EFFECTS OF THE USE OF CANNABIS AND CANNABIDIOL AS AN ADJUVANT IN THE MANAGEMENT OF CHRONIC PAIN.
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/os102412031842
Autores: Mirelly de Oliveira Pedrosa Santos e César Pantuza Menezes.
Orientador: Dr. Lucas Ferreira Alves
RESUMO
A dor crônica (DC), definida como dor persistente por mais de 3 a 6 meses, é uma condição comum que leva ao uso excessivo de opióides e resulta em altos custos para a saúde pública. Buscando alternativas naturais, a cannabis tem se destacado devido aos seus componentes ativos, THC e CBD, que apresentam propriedades analgésicas e anti-inflamatórias. Este estudo revisou a literatura para avaliar os efeitos do uso medicinal da cannabis no manejo da DC. Foram selecionados 12 artigos relevantes, publicados entre 2021 e 2024. Os resultados indicam que a cannabis pode ser eficaz na redução da dor e na diminuição do uso de opióides, embora efeitos colaterais transitórios sejam comuns. Apesar das limitações, como a falta de protocolos estabelecidos e a necessidade de mais pesquisas sobre efeitos adversos a longo prazo, a cannabis mostra potencial para melhorar a qualidade de vida dos pacientes com DC e reduzir os gastos públicos com saúde.
Palavras chaves: cannabis, dor-crônica, tratamento, cannabidiol.
Abstract: Chronic pain (CP), defined as persistent pain lasting more than 3 to 6 months, is a common condition that leads to excessive opioid use and results in high public health costs. Seeking natural alternatives, cannabis has emerged due to its active components, THC and CBD, which have analgesic and anti-inflammatory properties. This study reviewed the literature to evaluate the effects of medicinal cannabis use in the management of CP. Twelve relevant articles, published between 2021 and 2024, were selected. The results indicate that cannabis can be effective in reducing pain and decreasing opioid use, although transient side effects are common. Despite limitations, such as the lack of established protocols and the need for more research on long-term adverse effects, cannabis shows potential to improve the quality of life of CP patients and reduce public health expenditures.
Keywords: Cannabis, chronic pain, treatment, cannabidiol.
INTRODUÇÃO
Diversos estudos mostram que a dor crônica (DC) é o principal motivo pelo uso dos recursos de saúde e muitas vezes levando a incapacidades de diferentes formas dos indivíduos. O consumo excessivo de medicamentos como opióides em busca de alívio traz consigo a necessidade do reconhecimento de diferentes métodos para garantir a esses sujeitos uma qualidade de vida adequada. A dor crônica é definida como dor persistente por período maior que 3 a 6 meses após o processo de cicatrização e sua frequência na sociedade apresenta uma tendência de ser maior com decorrer dos anos devido o processo de envelhecimento e sobrevivência a condições de saúde como cânceres (6). Segundo Cohen et al., (2021) a frequência dos casos de pessoas que cursam com a DC está em torno de 11-40% mundialmente, e certamente o gasto da saúde pública no manejo dessa parcela da população é elevado.
Diante do que foi exposto pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1948, a saúde é o estado completo de bem estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade. Com isso, pesquisadores já vêm buscando alternativas para que as pessoas que cursam com dor crônica desfrutem deste estado completo. Sendo assim, alternativas naturais são as que mais ganham destaque neste contexto, e uma delas é a utilização da cannabis que ganhou espaço nos últimos anos.
A cannabis, popularmente conhecida como maconha, é o termo genérico utilizado para descrever diferentes produtos que podem ser elaborados a partir das plantas: Cannabis sativa, Cannabis indica e Cannabis ruderalis, seja de forma individual ou associadas (3).
A cannabis contém mais de 100 canabinóides, sendo que duas substâncias são as que mais ganham importância dentro do mecanismo de ação presente no organismo humano, sendo elas o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD) (10). Sabe-se que o THC é o principal composto psicoativo dos canabinóides e com isso podem induzir o controle da dor, melhora da náusea, relaxamento muscular, no entanto, também podem induzir efeitos indesejáveis como psicose, sedação e intoxicação.(9). Para o CBD, os efeitos observados vão de encontro com o controle da ansiedade, psicose, inflamação, epilepsia e alguns efeitos neuroprotetores.(9). A utilização dessas plantas de forma medicinal pode ser feita por meio de três vias de administração: fumo, vaporização e ingestão. Já a sua eliminação ocorre pelo trato gastrointestinal e pelo trato urinário, e com isso pode provocar pelo contato direto uma resposta nesses órgãos. (3). Dessa forma, o estudo tem como objetivo realizar uma busca nas bases de dados para verificar os efeitos do uso medicinal do Cannabis como um coadjuvante no manejo da dor crônica.
