EFEITOS DA EQUOTERAPIA EM CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11479792


Maria Eduarda Rodrigues da Silva; Mariana Moreira de Barros Martins; Thays Silva de Azevedo; Orientadora: Profa. Ma. Maria Eduarda Pontes dos Santos; Coorientadora: Fisioterapeuta Joyce Pereira Silva.


RESUMO

INTRODUÇÃO: A paralisia cerebral (PC), resulta de lesões cerebrais ocorridas no período pré, peri ou pós natal e até dois anos de idade, se manifestando em desordens do movimento e da postura que levam a uma limitação motora não progressiva. Entre as suas possíveis intervenções está a equoterapia, que funciona por meio da aplicabilidade de cavalos, proporcionando benefícios a nível físico. OBJETIVO: Verificar os efeitos da Equoterapia em crianças acometidas pela Paralisia Cerebral. METODOLOGIA: Caracteriza- se por uma revisão de literatura integrativa realizada no período de fevereiro a junho do ano de 2024, a partir das bases de dados da BVS, PubMed, PEDro e Periódicos Capes, com estudos encontrados através da combinação de palavras do DeCS/MeSH, nos idiomas português e inglês com a junção do operador booleano AND. Foram selecionados artigos dos últimos 5 anos, que contribuíram com a temática, sendo eles ensaios clínicos, completos e relevantes para o objetivo da revisão. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Foram incluídos 5 estudos clínicos randomizados como método de intervenção a equoterapia em crianças com paralisia cerebral. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Diante disto, foi concluido que a Equoterapia como intervenção em crianças com Paralisia Cerebral apresenta efeitos positivos  na  função motora grossa, equilíbrio postural , no desempenho funcional e na qualidade de vida dessas crianças.

Palavras-chave: Equoterapia; hipoterapia; fisioterapia; criança; paralisia cerebral

INTRODUÇÃO

A Paralisia Cerebral (PC), também referida como Encefalopatia Crônica Não Progressiva (ECNP), resulta de lesões ou malformações cerebrais ocorridas durante o período pré, peri ou pós natal e até 2 anos de idade (Riskjaer et al., 2012). Essas lesões podem afetar os hemisférios cerebrais, a região mesodiencefálica, o tronco cerebral e/ou o cerebelo (Bobath, 1979). A incidência dessa condição é relatada em cerca de dois a três casos para cada 1.000 nascidos vivos no mundo (McIntyre et al., 2022). Os sintomas clínicos geralmente englobam alterações sensoriais, cognitivas, emocionais, comportamentais, de comunicação, percepção e tônus muscular na criança afetada. Essas manifestações podem acarretar significativas limitações funcionais, impactando nas atividades diárias e restringindo a participação da criança em atividades educacionais, recreativas e sociais (Dias et al., 2010; Imm, 2008).

As anormalidades estruturais ou funcionais do sistema nervoso central associadas à PC podem ter origens diversas, incluindo causas pré-natais como más formações congênitas e problemas metabólicos maternos; causas perinatais, tais como prematuridade, baixo peso ao nascer, hipóxia neonatal; e causas pós-natais, como infecções meníngeas, encefalites, vasculites cerebrais e infecções virais (Gulati; Sondhi, 2017; Nip et al., 2017; Santos et al., 2017). Clinicamente, a PC pode ser classificada pelo tônus e pela topografia em diferentes subgrupos, considerando o tipo de disfunção motora presente, como espástica, discinética, atáxica ou mista, e os membros afetados, como monoplegia, hemiplegia, diplegia e quadriplegia (Michael-Asalu et al., 2019; Sadowska et al., 2020).

A espasticidade é um dos distúrbios mais comuns associados à (PC), afetando aproximadamente 78-88% da população acometida (Hollung et al., 2020). Os sinais clínicos mais comuns da espasticidade incluem hiperreflexia e hipertonia, os quais resultam em uma resistência dos músculos ao alongamento, devido ao comprometimento do neurônio motor superior do Sistema Nervoso Central (Dietz; Sinkjaer, 2007; Assis-Madeira; Carvalho, 2009). A PC espástica pode causar dor, rigidez muscular, amplitude de movimento reduzida e pode levar a deformidades músculo esqueléticas secundárias, como contraturas articulares ou subluxações, resultando na limitação do controle postural do indivíduo (Bhimani; Anderson, 2014).

