EFFECTS OF CORE STABILIZATION EXERCISES IN ADULTS WITH CHRONIC NONSPECIFIC LOW BACK PAIN:A SYSTEMATIC REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202411201505
Ana Karla Brito Santos1; Thaís Oliveira de Miranda2; Vanessa Cristina de Barros Silva de Sousa3; Ramon Kleberson do Nascimento Moraes4; Maria de Lourdes Oliveira Portela5; Alice do Nascimento Rodrigues6; Gustavo Wilson de Sousa Mello7; Francisco Artur e Silva Filho8; Antônio Hosmylton Carvalho Ferreira9; Ludmilla Karen Brandão Lima de Matos10
Resumo
Introdução: A dor lombar é considerada como causadora de um grande transtorno, interferindo de maneira expressiva na saúde populacional mundial, no bem-estar social, assumindo assim o papel do principal causador de incapacidade no mundo. Objetivo: Analisar os efeitos de exercícios de estabilização central em adultos com dor lombar crônica inespecífica. Métodos: Revisão sistemática, descrita com base no fluxograma PRISMA, incluindo ensaios clínicos randomizados em português, inglês e espanhol, publicados entre 2019 a 2024, utilizando a estratégia PICO. Foram encontrados 420 artigos, por meio das bases de dados Pubmed, Science Direct, Cochrane Library, PEDro, Scopus e Embase. Para avaliar a qualidade dos ensaios clínicos randomizados foi utilizado a Escala PEDro. Resultado: Foi incluído estudos que analisaram diferentes intervenções para o manejo da dor lombar crônica inespecífica. As intervenções baseadas em exercícios de estabilização central, ioga e Tai Chi foram eficazes para reduzir a dor e melhorar a funcionalidade dos pacientes. Estudos mostraram que exercícios de estabilização central, isolados ou combinados com caminhada, resultaram em alívio significativo da dor e melhora da incapacidade funcional. Outro estudo sugeriu que a combinação de exercícios de estabilização central com terapia manual oferece benefícios adicionais, especialmente em curto prazo, ao reduzir incapacidade, cinesiofobia e catastrofização. Considerações finais: Destacando que diferentes abordagens, especialmente a combinação de modalidades terapêuticas, apresentam benefícios na dor e funcionalidade. Recomenda-se novos estudos que explorem a estabilização central e outros tratamentos, considerando efeitos de longo prazo para fortalecer as recomendações clínicas.
Palavras-chave: Dor lombar; Terapia por exercício; Estabilização central.
1 INTRODUÇÃO
A dor lombar é caracterizada como uma dor localizada entre a margem inferior da 12ª costela e a linha glútea inferior. Podendo apresentar um quadro doloroso, fadiga ou rigidez muscular no terço inferior da coluna vertebral, tais sintomas tendem a variar em sua duração e intensidade. Quanto a duração da dor, pode ser classificada como aguda ou crônica, sendo que cerca de 30 a 40% dos casos podem evoluir para o quadro Dor Lombar Crônica (DLC), esta é caracterizada como dor persistente por pelo menos 3 meses (CARGNIN et al., 2019).
Existem dois tipos de classificação da lombalgia relacionada com a causa: as específicas e as inespecíficas (primárias). Quando a dor lombar tem uma causa aparente, é do tipo específica. Dentre as causas possíveis podem ser questões intrínsecas ou congênitas, inflamatórias, degenerativas, entre outras. Apenas 10% das lombalgias apresentam causa específica, sendo classificada na maioria dos casos como dor lombar inespecífica ou idiopática ou primária. Este termo é usado quando não é atribuída de forma confiável a um processo de doença subjacente ou lesão estrutural, assim a causa patoanatômica da dor não pode ser determinada e é caracterizada pelo desequilíbrio entre o esforço solicitado na realização da atividade e a competência em sua execução (MAHER; UNDERWOOD; BUCHBINDER, 2017; RACHED et al., 2012; NASCIMENTO; COSTA, 2015b; WHO, 2023).
