EFEITOS DA CINESIOTERAPIA NO PROCESSO DE REABILITAÇÃO EM UM PACIENTE COM LESÃO MEDULAR: RELATO DE CASO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8087868


Maria Hillary Machado de Sousa
Liviane Batista de Oliveira
Bianca Moreira da Cunha Rossy
Keila Silva Soares
Karen Catarina Ferreira da Silva
Minerva Leopoldina de Castro Amorim
Orientadora: Thaiana Bezerra Duarte


Resumo

Introdução: Lesão medular é o termo utilizado para nomear qualquer tipo de acometimento na coluna espinhal, que podem resultar em comprometimentos sensoriais, motores e disfunções autonômicas. A fisioterapia é de suma importância e totalmente indispensável na assistência desses pacientes, pois visa principalmente à prevenção de deformidades, maximização da função muscular e respiratória, promoção da independência funcional e se possível o retorno a marcha. O recurso utilizado no processo de reabilitação foi a cinesioterapia que engloba exercícios e alongamentos que estimulam ao máximo a autonomia do paciente. Objetivo: Demonstrar um protocolo de reabilitação através da Cinesioterapia em um paciente com lesão medular. Materiais e método: Paciente com diagnóstico de lesão expansiva intramedular com realce em topografia de D7-D12 lesão medular incompleta, foram realizadas avaliações como questionário funcional, Spinal Cord Independence Measure – SCIM III, Medida de Independência Funcional – MIF, Cirtometria Toracoabdominal, Medical Research Council – MRC, American Spinal Injury Association – ASIA e tratamento com uso da cinesioterapia onde algumas das condutas utilizadas foram alongamentos de membros superiores e inferiores, posição gatos, exercícios de fortalecimento de tronco, de membros superiores e inferiores com halteres e thera band, senta e levanta com auxílio do espaldar, além de treino de marcha. Resultados: Os resultados encontrados após três meses de tratamento se relacionaram com melhoras no controle de tronco, independência funcional e ganho de força. Conclusão: Sabe-se que a fisioterapia é muito importante na reabilitação do paciente lesado medular, pois contribui com a melhoria de suas capacidades funcionais, promovendo qualidade na vida desses indivíduos. Porém, pelo tempo de tratamento é fundamental que o participante siga na fisioterapia para obter mais ganhos.

Palavras-chave: Lesão Medular. Cinesioterapia. Reabilitação na Lesão Medular. Independência Funcional.

1 INTRODUÇÃO

A Lesão medular pode acarretar alterações nas funções motoras e déficits sensitivos, além de alterações viscerais, autonômicas, disfunções vasomotoras, esfincterianas, sexuais e tróficas, superficial e profundo nos segmentos corporais localizados abaixo do nível da lesão. É classificada como insuficiência parcial ou total do funcionamento da medula espinhal decorrente da interrupção dos tratos nervosos motor e sensorial desse órgão (CEREZETTI, 2012). Segundo Cavenaghi (2005), os acidentes automobilísticos, as quedas, os mergulhos e os ferimentos com arma de fogo estão entre as principais causas da lesão.

Relacionadas aos graus da lesão, conforme Ceerezetti (2012), podem ser apontadas como completas e não-completas. Suas manifestações clínicas dependerão do nível e grau da lesão. De acordo com Bampi (2007), as lesões completas são caracterizadas pela perda total da função motora e/ou sensorial abaixo do nível das lesões, em contrapartida as incompletas apresentam a função medular parcial ou completamente intacta podendo comprometer vários segmentos neurológicos.

Com base no estudo de Frontera, Dawson e Slovi (2001) o paciente lesado após muito tempo inativo pode sofrer grandes alterações físicas como perda de massa muscular, complicações respiratórias, desmineralização dos ossos principalmente nos membros inferiores devido à falta de esforço dos músculos contra a gravidade, que só ocorre quando se está em pé. Além de disfunções renais e risco de doenças cardíacas, por consequência reduzindo a expectativa de vida do indivíduo.

