EFEITO DA TERAPIA ASSISTIDA POR GOLFINHOS SOBRE A POPULAÇÃO COM DEFICIÊNCIA: UMA REVISÃO COMPARATIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7749262


Laís Moreira Rezende¹
Kátia Aparecida Nunes Hiroki²


RESUMO

A terapia assistida por golfinhos ou delfinoterapia (DAT) é uma opção de tratamento para doenças e deficiências de desenvolvimento cada vez mais popular, e um número crescente de instalações em todo o mundo oferece aos participantes a oportunidade de nadar ou interagir com golfinhos. Em contraste com outros programas de terapia assistida por animais, os golfinhos não são animais domésticos, e são na maior parte capturados na natureza, e além de haver poucos estudos sobre o seu comportamento durante estas terapias não há evidência científica credível para a eficácia desta intervenção. O objetivo deste trabalho é contribuir para a revisão dos estudos publicados que apoiam as evidências para a eficácia da DAT, e os estudos que criticam esse tratamento, apresentando metodologias falhas com resultados negativos ou inconclusivos. Buscando identificar possíveis lacunas e prioridades para a coleta de dados em estudos futuros. A DAT deve ser alvo de uma investigação mais aprofundada que compare diferentes tipos de programas de terapia com animais e que verifique a sua validade e replicação, uma vez que apresenta uma série de questões éticas e algumas ameaças físicas, tanto para as pessoas quanto para os golfinhos.

PALAVRAS-CHAVE: Cetáceos, terapia, comportamento, delfinoterapia.

1 INTRODUÇÃO

A ordem Cetacea é representada pelos mamíferos que vivem exclusivamente no ambiente aquático, como as baleias, botos e golfinhos (HETZEL & LODI, 1993) que desenvolveram modificações estruturais em seu corpo para melhorar a eficiência hidrodinâmica, além de apresentar uma série de adaptações fisiológicas e comportamentais para a vida na água (DI BENEDITTO; SICILIANO; RAMOS, 2010, p.13).

Os cetáceos estão entre os mamíferos mais bem adaptados ao meio aquático (MONTEIRO FILHO et al., 2006). Uma das adaptações que permitiu o sucesso dos odontocetos foi o desenvolvimento da ecolocalização, ou localização pelo eco, em que produzem sons na cavidade nasal, emitindo-os no meio e recebendo os ecos produzidos, permitindo que tenham uma percepção tridimensional do meio, podendo localizar precisamente suas presas e perceber a distância e a característica física dos objetos (DI BENEDITTO; SICILIANA; RAMOS, 2010, p.15).

Os golfinhos e outros cetáceos têm uma grande sensibilidade acústica. A ideia de que os golfinhos podem utilizar ultrassons na sua orientação e exploração do meio começou nos Estados Unidos, ao verificar que mesmo em águas muito turvas, estes animais podiam evitar obstáculos (tais como redes para os capturar). Desde então inúmeras experiências foram feitas, e descobriram-se nos golfinhos extraordinárias capacidades de detecção de objetos e de discriminação de características como o tamanho, a densidade e a textura (SANTOS, 1989).

Em 1960 o norte-americano Jonh Lilly estudou a comunicação entre golfinhos e humanos, sugerindo que essa interação poderia ser benéfica e os golfinhos poderiam ajudar os humanos a aprenderem a se comunicar melhor uns com os outros (HUMPHRIES, 2003). Seu trabalho foi estendido durante a década de 70 quando uma antropóloga educacional da Universidade Internacional da Flórida, Betsy Smith, conduziu em 1971 a primeira linha de pesquisa envolvendo golfinhos e crianças com deficiências neurológicas (McKINNEY; DUSTIN; WOLFF, 2001; MARINO; LILIENFELD, 2007).

Essa capacidade de resposta dos golfinhos aos seres humanos levou terapeutas e pesquisadores a avaliar possíveis benefícios terapêuticos, o que resultou em um tratamento conhecido como terapia assistida por golfinhos (DAT) (HUMPHRIES, 2003). 

A DAT é um subcampo da terapia assistida por animais (TAA), em que o golfinho auxilia no tratamento dos pacientes. A Delta Society, uma organização sem fins lucrativos, é líder em pesquisa nos EUA e tem a finalidade de promover a melhora da saúde humana e a qualidade de vida com o auxílio dos animais (DOTTI, 2014) e definiu a TAA como uma intervenção em que um animal que atenda a critérios específicos seja parte integrante do processo de tratamento, que deve ser ministrado por um profissional de saúde, visando promover a melhoria do funcionamento humano, físico, social e/ou cognitivo (DILTS; TROMPISCH; BERGQUIST, 2011).

Algumas dessas TAA são classificadas com nomes específicos conforme o animal utilizado, como cinoterapia (cão), equoterapia (cavalo) e delfinoterapia (golfinho) (LIMA; SOUZA, 2018). 

A DAT ou delfinoterapia utiliza os golfinhos como co-terapeutas, com o objetivo de tratar indivíduos identificados como portadores de deficiência mental e física há mais de 25 anos (BRENSING; LINKE; TODT, 2003), foi desenvolvido por David Nathanson, um psicólogo clínico que conduziu muitas das pesquisas existentes sobre a DAT (HUMPHRIES, 2003).

A terapia geralmente envolve o paciente nadando e brincando com golfinhos em cativeiro, durante várias sessões, enquanto trabalham tarefas como coordenação visual ou vários alvos de resposta verbal (MARINO; LILIENFELD, 2007).

Segundo Nathanson et al. (1997), o principal objetivo de seu programa é encorajar as crianças a se engajarem nas respostas desejadas e direcionar comportamentos de acordo com o programa de terapia individualizada da criança. As sessões de terapia concentram-se em aumentar a frequência de comportamentos alvo, a partir de tarefas pré-determinadas, usando princípios de modificações de comportamento básico, complementando ou reforçando outros procedimentos terapêuticos mais tradicionais (NATHANSON, 1998).

Há muitas variações na terapia assistida por golfinhos, que podem incluir: interações na beira da piscina, onde um mergulho é oferecido como recompensa pela conclusão de uma tarefa definida; simplesmente nadar com os golfinhos; dar um passeio curto segurando a barbatana dorsal; interações mais estruturadas com golfinhos enquanto na água; ou mesmo atividades em que o participante é levado a sentir que está cuidando do golfinho em cativeiro, por meio de alimentação ou outras atividades (WILLIAMSON; BRAKES, 2007).

A duração e a frequência das sessões variam de acordo com cada programa, podendo ser realizada por uma semana, duas ou um mês. Alguns programas até tentaram sessões únicas que duram algumas horas em vez dos típicos 10 a 30 minutos (NATHANSON, 1997).

