EFEITOS DA ELETROESTIMULAÇÃO NA REABILITAÇÃO DA FUNÇÃO DO MEMBRO SUPERIOR DE PACIENTES APÓS ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL

EFFECTS OF ELECTROSTIMULATION IN THE REHABILITATION OF THE UPPER LIMB FUNCTION OF PATIENTS AFTER STROKE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7396345


Cristiane da Silva Ferreira1
Rayane Marques Barreto1
Hellen Gabriela Campos Marinho1
Karine do Nascimento Forte1
Priscila de Araújo Maia1
Klenda Pereira de Oliveira2


Resumo

Introdução: O Acidente Vascular Cerebral (AVC) consiste em uma série de sintomas de deficiência neurológica repentinos, que duram mais de 24 horas provenientes de uma lesão vascular gerando comprometimento cognitivo, motor ou sensorial. É um dos principais motivos de internações e mortalidade, sendo um problema de saúde pública com alta prevalência na população afetando, em muitos casos, a funcionalidade do membro superior. A eletroestimulação é uma das técnicas utilizadas pela fisioterapia na reabilitação após o AVC. Objetivo:  compreender os efeitos da eletroestimulação na reabilitação da função do membro superior de pacientes após AVC. Materiais e método: Revisão de literatura na bases de dados Pubmed, Periódicos Capes e Bireme utilizando os descritores: Eletroestimulação, acidente vascular cerebral e membro superior em português e “Electrostimulation”, “stroke” e “upper limb” em inglês. Os critérios de inclusão foram: estudos de intervenção publicados em periódicos da língua inglesa, portuguesa e espanhola, entre os anos de 2017 e 2022. Os critérios de exclusão foram: estudos de revisão sistemática, não disponíveis na íntegra, duplicados, estudos que não estivessem em conformidade com os objetivos. Resultados:  Os 14 estudos selecionados revelam que a eletroestimulação se mostrou eficaz para a recuperação do membro superior pós-AVC melhorando a função física e a capacidade funcional desses pacientes. Conclusão: Apesar de serem apresentados variados protocolos de tratamento, as evidências revelam benefícios desta terapia para reabilitação de pacientes com sequelas no membro superior após o AVC. 

Palavras-chave: Eletroestimulação. Membro superior. Acidente vascular cerebral.

Abstract

Background: The Cerebral Vascular Accident (CVA) consists of a series of sudden neurological deficiency symptoms, which last more than 24 hours from a vascular lesion generating cognitive, motor or sensory impairment. It is one of the main reasons for hospitalizations and mortality, being a public health problem with high prevalence in the population, affecting, in many cases, the functionality of the upper limb. Electrostimulation is one of the techniques used by physical therapy in post-stroke rehabilitation. Objective: to understand the effects of electrical stimulation in the rehabilitation of upper limb function in patients after stroke. Methods: Literature review in Pubmed, Periodicals Capes and Bireme databases using the descriptors: Electrostimulation, accident cerebrovascular and upper limb in Portuguese and “Electrostimulation”, “stroke” and “upper limb” in English. Inclusion criteria were: intervention studies published in English, Portuguese and Spanish language journals, between 2017 and 2022. Exclusion criteria were: systematic review studies, not available in full, duplicates, studies that were not in English, Spanish or Portuguese and studies that were published before the year 2017. Results: The 14 selected studies reveal that electrostimulation proved to be effective for the recovery of the upper limb after stroke, studies that were not in line with the objectives. Conclusion: Although several treatment protocols are presented, the evidence reveals the benefits of this therapy for the rehabilitation of patients with sequelae in the upper limb after stroke.

Keywords: Electro-stimulation. Senior member. Stroke.

1 INTRODUÇÃO

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é um dos principais motivos de internações e mortalidade, sendo um problema de saúde pública com alta prevalência na população. Nos Estados Unidos é a quinta maior causa de mortalidade e no ranking mundial ocupa o terceiro lugar com relação ao número de anos de vida perdidos ajustados por incapacidade, acometendo mais de 750.000 pessoas por ano. No Brasil, é responsável pela quarta causa de morte, apesar de sua incidência ter sofrido uma queda, seus altos índices de sequelas são catastróficos para pacientes e familiares (SCHMIDT et al, 2019; BRANDÃO; LANZONI; PINTO, 2022).