Torna-se relevante para o lesado raquimedular, desde a fase de hospitalização, a cinesioterapia, que é um conjunto de exercícios terapêuticos para fortalecer e alongar os músculos, ajudando a prevenir alterações motoras, promover o equilíbrio e aliviar as dores, através de exercícios passivos, ativos, ativos-assistidos e resistidos. A qual previne a recuperação de lesões osteoarticulares, e musculoesquelética que são lesões bastante comuns (CAVENAGHI, 2005). Grande parte dos pacientes com lesão medular necessitam de tratamento prolongado (HOWARD, 2006). 

Em concordância com Cavenaghi (2005) são benéficos os efeitos fisiológicos causados pelo exercício físico pois proporcionam o aumento do fluxo sanguíneo, gerando mudanças significativas no sistema cardiovascular e melhora na função pulmonar, além de proporcionar também benefícios psicológicos, promovendo sensação de bem-estar, melhora na autoestima e na qualidade de vida.

Discutir sobre os efeitos da cinesioterapia no processo de reabilitação de um paciente com lesão medular, justifica-se pelo fato de que os impactos causados na vida da pessoa lesionada em qualquer fase são imensuráveis, ocasionando uma ruptura drástica entre a vida que tinha antes, e a nova, a qual terá que se readaptar (SCHOELLER et al., 2012), levando a consequências sociais e econômicas para o paciente, a família e sociedade. Assim, é possível notar que compreender os efeitos da cinesioterapia no processo de reabilitação em um paciente com lesão medular pode impactar direta ou indiretamente a família, a sociedade e os profissionais de saúde, através de que possam estar preparados para proporcionar todo o apoio e auxílio nessa nova condição que se encontra a pessoa com lesão medular, promovendo uma melhora na capacidade física e reverter os efeitos do imobilismo, contribuindo para a independência funcional e melhora na qualidade de vida.

Para tanto, é preciso analisar as queixas relatadas pelo paciente com lesão medular durante a reabilitação, traçar os benefícios da cinesioterapia e relatar melhorias nas atividades de vida diária após início da reabilitação. Sendo assim, o presente relato estabeleceu como objetivo demonstrar um protocolo de reabilitação através da cinesioterapia de um paciente com lesão medular.

2 MATERIAIS E MÉTODO

O presente estudo de caso consiste em uma pesquisa de caráter descritivo. Segundo Cervo et al (1983) esse tipo de estudo envolve fatos e fenômenos sem manipulá-los, obtidos através de análise, observação, registros e correlação de aspectos. 

Trata-se de uma paciente do sexo feminino, 28 anos. Paciente relatou que os sintomas de dores na coluna toraco/lombar surgiram em janeiro de 2019, quando procurou assistência médica para diagnosticar a causa das dores, foi solicitado exame de ressonância magnética, o intervalo de tempo que aguardava o resultado do exame a mesma sofreu um acidente de moto que agravou os sintomas. Foi diagnosticada com lesão expansiva intramedular com realce em topografia de D7-D12 em coluna torácica (seringomielia), apresentando paraparesia progressiva. Em 12 de julho de 2019 foi submetida a tratamento cirúrgico para retirada de um tumor (ependimoma), após o procedimento paciente evoluiu para o quadro de paraplegia estando restrita a cadeira de rodas. 

Começou o tratamento fisioterapêutico em casa, somente após três meses de cirurgia por falta de recursos. Ficou sabendo do Programa de Atividades Motoras para Deficientes –  PROAMDE da Universidade Federal do Amazonas, através de um médico da cidade de Manaus. Ao chegar no Programa verificou-se que a lesão medular traumática ocorreu devido a um tumor na coluna em decorrência de uma queda antiga. Antes da lesão, a paciente relatou que já praticava atividade física (academia), porém não de forma regular. Foram aplicados os seguintes instrumentos para avaliação de pesquisa: Questionário Funcional onde avalia os itens: 1. Posição na cadeira de rodas, 2. Transferência e mobilidade, 3. Tocando na cadeira de rodas, 4. Mobilidade no colchão, 5. Membros inferiores. Foram avaliados em R – realiza, RD – realiza com dificuldade, NR – não realiza, NA – não se aplica. A Spinal Cord Independence Measure – SCIM III é uma ferramenta usada para avaliar o nível de independência do indivíduo. Constituída por 17 itens de tarefas diárias relevantes às pessoas com lesão medular agrupados em três subseções: 1) autocuidado; 2) respiração e controle de esfíncteres; e 3) mobilidade. A pontuação total da SCIM III varia de 0 a 100, em que pontuações mais elevadas refletem níveis mais altos de independência (FEKET et al 2012).

