EFFECT OF LOW-LEVEL LASER THERAPY ON THE HEALING PROCESS OF HANSEN’S DISEASE LESIONS.1
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504080955
Larissa Souza de Lima2
Igor de Souza Carvalho3
RESUMO
A hanseníase é uma doença infecciosa crônica que pode causar lesões cutâneas de difícil cicatrização, impactando diretamente a qualidade de vida dos pacientes. Além das feridas, a doença pode levar a sequelas neurológicas que agravam o quadro clínico, tornando essencial a busca por estratégias terapêuticas inovadoras. Nesse contexto, a laserterapia de baixa potência surge como um recurso importante, favorecendo a regeneração tecidual e reduzindo a inflamação local. Com sua ação bioestimuladora, o laser pode acelerar o processo de cicatrização, diminuindo complicações associadas às úlceras hansênicas. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar os efeitos do laser de baixa potência no processo de cicatrização de lesões hansênicas, considerando suas influências na regeneração celular, na resposta inflamatória e na reparação tecidual. Os resultados indicaram que a fotobiomodulação promovida pelo laser de baixa potência pode favorecer a cicatrização acelerada das lesões hansênicas, reduzindo a dor e promovendo a reorganização tecidual. Em alguns estudos, o laser também demonstrou efeitos positivos na recuperação neuromuscular de pacientes que apresentavam comprometimento sensorial devido à hanseníase. No entanto, os achados mostraram que sua eficácia pode ser influenciada por variáveis como tamanho da lesão, presença de infecções secundárias e condições sistêmicas dos pacientes, Conclui-se que, a laserterapia de baixa potência tem grande potencial para melhorar o tratamento das lesões hansênicas, promovendo um cuidado mais eficaz e humanizado.
Palavras-chave: Hanseníase; Terapia a laser de baixa potência; Fotobiomodulação; Úlceras; Terapia a laser.
ABSTRACT
Hansen’s disease is a chronic infectious disease that can cause skin lesions with difficult healing, directly impacting patients’ quality of life. In addition to wounds, the disease can lead to neurological sequelae that worsen the clinical condition, making the search for innovative therapeutic strategies essential. In this context, low-level laser therapy emerges as an important resource, promoting tissue regeneration and reducing local inflammation. With its biostimulatory action, laser therapy can accelerate the healing process, minimizing complications associated with Hansen’s ulcers. Thus, the objective of this study was to analyze the effects of low-level laser therapy on the healing process of Hansen’s disease lesions, considering its influences on cell regeneration, inflammatory response, and tissue repair. The results indicated that the photobiomodulation promoted by low-level laser therapy can accelerate the healing of Hansen’s lesions, reduce pain, and enhance tissue reorganization. In some studies, laser therapy also demonstrated positive effects on’ neuromuscular recovery in patients with sensory impairment caused by Hansen’s disease. However, findings showed that its effectiveness may be influenced by variables such as lesion size, presence of secondary infections, and patients’ systemic conditions. It is concluded that low-level laser therapy has great potential to improve the treatment of Hansen’s disease lesions, providing more effective and humanized care.
Keywords: Hansen’s disease; Low-level laser therapy; Photobiomodulation; Ulcers; Laser therapy.
1. INTRODUÇÃO
Em primeiro viés, é importante destacar que a hanseníase continua sendo um desafio de saúde pública, sobretudo, em países como o Brasil, que ocupa a segunda posição mundial em número de casos, atrás apenas da Índia. De acordo com o Ministério da Saúde (2022), foram registrados aproximadamente 26 mil novos casos no Brasil naquele ano, sendo que 7,3% desses acometiam crianças menores de 15 anos, um indicativo da transmissão ativa da doença.
Além do impacto epidemiológico, a hanseníase se destaca pelas sequelas que pode deixar nos pacientes, incluindo deformidades, neuropatias e úlceras crônicas, que exigem um acompanhamento contínuo e intervenções terapêuticas adequadas para minimizar os danos funcionais e sociais (WHO, 2021).