Atualmente existem programas DAT em todo o mundo, incluindo EUA, México, Israel, Rússia, Japão, China e Bahamas (MARINO; LILIENFELD, 2007), e seu custo varia dependendo da duração e localização da terapia, bem como do pacote de terapia escolhido (HUMPHRIES, 2003).

A Terapia Assistida por Golfinhos é uma escolha cada vez mais popular de tratamento para doenças, deficiências e psicopatologias em crianças e adultos (WHALE AND DOLPHIN CONSERVATION SOCIETY, 2006).

De acordo com Marino; Lilienfeld (2007) as alegações feitas sobre a eficácia da DAT pelas próprias instalações não foram apoiadas empiricamente, nem houve um aumento nos artigos revisados por pares publicados sobre o tema dos anos 1970 a 2007, ainda assim os programas de DAT continuam a proliferar e novos programas vêm aparecendo em novos locais. 

Diante disso, o presente trabalho tem por objetivo contribuir para a revisão dos estudos publicados que apoiam as evidências para a eficácia da DAT, e os estudos que criticam esse tratamento, apresentando metodologias falhas com resultados negativos ou inconclusivos.

Buscando identificar possíveis lacunas e prioridades para a coleta de dados em estudos futuros.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Para a seleção das informações desta revisão foi realizado um levantamento bibliográfico (artigos publicados em periódicos indexados e livros) a respeito da DAT (Dolphin-assisted therapy) através das seguintes bibliotecas virtuais ou banco de dados: Periódicos Capes <http://www.periodicos.capes.gov.br/>, GoogleScholar<htt//scholar.google.com.br>, PubMed<www.ncbi.nlm.nih.gov>e DeCS <http://decs.bvs.br/> durante o período de Julho de 2018 a Janeiro de 2019. No total, 59 referências foram utilizadas, sendo 38 em inglês, 20 em português e 1 em espanhol.

Para a busca de artigos, utilizou-se das seguintes palavras-chave e suas combinações: Cetáceos, Ecolocalização/ Ecolocalization, Terapia assistida por animais, Terapia assistida por golfinhos/Dolphin-assisted therapy, DAT, Delfinoterapia, Equoterapia, Cinoterapia, Necessidades especiais/ Special needs, Comportamento/Behavior,Comunicação/Communication, Adaptação/ Adaptation.

Foram utilizados os estudos que corresponderam aos seguintes critérios de inclusão: 1) Apresentou formas da utilização de terapia com golfinhos, 2) fez referência aos benefícios percebidos na DAT, 3) fez referência às falhas metodológicas, e 4) incluiu análises empíricas.

Primeiramente ocorreram buscas na base de dados Google Scholar, onde foram encontrados 27 artigos relacionados as palavras-chave. Após a avaliação 7 artigos conseguiram cumprir os quatro requisitos estabelecidos como critérios.

Em seguida foi realizada uma pesquisa na base de dados Capes, nesta busca foram encontrados 36 artigos mediante palavras chaves e combinações entre elas. 25 artigos foram incluídos para a análise dos resumos e apenas 10 apresentaram todos os critérios de inclusão estabelecidos para o estudo.

Posteriormente foi realizada uma pesquisa em ambas as bases de dados DeCS e PubMed, na qual foram encontrados 9 artigos. Apenas 1 artigo conseguiu cumprir todos os critérios.

Os 18 (dezoito) artigos que cumpriram todos os critérios foram lidos na íntegra de maneira sistemática e repetida, e foram utilizados 15 para a elaboração do TCC.

Este estudo apresenta-se organizado da seguinte maneira: inicialmente, averiguamos o comportamento de algumas espécies utilizadas em tratamentos terapêuticos. Em seguida, descrevemos a DAT e fizemos uma revisão detalhada dos estudos publicados que apoiam a mesma, além de fazer uma análise das principais conclusões e críticas acerca dos estudos e práticas realizadas. Posteriormente, tratamos sobre as preocupações éticas relacionadas com a utilização de animais em cativeiro para benefício do ser humano. E, por fim, apresentamos nossas sugestões sobre o que deveria ser priorizado em estudos futuros.

3 RESULTADOS

A Associação Americana de Medicina Veterinária recomenda que, para as terapias assistidas por animais, os mesmos devem ser selecionados de acordo com o comportamento natural apropriado para o uso pretendido, e somente aqueles que apresentem históricos médicos e comportamentais conhecidos devem ser usados (AMERICAN VETERINARY MEDICAL ASSOCIATION, 2007). Diante dessas informações, é importante conhecermos o comportamento e as condições de vida de algumas espécies de mamíferos, das quais são as mais utilizadas em tratamentos terapêuticos. Dentre elas se destacam os golfinhos, cavalos e cães.

Aspectos relevantes da história natural dos golfinhos nariz-de-garrafa incluem comunicação e interação dinâmica; o uso e o tamanho amplo do habitat (FROHOFF;

PACKARD, 1995), que permite aos golfinhos se dispersarem durante conflitos intra específicos (SWEENEY, 1990); a escolha dos companheiros sociais, que embora seja altamente variável, a maioria vive em grupos de 10 a 25 indivíduos, viajando constantemente até 65 km por dia. Eles podem mergulhar até 500 metros de profundidade, e movem-se a uma velocidade de 4 km/h, podendo atingir 35 km/h (ONE VOICE, 2007).

Os golfinhos selvagens apresentam comportamento alimentar e exploratório, interações sociais e sexuais frequentemente relacionadas à agressividade, além de fuga de predadores e locomoção assistida (BEL’KOVICH, 1991).

Ao contrário do que possa parecer que os golfinhos apresentam um comportamento amigável com os humanos devido ao seu aparente “sorriso” (WHALE AND DOLPHIN CONSERVATION SOCIETY, 2007), em cativeiro não é incomum seu comportamento agressivo e/ou sexual em relação aos humanos, podendo ser imprevisíveis e com potencial de causar lesões aos nadadores e até mesmo aos treinadores, com quem os golfinhos têm contato regular (FROHOFF; PACKARD, 1995; SAMUELS; SPRADLIN, 1995). Também é possível que atividades de nadar com golfinhos possam influenciar a alimentação, a reprodução e possam ter impacto social, uma vez que golfinhos individuais desempenham papel específico dentro de sua rede social (LUSSEAU; NEWMAN, 2004).

Ainda que um golfinho treinado possa estar mais acostumado a interações com humanos do que um golfinho selvagem, esses animais não foram domesticados, o que exige seleção de características específicas por várias gerações, podendo ser mais propenso ao estresse do contato humano do que espécies domesticadas (IANNUZZI; ROWAN, 1991). Outro fator, é que não se pode garantir o temperamento dos golfinhos em interações selvagens e cativeiro, ou saber o suficiente sobre seu status médico (WHALE AND DOLPHIN CONSERVATION SOCIETY, 2007).