Metodologia:
O estudo desenvolvido é uma revisão de literatura, em que o objetivo era identificar artigos que abordassem a temática do estudo respondendo a pergunta PICO: Pessoas que cursam com dor crônica (P); se beneficiariam do uso de medicamentos a base de Cannabis (I) ao invés de utilizarem apenas o que já é preconizado para o manejo dessa condição, como o uso de opióides e antiinflamatórios (C); esses efeitos trariam uma melhora no padrão da qualidade de saúde desses sujeitos (O) ?. Os descritores utilizados na busca dos estudos foram: (“cannabis” OR “canabidiol”) AND (“dor crônica” OR “doença crônica”) AND (“paciente oncológico” OR “oncologia” OR “câncer”). Esses foram utilizados nas bibliotecas eletrônicas: Scielo, LILACS, PubMED e BVS.
Como critério de inclusão foi definido que os estudos deveriam ter sido publicados a partir de 2021 até fevereiro de 2024, com resumos na íntegra disponíveis nas bases de dados utilizadas. E como critério de exclusão foi definido estudos que não estivessem dentro do período determinado para a busca, os artigos que não apresentassem a temática do estudo e aqueles que não apresentavam como desenho revisão de literatura. Foi encontrado um total de 469 artigos, no entanto foram selecionados para a revisão 12 artigos, apresentados pelo fluxograma a seleção dos mesmos.
Imagem 1: visão geral da busca de dados.
RESULTADOS:
A busca nas plataformas forneceu um valor considerável de estudos (469 artigos) inicialmente, o que trouxe uma sugestiva indicação da valorização acerca do tema escolhido. Quando essas referências encontradas foram submetidas ao filtro dos critérios de exclusão, o número amostral final se baseou em 12 artigos incluídos para esta revisão que foram caracterizados em tabela. (TABELA 1)
Tabela 1: Caracterização dos estudos incluídos na pesquisa.
DISCUSSÃO:
A dor crônica nos estudos foi abordada dentro do conceito que se baseia no tempo, ou seja, quando os sintomas persistem por um período de tempo que supera 3 a 6 meses, ou seja, ultrapassa a média de tempo normal de cura de uma condição. Nesse contexto ainda, os dados epidemiológicos mostram uma inversão no padrão das doenças, uma vez que a prevalência das condições crônicas se tornam presentes e tendem a aumentar com o envelhecimento populacional, visto que a queda da taxa de mortalidade e a melhora da expectativa de vida influenciam assim na mudança no padrão epidemiológico, que portanto, passa da prevalência das doenças infecto-contagiosas para a prevalência das condições crônicas.
No contexto das comorbidades crônicas, os estudos mostraram que os pacientes cursam, já cursaram ou ainda vão passar por situações de dores e nesse momento a primeira escolha que fazem de forma independente é uso de opióides, que não são as melhores escolhas de tratamento. Os dados mostram que 1 a cada 5 pessoas apresentam o quadro de dor crônica. Sendo assim, outra situação de saúde é instalada nesse cenário, o da automedicação por opióides na tentativa de alívio da dor, muitas das vezes para permanecer com a funcionalidade e desempenhar as funções cotidianas básicas.
Em 2023, foi visto que a utilização dos canabinóides juntamente com opióides em baixas doses foi benéfico no manejo do quadro de dor crônica e contribuiu ainda para que o desmame da medicação fosse realizado de forma gradativa. (1). Em contrapartida, foi ressaltado pelos estudos que o benefício do uso da cannabis de fato existe, inclusive além do manejo da dor, contou com efeitos sobre o sono desses indivíduos, porém, efeitos colaterais transitórios são frequentemente experimentados pelos pacientes. (11).
Dessa forma, a utilização dos diferentes produtos derivados da cannabis como uma opção de escolha para o manejo da dor crônica traz consigo um desafio muito grande para os profissionais da área de saúde para garantir a sua seguridade. Os estudos mostram que ainda existem muitas limitações dos efeitos adversos do uso, no entanto, é possível o seu uso para trazer maior conforto para o paciente e com isso reduzir os gastos do setor público de saúde perante a esses quadros de condição crônica.
Os desafios da utilização da cannabis vai de encontro com os potenciais efeitos adversos de seu uso a longo prazo, além das possíveis interações com outros medicamentos, os efeitos do uso em pacientes com comorbidades especialmente os pacientes geriátricos. (2). Além disso, a via de administração e a posologia não foram discutidas e não houve nenhum tipo de relato de protocolo estabelecido para a prática clínica.
CONCLUSÃO:
O assunto da utilização da cannabis, mais comumente conhecida como maconha ainda traz consigo um tabu a ser vencido para que seja implantado na sociedade o seu uso com objetivos medicinais no Brasil. Além disso, foi observado que os produtos derivados trazem uma promessa efetiva do seu uso como coadjuvante sobre o manejo da dor crônica, uma das condições mais prevalentes e determinantes muitas vezes do afastamento dos indivíduos de suas tarefas.
Os estudos apresentaram limitações quanto a determinação da posologia utilizada na prática, porém o que mais sobressai é que foi uma forma de afastar o uso dos opióides de forma rotineira pelas pessoas e de forma errônea. É importante ressaltar que esse tema é de grande relevância para estudos posteriores visto que podem contribuir para redução de despesas que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem com as pessoas que cursam com o quadro de dor crônica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1- EL-MOURAD, Jihane et al. Dosing of Cannabinoids Associated with an Opioid-Sparing Effect: A Systematic Review of Longitudinal Studies. Pain Management Nursing, 2023.
2- JUGL, Sebastian et al. A mapping literature review of medical cannabis clinical outcomes and quality of evidence in approved conditions in the USA from 2016 to 2019. Medical Cannabis and Cannabinoids, v. 4, n. 1, p. 21-42, 2021
3- MEHRNOUSH, Vahid et al. The association of bladder cancer and Cannabi
s: A systematic review. Archivio Italiano di Urologia e Andrologia, v. 94, n. 2, p. 248-251, 2022.
4- MOHIUDDIN, Mohammed et al. General risks of harm with cannabinoids, cannabis, and cannabis-based medicine possibly relevant to patients receiving these for pain management: an overview of systematic reviews. Pain, v. 162, p. S80-S96, 2021
5- NOORI, A. et al. Opioid-sparing effects of medical cannabis or cannabinoids for chronic pain: a systematic review and meta-analysis of randomised and observational studies. BMJ Open.[Internet]. 2021 [cited 2021 nov 18]; 11: e047717.
6- PANTOJA-RUIZ, Camila et al. Cannabis and pain: a scoping review. Brazilian Journal of Anesthesiology, v. 72, p. 142-151, 2022.
7- PERIN, Eduardo Aliende; SANTOS, César Augusto de Paula. Painful behavior and medicinal cannabis. BrJP, 2023.
8- RISSO, Agostina; PRIANO, Ezequiel. El cannabis medicinal no inhalado podría producir un alivio pequeño del dolor con efectos adversos transitorios en pacientes con dolor crónico. Evidencia, actualizacion en la práctica ambulatoria, v. 25, n. 2, p. e007011-e007011, 2022
9- SILVA, Roni Robson da et al. Benefícios terapêuticos dos canabinoides no tratamento da dor crônica em pacientes com câncer. Rev. Pesqui.(Univ. Fed. Estado Rio J., Online), p. e11627-e11627, 2022.
10- SOLMI, Marco et al. Balancing risks and benefits of cannabis use: umbrella review of meta-analyses of randomised controlled trials and observational studies. bmj, v. 382, 2023.
11- WANG, Li et al. Medical cannabis or cannabinoids for chronic non-cancer and cancer related pain: a systematic review and meta-analysis of randomised clinical trials. Bmj, v. 374, 2021.
12- ZERAATKAR, Dena et al. Long-term and serious harms of medical cannabis and cannabinoids for chronic pain: A systematic review of non-randomised studies. BMJ open, v. 12, n. 8, p. e054282, 2022.