EFEITOS DAS INTERVENÇÕES FISIOTERAPÊUTICAS NA MELHORIA DAS HABILIDADES MOTORAS EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO ESPECTRO AUTISTA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10054970


Maria Eduarda Silva Pinheiro¹
Ronney Jorge de Souza Raimundo²


RESUMO

INTRODUÇÃO: Como o Transtorno do Espectro Autista é definido como um comprometimento em algumas áreas do desenvolvimento. Esse comprometimento por ser com a interação social, a comunicação verbal e não verbal e o comportamento. Observa-se que a fisioterapia pode desempenhar efeitos benéficos que tem a capacidade de contribuir para o desenvolvimento motor e auxiliar na prevenção de futuros comprometimentos e, por fim, de promover a integração social. OBJETIVO: identificar quais os efeitos das Intervenções fisioterapêuticas na melhoria das habilidades motoras em crianças com TEA. MÉTODOS: Foram realizadas revisões bibliográficas, de estudos produzidos e publicados entre 2018 e 2023, no idioma inglês, espanhol e português. Esses estudos foram aceitos por pertencerem à área da fisioterapia ou saúde referente ao TEA. Foram realizadas buscas nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Scientific Electronic Library Online (Scielo) e PubMed. RESULTADOS: Foram selecionadas 15 produções, das quais apenas 2 eram da SciELO, 7 da PubMed e 6 da LilaCs, essas foram aceitas pois abordaram diretamente o tema. As demais produções foram excluídas por não apresentarem relação com o objetivo central do trabalho e com os critérios de inclusão. Para analisá-las, foram considerados os resultados dos estudos, isto é, as ideias e discussões ponderadas pelos autores dos artigos selecionados e sua relação com a fisioterapia. CONCLUSÕES: Os estudos analisados confirmam a pergunta da pesquisa de  que a fisioterapia contribui para o aperfeiçoamento das habilidades motoras de crianças com autismo, e auxilia nas capacidades coordenativas e prevenindo limitações na execução das atividades funcionais.

Palavras-chaves: Transtorno do Espectro Autista; Fisioterapia; Tratamento; Habilidades motoras.

ABSTRACT

INTRODUCTION: As Autism Spectrum Disorder is defined as an impairment in some areas of development. This commitment to social interaction, verbal and non-verbal communication and behavior. It is observed that physiotherapy can have beneficial effects that have the capacity to contribute to motor development and help prevent future impairments and, finally, promote social integration. OBJECTIVE: to identify the effects of physiotherapeutic interventions in improving motor skills in children with ASD. METHODS: Bibliographic reviews were carried out on studies produced and published between 2018 and 2023, in English, Spanish and Portuguese. These studies were accepted because they belong to the area of ​​physiotherapy or health related to ASD. Searches were carried out in the Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (Lilacs), Scientific Electronic Library Online (Scielo) and PubMed databases. RESULTS: 15 productions were selected, of which only 2 were from SciELO, 7 from PubMed and 6 from LilaCs, these were accepted as they directly addressed the topic. The other productions were excluded because they were not related to the central objective of the work and the inclusion criteria. To analyze them, the results of the studies were considered, that is, the ideas and discussions considered by the authors of the selected articles and their relationship with physiotherapy. CONCLUSIONS: The studies analyzed confirm the research question that physiotherapy contributes to improving the motor skills of children with autism, and helps with coordinative capabilities and preventing limitations in the execution of functional activities.

Keywords: Autism Spectrum Disorder; Physiotherapy; Treatment; Motor skills.

1.    Introdução

O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição neurológica que afeta o desenvolvimento da comunicação, interação social e padrões de comportamentos, conhecido como autismo. Esse transtorno se caracteriza por hábitos repetidos e dificuldades na comunicação social, variando amplamente em níveis de intensidade e manifestações. Observáveis desde da primeira infância, em torno de 3 a 4 anos, a criança já possui o neuropsicomotor amadurecido (GAIA; FREITAS, 2022).