Ao contrário dos golfinhos, os equinos (cavalos) vêm sendo domesticados desde os tempos pré-históricos, há cerca de 4.500 a 6.500 anos atrás. Com o passar dos séculos o cavalo passou a servir ao homem como meio de transporte e carga (CINTRA, 2011) e cada raça adquiriu suas características, peculiaridades e qualidades de acordo com a região que se desenvolveram, passando a se diferenciar pelo tamanho, temperamento, força e resistência (DIAS et al. 2000). 

Quando em liberdade, os cavalos selvagens são altamente gregários, geralmente vivendo em grupos de 10 a 20 animais, entretanto, pode-se encontrar alguns indivíduos vivendo isoladamente. O bando é formado por um garanhão e várias fêmeas, e as proles permanecem no grupo até completarem dois ou três anos (NOWAK, 1999). Apresentam uma hierarquia estabelecida, com um papel definido para cada membro, o que evita brigas (RAMOS, 2005).

São animais inteligentes e capazes de estabelecer relações de causa e efeito e associar alguns gestos e sons a objetivos específicos. Os movimentos das orelhas e cauda indicam intenções e temperamento. Embora sejam pouco agressivos, usam o coice e a mordida nas lutas, tanto para atacar como para se defender, e muitas vezes fogem do perigo. Antes de tornarem-se violentos costumam usar gestos de aviso, como baixar as orelhas e simular coices (RAMOS, 2005).

Conforme refere Ramos (2005), os cavalos tiveram participação fundamental no destino do homem a partir da domesticação e atualmente, são utilizados em atividade econômica, no trabalho, no lazer e no tratamento terapêutico. 

Tal como a DAT, a equoterapia é utilizada como método de tratamento que visa à reabilitação física e mental de pessoas portadoras de necessidades especiais, onde o cavalo é utilizado como um agente facilitador, proporcionando aos praticantes ganhos físicos e psicológicos, devido à utilização do corpo inteiro, o que contribui para o desenvolvimento da força muscular, relaxamento, conscientização do próprio corpo e aperfeiçoamento da coordenação motora e equilíbrio (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA, 1999).

Não existe uma raça específica de cavalo para o uso na equoterapia, tudo depende das características a serem estudadas na seleção, treinamento e no seu desempenho durante os programas (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA, 2004), algumas das características básicas para a realização da escolha incluem ser atleta, andar de forma suave e harmônica, ter o passo ritmado e com baixa frequência e possibilidade de alternar a velocidade, ter bom prumo (WALTER; VENDRAMINI, 2000).

Em oposição a DAT, a equoterapia é reconhecida pela medicina desde 1997 e monitorada pela Associação Nacional de Equoterapia (ANDE). Os programas demandam terapeutas com certificados e treinamentos específicos, onde geralmente usam-se cavalos de competição aposentados, justificando o benefício para o animal, uma vez que é proporcionada a oportunidade de continuarem ativos (IANNUZZI; ROWAN, 1991).

Outra espécie que veio a ser domesticada e moldada pelo homem a milhares de anos foram os cães (RIBEIRO, 2011), que passaram a ser utilizados como co-terapeutas na cinoterapia, que é uma das terapias mais usadas (DOTTI, 2014) devido aos cães serem afetivos, ter possibilidade de adestramento e por permitir dar e receber caricias (MENEGAZZO et al., 2015). Qualquer cão pode ser utilizado desde que passe por avaliações comportamentais e veterinárias constantemente, e devem ser obedientes, sociáveis, aptos, adestrados, além de estar com a vacinação em dia (SILVA et al., 2018).

A base do tratamento é a estimulação cerebral, ao qual os cães incentivam a memória; o físico, na parte locomotora e equilíbrio; ajudam na saúde mental, em atividades de recreação, diminuindo a ansiedade, depressão, fobias, solidão, autismo, entre outros (SANTOS, 2006).

Esses animais apresentam sinais corporais e verbais como forma de comportamento natural ou alterado. Os latidos, dependendo da intensidade e da duração, podem significar defesa territorial, mostrar que o animal está incomodado com algo ou alguém, ou indicar um pedido, seja ele por comida, brinquedo ou atenção. Rosnados nem sempre sugerem que o cão irá agredir de imediato, quando não mostram os dentes, ele está apenas advertindo que não está tranquilo com aquela situação. E gemidos, choros e uivos podem indicar dor, incômodo ou até comunicação com outros cães (HORWITZ; NEILSON, 2007).

A posição da cauda pode indicar uma situação de alerta, insegurança, medo ou atenção. Se o animal balança a cauda de forma insistente em conjunto com a parte posterior do corpo, pode indicar que ele está feliz, agitado ou incomodado com algo ou alguém; se balança a cauda lentamente pode indicar que o cão está apreensivo; se a cauda está caída e parada, indica que o animal está calmo e, dificilmente, irá atacar; já a cauda empinada é indicativo de um estado de alerta, e entre as patas, de medo. (HORWITZ; NEILSON, 2007).

Diversas espécies de animais recentemente vêm sendo utilizadas como reforços terapêuticos, é possível perceber que a interação entre seres humanos e animais, muitas vezes podem apresentar benefícios significativos e facilitar a relação terapêutica por intervenção das diferentes experiências com esses animais. Porém, além dos benefícios para os seres humanos deve-se considerar o bem-estar dos animais e a segurança tanto para os animais quanto para as pessoas que participam do programa, além disso, é importante que as terapias não apresentem impactos prejudiciais nem para os animais e nem para as pessoas.

4 TERAPIA ASSISTIDA POR GOLFINHOS

A DAT geralmente é realizada em parques marinhos ou cativeiro (delfinários), envolvendo natação ou interação com golfinho (MARINO; LILIENFELD, 2007; HUMPHRIES, 2003), e existe uma minoria de programas que utilizam unicamente a interação com golfinhos selvagens.

Existem diversos tipos de abordagens e programas, que envolvem diferentes objetivos e metodologias, dependendo do local onde é realizada a terapia e da necessidade de cada paciente. Segundo Rossiter (1998), é difícil quantificar quantas operações de DAT existem, quantos golfinhos estão envolvidos, em que tipo de condições são mantidos, e o número dos que não sobrevivem.

Os programas de DAT têm sido alvo de atenção por parte da mídia popular, como televisão, filmes informativos e internet, aumentando deste modo, a sua popularidade (HUMPHRIES, 2003). Formalmente a DAT começou em 1970, tendo crescido como um

negócio altamente lucrativo, com instalações por todo o mundo. Contudo, as afirmações feitas por estas instalações acerca da eficácia desta terapia têm sido matéria de pouco ou nenhuma avaliação científica (MARINO; LILIENFELD, 2007) e a maioria dos estudos realizados, são feitos por quem opera esses programas e outros de natação com golfinhos (HUMPHRIES, 2003), sendo assim, acreditamos que os resultados podem não ser imparciais, o que remete que estas investigações deveriam ser realizadas por pesquisadores independentes. 