A Medida de Independência Funcional – MIF é um instrumento utilizado para avaliar o grau de independência de pessoas com deficiência (RIBERTO et al 2004). Ela avalia 18 itens nas áreas de cuidado pessoal, controle dos esfíncteres, mobilidade, comunicação e cognição-social. A pontuação ocorre por entrevista com o paciente e/ou cuidador, ou ainda pela observação direta do desempenho das atividades. O valor mínimo de pontos é 18 e o máximo é de 126. Avaliação antropométrica, avaliação de força, Cirtometria Toracoabdominal. A Cirtometria tem por objetivo quantificar as medidas da mobilidade toracoabdominal pela determinação das dimensões anteroposteriores da caixa torácica e do abdômen e é um dos recursos que possui vantagens quanto a sua simplicidade e custo. A American Spinal Injury Association – ASIA é uma escala que se baseia na avaliação da sensibilidade e da função motora, sendo possível classificar o paciente quanto ao tipo de lesão (completa ou incompleta) e determinar o nível neurológico, além de gerar um escore baseado nos achados sensitivos e motores (PNEUMATICOS 2015).

Na terapia foi utilizado a movimentação passiva e ativa, alongamentos passivos e ativos para diminuição de tônus muscular de membros inferiores, alongamentos ativos assistidos de membros superiores, posição gatos com e sem apoio com auxílio da bola feijão para melhorar a funcionalidade, exercícios para fortalecimento de tronco como abdominais com auxílio da maca, fortalecimento de membros superiores com halteres e thera band, fortalecimento de membros inferiores com auxílio de caneleiras de 2kg e 5kg, exercício de sentar e levantar com auxílio do espaldar, e além disso foi realizado uso da corrente russa em membros inferiores aplicados em quadríceps, tornozelo, panturrilha e sola do pé esquerdo, a frequência utilizada de 120 por 40 minutos. Além de treino de marcha estacionária e dinâmica com o auxílio da barra paralela, escada de canto e do andador.

3 RESULTADOS 

Em primeiro momento, foi realizada avaliação fisioterapêutica com duração de duas sessões de 50 minutos cada para realização de questionários e exame físico. Foi verificado a princípio o que a paciente conseguia realizar de forma independente. Os objetivos e condutas foram estabelecidos de acordo com sua queixa principal, que no início da terapia se relacionava ao controle de tronco, melhora na deambulação, sedestação, melhora na realização de passagem cadeira de rodas/chão e virse-versa, segurando aro propulsor para estabilizar o tronco e fadiga respiratória.

A Spinal Cord Independence Measure – SCIM III

É um método que avalia especificamente a funcionalidade de indivíduos com lesões da medula espinhal, essa avaliação foi realizada em forma de questionário com perguntas sobre os hábitos de vida diária da paciente.

Pode-se observar que a paciente apresentou resultados positivos após tratamento fisioterapêutico em relação a sua funcionalidade e realização de Atividades de Vida Diária – AVD’s, conforme Quadro 1.

No item mobilidade (quarto e banheiro) paciente necessitava da assistência de dispositivos, após tratamento passou a realizar a atividade de forma independente.

No item mobilidade (dentro e fora de casa, ou em superfícies planas) na primeira avaliação paciente fazia uso de cadeira de rodas e carecia de supervisão. Na reavaliação paciente passou a utilizar o andador.

No item cuidados pessoais o paciente apresentou uma melhora significativa, adquirindo 3 pontos a mais em comparação aos outros itens. Visto que, a paciente precisava de auxílio de um andador para realizar as atividades acima mencionadas como tomar banho, AVD’s.

Quadro 1 – Spinal Cord Independence Measure – SCIM III.

Medida de Independência Funcional – MIF

É uma avaliação funcional que tem como objetivo mensurar o nível de independência da paciente, possui 18 itens nas áreas de auto-cuidados, controle de esfíncteres, mobilidade, locomoção, comunicação e cognição social. Foi realizada através de entrevista com a paciente e/ou cuidador, ou ainda pelas observações diretas do desempenho das atividades.