Essa condição representa uma considerável causa de incapacidade na infância, resultando de lesões no cérebro em desenvolvimento, manifestando-se em desordens do movimento e da postura que levam a uma limitação motora não progressiva. É considerada um distúrbio crônico, resultando em limitações funcionais a longo prazo e significativas restrições no desempenho de atividades que incluem não apenas aspectos de mobilidade e autocuidado, mas também o alcance educacional, psicológicos e as relações sociais. Consequentemente, são necessárias adaptações ambientais para oferecer condições de acessibilidade e participação adequadas para a criança afetada, o que pode impactar diversos aspectos da vida do paciente e de seus familiares (Batista et al., 2016; Alpino, 2018).

As intervenções no tratamento desses pacientes variam conforme os sintomas específicos de cada indivíduo. É crucial discutir as expectativas com as famílias para  auxiliá-las a estabelecer metas realistas. Além disso, a abordagem terapêutica envolve uma equipe multidisciplinar que reconhece a importância de diversos aspectos do cuidado ao paciente, adaptando o tratamento individualmente de acordo com suas necessidades (Kiggrer, 2006). As técnicas fisioterapêuticas desempenham um papel fundamental no aumento da independência funcional nessas crianças. Entre essas técnicas, destacam-se a fisioterapia aquática, o treinamento de força, a estimulação elétrica, o uso de órteses, a realidade virtual, o treinamento em esteira e a equoterapia (Sajan et al., 2016; Almeida et al., 2017; Hsieh et al., 2017).

A equoterapia é um método que visa a melhoria do bem-estar e do conforto das pessoas  por meio da aplicabilidade dos cavalos, proporcionando benefícios a nível físicos, psíquicos, sociais e educacionais. Esse método vem se ampliando nos últimos anos de maneira relevante como recurso terapêutico em indivíduos com necessidades especiais (Ande Brasil, 2015). Considerando que os indivíduos com PC possuem alterações motoras, posturais, no tônus muscular e hemiplegia, como algumas de suas características, entende-se as dificuldades para o desenvolvimento das Atividades de Vida Diárias (AVD ́s) e no controle motor. Portanto, a equoterapia é aplicada buscando agir a partir das limitações funcionais e sensoriais de indivíduos com a mobilidade limitada (Path Internacional, 2013; Sterba, 2007).

Um dos seus efeitos é a estimulação sensorial proporcionada pelo movimento do cavalo é semelhante ao movimento pélvico humano durante a caminhada. O ritmo variado e oscilante que afeta a cintura pélvica do paciente quando o cavalo anda é aproximadamente duas vezes mais forte do que durante a caminhada do paciente, o que pode resultar em uma redução na espasticidade. Esse efeito pode ser atribuído à posição montada, que inibe a flexão, abdução e rotação externa do quadril (Koca; Ataseven, 2015; Lechner et al., 2007; Kunzle, 2013).

Tendo em vista que a PC gera limitações consideráveis, torna-se importante entender e atualizar como a equoterapia vem sendo aplicada para melhorar a qualidade de vida dessas crianças, na função corporal, equilíbrio postural e espasticidade. Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi verificar os efeitos da Equoterapia em crianças acometidas pela Paralisia Cerebral.

METODOLOGIA

O presente estudo caracteriza-se por uma revisão de literatura integrativa, realizada no período de fevereiro a junho de 2024, com o objetivo de descrever os efeitos da Equoterapia em crianças com Paralisia Cerebral. A pesquisa foi realizada nas bases de dados eletrônicas BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), PubMed (National Library of Medicine), PEDro (Physiotherapy Evidence Database) e Periódicos Capes.

Foram utilizados os descritores presentes no DeCS/MeSH (Descritores em Ciências da Saúde): equoterapia; hipoterapia; paralisia cerebral; criança e em inglês: equine assisted therapy; hippotherapy; cerebral palsy; children. Cruzando entre si com o operador booleano AND, sendo as seguintes combinações: equoterapia AND paralisia cerebral AND criança; equoterapia AND paralisia cerebral; hipoterapia AND paralisia cerebral; equine assisted therapy AND cerebral palsy AND children; equine assisted therapy AND cerebral palsy; hippotherapy AND cerebral palsy.