A maioria dos estudos publicados em revistas científicas sobre a eficácia da DAT sugere resultados positivos como: aumento da capacidade de concentração; motivação e habilidades de linguagem, mais rapidamente e economicamente do que outras terapias convencionais e produzem efeitos positivos que se mantêm a longo prazo (NATHANSON et al., 1997; NATHANSON, 1998). Outros estudos apontam que a DAT tem efeitos positivos na aprendizagem de crianças autistas (SERVAIS, 1999), melhorias no comportamento de crianças com sintomas de doenças psiconeurológicas (LUKINA 1999) e que pode ajudar no alívio da dor e do tratamento da dermatite atópica (LIKURA et al., 2001), no tratamento da ansiedade (WEBB; DRUMMOND, 2001) e da depressão (ANTONIOLI; REVELEY, 2005).

No entanto Marino; Lilienfeld (1998, 2007) analisaram metodologicamente todos os artigos publicados em revistas científicas, disponíveis até 1998 e, posteriormente, até 2007. Focaram a sua revisão em artigos revisados por pares porque presumivelmente estes artigos representam a melhor evidência da eficácia da DAT. Concluíram que todos os estudos não respeitaram vários critérios importantes para validação, não fornecendo as evidências científicas credíveis sobre a eficácia desta intervenção.

As duas únicas publicações sobre os efeitos terapêuticos da DAT, até 1998 foram: Nathanson et al. (1997), que compararam duas semanas de DAT com seis meses de fala e fisioterapia em indivíduos com múltiplas deficiências. Cada participante realizou seis meses de terapia convencional antes da DAT e recebeu 16 ou 17 sessões durante um programa DAT de duas semanas, alegaram um aumento significativo na motivação, habilidade motora, atenção e linguagem. Os resultados mostraram que antes da DAT, 0% das crianças conseguiam a resposta alvo independente e após a DAT 57-71% conseguiam, portanto argumentado que apoiavam a DAT como um tratamento eficaz para indivíduos com incapacidades graves. 

Nathanson (1998) examinou os efeitos de longo prazo da DAT e descobriu que os aumentos de funcionamento foram mantidos ou melhorados dentro de um ano. O autor enviou

137 questionários para avaliar os efeitos de longo prazo da DAT, dos quais 71 foram devolvidos (52%). Após o DAT, era esperado que as crianças retornassem e continuassem com suas terapias convencionais (terapia ocupacional, de fala e física, acompanhamento dos pais e serviços de educação especial). De acordo com os questionários retornados, os clientes DAT aumentaram a quantidade de tempo em que participaram e se beneficiaram de suas terapias convencionais em mais de 50%. Este estudo demonstrou que duas semanas de terapia foram significativamente mais efetivas do que uma semana e que seu modelo de DAT (Dolphin Human Therapy) mostrou efeitos benéficos em longo prazo para aproximadamente 95% das crianças tratadas.

Sobre os mesmos, Marino; Lilienfeld (1998) encontraram várias razões pelas quais ambos os estudos, devem ser interpretados com cautela devido às falhas metodológicas que ameaçavam sua validade científica, e ainda que seus resultados não eram interpretáveis e suas conclusões injustificadas e prematuras. Estas falhas incluem a ausência de grupos de controle ou de comparação adequada, dados registrados e analisados de forma agregada, isto é, não apresentaram nenhum resultado ou análise de forma individual, efeitos não específicos da DAT (nomeadamente o efeito placebo que consiste na deriva da expectativa de melhoria dos participantes, e o efeito novidade que são os efeitos gerais de uma nova experiência), métodos analíticos que não permitem apurar se alguma criança foi prejudicada com a intervenção, instrumentos de avaliação imprecisos e influenciáveis, com questões apenas sobre os efeitos positivos da DAT.

De 1999 até 2005 foram publicados mais cinco artigos em revistas científicas:

Antonioli; Reveley (2005), Likura et al. (2001), Lukina (1999), Servais (1999) e Webb; Drummond (2001). Marino; Lilienfeld (2007), concluíram que todos os estudos apresentavam várias falhas metodológicas, especificamente no que se refere a duas ameaças para a validação, que são efeitos não específicos e constrangimento, derivados de um inadequado controle experimental. Mencionam ainda que, com exceção do estudo de Antonioli; Reveley (2005), nenhum dos outros utilizaram instrumentos de avaliação validados, não aplicaram testes estatísticos apropriados e não houve estudos de longo-prazo que permita confirmar as melhorias reportadas a curto-prazo. Além disso, acrescentam também que a DAT levanta várias questões éticas acerca do bem estar dos golfinhos e humanos.

O estudo conduzido por Antonioli; Reveley (2005) avaliou os efeitos da natação com golfinhos entre indivíduos com níveis de depressão leve a moderada e ansiedade. Um grupo controle composto por indivíduos com depressão leve a moderada foi usado para comparar os efeitos do DAT no grupo experimental. Todos tiveram que parar de tomar qualquer medicação (antidepressivo) ou receber psicoterapia quatro semanas antes de iniciar o estudo. Os autores conduziram avaliações pré e pós-tratamento de depressão com a Escala de Avaliação de

Hamilton e o Inventário de Depressão de Beck, e mediram a ansiedade com a Escala de Ansiedade de Autorregulação de Zung. Os resultados mostraram que os indivíduos que foram capazes de nadar com os golfinhos, relataram uma melhora significativa nos escores de depressão em comparação com o grupo de controle que nadou sem golfinhos.

Segundo Marino; Lilienfeld (2007), no estudo conduzido por Antonioli; Reveley (2005) os pesquisadores designaram aleatoriamente indivíduos para controlar e grupos experimentais, eles utilizaram pré e pós-testes com avaliadores cegos, e incorporaram instrumentos de avaliação validados. Apesar disso, foram encontradas muitas limitações para o estudo:

1) os participantes não ficaram cegos para a condição, o que faz com que as características de demanda possam ter influenciado as respostas dos participantes;

2) não houve controle dos possíveis efeitos de placebo ou novidade na interação com um animal exótico;

3) o estudo baseou-se em medidas de auto-relato de depressão, e os participantes que não estavam cegos para a condição, poderiam ter recordado sua melhora;

4) nenhum estudo de acompanhamento foi realizado, significando que as diferenças entre os grupos controle e experimental só podem ser explicadas pelas diferentes condições no momento do teste;

5) nada foi feito para controlar a “desmoralização ressentida”, que se refere a quando um participante percebe que está recebendo um tratamento menos benéfico e fica ressentido, podendo afetar suas respostas. De acordo com Antonioli; Reveley (2005), eles controlavam essa desmoralização, permitindo que os participantes do grupo de controle nadassem com os golfinhos após a avaliação final. No entanto, uma vez que ocorreu após a avaliação final, não há razão para acreditar que a “desmoralização ressentida” não foi uma ameaça.