O acidente vascular cerebral, de acordo com Organização Mundial da Saúde, pode ser definido como uma série de sintomas de deficiência neurológica repentinos, com duração de mais de 24 horas provenientes de uma lesão vascular gerando comprometimento cognitivo, motor ou sensorial. Essas consequências, na maioria dos casos, são permanentes e influenciam de forma direta na dinâmica social e familiar (ROSÁRIO et al, 2022). Quando uma artéria fica obstruída ou bloqueada ocorre uma interrupção no fluxo sanguíneo que vai para o cérebro, tal designação ocorre no AVC isquêmico. Caso ocorra ruptura dos vasos sanguíneos cerebrais gera o AVC do tipo hemorrágico (NASCIMENTO, 2020).

É possível citar, entre as várias manifestações clínicas do AVC, prejuízos nas funções motoras, sensitivas e de equilíbrio, além disso, ressalta-se também déficit na cognição e na linguagem (MENDES, 2019).  Alterações sensitivas, espasticidade, desordem no nível de consciência, paralisia ou paresia, prejuízos na coordenação dos movimentos, apraxias, anomalias no campo visual, ataxia, afasia, disartria, confusões no julgamento e planejamento estão entre os sinais e sintomas mais frequentes relacionados ao AVC. Em alguns casos as manifestações clínicas podem ser de difícil localização, como por exemplo, alterações na memória e baixo nível de consciência. Isso acontece devido à sintomatologia estar relacionada a área cerebral que foi afetada por isso, alguns sintomas podem demorar horas ou até dias para se manifestar (MAURIZ; LUCENA, 2018).

A funcionalidade do membro inferior possui um índice alto de rápida recuperação em virtude da eficácia da intervenção precoce. Entretanto, no membro superior a realidade difere, pois apenas 50% dos pacientes após AVC recuperam a funcionalidade da extremidade superior, muitas vezes isso é um reflexo do fato de que é possível realizar várias atividades utilizando somente um lado do membro superior, no entanto isso pode causar sobrecarga e gerar complicações secundárias (SOARES et al, 2017).

A hemiparesia ou hemiplegia, além das disfunções de coordenação e sensibilidade, são as sequelas mais comuns que afetam o membro superior. Dessa forma, seu comprometimento afeta as funções motoras em virtude da fraqueza muscular e da espasticidade, exercendo grande influência na qualidade de vida do paciente pós-AVC. Estudos revelam que a paresia do membro superior é o que mais acomete esses pacientes, pois pelo fato de apresentar padrão de postura flexionada compromete sua autonomia (MELO et al, 2021).

“Após acidente cérebro-vascular, quanto mais cedo começar a recuperação, melhor será o prognóstico. Com fisioterapia, os ganhos funcionais podem continuar por anos à frente” (SERRA et al, 2018, p. 2). Nesse contexto, o fisioterapeuta possui a função de identificar as principais funções prejudicadas a fim de intervir de forma a recuperar a funcionalidade desses pacientes proporcionando sua reinserção social e promovendo melhor qualidade de vida. Dessa forma, a fisioterapia é essencial para as vítimas de AVC devido à grande variedade de sequelas que acarreta (LIMA; CONCEIÇÃO; TAPARELLI, 2021).

O processo de reabilitação requer um amplo conhecimento profissional, assim, é possível tomar as melhores decisões clínicas para otimizar os resultados. A literatura disponibiliza várias técnicas que são usadas nas intervenções, a saber, a cinesioterapia, a hidroterapia, o treinamento físico, práticas que envolvem a saúde mental, a musicoterapia, a terapia espelhada e muitas outras (ARAMAKI et al, 2019). 

Uma das técnicas utilizadas pela fisioterapia na reabilitação após o AVC é a Eletroestimulação, sua atuação consiste na recuperação da funcionalidade do paciente por meio da estimulação das fibras musculares para produção de contrações através de uma corrente elétrica, possibilitando um aumento da força muscular além de auxiliar na melhoria da espasticidade (SILVA et al, 2021). Essa técnica está sendo amplamente utilizada no processo de reabilitação em pessoas que sofreram AVC. Os resultados de alguns estudos demonstram que tal intervenção pode promover diminuição da espasticidade e da atrofia muscular, bem como estimular maior força na musculatura facilitando a reabilitação do movimento (SOARES et al, 2018).

