EFEITO CRÔNICO DA PRÁTICA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS NOS SINTOMAS DE ANSIEDADE E NA QUALIDADE DO SONO EM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO

CHRONIC EFFECT OF PHYSICAL EXERCISE ON ANXIETY SYMPTOMS AND SLEEP QUALITY IN UNIVERSITY STUDENTS: A BIBLIOGRAPHIC STUDY

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202505090720


João Victor Leite Meireles1
Francisca Geovana de Oliveira Sousa2
Leyla Regis e Meneses Sousa Carvalho3


RESUMO

Introdução: A ansiedade é uma condição multifatorial que compromete o estado emocional e funcional do indivíduo, sendo caracterizada por alterações no humor, inquietação, sensação de medo e prejuízos significativos ao sono. No contexto universitário, fatores como sobrecarga de tarefas, exigências acadêmicas, insegurança profissional e privação de sono favorecem o desenvolvimento de quadros ansiosos e comprometem a qualidade de vida dos estudantes. Objetivo: Analisar o efeito crônico da prática de exercícios físicos nos sintomas de ansiedade e na qualidade do sono em estudantes universitários. Método: Trata-se de uma revisão bibliográfica do tipo integrativa, com abordagem qualitativa, realizada nas bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), PubMed e Scientific Electronic Library Online (SciELO), utilizando de forma isolada e/ou combinada os descritores relacionados à ansiedade, sono e exercício físico em universitários. Resultados: Os dados apontaram que a prática regular de exercícios físicos, especialmente os de intensidade moderada e de natureza aeróbica, contribui para a redução significativa dos sintomas de ansiedade e para a melhoria da qualidade do sono entre estudantes do ensino superior. Considerações: Neste sentido, a prática de exercícios físicos configura-se como uma estratégia não farmacológica eficaz, trazendo benefícios comprovados para a saúde mental, o desempenho acadêmico e o bem-estar geral dos universitários.

Palavras-Chave: Ansiedade. Exercício físico. Sono. Universitários.

ABSTRACT

Introduction: Anxiety is a multifactorial condition that compromises the emotional and functional state of individuals, being characterized by mood swings, restlessness, fear, and significant impairments in sleep. In the university context, factors such as academic overload, performance pressure, insecurity about the future, and sleep deprivation contribute to the emergence of anxiety and decrease students’ quality of life. Objective: To analyze the chronic effect of physical exercise on anxiety symptoms and sleep quality in university students. Method: This is an integrative literature review with a qualitative approach, conducted through the databases: Virtual Health Library (BVS), PubMed, and Scientific Electronic Library Online (SciELO), using isolated and/or combined descriptors related to anxiety, sleep, and physical activity in university students.
 Results: The data indicated that regular physical activity, especially moderate-intensity aerobic exercises, significantly reduces anxiety symptoms and improves sleep quality among university students. Considerations: Therefore, physical exercise is configured as an effective non-pharmacological strategy, bringing proven benefits to mental health, academic performance, and general well-being of the academic population.

Keywords: Anxiety. Exercise. Sleep. University students.

1 INTRODUÇÃO

A ansiedade pode ser definida como um estado emocional caracterizado por sentimentos de tensão, preocupação excessiva e alterações físicas, como aumento da frequência cardíaca e respiração acelerada. Trata-se de uma reação natural do organismo diante de situações percebidas como ameaçadoras, mas, quando recorrente ou desproporcional, passa a configurar um transtorno que compromete significativamente o bem-estar e a funcionalidade do indivíduo (CORREA et al., 2022).

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) (2017) aproximadamente 9,3% dos brasileiros sofrem de transtornos de ansiedade, sendo o Brasil o país com maior prevalência mundial, sendo esse número mais preocupante entre os universitários. Um estudo conduzido por Fragelli e Fragelli (2021) aponta que até 80% dos estudantes universitários apresentam níveis elevados de estresse e sintomas de ansiedade ao longo da graduação, além disso, segundo pesquisa de Castro et al. (2021), a insônia, frequentemente associada à ansiedade, atinge aproximadamente 60% dos universitários, interferindo no rendimento acadêmico e na saúde mental.