Na primeira avaliação paciente apresentou as seguintes disfunções: dependência modificada nível 5- supervisão para o item M. (Escadas); Independência modificada (ajuda técnica) para os itens B. (Higiene Pessoal), E. (Vestir metade inferior), F. (Utilização de vaso sanitário), J. (Vaso sanitário), K. (Banheira, chuveiro), L. (Marcha/ cadeira de rodas) e Q. (Resolução de problemas). Os demais itens Independência completa (em segurança, em tempo normal), conforme Quadro 2.

Na reavaliação paciente manifestou evolução na área de auto-cuidados nos seguintes itens: B. (Higiene Pessoal), E. (Vestir metade inferior) e F. (Utilização de vaso sanitário). No item L. (Marcha/ cadeira de rodas) O paciente continuou no nível 6 pois ainda necessitava de auxílio, mas passou a utilizar mais o andador, em vez da cadeira de rodas. No item Q. (Resolução de problemas) manteve também o nível 6 devido há muitos lugares não possuírem acessibilidade para cadeirantes, causando dificuldades no deslocamento e necessitando de acompanhamento para outros lugares, conforme Quadro 2.

Quadro 2 – Medida de Independência Funcional – MIF

Cirtometria Toracoabdominal

Na cirtometría toracoabdominal avaliação foi realizada como exame físico com auxílio de uma fita métrica, os resultados obtidos na segunda avaliação foram evolução na expansão torácica nível axilar, que significa maior mobilidade torácica. Melhora significativa da expiração torácica a nível xifoides e umbilical em razão da prática de exercícios que envolvem movimentos diafragmáticos, de acordo com o Quadro 3.

Quadro 3 – Cirtometria Toracoabdominal

Escala de dispneia Medical Research Council – (MRC)

A escala de dispneia MRC (medical research council), tem como objetivo avaliar as limitações impostas pela dispneia nas AVD’s. Essa escala é de fácil aplicabilidade e compreensão.

Na primeira avaliação, de acordo com o Quadro 4, a paciente apresentou as seguintes dificuldades: grau 2 – (preciso parar algumas vezes quando ando no meu passo, ou ando mais devagar que outras pessoas da minha idade). Paciente relatou que no início do tratamento sentia exaustão ao realizar os exercícios, fadiga muscular; precisava parar para descansar, apresentava uma respiração abreviada. Em sequência foi realizado a escala visual analógica de dor (EVA): Local – Diafragma grau 4, a paciente foi observada em repouso e ao se movimentar sentiu desconforto na região do diafragma, expansibilidade torácica simétrica e murmúrio vesicular presente em ambos hemitórax.

Na reavaliação, após os atendimentos, apresentou controle de respiração, diminuição da fadiga e redução da exaustão. Murmúrio vesicular presente em ambos hemitórax; Expansibilidade simétrica – torácica. Não apresentando mais dor diafragmática, em contrapartida apresentou na escala visual analógica de dor (EVA): Local – Perna esquerda grau 7, conforme Quadro 5, por conta do ganho de sensibilidade ocasionada pelos estímulos e exercícios com carga. Para amenizar o quadro álgico foi reduzido a intensidade dos exercícios de fortalecimento e diminuição da carga.  

Quadro 4 – Escala de dispneia Medical Research Council – (MRC) – avaliação.

Quadro 5 – Escala de dispneia MRC (Medical Research Council) – reavaliação.

Questionário Funcional 

No Questionário Funcional, como o próprio nome diz, refere-se à funcionalidade da paciente, o que realiza (R), o que realiza com dificulade (RD), o que não consegue realizar (NR) e o que não se aplica (NA) dependendo do grau da lesão.

No começo do tratamento no quesito transferência e mobilidade nos itens 2.5 (cadeira de rodas/chão) e 2.6 (chão/cadeira de rodas) paciente realizava com dificuldade, após o tratamento obteve uma evolução satisfatória com a técnica ensinada conseguindo sair da cadeira de rodas e ir ao chão e vice-versa, estando apta a exercer atividade corretamente, contribuindo assim com a mobilidade dentro de casa (Quadro 6). 