O alto índice de pessoas acometidas com alterações cinesiológicas do membro superior pós-AVC mobilizou a escolha do tema da pesquisa. São muitas as disfunções decorrentes do AVC, em virtude disso, a realização de várias tarefas essenciais à vida diária (AVDs) ficam comprometidas. A relevância desta pesquisa para a ciência é incentivar mais profissionais a se aprofundar nesse assunto para que novas evidências apareçam, auxiliando em novos estudos de tratamentos e reabilitações. Com relação à sociedade, a pesquisa é relevante no sentido de levantar informações acerca dos efeitos decorrentes do AVC no membro superior juntamente com a efetividade do tratamento fisioterapêutico, usando como recurso a eletroterapia. Diante do exposto, a pesquisa tem como objetivo geral compreender os efeitos da eletroestimulação na reabilitação da função do membro superior de pacientes após AVC. Os objetivos específicos consistem em: descrever a funcionalidade do membro superior na condição do paciente pós-acidente vascular cerebral; discorrer sobre a importância da fisioterapia no reestabelecimento funcional do membro superior do paciente pós-acidente vascular cerebral; e observar o efeito da eletroestimulação na função do membro superior em pacientes após AVC.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de uma revisão de literatura, com abordagem em pesquisa de artigos sobre o uso da eletroestimulação na reabilitação do membro superior de pacientes pós-AVC. Após a escolha do tema em questão, realizou-se uma busca inicial nas seguintes bases de dados: Bireme, Pubmed, Periódicos Capes, utilizando os descritores: Eletroestimulação, acidente vascular cerebral e membro superior em português e “Electrostimulation”, “stroke” e “upper limb” em inglês. Estabeleceu-se como critérios de inclusão: estudos de intervenção publicados em periódicos da língua inglesa, portuguesa e espanhola, entre os anos de 2017 e 2022. Os critérios de exclusão utilizados foram os seguintes: estudos de revisão sistemática, não disponíveis na íntegra, duplicados, estudos que não estivessem em conformidade com os objetivos.

Foram encontrados um total de 608 artigos na base de dados PubMed, 79 na Bireme e 178 no Periódicos Capes. A seleção dos artigos foi realizada inicialmente mediante a leitura dos títulos. O próximo passo foi a leitura dos resumos e, para finalizar esse processo, foi feita a leitura na íntegra de todos os artigos pré-selecionados. Por fim, foram selecionados 14 artigos que atendiam aos objetivos desse estudo.

3 RESULTADOS 

Na pesquisa, foram encontradas 865 publicações através da combinação dos descritores, contudo, foram selecionadas somente 14 publicações que atendiam todos os critérios de inclusão e exclusão. O detalhamento da busca e os motivos da exclusão dos artigos podem ser visualizados no fluxograma 1. De acordo com os dados coletados no período de 2017 a 2022, 21% dos estudos foram referentes ao ano de 2022, 28% referente ao ano de 2021, 7% referente ao ano de 2020, no tocante ao ano de 2019 não foram encontrados materiais que atendessem aos critérios desta pesquisa, 21% referente ao ano de 2018 e 21% referente ao ano de 2017. Nos objetivos dos estudos foram encontradas análises e verificações da utilização de diferentes técnicas de eletroestimulação, além de recursos terapêuticos combinados, buscando atingir benefícios na reabilitação de pacientes com membro superior comprometido após AVC. O 

Fluxograma dos estudos analisados.

A tabela 1 apresenta a sintetização dos dados analisados, destacando os autores e ano de publicações, as técnicas utilizadas, quantidade de pacientes e do tempo utilizados nas intervenções e os principais resultados encontrados.

Tabela 1. Estudos incluídos na revisão.