Likura et al. (2001) analisaram os efeitos do DAT em pacientes com dermatite atópica (condição da pele). Havia dois grupos de pacientes, um grupo recebeu apenas terapia com água do mar e o outro grupo incluiu além da terapia com água do mar nadar com golfinhos, ambos tiveram duas sessões de 90 minutos durante seis dias. O propósito do uso dos golfinhos foi distrair e ajudar os pacientes a relaxar, minimizando o estresse e a dor sentida pelos pacientes que sofrem com alterações na pele após o contato com a água do mar, o que dificulta a permanência por períodos prolongados. As condições de pele dos pacientes em ambos os grupos melhoraram, no entanto, o bem-estar psicológico (nível de dor e estresse experimentado) do grupo que nadou com golfinhos foi significativamente melhor que o grupo sem golfinhos.

Para Marino; Lilienfeld (2007) o estudo apresenta falta de detalhes, dados sobre o que é a terapia com água do mar para pacientes com dermatite atópica e os componentes metodológicos do estudo também estavam ausentes, o que torna impossível atribuir apoio confiável para a eficácia da DAT. As conclusões feitas pelos autores são subjetivas e vagas.

Em outro estudo, Lukina (1999) avaliou os efeitos do DAT no funcionamento psiconeurológico de crianças com várias doenças em comparação com crianças saudáveis, utilizando um único projeto pré e pós-teste em grupo. Os participantes incluíram 57 crianças saudáveis, 30 com neurose infantil, 25 com retardo mental e autismo, 35 crianças com outras doenças não especificadas. Cada criança nadou com os golfinhos por 10 a 15 minutos, durante 5 a 10 sessões. Os resultados indicaram que os ritmos cardíacos para cada grupo aumentaram após nadar com os golfinhos, e apoiaram o fato de que a redistribuição de dominantes psicoemocionais abre possibilidades para medidas de psicoterapia e reabilitação.

De acordo com Marino; Lilienfeld (2007), Humphries (2003) uma grande falha no estudo de Lukina (1999) foi: 1) à falta de uma definição clara do que seja “psicoemocionais” ou como eles estão relacionados a mudanças nos ritmos cardíacos; 2) a alegação que a DAT reduziu a depressão, as fobias noturnas, a histeria e a enurese para as crianças do grupo da “neurose infantil”, no entanto, não havia dados para apoiar esses resultados, e não foi mencionado quais foram os instrumentos de avaliação; 3) a psicoterapia também fazia parte da terapia, portanto, atribuir todos os efeitos positivos a DAT é impossível, porque os diferentes componentes do tratamento nunca foram avaliados independentemente; 4) não houve grupo controle das crianças que não nadaram com golfinhos, embora tenha havido um grupo de comparação de crianças sem grandes diagnósticos, o que torna o estudo difícil de interpretar e com razões claras para questionar sua validade.

O estudo conduzido por Servais (1999) envolveu dois experimentos, o primeiro incluiu dois grupos de controle e um grupo de golfinhos experimental. Cada grupo consistia de três crianças com autismo que foram ensinadas a mesma tarefa cognitiva. Um dos grupos de controle foi conduzido em sala de aula por um professor especializado e o outro grupo realizou uma tarefa semelhante nos computadores. No grupo experimental, as crianças interagiram com os golfinhos, sob a supervisão de um treinador. O segundo experimento consistiu de um grupo de golfinhos e apenas um grupo de sala de aula, todos os grupos em cada experimento primeiro foram submetidos à pré-testes, seguidos por 10-15 sessões de aprendizagem em que as tarefas cognitivas foram ensinadas em cada um dos grupos, posteriormente foi administrado um pós-teste. Os resultados mostraram que as crianças do primeiro grupo experimental tiveram melhor desempenho que as crianças de um grupo controle, enquanto que o segundo grupo experimental não apresentou melhor desempenho que o grupo controle. Segundo a autora os resultados positivos se deviam as crianças do primeiro grupo experimental estabeleceram uma ligação social com os experimentadores.

Servais (1999) também é prejudicado por falhas metodológicas e práticas que colocam a validade em questão. Algumas vezes, durante o estudo, no intuito de aumentar a exposição aos golfinhos, os humanos receberam respostas corretas para as tarefas cognitivas

(HUMPHRIES, 2003). De acordo com Marino; Lilienfeld (2007), a autora não declarou explicitamente se os pré e pós-testes eram os mesmos entre os grupos, tornando impossível descartar efeitos de instrumentação, além de incluir expectativa do experimentador e características de demanda, já que a autora era a única pessoa que codificava os resultados comportamentais. As crianças do primeiro grupo de golfinhos melhoraram e tiveram um desempenho significativamente melhor do que as do segundo grupo de golfinhos, mas nenhuma outra diferença foi relatada entre os grupos no primeiro experimento. 

Webb; Drummond (2001) investigou os efeitos psicológicos da DAT sobre o bem-estar e ansiedade em um parque marinho na Austrália. O estudo de bem-estar constituía-se de um grupo experimental, que nadou com quatro golfinhos em grupos de quatro por 25-30 minutos, enquanto o grupo controle nadou em uma praia sem a presença dos golfinhos. O grupo experimental de ansiedade nadou por 20-30 minutos com golfinhos selvagens, e o grupo controle nadou depois que os golfinhos saíram. Ambos os participantes preencheram um questionário de auto-relato para examinar os níveis de bem-estar antes e depois de nadar. Nos resultados do estudo de bem-estar, o grupo experimental classificou seu bem-estar mais alto que o grupo controle antes do tratamento, segundo os autores devido à antecipação positiva de nadar com golfinhos, e os dois grupos aumentaram após o tratamento, porém, após uma análise de covariância foi descoberto que não houve efeito significativo de nadar com golfinhos no bem-estar. No estudo de ansiedade, não houve diferenças expressivas no pré-tratamento entre os grupos, e ocorreu diminuição no pós-teste do grupo experimental, devido à experiência nova e a própria natação que podem aumentar o bem-estar.

Marino; Lilienfeld (2007) apontam vários problemas nas comparações entre o grupo experimental e controle no estudo de Webb; Drummond (2001), como a possibilidade de haver mais pessoas na água acompanhando o grupo experimental, uma vez que havia grupos de pessoas esperando na praia para nadarem com os golfinhos, além de não haver comparação entre os dois grupos nessa dimensão. Apontam também que podem ter experimentado um contágio emocional de sentimentos positivos, se todos os participantes estivessem nadando juntos durante o encontro com os golfinhos, e poderia esse ser o fator da diminuição da ansiedade. Além de não apresentarem informações de como os participantes interagiram com os golfinhos, o que impede de determinar qual tipo de tratamento o grupo experimental foi exposto.