A dor lombar é considerada como causadora de um grande transtorno, interferindo de maneira expressiva na saúde populacional mundial, no bem-estar social, assumindo assim o papel do principal causador de incapacidade no mundo. Em decorrência das fortes dores na região lombar, os indivíduos acometidos tendem a desenvolverem o sedentarismo e/ou grande diminuição em suas atividades de vida diária (SILVA et al., 2021). Ao longo da vida 65% a 90% dos adultos poderão apresentar o quadro de lombalgia, com prevalência entre 40% e 80% dentre as várias populações estudadas (MACHADO e JOIA, 2020).
Estudos de Hodges e Richardson em pessoas com dor lombar crônica mostraram que dor recorrente nas costas retardam a atividade dos músculos centrais profundos (transverso do abdome e multífidos) com movimentos dos membros, falhando, portanto, em preparar a coluna para a perturbação resultante do movimento (WASEEM et al., 2019). Os exercícios de estabilização têm como objetivo a restauração do controle motor dos músculos ligados a coluna lombar, como o transverso do abdome e os multífidos, a pelve e área de quadril, e o aumento da espessura desses músculos estabilizadores que resultam na melhora da estabilidade da coluna (ALHAKAMI et al., 2019; GEORGE et al., 2021; HAYDEN et al., 2021; WASEEM et al., 2019).
A terapia com exercícios é recomendada como tratamento de primeira linha da DLC e abrange um conjunto diversificado de intervenções que incluem a realização de atividades, posturas ou movimentos específicos. Estudos têm demonstrado a eficácia dos exercícios de estabilização central em relação aos exercícios gerais (ALHAKAMI et al., 2019; GEORGE et al., 2021; HAYDEN et al., 2021; WASEEM et al., 2019).
Os exercícios de estabilização central na reabilitação de lombalgia tornaram-se populares devido às mudanças observadas nos padrões de ativação dos músculos abdominais na presença de lombalgia. Os exercícios de estabilização central facilitam a co-contração entre os abdominais e os extensores das costas para manter a estabilidade da coluna vertebral, de modo a transferir as cargas igualmente e tornar o paciente funcionalmente ativo. Além disso, foi demonstrado que exercícios de controle motor mais detalhados e exercícios de estabilização provocam efeitos superiores sobre a dor e a incapacidade na dor lombar crônica quando comparados a intervenções mínimas. (NIEDERER et al., 2020; AKODU et al., 2017).
Ainda é um grande desafio para o fisioterapeuta estabelecer programas de tratamento que possam ser efetivos na melhora da dor e da incapacidade de pacientes com dor lombar crônica inespecífica, pois as escolhas das intervenções devem abordar os diversos aspectos que envolvem a dor crônica e suas consequências para a qualidade de vida do indivíduo. Essas escolhas passam pelas várias opções de modalidades de terapia, que já foram investigadas em estudos, assim como pelas formas de abordagem que possam proporcionar mais adesão aos tratamentos. Dessa maneira, o objetivo desse estudo foi analisar os efeitos de exercícios de estabilização central em adultos com dor lombar crônica inespecífica.
2 METODOLOGIA
2.1 Desenho do estudo
O presente estudo trata-se de uma revisão sistemática. Segundo o Manual de revisões sistemáticas de intervenções da Cochrane, esse desenho de estudo é definido por uma revisão que utiliza métodos compreensíveis e ordenados para agrupar e sintetizar resultados de estudos que abordam algum questionamento formulado. Foram seguidas as recomendações estabelecidas pelo “Preferred reporting Items dor Systematic Reviews and Meta-Analyses” (PRISMA), por meio do checklist com 27 itens e do fluxograma, que auxiliaram no relato desta revisão sistemática. (PAGE et al., 2022; HIGGINS et al., 2023).