AUTOR/ANOTIPO DE ESTUDOOBJETIVORESULTADOS
Guo et al, 2022Estudo controlado randomizado.Aplicar a espectroscopia funcional no infravermelho próximo (fNIRS) para comparar as alterações relacionadas a estimulação elétrica neuromuscular controlada contralateralmente (EENMCC) com aquelas induzidas por estimulação elétrica neuromuscular (EENM) ao realizar a extensão do punho com membro superior hemiplégico.O EENMCC desencadeia estimulações sensório-motoras da mão afetada sequencialmente envolvendo a reorganização funcional.
Lavi et al, 2022Estudo controlado randomizado.Determinar o efeito da estimulação elétrica neuromuscular de longa duração (EENM) na subluxação do ombro e na função de extremidade superior durante o estágio agudo pós-acidente vascular cerebral.A subluxação do ombro foi significativamente menor, no grupo experimental pós-intervenção.
Ohnishi et al, 2022Estudo controlado randomizado.Investigar o efeito da terapia combinada com exercício facilitador repetitivo (EFR) e estimulação elétrica neuromuscular (EENM) em pacientes com AVC com parese superior grave.A combinação de movimento voluntário e estimulação elétrica pode promover a ativação de músculos paralisados e melhorar a função distal para membros superiores paralisados muito graves.
Kang et al, 2021Estudo experimental.Avaliar os efeitos terapêuticos da estimulação elétrica adicional (EE) combinada com estimulação magnética transcraniana repetitiva de baixa frequência (LF) (rTMS) e treinamento de imagens motoras (IM) na função motora da extremidade superior após acidente vascular cerebral.O uso de LF rTMS + IM combinado com EE adicional leva a uma maior melhora da função motora da extremidade superior após AVC.
Minami et al, 2021Ensaio controlado randomizado crossover.Examinar o efeito da atividade proposital e da terapia de estimulação elétrica (AP-ES) na função motora do membro superior.O AP-ES promove a reabilitação domiciliar para o uso do membro superior severamente hemiparético em sobreviventes de derrame crônico.
Norouzi-Gheidari et al, 2021Estudo clínico.Determinar a viabilidade e a eficácia preliminar da intervenção do perSonalized UPper Extremity Reabilitation (SUPER) em indivíduos com AVC moderado/grave.64% dos participantes melhoraram sua função da extremidade superior.
Sentandreu-Mañó, Tomas e Terrádez, 2021Estudo controlado randomizado.Avaliar e comparar o efeito de dois protocolos de estimulação elétrica neuromuscular (EENM) com diferentes frequências de estimulação (35 Hz versus 50 Hz) sobre comprometimento motor manual e função do membro superior em idosos com hemiparese espástica após acidente vascular cerebral.Os dois grupos experimentais comprovaram evidências de melhorias.
Salazar et al, 2020Estudo controlado randomizado.Avaliar os efeitos da estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) bi-cefálico simultâneo e estimulação elétrica funcional (EEF) sobre o desempenho motor cinético do membro superior e a qualidade do movimento de indivíduos crônicos pós- AVC.ETCC bi-cefálicas simultâneas e EES atingiram desempenho motor e força de aperto manual.
Biasiucci et al, 2018Estudo randomizado controlado.Avaliar se a terapia estimulação elétrica funcional (EEF) acionada pela interface cérebro-computador (ICC) visando a extensão da mão afetada (ICC-EEF) poderia produzir uma recuperação funcional mais forte e clinicamente relevante do que a terapia sham-EEF.O ICC acoplado à estimulação elétrica funcional (EEF) provoca uma recuperação motora significativa. 
Lee et al, 2018.Estudo piloto aberto.Determinar se as injeções de toxina botulínica tipo A (BTX-A) com estimulação elétrica (EE) dos músculos da mão poderiam melhorar a função ativa da mão (FAM) em pacientes com AVC crônico.As injeções de BTX-A nos flexores dos dedos e/ou punho seguidas de EE dos extensores dos dedos melhoram a FAM.
Pan et al, 2018Estudo randomizado controlado.Avaliar se a estimulação elétrica (EE) melhora o controle neuromuscular e a função da mão em indivíduos com AVC crônico e alterar a coerência eletroencefalografia-eletromiografia (EEG-EMG), em comparação com o controle (sham EE).O programa de reabilitação funcional tem potencial para melhorar o controle neuromuscular e a função da mão.
Chuang et al, 2017Estudo controlado randomizado simples-cego. Comparar os efeitos imediatos e retidos de estimulação elétrica neuromuscular (EENM) e estimulação elétrica nervosa transcutânea (EENT) acionados pela eletromiografia (EMG), sobre dor hemiplégica no ombro e função do braço de pacientes com AVC.A EENM desencadeada por EMG exibiu maiores efeitos do que EENT.
Jonsdottir et al, 2017Ensaio controlado randomizado multicêntrico.Aplicar a atividade mioelétrica para o controle contínuo da estimulação elétrica funcional (MeCEEF) em um paradigma orientado a tarefas para auxiliar os movimentos normais do braço durante a reabilitação do membro superior em pessoas com acidente vascular cerebral. O MeCFES pode ser um adjuvante seguro para reabilitação da função do membro superior.
Rong et al, 2017Estudo piloto.Utilizar um robô multiarticular e um sistema híbrido estimulação elétrica neuromuscular (EENM) para a prática física coordenada de membros superiores no cotovelo, punho e dedos.Melhora na coordenação muscular no cotovelo, punho e dedos.