O TEA tem causas polivalentes, como enfoques genéticos, classificada como anormalidade cromossômica causada por mutação no gene FMR1 localizado no cromossomo X, e ambientais, como idade, medicações tomadas durante a gravidez, infecções virais, pré-eclâmpsia, diabetes, que se expressam de forma individual a cada indivíduo (GAIA; FREITAS, 2022).

Segundo dados do Center of Deseases Control and Prevention (CDC), nos Estados Unidos, em 2023, mostra que a cada 36 crianças na faixa etária de 8 anos de idade, uma é diagnosticada com autismo. Isso, ao levar em consideração a prevalência maior pelo sexo masculino, sendo quatro vezes maior a chance, comparado com o sexo feminino. De acordo com os dados do IBGE do ano de 2021, resulta uma estimativa aproximada de 5.997.222 pessoas vivendo com o TEA no Brasil (AUTISMO E REALIDADE, 2023).

Conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM), os níveis de autismo diferem de graus de funcionalidade e dependência, sendo classificados em três níveis, TEA clássico, alto desempenho ou síndrome de Asperger e o mais grave. Com isso, o nível clássico é caracterizado pelo comportamento restrito, em que a criança não interage com o meio, mesmo que possua linguagem verbal, na comunicação não pratica. Já na Síndrome de Asperger a criança tem um nível elevado de inteligência e utiliza a comunicação verbal. Por fim, o nível mais grave o indivíduo apresenta resistência a mudanças e pessoas (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013).

As crianças com TEA apresentam interesses privativos, modificações na comunicação verbal e não verbal, déficits na marcha e no equilíbrio, hipotonia. Além disso, apresentam sensibilidades sensoriais únicas, alterações na coordenação motora fina, podendo precisar de suporte transitório ou até longos períodos da vida ( JIA; XIE, 2021).

Ao se observar a clínica de uma pessoa autista vê-se que há uma grande importância desenvolver e capacitar uma equipe profissionalizada no cuidado com esse público, tudo isso com a finalidade de oferecer maior qualidade de vida e conforto. Sendo assim, com o dever de promover bem-estar, a equipe multiprofissional pode estabelecer diversas atividades que nunca foram desempenhadas na vida de quem possui esse laudo. Por isso, é fundamental a inclusão do tratamento da fisioterapia precocemente para desenvolver funções das atividades de vida diária, exercícios físicos, atividades lúdicas, contribuindo para uma maior independência nas atividades e facilitar a participação em ambiências sociais (ROMEU; ROSSIT, 2022).

A combinação de habilidades multiprofissionais permite atender as necessidades únicas de cada criança, promovendo seu desenvolvimento emocional, social, cognitivo e físico. A colaboração coordenada desses especialistas não apenas contribui para o crescimento da criança, mas também proporciona orientação e apoio às famílias (ROMEU; ROSSIT, 2022).

Temos como objetivo principal, mostrar quais são os papéis desempenhados pelo fisioterapeuta e, também, acerca da importância da atuação no tratamento de crianças com Transtorno do Espectro Autista, tendo em vista o desenvolvimento motor, as áreas de concentração e agregação social. Por meio das intervenções personalizadas e a colaboração entre profissionais de saúde, educadores e familiares é fundamental garantir um tratamento abrangente e eficaz (GAIA; FREITAS, 2022).

2.    Metodologia

Foi realizado uma revisão bibliográfica por meio das bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Scientific Electronic Library Online (Scielo), Pubmed, utilizando os descritores selecionados: “Transtorno do Espectro Autista”, “autismo”, “Especialidade de fisioterapia”, “Síndrome de Rett”, “Desenvolvimento infantil”.

Ainda, utilizou-se como critérios de inclusão artigos em idioma português, inglês e espanhol, que foram publicados entre os anos de 2018 a 2023, ou seja, os últimos 5 anos.

Com isso, o objetivo principal proposto esteve voltado para a seguinte pergunta: quais os efeitos das Intervenções fisioterapêuticas na melhoria das habilidades motoras em crianças com TEA?