2.2 Critérios de inclusão e exclusão
Foram incluídos no estudo artigos científicos de livre acesso disponíveis em português, inglês e espanhol, publicados no período de 2019 a 2024, ensaios clínicos randomizados que realizaram estabilização central em participantes com dor lombar crônica inespecífica em pelo menos um dos grupos e que avaliou a dor lombar. Foram excluídos estudos duplicados.
2.3 Estratégia de busca
Esta revisão sistemática tem a seguinte pergunta como base: “Quais os efeitos de exercícios de estabilização central em adultos com dor lombar crônica inespecífica?”. Utilizamos a PICO (P – population; I – intervention; C – comparison; O – outcomes) como base para formular a pergunta de investigação e também para a escolha das palavras-chave. As palavras-chaves foram combinadas por meio do operador booleano AND, sendo elas: Low Back Pain, Exercise Therapy, Core Stability. A pesquisa foi feita nas bases de dados: PubMed, Science Direct, Cochrane Library, PEDro, Scopus e Embase para busca de artigos em português, inglês e espanhol, publicados de 2019 a 2024, conforme o Quadro 1. Os elementos de acordo com a estratégia PICO foram: P – Adultos com dor lombar crônica inespecífica; I – Exercícios de estabilização central; C – Grupo com estabilização central e sem estabilização central; O – Melhora da dor lombar.
2.4 Seleção dos artigos
Inicialmente, os artigos foram exportados para a ferramenta Mendeley Desktop para a exclusão de trabalhos duplicados, em seguida foi realizada uma análise dos títulos e logo após a leitura dos resumos. Posteriormente, foi realizada a leitura completa dos artigos que foram selecionados pelo título e resumo, para verificar a elegibilidade. Assim, os artigos foram incluídos.
2.5 Análise metodológica
A qualidade metodológica dos artigos selecionados foi avaliada por meio da escala PEDro, na qual é composta por 11 itens, que são eles: 1) Especificação de critérios de inclusão; 2) Alocação aleatória; 3) Cegamento da alocação; 4) Similaridade inicial entre os grupos; 5) Cegamento dos participantes; 6) Cegamento dos terapeutas; 7) Cegamento do avaliador; 8) Medida de um desfecho primário (85% dos participantes); 9) Análise de intenção de tratar; 10) Comparação entre grupos em um desfecho primário; 11) Tendência central e variabilidade de pelo menos uma variável, conforme exposto na Quadro 2. O resultado da escala é uma pontuação, de 0 a 10, onde quanto maior a pontuação, melhor a qualidade metodológica. O item 1 não deve ser contabilizado para a pontuação final. De acordo com a pontuação final, podemos considerar a qualidade metodológica do ensaio clínico: Ruim (< 4); Razoável (4-5); Bom (6-8) ou Excelente (9-10).
Quadro 2 – Escores PEDro dos estudos incluídos.
Autores | 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | Total |
DEMIRELY A, et al. 2019 | N | S | S | S | N | N | N | S | N | S | S | 6 |
LIU J, et al. 2019 | S | S | S | S | S | N | N | S | S | S | S | 8 |
BRANCO-GIMÉNEZ P, et al. 2024 | S | S | S | S | N | N | S | S | S | S | S | 8 |
ABADI F. H., et al. 2022 | S | S | S | S | N | N | N | S | S | S | S | 7 |
SHAMSI M. B., et al. 2020 | N | N | N | S | S | N | N | S | S | S | S | 6 |
3 RESULTADOS
De acordo com as estratégias utilizadas nos bancos de dados foi possível identificar 420 artigos, onde 77 foram excluídos por serem duplicados. Em seguida, 343 artigos foram selecionados para análise do título e resumo com intuito de estabelecer os artigos que se enquadram nos critérios de elegibilidade, destes, 302 foram excluídos. Após a leitura completa dos artigos, foram selecionados 5 artigos para análise metodológica e os riscos de vieses para a síntese de evidência qualitativa. Conforme exposto na Figura 1.
Figura 1 – Fluxograma do processo de seleção dos estudos de acordo com o PRISMA.