Para a identificação e a seleção dos estudos foram considerados os seguintes critérios de inclusão: estudos com crianças diagnosticadas com Paralisia Cerebral; idade de 2 a 12 anos; ensaios clínicos; idiomas português e inglês; publicados nos últimos 5 anos e estudos que abordassem o método de intervenção da equoterapia. Foram excluídos: artigos de revisão, com duplicidade nas bases de dados e fuga do tema. A localização e seleção dos artigos ocorreram em três fases. Na primeira fase, foram feitas as buscas nas bases de dados através dos descritores e utilização dos filtros, na segunda fase a triagem foi realizada a partir da leitura dos títulos, na terceira foram selecionados os artigos através da sua leitura completa. Todas as etapas estão representadas na figura 1.

Figura 1. Fluxograma da seleção dos artigos para revisão integrativa
Fonte: autoria própria, 2024.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente, no processo de busca dos artigos foram encontrados 346 estudos, com base nos critérios de inclusão foram selecionados 5 estudos. Os estudos selecionados, foram ensaios clínicos randomizados, realizados nos anos de 2019 a 2022, dois estudos foram realizados no Brasil nas cidades de Brasília e Santa Maria no Rio Grande do Sul, outro estudo foi em Lodz na Polônia, Tucson em Arizona (EUA) e por último em Cairo no Egito. As demais características estão no quadro 1.

Quadro 1- Descrição dos artigos inclusos

AUTOR/ANOOBJETIVODESENHO DE ESTUDOINTERVENÇÃORESULTADOS
Flores; Dagnese; Copetti (2019)O objetivo deste estudo foi avaliar se o controle postural dinâmico sentado em crianças com paralisia cerebral espástica bilateral classificadas em nível III e IV do GMFCS em equoterapia é modificado quando a superfícies (areia ou asfalto) e a velocidade de caminhada do cavalo (lenta ou rápida) são alteradas.Ensaio Clínico cruzado com 16 crianças selecionadas de 6 a 12 anos. Oito crianças com paralisia espástica bilateral classificadas em nível III e IV da GMFCS e 8 crianças com desenvolvimento típico.As crianças com PC foram submetidas a duas sessões de equoterapia, superfície de areia e depois outra com asfalto, com 7 dias de washout entre elas, e o grupo DT ocorreu em um dia. Todas as crianças foram avaliadas durante passeios a cavalo em superfícies de areia e asfalto e na velocidade de caminhada lenta rápida.Observou-se no grupo com PC maior amplitude de deslocamento CoP ml quando o cavalo cavalgava na areia em relação ao asfalto, e aumento para todos os parâmetros CoP ao aumentar a velocidade de cavalgada do cavalo.
Matusiak-Wieczorek et al., (2020)Avaliar a influência da equoterapia na postura e função corporal de crianças com PC, classificadas com nível I e II do GMFCS com diplegia e hemiplegia espástica.Ensaio clínico. Com 45 crianças selecionadas de 6 a 12 anos.O G1 participou de sessões de equoterapia de 30 minutos, duas vezes semanalmente durante 12 semanas consecutivas. G2 realizaram uma vez na semana durante 12 semanas consecutivas. GC não realizou a equoterapia. As sessões foram individualizadas, aplicadas tarefas como girar o tronco, colocar as mãos na nuca, etc.Observou uma melhora em todas as categorias, exceto no controle dos pés. No G1 foram observadas diferenças estatisticamente significativas do controle da cabeça, função do braço e controle de tronco. G2 observou melhora em todas as categorias avaliadas, porém, teve uma melhora significativa apenas na avaliação do controle de tronco. No GC houve melhora no controle da posição do tronco e função das mãos, no entanto não houve diferenças significativas.
Silkwood-Sherer; McGibbon (2020)Determinar se a equoterapia como intervenção primária ao programa de terapia habitual de cada criança, melhora o equilíbrio, a participação e a qualidade de vida em crianças com PC espástica, classificadas com nível I, II e III do GMFCS.Ensaio clínico randomizado. Com 13 crianças com idade de 3 a 6 anos.GT receberam sessões de terapia habitual, além da equoterapia semanal como tratamento primário, durante 12 semanas. GC continuaram recebendo terapia habitual, combinações de terapia física e ocupacional.GT apresentou melhora significativa no PBS e ASKp em relação às pontuações do pré-teste ao pós-teste 1 e 2. No PEDSQl-CP do GT foi encontrada diferença significativa entre o pós-teste 1 e pós-teste 2. GC não demonstrou alterações significativas em quaisquer medidas entre o pré-teste e o pós-teste, no entanto, houve melhoria contínua nas pontuações entre o pós-teste 1 e 2 no ASKp, APCP e TC1M.
Pietro et al., (2021)Determinar se a prática da equoterapia uma ou duas vezes por semana tem um efeito diferente na função motora grossa e desempenho funcional de crianças com PC classificadas no nível II a V do GMFCS.Ensaio Clínico randomizado com 20 crianças selecionadas de 2 a 5 anos e 11 meses.Em ambos os grupos foi solicitado o controle postural, movimentos de cabeça, tronco e pelve, força e coordenação. O protocolo incluiu atividades na areia e arena ao ar livre, com asfalto e grama, diferentes declives, além de posturas diferenciadas como clássica, lateral, invertida ou quadrupeda. A duração foi de 16 semanas de equoterapia, uma sessão individual variou de 30 a 35 minutos, uma vez por semana G1 e duas vezes por semana G2.Não houve diferenças significativas entre o G1 e G2 na pontuação média da função motora grossa e desempenho funcional entre os grupos de intervenção, no pré e pós-intervenção. Na análise intragrupo houve melhoras significativas em ambos os grupos.
Ali; Awad (2022)Comparar a eficácia da equoterapia e da vibração de corpo inteiro na melhoria da espessura dos músculos abdominais e da função sentada em crianças com diplegia espástica classificadas em nível III e IV da GMFCS.Ensaio clínico. Com 60 crianças selecionadas em idade média de 3 a 5 anos.As crianças foram recrutadas na clínica e divididas igualmente em dois grupos. O grupo A foi submetido a um procedimento convencional de fisioterapia, além da VCI por 10 minutos, e o grupo B foi submetido ao mesmo programa de fisioterapia convencional, além da equoterapia por 40 minutos. O mesmo programa de fisioterapia foi realizado por 12 semanas, três vezes na semana, por uma hora em ambos os grupos.A comparação entre os grupos após o tratamento revelou um aumento significativamente maior na espessura muscular abdominal do OE, OI, TA e RA no grupo da equoterapia em comparação com o grupo VCI. Além disso, foi observada uma melhora significativamente maior no GMFM-88 no grupo da equoterapia em relação ao grupo VCI.
Legenda: PC= paralisia cerebral, GMFCS= gross motor function classification system (sistema de classificação da função motora grossa), SAS= escola de avaliação do sentado, ASKp= escala de atividades para desempenho infantil, APCP= avaliação de participação e prazer das crianças, PBS= escala de equilíbrio pediátrico, TC1M= teste de caminhada de 1 minuto, G1= grupo de estudo 1, G2= grupo de estudo 2, GC= grupo controle, GT= grupo de tratamento, DT= desenvolvimento típico, CoPml= amplitude de deslocamento do centro de pressão no sentido médio lateral, PedsQL= avaliação da qualidade de vida pediátrica, VCI= vibração de corpo inteiro, OE= oblíquo externo, OI= oblíquo interno, TA= transverso abdominal, RA= reto abdominal.
Fonte: Autoria própria, 2024.