Como critério de exclusão artigos que não mencionaram autismo, artigos que especificam a faixa etária adulta, resultados de artigos com mais de 5 anos e com fuga do tema principal, que contribuíram para a análise descritiva deste trabalho. Dessa forma, quinze artigos foram selecionados, dentre eles dois da base de dados SciELO, sete PubMed e seis da Lilacs, os quais embasaram o presente estudo.

3.    Referencial Teórico

O autismo é um transtorno que atinge o desenvolvimento neuropsicomotor do ser humano em todos os estágios do crescimento e desenvolvimento humano, atuando na interação social, comunicação e a linguagem podendo se manifestar em diferentes formas e graus (OLIVEIRA et al., 2019).

A descoberta e evolução do conceito do autismo foram moldados por observações clínicas, pesquisas científicas e uma crescente conscientização sobre as necessidades dessas pessoas. O TEA vem sendo estudada há cerca de 60 anos e, foi descrita pela primeira vez em 1911 pelo psiquiatra suíço Eugere Bleuler que descreveu como um grupo de manifestações relacionadas à esquizofrenia, no qual apresentavam dificuldade na comunicação ou fuga da realidade para um mundo interior.

Apenas em 1943, o médico Leo Kanner identificou o autismo como um isolamento extremo desde o início da vida e um desejo obsessivo pela preservação das mesmices, usando o termo de “distúrbios autísticos do contato afetivo”. Em 1944 Hans Asperger, descreveu como prejudicial na figura neuropsicomotor, proporcionando limitações motoras, linguagem e cognição, com decorrência na interação social da criança (BATISTA; OLIVEIRA; PEREIRA, 2023).

A Associação Americana de Psiquiatria lançou a primeira edição do DSM-1, um manual crucial que estabeleceu padrões para o diagnóstico de transtornos mentais. Naquela época, os sintomas de autismo eram considerados como parte da esquizofrenia infantil, não sendo reconhecida como uma condição separada (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013).

No entanto, em 2013 com o  DSM-5 todas as subcategorias do autismo foram unificadas em um único diagnóstico chamado Transtorno do Espectro Autista. Os indivíduos agora são diagnosticados em um único espectro com diferentes níveis de gravidade (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013).

Cerca de 45% a 60% dos indivíduos apresentam alguma forma de deficiência intelectual. Em casos de irmãos gêmeos monozigóticos o TEA é de 50 a 95%, em gêmeos dizigóticos têm prevalência de 10 a 30% e em irmãos que não são gêmeos a probabilidade é de 3 a 19% de risco de apresentar o TEA. (BATISTA; OLIVEIRA; PEREIRA, 2023).

Não existe causa única para o autismo, mas sim a interação de fatores genéticos e ambientais. Os fatores genéticos são caracterizados pelas alterações no código genético do feto em desenvolvimento no útero da mãe, onde desencadeiam uma série de reações químicas que afetam a qualidade, produção, forma, organização e quantidade de células, bem como a expressão química desses neurônios. Desde o nascimento, a criança apresenta alterações na estrutura cerebral e na organização dos neurônios durante o desenvolvimento fetal. Essas mudanças são responsáveis pelos atrasos observados nas áreas de cognição, socialização, linguagem e outras dificuldades associados ao autismo (GAIA; FREITAS, 2022).

O diagnóstico é feito através da observação clínica, com uma avaliação comportamental minuciosa da criança e da entrevista dos pais com a equipe multidisciplinar. Os sintomas apresentados e os graus de comprometimento são muito variados, mostrando grande diversidade de apresentação (GAIATO; TEIXEIRA,2018).

O Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-V) é classificado em três níveis que variam de acordo com o grau de funcionalidade e dependência do paciente. Primeiro nível ou TEA clássico, possuem comportamentos restritos, possuem linguagem verbal, mas empregam a linguagem não verbal na comunicação, não interagem com o meio e não fixam o olhar; segundo nível ou TEA de alto desempenho chamado de síndrome de Asperger, a criança apresenta o mesmo comprometimento do nível 1, porém de forma limitada. São inteligentes e utilizam a comunicação verbal. Terceiro nível, é o mais grave, onde exige muito apoio. Apresenta dificuldade de encarar mudanças ou adaptar outros comportamentos, possui dificuldades em interações sociais e linguagem verbal e não verbal com prejuízos graves (GAIA; FREITAS, 2022).

Além disso, manifestações dos sinais sintomas em relação às duas características fundamentais, também variam conforme os graus do autismo. Grau leve, a criança possui boa adaptação ao meio, sem muita demanda de apoio, o tratamento é focado no desenvolvimento funcional. Grau moderado, dispõe maior nível de comprometimento e necessita de assistência intensiva, embora a criança consiga ter funcionalidade e interagir com o meio. Grau grave, apresenta pouca funcionalidade e são dependentes mesmo com tratamento multidisciplinar (BATISTA; OLIVEIRA; PEREIRA, 2023).

Através da maleabilidade do sistema nervoso, uma vez que os primeiros aprendizados na infância desempenham um papel fundamental na criação de novas conexões neuronais e, consequentemente, no desenvolvimento neuropsicomotor (SANTOS; BIGOTO; TRIBIOLI, 2023).

As crianças com autismo apresentam características que vem desde o nascimento que são características motoras, comportamentos repetitivos, estereotipados, comprometimentos na evolução da linguagem verbal e não verbal, déficit na comunicação e interação social, desviadas sendo diferentes se comparadas a outras crianças, apresentando precocemente os déficits motores antes mesmo dos 3 anos de idade. A capacidade funcional da criança com autismo sofre ação direta sobre o seu grau de comprometimento. A triagem se faz necessária para ter uma resposta positiva das condutas adotadas das intervenções multidisciplinares (SANTOS; BIGOTO; TRIBIOLI, 2023).

O tratamento dos portadores de TEA deve ser feito com a ajuda de uma equipe multidisciplinar, no qual profissionais de cada área vão ajudar o paciente na melhoria de sua qualidade de vida, conforme suas necessidades e grau presente do seu transtorno. Enquanto ao apoio dos profissionais necessários e estímulos, a família ocupa uma função primária.  Abordagem colaborativa é crucial para promover o bem-estar e o desenvolvimento no tratamento dos acometimentos motores e na prevenção de agravos ao estado do paciente (OLIVEIRA; GONÇALVES; et al, 2019).

Em meio os diferentes profissionais que contribuem para a melhoria da qualidade de vida do autista, com atuações existentes para minimização destes déficits, a fisioterapia que emprega a cinesioterapia, como instrumento de habilitação e reabilitação, além de atividades cujo objetivo central é a formação do esquema corporal (GAIA; FREITAS, 2022).

A fisioterapia intervém na melhoria motora, na concentração, auto controle postural, motricidade, equilíbrio, tônus muscular, movimentos estereotipados, alongamento e fortalecimento, atuando nas atividades de forma lúdicas, com músicas, danças, brinquedos, cores, contato tátil, sempre com criatividade e comunicação entre paciente e terapeuta (GAIA; FREITAS, 2022).

A avaliação fisioterapêutica é indispensável, a anamnese com dados pessoais e toda a história sobre seu transtorno, um exame físico para verificar o grau de força muscular, tônus, equilíbrio, marcha, alterações posturais, a sensibilidade e os reflexos e seu nível de consciência. Com o tratamento fisioterapêutico como coadjuvante, esses pacientes melhoram a integração social, o desenvolvimento motor e as áreas de concentração (SANTOS; BIGOTO; TRIBIOLI, 2023).

