se a importância de programas interventivos, criando oportunidades de aquisição ou progressão de habilidades motoras no período da infância.

Portanto, o objetivo desse estudo foi avaliar os efeitos de um programa de intervenção nas habilidades motoras fundamentais de crianças do primeiro ano escolar, formulando como hipóteses (1) observa-se incremento nas habilidades motoras das crianças participantes do programa de intervenção, e (2) os meninos apresentam uma melhor evolução após o programa, quando comparados às meninas.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo se constituiu como uma pesquisa quase experimental, com delineamento pré e pós-teste.A coleta de dados ocorreu entre os meses de agosto a outubro de 2016, tendo como população escolares do ensino fundamental de uma escola estadual do município de São Leopoldo/RS. A amostra da pesquisa se constituiu de 40 crianças, sendo 21 do sexo masculino, com idades entre 6 anos e 5 meses e 7 anos e 10 meses. As crianças estavam no primeiro ano do ensino fundamental, e foram autorizadas pelos responsáveis a participar da pesquisa, por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Foram excluídas da pesquisa oito crianças: quatro crianças faltaram nas datas das avaliações; uma apresentou frequência inferior a 75% nas intervenções; uma não foi autorizada a participar da pesquisa e duas tinham idade superior à estipulada.

Os instrumentos utilizados foram uma ficha com os dados de identificação do participante e a escala Teste of Gross Motor Development – Third Edition (TGMD-3) de Ulrich (2013), uma bateria de testes que avalia o desenvolvimento motor, validados por Valentini e colaboradores (2016), sendo um instrumento que pode ser aplicado em crianças de 3 a 10 anos. Composto por múltiplas habilidades motoras fundamentais, que avalia e observa como as crianças coordenam os movimentos dos membros e tronco durante as atividades propostas, o teste é dividido em dois critérios: locomoção e controle de objeto. O critério de locomoção apresenta seis subtestes: corrida, galope, salto com um pé só, salto horizontal, corrida lateral e pulo; e o de controle de objeto, sete: rebatida com as duas mãos, quicar, receber, chutar, arremesso por cima, arremesso por baixo e rebatida com uma mão. A criança era então classificada com desempenho na média, abaixo da média, pobre ou muito pobre.

Para a pontuação, a criança realizava a atividade proposta nos subtestes três vezes. A primeira tentativa era considerada como ensaio sem receber pontuação, a segunda e terceira tentativas eram pontuadas. O participante só pontuava se o avaliador identificava, durante o movimento, critérios de desempenho motor maduro. Esses testes foram filmados por uma câmera modelo Kodak fixada em um tripé como câmera principal, e outra câmera como auxiliar modelo Nikon P600 lateralmente. Os movimentos posteriormente analisados e transcritos. O tempo de execução do teste durou em torno de 20 minutos por criança e a análise do mesmo, de 20 a 40min por criança. Os testes foram realizados em locais disponibilizados pela escola: a quadra poliesportiva ou o pátio coberto. Para a utilização do teste, a pesquisadora realizou treinamento com um pesquisador com vasta experiência em sua aplicabilidade, avaliação e interpretação dos resultados.

Inicialmente, foi contatada a direção da escola para apreciação do projeto e coleta da assinatura da Carta de Anuência. Após aprovação da escola e do Comitê de Ética em Pesquisa da UNISINOS, o projeto foi apresentado aos pais ou responsáveis dos alunos, que assinaram o TCLE. Antes e imediatamente após a aplicação do programa interventivo, durante 4 semanas, 3x/semana, as crianças foram avaliadas. As atividades foram realizadas com as turmas nos mesmos dias, em horários diferentes, acordados com cada professora, sem que interferissem nas atividades letivas.

O programa interventivo seguiu o modelo de avaliação do TGMD-3, onde nas primeiras semanas, foram trabalhadas habilidades de locomoção, seguidas das habilidades mais simples para as mais complexas: corrida, galope, salto com um pé só, salto horizontal, corrida lateral e pulo. Também foram trabalhadas atividades de controle de objetos, como rebater, quicar, driblar, agarrar e arremessar. Durante a condução do programa, as intervenções também tinham caráter perceptivo-motor, pois, acredita-se que essas condições influenciam no desenvolvimento. As atividades propostas foram executadas por meio de circuitos e de atividades lúdicas como “pega-pega”. Objetos, como bola, cones, bambolê, bastão de beisebol, foram utilizados na realização das atividades. Ao término do programa, as crianças foram reavaliadas, totalizando 12 encontros interventivos, com duração de 1 hora cada.