A partir do objetivo do presente estudo, foi possível identificar os efeitos benéficos da equoterapia em crianças com paralisia cerebral. Após uma análise detalhada dos estudos presentes nesta revisão, observou-se que o método da equoterapia melhora a função motora grossa, espasticidade e equilíbrio postural nas crianças com PC em diferentes níveis da Classificação da Função Motora Grossa (GMFCS), com base nos seus resultados.

Todos os estudos precitados avaliaram o nível de PC das crianças através do (GMFCS), que foi desenvolvida para classificar a função motora grossa de pacientes com essa condição, em diferentes atribuições, incluindo o equilíbrio, postura e mobilidade, classificando a gravidade destes em cinco níveis (Pfeifer; Silva; Funayama, 2009). No primeiro nível estão as crianças capazes de andar, subir e descer escadas sem assistência, correr e pular, mas sua coordenação, equilíbrio e velocidade podem ser limitadas.

O nível dois da GMFCS, a criança caminha com limitações, principalmente em ambientes irregulares, podendo fazer uso de dispositivos auxiliares. No nível três a criança necessita de um dispositivo para auxiliar na marcha em quase todos os espaços, podendo usar a cadeira de rodas para se deslocar em grandes distâncias. No nível quatro a criança precisa de assistência física para locomoção ou mobilidade motorizada na maioria dos ambientes, enquanto no nível cinco a criança depende do transporte na cadeira de rodas manual em todos os espaços, sendo mais difícil de manter posturas e controlar os movimentos (Palisano et al., 2007).