Quadro 6 – Transferência e mobilidade

No Quadro 7 (Tocando na Cadeira de Rodas), na primeira avaliação no item 3.2 (Segurando aro propulsor para/ estabilizar o tronco), paciente realizou com dificuldade (RD) e nos itens 3.5 (Empina a cadeira), 3.8 (Desce uma rampa empinando) 3.9 (Sobe um degrau (5cm)) e 3.10 (Desce degrau (5cm)) paciente não realizou (NR). Após praticar exercícios de estabilização e fortalecimento de core a paciente apresentou evolução no item 3.2 (Segurando aro propulsor para/ estabilizar o tronco) e 3.5 (Empina a cadeira) adquirindo controle de tronco e melhora no manejo da cadeira de rodas e nos itens 3.8 (Desce uma rampa empinando) 3.9 (Sobe um degrau (5cm)) e 3.10 (Desce degrau (5cm)) manteve, conforme Quadro 7. 

Quadro 7 – Tocando na Cadeira de Rodas

De acordo com o Quadro 8, na primeira avaliação no quesito membros inferiores, nos itens 5.1 (Flexão do quadril) a 5.7 (Flexão-plantar do pé) paciente realizou os movimentos com dificuldade, foram aplicados exercícios de mobilidade e fortalecimento para ganho de amplitude de movimento. Na reavaliação adquiriu uma evolução significativa nos mesmos itens realizando os movimentos. Assim, possibilitou ganhar independência para deambulação por melhora no equilíbrio e uso de andador.

Quadro 8 – Membros inferiores

American Spinal Injury Association – ASIA

A American Spinal Injury Association – (ASIA) é uma avaliação da função motora e da sensibilidade, realizada com auxílio de leve toque e agulha (sensitivo) e aplicação de força do avaliador (motor). 

Em relação à função motora, na avaliação e reavaliação de membros superiores a paciente não apresentou déficits. Na primeira avaliação dos membros inferiores relacionado aos músculos flexores do quadril, extensores do joelho, dorsiflexores do tornozelo, extensores longos do hálux e flexores plantares, paciente conseguiu realizar os movimentos com apenas uma leve resistência manual. Na reavaliação a paciente apresentou ganho significativo na força de membros inferiores, realizando o exercício de leg press com o avaliador colocando seu peso corporal. 

Quanto à função sensitiva na primeira avaliação (Leve toque e Agulha) paciente apresentou déficit, onde a perna esquerda apontou maior comprometimento. Na reavaliação obteve um pequeno ganho de sensibilidade do membro mais acometido (Quadro 9).

Quadro 9 – Classificação Neurológica Padrão de Lesão Medular

Dessa forma, foram realizados 17 atendimentos, ao final de três meses de tratamento fisioterapêutico, notou-se importantes alterações cinético-funcionais especialmente em membros inferiores, sobretudo ao maior recrutamento de fibras musculares, possibilitando ao paciente adquirir maior independência. 

4 DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo demonstram que a paciente acometida de lesão medular obteve resultados satisfatórios no processo de reabilitação, processo este que durou 3 meses e foram realizados 17 atendimentos, onde a paciente adquiriu controle de tronco, alívio de dor, melhora no equilíbrio, na mobilidade e na capacidade respiratória, fortalecimento de membros superiores e inferiores, que possibilitaram que a mesma deixasse de utilizar a cadeira de rodas para deambular com o auxílio do andador, promovendo maior autonomia e independência em relação às suas AVD’S, dessa forma proporcionando-a uma melhor qualidade de vida.

Nesse estudo foram realizados alongamentos e mobilização articular global para manutenção das articulações e ganho de amplitude de movimento. Assim evitando futuras contraturas e maior independência funcional, conforme foi apresentado no estudo de Petry et al (2021), onde afirma-se que os alongamentos passivos e ativos são benéficos para a manter a integridade da articulação.

Segundo o estudo de Colman et al (2010), o exercício respiratório proporciona resistência à fadiga e quando associado ao ganho de força dos músculos esqueléticos proporcionam maiores resultados do que se feitos de modo isolado. É reforçado no estudo o uso de incentivadores respiratórios e que um dos indivíduos obteve melhora com menos de 20 sessões. Isso sustenta os resultados obtidos no presente estudo, onde a paciente aumentou sua capacidade respiratória e funcional com o uso dos exercícios respiratórios associados a exercícios de fortalecimento muscular de membros superiores e membros inferiores.