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) sob o número CEP 16/114, com a garantia de integridade e anonimato dos indivíduos participantes. Todos os participantes tiveram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assinado em duas vias, uma dela permanecendo com os responsáveis dos mesmos. A pesquisa seguiu todas as normas que regulamentam a pesquisa com seres humanos, com base na Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.

Os dados foram digitados e analisados pelo software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 24.0. Para a descrição do comportamento motor das crianças participantes, foi utilizada estatística descritiva com distribuição de frequência simples e relativa, bem como medidas de tendência central (média) e de variabilidade (desvio padrão). Foram conduzidas análises de equações de estimativa generalizada (GEE) para verificar o efeito do programa de intervenção motora (momentopré e pós) de acordo com o sexo (masculino e feminino) nas habilidades motoras fundamentais. Possíveis diferenças entre os grupos foram avaliadas a partir do teste de múltiplas comparações de Bonferroni, se efeitos principais ou de interação fossem identificados. O nível de significância adotado foi de a<0,05

RESULTADOS

O presente estudo foi realizado com 40 crianças, 21 do sexo masculino (52,5%), com variação de idade entre 6 anos e 5 meses e 7 anos e 10 meses, apresentando uma média de idade de 6 anos e 6 meses.

A análise de equações de estimativas generalizadas indicou que não houve interação tempo x sexo (p>0,050) nas habilidades motoras. Ou seja, meninos e meninas evoluíram de forma semelhante durante o programa de intervenção motora. Foi evidenciado efeito principal do tempo, mudanças do pré para o pós-teste em todas as habilidades motoras, exceto na habilidade de locomoção, pois nessa habilidade as crianças já apresentavam quase a pontuação máxima do teste ainda no pré-teste. A Tabela 1 apresenta os valores de média, desvio padrão para as habilidades motoras e as diferenças significativas no fator tempo.

A Tabela 2 apresenta os escores mínimos e máximos encontrados para meninos e meninas nos subtestes das habilidades de locomoção e controle de objeto e no escore total do TGMD-3 nos momentos pré e pós programa interventivo.

DISCUSSÃO

O objetivo do presente estudo foi avaliar os efeitos de um programa de intervenção nas habilidades motoras fundamentais de crianças do primeiro ano escolar. Os resultados indicaram incremento em todas as habilidades motoras, com exceção da corrida, e vão de encontro a diversos estudos que, ao avaliar a prática de atividade física, encontraram impacto no desenvolvimento motor.

Pesquisas têm relacionado o desenvolvimento motor a programas de intervenção com a finalidade de minimizar atrasos motores, independente das limitações que a criança possa apresentar. A participação em programas interventivos com atividades motoras tem sido vista de maneira positiva com ganhos significativos no desempenho de habilidades motoras fundamentais, com intervenções trabalhadas de maneira que estimulem o gasto energético e produzam interesse para a prática motora (BERLEZE, 2008; BRAUNER, 2010; VALENTINI; RUSIDIL, 2004; FERREIRA; MARTINEZ; CIASCA, 2010).

Com a possibilidade de prática física, geralmente meninos avançam mais nas habilidades motoras do que as meninas, pelo espírito de competividade e interesse maior para tais atividades. Também é referido pela forma diferente de lazer entre meninos e meninas, onde os meninos realizam jogos mais coletivos e que exijam força ou velocidade, muitas vezes utilizando objetos como bola, e as meninas, mais sozinhas, ou em atividades mais calmas, que utilizam mais a motricidade fina (SOUZA et al. 2014; NUNES,2011). Podemos notar estes resultados no estudo de Silveira, Cardoso e Souza (2014) onde os meninos apresentaram desempenho superior às meninas em todas as habilidades avaliadas.  

Da mesma forma, o estudo de Souza e colaboradores (2014) encontrou superioridade motora nos meninos nas habilidades de controle de objeto e no total do teste. Porém, não encontraram diferença significativa nas habilidades de locomoção, sendo que, quando analisadas as habilidades separadamente, os meninos obtiveram melhor desenvolvimento na corrida, salto horizontal, rebatida, chute e arremesso, e as meninas foram superiores aos meninos somente no galope.  Tais análises divergem do presente estudo, uma vez que os resultados do total geral e dos subtestes foram semelhantes para ambos os sexos. E quando analisada habilidade por habilidade, similar a este estudo, ambos os sexos apresentaram bom desempenho, independente da análise comparativa entre total geral, subtestes e habilidade por habilidade.  Entre as habilidades, as habilidades de corrida e do chute receberam a melhor pontuação neste estudo, tanto pré quanto pós-teste. Pode-se observar, simultaneamente à intervenção, ganhos na corrida lateral, no quicar, no arremesso por cima e na rebatida com uma mão.

Ainda na comparação entre os sexos, Valentini e Brauner (2009) não encontraram diferença significativa nas habilidades de locomoção. Nas habilidades de controle de objeto, foi encontrada diferença significativa, maior nos meninos nas habilidades de rebater, quicar, chutar. Os resultados foram contrários na presente pesquisa porque meninos e meninas evoluíram de forma semelhante ao longo do tempo, tanto pelas análises por conjunto de habilidades ou mesmo quando analisadas separadamente. Possivelmente, essa semelhança se sucedeu pela maneira que as atividades foram abordadas, onde existia a explicação de cada atividade proposta, também pela colaboração unânime do grupo, cujo perfil das crianças era parecido e todos demonstravam interesse pelas atividades, sendo incentivados de maneira igual durante a realização do programa. Entre as habilidades, podemos encontrar no pré-teste, como média máxima de locomoção, a habilidade de corrida, que foi a de pontuação mais elevada (7,71±0,95), com pontuação máxima de 8 pontos; e a corrida lateral, que teve obteve a pontuação mais baixa (2,28±1,67), com máxima possível de 8 pontos. O estudo de Valentini e Brauner (2009), cujo objetivo principal foi identificar os níveis de desempenho motor nas habilidades motoras fundamentais em crianças com idade entre cinco e seis anos, apresenta a pontuação de praticantes de atividade física sistemática, onde a mais elevada também foi na habilidade de corrida (6,66±1,64), seguido de corrida lateral (6,25±1,37) e os resultados mais baixos encontrados foram salto com um pé (4,50±1,37) e salto horizontal (3,09±1,96).

Em relação ao programa interventivo desenvolvido, pode-se visualizar impactos positivos no desempenho das habilidades motoras, conforme encontrado em outros estudos interventivos ou que avaliaram crianças que realizavam prática física (NUNES, 2011; VALENTINI; BRAGA et al., 2009; BERLEZE, 2008; BADARO, 2009). Foi possível observar que todas as crianças apresentaram incremento no seu desempenho motor após o programa interventivo, em curto período de duração. O mesmo resultado foi observado no estudo de Braga e colaboradores (2009), no qual os autores realizaram um programa com doze sessões de intervenção por duas práticas diferentes, em blocos e aleatória. Sacon e colaboradores (2013) também propuseram uma intervenção de curta duração com 15 encontros, realizados uma vez na semana, com duração de 45 minutos, com a proposta de diminuir atrasos no desenvolvimento motor, aplicando as intervenções de forma lúdica, como brincadeira de “morto vivo”, “pega-pega”, brincadeiras de roda, circuitos. Em outros estudos são encontradas intervenções mais longas (TEIXEIRA, 2011; LOGAN, 2012; FERNANDES, 2015; BERLEZE; HAEFFNER; VALENTINI, 2007). Os resultados do presente estudo sugerem que mesmo em um tempo considerado de certa forma curto, houve benefícios no desenvolvimento motor para os envolvidos na pesquisa, em que todas as habilidades demonstraram melhora, com exceção da corrida como já comentado, podendo ser visualizar através dos resultados apresentados anteriormente nas tabelas 1 e 2.

Uma pesquisa quase-experimental, realizada por Berleze (2008), com amostra de 78 crianças, com idades de 5 a 7 anos, sendo 38 participantes do grupo interventivo (18 meninos e 20 meninas) e 40 (20 meninos e 20 meninas) do grupo controle, investigou os efeitos de um programa de intervenção motora em crianças obesas ou não, nos parâmetros motores ao longo de 28 semanas, com sessões duas vezes na semana com 1h e 30min de duração. Cabe ressaltar que o programa seguiu um modelo em que se enfatizava, primeiramente, aprendizagem pelas percepções corporais de estrutura espacial, temporal e direcional, seguido por habilidades motoras fundamentais e, posteriormente, habilidades mais estruturadas e sequenciais. Quando analisado o desenvolvimento motor, foi constatada melhora significativa nas crianças obesas e não obesas, e o grupo controle apresentou melhora mediana. As crianças não obesas do grupo interventivo apresentaram escores mais elevados no desempenho motor geral, demonstrando a efetividade do programa interventivo, similar aos resultados do presente estudo.

No estudo de Nobre e colaboradores (2012), participaram escolares entre 4 e 6 anos de duas instituições de ensino. Organizados em dois grupos, 23 crianças compunham o grupo intervenção e 23 crianças, o grupo controle. As atividades eram realizadas uma vez por semana, com duração de 45 minutos, contemplando habilidades motoras básicas e específicas, partindo de atividades simples para complexas, também com impacto positivo no desenvolvimento motor reforçando a necessidade programas motores para crianças que não têm essa possibilidade. Salienta-se que geralmente as escolas estaduais não oferecem aulas que promovam atividades motoras, ou que tenham educação física para essa faixa etária, que geralmente se iniciam em torno dos dez anos de idade. Nesta mesma perspectiva, podemos encontrar na pesquisa realizada uma escola que não oferece aulas de educação física e que as possibilidades que os alunos do primeiro ao terceiro ano do ensino fundamental têm de realizar atividade física eram de maneira livre, sem seguir nenhum modelo ou ordem de desenvolvimento. Porém ao realizarmos as atividades com o primeiro ano, se confirma através do teste proposto, que essas atividades causaram experiências positivas aos escolares ao nível de habilidade motoras fundamentais. Lembrando que essas são essenciais para a o desenvolvimento posterior de habilidades mais complexas.

Desenvolver a prática motora na infância amplia diversos tipos de habilidades, não só as atividades específicas, como jogos e corridas, mas também atitudes de decisão, favorecendo resposta motora eficaz e soluções rápidas frente a situações do cotidiano. A prática motora é incentivada de um modo geral e tem se observado resultados na aplicabilidade quando esta é dividida por etapas crescentes de dificuldade, bem como a organização do programa realizado neste estudo. Muitas vezes, as crianças só têm a possibilidade de praticar atividades motoras dentro da escola, então, este ambiente deve potencializar as atividades de forma que estimule as crianças a essa prática (COTRIM et al., 2011; SACON et al 2013; FERNANDES, 2015).

Ao proporcionar estratégias para o desenvolvimento infantil, deve-se considerar fatores ambientais e hábitos de vida, lembrando que a obesidade infantil tem aumentado nos últimos anos, prejudicando esse processo. Desse modo, a criança deve ter prazer ao realizar atividade física. (TEIXEIRA; 2011; BERLEZE; HAEFFNER; VALENTINI, 2009). Maiores possibilidades de prática de atividades físicas contribuem para o desenvolvimento das habilidades locomotoras, indicando que as práticas de atividades motoras no período da infância são importantes. (NUNES, 2011; LOGAN, 2012; SACON et al., 2013; WILLRICH; AZEVEDO; FERNANDES, 2009).

CONCLUSÃO

Os programas interventivos realizados na infância têm apresentado impacto significativo no desenvolvimento motor no período pré-escolar e escolar. A prática de atividade física, mesmo que de curta duração, pode proporcionar melhoras nas habilidades motoras fundamentais dos escolares, sem diferenças do desempenho motor entre meninos e meninas nesta fase da vida. Salienta-se a importância de estudos do desenvolvimento motor na infância, assim como propostas de intervenção, reforçando que este período é essencial para o aprendizado e aprimoramento de habilidades, devendo ser estimulado em todos os ambientes em a criança está inserida.

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1Fisioterapeuta, Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos)

2 Fisioterapeuta PhD, Professora Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e-mail: abombarda@unisinos.br.