Os sintomas da ansiedade incluem inquietação, fadiga, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular e distúrbios do sono (CORREA et al., 2022), estes sinais, muitas vezes silenciosos, comprometem a rotina dos estudantes e dificultam o enfrentamento das exigências acadêmicas. A insônia, por sua vez, afeta processos cognitivos fundamentais, como memória, atenção e tomada de decisões gerando um ciclo vicioso de exaustão física e emocional (BARROS; SOUSA, 2022).

Entre os principais fatores que contribuem para o aumento da ansiedade em universitários estão as exigências acadêmicas intensas, o acúmulo de tarefas, as cobranças por desempenho, as incertezas sobre o futuro profissional, problemas financeiros e a pressão familiar e social (BOTTOLI et al., 2022; ALVES et al., 2021). A rotina desses jovens é marcada por prazos apertados, noites mal dormidas, alimentação irregular e pouca atividade física, o que agrava ainda mais os níveis de estresse e compromete a saúde mental (FRAGELLI; FRAGELLI, 2021).

Nesse contexto, destaca-se o papel do exercício físico como uma importante estratégia não farmacológica no enfrentamento da ansiedade e dos distúrbios do sono. A prática regular de atividades físicas promove efeitos biológicos, como a liberação de neurotransmissores relacionados ao bem-estar, incluindo endorfina, dopamina e serotonina (ASSUNÇÃO; ASSUNÇÃO, 2020), atuando também no sistema nervoso autônomo, reduzindo os níveis de cortisol e modulando respostas ao estresse (LAZAR et al., 2020).

Do ponto de vista psicológico, o exercício contribui para o aumento da autoestima, melhoria do humor, redução dos pensamentos ruminantes e maior sensação de controle sobre o corpo e a mente (DUARTE; AMARAL; ALBUQUERQUE, 2021), entretanto, no aspecto social, propicia oportunidades de interação, fortalecimento de vínculos e sensação de pertencimento, o que é fundamental no enfrentamento da solidão e da sobrecarga emocional vivida por muitos universitários (LEITE et al., 2020).

Conforme evidenciado por Duarte, Amaral e Albuquerque (2021), a prática de exercícios físicos também está associada à melhoria da qualidade do sono, promovendo um sono mais profundo, com maior duração e redução de despertares noturnos, neste contexto, indivíduos que mantêm uma rotina de atividade física têm menor propensão a desenvolver insônia, além de apresentarem melhor desempenho acadêmico e maior capacidade de gerenciamento emocional (CARONE et al., 2020; MEMON et al., 2021).

Partindo desta conjuntura, esta pesquisa levanta a seguinte questão-problema: Como o exercício físico afeta a ansiedade e a qualidade do sono em universitários? Investigar essa relação é fundamental para a proposição de estratégias eficazes de promoção da saúde mental e do bem-estar no ambiente acadêmico.

O presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de analisar os efeitos da prática regular de exercícios físicos sobre os sintomas de ansiedade e a qualidade do sono em estudantes universitários, além disso, busca compreender os fatores que influenciam a saúde mental dessa população, destacando a relevância do estilo de vida ativo como estratégia preventiva e terapêutica na conscientização sobre a importância do autocuidado durante a formação acadêmica.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Esta pesquisa possui natureza bibliográfica fundamentada no método de revisão integrativa da literatura, cuja finalidade é reunir, analisar e sintetizar estudos relevantes sobre um determinado tema, preenchendo lacunas do conhecimento e contribuindo para a prática acadêmica e científica (BARDIN, 2011). A pergunta norteadora do estudo é: Como o exercício físico afeta a ansiedade e a qualidade do sono em universitários?

Foram adotados como critérios de inclusão: artigos publicados com recorte temporal entre os anos de 2015 a 2025; estudos disponibilizados na íntegra e gratuitamente; publicações em língua portuguesa; artigos publicados no Brasil; estudos indexados nas bases PubMed, SciELO e BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), contemplando somente artigos que abordassem especificamente a relação entre exercício físico, ansiedade e/ou sono em estudantes universitários. Como critérios de exclusão, foram desconsiderados: estudos com populações não universitárias (crianças, adolescentes não universitários, adultos fora do ensino superior e idosos) e publicações em outros idiomas, monografias, teses, dissertações, livros e capítulos de livros.