As características obtidas por meio da leitura dos artigos estão demonstradas nos quadros 2 e 3, sendo organizados com as seguintes informações: Quadro 3 – autores/ano, objetivos, características dos participantes e instrumentos de avaliação; Quadro 4 – autores/ano, grupos e participantes, intervenções, resultados e conclusão.
O ano de publicação dos estudos variou de 2019 a 2024. Quanto ao desenho da população, houve variação entre 36 a 77 participantes, sendo adultos do gênero masculino e feminino, idades entre 18 a 65 anos. Todos os estudos utilizaram uma escala para avaliar a dor, entre estas a Escala Visual Analógica (EVA) e a Escala Numérica de Dor (NRPS), e apenas no estudo de Liu, et al. (2019) a incapacidade não foi avaliada por meio do Índice de Incapacidade de Oswestry (ODI).
No estudo de Shamsi, et al. (2020) não foi descrito o tempo de duração de cada sessão e o mesmo não especificou quais exercícios foram realizados para cada grupo. Os demais tiveram duração de 60 minutos cada sessão, e três tiveram como tempo de intervenção de 6 semanas. Em todos os estudos as primeiras sessões foram utilizadas para aprendizagem e familiarização da contração dos músculos estabilizadores da lombar (transverso do abdome e ou multifidus), conforme descrito no Quadro 3.
Quadro 3 – Autores, objetivos, características dos participantes e instrumentos de avaliação.
Autores | Objetivos | Características dos participantes | Instrumentos de avaliação |
DEMIREL et al., 2019 | Determinar se a estabilização da coluna ou ioga tem efeitos na dor, estado funcional, qualidade de vida e desempenho. | Envolveu 77 pacientes diagnosticados com dor lombar crônica inespecífica, com idade entre 20 e 65 anos. | Foi utilizada a Escala Visual Analógica (EVA), Escala de Desempenho das Costas, Perfil de Saúde de Nottingham (NHP), Índice de Incapacidade de Oswestry (ODI). |
LIU et al., 2019 | Explorar os efeitos do Tai Chi versus exercício de estabilização central na dor em pacientes com dor lombar crônica não específica (CNS-LBP) com 50 anos ou mais. | Envolveu 43 indivíduos com 50 anos ou mais, diagnosticados com dor lombar crônica não específica por um mínimo de três meses, terem capacidade de deambular independentemente e participar do treinamento de Tai Chi. | Escala Visual Analógica (EVA), Teste de Senso de Posição Ativa |
SHAMSI; MIRZAEI; HAMEDIRAD, 2020 | Investigar se existe diferença no padrão de ativação muscular em pacientes com dor lombar crônica inespecífica após exercícios de estabilização central e exercício geral. | Participaram do estudo 56 voluntários com dor lombar crônica inespecífica por mais de três meses, intensidade da dor de 3 a 6 na escala EVA, e idade de 18 a 60 anos. | Escala Visual Analógica (EVA), Questionário de Deficiência de Oswestry. |
ABADI et al., 2022 | Identificar o efeito do exercício de estabilização central (CSE) com exercício de caminhada na percepção da dor e na incapacidade em episódio de dor lombar para indivíduos que sofrem de dor lombar crônica não específica. | Participaram 36 voluntários, com idade de 18 a 45 anos, estilo de vida fisicamente ativo, sofrendo de dor lombar crônica não específica por mais de seis meses com pelo menos dois sintomas de episódio de dor lombar. | Numeric Rating Pain Scale (NRPS), Questionário de Incapacidade de Oswestry (ODI). |
BLANCO-GIMÉNEZ et al., 2024 | Investigar os efeitos do exercício de estabilização central sozinho ou em combinação com terapia manual ou kinesiotaping na incapacidade, cinesiofobia, catastrofização, autoeficácia e sensibilização à dor em pacientes com dor lombar crônica inespecífica com incapacidade leve. | Participaram 70 voluntários com idade entre 18 e 65 anos, com diagnóstico médico de dor lombar crônica inespecífica confirmada por um especialista ortopédico, e um valor máximo de 20% no índice de incapacidade Oswestry. | Índice de Incapacidade de Oswestry (ODI), Sensibilidade a dor por pressão (PPTs), Escala de Cinesiofobia de Tampa (TSK), Pain Catastrophizing Scale (PCS) e Questionário de Autoeficácia. |
Dentre os estudos selecionados, apenas um estudo colocou treinamento duas vezes por semana, os demais foram realizados três vezes por semana, variando apenas a quantidade de semanas. Os tipos de treinamento realizados pelo grupo de comparação variaram com exercícios de Ioga, Tai Chi, exercícios gerais e exercícios de estabilização central combinados com terapia manual ou kinesio taping e caminhada, conforme detalhados no Quadro 4.