4 DISCUSSÃO

Os estudos demonstram que a eletroestimulação se mostrou eficaz para a recuperação do membro superior pós-AVC melhorando a função física e a capacidade funcional desses pacientes.

Para avaliar o grau de comprometimento do membro superior, a maioria dos estudos utilizaram a escala Fulg-Meyer (FMA). De acordo com Minami et al. (2021) a FMA é uma forma de medir a função física geral de pacientes com AVC, suas medidas incluem a função motora, amplitude de movimento, sensação, equilíbrio e dor. Apenas dois estudos utilizaram outras medidas para resultados primário, a saber, a Motor Evaluation Scale for Upper Extremity (MESUPES) e Action Research Arm Test (ARAT).

Os tipos de eletroestimulação utilizados incluíram a estimulação elétrica funcional (EES), estimulação elétrica neuromuscular (EENM), estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) e estimulação elétrica nervosa transcutânea (EENT). O uso da Fisioterapia Convencional de forma conjunta ou comparativa foi observada nos estudos de Biasiucci et al. (2018), Pan et al. (2018), Ohnishi et al. (2022), Chuang et al. (2017), Rong et al. (2017) e Sentandreu-Mañó, Tomas e Terrádez (2021).

A aplicação da corrente elétrica ocorreu em diferentes grupos musculares, entre eles o supra espinhal, deltoide, extensores do punho, extensor radial do carpo, extensor de dedo, extensor curto do polegar, flexor superficial dos dedos, flexores longos dos dedos, flexor longo do tenar, músculo extensor digitorum, serrátil, tríceps braquial e bíceps. 

O tempo total das intervenções variou de 2 a 12 semanas, o número total de sessões foi entre 10 e 48 e o tempo das sessões foi de 20 minutos até 1 hora e meia. Com relação aos parâmetros da corrente elétrica foi encontrado variações entre 10 e 100 Hz, com largura de pulso entre 0 e 500 ms e tempo on e off de 2,5 a 30 segundos. Os artigos tiveram variação nas frequências da corrente porque ela foi aplicada de acordo com a tolerância de cada paciente.

O estudo de Lavi et al. (2022) teve como objetivo determinar o efeito da estimulação elétrica neuromuscular de longa duração na subluxação do ombro e na função de extremidade superior. Foi observada uma redução na subluxação do ombro e resultados positivos na função do membro superior. Sua intervenção consistiu na eletroestimulação neuromuscular associada a terapia convencional. O estudo de Sentandreu-Mañó, Tomas e Terrádez (2021) também encontrou resultados positivos relacionados a eletroestimulação neuromuscular, os autores analisaram os efeitos de duas frequências diferentes (35 e 50 Hertz) na função do membro superior em 69 idosos pós-AVC, as duas correntes demostraram melhoria na recuperação motora manual, porém com relação a amplitude de movimento os resultados de 35 Hz foram maiores. Ohnishi et al. (2022) utilizaram de forma isolada ou associada o exercício facilitador repetitivo e a estimulação elétrica neuromuscular na paralisia do membro superior em 99 sobreviventes de AVC, ao analisarem os efeitos foi possível constatar que a intervenção foi eficaz na paralisia severa do membro superior, especialmente, nos pulsos e dedos. 

Sentandreu-Mañó, Tomas e Terrádez (2021) destacam que a estimulação elétrica neuromuscular (NMES) é uma opção de tratamento para reabilitação do membro superior após um acidente vascular cerebral. Esta técnica baseia-se no uso da corrente elétrica para gerar contrações repetitivas dos músculos, promovendo a restauração ou auxílio de movimentos que não ocorreriam de outra forma por causa da hemiparesia. Componentes como movimento repetitivo, entrada proprioceptiva e exteroceptiva, prática intensiva, feedback visual e atenção do sujeito são práticas necessárias para aplicação eficaz dessa terapia.