Os descritores utilizados na busca, de forma isolada ou combinada, foram: “ansiedade em jovens”, “ansiedade em universitários”, “ansiedade e exercício físico”, “ansiedade e atividade física”, “sono e atividade física”, “sono e exercício físico”, “ansiedade e atividade física em universitários”, “ansiedade e exercício físico em universitários”. As estratégias de combinação foram elaboradas com auxílio dos operadores booleanos “AND” e “OR”.

A busca foi realizada entre os dias 10 e 15 de abril de 2025. Após aplicação dos filtros e critérios, o levantamento inicial resultou em um total de 132 artigos. Com a leitura dos títulos e resumos, 74 estudos foram eliminados por não atenderem ao recorte temático. Após leitura na íntegra de 58 artigos remanescentes, 11 estudos foram incluídos na revisão final por apresentarem forte aderência aos objetivos propostos.

A análise dos artigos seguiu as etapas do método de análise de conteúdo conforme Bardin (2011), em três fases: 1) Leitura flutuante e seleção preliminar; 2) Codificação e categorização dos dados conforme os objetivos da pesquisa; 3) Interpretação e síntese das evidências científicas, com organização das informações em planilhas cronológicas e elaboração de quadros explicativos dos resultados.

O fluxograma PRISMA da seleção dos artigos está apresentado ao final da seção de resultados, indicando de forma clara e visual cada etapa do processo de identificação, triagem, elegibilidade e inclusão dos estudos analisados.

Figura 01: Fluxograma analítico do levantamento bibliográfico

Fonte: Os autores (2025).

3 RESULTADOS

No tocante aos resultados, foram realizadas análises detalhadas dos 11 artigos científicos selecionados conforme os critérios previamente definidos, com base nas buscas realizadas nas bases PubMed, SciELO e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Os estudos analisados versam sobre os efeitos da prática de exercícios físicos nos sintomas de ansiedade e na qualidade do sono em estudantes universitários que permitiram a construção de uma síntese crítica dividida em eixos temáticos recorrentes, conforme o conteúdo emergente das pesquisas.

A organização dos resultados seguiu uma lógica de categorização baseada em temas convergentes entre os estudos, especialmente quanto à relação entre estilo de vida ativo, regulação emocional, saúde mental e padrão de sono. Assim, os artigos foram agrupados segundo três categorias principais: (1) impactos do exercício físico sobre os sintomas de ansiedade em universitários; (2) efeitos da prática regular de atividade física sobre a qualidade do sono; e (3) fatores acadêmicos e psicossociais associados à piora da saúde mental e do sono nesta população.

Além disso, observou-se uma convergência metodológica nos estudos, com predomínio de abordagens qualitativas, estudos descritivos, revisões integrativas e análises transversais. Em sua maioria, os trabalhos utilizam instrumentos validados como o Inventário de Ansiedade de Beck, a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD), o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) e questionários sobre nível de atividade física, como o IPAQ.

As evidências coletadas demonstram que a adoção de um estilo de vida ativo está fortemente relacionada à redução de sintomas ansiosos e à melhoria da qualidade do sono, mesmo em contextos de alta exigência acadêmica, desta forma, reforça-se que o exercício físico se configura como uma abordagem não medicamentosa eficaz, com efeitos fisiológicos, neuroquímicos e comportamentais positivos para o público universitário.

Diante disso, os resultados foram sintetizados e apresentados no Quadro 1, que contempla os principais aspectos dos estudos analisados, incluindo autor, título, objetivo, metodologia utilizada e as principais conclusões. Essa sistematização contribui para uma compreensão mais aprofundada do panorama científico atual sobre a temática investigada, além de oferecer subsídios para futuras intervenções na área da saúde e educação superior.

Quadro 1- Sínteses dos resultados que o efeito crônico da prática de exercícios físicos nos sintomas de ansiedade e na qualidade do sono em estudantes universitários um estudo bibliográfico.

