EFEITOS DA INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA(TEA): REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202509050836


Bruna Verena Alves de MOURA¹
Rafaela dos Santos ARAÚJO²
José Mário Fernandes MATTOS³


RESUMO 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição complexa do neurodesenvolvimento, marcada por déficits na comunicação social, dificuldades cognitivas e comportamentais, além de padrões motores atípicos. Sua etiologia envolve múltiplos fatores genéticos, biológicos e ambientais, resultando em alterações no funcionamento cerebral e na neuroplasticidade. Crianças com TEA apresentam frequentemente déficits motores, instabilidade postural, dificuldades na coordenação e na execução de tarefas diárias, o que compromete sua autonomia e qualidade de vida. Nesse contexto, a intervenção fisioterapêutica surge como estratégia fundamental para estimular o desenvolvimento motor, melhorar a estabilidade e favorecer a integração social. O presente estudo, estruturado como revisão integrativa, analisou publicações dos últimos cinco anos nas bases PEDro, PubMed e SciELO, utilizando descritores específicos e critérios de inclusão rigorosos. Após a seleção, seis artigos foram avaliados de forma crítica, evidenciando que programas estruturados de atividade física e fisioterapia resultam em benefícios consistentes para crianças com TEA. Entre os principais achados, destacam-se avanços na coordenação motora grossa e fina, melhora no equilíbrio, força e resistência muscular, além de ganhos nas funções executivas e na interação social. A prática regular de atividades físicas adaptadas, quando supervisionada, mostrou-se eficaz na redução de comportamentos estereotipados e no aprimoramento da qualidade de vida, tanto da criança quanto de seus familiares. Conclui-se que a fisioterapia, ao integrar exercícios específicos e abordagens lúdicas, constitui recurso essencial no manejo do TEA, promovendo independência funcional, desenvolvimento global e inclusão social, além de oferecer suporte significativo às famílias no processo terapêutico. 

Palavras chaves: Transtorno do Espectro Autista (TEA). Fisioterapia. Desenvolvimento motor.

1. INTRODUÇÃO 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) constitui uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por uma complexa interação de fatores genéticos, potencialmente influenciados por variáveis ambientais. Sua manifestação ocorre predominantemente na infância ou na primeira infância, sendo marcada por déficits significativos nas habilidades sociais, prejuízos cognitivos e dificuldades funcionais que podem comprometer substancialmente a qualidade de vida das crianças afetadas. Os indivíduos com TEA apresentam alterações precoces no desenvolvimento cerebral, acompanhadas por reorganizações neurais que refletem uma neuroplasticidade alterada, indicando uma modificação na capacidade de adaptação do sistema nervoso. Além disso, o transtorno é fundamentado em dois domínios principais: dificuldades na comunicação social e a presença de comportamentos sensório-motores restritos, repetitivos ou incomuns. (Lin Et al.,2024). 

Sua etiologia ainda não é totalmente compreendida. No entanto, estudos indicam que fatores ambientais e genéticos desempenham papéis importantes na sua origem. Dados de cinco países mostram que aproximadamente 80% da variação na incidência do TEA pode ser atribuída às influências genéticas herdadas, destacando a relevância do componente genômico. Nos últimos anos, a prevalência do TEA tem aumentado, especialmente em países em desenvolvimento, atingindo cerca de 16% da população infantil global. Esses números reforçam a necessidade de aprofundar o entendimento sobre os fatores multifatoriais envolvidos na etiologia e na disseminação do transtorno (Bai et al., 2019). 

A fisiopatologia do TEA resulta de uma interação complexa entre fatores genéticos, neurobiológicos e ambientais. Mutações em genes relacionados à formação sináptica comprometem circuitos neurais essenciais às funções cognitivas e sociais. Além disso, há um desequilíbrio entre neurotransmissores excitatórios e inibitórios, levando a padrões atípicos de conectividade cerebral. Alterações em estruturas como a amígdala, o córtex pré-frontal e o cerebelo também são comuns. Processos imunológicos, como a ativação microglial e a neuroinflamação, influenciam negativamente o neurodesenvolvimento, enquanto fatores ambientais, como infecções maternas e toxinas, aumentam os riscos. Assim, o TEA exige uma abordagem integrativa que considere a interação entre esses fatores, caracterizando sua complexidade neurocomportamental (Gaona, 2024). 

Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) frequentemente apresentam dificuldades no processamento sensorial e motor, o que impacta suas atividades diárias, comprometendo sua autonomia e qualidade de vida. Essas limitações estão relacionadas à instabilidade postural, ao desequilíbrio e às dificuldades na coordenação motora, dificultando a realização de tarefas cotidianas. A intervenção fisioterapêutica desempenha papel fundamental nesse contexto, buscando promover o desenvolvimento motor, melhorar a estabilidade postural e reduzir as limitações funcionais. Nos últimos anos, a prática de atividades físicas específicas tem se mostrado altamente eficaz na melhora das habilidades motoras, além de favorecer avanços na interação social e na comunicação. Assim, a fisioterapia se configura como estratégia essencial para minimizar os déficits do TEA e promover o desenvolvimento integral e a inclusão social dessas crianças (Santos et al., 2021). 

Este estudo justifica-se pela lacuna existente na literatura acerca da eficácia de intervenções físicas específicas na melhora do desenvolvimento motor, estabilidade postural e autonomia de crianças com TEA. Apesar do reconhecimento da importância da fisioterapia, há uma necessidade de evidências mais robustas que sustentem a implementação de práticas direcionadas, contribuindo para aprimorar a prática clínica e promover a inclusão social dessas crianças. Assim, a pesquisa busca preencher essa demanda, oferecendo subsídios para intervenções mais eficazes e fundamentadas em evidências. 

Perante isso, questiona-se: Quais os efeitos da intervenção fisioterapêutica em crianças com Espectro Autista ? 

2. OBJETIVOS 

2.1. GERAL 

● Avaliar a importância fisioterapêutica em crianças com Transtorno do Espectro Autista. 

2.2. ESPECÍFICOS 

● Identificar os principais déficits motores em crianças com TEA;

● Compreender os programas de atividade física estruturadas utilizadas em crianças com Transtorno do Espectro Autista; 

● Analisar os impactos da fisioterapia na qualidade de vida de crianças com TEA.

3. REFERENCIAL TEÓRICO 

3.1. Déficits motores em crianças com Transtorno do Espectro Autista: 

As crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) demonstram uma maior vulnerabilidade ao desenvolvimento de déficits motores, atribuídos a comprometimentos neurológicos que podem levar a atrasos na aquisição da fala, no processo de aprendizagem e na execução de gestos motores. Nesse sentido, a avaliação deve ser conduzida de forma detalhada e criteriosa por profissionais especializados, capazes de examinar aspectos como a coordenação corporal, a motricidade fina e a motricidade global. Para tanto, é imprescindível o uso de instrumentos padronizados, como testes específicos e escalas de avaliação validadas, que possibilitem uma análise aprofundada do perfil motor dessas crianças (Miller et al., 2024).

O comprometimento motor pode impactar negativamente o desenvolvimento infantil em diversas áreas, incluindo o desempenho escolar, as habilidades sociais e a comunicação. Estima-se que aproximadamente 80% das crianças com TEA apresentam algum grau de comprometimento motor, o que pode se manifestar por alterações na marcha, dificuldades no controle postural e déficits na coordenação motora grossa. Além disso, esses indivíduos frequentemente enfrentam desafios relacionados às habilidades de alcance, ao controle de objetos e à coordenação motora fina, fatores estes que podem limitar sua independência funcional e sua participação em atividades cotidianas (Bhat, 2020). 

De modo semelhante, os marcos motores grossos iniciais tendem a apresentar atraso em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), evidenciando dificuldades na realização de atividades como manipulação de bolas, além de limitações na locomoção, incluindo habilidades como correr, pular e saltar. Essas restrições comprometem a qualidade de vida e as atividades de vida diária (AVDs), ressaltando a importância do desenvolvimento motor para o bem-estar global dessas crianças. Por outro lado, evidências científicas indicam que a participação sistemática e regular em atividades físicas está associada a melhorias significativas no desempenho motor, contribuindo para a diminuição das dificuldades motoras promovendo efeitos positivos no funcionamento global e na integração social dessas crianças com autismo (Wang et al., 2022). 

