EFEITOS DA PRÁTICA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS NA MELHORIA DA SAÚDE MENTAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202409191314


Raphael Pueblo dos Santos Oliveira1; Myryan Rose Bussons Macêdo2; Ádem Ferreira do Nascimento3; Cristiano Nascimento de Souza4; Orientador: Prof. Me. Adem Nagibe dos Santos Geber Filho 


RESUMO 

Introdução: A prática de exercícios físicos é algo amplamente conhecido por todos os profissionais da saúde como uma excelente aliada a qualidade de vida e bem-estar. Com efeitos biológicos e psicológicos pode ser uma excepcional terapia utilizada junto com os fármacos para tratar transtornos mentais. Objetivo: O presente estudo possui como objetivo explorar os efeitos da prática de exercícios físicos na prevenção e tratamento de transtornos mentais. Método: Este trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica integrativa na qual incluiu artigos originais e de revisão a fim de selecionar informações relevantes para o resultado desta pesquisa. Resultados: Os resultados obtidos através desta revisão, demonstraram que a prática regular de exercícios físicos impacta de forma significativa na saúde mental, contribuindo grandemente com a redução dos sintomas de estresse, ansiedade e depressão. A capacidade de lidar com situações estressantes pode ser ainda mais favorecida através de atividades físicas. Conclusão: A prática de exercícios físicos libera neurotransmissores associados à sensação de prazer e relaxamento como serotonina, dopamina e endorfina. Os benefícios da atividade física para a saúde mental são diversos, colocando-a como uma ferramenta muito importante na prevenção e no tratamento de transtornos como depressão e ansiedade.  

Palavras-chave: Saúde mental; Transtornos mentais; Depressão e ansiedade; Exercícios físicos.  

ABSTRACT 

Introduction: Physical exercise is widely recognized by health professionals as an excellent ally in promoting quality of life and well-being. With both biological and psychological effects, it can be an exceptional therapy used alongside medications to treat mental disorders. Objective: The present study aims to explore the effects of physical exercise in the prevention and treatment of mental disorders. Method: This work is an integrative literature review that included original and review articles in order to select relevant information for the outcome of this research. Results: The results obtained through this review demonstrated that regular physical exercise has a significant impact on mental health, greatly contributing to the reduction of symptoms of stress, anxiety, and depression. The ability to cope with stressful situations can be further enhanced through physical activities. Conclusion: Physical exercise triggers the release of neurotransmitters associated with feelings of pleasure and relaxation, such as serotonin, dopamine, and endorphins. The benefits of physical activity for mental health are numerous, positioning it as a crucial tool in the prevention and treatment of disorders like depression and anxiety. 

Keywords: Mental health; Mental disorders; Depression and anxiety; Physical exercise. 

INTRODUÇÃO 

Aproximadamente 450 milhões de pessoas padecem de doenças neuropsiquiátricas, sendo ela comportamental ou não.  Entretanto,  o  mundo  está  longe  de  dar  uma  atenção  exaustiva  para saúde mental quando comparada à saúde física, visto que os transtornos mentais representam 12% dos problemas de saúde mundial e apenas 1% dos gastos são voltados para o auxílio da mesma.  O  bem-estar  mental  não  pode  ser  conceituado  apenas  pela  ausência  de  doenças mentais,  deve-se,  também,  considerar  como  o  indivíduo  se  sente  de  subjetivamente  e organicamente,  além  de  suas  relações  interpessoais  e  afetivas (MUTZ et al., 2022). 

Depressão e ansiedade estão entre os transtornos mentais mais comumente relatados em todo o mundo. Um relatório da Organização Mundial da Saúde estimou que 4,4% da população global sofria de transtorno depressivo e 3,6% de transtorno de ansiedade em 2015. Além disso, de acordo com o mesmo relatório, depressão e ansiedade levaram a, respectivamente, mais de 50 milhões e 24,6 milhões de anos vividos com incapacidade, com a maior parte desse fardo ocorrendo em países de baixa e média renda. Isso é ainda mais preocupante quando se considera a comorbidade dessas duas condições, com depressão e ansiedade comórbidas ocorrendo em até 25% dos pacientes de clínica geral (MA et al., 2023). 

As evidências apoiam os benefícios do exercício físico nos domínios físico, mental, cognitivo e social. Estudos têm demonstrado sua eficácia na diminuição dos sintomas de depressão e ansiedade em populações clínicas e não clínicas, podendo ser uma ferramenta potencial para as estratégias de intervenção voltadas à prevenção e tratamento precoce da depressão. De modo geral, a atividade física estimula adaptações neurobiológicas que resultam em uma melhora no humor, na redução dos níveis de estresse, ansiedade e depressão, podendo atuar efetivamente tanto na prevenção e no tratamento de distúrbios psicológicos, quanto na promoção da saúde mental (GAIA et al., 2022). 