Fonte: Autoria própria (2024)

4 DISCUSSÃO

Os estudos analisados evidenciaram de forma consistente que a prática de exercícios físicos está diretamente associada à redução de sintomas ansiosos em estudantes universitários. Segundo Correa et al. (2022), Assunção e Assunção (2020) e Oliveira, Silva e Sousa-Carvalho (2022), a atividade física promove o equilíbrio dos neurotransmissores responsáveis pela regulação emocional, como serotonina, dopamina e endorfina, o que contribui para a melhoria do humor, controle da ansiedade e redução do estresse. Essa relação é reforçada também por Leite et al. (2020), que identificaram maior prevalência de sintomas ansiosos em estudantes que apresentavam baixa frequência de atividade física e hábitos de vida sedentários. As evidências sugerem que a adoção de um estilo de vida ativo pode atuar como fator de proteção à saúde mental, especialmente em contextos de exigência cognitiva e emocional intensificada, como é o caso da vivência universitária.

Outro eixo importante identificado nos estudos foi o impacto da atividade física na melhoria da qualidade do sono. Duarte, Amaral e Albuquerque (2021) observaram que estudantes fisicamente ativos apresentaram maior qualidade de sono, com redução de despertares noturno e aumento da profundidade do sono reparador. Resultados semelhantes foram encontrados por Lazar et al. (2020), que associaram o exercício aeróbico moderado à melhora do padrão do sono em termos de duração, continuidade e qualidade subjetiva. Carone et al. (2020) também destacaram que fatores como estresse acadêmico, alimentação inadequada e inatividade física contribuem para distúrbios do sono, sendo a prática de exercícios uma estratégia simples e acessível para modular esses efeitos. Essa associação sugere que a atividade física pode ser integrada como ferramenta preventiva e terapêutica em programas de saúde universitária.

Bottoli et al. (2022) e Alves et al. (2021) destacam que a pressão por desempenho e a constante competitividade no ambiente acadêmico geram estresse crônico, frequentemente negligenciado pelas políticas de atenção à saúde mental. Fragelli e Fragelli (2021) e acrescentam que a ausência de momentos de lazer, a privação de sono e o isolamento social aumentam a vulnerabilidade emocional dos universitários. Diante disso, torna-se evidente a necessidade de intervenções multidisciplinares que envolvam ações educativas, espaços de escuta e incentivo à prática regular de atividades físicas como parte da rotina acadêmica, visando à promoção do bem-estar integral dessa população.

O primeiro estudo analisado, conduzido por Correa et al. (2022), evidenciou que a prática regular de exercícios físicos promove efeitos positivos na redução dos sintomas de ansiedade e depressão, atuando diretamente sobre os neurotransmissores responsáveis pela sensação de bem-estar. Essa conclusão reforça a ideia de que o exercício físico é uma ferramenta terapêutica eficaz e não medicamentosa no enfrentamento dos transtornos de ansiedade, corroborando com os achados de Assunção e Assunção (2020), que também destacam o papel da atividade física na regulação emocional e no fortalecimento da saúde mental, assim como Dantas e Sousa-Carvalho (2023) que chegaram à conclusão de que o grau de ansiedade mostrou-se mais evidente nos indivíduos não praticantes de exercícios.

Duarte, Amaral e Albuquerque (2021), por sua vez, investigaram a influência do exercício físico na qualidade do sono de estudantes do ensino superior, observando melhoria significativa no sono daqueles que praticavam atividades físicas com regularidade. Os autores associaram a prática ao aumento do sono profundo e à redução de despertares noturnos, efeitos que são compatíveis com os mecanismos fisiológicos apresentados por Ramar et al. (2021), que explicam como o sono adequado é essencial para a manutenção das funções cognitivas e do equilíbrio emocional.

Nesse contexto, Lazar et al. (2020) reforçam que exercícios aeróbicos de intensidade moderada, quando inseridos na rotina de jovens universitários, têm potencial de induzir um sono mais reparador. A prática física atua como reguladora do ciclo circadiano e melhora a arquitetura do sono, aspecto também destacado por Memon et al. (2021) em uma meta-análise que apontou benefícios significativos da atividade física sobre o padrão de sono em universitários, especialmente entre aqueles que apresentavam dificuldades de adormecer ou insônia leve a moderada.