 Outro aliado no tratamento é o treinamento resistido de MMSS o qual beneficia a resistência muscular, melhora a capacidade funcional, busca a independência e consequentemente melhora a qualidade de vida. No estudo de Neto et al (2011) foi realizada uma revisão bibliográfica com 16 estudos, onde a intervenção com treino de força apresentou resultados positivos e assim como a participante desse estudo foram realizados exercícios com pesos livres, máquinas com pesos e elásticos.

Durante três meses de tratamento fisioterapêutico a paciente deste estudo obteve melhora no controle de tronco e equilíbrio, deixando de fazer uso da cadeira de rodas e passando a utilizar o andador. Da mesma forma que o estudo de Bernadi et al (2020), teve ênfase na melhora do controle de tronco e equilíbrio, através da execução de exercícios abdominais associados a permanente contração da musculatura abdominal e fortalecimento da musculatura extensora do tronco. Assim como Pires (2014) enfatiza que a reabilitação de um indivíduo com lesão medular deve abordar a recuperação do condicionamento físico do paciente, incluindo o ganho de força muscular, visto que fortalecer a musculatura do tronco e membros superiores interfere diretamente na obtenção de independência funcional deste paciente. 

Hauphental et al (2009), em seu estudo relataram a importância do treino de marcha utilizando suporte de peso corporal, descrevendo o método de tratamento como eficiente e seguro. A participante desse estudo não utilizou suporte de peso corporal o que não influenciou nos resultados positivos da marcha, pois de acordo com o estudo de Takami et al (2012), no projeto de diretrizes Lesão Medular: reabilitação, autoria da Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação, o treino de marcha com suspensor de peso corporal em pacientes com lesão medular incompleta não mostrou ser superior ao treino de marcha em solo.

A participante desse estudo, após a execução dos exercícios de cinesioterapia, apresentou melhor amplitude de movimento, o que levou a adquirir maior força, melhora no equilíbrio, maior velocidade da marcha da mesma maneira que o estudo de Reis et al (2014). Nesse estudo eles aplicaram protocolo de 3 meses de tratamento, onde notou-se melhorias nos aspectos temporais da marcha como distância percorrida, cadência e velocidade da marcha, além de evoluções no equilíbrio, amplitude de movimento e força muscular. Também foi garantida ao paciente a independência funcional o que resultou em sua reintegração social e melhora na sua qualidade de vida.

De acordo com Sartori (2009), notou-se importantes alterações cinético-funcionais, especialmente nos membros inferiores, ao final de cinco meses de tratamento fisioterapêutico. Todas as condutas associadas estavam voltadas para o maior recrutamento de fibras musculares, o que possibilitou ao paciente adquirir maior independência no ambiente domiciliar, contudo ainda não estando apto para o retorno às atividades laborais, da mesma forma que a paciente deste estudo.

A lesão medular é uma lesão complexa, por isso é fundamental os cuidados de uma equipe multidisciplinar, para contribuir e promover resultados eficazes no tratamento. O mais precoce possível deve ser iniciado o tratamento fisioterapêutico para que haja um menor comprometimento na vida do ser humano.

5 CONCLUSÃO

Conforme apresentado ao longo do estudo, é possível reforçar a importância dos efeitos da cinesioterapia no processo de reabilitação em um paciente com lesão medular, visto que os impactos causados na vida de uma pessoa lesada são imensuráveis já que modificando sua vida totalmente de antes para depois do trauma.   

 Readaptar-se a sua nova condição pode trazer alguns problemas como isolamento da vida social dentre outros. É necessário que a família, profissionais multidisciplinares e sociedade proporcione o apoio a essa pessoa para que a mesma venha ter uma melhor qualidade de vida.  

  Diante do que foi encontrado nos resultados obtidos na participante durante o tratamento fisioterapêutico houve uma melhora positiva relacionada a sua independência funcional diante das AVD’s. A paciente obteve controle de tronco, alívio das dores, melhora no equilíbrio, mobilidade, capacidade respiratória e fortalecimento dos membros inferiores e superiores, assim obteve melhora na qualidade de vida.

Mesmo ao final do tratamento a participante não obteve o resultado de 100% da sua funcionalidade, ainda há aspectos a serem trabalhados como a sensibilidade de membros inferiores e marcha. Porém, pelo tempo do protocolo não foi possível ganhar independência total. Talvez se a paciente seguir na fisioterapia ela possa ganhar essa independência.

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