As lesões hansênicas são uma das complicações mais frequentes da doença, resultando da destruição progressiva de nervos periféricos e da perda da sensibilidade cutânea, favorecendo, desse modo, o surgimento de feridas crônicas e infecções secundárias, podendo levar a amputações em casos mais severos.
Pesquisas como a de Santos et al. (2020) indicam que até 30% dos pacientes com hanseníase desenvolvem úlceras tróficas, tornando-se dependentes de curativos e cuidados especializados para evitar complicações mais graves (Santos et al., 2020). Assim, estratégias que acelerem o processo de cicatrização dessas lesões se mostram necessárias para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, reduzindo os riscos de incapacidades permanentes.
Nos últimos anos, a fotobiomodulação, especialmente por meio do laser de baixa potência (LBP), tem sido estudada devido aos seus efeitos na regeneração tecidual e na modulação da resposta inflamatória. Segundo Bai et al. (2021), o LBP atua estimulando a atividade celular, favorecendo a proliferação de fibroblastos e queratinócitos, que são imprescindíveis para a reparação da pele. Além disso, ele pode aumentar a síntese de colágeno e melhorar a circulação sanguínea no tecido lesionado, otimizando o processo de cicatrização e reduzindo o tempo de recuperação.
No contexto das lesões hansênicas, o uso do laser de baixa potência apresenta um potencial promissor, uma vez que essas lesões tendem a evoluir de forma lenta e apresentam dificuldades na regeneração devido à alteração da microcirculação local e à imunossupressão característica da doença (Gomes et al., 2024). A pesquisa de Santos et al. (2020) apontam que a aplicação do LBP pode acelerar a reepitelização e modular a resposta inflamatória, reduzindo edema e dor, fatores que se mostram necessários para um melhor prognóstico na cicatrização dessas feridas.
Ademais, outro ponto a ser destacado a respeito do laser terapêutico é a sua capacidade de estimular macrófagos e linfócitos, fortalecendo a resposta imune e auxiliando no combate a Gomes et al., 2024). E, esse efeito é importante, considerando que muitos pacientes com hanseníase enfrentam dificuldades na cicatrização devido à baixa vascularização das áreas afetadas e à presença de neuropatia periférica, que impede uma resposta adequada do organismo ao dano tecidual.
Diante do impacto social e funcional das lesões hansênicas e da necessidade de terapias eficazes para acelerar sua cicatrização, surge a seguinte questão: em que medida o laser de baixa potência pode contribuir para a regeneração tecidual e melhora clínica das feridas crônicas em pacientes acometidos pela hanseníase?
O presente estudo tem como objetivo geral analisar os efeitos do laser de baixa potência no processo de cicatrização de lesões hansênicas, considerando suas influências na regeneração celular, na resposta inflamatória e na reparação tecidual. Especificamente, busca-se: Revisar a literatura sobre os mecanismos fisiológicos da cicatrização das lesões hansênicas; averiguar o impacto do laser de baixa potência sobre fibroblastos, macrófagos e fatores de crescimento no contexto da hanseníase; avaliar estudos clínicos que exploram a aplicação do LBP no tratamento de feridas crônicas associadas à doença.
A relevância desta pesquisa se dá tanto no âmbito acadêmico quanto no social. No aspecto científico, este estudo contribui para a ampliação do conhecimento sobre terapias atuais para a hanseníase, incentivando novas investigações e aplicações clínicas. Além disso, ao explorar os benefícios do laser de baixa potência, espera-se oferecer embasamento teórico para que essa tecnologia seja mais utilizada no tratamento de lesões crônicas, beneficiando pacientes e profissionais da saúde.
No campo social, a pesquisa pode auxiliar na melhoria da qualidade de vida dos indivíduos acometidos pela hanseníase, reduzindo complicações associadas às feridas e promovendo uma reabilitação mais rápida e eficaz. Dessa forma, espera-se que os resultados obtidos possam subsidiar práticas terapêuticas mais eficientes e acessíveis para essa população.
2. METODOLOGIA
A presente pesquisa caracteriza-se como uma revisão integrativa da literatura, de abordagem qualitativa e natureza exploratória. Vale ressaltar que, a revisão integrativa permite a análise crítica de estudos científicos previamente publicados.