Além da relação com o sono, o exercício físico tem mostrado eficácia no enfrentamento dos fatores estressores do ambiente universitário. Bottoli et al. (2022) identificaram elevados níveis de estresse em estudantes submetidos a cargas acadêmicas intensas, dificuldades de adaptação e privação de sono. A adoção de hábitos saudáveis, como a prática de exercícios regulares, mostrou-se como um importante recurso de enfrentamento desses fatores, permitindo melhor adaptação à rotina acadêmica.

No mesmo sentido, Alves et al. (2021) ressaltam que o ambiente universitário, por si só, pode se tornar um fator desencadeante de quadros ansiosos, especialmente quando permeado por cobranças excessivas e instabilidade emocional. A ansiedade gerada por tais condições impacta diretamente na concentração e no desempenho acadêmico, sendo o exercício físico um aliado fundamental para o enfrentamento desses efeitos deletérios.

Outro estudo relevante é o de Leite et al. (2020), que investigou a associação entre qualidade do sono e sintomas de ansiedade em acadêmicos de medicina, apontando correlação direta entre níveis elevados de ansiedade e padrões de sono prejudicados. Esses achados estão alinhados às conclusões de Carone et al. (2020), que identificaram que a inatividade física, aliada à má alimentação e ao estresse acadêmico, são os principais fatores associados aos distúrbios do sono nessa população.

No campo da aprendizagem, Castro et al. (2021) destacam que a má qualidade do sono compromete diretamente o rendimento cognitivo dos estudantes da área da saúde, afetando principalmente processos de memorização e concentração. Isso é complementado pelas conclusões de Barros e Sousa (2022), que apontam que a privação crônica do sono tem efeitos cumulativos e prejudiciais sobre o desempenho escolar, sendo responsável por déficits atencionais e baixo rendimento acadêmico.

Santos-Coelho (2020) vai além ao evidenciar que a privação de sono interfere no funcionamento cerebral e nas respostas emocionais, aumentando a reatividade ao estresse e a vulnerabilidade a transtornos mentais, diante disso, a prática regular de exercícios físicos se apresenta não apenas como uma medida de promoção de saúde física, mas também como estratégia de prevenção de distúrbios neuropsicológicos.

Ao se considerar os fatores emocionais e cognitivos implicados no processo de formação universitária, torna-se evidente a necessidade de políticas de promoção à saúde que envolvam a prática sistemática de atividade física no cotidiano estudantil. A proposta de programas institucionais voltados à saúde mental deve considerar o estímulo ao movimento corporal como elemento terapêutico complementar, como defendido por Correa et al. (2022) e Duarte, Amaral e Albuquerque (2021), assim como repensar sobre o processo de formação desde o aluno ingressante assim como os concluintes fomentando uma formação assistida, na qual o estudante tenha a possibilidade de ser acolhido em suas necessidades academicas e emocionais (SANTOS; FEITOSA; SOUSA-CARVALHO, 2021)

A análise integrada dos estudos evidencia que a atividade física contribui para a redução da ansiedade ao promover sensação de controle, alívio do estresse e maior equilíbrio emocional. Bardin (2011) aponta que a análise de conteúdo permite identificar esses padrões recorrentes nos discursos e dados coletados, revelando a consistência dos achados quanto ao papel modulador do exercício físico na saúde psíquica.

Outro aspecto que merece destaque é a autonomia que o exercício físico proporciona ao estudante, permitindo que ele tenha uma ferramenta acessível de autocuidado e gerenciamento emocional. Assunção e Assunção (2020) reforçam que, além da redução sintomática, há ganhos em autoestima, qualidade de vida e engajamento social, promovendo uma mudança de perspectiva no enfrentamento dos desafios acadêmicos.

A prática regular de atividade física, quando bem orientada, se mostra eficaz na regulação do sono e na redução da hiperatividade mental que impede o relaxamento necessário para o adormecimento. Esse fator é particularmente importante em fases de maior demanda, como períodos de provas e entrega de trabalhos, conforme relatado por Memon et al. (2021), que identificaram melhora significativa da qualidade de vida acadêmica entre estudantes ativos.