O fisioterapeuta tem a capacidade de realizar uma avaliação da criança utilizando o Método de Avaliação da Independência Funcional (MIF). Este método analisa tanto os aspectos cognitivos quantos os motores, examinando as habilidades relacionadas à memória, ao nível de força muscular, a comunicação, ao autocuidado, ao comportamento, a interação social, a capacidade de mudar de posição, a marcha e as atividades cotidianas. Através dessa avaliação, é possível atribuir uma pontuação que indica o grau de dependência da criança, variando de 1 (dependência total) a 7 (nenhuma dependência) com faixa total de pontuação que vai de 18 a 126 (GAIA; FREITAS,2022).

Dentre das diversas intervenções existentes, estudos mostram com relevância a cinesioterapia no auxílio de aprimoramento das habilidades motoras, através de exercícios de coordenação motora,  movimentos estereotipados, força muscular, equilíbrio e estímulos sensoriais, tais como o alongamento, mobilização articular e exercícios de fortalecimento,  atuando nas atividades de forma lúdicas, com músicas, danças, brinquedos, cores, contato tátil, sempre com criatividade, comunicação e estimulando a plasticidade cerebral do paciente (GAIA; FREITAS, 2022).

Dessa forma, a equoterapia é uma técnica alternativa que oportuniza atividades em cavalos para construir uma interação com os animais, a natureza, ao meio ambiente, em que age com objetivo de exceder danos sensoriais, comportamentais e motoras, através do exercício desportivas de forma lúdica. A conduta em um ambiente estimulante multissensorial contribui para a redução de estresse, pressão arterial, frequência cardíaca, solidão, isolamento, auxilia no autocontrole, comunicação, na psicomotricidade, no tônus na mobilidade das articulações da coluna e na pelve, na postura e equilíbrio, na lateralidade, da percepção do esquema corporal, coordenação, nos gestos, na resistência muscular, melhoria da marcha. A equoterapia requer da contribuição da equipe interdisciplinar para um melhor desenvolvimento da criança autista (ZHAO; CHEN el al., 2021).

Além disso, a hidroterapia ajuda também no desenvolvimento motor e social da criança. A água proporciona um ambiente único, no qual a criança pode se sentir mais confortável devido a propriedades terapêuticas. A resistência que a água oferece durante a atividade permite a melhoria do sono, harmonia dos movimentos, diminui a tensão, permite o fortalecimento dos músculos de maneira menos intimidante. Também promove a interação social, à medida que participam de atividades em grupo (BATISTA; OLIVEIRA; PEREIRA, 2023).

Ainda, a gameterapia ou realidade virtual não imersiva de jogos tem demonstrado uma abordagem eficaz e envolvente no tratamento, no qual auxiliam como complemento de atividades terapêuticas. Pode ser individualizado ou em grupos, além de promover motiva extra, feedback em tempo real, essa estimulação de forma mais lúdica e dinâmica apresenta eficácia nas atividades diárias, aumentando suas capacidades funcionais com maior independência, inclusão e interesse em interagir com o meio (BATISTA; OLIVEIRA; PEREIRA, 2023).

Diante do contexto apresentado, o fisioterapeuta é primordial na assistência a pacientes com Tea, trabalhando sempre de forma personalizadas e respeitando sempre as particularidades de cada criança no tratamento dos acometimentos motores e na prevenção de agravos ao estado do paciente, além de restaurar a integridade dos órgãos, sistemas ou funções (BATISTA; OLIVEIRA; PEREIRA, 2023).

4.    Resultados e discussão

Com base no artigo de pesquisa, fica evidente que o fisioterapeuta desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de crianças com TEA, especialmente no que diz respeito às habilidades sensório-motoras, proporcionando aos indivíduos habilidades motoras e de coordenação que promovem uma melhor interação e comunicação social, além de trabalhar aspectos cognitivos e prevenir limitações funcionais. Assim, os resultados deste estudo serão examinados a seguir, levando em consideração as reflexões e discussões apresentadas pelos autores de cada artigo selecionado.