3.2. Programas de atividade física em crianças com TEA: 

A prática de atividades físicas envolve uma variedade de ações corporais que demandam consumo de energia, como exercícios físicos, tarefas domésticas, atividades laborais e momentos de lazer. Essas ações são essenciais para a promoção da saúde física, mental e emocional dos indivíduos. No entanto, devido a fatores sociais, comportamentais e neurodesenvolvimentais específicos, indivíduos autistas frequentemente apresentam uma participação reduzida nessas atividades. Assim, essa diminuição pode estar relacionada a dificuldades sensoriais, desafios na comunicação social ou rigidez de rotinas, dificultando a adesão às práticas de atividade física (Huang et al., 2020). 

Programas de atividade física têm mostrado efeitos positivos na melhora de habilidades como interação social, comunicação, controle de comportamentos estereotipados e desenvolvimento motor em crianças com transtorno do espectro autista. Essas intervenções contribuem para a redução dos sintomas e promovem maior autonomia e qualidade de vida. Além disso, a prática regular de exercícios é uma estratégia eficaz dentro de abordagens multidisciplinares, facilitando a participação social e o bem-estar geral dessas crianças. Assim, a atividade física se destaca como uma ferramenta complementar importante no tratamento do autismo, apoiando o desenvolvimento integral e o bem-estar psicológico e físico (Monteiro et al., 2022). 

Adicionalmente, a fisioterapia no desenvolvimento motor de crianças com TEA utiliza métodos específicos que visam à redução de padrões motores deficitários, à estabilização da marcha e ao alinhamento postural adequado. Essas intervenções terapêuticas incluem técnicas como cinesioterapia, mobilizações articulares, treino de fortalecimento muscular, estímulo proprioceptivo e atividades lúdicas com brinquedos coloridos. Além disso, a prática regular de atividade física complementa essas estratégias, promovendo melhorias na coordenação motora, no controle postural e na integração sensorial. Tais abordagens têm demonstrado eficácia na promoção de habilidades funcionais essenciais para as atividades de vida diária (AVDs), contribuindo significativamente para o aumento da independência funcional e da qualidade de vida dessas crianças. Dessa forma, tanto a fisioterapia quanto a atividade física desempenham papéis fundamentais na facilitação do desenvolvimento motor e na promoção da autonomia (Cunha et al., 2022). 

3.3. Impactos da fisioterapia na qualidade de vida e integração de crianças com TEA: 

Crianças diagnosticadas com TEA apresentam grandes dificuldades no desenvolvimento de competências voltadas à comunicação, convivência social e adaptação a distintos ambientes. Esses desafios impactam tanto a vida das próprias crianças quanto a rotina e o bem estar dos seus familiares. A criança pode ser incentivada a participar ativamente do processo terapêutico, tornando o tratamento mais eficaz e relevante, por meio da utilização de estratégias e recursos específicos voltados à intervenção clínica, com foco no desenvolvimento cognitivo, sensorial, motor, social e linguístico através da estimulação precoce (Rocha; Raimundo, 2024). 

Nesse cenário, a atuação fisioterapêutica destaca-se como um recurso fundamental tanto na intervenção precoce quanto no acompanhamento contínuo das alterações motoras e sensório-motoras comumente presentes no transtorno do espectro autista (TEA). Reconhecer a importância do fisioterapeuta no cuidado de crianças com TEA não apenas amplia as possibilidades terapêuticas, como também favorece uma compreensão mais integrada e abrangente das demandas específicas desses indivíduos (Silva; Vilarinho, 2023). 