O estudo de Flores; Dagnese; Copetti (2019) avaliou se o controle postural dinâmico sentado em crianças pode ser modificado de acordo com a superfície e velocidade de caminhada do cavalo, os achados mostraram maior amplitude de deslocamento do centro de pressão no sentido médio lateral (CoP ml) quando o cavalo andava na areia em comparação com o asfalto, e obteve melhoras em todos os parâmetros CoP quando o cavalo aumentou sua velocidade na caminhada, fazendo com que ocorresse mais estímulos e aumento da demanda pelo controle postural sentado nas crianças. Essas medidas indicam uma diferença entre o deslocamento máximo e mínimo de uma criança com PC.

O estudo de Matusiak-Wieczorek et al., (2020) utilizou a Escala de Avaliação de Sentado (SAS), no qual o examinador avaliou a posição e função da cabeça, tronco, pés, braços e mãos, enquanto a criança realizava diferentes tarefas. Foram feitas avaliações no primeiro e último exame, onde foi observado no grupo de estudo I melhoras em quase todas as categorias, exceto no controle dos pés. Resultados estatisticamente significativos foram encontrados no controle da posição da cabeça, função dos braços e controle de tronco. Enquanto no grupo de estudo II, diferenças estatisticamente significativas foram notadas apenas na avaliação do controle de tronco.

As crianças foram classificadas no nível I e II da GMFCS, divididas em três grupos de quinze crianças, onde o primeiro grupo de estudo participou da intervenção duas vezes por semana, o grupo dois participou uma vez por semana e o grupo controle não realizou a equoterapia.

Ainda no estudo de Matusiak-Wieczorek et al. (2020) foram selecionas crianças com diplegia e hemiplegia espástica, no qual foi observado melhora significativas em crianças com hemiplegia quando comparou os Grupos I e II com o grupo controle, também foi notado melhoras significativas em crianças mais novas em comparação com as mais velhas, achados semelhantes foi observado no estudo de Park et al. (2014) onde obteve melhorias mais rápidas na GMFM em crianças nos quatro primeiros anos de idade.

Diferente dos achados do estudo de Pietro et al. (2021), em que não foram observadas melhoras significativas entre os grupos de estudos, mas obteve aumento de efeito no grupo que praticou a equoterapia duas vezes na semana. Apesar disso, foi destacado que se obteve melhora significativa dentro dos grupos de estudo I e II na medida da função motora grossa (GMFM-66) e no desempenho funcional, utilizando a escala PEDI, que objetiva fornecer uma descrição detalhada do desempenho funcional da criança analisada. O seu método de intervenção foi semelhante com o estudo de Matusiak-Wieczorek et al. (2020) em que foram selecionados dois grupos de estudos, um realizando a equoterapia uma vez por semana e outro duas vezes na semana, no qual foram observadas melhoras em ambos os grupos. Do mesmo modo, nota-se uma melhora significativa em mais partes da função corporal entre crianças que também praticaram a equoterapia duas vezes na semana.

Entretanto, o estudo de Ali; Awad (2022), teve como objetivo avaliar o benefício de duas intervenções (Vibração de corpo inteiro e Equoterapia) na espessura dos músculos abdominais, no controle de tronco e estabilidade postural na posição sentada em crianças com diplegia espástica. Foi usado o aparelho de ultrassonografia para medir a espessura dos músculos e a GMFM – 88 para avaliar o nível da função motora e para medir o domínio da posição sentar em crianças selecionadas. Os achados nesse estudo mostraram um aumento significativo dentro dos grupos VCI e Equoterapia na espessura dos músculos abdominais e na GMFM – 88. Contudo, foi observado melhoras significativas entre o grupo da Equoterapia quando comparado com o da VCI na espessura dos músculos abdominais e na GMFM – 88.

Nesse contexto, o estudo de Kwon et al. (2015), corrobora com o estudo de Ali; Awad (2022), em que utilizou também a escala da GMFM – 88 para avaliar a pontuação dos domínios, porém, o estudo de Ali; Awad (2022) avaliou uma única dimensão que foi o sentar e a partir dessa escala foi calculada também a GMFM – 66. Nos estudos de Pietro et al. (2021) e Kwon et al. (2015) foram observados resultados semelhantes e significativos na pontuação total da GMFM – 88 e GMFM – 66. Em contrapartida, apenas no estudo de Kwon et al. (2015) foi relatado que os resultados da GMFM – 88 foi significativo em todos os níveis da GMFCS, porém, a GMFM – 66 obteve um efeito significativo nos níveis II, III e IV.