Quadro 4 – Autores, grupos e participantes, intervenções, resultados e conclusão.
Fonte: Autoria própria (2024).
3 DISCUSSÃO
A presente revisão sistemática incluiu cinco ensaios clínicos randomizados, com o objetivo de analisar os efeitos de exercícios de estabilização central em adultos com dor lombar crônica inespecífica. Atualmente, mais de 70% da população sofre pelo menos um episódio de dor lombar, com aproximadamente 577.0 milhões de pessoas sofrendo desta patologia em todo o mundo. Além disso, até 85–95% das pessoas não têm uma causa patoanatômica específica atribuível à sua dor (Blanco-Giménez et al. 2024).
A dor lombar crônica inespecífica (DLCI) é a causa mais comum de incapacidade em pessoas com menos de 45 anos. A DLCI é multifatorial por natureza e a sua causa específica é desconhecida na maioria dos casos, mas existem evidências crescentes de que é frequentemente associada à disfunção dos músculos das costas e pélvicos. Alguns pesquisadores demonstraram a diminuição da espessura de músculos estabilizadores centrais como os músculos multífidos (MT) e o transverso abdominal (TrA) e da capacidade de contração isométrica usando imagens de ultrassom em indivíduos com dor lombar crônica. Os músculos MT e o TrA podem se contrair simultaneamente para enrijecer os segmentos da coluna e estabilizar o tronco. Além disso, os movimentos dos membros superiores e inferiores precisam que o tronco e a pelve estejam estabilizados, portanto, a fraqueza dos músculos centrais pode causar movimentos prejudicados, lesões e dor (Narouei et al., 2020).
Desta maneira, considera-se a dor lombar (DL) como sendo um grande transtorno, no qual subsequentemente interfere no bem-estar social e assume um dos principais motivos de incapacidade no mundo. Portanto, indivíduos acometidos desenvolvem posteriormente o sedentarismo ou diminuição drástica de sua atividade física rotineira, devido aos fortes incômodos na região afetada. Enquanto isso, várias estratégias de tratamento endossam a terapia por exercícios como um tratamento de primeira linha para a redução da dor musculoesquelética e melhora da incapacidade. O exercício pode melhorar a força de extensão das costas, a mobilidade, a resistência e a incapacidade funcional (Abadi et al., 2022; Silva et al., 2021).
A instabilidade da coluna lombar e o controle muscular diminuído são fatores importantes na dor lombar. Consequentemente, exercícios de estabilização muscular do tronco para instabilidades lombares são amplamente utilizados em um ambiente clínico. É importante entender como os exercícios de estabilização central podem beneficiar pacientes com dor lombar, melhorando os músculos globais e locais. Esses exercícios visam reeducar a atividade sincrônica dos músculos paravertebrais, multífidos, abdominais e glúteos, e assim reduzir o risco de lesões e dor. Desta forma, podem melhorar o controle neuromuscular, a força e a resistência dos músculos que são essenciais para manter a estabilidade dinâmica da coluna e do tronco. Os principais objetivos do tratamento de pacientes com dor lombar são o controle da dor, a restauração funcional, a garantia de que não ocorram déficits funcionais futuros, a preservação do emprego e da produtividade, e a prevenção da cronicidade em pacientes com dor lombar aguda (Abdelraouf et al., 2020; Narouei et al., 2020; Akodu et al., 2020; Akodu et al., 2024).