A estimulação elétrica funcional foi usada nos estudos de Biasiucci et al. (2018), Jonsdottir et al. (2017) e Salazar et al. (2020). De acordo com Salazar et al. (2020) a estimulação elétrica funcional (EEF) é uma estratégia muito usada para tratar pacientes em reabilitação do membro superior após o AVC, ela consiste na aplicação de impulsos elétricos através de eletrodos de superfície sobre os músculos com curta duração visando a produção de contrações musculares na realização de atividades funcionais. Biasiucci et al. (2018) utilizaram uma interface cérebro-computador acoplada a EEF aplicada aos músculos das mãos para gerar uma extensão de mão com a finalidade de recuperar a funcionalidade. Os resultados ilustram que essa terapia pode impulsionar uma recuperação funcional significativa. A análise feita por Jonsdottir et al. (2017) resultou em uma recuperação neurológica e funcional na hemiparesia em oitenta e duas vítimas de AVC. Sua intervenção foi composta por uma técnica onde a EES é diretamente controlada pela atividade EMG volicional em contraste com a EES acionado pelo EMG, assim, a contração muscular é feita pelo próprio paciente facilitando a aprendizagem motora e a recuperação da função. Estimulação de corrente direta transcraniana foi o método utilizado por Salazar et al. (2020) juntamente com a EEF, o qual randomizaram 30 indivíduos com hemiparese crônica moderada e grave, a recuperação obteve maior sucesso no desempenho motor e na força de aperto manual dos pacientes.

Lee et al. (2018) apresentaram o uso de injeções toxina botulínica tipo A (BTX-A) com estimulação elétrica (EE) dos músculos das mãos. Seu estudo, realizado com 15 pacientes com AVC crônico, demonstra melhora na função ativa da mão, o protocolo de intervenção aplicou as injeções durante duas semanas simultaneamente com a estimulação elétrica que perdurou por quatro semanas. A investigação de Pan et al. (2018) objetivou melhorar o controle neuromuscular e a função da mão em indivíduos crônicos de AVC através da estimulação elétrica aplicada no nervo mediano antes de sessões de treinamento da função manual, ao final foi identificado que esse programa tem potencial para melhorar o controle neuromuscular da mão. 

De acordo com Kang et al. (2021) o treinamento de imagens motoras (IM) é uma técnica que consiste no ensaio mental do participante de movimentos sem executá-los, tem demonstrado eficácia na qualidade e grau de movimento do membro superior hemiplégico quando associado a reabilitação do braço induzindo a atividade neuronal e a plasticidade no córtex motor. Em seu estudo, Kang et al. (2021) utilizou o MI juntamente com a eletroestimulação e a estimulação magnética transcraniana de baixa frequência visando recuperar a função motora da extremidade superior. Após o período de intervenção de 2 semanas os resultados sugerem que o uso dessas terapias combinadas leva a uma maior melhoria da função motora do membro superior. No artigo de Minami et al. (2021) foram randomizados 8 pacientes após o AVC com membro superior severamente hemiparético que receberam sessões de terapia ocupacional ou estimulação elétrica através de um programa chamado PA-EST que combina atividade proposital com EE. Os achados revelam que o PA-EST aumentou a autoconsciência da vontade e capacidade, ajustando-se ao movimento articular e à atividade intencional por estimulação elétrica.

Os achados do presente estudo corroboram com os resultados encontrados por Tang et al. (2021), que afirmam que todos os métodos selecionados de eletroestimulação (EES, EENM, ETCC, EENT) são eficazes para distúrbios do membro superior causados pelo AVC. 

5 CONCLUSÃO

Os achados deste estudo revelam evidências de que a eletroestimulação pode contribuir para reabilitação de pacientes com sequelas no membro superior após o AVC. Apesar de serem apresentados variados protocolos de tratamento, os benefícios desta terapia são visíveis, sendo aliados a outras técnicas ou utilizados de forma isolada. Salienta-se que a realização de novos estudos relacionados a temática é imprescindível a fim de investigar de forma mais abrangente os efeitos da eletroestimulação em pessoas que sofreram AVC.

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1Discente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE.

2Doutorado em Reabilitação e Desempenho Funcional, Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE.