EFEITO DO CRESCIMENTO FERROVIÁRIO NA TRÍADE DA SUSTENTABILIDADE:  DESAFIOS E OPORTUNIDADES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10096613


Alexandre Issao Hamada Barros Pinho;
Caroline Magalhães de Sousa;
Guilherme Henrique Damaso;
Stephanie Leandro de Sá;
Orientador: Tiago Lima 

Resumo:

O transporte ferroviário é responsável pela infraestrutura e desenvolvimento sendo  amplamente utilizado no mundo todo. No Brasil, embora exista uma estrutura desde os tempos do império, é um modal pouco utilizado diante das dimensões continentais, respondendo por pouco  mais de 20% das cargas, majoritariamente minérios. Há, no entanto, a discussão sobre a relevância  de investimentos em projetos para a ampliação das ferrovias, a fim de dobrar os transportes por  trilhos, reduzindo o percentual rodoviário, que tem como principal problema a alta emissão de  dióxido de carbono (CO2). O objetivo desse artigo é demonstrar quais os benefícios e impactos da  ampliação do sistema ferroviário no Brasil, embasado pelo conceito da sustentabilidade,  considerando o modelo ESG (Environmental, social, and corporate Governance), que agrega os  contextos ambiental, social e econômico. O estudo realizado destacou os projetos em andamento,  especialmente os previstos para o Estado de São Paulo, com destaque para a logística de cargas. 

Palavras-chave: Ferrovia, Infraestrutura de Transportes, Modal Ferroviário, Trens de Cargas,  sustentabilidade.  

Abstract:

Rail transport is responsible for infrastructure and development and is widely used around  the world. In Brazil, although a structure has existed since the times of the empire, it is a mode little  used given its continental dimensions, accounting for just over 20% of cargo, mostly ores. There is,  however, discussion about the relevance of investments in projects to expand railways, in order to  double transport by rail, reducing the percentage of road transport, the main problem of which is the  high emission of carbon dioxide (CO2). The objective of this article is to demonstrate the benefits  and impacts of expanding the railway system in Brazil, based on the concept of sustainability,  considering the ESG (Environmental, social, and corporate Governance) model, which brings  together the environmental, social and economic contexts. The study carried out highlighted ongoing  projects, especially those planned for the State of São Paulo, with emphasis on cargo logistics. 

Keywords: Railway, Transport Infrastructure, Railway Mode, Freight Trains, Sustainability. 

1. Introdução 

O setor de transportes é essencial para o desenvolvimento econômico e social de qualquer  país, mas também está diretamente associado ao impacto ambiental, o que torna a  discussão sobre o tema uma questão atemporal, diante da necessidade de evolução e  adaptação constante para atendimento às demandas de cargas e passageiros.  Comparativamente a outros países com dimensões extensas, o Brasil é o que menos utiliza o sistema ferroviário e o único em que mais de 65% dos transportes ocorrem por meio  rodoviário (INFRA; ONTL, 2021). 

Praticamente sem investimento governamental ao longo de décadas, sendo as  privatizações nos anos 1990 a última grande ação no sentido de revitalização das ferrovias,  agora o tema volta a ganhar espaço nas discussões para a retomada de investimentos,  especialmente por meio de parcerias público-privada, como estratégia logística visando o  crescimento do Brasil, conforme estabelecido no Plano Nacional de Logística (PNL 2035),  publicado em 2021, que tem como foco tornar a malha ferroviária responsável por cerca de  40% do transporte de cargas até 2035 (BRASIL, 2021). 

Em 2023, após as trocas de governo em âmbito federal e estadual, começaram a ser  realizados encontros para a discussão da malha ferroviária, entre outras medidas  constantes no cronograma da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), quanto  às normas, regulamentações e exploração das ferrovias. Em São Paulo, por exemplo,  também já foram publicadas licitações de linhas entre cidades para transporte de  passageiros (BRASIL, 2023). Nessa linha, o PNL 2035 prevê cerca de 80% de  investimentos em projetos pela iniciativa privada, com foco em atendimento “às  necessidades econômicas e sociais do país, mas também que sejam atrativas para o  mercado” (BRASIL, 2021, p. 30). 

O transporte ferroviário no Brasil foi sucateado e se tornou basicamente operacional para  o transporte de passageiros em contexto urbano de grandes capitais e para o transporte de  grandes cargas, principalmente minérios e grãos, até os portos. Considerando o plano de  retomada e expansão do modal ferroviário, entende-se como relevante avaliar os impactos  em questões sociais, ambientais e econômicas (ANTF, 2023). 

Em paralelo a tudo isso existe a vertente da sustentabilidade, que mundialmente discute a  redução na extração de recursos naturais e emissão de poluentes, com enfoque no  transporte em relação a redução da emissão de carbono por meio de outras fontes de  energia limpa. O primeiro inventário da emissão de carbono do setor ferroviário só foi  realizado em 2011 (BRASIL, 2012). Embora o ferroviário também seja um transporte  emissor de CO2, o volume é muito menor do que o rodoviário (de 2,7 Milhões de toneladas  para 182,9), assim, mesmo que ocorra o aumento de trens em operação, a capacidade do volume de transporte de cargas em substituição ao rodoviário reduziria a emissão de  poluentes, resíduos e o consumo de recursos naturais (ESPINDOLA, 2020). 

Embasado pelo tripé da sustentabilidade, que considera as dimensões ambiental, social e  econômica, o objetivo desse artigo é demonstrar quais os benefícios e impactos que a  ampliação do sistema ferroviário no Brasil vai gerar em cada uma dessas áreas,  considerando as regiões de ampliação das linhas e as estratégias embasadas pela  tendência do modelo ESG (Environmental, social, and corporate Governance), ou  governança ambiental, social e corporativa. 

1.1 Justificativa 

Esse estudo é embasado por pesquisa bibliográfica e documental sobre os projetos  previstos no âmbito ferroviário, com base na Lei do Marco Regulatório do Setor Ferroviário  (14.273/21), que permite a construção no setor ferroviário, como já ocorre nos setores de  telecomunicações e energia elétrica, entre outros (BRASIL, 2021b) 

Este estudo de caso se relaciona aos projetos ferroviários em discussão, mediante  publicações pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e notícias sobre o  investimento em projetos de transporte de cargas e passageiros em trens. 

O enfoque sustentável aborda questões sobre a emissão de poluentes, diferenças  estruturais dos trilhos, compartilhamento de trechos entre composições de carga e  passageiros, riscos de acidentes, integração de modais, potencialidades de  desenvolvimento e vantagens para a sociedade. 

Por fim, a abordagem do estudo se justifica pois visa demonstrar os impactos que podem  inferir a curto, médio e longo prazo, as comunidades e a sociedade, além de demostrar  como os efeitos do crescimento ferroviário podem favorecer natríade da sustentabilidade e  o meio ambiente. 

1.2 Objetivos 

1.2.1 Objetivo Geral  

• Demonstrar quais os benefícios e impactos que pode gerar a ampliação do sistema  ferroviário no Brasil 

1.2.2 Objetivos Específicos  

• Abordar a evolução histórica das ferrovias no Brasil; 

• Abordar o conceito da sustentabilidade; 

• Destacar a influência das concessões e parcerias público-privada;

• Discutir esse modal através do modelo ESG (Environmental, social, and corporate  Governance), que considera os contextos ambiental, social e econômico no Brasil,  com recorte sobre os projetos previstos para o Estado de São Paulo. 

2. Revisão Bibliográfica 

2.1 O Transporte Ferroviário 

As ferrovias no Brasil tiveram uma importante movimentação entre as últimas décadas do  século XIX até por volta de 1930, impulsionado especialmente pela produção cafeeira. Já  por volta de 1920, as ferrovias passaram a concorrer com as rodovias quanto ao  investimento de recursos públicos e o transporte de cargas e passageiros. A opção pelo  modal rodoviário, que apresenta como principal vantagem a disponibilidade de acesso de  ponta a ponta, impactou na redução de investimento nas malhas ferroviárias, o que foi  gerando sucateamento e perda de potencial competitivo ao longo do tempo (CNT, 2013). 

Passado mais de um século, na segunda década do século XXI, o Brasil aparece muito  atrás dos demais países com dimensões semelhantes em termos de estrutura ferroviária.  Enquanto os Estados Unidos aparecem na liderança, com mais de 293 mil quilômetros de  ferrovias, o Brasil está na décima posição, com menos de 30 mil quilômetros, atrás de  nações de todos os outros continentes (Índia, África do Sul, Argentina, China, México,  Canadá, Rússia e Austrália) (INFRA; ONTL, 2021) (Figura 1). 

Figura 1 – Modal utilizado no transporte de cargas nos países 

Fonte: ANTF (2023) 

Especificamente sobre o transporte de cargas, a Rússia transporta 81% por meio  rodoviário, quase o dobro do que Canadá (46%), Estados Unidos (43%) e China (37%).  Conforme os levantamentos realizados pelo PNL, que utilizou o ano de 2017 como  referência de calibração, já que havia informações completas e sem nenhum advento  atípico, a ferrovia representava 21,46% da matriz de transportes do Brasil, mas com  investimento nas parcerias já existentes e a retomada das concessões a partir de 2019  devem levar o país para migração do modal rodoviário para o ferroviário no transporte, o  que rapidamente elevaria a representatividade para 32% (INFRA; ONTL, 2021).  

No entanto, existe potencial para que o uso da ferrovia seja muito maior, principalmente no  transporte de cargas, a partir do investimento de empresas privadas em minimizar custos  logísticos. Com a nova lei do marco regulatório e o estímulo ao transporte por ferrovia,  associados às vantagens em relação a custo e adequações a legislação ambiental, é  inerente que o crescimento supere as projeções iniciais. Somente em 2022 foram  protocolados 89 pedidos no Ministério da Infraestrutura para firmar contratos de  investimentos em linhas somando cerca de R$ 258 bilhões, o que garantiria a construção  de 22 mil quilômetros de novos trilhos, ou seja, quase dobrando a capacidade (JORNAL  EXTRA, 2023). 

Esse volume já é superior ao que foi investido nas últimas três décadas. Conforme  informações que constam em relatório produzido pela Associação Nacional dos  Transportes Ferroviários (ANTF), como propostas defendidas para o setor ferroviário de  cargas junto ao governo 2023-2026, desde a desestatização do setor, em 1996, as  concessionárias investiram cerca de R$ 142 bilhões, em valores atualizados, e há previsão  de investimento de mais R$ 30 bilhões no prazo de cinco anos (ANTF, 2022). 

O diagnóstico é de que o transporte de cargas no modal ferroviário no Brasil na atualidade  é operada majoritariamente pelas próprias empresas operadoras das mercadorias, como a  Vale S.A, em que menos de 10% se refere ao transporte de cargas de terceiros. Outro  ponto a se destacar é que 68% do volume de cargas circulou em apenas 9% da malha  brasileira. Portanto, para que o modal ferroviário seja efetivamente retomado é necessária  a capilaridade em território nacional, além da ampliação e diversidade de atendimento do  transporte e tipos de carga, como defende José Luis Vidal, diretor-executivo da ANFA  (Associação Nacional das Ferrovias Autorizadas), entidade criada em 2022 a fim de apoiar o setor privado na implantação de novas ferrovias e fortalecer uma política voltada ao  desenvolvimento e melhoria da infraestrutura do setor (ABIFER, 2023). 

Os entendimentos em relação a retomada na infraestrutura em transporte ferroviário  demanda esforços conjuntos e embasados pelo interesse em uma nova política modal,  portanto necessitam não apenas de investimento, mas de ações que façam o setor girar,  por meio da integração e atendimento das empresas que hoje utilizam as rodovias como  principal meio de transporte. Conforme dados da ANTT, em torno de 62% dos trilhos  existentes na malha atual são subutilizados, com trechos ociosos, por isso pode ser  entendido como relevante o trabalho conjunto de utilização das linhas de carga também  para a operação com vagões de passageiros (ABIFER, 2023). 

2.1 Modelos de operação do modal ferroviário no Brasil 

Livro sobre a história das ferrovias no Brasil realizado pela Confederação Nacional dos  Transportes evidencia que a evolução ou queda história desse sistema de transporte no  Brasil estão diretamente relacionados com os contextos econômicos por qual o país passou  ao longo de mais de um século de operação. As ferrovias surgiram no Brasil impulsionadas  pelo ciclo do café no final do século XIX até as primeiras décadas do século XX, mas  começou a perder fôlego principalmente a partir da crise de 1929 e com o crescimento do  modal rodoviário, impulsionado pelo setor automobilístico. No entanto, uma característica  que se manteve no setor ferroviário até o século XXI foi o perfil agrícola e agroexportador  (CNT, 2013). 

A influência econômica se dava na disputa entre os recursos para investimento entre os  dois modais, ferroviária e rodoviário, mas a baixa atratividade para a construção das  ferrovias começou ainda no governo imperial, que em 1852 editou a Lei de Garantia de  Juros (decreto nº 64111), com taxa de retorno de até 5% sobre o capital empregado, mas  que se tornaram insustentáveis, após renúncias fiscais. 

A malha ferroviária era de 9,5 mil km e um terço de propriedade do estado ao final do  Império, em 1889. Assim, nos primeiros tempos da República, no século XX, as ferrovias  tiveram um papel econômico e social relevante, como forma de impulsionar o transporte de  caras e passageiros e atrair investimentos para a infraestrutura. 

Assim, entre 1920 e 1950 a malha aumentou 8.000 quilômetros, período de grande ganho  em tecnologia e eficiência, e que culminou com a criação da RFFSA (Rede Ferroviária  Federal S.A.), em 1957, a fim de integrar as operações federais, o que resultou em aumento  do volume transportado e da produtividade, o que foi comemorado, considerando que o  déficit orçamentário público chegou a 90% (CNT, 2013). 

Esse otimismo inicial foi se perdendo nas décadas seguintes, com a rede ferroviária se  mostrando cada vez mais cara e complexa em sua operação, passando a perder espaço  para o modal rodoviário, o que pavimentou o caminho para as concessões ainda no final  dos anos 1980, e que se consolidou na década seguinte. 

As ferrovias estiveram sob controle público, mesmo que por meio de empresas estatais, até  a década de 1980, mediante a justificativa de atendimento da sociedade e controle de  abusos decorrentes de monopólio, em valores ou fornecimento de estrutura, resultando  também em lucros em grande escala. Mas a ineficiência do sistema e a necessidade de  altos investimentos pressionou por reformas que atraíssem o setor privado, mas ainda  dentro de uma estrutura regulatória, o que levou às privatizações, especialmente a partir da  década de 1990, no Brasil (CNT, 2013).

2.1.1 Concessões na década de 1990 

Embora a década de 1990 tenha ficado marcada como um período relevante de para o  sistema ferroviário devido à permissão de concessões, esse não foi um processo pioneiro.  Ainda em 1953, a União permitiu a exploração da Estrada de Ferro Amapá, em 1979 foram  autorizadas as Estradas de Ferro Jari e Trombetas, do Pará; e nos anos 1987 a 1989 foram  organizadas as construções e definidas as explorações das Ferrovias Planejadas: Ferrovia  Norte-Sul (FNS), Estrada de Ferro Paraná Oeste (Ferroeste) e Ferrovias Norte Brasil  (Ferronorte) – atualmente denominada Rumo Malha Norte (RMS) (CNT, 2019). 

A permissão para a participação da iniciativa privada na exploração tem como respaldo a  Constituição Federal de 1988, em seus artigos 21 e 175, mas só foi autorizada a partir da  aprovação do Plano Nacional de Desestatização (PND), decreto nº 473 de 1992. Foi assim  que a concessão da RFFSA começou a ser preparada, mas só se confirmou entre os anos  de 1996 e 1998, quando as empresas passaram a assumir as malhas com contrato de  operação de 30 anos, prorrogáveis pelo menos período (ATLAS CNT, 2019). 

Nessa época foram concedidas a iniciativa privada as malhas das Ferrovia Centro-Atlântica  (FCA), Ferrovia Tereza Cristina (FTC), Ferrovia Transnordestina Logística (FTL), MRS  Logística, Rumo Malha Oeste (RMO), Rumo Malha Paulista (RMP) e Rumo Malha Sul  (RMS), além da exploração da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) e da Estrada de  Ferro Carajás (EFC). Todos esses contratos estão a menos de cinco anos do primeiro  período de vencimento (CNT, 2019). 

Nessas mais de duas décadas de concessão ocorreram investimentos na reestruturação  das operações, modernização de materiais e infraestrutura, com consequente resultado  positivo em termos de volume de cargas transportado, além de melhoria na segurança, com  redução importante e na modernização do material rodante e da infraestrutura ferroviária.  Tais investimentos resultaram em aumento da produção de transporte e da segurança,  como indicam as estatísticas divulgadas pela CNT com a diminuição do número de  acidentes (CNT, 2019). 

Essas premissas constam das principais obrigações e direitos das concessionárias  vencedoras do leilão, conforme apresenta-se na Tabela 1 (CNT, 2013; 2019). 

Tabela 1 – Principais obrigações e direitos das concessionárias 

Os contratos das concessionárias determinaram o pagamento de 5% do valor do leilão  vencedor e mais 112 parcelas trimestrais, com foco no investimento nas malhas para  reativação e impulsionamento do modal, como condições indiscutíveis. 

2.1.2 Parcerias Público-Privada (PPP) 

Com vista a acelerar e expandir as obras, a manutenção e a operação da malha ferroviária  brasileira, as parcerias público-privadas (PPP) foram entendidas como o modelo a ser  implementado no século XXI, com base na Lei 11.079, de 2004 (BRASIL, 2004). Na prática,  continua sendo o fornecimento de serviço privado sob regulação do setor público, porém  existe o entendimento que os contratos nesse formato dividem os riscos.  

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), órgão regulador e fiscalizador foi  criado em 2001, que publicou em 2011 resoluções específicas para atender ao setor  ferroviário, como: nº 3.694, que definiu novos direitos e obrigações dos usuários, padrões  de qualidade para os serviços e penalidades referentes à prestação inadequada do serviço;  nº 3.695, que trata do direito de passagem e do tráfego mútuo; nº 3.696, estabelece metas  de produção por trecho com o objetivo de diminuir a ociosidade da malha (CNT, 2013). 

Thiesen (2023) cita que as parcerias público-privadas foram criadas como forma de garantir  uma relação benéfica mútua, tanto economicamente como em redução dos custos dos  riscos, com uma prestação de serviços públicos de qualidade. Nesse sentido são elencadas  as vantagens e desvantagens, como mostra a Tabela 2. 

Tabela 2 – Vantagens e Desvantagens das PPPs 

No geral, o entendimento é de que o setor privado é capaz de transferir seus conhecimentos  econômicos e tecnológicos para a área pública, gerando ganhos em eficiência e gerando  oportunidades em projetos de grande vulto, dividindo ou minimizando os riscos, porém é  preciso ter a separação entre os interesses de cada parte, para que não incorra em desvio  do interesse principalmente, que é o atendimento da sociedade. 

A partir das premissas previstas na Lei nº 14.273/2011, foi criado em 2021 o Novo Marco  Regulatório Ferroviário (Lei 14.273), a chamada Lei das Ferrovias, criando assim  expectativas de ampliação de investimentos pelo setor privado no modal ferroviário, como  forma de geração de negócios com base em conceitos sustentáveis, como redução da  emissão de carbono e integração de negócios, por meio da exploração indireta do serviço  de transporte ferroviário.

2.2 Malha Ferroviária e Movimentação de Cargas 

A evolução da malha ferroviária no Brasil esteve associada às decisões no estado e a  participação do setor privado, mas não atingiu potencial que poderia considerando a  amplitude territorial do país, conforme observou o professor Claudio Barbieri, do  Departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica (Poli) da USP, ao  comparar com os Estados Unidos. Enquanto o Brasil mantém pouco mais de 30 mil  quilômetros de ferrovia pelo menos desde 1950, nos Estados Unidos são 250 mil  quilômetros (JORNAL DA USP, 2022). 

Em 1889 a malha ferroviária era de 9,5 mil km, atingindo 15,3 mil km na década de 1920 e  chegando a 36,6 mil km em 1950. Ou seja, na primeira metade do século XX o crescimento  foi de 139%, sendo o pico registrado em 1960, 38.287 km. Mas desde então houve redução  do total de linhas, com 30.129 km em 2012 e 32,6 mil km de ferrovias construídas até 2022,  com mais 2.106 quilômetros em construção, segundo a ANTT (CNT, 2013; ANTT, 2023). 

Apesar da estabilidade em quilômetros, a operacionalidade é muito inferior, já que existem  estudos que indicam que cerca de 30% da malha está inutilizada e 23% sem condições  operacionais, conforme levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI)  realizado em 2018 (ANI, 2018). Existem diversos problemas que impactam a utilização e  interconexão das vias férreas, por exemplo os diferentes tipos de bitolas das malhas. Dados  de 2019 do Atlas das Ferrovias, indicavam que 76% são com bitola métrica, 22,2% bitola  larga e 1,8% bitola mista (CNT, 2019). 

Porém, mais do que adequação técnica, o que mais impacta na ampliação do modal  ferroviário são questões relacionadas ao seu uso, especialmente quanto à diversificação  das cargas transportadas (Figura 2), o que já alertava a CNI sobre o crescimento quase  exclusivo da movimentação de minérios de ferro, que entre 2001 e 2017 foi de 5,4% ao ano  enquanto as demais cargas ficaram abaixo de meio por cento, e a média geral foi de 3,8%  (ANI, 2018). 

Figura 2 – Tipos de Cargas transportadas 2018-2022 (Toneladas Úteis em %) 

Em 2001, o minério de ferro respondia por 60% do fluxo da carga ferroviária, em 2017 já  era de 77% e fechou 2022 com 70%. O painel ferroviário da CNT, que traz o  acompanhamento de dados mensais do transporte desde 2006, demonstra que o minério  se mantém em ampla liderança e nem mesmo ocorre variação entre os tipos de produtos  transportados, estando limitado aos agrícolas e combustíveis, sendo os 10 itens: minério  de ferro, soja e farelo de soja, açúcar, milho, celulose, carvão mineral, óleo diesel, além de  produtos siderúrgicos (Figura 2). A variação entre tonelada útil ou útil por quilômetro  apresenta pequena variação, o que não muda o quadro analisado. 

Como pode ser observado na Figura 3, as reduções são bastante pontuais, associada a  características dos produtos, como quebra de safra ou crises internacionais (INFRA; ONTL,  2021; CNT, 2023). Já os crescimentos foram alavancados por transportes de produtos da  indústria siderúrgica, cimenteira e de construção civil. O volume de TKU cresceu 170,5%  desde as concessões na década de 1990, associado principalmente ao investimento na  infraestrutura ferroviária, como para melhoria e recuperação da malha, compra e reforma  de material rodante, e aquisição de novas tecnologias, capacitação profissional e  qualificação das operações, o que já demandou cerca de R$ 156 bilhões, em valores  atualizados (ANTF, 2023). 

Figura 3 – Comparação Minério de Ferro e Carga Geral 

Fonte: ANTF (2023) 

Após as primeiras concessões, o volume de cargas transportadas vem crescendo  continuamente. Desde 1997, a evolução foi de 98%, segundo a Associação Nacional dos  Transportadores Ferroviários (ANTF, 2023). Em 2020 foram movimentadas 365 bilhões de  toneladas por quilômetro útil (TKU), um acréscimo de 31,3% desde 2010. Considerando  desde 2006, quando os dados passaram a ser coletados mensalmente, o aumento do  volume transporte supera os a média de 57%. Mas a média durante os 25 anos após a  operação pela iniciativa privada foi de aumento de 2,76% ao ano. (Figura 4).

Figura 4 – Variação da tonelada transportada 2007-2022 

Fonte: CNT (2023) 

A concentração no transporte do minério de ferro se dá principalmente porque a companhia  Vale S.A. é a principal operadora logística brasileira, respondendo por 68% da  movimentação de cargas em ferrovias e 27% da movimentação portuária, com foco na  integração do sistema mina-ferrovia-porto. A Vale assumiu esse tipo de operação em 2005  e investiu R$ 1,8 bilhão na infraestrutura, adquirindo 5.414 vagões e 125 locomotivas para  utilização no transporte de seus produtos e de carga geral para clientes. 

A empresa opera cerca de 2 mil quilômetros da malha ferroviária, principalmente na Estrada  de Ferro Vitória Minas, por onde escoa minério de ferro da Vale, além de carvão e produtos  agrícolas e como operadora, especialmente de celulose para terceiros, conectando o  interior de Minas Gerais ao Porto de Tubarão, no Espírito Santo. Pela Estrada de Ferro  Carajás também movimenta minério de ferro, ferro-gusa, manganês, cobre, combustíveis e  carvão, das Minas de Carajás, no Pará, até o Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, no  Maranhão (VALE, 2023). 

Essa logística é o modelo ideal do modal ferroviário, que tem a capacidade de movimentar  grandes quantidades de cargas por longas distâncias, com custo inferior e menor emissão  de poluentes. Os trilhos permitem a formação de extensas composições ferroviárias, com  volume e pesos grandes, circulando com segurança, porém com menor flexibilidade da  malha, o que justifica e valoriza a integração com os outros modais, seja terrestre, como o  rodoviário, ou o portuário, o que é estrategicamente importante no contexto econômico  (CNT, 2019). 

É nesse sentido que se dá a discussão sobre a diversificação de mercadorias e a ampliação  de operação em novos trechos de malha ferroviária, dentro do plano de reativação desse  modal como majoritário, conforme consta no Plano Nacional de Logística para 2035. A meta  é dobrar dos hoje 20% para 40% de transporte de cargas via ferrovias. 

2.3 Sustentabilidade – ESG 

O conceito de ecodesenvolvimento surgiu no início da década de 1970 como uma política  de desenvolvimento alternativo, que foi consolidado em 1987 com o termo sustentabilidade,  definido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD, 1988,  p. 9), organismo da Organização das Nações Unidas (ONU), como “[…] a capacidade de  satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações  futuras de satisfazerem suas próprias necessidades”. A questão sobre o custo do  crescimento e da geração de produtos passou a ser mais discutida no final do século XX  considerando três dimensões: social, ambiental e econômica (LOBATO; NEIVA, 2022).

Criado em 1997 por John Elkington, o sistema “Triple Bottom Line” reúne o conceito de  desenvolvimento sustentável. Também chamado no Brasil de Tripé da Sustentabilidade,  indica a relação entre crescimento econômico, equidade social e proteção ao meio  ambiente, com visões de curto e longo prazo, conforme explicam Barbieri e Cajazeira  (2009): 

I. Dimensão social – preocupação com os impactos sociais das inovações nas comunidades  humanas dentro e fora da organização (desemprego; exclusão social; pobreza; diversidade  organizacional etc.); 

II. Dimensão ambiental – preocupação com os impactos ambientais pelo uso de recursos  naturais e pela emissão de poluentes; 

III. Dimensão econômica – preocupação com a eficiência econômica, sem a qual elas não  se perpetuariam. Para as empresas essa dimensão significa obtenção de lucro e geração  de vantagens competitivas nos mercados onde atuam. 

O conceito múltiplo e global da sustentabilidade abrange desde a extração de matérias  primas até a reciclagem de produtos em fim de vida, passando por todas as etapas de  produção de materiais, máquinas e componentes, além do próprio produto, conforme os  princípios da sustentabilidade citados por Medina (2006, p. 1784): 1. Minimizar consumo  energético, de materiais, e geração de rejeitos de produção em todas as fases; 2. Maximizar  a vida de máquinas, componentes e produtos, com melhor uso dos materiais neles contidos; 3. Eliminar substâncias e processos tóxicos ao ambiente e a saúde humana. 

Dentro desse objetivo, que conforme Leila Ferreira (2005, p. 315), tem como meta  “encontrar os mecanismos de interação nas sociedades humanas que ocorram numa  relação harmoniosa com a natureza”, os entendimentos foram evoluindo, o que gerou o uso  da sigla ESG (Environmental, Social and Governance), ou governança ambiental, social e  corporativa, como uma etapa da evolução do conceito de sustentabilidade, mediante a  avaliação de riscos, responsabilidades e comunicação com os diferentes públicos a fim de  possibilitar uma agenda integrativa sobre os reflexos em todas as dimensões e seus  impactos para a sociedade, de forma a ser trabalhado por empresas e demais instituições  governamentais e de todos os setores (LOBATO; NEIVA, 2023). 

O ESG pode ser associado as métricas do Fórum Econômico Mundial em quatro  segmentos: pessoas, planeta, prosperidade e governança, não sendo limitado a um sistema  ou segmento específico, tendo mudado paradigmas e sendo de relevâncias para os  projetos de infraestrutura, como argumentam Contador, Oliveira e Iaccarino (2023), em  recente estudo. Destacam que nos transportes e evidenciada a relevância para projetos e  investimentos, embasados pela Constituição Federal e demais legislações com exigência  ambientais e demais impactos, como preceitos eliminatórias, previstos nas licitações,  estudos técnicos e contratos de interesse público. 

3. Metodologia 

O artigo foi desenvolvido com base em ampla pesquisa bibliográfica e documental sobre o  sistema de transporte ferroviário no Brasil, a fim de identificar historicamente a evolução  desse modal e as perspectivas de futuro. Para a pesquisa bibliográfica foram consultadas  bases de dados Google Scholar e Scientific Eletronic Library Online (SCIELO). Os termos  de busca utilizados foram: Ferrovia, Modal Ferroviário e Trens de Cargas, com enfoque  exclusivamente em estudos brasileiros, para que a abordagem estivesse concentrada nas  mudanças ocorridas ao longo do tempo no transporte ferroviário nacional e a associação  com as questões da sustentabilidade.

Das 46 publicações encontradas no Scielo (38 no termo ferrovia, 8 no modal ferroviário e  nenhuma em trens de cargas) nenhuma referia a abordagem desejada. A maioria referia a  questões bastante específicas, em tempo histórico, localidade ou tipo de produto  transportado, assim não se enquadraram nos critérios de inclusão. 

Como o enfoque teve como meta estabelecer uma linha do tempo, com abordagem sobre  evoluções e recuos sobre a operação ferroviária no Brasil e a influência da sustentabilidade  para a retomada desse modal em 2023, foram pesquisados ainda dados documentais em fontes oficiais dos governos federal e estadual e de entidades de classe, que contam com  acompanhamentos estatísticos periódicos de diversos indicadores. 

Dentro do percurso metodológico embasado em análise documental, as principais fontes  de pesquisa foram a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a Confederação  Nacional do Transporte (CNT), que mantêm dados estatísticos temporais e atualizados do  segmento, assim como modificações das legislações e processos em andamento. A  terceira fonte documental foram as notícias publicadas em jornais, com acesso online. 

Foi desenvolvida assim uma pesquisa exploratória, que conforme Prodanov e Freitas  (2013) é a aquela que possui um planejamento flexível e que permite estudar o tema por  diversos ângulos. A análise documental qualitativa permite a observação não apenas do  documento em si, mas a relação com o contexto da sua publicação, como observam Lima  Junior et al. (2021). Esse ponto é relevante neste estudo, que ocorre num momento em que  se discute migração de modais, adequações logísticas e sustentabilidade como influências  para investimentos e operações. 

A pesquisa histórica não foi delimitada em termos de período, mas a título de análise sobre  os investimentos nas ferrovias no contexto da sustentabilidade, foi definido os últimos 20  anos, considerando que as principais alterações ocorreram nesse período, a partir da  consolidação das concessões, realizadas no final dos anos 1990, e tomando como base a  concessão realizada em 2005, quando a companhia Vale assumiu as ferrovias que  movimentam a maioria das operações e volumes desse modal. 

A primeira pesquisa foi realizada em fevereiro de 2023, inicialmente com a intenção de  abordar os modais de maneira global, em decorrência das perspectivas de mudanças em  função do Plano Nacional de Logística, que delimitou um planejamento com modificações  a serem implementadas até 2035. Mas diante das notícias com enfoque na retomada dos  investimentos no modal ferroviário como forma de mudar a matriz energética dos  transportes e com a mudança de comando nos governos federal e estaduais, onde novas  atualizações sobre o tema foram publicadas, a última pesquisa aconteceu em julho de 2023. 

4. Resultados e Discussão  

4.1 Efeitos e oportunidades do modal ferroviário no Brasil 

O transporte ferroviário é reconhecido como um modal que apresenta uma série de  vantagens em relação aos outros modelos, tendo em vista que oferece menor impacto  ambiental, valorização do entorno (citar mais vantagens), mas também conta com  desvantagens que necessitam ser discutidas, já que refletem em decisões políticas sobre  a reativação de forma mais ampla de investimentos das ferrovias no Brasil. Embora com  dimensões continentais, o país ainda tem um volume pequeno de operações ferroviárias,  em comparação com demais países, mas a pressão pelo uso de energia limpa e menor  emissão poluentes reativa a discussão para a ampliação do modal ferroviário e da  intermodalidade como otimização logística. 

Com a apresentação do artigo pode ser reforçada a ideia que a atividade ferroviária é  tradicional e consolidada, embora apresente diversas possibilidades de utilização e avanço 

tecnológico, mesmo que não radicais, mas que vai da malha aos modelos de vagões e  demais componentes da operação, estações, plataformas áreas de manobra, fábricas,  sistemas de sinalização e telecomunicações, trilhos e dormentes, que integram a  infraestrutura e precisam ser avaliados e supervisionados para o bom funcionamento do  sistema (LIMA et al, 2021). 

Ao se pensar em uma malha, deve-se considerar as características, exigências e  peculiaridades conforme o tipo de transporte, sejam cargas, de conteúdo sensível, como  os químicos, por exemplo, ou de passageiros, que deve considerar conforto térmico, ruído,  espaço e pontualidade (LITMAN, 2021). 

O tema vem ganhando visibilidade entre as discussões políticas, o presidente Luiz Inacio  Lula da Silva afirmou na cerimônia de lançamento da mais recente obra ferroviária – Lote  1F da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), em Ilhéus, litoral da Bahia, que os  investimentos e a reativação do modal ferroviário demandam, antes de tudo, estabilidade  política, econômica e social, pois esse não é um projeto de interesse de um empresário,  mas da soberania nacional, pois esse tipo de atividade de infraestrutura impacta na  indústria siderúrgica nacional, com a produção de equipamentos, a formação de  profissionais qualificados, a geração de empregos, a competitividade do país e qualidade  de vida da sociedade (VERDÉLIO, 2023). 

A principal desvantagem do modal ferroviário é de ter rotas fixas e que não são acessíveis  em muitas pontas de coleta ou recebimento de cargas, o que pode implicar em limitação do  transporte em caso de problemas nos trilhos e no auxílio de outros modais, especialmente  o rodoviário. A questão do investimento alto para entrar em operação é um fator que muitas  vezes limita a ampliação da malha, já que o investimento governamental é reduzido e  necessita de investimento de alto aporte pela iniciativa privada. No entanto, as vantagens  têm sido cada vez mais valorizadas, em decorrência da necessidade de mudança das  matrizes energéticas, a conscientização e responsabilidade ambiental, como serão  detalhadas nos três contextos econômicos, social e ambiental. 

4.1.1 Em Contexto Econômico 

As ferrovias desempenham papel fundamental na logística mundial, mantendo a sua  relevância mesmo diante dos avanços em outros meios mais rápidos ou tecnologicamente  mais modernos, pois tem como vantagem o transporte de grandes volumes de carga por  longas distâncias a um custo inferior, ou seja, é um meio considerado de grande eficiência  e com potencial de crescimento (ANTF, 2023). 

Nos Estados Unidos, onde está a maior malha ferroviária do mundo com quase 300 mil  quilômetros, ou seja, quase 10 vezes a existente no Brasil, houve crescimento em 2021,  comparativamente ao ano anterior, de 6,6% no transporte de cargas e 4,9% no transporte de contêineres, conforme dados da Association of American Railroads (AAR). Já na Rússia,  país onde a ferrovia é o principal meio de transporte (81%), o aumento foi de 3,2% em 2021  em relação a 2020, em dados da Sea News (ANTF, 2023). 

Desde a concessão das rodovias à iniciativa privada, há cerca de 25 anos, o Brasil vem  registrando crescimento em volume transportado, respondendo em 2022 por 91% do  movimento de minérios, assim como granéis sólidos agrícolas destinados a outros países,  em índices que variam de 35% a 51%, conforme o produto. Esses resultados são indicativos  de que existe potencial elevado para uso da ferrovia como intermodal a ser operado para  outros produtos, que hoje rodam por estradas, com elevados ganhos em produtividade,  como já ocorre com esses materiais de base (ANTF, 2023).

O interesse nesse tipo de transporte indica uma tendência de migração para o modal  ferroviário, em caso de ampliação da malha. A movimentação de contêineres entre 1997 e  2022 cresceu em média 22,7% ao ano, elevando em 165 vezes o volume transportado.  Considerando como métrica os contêiners de 20 pés, em 2022 foram transportadas mais  de 575 mil unidades, com aumento de 19% em relação a 2021, ano que registrou 483 mil  unidades, de tipos e com cargas variadas, como bebidas, carnes, madeira, produtos de  limpeza, químicos e siderúrgicos (ANTF, 2023) (Figura 5) 

Figura 5 – Crescimento do transporte em contêineres por ferrovias 

Fonte: ANTF (2023) 

Simulação realizada pelo Observatório Nacional de Transporte e Logística (ONTL) a fim de  comparar os custos de transporte em contêiner por rodovia e ferrovia, tomando como  parâmetro a tonelada por distância de 1.000 km, apontou que o preço a ser pago por meio  de estradas pode ser até seis vezes superior ao trajeto por trilhos. O custo rodoviário da  tonelada sairia por R$ 226,18 enquanto no modo ferroviário por R$ 39,42. As proporções  podem variar dependendo das distâncias. Para o cálculo foi considerado a proporção do  peso de cada item que compõe o custo do transporte de cargas: Sendo: depreciação e  amortização 36%, combustíveis 20,2%, mão de obra 21%, manutenção 12,4% e outros  9,9% (INFRA; ONTL, 2021). 

4.1.2 Em Contexto Social 

A geração de empregos e o desenvolvimento das regiões por onde passa a malha viária  são as principais vantagens sociais, além do uso do transporte público, que podem ter  custos menores para grandes distâncias, além de projetos no âmbito do contexto cultural e  histórico do desenvolvimento e turismo ferroviário. Na prática do uso do transporte de  cargas, ainda se destaca a questão da segurança na operação e uso do transporte  ferroviário. Mas há que se considerar o risco de acidentes, questões relacionadas ao ruído,  desalojamentos ou mudança de contexto social e ambiental nos trajetos e regiões de  instalação dos sistemas, malhas, estações e equipamentos de suporte.

Na questão do emprego, se a migração pode impactar no desemprego no sistema  rodoviário, deve fazer crescer as vagas na operação ferroviária. Desde as concessões, que  começaram a operar em 1997, o número de empregos, sejam diretos ou indiretos, cresceu  218%. Em 2022 eram quase 43 mil trabalhadores (ANTF, 2023). (Figura 6) 

Figura 6 – Variação do pessoal empregado nas ferrovias 2009-2020 

Fonte: ANTT (2023) 

No entanto, o empreendimento apresenta uma série de outros reflexos, que são analisados  por meio do relatório de impacto ambiental, conforme especificado em resolução 001 do  Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), de 1986. Embora seja referente ao meio  ambiente, também envolve a influência dos seres humanos, em contexto social, pois pode  afetar direta ou indiretamente a população em sua saúde, vivência econômica e conforto.  Batalha (2018) destaca que a desapropriação de área impacta tantos os seres humanos,  reservas indígenas ou comunidades nativas, assim como o habitat natural de animais. Todos esses itens devem ser antecipadamente detalhados no Estudo de Impactos  Ambientais (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), antes da aprovação do projeto  da ferrovia. 

O contexto social também pode ser influenciado pelas empresas, como exemplo, a Vale  S.A., que opera as malhas com maior movimento no transporte de cargas, tem um grande  enfoque no social, com diferentes projetos voltados para a sociedade no âmbito de lazer,  turismo e cultura. A companhia tem como premissa um programa de compliance  socioambiental que visam a construção de uma relação de respeito e confiança com as  comunidades dos territórios onde atua. Na malha da EFVM, no Espírito Santo, mantêm  estruturas de lazer e conscientização ambiental, como o Parque Botânico Vale, que realiza  atividades para contribuir com a sensibilização ambiental e qualidade de vida do seu  público, além da recuperação de áreas de mata atlântica e praias. 

A Vale também mantém o funcionamento de trens de passageiros em suas malhas, tanto  na EFVM, que transporta cerca de um milhão de pessoas anualmente entre Cariacica, no  Espírito Santo, e Belo Horizonte, em Minas; e mais de 350 mil pessoas entre São Luís, no Maranhão, e Paraupebas, no Pará. Em Minas Gerais, entre as cidades de Mariana e Ouro  Preto, também mantém um passeio turístico de trem pela ferrovia construída em 1883 e  que foi recuperada, com foco na preservação das composições e da história (VALE, 2023). 

4.1.3 Em Contexto Ambiental 

A redução da emissão de poluentes é o principal ponto de benefício no uso do modal  ferroviário em comparação ao rodoviário. Em 2020 os transportes rodoviários jogaram mais  de 95 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, o que representa  93,13%, enquanto o ferroviário emitiu apenas 3 milhões de toneladas, menos de 3% do  total, referente a 21% das cargas transportadas (ANTF, 2022).

A redução da emissão se dá justamente pelo potencial de transporte de cargas por uma  composição ferroviária, que é muito maior do que uma carreta. Um vagão transporta em  torno de 100 toneladas enquanto a capacidade de um caminhão é de 28 toneladas. Assim,  o uso da intermodalidade de forma eficiente, com trens em trajetos longo e com grandes  volumes e caminhões para trechos curtos na entrega final pode resultar em 85% menos  emissão de CO2, 83% menos combustível e um custo logístico 50% menor (ANTF, 2022). 

O cálculo realizado pela EPL, com base em dados do PNL e CNT, considerou como base  uma composição com 100 vagões, o que equivaleria a 257 caminhões. Esse é o tamanho  de um vagão graneleiro modelo HPT, que comportaria o equivalente a três caminhões  graneleiros, que tem capacidade máxima de 33 toneladas de carga. Dados do Instituto de  Logística e Supply Chain — Ilos, confirma os cálculos comparados e afirma que o modal  ferroviário emite em torno de 96% menos dióxido de carbono. Em 2021, o Sistema de  Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), calculou que as  emissões do modo ferroviário de cargas no Brasil foram de 2,9% (ANTF, 2023). 

Dependendo do tipo de locomotiva utilizada, o volume de emissão de poluentes pode se  tornar ainda menor. A empresa Vale S.A. anunciou em julho de 2023 que está adquirindo  locomotivas elétricas, o que vai minimizar a emissão de aproximadamente 63 mil toneladas  de carbono, com a economia de 25 milhões de litros de diesel por ano, o que equivale à  emissão de CO2 de 14 mil carros de passeio de mil cilindradas (MEDEIROS, 2023). 

A chamada ferrovia híbrida, que deve entrar em operação em 2026, vai funcionar na  Estrada de Ferro Carajás (EFC), onde circula o maior trem de transporte de minério de ferro  do mundo, segundo a Vale, com 330 vagões que transportam 45 mil toneladas do produto.  As três locomotivas elétricas serão utilizadas acopladas as composições que operam a  diesel para ajudar a puxar as cargas em um trecho de aclive de 140 km, no município de  Açailândia, no Maranhão, onde o consumo de combustível é maior (MEDEIROS, 2023). 

Todos estes benefícios contrastam com alguns impactos que devem ser levados em  consideração antes da aplicação, se não avaliados cuidadosamente podem proporcionar  impactos ambientais, destruindo ou modificando diretamente o solo, a fauna e a flora (BATALHA, 2018). 

4.2 Investimentos e Expectatvidas dos Projetos Ferroviários Federais  

As discussões e o interesse em ampliação de projetos ferroviários vêm sendo ampliadas,  especialmente na última década. Além dos pedidos de antecipação da renovação dos  contratos das ferrovias já em operação, foram feitos 89 pedidos de contratos de  investimento em 2022, estando seis projetos de concessões de trilhos previstos para 2023.  Na página de novos projetos da ANTT aparecem três prorrogações antecipadas – Ferrovia  Centro Atlântica (IFCA), Rumo Malha Sul e MRS Logística – e três novos (Rumo Malha  Oeste, EF334 FIOL II e III e Ferrogrão (EF170) (MARTINS; BALAGO, 2023; ANTT, 2023). 

Conforme a ANTT, existem 16 rodovias (Figura 8) em concessão, espalhadas por 21  estados e o Distrito Federal, sendo mais de dois mil quilômetros em construção e com  investimentos superiores a R$ 16,2 bilhões nos últimos dois anos. Além dos 32 mil  quilômetros de malha ferroviária com foco em cargas, 1.534 km são utilizados no transporte  de passageiros e 2.171 km em operações turísticas históricas e culturais (ANTT, 2023). 

A aprovação das antecipações pode gerar a transferência de transporte de 70 milhões de  toneladas das estradas para as ferrovias, gerando mais 700 mil postos de trabalho, além  do compartilhamento de estrutura entre malhas já consolidadas e novos projetos, com  investimentos de aproximadamente R$ 2 bilhões. 

Entre os novos projetos, a Ferrovia FIOL, na Bahia, teve a construção iniciada em julho de  2023 e com conclusão prevista para 2027, mas a Ferrogrão, que liga Mato Grosso ao Pará,  enfrentou empecilhos judiciais devido ao trajeto entrar em parte de um parque nacional, e  só recentemente recebeu autorização para a continuidade dos estudos de viabilidade. O  argumento do governador do estado é que a redução do impacto ambiental, devido a  redução do transporte por estradas, e consequente redução do CO2, já compensaria  (MENDES, 2023). 

Figura 7 – Ferrovias em operação por concessionárias 

Fonte: ANTT (2023) 

O que gera ainda dúvidas é o fato de que, embora esteja em projeto, os investimentos  públicos ainda têm como foco principal as estradas. A Associação Brasileira da  Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) mostrou que dos 19 leilões de infraestrutura  previstos no Brasil para 2023 e 2024, apenas um é referente ao transporte ferroviário, que  se refere ao trem intercidades do Governo de São Paulo. Estão previstas 21 concessões  de estradas (MARTINS; BALAGO, 2023). 

Em entrevista, o ministro dos Transportes, Renan Filho, garantiu que estão previstos R$ 70  bilhões para serem investidos nos próximos quatro anos em estradas e ferrovias, porém  não se sabe ao certo o quanto será destinado para cada modal. Está previsto para o  segundo semestre o lançamento de um novo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) 

com projetos de infraestrutura, que deve atender o perfil ferroviário. A expectativa de  agilização dos processos, no entanto, tem como suporte o Marco das Ferrovias, que 

permite a construção de trilhos pela iniciativa privada sem a necessidade de leilões ou  contrapartida de investimento público, apenas com o aval do governo federal. Em 2023 já  foram assinados 10 termos de adesão, mas são de trechos curtos e a maioria de suporte,  de passageiros, mas que ainda dependem de captação de recursos de investidores  privados (MARTINS; BALAGO, 2023). 

4.3 Projeto Modal Ferroviário em São Paulo 

O estado de São Paulo tem cerca de cinco mil quilômetros de trilhos, sendo parte em  relação ao transporte de cargas operado em contratos de concessões federais (Rumo, MRS  e VLI), além do transporte de passageiros, em sua maior parcela em atividade na Grande  São Paulo, operada pela CPTM e interligada com o Metrô. 

Dos seis projetos em andamento na ANTT, quatro envolvem renovações de trilhos que  ligam a São Paulo: Rumo Malha Sul (RS – SC – PR e SP), Rumo Malha Oeste (São Paulo Mato Grosso do Sul), MRS na Malha Sudeste (MG – RJ e SP) e a Ferrovia Centro Atlântica,  com a Malha Centro-Leste (MG -SE- GO- ES- DF- RJ- BA e SP). 

Em 2022, foi aprovada na Assembleia Legislativa e sancionada pelo governador do Estado  de São Paulo, a Lei nº 17.612, de 19 de dezembro, criando o subsistema ferroviário do  estado e o uso do modal de ferrovias para o transporte de cargas e pessoas, com o objetivo  de reduzir os congestionamentos e os acidentes em estradas, além de diminuir custos e  melhorar a competitividade da produção agrícola e industrial paulista. O modelo vai permitir  a exploração da infraestrutura e dos serviços ferroviários pela iniciativa por meio de  concessões (ALESP, 2022; SÃO PAULO, 2022a). 

São Paulo também lançou em abril de 2023 a estruturação de um plano de logística e  investimentos (PLI), a fim de equilibrar a matriz de transporte, que deve ser concluído em  2025. A ferrovia é um ponto de destaque desse plano, eliminando gargalos logísticos,  reduzindo custos, tempo de viagem, emissão de poluentes, melhorar a mobilidade urbana  e a interconexão de trechos ferroviários em operação de cargas (SÃO PAULO, 2023b). 

Conforme dados da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, 79,6% do  transporte no estado é realizado por meio rodoviário, apenas 12,6% em ferrovias e apenas  0,31% nas hidrovias. O plano visa detalhar os gargalos, ofertas e demandas e equalizar  com matrizes mais sustentáveis (SÃO PAULO, 2023b). 

Dos cerca de 5 mil quilômetros de malha ferroviária no estado de São Paulo, apenas  metade é utilizado pela CPTM, em transporte de passageiros, e pelas concessionarias  Rumo, MRS e VLI com cargas. Com a mudança da legislação e o PLI, a expectativa é  ampliar o uso das ferrovias para cidades mais afastadas da capital, melhorando o trânsito  na região metropolitana e revitalizando a malha subutilizada ou abandonada no interior  paulista (PACHECO, 2022; SÃO PAULO, 2022a). 

Foi criado um plano estratégico com cinco grandes iniciativas a serem implantadas até 2040  no chamado PAM-TL (Plano de Ação de Transporte de Passageiros e Logística de Cargas  para a Macrometrópole Paulista): 

1. Implantação do TIC (Trem Intercidades), que ligará São Paulo a Campinas,  Sorocaba, Santos e São José dos Campos; 

2. Linhas expressas de transportes de cargas; 

3. Ferroanel na região leste do Estado; 

4. Duplicação do trecho oeste do Rodoanel;

5. Licitação da Linha Verde – rota carbono zero de ligação bimodal (rodoviária e  ferroviária) entre São Paulo e o Porto de Santos para o escoamento da pro dução nacional (SÃO PAULO, 2022a). 

A reformulação logística ainda prevê a criação de 13 pátios rodoferroviários para  armazenagem, distribuição e transferência entre os modais, de forma que os caminhões  grandes circulem na parte externa das cidades e somente os pequenos caminhões  transitem nos municípios, mecanismo que contribui com a redução de custo, otimização de  tempo e minimização da emissão de CO2 (SÃO PAULO, 2022a). 

As medidas criadas em nível estadual são consequência da mudança de padrão permitida  a partir do novo marco regulatório dos transportes (Lei Federal 14.273/2021), facilitando a  criação de projetos em linhas de trajeto curto, as chamadas shortlines, o que permite a  participação dos estados e municípios, além da iniciativa privada, não ficando mais  exclusivamente a cargo do governo federal. Os investimentos nas ferrovias vão poder  ocorrer por meio de autorização especial, concessão ou PPP (Parcerias Público-Privadas (SÃO PAULO, 2022a; PACHECO, 2022). 

O PAM-TL, por exemplo, já prevê o investimento de R$ 70 bilhões pela iniciativa privada,  sendo que R$ 54,2 bilhões serão destinados à malha ferroviária em cinco regiões  metropolitanas de diferentes munícipios do estado, a capital São Paulo, Campinas,  Sorocaba, Baixada Santista e São José dos Campos. Esses são polos relevantes no  transporte de cargas, respondendo por cerca de 70% do volume, com representação  superior a um terço do PIB do país (32%) (SÃO PAULO, 2022a). 

4.3.1 Regiões de Campinas (Norte) e São José dos Campos (Leste) 

Em março foi autorizada a abertura da licitação para a concorrência da concessão do  serviço de transporte de passageiros para Trem Intercidades a fim de ligar Campinas à  capital Paulista, com linhas com paradas e atendimentos às cidades de Jundiaí, Franco da  Rocha, Francisco Morato, Campo Limpo Paulista, Várzea Paulista, Louveira, Vinhedo e  Valinhos. O modelo é de concorrência internacional, com previsão de investimento de R$  12,8 bilhões em construção e modernização, e ainda a possibilidade da exploração por 30  anos com uso de nome comercial (PACÍFICO, 2023) (Figura 9). 

O prazo de execução é de sete anos, mas há estimativa de que poderia estar pronto dentro  de quatro anos. A previsão é de que existam diferentes linhas, como a Campinas e São  Paulo, com uma parada em Jundiaí, tenha capacidade para 800 passageiros e realize o  trajeto de 101 quilômetros de extensão por cerca de uma hora, atendendo até 60 mil  passageiros por dia. Já na linha entre Campinas e Francisco Morato (SP), a extensão seria  de 65,8km, com nove estações e velocidade comercial de 56 km/hm, com tempo de viagem  de 55 minutos. (PACÍFICO, 2023). 

O edital definitivo referente ao eixo norte (Campinas) reativou as discussões sobre o eixo  Leste, na ligação entre a capital e São José dos Campos, que deve ser o próximo enfoque  na ampliação ferroviária do transporte de passageiros, mas aproveitando o domínio que já  realiza o transporte por meio de composições de carga (CARLOS, 2023). Quem opera o  trecho de São José dos Campos é a MRS Logística, com transporte de produtos  siderúrgicos, celulose, cimentos, areias, minérios, contêineres e outros. Em 2017, 10% de  toda carga própria transportada pela MRS teve como origem ou destino a região do Vale  do Paraíba. (CARNEIRO, 2018). Conforme se observa nos mapas, a reativação das linhas  garante a integração e ampliação do transporte, de passageiros e cargas (Figura 10).

Figura 8 – Trajeto Campinas-São Paulo 

Fonte: Pacífico (2023) 

Figura 9 – Trajeto região do Vale do Paraíba 

Fonte: Carneiro (2018)

Além do investimento em transporte de passageiros e cargas, já existem também projetos  de turismo, que podem reativar social e economicamente regiões próximas às linhas  férreas, como já vem ocorrendo entre Campinas e Jaguariúna, com a restauração de duas  locomotivas fabricadas na década de 1940, que pertenciam à Estrada de Ferro Sorocabana  e Fepasa. As máquinas restauradas pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária  (ABPF) integram o acervo e podem ser visitadas nesse trecho (TOLEDO, 2023). 

Assim, ocorre a integração entre projetos de revitalização ferroviária em diversas frentes  atendendo aos preceitos do ESG, considerando os benefícios que essa modalidade de  transporte pode gerar num país com o tamanho e densidade populacional do Brasil, além  da necessidade em infraestrutura e desenvolvimento. 

5.Considerações Finais 

Considerando a longa e complexa história da ferrovia no Brasil, com épocas de ampla  operação e períodos de forte decadência, o presente estudo fez uma revisão temporal e demostrou como a reativação desse modal é um tema contemporâneo e relevante em todos  os aspectos do conceito ESG.  

Os benefícios e impactos que pode gerar a ampliação do sistema ferroviário no Brasil, foram  observados em três contextos: 

Econômico, o entendimento é que em comparação ao modal rodoviário, o ferroviário seria  mais vantajoso, no entanto, para que esses resultados se tornem reais, é necessário  investimento em ampliação da malha para aproximar a ferrovia de mais pontos produtores  e finais de entrega. A questão é que o investimento para tal é muito elevado, segundo Motta  (2014), a estimativa de custo é de € 7 a 10 milhões/km. 

Social, mesmo que vários projetos sejam aprovados, o processo construtivo das ferrovias  pode afetar diretamente o solo, fauna, flora, reservas indígenas, áreas de preservação e a  população local, mediante a mudança ou a presença de novos habitantes, movimentação  de pessoas, cargas, ruídos, influência em propriedades, moradias e cultura (BATALHA,  2018).  

Ambiental, considera-se os já mencionados no social, diante da necessidade de equilíbrio  entre desenvolvimento e o cumprimento de indicadores de sustentabilidade. A ferrovia é  relevante como um modal capaz de reduzir a emissão de poluentes, o custo e integrar o  país através de diversos modais, buscando sempre a melhor eficiência. 

Dentre os estados que foram estudados São Paulo, é um polo que possuí as melhores  oportunidades, além de contar com uma malha histórica, pode ganhar logisticamente no  transporte de cargas e passageiros, além de estimular investimentos culturais e sociais. 

Com tudo isso, pode-se perceber que os objetivos propostos foram atingidos, espera-se  que com este artigo as pessoas compreendam plenamente o valor do modal ferroviário  para o Brasil, contribuindo para seu desenvolvimento econômico, social e ambiental. No  entanto, vale ressaltar que para sustentar esse progresso, é categórico que se busquem  estratégias para a redução dos custos associados a esse modal. Explorar medidas eficazes  de otimização e eficiência logística pode tornar o modal ferroviário ainda mais viável e  amplamente implementado.

6. Referências Bibliográficas 

ABIFER – Associação Brasileira da Indústria Ferroviária. “É fundamental para o país  que o setor ferroviário seja mais plural e com um número maior de operadores.” Reprodução da entrevista com José Luis Vidal, diretor-executivo da ANFA – Associação  Nacional das Ferrovias Autorizadas. Revista Brasileira de Transportes – RBT, vol. 2, n. 2,  4ª ed., p. 11-19. Disponível em: https://abifer.org.br/e-fundamental-para-o-pais-que-o setor-ferroviario-seja-mais-plural-e-com-um-numero-maior-de-operadores/. Acesso em: 20 jun. 2023. 

ALESP – Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Lei nº 17.612, de 19 de  dezembro de 2022. Dispõe sobre o Subsistema Ferroviário do Estado de São Paulo – SFE/SP. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2022/lei-17612- 19.12.2022.html. Acesso em: 20 jul 2023. 

ANI – Agência de Notícias da Indústria. Um terço das ferrovias do país está inutilizada,  aponta CNI. 07 jun 2018. Disponível em:  https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/infraestrutura/um-terco-das-ferrovias-do pais-esta-inutilizada-aponta-cni/. Acesso em: 15 jul 2023. 

ANTF – Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários. Informações gerais.  Disponível em: https://www.antf.org.br/informacoes-gerais/. Acesso em: 10 jul 2023. 

ANTF – Associação Nacional dos Transportes Ferroviários. Ferrovias de carga e o  futuro do Brasil: Propostas da ANTF para o novo governo 2023-2026. Disponível em:  https://static.poder360.com.br/2022/08/Ferrovias-carga-futuro-Brasil-2023-2026.pdf.  Acesso em: 20 jun. 2023. 

ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres. Novos Projetos Ferroviários.  Disponível em: https://www.gov.br/antt/pt-br/assuntos/ferrovias/novos-projetos ferroviarios. Acesso em: 10 jul 2023. 

BATALHA, T. S. Impactos Ambientais na Construção de Ferrovias: Uma iniciativa para a  minimização de riscos na Construção Civil. Centro de Estudos em Desenvolvimento  Sustentável, N. 9, P. 1-12, 2018. 

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