Demirel et al. (2019), em seu estudo “Exercício de estabilização versus exercício de ioga em dor lombar inespecífica”, buscou comparar os efeitos da dor, capacidade funcional, qualidade de vida e desempenho em dois grupos, um realizava exercícios de estabilização central e o outro exercícios de ioga. Os resultados do estudo mostraram que ambos os grupos obtiveram melhora na qualidade de vida na comparação entre eles, nos desfechos buscados pelos autores, porém o grupo de estabilização central se sobressaiu no que diz respeito à incapacidade e a ioga teve efeitos superiores com relação a dor durante a realização do exercício. Segundo o estudo, o maior alívio da dor no grupo de ioga se deve ao fato de manter a postura correta durante o exercício, que ajudou no relaxamento dos músculos lombares e nas atividades diárias. Consequentemente houve redução na dor durante a atividade, diminuindo os níveis de incapacidade e melhorando o funcionamento ao realizar o movimento sem dor. No entanto, é importante destacar que a pesquisa teve algumas limitações como o não cegamento do avaliador, e a falta de reavaliações em intervalos de tempo menores durante a realização das intervenções, podendo trazer informações mais enriquecedoras sobre cada semana de tratamento dos grupos.
Liu et al. (2019), buscou examinar os efeitos do Tai Chi estilo Chen versus o exercício de estabilização central no tratamento de dor lombar crônica inespecífica em comparação ao grupo controle (sem intervenção). O estudo descreveu que o Tai Chi no estilo Chen possui maior ênfase em movimentos espirais de enrolamento de seda, alternando assim entre o movimento rápido/lento e explosões de potência interna, que podem fornecer estimulação adicional para os músculos lombares, como por exemplo, aumentar a flexibilidade física das articulações e a força muscular da parte inferior das costas. Além disso, o estudo descreveu seis movimentos realizados no grupo de estabilização central, onde os exercícios foram realizados na bola suíça, com ênfase no fortalecimento dos músculos profundos do abdôme. Nos resultados, foi observado que tanto o Tai Chi quanto os exercícios de estabilização central tiveram efeitos benéficos em relação à dor, mas não quanto à propriocepção dos membros inferiores.
Vale destacar que na pesquisa mencionada anteriormente a média de idade dos participantes foi de 58.4 ± 5.08, a maior média comparada aos demais estudos desta revisão, assim como o tempo total com a frequência de realização do programa de exercícios totalizando 36 atendimentos. Além disso os exercícios de estabilização foram realizados com a bola suíça, e apenas o estudo de Demirel et al. (2019) utilizou também a bola, mas somente na fase final do programa para dificultar os movimentos. Uma limitação do estudo de Liu et al. (2019) foi a não utilização de um questionário para avaliar a incapacidade dos participantes, um desfecho relevante na avaliação dos resultados de intervenções, como os exercícios de estabilização central, em estudos sobre dor lombar.
O estudo de Shamsi et al. (2020), buscou investigar se havia diferença na dor, incapacidade e no padrão de ativação dos músculos do tronco em pacientes com dor lombar crônica inespecífica após exercícios de estabilização central e exercícios gerais. Os exercícios de estabilização central foram realizados com carga progressiva em tarefas funcionais, enquanto realizava a co-contração dos músculos estabilizadores. Já os exercícios gerais foram descritos como sendo exercícios que ativaram os músculos extensores (paravertebrais) e flexores (abdominais) realizados em posição deitada. Ao contrário do padrão de co-ativação de músculos e suas razões de desequilíbrio, a melhora foi significativa no índice de dor e incapacidade em ambos os grupos, no entanto sem diferença significativa entre eles. Podendo ser interpretado que ambos os exercícios fizeram efeitos úteis nos sintomas clínicos, independentemente de terem feito mudanças nos padrões de ativação dos músculos do tronco. No entanto, ainda permanece sem resposta se a mudança na ativação do músculo do tronco afeta a dor e outras características clínicas.