Dado isso, é notório o papel essencial da fisioterapia no tratamento dos acometimentos motores e na prevenção de agravos ao estado do paciente com TEA, compreendendo também a melhoria do aspecto interação social relacionado a esses pacientes, na construção comunicativa que define a relação de confiança com o paciente, a partir do contato visual, o conforto do toque ao aporte físico, comunicação verbal e com gestos. Além do acolhimento emocional, as famílias recebem um suporte instrumental, incluindo conhecimentos relevantes, orientações práticas que ajudam no desenvolvimento neuropsicomotor e social das crianças com TEA (Marcião et al., 2021). 

4. METODOLOGIA 

4.1. Tipo de pesquisa 

Trata-se de um estudo classificado como revisão integrativa, de abordagem qualitativa, cuja finalidade é realizar uma análise aprofundada e crítica da literatura existente sobre o tema em questão. A revisão de literatura constitui um método metodológico fundamental na pesquisa acadêmica, pois permite a avaliação sistemática e rigorosa de estudos previamente publicados, possibilitando identificar lacunas, tendências e consensos na área investigada. Além disso, essa estratégia metodológica contribui para oferecer uma compreensão abrangente do campo de estudo, ao sintetizar descobertas relevantes e evidências empíricas, facilitando a construção de um panorama atualizado e consolidado do conhecimento disponível. Dessa forma, a revisão integrativa se apresenta como uma ferramenta valiosa para fundamentar teoricamente o estudo, promover a reflexão crítica e orientar futuras investigações (Barry et al., 2022). 

4.2. Pergunta Norteadora 

Para a elaboração da questão norteadora deste estudo, utilizou-se a estratégia PICO, amplamente empregada em revisões sistemáticas e integrativas por sua capacidade de estruturar o problema de forma clara e objetiva. A sigla representa: P (população), I (intervenção), C (comparação) e O (desfecho). Os elementos específicos do estudo estão detalhados na Tabela 1, contribuindo para garantir a precisão na delimitação do problema e a consistência na condução da pesquisa.

Tabela 1 – Estratégia PICO

Fonte: Próprios autores, 2025.

4.3. Coleta de dados 

Para a seleção dos artigos, foram utilizadas as bases de dados PEDro, PubMed SciELO. A coleta de dados foi conduzida por meio da utilização de descritores específicos do DeCS (Descritores em Ciências da Saúde), incluindo os termos: “Physiotherapy”, “Autism Spectrum Disorder” e “Quality of Life”. Para ampliar e refinar a busca, empregaram-se operadores booleanos, tais como AND e OR, de modo a estabelecer combinações estratégicas entre os descritores e garantir uma recuperação abrangente e relevante dos estudos pertinentes ao tema investigado. 

4.4. Critérios de inclusão e exclusão 

Foram incluídos na presente revisão, ensaios clínicos e pesquisas randomizadas. Publicados em português ou inglês, no período dos últimos cinco anos, que abordassem intervenções fisioterapêuticas em crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autismo (TEA). Foram excluídos estudos secundários, como revisões de literatura, revisões sistemáticas, dissertações e teses, publicações em outros idiomas que não o português ou o inglês, estudos incompletos e sem resultados claros. 

4.5. Análise de dados 

Será conduzida uma análise detalhada dos dados extraídos dos artigos selecionados, incluindo uma avaliação descritiva e comparativa dos principais achados. Essa análise terá como foco central a apreciação crítica da metodologia empregada em cada estudo, bem como a interpretação aprofundada dos resultados obtidos. Após a coleta, organização e sistematização dos dados, os artigos científicos serão classificados de forma estruturada e apresentados por meio de tabelas que contemplam informações relevantes, tais como nome do autor, ano de publicação, objetivos do estudo, métodos utilizados e principais resultados encontrados. Essa abordagem metodológica permitirá uma compreensão aprofundada das semelhanças e diferenças entre os estudos analisados, facilitando a identificação de padrões emergentes, tendências atuais e lacunas existentes na literatura científica. Além disso, proporcionará uma base sólida para futuras investigações e contribuirá para o desenvolvimento de recomendações fundamentadas na evidência. 