Observa-se  que  o  Fisioterapeuta possui  vários  recursos  que  podem  ser trabalhados   no   tratamento   da   criança com   TEA,   visando   a   uma   melhor reabilitação  e  ajudando  a  inseri-la no meio que a cerca. Contudo, os estudos ainda são pouco abrangentes quando se trata de autismo e fisioterapia.

Grande parte das produções científicas abordam esse transtorno por meio do acompanhamento com psicólogos e fonoaudiólogos. Por isso, esse trabalho se torna relevante, visto que existe um desfalque e pobreza referente às pesquisas relacionadas ao TEA, sobretudo se tratando do desenvolvimento psico-motor.

Mesmo que esse desenvolvimento motor não entre como critério diagnóstico para o autismo, de acordo com algumas pesquisas científicas, consoante a Liu (2013), existe um interesse nesse diagnóstico para prevenção. De acordo com Gallahue et al. (2002), o desenvolvimento motor representa um aspecto do processo desenvolvimentista total da criança e está intrinsecamente inter-relacionado às áreas cognitivas e afetivas do comportamento humano, sendo influenciado por fatores ambientais.  ( Santos et al, 2021).

Com base nos quinze artigos que foram escolhidos e catalogados, percebe-se a importância fundamental que os fisioterapeutas possuem ao observar o desenvolvimento psicomotor das crianças com TEA. Ainda mais se tratando dos aspectos sensório-motores, os quais são essenciais para que haja uma boa inserção desses indivíduos em sociedade, visto que trabalha de forma contínua as habilidades motoras e capacidades coordenativas. Assim, há uma grande melhoria na qualidade de vida e pode contribuir para uma melhor interação e comunicação social.

As crianças com TEA têm muitas dificuldades para se relacionar com outras pessoas, não partilha sentimentos, o que a impede de distinguir diferentes pessoas, raramente compartilha a atenção com objetos ou acontecimentos, não fixa a atenção visual de forma espontânea, nem consegue atrair a atenção de outras pessoas para realizar algumas atividades em grupo (SEGURA; NASCIMENTO; KLEIN, 2011). Exatamente por isso, observa-se a importância em se desenvolver as atividades motoras, dando enfoque em trato motor fino e grosseiro, para que as crianças se assemelhem com os diferentes objetos e formas.

Rosa Neto et al. (2013) descrevem que, para a execução de atividades que exigem movimentos finos e precisos, habilidades como atenção e percepção precisam ser desenvolvidas, atributos que são comprometidos nas crianças com TEA.

A abordagem da criança com TEA a partir da fisioterapia tem a consequência de mostrar os possíveis cuidados que, instituídos desde cedo, podem servir para melhorar a independência funcional, principalmente quando o prognóstico é pior devido à simultaneidade de múltiplos sintomas. ( Santos et al., 2021).

Muitas vezes, observa-se que algumas crianças diagnosticadas com TEA acabam se tornando dependentes das pessoas que fornecem cuidados à elas. Segundo Fernandes et al (2020), a fisioterapia tem contribuído de forma positiva para essa situação, buscando uma menor dependência ou até mesmo a conquista da independência dessas crianças (Santos et al., 2021).

A equipe multiprofissional colabora em potencial na parte motora, cognitiva, sensorial, emocional e interação social, desde que fiquem atentos às particularidades de cada caso e tenham conhecimento e habilidade para lidar com os graus do autismo e cada caso.  (Batista et al., 2023)

De acordo com Magagnin et al. (2019), crianças com o diagnóstico para autismo podem vir a apresentar diversas dificuldades para se relacionar social e emocionalmente, bem como em partilhar desejos e sentimentos. Por isso, são raríssimos os momentos em que compartilham suas emoções, atenção com objetos ou acontecimentos, não conseguem fixar o olhar visualmente de maneira  espontânea e apresentam dificuldades em realizar atividades diversas em grupo. Podem apresentar também na maioria dos casos alterações de tônus muscular, manifestando-se como hipotonia; tendo por consequência alterações da coluna vertebral (escoliose), sendo um dos indicativos de deletério controle e ajuste postural (AZEVEDO; GUSMÃO, 2016).