Assim como Marino; Lilienfeld (2007) sugerem, julgamos que a validade dos estudos é consistentemente ameaçada uma vez que não há provas de que a DAT tenha mais sucesso do que qualquer outra terapia assistida por animais, ou que seja um tratamento bem sucedido a longo prazo. Acreditamos ainda que alguns fatores como: estar na água, nadar ao ar livre, estar em um país diferente ou em um lugar novo, são variáveis que podem influenciar os resultados.

Outro fator, é que “os golfinhos utilizados na DAT são mantidos em cativeiro ou fazem parte de uma população selvagem e podem sofrer de confinamento e/ou perturbação humana. Isto dá origem a uma série de preocupações sobre os impactos da DAT nas pessoas e nos golfinhos” (WHALE AND DOLPHIN CONSERVATION SOCIETY, 2017, p.3). Além disso, há alternativas disponíveis, a um custo financeiro muito menor e sem os potenciais impactos prejudiciais para os golfinhos e para as pessoas envolvidas.

Humphries (2003) também realizou uma análise crítica semelhante acerca de estudos da DAT realizados em crianças com necessidades especiais, com idade cronológica ou de desenvolvimento de até seis anos. Encontrou seis estudos (LUKINA, 1999; NATHANSON, 1989, 1998; NATHANSON et al. 1997; NATHANSON; DE FARIA, 1993; SERVAIS, 1999). Concluiu que os resultados dos estudos sobre a eficácia da DAT na modificação do comportamento de crianças pequenas com deficiência, não estão apoiados pelas investigações disponíveis e seus resultados não apoiam a ideia de que usar a interação com golfinhos é mais eficaz do que outros reforços para melhorar a aprendizagem das crianças ou o seu desenvolvimento sócio-emocional. Verificou-se que em todos os estudos houve falta de controle experimental, negligenciando adequadamente o controle para as principais ameaças a validação e falta de explicações alternativas para os resultados. Acrescenta, ainda, que há pais de crianças com deficiência que pagam preços muito elevados pela DAT, mas que não existem, até esta data, evidências de pesquisa disponíveis que suportem o uso desta prática. Portanto, como todos os seis estudos revisados careciam de controles experimentais, acreditamos que os resultados desses estudos não poderiam ser conclusivamente atribuídos à intervenção da DAT.

Brensing; Linke; Todt, (2003) realizaram um estudo para verificar a hipótese de Cole (1996) e Birch (1997), que afirmam que o ultrassom emitido pelos golfinhos através de cliques de ecolocalização pode ter um efeito curativo, estimulando positivamente o sistema endócrino e neural dos humanos através de um efeito mecânico, alterando o tecido corporal e a estrutura celular do indivíduo. Brensing; Linke; Todt, (2003) procuraram comparar o ultrassom gerado artificialmente e utilizado em tratamentos médicos, com o ultrassom gerado pelos golfinhos. A utilização do ultrassom terapêutico em tratamentos médicos requer aplicações repetidas, com certa intensidade e duração. Segundo os autores, é possível a aplicação repetida na terapia com golfinhos uma vez que esta normalmente dura vários dias ou mesmo semanas e a intensidade pode ser suficiente. Para que a duração de aplicação seja comparável ao ultrassom terapêutico utilizado em tratamentos médicos, os pacientes teriam de estar expostos ao ultrassom dos golfinhos direcionados a eles durante 2 minutos por sessão. 

Foram realizadas observações durante oito meses, visando analisar a hipótese se um ou mais golfinhos demonstravam um comportamento que resulta na exposição dos pacientes ao ultrassom em doses comparáveis à medicina. Observaram se os golfinhos mantêm as cabeças apontadas na direção do paciente, durante alguns minutos por sessão e repetindo este comportamento durante várias sessões. Analisaram apenas o comportamento dos golfinhos não treinados, para verificarem seu comportamento natural e auto-motivador, (BRENSING; LINKE; TODT, 2003).

Os autores não concordam com a hipótese de Cole (1996) e Birch (1997), concluindo que o tempo de aplicação por paciente não era suficientemente longo comparado com o ultrassom terapêutico utilizado em medicina humana, e que o ultrassom dos golfinhos pode atravessar toda a piscina onde se encontravam os golfinhos e os pacientes, tornando a proximidade dos golfinhos aos humanos irrelevante para que se verificasse a duração necessária de exposição ao ultrassom.

Diante da complexidade na investigação do estudo de Brensing; Linke; Todt, (2003), este campo deve ser investigado, para esclarecer se existe alguma relação entre o efeito do ultrassom do golfinho e a resposta neurológica dos seres humanos, ou se as alterações verificadas por Cole (1996) e Birch (1997) nos eletroencefalogramas (EEG) ocorrem devido ao entusiasmo que o golfinho pode causar nos seres humanos. Pois, como se referem Marino; Lilienfeld (2007) não existem, até à data, evidências científicas de que o sonar pode curar nem de que os golfinhos utilizam o sonar nos humanos de forma consistente.

Os principais estudos relativos as alegações favoráveis dos benefícios da terapia assistida por golfinhos, assim como as possíveis  ameaças a validade utilizados nesta revisão, encontram-se sintetizados na tabela que segue (Tabela 1). Esse tipo de organização de informações pode contribuir para estudos futuros, pois evidencia os aspectos aos quais os autores têm dedicado maior atenção.

Tabela 1 : Síntese dos estudos sobre os benefícios e as críticas da DAT citados nessa revisão

Na (Tabela 2) apresentamos algumas vantagens e desvantagens da DAT, em dois tipos de programas: nadar com golfinhos mantidos em cativeiro e nadar com os golfinhos selvagens. 

Tabela 2 : Vantagens e desvantagens da DAT sobre nadar com os golfinhos selvagens e em cativeiro. Adaptado de FROHOFF; PACKARD, 1995

5 CONCLUSÃO

Os animais desempenham papéis de extrema importância na natureza e na sociedade, e a interação homem/animal há muito vem nos trazendo benefícios. Cabe a nós humanos cuidar desses “terapeutas”, respeitando-os e protegendo-os, pois como afirma (ZAMIR, 2006), a base moral da TAA visa garantir o direito dos animais, promover seu bem-estar levando em consideração se são usados ou explorados, não devendo ser manipulados, nem forçados a gostar de visitas. 

A DAT é uma terapia recente e embora uma série de estudos ateste seu sucesso, consideramos que há necessidade de novas pesquisas, uma vez que esta forma de terapia é vista, ainda, com alguma dúvida por parte da comunidade científica, e vem cada vez mais sendo aplicada em vários países e em muitos pacientes. Não podemos esquecer, conforme afirma (SMITH, 2003) que não há evidências científicas de que a DAT seja mais eficaz do que outras terapias. 