Segundo Mohammadi et al. (2023), os pacientes que sofrem de dor lombar apresentam indícios mais precoces de redução na atividade muscular da lombar, e quando há perturbações multidirecionais aumenta a ativação da musculatura do tronco. Em estudo realizado por esses autores foi avaliado os efeitos de um treinamento de 8 semanas, de estabilidade central na cinemática e cinética dos movimentos de flexão e extensão do tronco. Como resultados, o treinamento aumentou a ativação muscular e melhorou o controle neuromuscular e a estabilidade postural, juntamente com o ritmo lombo-pélvico. Além disso, o estudo demonstrou maiores momentos de pico de extensão do quadril após o protocolo de treinamento no grupo experimental. O aumento significativo observado nos momentos extensores do quadril no grupo experimental, quando comparado ao grupo controle, pode ter resultado de uma variedade de fatores mecânicos, incluindo a ativação dos músculos profundos do tronco, o uso de uma abordagem de aprendizagem motora para retreinar o controle espinhal ideal e coordenação, progressão dos receptores proprioceptivos e uma melhora na qualidade do movimento, habilidades motoras e estabilidade.
Nota-se que o tempo de treinamento do estudo de Mohammadi et al. (2023) foi de 8 semanas, enquanto que o de Shamsi et al. (2020) foi apenas de 5 semanas, o que pode ter influenciado nos resultados relacionados à ativação muscular. Outro fator que pode ter contribuído para o resultado de Shamsi et al. (2020) seria os tipos de exercícios realizados na intervenção, mas a ausência de informações mais detalhadas sobre o exercícios dificulta uma análise melhor sobre este aspecto.
Abadi et al. (2022), avaliou o impacto de uma intervenção que combina exercícios de estabilização central com caminhada, observando especificamente a dor lombar e a percepção de incapacidade associada a essa condição. O estudo mostrou uma redução significativa na percepção da dor entre os participantes que seguiram o protocolo combinado de exercícios de estabilização central e caminhada, assim como uma melhora na funcionalidade. Os participantes relataram menor dificuldade para realizar atividades cotidianas, indicando uma redução na incapacidade relacionada à dor lombar. A combinação de exercícios foi mais eficaz do que os exercícios de estabilização central ou a caminhada isoladamente, reforçando a ideia de que uma abordagem multifatorial é mais eficaz no manejo da dor lombar. Segundo os autores do estudo, esses resultados são promissores do ponto de vista clínico, pois oferecem uma solução acessível, não invasiva e sustentável para o tratamento da dor lombar. Os exercícios de estabilização central e a caminhada são fáceis de implementar e podem ser adaptados para diferentes perfis de pacientes.
O estudo de Blanco-Giménez et al. (2024) analisou a eficácia de um tratamento combinado com exercícios de estabilização para pacientes com dor lombar crônica, medindo o impacto dessa intervenção em variáveis como intensidade da dor, funcionalidade e qualidade de vida. Assim como no estudo de Liu et al. (2019), esse estudo realizou o programa de tratamento em 12 semanas, e ambos apresentaram resultados significativos na dor e incapacidade. Vale destacar que o programa de exercícios de estabilização nessas pesquisas foi diferente e que no estudo de Blanco-Giménez et al. (2024) a avaliação foi realizada em etapas no decorrer das semanas.
O estudo citado anteriormente teve como resultado que todas as abordagens terapêuticas analisadas melhoraram além da dor e da incapacidade, as demais variáveis analisadas após 12 semanas. Destacando o grupo de exercício de estabilização combinado com terapia manual, que apresentou mudanças significativas em 3 semanas na pontuação ODI em comparação com os demais grupos. Nas semanas 6 e 12, não houve diferença significativa na funcionalidade entre o grupo de exercícios de estabilização e o grupo de exercícios de estabilização combinado com a terapia manual. Durante este período, o grupo de exercícios de estabilização combinado com o kinesiotaping apresentou os resultados menos efetivos. Além disso, não foram observadas diferenças significativas, para nenhuma das comparações, nas pontuações da escala de cinesiofobia, escala de catastrofização da dor, do questionário de autoeficácia e na sensibilidade à dor em 3, 6 e 12 semanas.