Os dados ainda demonstram que a adesão à prática esportiva pode funcionar como rede de apoio social, o que favorece não apenas o estado psicológico, mas também reduz sentimentos de isolamento e solidão, conforme argumentado por Fragelli e Fragelli (2021),. Esse componente social do exercício é essencial em tempos de aumento dos transtornos mentais entre jovens, muitas vezes associados a fatores como isolamento, insegurança e pressão por desempenho.

E para finalizar a discussão Medino e Sousa-Carvalho (2024) destacam que por vezes alguns estudos sugerem a não associação significativa entre exercício físico e depressão, entendendo que se faz necessário apresentar a prática de exercícios não como um “milagre”, mas de recomendá-lo como alternativa preventiva, terapêutica e como fator coadjuvante e catalisador no tratamento convencional tanto da ansiedade quanto da depressão.

5 CONSIDERAÇÕES

A presente revisão integrativa permitiu alcançar os objetivos estabelecidos, fornecendo uma compreensão aprofundada sobre a influência da prática regular de exercícios físicos na saúde mental e na qualidade do sono de estudantes universitários. A partir da análise dos estudos selecionados, foi possível identificar padrões consistentes que reforçam a importância de um estilo de vida ativo durante a vivência acadêmica.

No que diz respeito ao primeiro objetivo, constatou-se que a prática frequente de atividade física contribui para a melhoria da qualidade do sono dos acadêmicos. Estudantes que mantêm uma rotina regular de exercícios tendem a apresentar maior facilidade para adormecer, sono mais profundo e reparador, além da redução dos despertares noturnos. Esses benefícios impactam diretamente na disposição, concentração e desempenho acadêmico, além de reduzirem a sensação de cansaço durante o dia.

Em se tratando da relação entre frequência e intensidade do exercício físico e os níveis de ansiedade, os dados analisados demonstraram que a regularidade das práticas físicas, especialmente quando realizadas em intensidade moderada, está associada à redução significativa dos sintomas ansiosos. A prática contínua e prazerosa contribui para a estabilidade emocional, promovendo equilíbrio psicológico e maior resiliência diante das demandas acadêmicas.

No tocante ao impacto de diferentes tipos de exercício físico, observou-se que atividades aeróbicas moderadas se mostraram mais eficazes para a regulação do sono e controle da ansiedade entre os universitários. Embora outras modalidades também apresentem benefícios, os exercícios aeróbicos foram os mais destacados pelos estudos por sua acessibilidade, facilidade de adesão e efeitos positivos consistentes quando praticados com constância.

Com base nesses achados, pode-se concluir que a prática de atividades físicas é uma estratégia valiosa e eficaz para a promoção do bem-estar entre estudantes universitários. A inclusão do exercício na rotina acadêmica auxilia tanto na prevenção quanto no enfrentamento de transtornos relacionados à ansiedade e distúrbios do sono, favorecendo a qualidade de vida, o rendimento escolar e a saúde global dos indivíduos.

Diante disso, recomenda-se que as instituições de ensino superior desenvolvam e incentivem políticas voltadas à saúde integral dos estudantes, com ações que estimulem a prática regular de atividades físicas, ofereçam suporte psicossocial e promovam a conscientização sobre o autocuidado e os benefícios do movimento corporal para a vida acadêmica e pessoal. Essas medidas podem contribuir de forma significativa para o enfrentamento dos desafios enfrentados por universitários, promovendo ambientes mais saudáveis e equilibrados.

6 REFERÊNCIAS

ALVES, A. S. et al. Contexto universitário como fator desencadeante de ansiedade em acadêmicos: uma revisão narrativa. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, [S.l.], 2021. Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/. Acesso em: 20 abr. 2025.

ASSUNÇÃO, J. I. C.; ASSUNÇÃO, J. R. A importância do exercício físico no tratamento dos transtornos mentais. Práticas e Cuidado: Revista de Saúde Coletiva, v. 1, p. e9992–e9992, 2020.