Julgamos importante uma investigação mais aprofundada para comparar os diferentes tipos de programa de terapia com animais, como cavalos ou cães que apresentam diversos benefícios semelhantes. Visto que, Smith (2003) realizou uma pesquisa pioneira sobre interações de golfinhos com crianças autistas no ambiente semi-aquático, e acabou terminando sua pesquisa por concluir que havia muitas terapias excelentes, incluindo o trabalho com animais domésticos, fornecendo as mesmas histórias de sucesso.

A DAT apresenta uma série de questões éticas e algumas ameaças físicas, tanto para as pessoas quanto para os golfinhos, com isso ressaltamos a necessidade de regulamentação, certificação e registro oficial do golfinho como co-terapeuta, além de definir quais as condições (se houver) em que a terapia com golfinhos deve ser realizada. Devendo, no entanto, ser alvo de uma melhor investigação que verifique a sua validade e replicação. Além disso, acreditamos que a interação em águas livres ou zonas vedadas seja mais favorável para a investigação, contudo é importante se atentar ao comportamento padrão dos golfinhos selvagens, especificamente durante a terapia, para que se possa evitar algumas formas de reação. Também é importante que estabeleça regras para a aproximação das embarcações, para que não ocorra alteração no comportamento dos golfinhos.  Deverá haver junção de equipe multidisciplinar, com profissionais especializados que trabalhem articuladamente entre si, e estudem o comportamento do golfinho, paciente e resultados da terapia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA (ANDE-BRASIL). O método.Brasília,[1999?]. Disponível em: < http://equoterapia.org.br/articles/index/article_detail/142/2022>. Acesso em: 22 fev. 2019.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA (ANDE-BRASIL). Curso básico de equoterapia. Brasília, 2004.

ANTONIOLI, C.; REVELEY, M. Randomised controlled trial of animal facilitated therapy with dolphins in the treatment of depression. British Medical Journal,[S.I]. v.331, p.1-4, 2005.

AMERICAN VETERINARY MEDICAL ASSOCIATION (AVMA). Animalassisted interventions: guidelines.EUA,2007.Disponível em:<https://www.avma.org/KB/Policies/Pages/Animal-Assisted-Interventions-Guidelines.aspx>. Acesso em: 19 fev. 2019.

BEL’KOVICK, V. M. Herd structure, hunting, and play: Bottlenose dolphins in the Black Sea. In: PRYOR, K.; NORRIS, K. S. Dolphin societies: discoveries and puzzles. Berkeley: Oxford University of California Press, 1991. p. 17-78.

BIRCH, S. Dolphin–human interaction effects. 1997. Doctor Thesis, (Department of Electrical & Computer Systems Engineering) – Monash University, Caulfield Campus, 1997.

BRAKES, P.; WILLIAMSON, C. (Org.). Dolphin Assisted Therapy: Can you put your faith in DAT?. England. [s.i.]. 2007. 21p.   

BRENSING, K.; LINKE, K.; TODT, D. Can dolphins heal by ultrasound? Journal of Theoretical Biology. Berlin, v. 225, n. 1, p. 99–105, 2003.

CINTRA, A.G.C. O Cavalo: Características, Manejo e Alimentação. São Paulo: Roca, 2011.

COLE, D. M. Phenomenological effect of dolphin interaction on humans.  In:

INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON DOLPHIN HEALING. 1996. Co-hosted by the AquaThought Foundation. 1996. p. 1-7.

CURRY, B. E. Stress In mammals: fishery-induced stress on dolphins in the eastern Tropical Pacific Ocean. U.S. [s.i.]. 1999. 132p.

DI BENEDITTO, A. P. M.; SICILIANO, S.; RAMOS, R. M. A. Introdução à Biologia dos Cetáceos. In:______. Cetáceos: Introdução à Biologia e a Metodologia Básica para o desenvolvimento de estudos. 21. ed. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2010. p. 13-35.

DIAS, I. M. G. et al. Formação e estrutura populacional do equino Brasileiro de Hipismo. Brazilian Journal of Veterinary and Animal Sciences, Belo Horizonte, v. 52, n.6, p. 647654, 2000.

DILTS, R.; TROMPISCH, N.; BERGQUIST, T. M. Dolphin-assisted therapy for children with special needs: A pilot study. Journal of Creativity in Mental Health, [S.I]. v. 6, n. 1, p. 56– 68, 2011. 

DOS SANTOS, M.E. Aspéctos acústicos do comportamento dos golfinhos. [S.I.: s.n.], v.7, n.1-3, p. 133-147, 1989.

DOTTI, J. Terapia & Animais. São Paulo: Livrus, 2014. p 304.

FROHOFF, T. G.; PACKARD, J. M. Human interactions with free-ranging and captivebottlenose dolphins. Anthrozoös, [S.I.]. v. 8, n. 1, p. 44-53, 1995. 

HETZEL, B.; LODI, L. Baleias, Botos e Golfinhos: guia de identificação para o Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. p. 279.

HORWITZ, D. F.; NEILSON, J. C. Comportamento canino & felino. Porto Alegre: Artmed, 2007. 662 p.

HUMPHRIES, T.L. Effectiveness of dolphin-assisted therapy as a behavioral intervention for young children with disabilities. Research and Training Center on Early Childhood Development, [S.I.]. v. 1, n. 6, p. 1-9, 2003.

HUNT, T.D. et al. Health risks for marine mammal workers. Diseases of Aquatic Organisms. [S.I.], v. 81, p. 81-92, 2008. 

IANNUZZI, D.; ROWAN, A. Ethical issues in animal-assisted therapy programs. Anthrozoos, [S.I], v. 4, n. 3, p. 154-163, 1991.

INTERNATIONAL MARINE MAMMAL PROJECT (IMMP). [Capture and export of whales and dolphins]. Berkeley. [2017?]. Disponível em: <http://savedolphins.eii.org/campaigns/dwp/swim.htm>. Acesso em: 8  fev. 2019.

INSTITUTO DE PESQUISA CANANÉIA (IPEC). Guia ilustrado de mamíferos marinhos do Brasil. São Paulo: Câmara Brasileira do Livro, 2013. 106p.

JIANG, Y.; LUCK, M.; PARSONS, E.C.M. Public awareness, Education, and marine mammals in captivity. Tourism Review International, v. 11, p. 237-249, 2008.

KENNEDY-STOSKOPF, S. Viral Diseases. In: DIERAUF, L. A. ; GUILLAND, F. M.D. CRC Handbook of Marine Mammal Medicine. 2. ed. London: CRC Press, Boca Raton, 2001. cap. 15.

LIKURA, Y. et al. Dolphin-assisted seawater therapy for severe atopic dermatitis: an immunological and psychological study. International Archives of Allergy and Immunology, [S.I.], v. 124, n.1-3, p. 389-390, 2001.

 LIMA, A. da S.; SOUZA, M.B. Os benefícios apresentados na utilização da terapia assistida por animais : revisão de literatura. Revista Saúde e Desenvolvimento, v.12, n.10, p. 224-241, 2018.

Lukina, L.N. Influence of dolphin-assisted therapy sessions on the functional state of children with psychoneurological symptoms of diseases. Human Physiology, v.25, n. 6, p. 676-679, 1999.

LUSSEAU, D.; NEWMAN, M. E. J. Identifying the role that animals play in their social networks. The Royal Society, v. 271, p. S477-S481, 2004.

MAYER, S. A review of the scientific justification for maintaining cetaceans in captivity, [S.I.: s.n.], 1998. p. 1-46.

MARINO,L.; LILIENFELD, S.O. Dolphin-assisted therapy: flawed data, flawed conclusions. Anthrozoos, USA, v. 11, p. 194- 200, 1998.

MARINO,L.; LILIENFELD, S.O. Dolphin-assisted therapy: more flawed data and more flawed conclusions. Anthrozoos, Atlanta, v. 20, n. 3, p.239-249, 2007.

McKINNEY, A.; DUSTIN, D.; WOLFF, R. The promise of dolphin-assisted therapy. Parks & Recreation, Flórida, v.36, n.5, p.46-50, 2001.

MENEGAZZO, A.D. et al. Influência da cinoterapia e perfil do animal durante exercícios fisioterapêuticos na Síndrome de Smith Lemli Optiza. FisiSenectus, v. 3, n. 1, p. 29-37, 2015. MONTEIRO FILHO, E. L. de A. et al. Ordem Cetacea. In: REIS, N. R. et al. Mamíferos do Brasil. Londrina: Nelio R. Reis, 2006. p. 305-341.

NATHANSON, D.E.; DE CASTRO, D.; FRIEND, H.; MCMAHON, M. Effectiveness of short-term dolphin-assisted therapy for children with severe disabilities. Anthrozoos. Miami, v. 10, n. 2-3, p. 90–100, 1997. 

NATHANSON, D. E.; DE FARIA, S. Cognitive improvement of children in water with and without dolphins. Anthrozoos, v. 6, p.17-29, 1993.

NATHANSON, D.E. Long-term effectiveness of dolphin-assisted therapy for children with severe disabilities. Anthrozoos: A multidisciplinary journal of the interactions of people and animals, Miami, v. 11, n.1, p. 22-32, 1998.

NATHANSON, D. E. Using Atlantic bottlenose dolphins to increase cognition of mentally retarded children. In: LOVIBOND, P.F.; WILSON, P.H. Clinical and abnormal psychology. Amsterdam: North Holland, 1989. p. 233-242.

NOWAK, R. M. Walker’s mammals of the word. Baltimore: Johns Hopkins University Press,1999. 2015p.

ONE VOICE. Les dauphins en captivité: une experience ratée. France, 2007. 33p. ORAMS, M. B. Historical accounts of human-dolphin interaction and recent developments in wild dolphin based tourism in Australasia. Tourism Management. Great Britain, v. 18, n. 5, p. 317-326, 1997.

PINEDO, M. C.; ROSAS, F. C. W.; MARMONTEL, M. Cetáceos e Pinípedes do Brasil: uma revisão dos registros e guia para identificação das espécies. Manaus: UNEP/FUA, 1992. p. 213p.

RAMOS, D. G. et al. Principais características biológicas. In: ______. Os animais e a psique. 2. ed. São Paulo: Summus, 2005. p. 75-111.

RIBEIRO, A. F. de A. Cães domesticados e os benefícios da interação. Revista Brasileira de Direito Animal, [São Paulo], v. 6, n.8, p. 249-260, 2011.

ROSSITER, W. Sociedade Internacional de Cetáceos. v. 7, n.2, 1998. Disponível em: < http://csiwhalesalive.org/csi98207.html>. Acesso em: 20 jan. 2019.

SAMUELS, A.; GIFFORD, T. A quantitative assessment of dominance relations among dolphins. Marine Mammal Science, v. 13, n. 1, p. 70-99, 1997.

SAMUELS, A.; SPRADLIN, T.R. Quantitative behavioral study of bottlenose dolphins in swim-with-dolphin programs in the United States. Marine Mammal Science, v. 11, n. 4. p. 520-544, 1995.

SANTOS, K. C. P. T. Terapia assistida por animais: uma experiência além da ciência. São Paulo: Paulinas, 2006. 64p.

SERVAIS, V. Some comments on context embodiment in zootherapy: the case of the Autodolfijn project. Anthrozoos, v.12, n.1, p. 5-15, 1999.

SEW, G.; TODD, P. The effects of human-dolphin interaction programmes on the behaviour of three captive Indo-Pacific humpback dolphins (Sousa chinensis). Raffles Bulletin of Zoology,Singapore, v. 61, n. 1, p. 435-442, 2013.

SILVA, C. N. et al. Cinoterapia: uma terapia para pessoas com necessidades especiais. O Adjunto: Revista Pedagógica da Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos das Armas, Cruz Alta, v. 4, p. 161-166, 2018.

SMALL, R.J.; DEMASTER, D.P. Acclimation to captivity: A quantitative estimate based on survival of bottlenose dolphins and Californian Sea Lions. Marine Mammal Science, v. 11, n. 4, p. 510-519, 1995.

SMITH, B. The discovery and development of dolphin-assisted therapy. In: FROHOFF, T.; PETERSON, B. Between Species: Celebrating the Dolphin-Human Bond. San Francisco: Sierra Club Books, 2003. p.239-256.

SWEENEY, J. C. Marine mammal behavioral diagnostics. Marine Mammal Science,Boston, p. 53-72, 1990. 

UNITED STATES. NATIOAL MARINE FISHERIES SERVICE. Final environmental impact statement on the use of marine mammals in Swim-with-the-Dolphin-Programs.Silver Spring, Maryland: Office Protected Resources,1990.

WALTER, G. B.; VENDRAMINI, O. M. Equoterapia: terapia com uso do cavalo. Viçosa: CPT/CEE-UFV, 2000. Manual.

WEBB, N. L.; DRUMMOND, P. D. The Effect of Swimming with Dolphins on Human WellBeing and Anxiety. Anthrozoos, v.14, p. 81-85, 2001.

WHALE AND DOLPHIN CONSERVATION SOCIETY (WDCS). Dolphin therapy in the

headlines. 2007. Disponível em: <https://us.whales.org/>. Acesso em: 17 jan. 2019. ZAMIR, T. The moral basis of ani-mal-assisted therapy. Society and Animals, v.14, n.2, p.179- 199, May 2006.


¹Departamento de Ciências Biológicas, Instituto de Ciências Exatas, Naturais e Educação,Universidade Federal do Triângulo Mineiro, 38025-440, Uberaba, MG, Brazil.
²Departamento de Hidrobiologia, Centro de Ciências Biológicas Saúde,Universidade Federal de São Carlos, 13565-905, São Carlos, SP, Brazi.