4.6. Riscos e benefícios 

Este estudo não apresenta riscos aos seres vivos, seja no que tange a aspectos físicos ou relacionados à proteção de informações pessoais, uma vez que se trata de uma revisão bibliográfica fundamentada exclusivamente na análise de dados acessíveis por meio de bases de dados digitais. Entre suas principais vantagens, destaca-se a contribuição para a disseminação do conhecimento científico, com potencial para publicação em periódicos especializados e reconhecimento na comunidade acadêmica. Ademais, o trabalho apoia o avanço da ciência ao consolidar informações relevantes e atualizadas, além de fornecer subsídios para a orientação da prática clínica. Dessa forma, oferece benefícios tanto para profissionais de saúde quanto para pesquisadores e acadêmicos, bem como para a sociedade em geral, ao promover uma compreensão mais aprofundada dos temas abordados e estimular o desenvolvimento de intervenções fundamentadas em evidências científicas sólidas. 

4.7. Aspectos éticos 

No que tange aos aspectos éticos, este estudo não requereu a aprovação de um Comitê de Ética em Pesquisa, uma vez que se trata de uma revisão integrativa da literatura, sem envolvimento direto de seres humanos ou coleta de dados primários. A investigação foi realizada com base em fontes digitais, como artigos científicos e publicações acadêmicas. Todas as referências foram corretamente citadas, garantindo o respeito aos direitos autorais e à integridade intelectual dos autores consultados.

5. RESULTADOS 

Inicialmente, foi utilizado o método de filtragem de artigos nas bases de dados PEDro, PubMed e SciELO. Foram adotados isoladamente descritores, tipo de estudo e critérios de análise de títulos, ocasionando em 62 artigos. Através da metodologia aplicada e da análise de dados, foram selecionados 46 artigos publicados nos últimos 5 anos, incluindo 30 artigos de ensaio clínico, e ao final, foram selecionados 6 artigos referentes aos padrões de inclusão e realização do presente estudo para a qualificação e coleta de dados. Assim, os resultados do processo de filtragem dos artigos foram sintetizados no fluxograma apresentado a seguir:

Figura 1. Fluxograma do processo de seleção dos artigos 

Fonte: Próprios autores, 2025

A tabela a seguir mostra os artigos incluídos no presente estudo de revisão, descrevendo os autores, ano, objetivo, metodologia e resultados.

Tabela 2. Artigos incluídos.

Fonte: Próprios autores, 2025

6. DISCUSSÕES 

A implementação de programas de atividade física revelou-se uma estratégia terapêutica promissora no tratamento de crianças com Transtorno do Espectro Autista, apresentando resultados positivos em 100% (n = 6 ) dos estudos revisados. Resultando na melhora das habilidades motoras grossas e finas, dos parâmetros fisiológicos, da interação social, das funções executivas e da redução dos comportamentos estereotipados. A atividade física tem potencial como intervenção em diferentes estágios do TEA, desde que seja adaptada às necessidades individuais e realizada sob supervisão. Estudos, como o de Huang et al., (2020), demonstraram que a prática regular de exercícios físicos pode promover melhorias nos sintomas em crianças com TEA, reforçando seu papel no tratamento. 

As pesquisas de Bai et al., (2022) e Castaño et al., (2023) fornecem evidências robustas acerca dos efeitos positivos da atividade física em crianças com TEA, abrangendo melhorias nas capacidades motoras e na função executiva. Os resultados apresentados por Castaño et al. (2023) evidenciam que, após um programa de intervenção de oito semanas, com sessões de 60 minutos cada, houve melhorias significativas nas habilidades locomotoras, incluindo correr, evitar obstáculos e chutar a bola. Tais achados são corroborados por Ji et al.,(2023), cuja revisão sistemática revelou que a prática regular de atividades físicas exerce efeitos positivos no desenvolvimento das habilidades locomotoras, no controle de objetos e na estabilidade postural. 

Por outro lado, o estudo de Ahmed et al., (2024) oferece uma perspectiva complementar ao demonstrar que a prática de exercício físico pode exercer efeitos significativos nas respostas fisiológicas de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Esses achados sugerem que a atividade física não apenas promove melhorias no desempenho motor, mas também pode contribuir para o aprimoramento da aptidão física geral. Complementando essa visão, Xing et al., (2024) observaram que a frequência cardíaca(FC) aumentou durante a prática de exercícios estruturados de intensidade moderada. Além Disso, verificaram melhorias nos parâmetros fisiológicos, na força e resistência muscular. Esses achados reforçam a hipótese de que exercícios, especialmente em intensidades mais elevadas, podem desempenhar um papel terapêutico complementar no manejo do transtorno do espectro autista, contribuindo tanto para a reabilitação quanto para a modulação das respostas fisiológicas. 

O autor Arslan et al., (2020) utilizou o teste de avaliação de habilidades motora Bruininks-Oseretsky, versão 2 (BOT-2), para mensurar as competências motoras de crianças com transtorno do espectro autista (TEA). O teste foi aplicado antes e após a implementação de um programa de atividades físicas, permitindo avaliar os efeitos da intervenção. Arslan et al., (2020) ressaltam a eficácia do BOT-2 na avaliação de crianças com TEA, pois mede aspectos como velocidade, agilidade, equilíbrio, coordenação motora e salto em distância. Além disso, foi utilizado um protocolo de exercícios em circuito estruturado para avaliar a aptidão física geral dessas crianças. Os resultados indicaram melhorias significativas no equilíbrio, força e coordenação. Alsaadi (2020) obteve resultados semelhantes em seu estudo, utilizando o teste BOT-2, no qual conseguiu avaliar crianças autistas com alta precisão, rapidez e confiabilidade. 

Além disso, o estudo de Walters et al. (2024) reforça que exercícios em circuito com intensidade moderada promovem melhorias no controle inibitório e na memória de trabalho, aspectos essenciais para o desenvolvimento cognitivo. Essa constatação corrobora os achados de Arslan et al. (2020), que utilizaram um protocolo estruturado de exercícios em circuito para avaliar a aptidão física de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ambos os estudos concluíram que a prática regular de exercícios em circuito não apenas aprimora a capacidade e aptidão física dessas crianças, mas também favorece a interação social, evidenciando os benefícios multifacetados dessa intervenção no desenvolvimento global de indivíduos com TEA. 

As habilidades motoras representam etapas fundamentais no desenvolvimento de crianças autistas, uma vez que aspectos como equilíbrio, coordenação motora e força muscular influenciam diretamente na sua independência funcional. Nesse contexto, Arabi e Kakhki (2025) investigaram de forma aprofundada o impacto do exercício físico nas habilidades motoras dessas crianças, demonstrando resultados positivos na competência motora, além de melhorias na manipulação de objetos pequenos e na ocorrência de adaptações neurais. Esses achados são corroborados por Nascimento et al., (2021), cuja revisão sistemática revelou que a prática de exercício físico estruturado promove avanços nas habilidades locomotoras, estabilizadoras e manipuladoras. Dessa forma, a atividade física estruturada é válido no tratamento de crianças com TEA, mediante a análise de muitos resultados positivos.

7. CONCLUSÃO 

Em suma, os achados demonstram que a fisioterapia representa uma estratégia terapêutica eficaz na reabilitação de déficits motores e na promoção da qualidade de vida de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Os dados apontam para melhorias significativas nas capacidades motoras, na independência funcional, aprimoramento das habilidades de interação social, e a redução dos comportamentos estereotipados. Tais evidências reforçam a relevância da adoção de abordagens fisioterapêuticas individualizadas, baseadas em fundamentos científicos sólidos, assegurando intervenções seguras, efetivas e ajustadas às demandas específicas de cada criança. Nesse contexto, a fisioterapia consolida-se como um recurso essencial no apoio ao desenvolvimento global de crianças com TEA, favorecendo ganhos concretos na sua qualidade de vida e oferecendo suporte significativo às famílias no cotidiano dos cuidados e estímulos terapêuticos.

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1Discente e Bolsista do Programa de Iniciação Científica da IERSa – PIBIC
2Discente e Bolsista do Programa de Iniciação Científica da IERSa- PIBIC
3Docente e Orientador Programa de Iniciação Científica da IERSa- PIBIC