Os exercícios de estabilização combinados com terapia manual, do estudo citado anteriormente, demonstraram ser uma modalidade de tratamento com melhores resultados para a variável incapacidade no início do tratamento. Esse resultado pode ter ocorrido pelo efeito na mobilidade da coluna que a técnica da terapia manual de manipulação realizada pode proporcionar. De acordo com Celenay et al. (2019), a terapia de manipulação é eficaz na melhora da dor, mobilidade e bem-estar do paciente com dor lombar crônica, em seu estudo dividido em três grupos fisioterapia padronizada com manipulação (CTM), fisioterapia padronizada com massagem (SM) e um grupo controle recebendo apenas a fisioterapia padronizada. As variáveis de dor e incapacidade diminuíram em ambos os grupos, porém o grupo que recebeu a manipulação foi mais eficaz na melhora da dor durante a atividade, mobilidade da coluna, ansiedade, depressão e qualidade de vida em comparação com o grupo que recebeu massagem, e na melhora da dor em repouso e durante a atividade, mobilidade da coluna, incapacidade, ansiedade, depressão e qualidade de vida em comparação apenas com o grupo controle.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo analisou ensaios clínicos randomizados com formas diferentes de tratar a dor lombar crônica inespecífica em pacientes adultos em comparação aos exercícios de estabilização central. Foi possível observar que essas diferentes linhas de tratamento apresentam melhora em relação às variáveis dor e incapacidade funcional. Além disso, em alguns casos a combinação da estabilização central com outras modalidades de tratamento se mostrou com resultados significativos nos benefícios alcançados quando comparado a utilização apenas da estabilização central.
Sugere-se que sejam realizados mais ensaios clínicos randomizados que comparem os exercícios de estabilização central com outras terapias, com outras variáveis relacionadas à dor lombar e outros tipos de exercícios, assim como os efeitos a longo prazo na dor, incapacidade e satisfação do paciente, possibilitando assim que novas revisões sistemáticas possam trazer recomendações com nível de evidência cada vez mais fortes que contribuam para nortear a realização da prática clínica.
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1Graduanda de Fisioterapia Universidade Federal do Delta do Parnaíba – UFDPar
ORCID: https://orcid.org/0009-0008-4489-3804
2Graduanda de Fisioterapia Universidade Federal do Delta do Parnaíba – UFDPar
ORCID: https://orcid.org/0009-0005-7275-0083
3Graduanda de Fisioterapia Universidade Federal do Delta do Parnaíba – UFDPar
ORCID: https://orcid.org/0009-0005-0598-6256
4Graduanda de Fisioterapia Universidade Federal do Delta do Parnaíba – UFDPar
ORCID: https://orcid.org/0009-0004-2670-3158
5Graduanda de Fisioterapia Universidade Federal do Delta do Parnaíba – UFDPar
ORCID: https://orcid.org/0009-0000-4418-1892
6Graduanda de Fisioterapia Universidade Federal do Delta do Parnaíba – UFDPar
ORCID: https://orcid.org/0009-0008-6293-0197
7Bacharelado em Medicina Veterinária – UFPI Docente do curso de Enfermagem – UESPI Parnaíba
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6000-3869
8Bacharelado em Farmácia – Universidade Federal do Ceará Doutor Docente da Universidade Estadual do Piauí – UESPI
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9201-7074
9Bacharelado em Medicina Veterinária – UFPI Docente da Universidade Estadual do Piauí – UESPI
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4649-6502
10Bacharelado em Fisioterapia – UNIFOR Docente do curso de Fisioterapia – UFDPar
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4033-9642