O presente estudo traz uma temática muito atual e de grande relevância, considerando o aumento significativo de doenças relacionadas à saúde mental assim como a crescente prática de exercícios físicos em todo o mundo. O objetivo desta revisão é expor como a prática de atividade física pode colaborar com a melhoria da saúde mental, tanto na prevenção quanto no tratamento de diversas doenças. 

MATERIAL E MÉTODO  

CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA 

 Pesquisa de método indutivo, com natureza básica, objetivo explicativo e abordagem quantitativa. Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica integrativa que utilizou publicações disponíveis em bancos de artigos científicos como os portais SCIELO, Pubmed e Science Direct. 

COLETA DE DADOS 

Critérios de Inclusão 

Foram considerados na inclusão estudos de revisão bibliográfica, publicados nos idiomas português e inglês, descrevendo como a prática de exercícios físicos pode colaborar com a melhoria da saúde mental. 

Critérios de Exclusão 

Como critérios de exclusão, foram considerados os seguintes aspectos: (1) estudos que não estivessem dentro do recorte temporal 2020-2024; (2) estudos que não possuem efeitos da prática de exercícios físicos na melhoria da saúde mental como temática principal; (3) estudos com ausência de clareza na descrição dos resultados.   

RESULTADOS E DISCUSSÃO 

O presente estudo de revisão integrativa foi organizado a partir dos seguintes passos: a) temática de pesquisa; b) critérios de inclusão e exclusão; 3) levantamento dos dados relevantes; d) avaliação dos estudos encontrados; e) seleção dos estudos para análise integrativa; f) interpretação dos dados e g) apresentação da revisão integrativa e dos dados coletados conforme o que será exposto a seguir. 

Os principais artigos selecionados e analisados estão dispostos na tabela 1, com período de publicação seguindo uma ordem decrescente, dos publicados mais recentemente até ao mais antigo, para melhor compreensão dos dados.  

Tabela 1. Principais artigos selecionados para revisão integrativa de literatura considerando autores; ano de publicação; objetivos; métodos; resultados e conclusões.

AUTOR/ ANO OBJETIVO METODOLOGI A RESULTADOS CONCLUSÕES 
MARTIN-RODRIGUEZ et al., 2024 O objetivo desta revisão narrativa é explorar de forma abrangente os caminhos intrincados que ligam o envolvimento físico nos esportes aos seus impactos subsequentes na saúde mental e sintetizar os efeitos multifacetados dos esportes na saúde psicológica. Revisão narrativa. Este estudo detalha como os esportes induzem mudanças neuroquímicas, melhoram funções cerebrais como memória e aprendizado e auxiliam contra o declínio cognitivo. Esta revisão também observa os benefícios do exercício regular na melhora do humor, no gerenciamento do estresse e no aprimoramento das habilidades sociais, particularmente quando combinado com práticas de atenção plena. Esta revisão explorou de forma abrangente a intrincada relação entre esportes, psicologia e saúde mental, ressaltando o profundo impacto da atividade física no bem-estar psicológico e cognitivo. Por meio de uma lente multidimensional, foi estabelecido que os esportes se estendem além do esforço físico para se tornarem uma ferramenta potente para regulação emocional, desenvolvimento de resiliência, aprimoramento da função cognitiva e tratamento de várias condições psicológicas. 
CODELLA et al., 2023 Este estudo possui como objetivo analisar a relação da ausência de
atividade física e depressão. 
Revisão integrativa. Atividades ao ar livre como ciclismo e caminhada/corrida trazem benefícios psicológicos, como menor prevalência de depressão, diminuição dos níveis de estresse e melhora da saúde mental. Uma maior exposição à luz solar e áreas verdes está associada a experiências gratificantes e agradáveis. Os sistemas de saúde e as comunidades devem imediatamente transmitir sua disposição e recursos para a promoção e o aumento dos níveis de atividade física em larga escala. A atividade física trará benefícios sociais, ambientais e econômicos. 
ROSS et al., 2023 A presente revisão possui como objetivo descrever o estado da arte do exercício para depressão no que se refere a: 1) o que se sabe sobre os efeitos antidepressivos do exercício e os parâmetros de dosagem em ensaios clínicos randomizados de depressão unipolar; 2) os mecanismos moleculares compartilhados pelos quais o exercício e a farmacoterapia podem exercer efeitos antidepressivos em modelos pré-clínicos e humanos; e 3) a relação entre os efeitos antidepressivos induzidos pelo exercício e as mudanças nos mecanismos moleculares candidatos em humanos. Revisão integrativa. O exercício é melhor conceituado como uma arma pouco utilizada, mas potente, para a depressão, e é essencial que seu uso se torne uma característica mais comum do cenário de tratamento; sua subutilização contínua representa uma séria oportunidade perdida de tratar o complexo “depressogênico” que impulsiona a depressão. Este não é um apelo para que o exercício substitua as estratégias terapêuticas existentes, mas para que o exercício seja consistentemente integrado como um tratamento de primeira linha adicional para a depressão. Apesar do desenvolvimento de tratamentos antidepressivos farmacoterapêuticos psicoterapêuticos e de estimulação cerebral não invasiva, a depressão continua sendo uma das principais causas de incapacidade e de problemas de saúde globais há décadas. Portanto, há uma necessidade extrema de reavaliar os paradigmas atuais de tratamento da depressão. 
RODRIGUEZ-ROMO et al., 2022 Este estudo teve como objetivo analisar as relações entre atividade física e níveis de saúde mental em estudantes de graduação, avaliando se essas associações podem mudar dependendo do nível de atividade física e do ambiente (atividade física ocupacional, de deslocamento ou de lazer) em que foi realizada. Foi realizado um estudo descritivo e transversal. A amostra foi composta por 847 estudantes de graduação. A atividade física e a saúde mental foram medidas pelo Global Physical Activity Questionnaire (GPAQv2) e pelo General Health Questionnaire (GHQ-12). Encontramos relações entre o nível de atividade física dos alunos e seu estado de saúde mental. Quanto maior a atividade física total, melhores suas pontuações de saúde mental.  A atividade física de lazer, realizada em alto nível, e a atividade física ocupacional moderada parecem ser a melhor
combinação de atividade física para reduzir a vulnerabilidade dos alunos a potenciais problemas de saúde mental. 
VELZQUEZ et al., 2022 Explorar associações entre atividade física semanal auto relatada e sintomatologia depressiva entre adolescentes em uma amostra escolar do Brasil. Pesquisamos 7.405 adolescentes de 14 a 16 anos em 101 escolas públicas de Porto Alegre, Brasil. Avaliamos a atividade física usando uma versão adaptada do Patient Centered Assessment and Counseling for Exercise Plus Nutrition – Adolescent Physical Activity Measure (PACE+), e sintomas depressivos usando a versão em português.  Da amostra geral, 84,4% se exercitaram menos do que a frequência recomendada de 60 minutos/dia, pelo menos 5 dias/semana, de atividade física moderada a intensa. Adolescentes cujos níveis de atividade física ficaram abaixo desse limite apresentaram pontuações medianas de depressão mais altas. Um padrão semelhante foi observado para pontuações de depressão naqueles com PACE+ < 1. Nesta grande amostra de adolescentes brasileiros, aqueles que se exercitavam
com menos 
frequência e vigor do que seus pares relataram mais sintomas depressivos. 
CAPONNETTO et al., 2021 O objetivo deste estudo foi investigar os efeitos da atividade física nas funções cognitivas e déficits da população saudável e outros grupos necessitados, além de investigar a relação entre hábitos saudáveis e riscos psicopatológicos.  De abril de 2021 a outubro de 2021, foi conduzida uma 
revisão buscando estudos relevantes no PubMed, Web of Science, EMBASE, PsycINFO e CINHAL. 
Os resultados indicaram múltiplos efeitos, como melhor precisão e velocidade de resposta em tarefas de processamento de informações em populações saudáveis; melhora do funcionamento cognitivo geral em pacientes com transtorno do espectro esquizofrênico ou transtorno bipolar. Essas descobertas sublinham de um lado os efeitos benéficos da atividade física na função cognitiva em indivíduos saudáveis em uma chave preventiva e curativa, enquanto do outro lado a importância de uma avaliação adequada do sofrimento psicológico e das características de personalidade associadas ao vício em exercícios. 
SCHUCH et al., 2021 Este artigo tem como objetivo fornecer uma breve visão geral e um resumo das evidências sobre: Os efeitos preventivos da atividade física em uma ampla gama de transtornos mentais; O papel do exercício como estratégia para controlar os sintomas de saúde mental em uma variedade de transtornos mentais; E os desafios e barreiras enfrentados ao implementar exercícios na prática clínica. Revisão narrativa. Evidências convincentes demonstraram que a atividade física e o exercício também podem prevenir transtornos mentais comuns, como depressão e transtornos de ansiedade, e têm múltiplos efeitos benéficos na saúde física e mental de pessoas com uma ampla gama de transtornos mentais.  Aumentos nos níveis de atividade física em populações provavelmente reduzirão a carga de saúde mental. Intervenções de exercícios devem ser incorporadas ao cuidado de rotina de pessoas com transtornos mentais devido aos seus múltiplos benefícios nos resultados de saúde física e mental. Uma abordagem multidisciplinar é necessária para superar as barreiras dos pacientes e aumentar a adesão e os benefícios. 

Rodriguez-Romo et al.1, traz a definição de saúde mental pela Organização Mundial da Saúde, que a define como um “estado de bem-estar no qual um indivíduo realiza as suas capacidades, consegue lidar com o stress normal da vida, consegue trabalhar produtivamente e consegue dar um contributo para a sua comunidade”. A saúde mental positiva não é apenas a ausência de sintomas negativos, mas também os comportamentos que fazem com que as pessoas tenham hábitos de vida saudáveis para mantê-la boa. O comprometimento da saúde mental tem sido percebido com crescente preocupação, especialmente em áreas geográficas com maiores taxas de desenvolvimento econômico. Um dos hábitos relacionados a uma melhor saúde mental é ser fisicamente ativo. A alta atividade física está relacionada ao bem-estar mental e bem-estar social, além do bem estar físico. Níveis mais altos de atividade física estão positivamente correlacionados com o bem-estar geral e negativamente correlacionados com sintomas de depressão e ansiedade, enquanto baixos níveis estão associados a uma maior prevalência de ansiedade. 

A revisão de Caponnetto et al.2, traz os vários efeitos benéficos da atividade física, por exemplo: o exercício ajuda a evitar problemas físicos e mentais em crianças e adultos, promovendo a plasticidade neuronal, tornando o declínio cognitivo em idosos mais lento e melhorando as condições deficientes em jovens que sofrem de distúrbios do desenvolvimento. Além disso, outro aspecto positivo pode muito bem ser o fortalecimento de habilidades sociais e relacionais. O exercício físico pode ser considerado como uma possível forma de terapia tanto no tratamento de psicopatologias e doenças neurodegenerativas quanto como uma terapia alternativa e complementar também. Estudos recentes têm mostrado a importância da atividade física graças à sua capacidade de proteger o sistema imunológico durante a pandemia de COVID-19. Além disso, o exercício físico pode atenuar os sintomas de ansiedade, estresse e depressão, melhorando os distúrbios do sono. No entanto, a ansiedade e a depressão podem estar associadas ao exercício físico compulsivo uma vez que existe uma fronteira ténue entre os aspetos positivos do desporto e o risco de determinar dependência: a investigação atual, de fato, também sublinha os contras da prática desportiva (por exemplo, o vício do exercício pode causar consequências psicofísicas relevantes). 

O estudo realizado por Martín-Rodriguez et al.3, traz a terapia esportiva como uma intervenção crucial no tratamento de vários transtornos de saúde mental. Essa abordagem é particularmente eficaz para alguns dos problemas de saúde mental mais prevalentes hoje. Abaixo estão os cinco transtornos de saúde mental significativos onde a terapia esportiva demonstrou eficácia considerável, apoiada por pesquisas empíricas. Os seguintes transtornos de saúde mental representam algumas das condições mais comuns e impactantes que afetam populações em todo o mundo. O transtorno depressivo maior (TDM) é uma das principais causas de incapacidade, afetando aproximadamente 264 milhões de pessoas globalmente, o que representa quase 3,4% da população mundial. Os transtornos de ansiedade também são generalizados, impactando cerca de 3,8% da população global, com maior prevalência entre mulheres e indivíduos mais jovens. O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) afeta aproximadamente 3,9% da população mundial em algum momento de suas vidas. Estima-se que o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) afete cerca de 2,2% da população adulta global. Finalmente, o transtorno bipolar afeta cerca de 1% da população global, ilustrando sua presença significativa em diferentes regiões. Essas estatísticas ressaltam o amplo alcance desses problemas de saúde mental, destacando a necessidade crítica de intervenções terapêuticas eficazes, como a terapia esportiva. 

A depressão é uma das principais causas de carga de incapacidade nos países em desenvolvimento e um transtorno de saúde mental comum em todo o mundo segundo Codella et al.4 Embora a farmacoterapia e a psicoterapia representem atualmente a terapia eletiva, seu impacto ainda é limitado na prevalência, e um terço das pessoas com depressão permanecem sem resposta ao tratamento. Além disso, a farmacoterapia pode ter efeitos colaterais adversos e tanto a farmacoterapia quanto a psicoterapia não podem resolver comorbidades físicas associadas à depressão. No entanto, vários fatores modificáveis podem atuar favoravelmente na depressão e estão longe de serem determinados. Um deles pode ser a atividade física. Evidências moderadas sustentam um efeito benéfico do exercício nos sintomas dessa doença. Uma revisão sistemática e metanálise recente, incluindo 15 estudos prospectivos com mais de 2 milhões de pessoas-ano, descobriu que praticar atividade física regular, três vezes por semana, reduz em 25% todos os episódios depressivos. Em detalhes, a atividade física e a depressão incidente foram inversamente associadas em uma relação dose-resposta curvilínea, com maiores diferenças no risco em níveis de exposição mais baixos. Comparados com pessoas inativas, aqueles que cumpriam as recomendações da OMS sobre atividade física tinham menores riscos de depressão. Mesmo abaixo dos níveis recomendados, pequenas doses de atividade física podem obter benefícios mentais e estão associadas a menores riscos. 

Segundo o estudo de Schuch e Vancampfort5, o principal motivo para não prescrever ou recomendar exercícios foi bastante sistêmico. Profissionais de saúde mental acreditam que a prescrição de exercícios é responsabilidade de profissionais de exercícios, como fisiologistas do exercício ou fisioterapeutas, e não parte de sua própria profissão de saúde mental. Isso não é surpreendente, pois a prescrição de exercícios é de fato considerada uma tarefa para educadores físicos e fisioterapeutas em muitos sistemas de saúde, incluindo o Brasil. No entanto, há evidências emergentes de que uma abordagem multidisciplinar é necessária para aumentar a atividade física e a adoção e manutenção de exercícios. Em outras palavras, recomendar, discutir e propor mudanças no estilo de vida, ao mesmo tempo em que explora as barreiras individuais a tais mudanças, deve ser resultado de esforços combinados e coordenados de todos os profissionais envolvidos no atendimento ao paciente, e não apenas de profissionais de exercícios. Por exemplo, receber uma recomendação de um médico e outros profissionais de saúde está associado a um maior envolvimento com exercícios em pessoas com ansiedade e depressão. Portanto, para seguir em frente, a atividade física e o exercício devem ser considerados responsabilidade de todos em programas multidisciplinares de prevenção e tratamento de pessoas com transtornos mentais. 

Ross et al.6, conclui que os potentes efeitos biológicos do exercício podem servir como um catalisador para melhorar os resultados naqueles tratados com farmacoterapia ou psicoterapia. Por outro lado, reconhecemos que a falta de motivação, baixa energia ou fadiga podem ser razões comuns para evitar a incorporação de exercícios em um plano de tratamento. Neste caso, a farmacoterapia ou psicoterapia pode servir como um catalisador para melhorar a depressão e, subsequentemente, o exercício pode ser introduzido como uma mudança de estilo de vida para combater a recaída na depressão. Além disso, o exercício também ajudará a atenuar os fatores de risco de doenças cardiovasculares ou metabólicas, que geralmente são comórbidos com a depressão. Incorporar exercícios ao tratamento contínuo da depressão exigirá uma abordagem multidisciplinar (psiquiatria, psicologia, fisioterapia e fisiologia do exercício), na qual o tratamento/treinamento integrado fornecerá a sinergia necessária para combater com mais sucesso o fardo do sofrimento imposto pela depressão. 

CONCLUSÃO 

Os efeitos positivos da prática de exercícios físicos são amplamente reconhecidos pela literatura por proporcionar uma melhora significativa no bem-estar psicológico, atuando como um importante aliado no tratamento de transtornos mentais, como depressão, ansiedade e estresse, além de ser uma estratégia de baixo custo e de fácil implementação. 

A prática de atividade física libera neurotransmissores associados ao prazer e relaxamento, além de elevar a sensação de controle pessoal e a autoestima, contribuindo não somente em aspectos biológicos quanto também psicológicos. 

REFERÊNCIAS 

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1Acadêmico de Medicina. Centro Universitário Uninorte, AC, Brasil
2Acadêmica de Medicina. Centro Universitário Uninorte, AC, Brasil
3Acadêmico de Medicina. Centro Universitário Uninorte, AC, Brasil
4Acadêmico de Medicina. Centro Universitário Uninorte, AC, Brasil
*Autor correspondente: raphaelpueblop@gmail.com