Expor as estratégias de ensino, estudá-las, e colocá-las em prática, devem ser feitas de forma proveitosa para a criança em desenvolvimento (ANDRADE, 2014). É necessário elaborar um programa de alongamento ou de fortalecimento para auxiliar na marcha. Precisa-se também de exercícios de fortalecimento para melhorar o tônus muscular, e planejar estratégias de controle motor onde podem ser trabalhados com a criança juntamente com os pais, para que eles possam contribuir para um melhor desenvolvimento (SEGURA et al., 2011).

Há grandes mudanças na motricidade, na postura e em outros aspectos, sobretudo sociais com a fisioterapia no contexto do autismo. (Oliveira et al., 2019). 

González; Canals (2014) destacam que a soma das técnicas de fisioterapia e psicomotricidade permitirá uma melhor integração das funções motoras e mentais, melhorando a integridade física, cognitiva e emocional da pessoa.

 Borges et al. (2016) enfatizam que a hidroterapia promove relaxamento, socialização, autoconfiança, aumento da autoestima e uma sensação de realização e de progresso rumo à recuperação, o que pode estimular o interesse do paciente em continuar em um programa.

A criança com o laudo de TEA deve ser amparada em vários aspectos, visto que possuem dificuldades em diversos âmbitos, desde sociais até pessoais. Nesse caso, para resultados mais positivos, a família precisa trabalhar junto com a equipe, para que a criança seja incluída no meio social, tendo em vista sua melhora no bem-estar e desenvolvimento (FERREIRA et al., 2016).

5.    Considerações finais

A fisioterapia motora tem um papel central no tratamento dessas crianças, trazendo efeitos benéficos na melhoria do desenvolvimento e das limitações, principalmente no que se refere ao sensório-motor. Por isso, fornece ao paciente o máximo de independência como o trabalho de equilíbrio, coordenação e motricidade por meio de exercícios de relaxamento, atividades lúdicas com objetos, músicas, brinquedos, além dos movimentos corporais e danças.

A  eficácia  do  tratamento  depende da  experiência  e  do  conhecimento  dos profissionais sobre TEA e, principalmente,  de  sua  habilidade  em trabalhar com equipe e com a família. O recomendado     é     que     uma     equipe multidisciplinar  avalie  e desenvolva  um programa   de   intervenção   orientado   a satisfazer  as  necessidades  particulares  a cada indivíduo, de forma que englobe todas as esferas em que há alguma necessidade a ser sanada.

É  importante  para  o  tratamento dessas  crianças  a  interação  da  equipe multiprofissional,   pois,   depois   que   o diagnóstico é confirmado, esses profissionais  devem  traçar  uma  conduta terapêutica.  Que  vise  à  interação  social das  crianças,  para  isso  trabalhando  suas habilidades e melhorando seu comportamento social

Assim  sendo,  se  faz  necessário focar  nos  elementos  psicomotores  no tratamento da    criança    com    TEA, objetivando torná-la mais autônoma nas tarefas cotidianas, diminuindo a dependência de outros e, consequentemente,  melhorando a sua qualidade  de  vida.

Portanto, o que se observa ao final desse estudo é que a fisioterapia é de suma importância para o acompanhamento a longo prazo, bem como para o tratamento de crianças que sejam diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Austista. Vê-se, assim, a urgência em discutir sobre a temática e acompanhar novos estudos referentes ao TEA e à fisioterapia.

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¹Maria Eduarda Silva Pinheiro graduada em fisioterapia pela faculdades integradas IESGO .
Orcid: https://orcid.org/0009-0001-6982-496X?lang=pt
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9179618066304509
E-mail: dudaspinheiros@gmail.com

²Fisioterapeuta Dr. Ronney Jorge de Souza Raimundo. Orientador
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1379-7595
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7523460530618826
Faculdades Integradas IESGO, Formosa- Go, Brasil.
E-mail: ronney.jorge@gmail.com.