BARROS, J. P.; SOUSA, C. E. B. Privação crônica do sono e desempenho escolar-acadêmico: uma revisão sistemática. Revista Neurociências, v. 30, p. 1–24, 2022.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

BOTTOLI, I. M. F. et al. Estresse no ambiente universitário: um estudo descritivo. In: COLÓQUIO ESTADUAL DE PESQUISA MULTIDISCIPLINAR; CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISA MULTIDISCIPLINAR, 2022. Anais […]. Disponível em: https://www.editorarealize.com.br/. Acesso em: 20 abr. 2025.

CARONE, C. M. M. et al. Fatores associados a distúrbios do sono em estudantes universitários. Cadernos de Saúde Pública, v. 36, p. e00074919, 2020.

CASTRO, S. K. A. et al. A importância da qualidade do sono no processo de aprendizagem em estudantes da área de saúde: uma revisão integrativa. Research, Society and Development, v. 10, n. 11, p.1-10, 2021.

CORREA, A. R. et al. Exercício físico e os transtornos de ansiedade e depressão. Revista Faculdades do Saber, v. 7, n. 14, p. 1072–1078, 2022.

DANTAS, R. S.; SOUSA-CARVALHO, L. R. M. Estilo de vida ativo e prevalência de ansiedade em estudantes universitários do curso de educação física. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício., v.17, n.110, p.307-316, 2023

DUARTE, S.; AMARAL, O.; ALBUQUERQUE, C. Influência do exercício físico no sono em estudantes do ensino superior. Millenium – Journal of Education, Technologies and Health, n.9e, p.219–225, 2021.

FRAGELLI, T. B. O.; FRAGELLI, R. R. Por que estudantes universitários apresentam estresse, ansiedade e depressão? Uma rapid review de estudos longitudinais. Revista Docência do Ensino Superior, v. 11, p. 1–21, 2021.

LAZAR, E. F. et al. A influência do exercício aeróbico de intensidade moderada na qualidade do sono: uma revisão narrativa. Caderno de Educação Física e Esporte, v. 18, n. 3, p. 101– 109, 2020.

LEITE, B. R. et al. Associação entre qualidade do sono e ansiedade em acadêmicos de medicina. Brazilian Journal of Health Review, v. 3, n. 3, p. 6528–6543, 2020.

MEDINO, A.L.S.; SOUSA-CARVALHO, L.R.M.S. Estudo comparativo do estilo de vida ativo e fatores associados na prevalência dos transtornos de depressão em acadêmicos de educação física e demais cursos da área da saúde: um estudo bibliográfico. Revista ft, v.29, n.140, p.115, 2024

MEMON, A. R. et al. Sleep and physical activity in university students: a systematic review and meta-analysis. Sleep Medicine Reviews, v. 58, 101482, 2021. DOI: 10.1016/j.smrv.2021.101482.

OLIVEIRA, M. S.; SILVA, M. E. N.; SOUSA-CARVALHO, L. R. M. S. Prevalência de depressão e fatores associados em estudantes universitários do curso de educação física praticantes e não praticantes de exercício físico de uma capital do Nordeste. Research, Society and Development, v. 11, n. 15, p. 1-10, 2022.

RAMAR, K. et al. O sono é essencial para a saúde: uma declaração de posição da academia americana de medicina do sono. Revista de Medicina Clínica do Sono, v. 10, p. 2115–2119, 2021.

SANTOS-COELHO, F. M. Impacto da privação de sono sobre cérebro, comportamento e emoções. Medicina Interna de México, v. 36, n. S1, p. 17–19, 2020.

SANTOS, R. B.; FEITOSA, G. V. S.; SOUSA-CARVALHO, L. R. M. Perfil dos transtornos de ansiedade e fatores associados em universitários de um centro universitário de Teresina, Piauí. Research, Society and Development, v.10, n. 6, p.1-9, 2021 

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Depression and other common mental disorders:global health estimates. Genebra, 2017.


1Acadêmico do Bacharelado em Educação Física do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina (PI), Brasil. Email: leite2499@gmail.com. 

2Acadêmica do Bacharelado em Educação Física do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina (PI), Brasil. Email: geovanah260@gmail.com. 

3Doutora em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília (UCB) e professora do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina (PI), Brasil. Email: leyla.regis@hotmail.com.