O estudo de Silkwood-Sherer; McGibbon (2020) avaliou o equilíbrio pela escala PBS, a velocidade da marcha pelo TC1M, nível da PC pelo GMFCS, avaliação da participação da criança pela ASKp e APCP, e por último um medidor que avalia a qualidade de vida relacionada à saúde da criança PedsqL. Neste estudo, realizaram a avalição no início da intervenção, após 12 semana de intervenção (Pós-teste 1) e 12 semanas após o fim do estudo (Pós-teste 2). Foram encontrados resultados significativos do início do estudo até o pós-teste 2 no equilíbrio, na escala de atividades para desempenho infantil e na qualidade de vida pediátrica. No teste de caminhada de 1 minuto não foi observado resultado significativo entre o pré-teste e pós-teste 1, mas no pós-teste 2 teve uma melhora, porém, não foi significativa. Por fim, a avaliação de participação e prazer das crianças não resultou em melhoras significativas.

Os estudos citados anteriormente, exceto o de Flores; Dagnese; Copetti (2019), relataram protocolos de atividades durante as sessões de equoterapia, no qual consistiam em controle postural, movimentos de cabeça, tronco, braços, coordenação. Foi descrito no estudo de Pietro et al, (2021) a utilização de uma manta sem sela para os participantes sentarem no cavalo objetivando melhor fluidez nos movimentos. Entretanto, no estudo de Flores; Dagnese; Copetti (2019) foi optado em ultilizar sela com pés nos estribos, corroborando com o estudo achado na literatura de Espíndula et al. (2012) que concluiu que a utilização da sela com estribos nos pés proporciona a ativação muscular igualmente, entrentanto, neste mesmo estudo foi utilizado manta e foi notado ativação maior no músculo do trapézio fibras superiores, no qual gerou sobrecarga e consequentemente não contribuiu para a estabilização do tronco, aumentando a assimetria postural da criança.

Após a análise dos estudos, foi possível compreender que ao longo da prática terapêutica, o cavalo envia impulsos rítmicos ou vibrações para a cintura pélvica ao andar. Esses impulsos são gerados a partir da elevação alternada dos músculos lombares e do dorso do cavalo, criando movimento variado e oscilante forte na pelve do paciente com Paralisia Cerebral, fazendo com que ele se adapte e endireite o tronco. Dessa forma, o equilíbrio, o controle postural e a coordenação se aperfeiçoam, podendo ocorrer também uma redução na espasticidade, que pode ser atribuída à posição montada, no qual inibe a flexão, abdução e rotação externa do quadril (Campuzano, 2014; Lechner et al., 2007; Kunzle, 2013).

Da mesma forma, ao longo da prática da equoterapia, ocorre o fortalecimento muscular, melhora da coordenação motora e aprimoramento do deslocamento e alinhamento postural (Zadnikar et al., 2011; Silkwood-Sherer et al., 2011). Esses benefícios para pacientes com PC são justificados pelos movimentos realizados pelo cavalo, cuja marcha proporciona um padrão de movimento exato, rítmico e frequente. Promovendo também, ao mesmo tempo, alongamentos passivo e ativo na criança, além de fornecer estimulação sensorial (McGee; Reese, 2009; Sterba, 2007).

A temperatura corporal do cavalo é de 38°C e pode atingir 38,8°C durante a prática terapêutica e essa temperatura, superior à do corpo humano, é importante para a extensão e relaxamento de músculos e ligamentos, assim como no aumento da percepção sensorial devido aos estímulos táteis que são gerados. Tais impulsos podem despertar sentimentos de segurança e proteção que aumentam a autoconfiança do paciente com essa condição (Villar Arceredillo, 2017; Truyols Plomer, 2017; Pérez Martínez, 2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do presente estudo, foi verificado que a Equoterapia como intervenção em crianças com Paralisia Cerebral apresenta efeitos positivos  na  função motora grossa, equilíbrio postural , no desempenho funcional e na qualidade de vida dessas crianças. Diante disso, a Equoterapia pode ser considerada como tratamento na Paralisia Cerebral, visto que, resulta em melhoras significativas.

Apesar disso, os achados apresentam diferentes consensos em relação aos níveis da escala GMFCS, a idade dos pacientes, o tempo, a duração e o tipo de Paralisia Cerebral. Por conta desse contexto, é importante a realização de novos estudos sobre a intervenção da Equoterapia em pacientes com essa condição para a avaliação mais uniforme desses efeitos.

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