A busca pelos artigos foi realizada nas seguintes bases de dados: PubMed, Lilacs e SciELO. Os descritores utilizados na pesquisa foram selecionados com base nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), sendo eles: “Hansen’s disease”, “Low-level laser therapy”, “Photobiomodulation”, “Leprosy ulcers”, “Laser therapy”. Os descritores foram cruzados utilizando o operador booleano AND, garantindo uma busca refinada e específica para os objetivos da pesquisa.
Os critérios de inclusão definidos para a presente pesquisa foram: Artigos publicados entre 2010 e 2024; Estudos em português, inglês e espanhol; Pesquisas que abordam os efeitos do laser de baixa potência na cicatrização de lesões hansênicas ou em feridas crônicas similares e estudos originais e ensaios clínicos que analisam a influência do laser na resposta inflamatória, ativação de fibroblastos e regeneração tecidual.
Foram excluídos os seguintes estudos: que apresentassem evidências insuficientes ou sem relação direta com a hanseníase e o uso do laser de baixa potência; Não estivessem disponíveis na íntegra ou fossem apenas resumos de congressos; Estudos duplicados nas bases de dados e revisões que não seguissem um método sistemático de análise.
Além disso, a pesquisa seguiu as diretrizes do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA), um protocolo utilizado para revisões sistemáticas e integrativas, que orienta a seleção, análise e apresentação dos estudos incluídos. O fluxo de identificação, triagem, elegibilidade e inclusão dos artigos foi estruturado conforme as etapas do PRISMA, assegurando transparência e reprodutibilidade dos resultados.
Após a coleta dos artigos, os títulos e resumos foram triados conforme os critérios estabelecidos. Os estudos selecionados passaram por leitura integral e análise crítica, considerando a metodologia adotada, os resultados obtidos e as conclusões apresentadas. As informações extraídas foram organizadas em tabelas, permitindo uma síntese detalhada dos achados.
A análise qualitativa dos dados foi realizada por meio da técnica de análise de conteúdo, conforme Bardin (2011), categorizando os principais efeitos do laser de baixa potência no processo de cicatrização das lesões hansênicas. Já a discussão dos resultados foi fundamentada na literatura científica atual.
3. RESULTADOS
A busca inicial foi realizada nas bases PubMed, BVS Lilacs e SciELO, utilizando os descritores cruzados pelo operador booleano AND. Os resultados obtidos em cada base de dados foram os seguintes: Na PubMed, a combinação “Hansen’s disease” AND “Low-level laser therapy” resultou em 6 estudos, “Wound healing” AND “Photobiomodulation” retornou 563 artigos, e “Leprosy ulcers” AND “Laser therapy” apresentou 3 publicações, totalizando 572 estudos.
Na BVS, foram encontrados 5 artigos para “Hansen’s disease” AND “Low-level laser therapy”, 1.476 estudos para “Wound healing” AND “Photobiomodulation”, e 8 artigos para “Leprosy ulcers” AND “Laser therapy”, totalizando 1.489 publicações.
Na Lilac’s, foram encontrados 4 artigos para “Hansen’s disease” AND “Lowlevel laser therapy”, 517 estudos para “Wound healing” AND “Photobiomodulation”, e 3 artigos para “Leprosy ulcers” AND “Laser therapy”, totalizando 524 publicações.
No SciELO, a busca resultou em 37 artigos para “Hansen’s disease” AND “Lowlevel laser therapy”, 166 artigos para “Wound healing” AND “Photobiomodulation”, e 1 artigos para “Leprosy ulcers” AND “Laser therapy”, somando 204 estudos.
Após a remoção de duplicatas entre as bases de dados, permaneceram 215 artigos únicos. Com a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, levando em consideração o recorte temporal de 2010 a 2024 e a triagem por relevância, restaram 13 artigos para análise qualitativa final.
Figura 1: Diagrama PRISMA dos estudos incluídos na revisão integrativa

Fonte: Elaboração Própria (2025).
Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, a revisão integrativa foi composta por 10 artigos que atendiam aos objetivos da pesquisa. Assim, esses estudos foram analisados qualitativamente, para tal, foi construído um quadro contendo informações como: título do trabalho, nome do autor, ano de publicação, objetivos, metodologia e principais resultados, como pode ser observado no quadro 1 abaixo.
Quadro 1: Artigos encontrados referentes ao efeito do laser de baixa potência no processo de cicatrização de lesões hansenianas








Fonte: Autoria Própria (2015).
Diante disso, os resultados coletados foram então discutidos, sendo criadas categorias de análise para uma discussão mais direcionada. A organização dos resultados permitiu identificar pontos importantes relacionados ao uso da laserterapia de baixa intensidade na cicatrização de lesões hansênicas, evidenciando seus efeitos na proliferação celular, modulação inflamatória e regeneração tecidual, como será discutido no próximo tópico.
4. DISCUSSÕES
A análise dos resultados obtidos a partir da revisão integrativa evidencia a relevância do laser de baixa potência como ferramenta terapêutica no tratamento de lesões hansênicas, especialmente no que se refere à aceleração do processo de cicatrização. Os estudos analisados apontam que a fotobiomodulação promovida pelo LBP pode influenciar diretamente a proliferação de fibroblastos, a síntese de colágeno e a modulação da resposta inflamatória, favorecendo a recuperação tecidual e reduzindo complicações associadas às feridas crônicas da hanseníase.
No entanto, embora os achados reforcem os benefícios do laser no reparo tecidual, ainda existem desafios na padronização dos protocolos clínicos, na determinação da dose ideal e na ampla implementação dessa tecnologia na prática assistencial, tornando-se necessário um aprofundamento nas discussões sobre sua aplicabilidade e limitações.
4.1 ASPECTOS CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICOS DAS LESÕES HANSÊNICAS
A hanseníase caracteriza-se como uma doença crônica, de evolução lenta e com impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes, principalmente devido às suas manifestações cutâneas. As lesões hansênicas são um grande desafio terapêutico, pois muitas vezes apresentam um processo de cicatrização prolongado, gerando complicações como úlceras neuropáticas e deformidades permanentes.
Nesse contexto, o uso da laserterapia de baixa potência tem sido investigado como um recurso para potencializar o reparo tecidual e melhorar a resposta inflamatória das feridas hansênicas. Os estudos analisados nesta revisão integrativa fornecem um panorama sobre o perfil epidemiológico das lesões hansênicas e os efeitos do LBP no tratamento dessas lesões, apontando tanto suas possibilidades terapêuticas quanto suas limitações.
O estudo de Calegário et al. (2025) trouxe uma perspectiva epidemiológica detalhada sobre a incidência das lesões hansênicas no Brasil, demonstrando um número expressivo de pacientes que permanecem com feridas ativas mesmo após o término do tratamento medicamentoso. O dado de que 26.716 pacientes paucibacilares e 470.176 pacientes multibacilares mantiveram lesões mesmo após os esquemas terapêuticos convencionais reforça a necessidade de estratégias que auxiliem na regeneração tecidual e na prevenção de sequelas incapacitantes.
No mesmo sentido, Santos et al. (2015) analisaram o perfil epidemiológico da hanseníase em menores de 15 anos, identificando uma tendência preocupante de redução na taxa de cura ao longo dos anos. O que indica que, embora haja uma melhora no rastreamento dos contatos dos pacientes infectados, o acompanhamento dos casos e a adesão ao tratamento ainda enfrentam desafios. A hanseníase continua sendo uma doença negligenciada em muitos aspectos, e suas consequências para os pacientes vão além da infecção bacteriana em si, impactando o tecido social e psicológico dos indivíduos acometidos. Assim, a dificuldade na cicatrização das feridas hansênicas não se trata somente de uma questão dermatológica, mas também um fator que compromete a autonomia e a reinserção social dos pacientes, tornando importante o desenvolvimento de abordagens terapêuticas.
Como já citado anteriormente, a laserterapia de baixa potência surge nesse cenário como uma alternativa viável, sobretudo, para estimular a cicatrização das lesões hansênicas, modulando a resposta inflamatória e promovendo a proliferação celular. No entanto, os resultados do ensaio clínico randomizado realizado por Barreto e Salgado (2010) apontam que, apesar da aplicação do LBP em pacientes com úlceras hansênicas, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas na redução da profundidade ou área das lesões em comparação ao grupo controle.
E, sem dúvidas, isso levanta questionamentos importantes sobre as condições ideais para o uso do laser na hanseníase. Possíveis explicações para a ausência de diferenças entre os grupos podem estar relacionadas ao tempo de evolução das feridas, à frequência e intensidade da aplicação do laser, ou ainda à associação com outros tratamentos coadjuvantes.
É importante ainda considerar que o sucesso do LBP na cicatrização depende de diversos fatores, incluindo a condição vascular da região afetada, o estado nutricional do paciente e a presença de infecções secundárias. Além disso, o protocolo de aplicação do laser deve ser ajustado conforme a gravidade da lesão, sendo necessário estabelecer diretrizes mais específicas para otimizar seus efeitos.
4.2 TERAPIA A LASER DE BAIXA INTENSIDADE NA CICATRIZAÇÃO DE LESÕES HANSÊNICAS
O estudo conduzido por Xavier et al. (2012) apresentou que a LTBI pode ser um recurso eficaz para acelerar a cicatrização, especialmente em lesões de menor diâmetro e não contaminadas. Os pacientes que receberam o tratamento apresentaram uma melhora no aspecto macroscópico das feridas, com redução da dor e do exsudato, sugerindo que o laser favorece a evolução do reparo tecidual.
No entanto, a pesquisa também apontou que feridas maiores, contaminadas ou em pacientes com comorbidades não tiveram a mesma resposta positiva, havendo até mesmo um aumento no diâmetro da lesão em alguns casos. E, sem dúvidas, isso ressalta a importância de uma avaliação criteriosa antes da aplicação da LTBI, considerando as condições individuais de cada paciente e a necessidade de um protocolo terapêutico adequado.
Já a pesquisa de Gomes et al. (2024) reforça essa perspectiva ao analisarem um estudo de caso em uma paciente atendida em uma Unidade de Referência de Especialidades em Saúde. Diferente do estudo de Xavier et al. (2012), essa pesquisa associou a LTBI a outras abordagens, como o uso de técnicas de alta frequência para inibir o crescimento bacteriano e o curativo com óleo de girassol para proteção da lesão.
Foi então constatado que essa combinação resultou em uma melhora progressiva da ferida e uma cicatrização eficaz, sugerindo que o laser pode ter um efeito ainda mais positivo quando integrado a outras estratégias terapêuticas. E, sem dúvidas, isso destaca a necessidade de protocolos que combinem diferentes técnicas para otimizar o processo de cicatrização, considerando que o laser por si só pode não ser suficiente para tratar lesões hansênicas mais complexas.
No estudo de Bernardes, Mayer e Krug (2024), que avaliou os efeitos do laser de baixa potência no tratamento de feridas crônicas em dois voluntários, os resultados foram igualmente importantes. Um dos pacientes apresentou rápida melhora, enquanto o outro necessitou de um acompanhamento mais prolongado após a finalização do estudo. Além de acelerar a cicatrização, a LTBI também se destacou pelos seus efeitos antiinflamatórios e analgésicos, contribuindo para um maior conforto do paciente durante o tratamento. Dito isto, verificou-se que a terapia demonstrou ser uma alternativa viável e menos invasiva, proporcionando benefícios tanto físicos quanto psicológicos, o que reforça sua importância no manejo de feridas crônicas, incluindo aquelas associadas à hanseníase.
Diante disso, fica evidente que a laserterapia de baixa potência tem um potencial significativo no tratamento das lesões hansênicas, mas sua eficácia depende de vários fatores. Assim, verifica-se que, a resposta ao laser pode variar conforme o tamanho da lesão, a presença de infecção, o estado nutricional do paciente e a combinação com outras intervenções terapêuticas. Portanto, constata-se que a laserterapia de baixa potência pode ser um recurso pertinente para a cicatrização de feridas hansênicas, sobretudo, quando utilizada de maneira precoce, em lesões menores e dentro de um contexto terapêutico mais amplo.
4.3 MECANISMOS FISIOLÓGICOS DO LASER NA REGENERAÇÃO TECIDUAL
É importante lembrar que, a hanseníase é uma condição que vai além do comprometimento cutâneo, podendo afetar também os nervos periféricos, levando a sequelas motoras e sensoriais significativas. E, sem dúvidas, o tratamento dessas sequelas representa um desafio para os profissionais de saúde, pois envolve tanto a recuperação da integridade tecidual, mas também a restauração da funcionalidade dos pacientes. Nesse contexto, o laser de baixa intensidade tem sido apontado como uma forma de auxílio tanto na cicatrização de feridas hansênicas quanto na regeneração neural.
O estudo conduzido por Cunha et al. (2015) destacou a eficácia do laser terapêutico na regeneração do tecido nervoso em pacientes com histórico de hanseníase. A revisão realizada pelos autores apontou que a LTBI pode estimular a recuperação de nervos periféricos, tornando-se uma ferramenta bastante pertinente para a reabilitação de indivíduos que sofreram danos neurológicos devido à doença.
A hanseníase, além de causar feridas de difícil cicatrização, compromete a sensibilidade e a função motora das áreas afetadas, aumentando o risco de lesões secundárias e úlceras neuropáticas. Assim, a possibilidade de que o laser possa atuar tanto no reparo tecidual, como também na recuperação da funcionalidade dos pacientes, reforça sua importância como um recurso terapêutico complementar.
No entanto, apesar dos benefícios observados, ainda existem desafios na padronização da aplicação do laser no reparo tecidual. O estudo de Silva et al. (2020) analisou as vantagens e desvantagens da LTBI no tratamento de feridas crônicas, destacando que não há consenso sobre qual tipo de laser é mais eficaz. Foram identificados diversos tipos de laser utilizados na prática clínica, incluindo HeNe, AlGaInP, InGaAIP e HTM, sem que houvesse evidências que demonstrassem a superioridade de um sobre os demais. E, quanto a isso, ressalta-se que, essa diversidade de abordagens sugere que o efeito da LTBI pode depender de variáveis como tempo de exposição, potência utilizada, frequência das aplicações e condições individuais do paciente.
4.4 PROTOCOLOS TERAPÊUTICOS E FOTOBIOMODULAÇÃO ASSOCIADA A TRATAMENTOS FISIOTERAPÊUTICOS
A pesquisa de Duarte et al. (2023) trouxe contribuições relevantes ao comparar a evolução de pacientes com hanseníase submetidos a um protocolo fisioterapêutico isolado com aqueles que receberam a fotobiomodulação associada à fisioterapia. Os resultados demonstraram que a FBM tanto acelerou a recuperação neurológica dos pacientes, como também reduziu a dor e melhorou a funcionalidade das mãos e dos pés, indicando um impacto positivo na qualidade de vida dessas pessoas.
Inerente a isso, a melhora observada na sensibilidade dos nervos ulnar e tibial, bem como na força muscular da abdução do quinto dedo e dorsiflexão do tornozelo, reforça que o LBP pode atuar no estímulo à cicatrização das feridas, e também na reabilitação motora e neural dos pacientes. Ponto este que é fundamental, pois evidencia que o tratamento das lesões hansênicas também considera a reintegração funcional do paciente.
Já o estudo de Rosa et al. (2014) analisou especificamente os efeitos do LBP na cicatrização de úlceras neurotróficas, um dos problemas mais comuns em pacientes com hanseníase. O estudo de caso conduzido com seis pacientes mostrou que a laserterapia de baixa potência promoveu uma aceleração significativa no processo de cicatrização, sugerindo que a ação anti-inflamatória e bioestimuladora do laser pode ser um fator chave para a regeneração tecidual. Reforçando assim que, a terapia com LBP pode ser implementada aos protocolos clínicos para o tratamento de feridas crônicas, reduzindo o tempo de recuperação e diminuindo os riscos de complicações, como infecções secundárias e amputações.
A partir dessas análises, fica evidente que a fotobiomodulação é relevante na reabilitação de pacientes hansenianos, sendo uma estratégia que favorece a cicatrização das lesões cutâneas, e contribui para a redução da dor, o restabelecimento da sensibilidade e a melhora da função motora.
Entretanto, é importante ressaltar que, apesar dos benefícios observados, ainda existem desafios a serem superados para a implementação do LBP no tratamento das lesões hansênicas. Assim, a falta de padronização nos protocolos de aplicação, a variação nos resultados conforme as características individuais dos pacientes e a necessidade de maior capacitação profissional são alguns dos fatores que precisam ser considerados. Além disso, muitos dos estudos ainda são de pequena amostragem ou baseados em estudos de caso, o que indica a necessidade de ensaios clínicos com maior amostra e com acompanhamento de longo prazo para validar a eficácia dessa terapia em diferentes contextos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A hanseníase, além de sua complexidade clínica, carrega um forte impacto social para os pacientes, sobretudo devido às lesões cutâneas e sequelas neurológicas que podem se tornar permanentes. Assim, a dificuldade na cicatrização dessas feridas representa um desafio contínuo para a medicina e para os profissionais que atuam no cuidado dessas pessoas. Nesse contexto, o laser de baixa potência se mostrado uma tecnologia importante, com potencial para melhorar a regeneração tecidual e minimizar os danos causados pela doença.
Os estudos analisados ao longo desta pesquisa evidenciam que a fotobiomodulação promovida pelo LBP influencia diretamente o processo de cicatrização, estimulando a proliferação celular, a produção de colágeno e a modulação da resposta inflamatória. Dessa forma, o laser acelera o fechamento das feridas, mas também reduz a dor, melhora a vascularização local e contribui para a reabilitação da área afetada.
Apesar dos benefícios já identificados, a aplicação do LBP no contexto da hanseníase ainda carece de uma padronização mais específica nos protocolos clínicos. Muitos estudos ainda divergem sobre parâmetros como tempo de exposição, potência utilizada e frequência das sessões, o que dificulta a definição de um protocolo terapêutico único e amplamente aplicável.
Além dos desafios técnicos, um ponto a ser considerado é a acessibilidade dessa tecnologia nos serviços de saúde, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS), onde a hanseníase ainda é um problema significativo. O LBP, apesar de ser uma técnica relativamente acessível e de baixo custo operacional, ainda não está amplamente disponível em unidades de tratamento da hanseníase.
Outro ponto relevante é a capacitação dos profissionais de saúde para o uso correto do LBP no tratamento das feridas hansênicas. Pois, é preciso considerar que, a falta de treinamento pode comprometer a aplicação da terapia e reduzir sua eficácia. Dessa forma, torna-se imprescindível investir na formação contínua de médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e demais profissionais da saúde, garantindo que a tecnologia seja utilizada de maneira adequada e segura.
Diante de tudo o que foi discutido, fica evidente que o laser de baixa potência tem potencial para revolucionar o tratamento das feridas hansênicas, trazendo benefícios tanto no aspecto físico quanto no emocional dos pacientes. No entanto, para que essa tecnologia seja realmente implementada como uma estratégia efetiva de tratamento, é necessário um esforço conjunto entre pesquisadores, profissionais da saúde e gestores públicos. Apenas com investimentos em pesquisa, infraestrutura e capacitação será possível c
Portanto, a introdução do laser de baixa potência no tratamento dessas feridas representa um passo significativo na construção de um cuidado mais humano, integrativo e eficiente, onde a tecnologia não substitui o olhar acolhedor do profissional, mas sim o fortalece, proporcionando aos pacientes novas possibilidades de recuperação e qualidade de vida.
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1Artigo apresentado ao Curso de Bacharelado em Fisioterapia do Instituto de Ensino Superior do Sul do Maranhão – IESMA/Unisulma
2Acadêmico do curso de Bacharelado em Fisioterapia do Instituto de Ensino Superior do Sul do Maranhão – IESMA/Unisulma. E-mail: 29lalasouza@gmail.com
3Professor do curso de Bacharelado em Fisioterapia do Instituto de Ensino Superior do Sul do Maranhão – IESMA/Unisulma. E-mail: carvalhofisio@outlook.com