EFEITO AGUDO DE PAUSAS ATIVAS SOBRE A FUNÇÃO EXECUTIVA EM CRIANÇAS: UMA REVISÃO NARRATIVA

ACUTE EFFECT OF ACTIVE BREAKS ON EXECUTIVE FUNCTION IN CHILDREN: A NARRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202501241009


Dinassalze Anelize de Oliveira1,3
Erica Aparecida Souto Tavares2,3
Carla Cristiane da Silva3


RESUMO

Pausas ativas podem contribuir para o melhor processamento cognitivo? A resposta a esta questão é pertinente foi tratada nesta revisão narrativa. Assim, o objetivo foi verificar se existe efeito de pausas ativas em uma única sessão no ambiente escolar sobre as funções executivas em crianças de 3 a 12 anos. Assim, recorreu-se a uma busca em várias bases disponível na literatura. Os resultados indicaram 8 estudos analisados, sendo que 5 relataram efeitos positivos sobre as funções executivas, enquanto outros 3 estudos não encontraram diferenças. A partir disso podemos considerar que a incorporação de pausas com movimento na rotina escolar não é prejudicial para as funções executivas, no entanto, novos estudos devem ser conduzidos nesta área, considerando diferentes faixas etárias, intensidade das práticas motoras e reprodutibilidade das medidas em testes de funções executivas.

Palavras-chave: Rotina escolar. Atividade física. Cognição.

ABSTRACT

Active breaks can contribute to better cognitive processing? The answer to this question is relevant and was addressed in this narrative review. The aim was to examine whether there is an effect of active breaks during a single session in the school environment on executive functions in children aged 3 to 12 years. A search was conducted across several databases available in the literature. The results indicated 8 studies were analyzed, with 5 reporting positive effects on executive functions, while the other 3 studies found no differences. From this, we can conclude that incorporating movement breaks into the school routine is not detrimental to executive functions. However, further studies should be conducted in this area, considering different age groups, intensity of motor activities, and the reproducibility of measures in executive function tests.

Keywords: School routine. Physical activity. Cognition.

1. INTRODUÇÃO

Watson e colaboradores descreveram previamente o potencial da atividade física em sala de aula sobre o comportamento, a função cognitiva e o desempenho acadêmico (Watson et al., 2017). A hipótese de que a atividade física pode ter impacto positivo na saúde cognitiva e cerebral é fundamentada no princípio neurobiológico de que os processos celulares e moleculares no cérebro podem ser modificados por meio do enriquecimento ambiental (Erickson et al., 2019). Estudo prévio demonstrou que a atividade física ativa vias metabólicas que podem potencializar a função cerebral (Tallon et al., 2023), aumentando o fluxo sanguíneo cerebral e o volume (Querido; Sheel, 2007), promovendo o desenvolvimento de novos neurônios (Ding et al., 2004), e o crescimento dos capilares (Bullitt et al., 2009). Uma relação positiva entre atividade física e o desenvolvimento cognitivo foi reportada (Zeng et al., 2017), entretanto a questão não está completamente esclarecida na literatura. Assim, o objetivo desta revisão é verificar entre os estudos se existe efeito positivo de uma sessão de atividade física sobre aspectos do processamento cognitivo em crianças.

2. MÉTODO

Para responder à questão de pesquisa recorreu-se a várias bases de dados, incluindo Capes, Cochrane Library, Eric, Lilacs, Medline, Science Direct, Scopus, Web of Science e Wiley Online Library. Foram considerados estudos com crianças entre 3 a 12 anos envolvidas em uma sessão de atividade motora dentro da sala de aula e cujos resultados versassem sobre avaliações das funções executivas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da busca e da seleção dos estudos organizou-se um quadro geral com oito investigações, destas cinco indicaram resultados positivos nas funções executivas e outros três estudos não indicaram diferenças significativas.

Ruiz-Ariza e colaboradores (2021) analisaram a memória em um estudo que envolveu três grupos, sendo dois grupos experimentais e um grupo controle com avaliações antes e após a prática motora. Em ambos os grupos experimentais os resultados foram significativos, demonstrando melhora na memória dos participantes. A memória de trabalho foi avaliada em outros dois estudos, sendo que o estudo do Chatzopoulos et al. (2023) na comparação de dois grupos experimentais e um grupo controle, e no estudo de Howie; Schatz; Pate (2015) três grupos experimentais e um grupo controle. As respostas dos testes indicaram que não houve diferenças significativas a favor dos grupos experimentais. A resposta na atenção também foi positiva nos estudos de Ruiz-Ariza e colaboradores (2021) e Schimidt, Benzing e Kramer (2016). Com relação a atenção seletiva, dois estudos observaram melhora significativa na comparação pré e pós entre os grupos (Gelabert et al., 2023; Janssen et al., 2014).

Para o desfecho de flexibilidade cognitiva, estudos envolvendo momentos pré e pós pausas ativas demonstraram resultados não significativos (Calvert et al., 2019; Chatzopoulos et al., 2023), enquanto outra investigação indicou resultados negativos sobre a flexibilidade cognitiva, comparando os grupos que tiveram engajamento cognitivo alto com os que tiveram engajamento cognitivo baixo (Egger; Conzelmann; Schmidt, 2018). Calvert e colaboradores (2019) de forma similar não encontraram diferenças significativas na memória episódica em avaliações pré e pós com 156 crianças.

Para o controle inibitório respostas significativas a favor da intervenção com pausas ativas foram destacadas em uma investigação (Chatzopoulos et al., 2023), enquanto outros estudos não verificaram diferenças significantes (Calvert et al., 2019; Egger; Conzelmann; Schmidt, 2018). Na função executiva global não foram observadas diferenças significativas através do teste de Trilha (Howie; Schatz; Pate, 2015).

Os resultados aqui apresentados não são conclusivos, são apenas um indicativo narrativo de algumas investigações da literatura. Ressalta-se as múltiplas estratégias de intervenção aplicadas que aumentam a heterogeneidade dos estudos, com diferentes tempos de aplicação, com variação de 4 a 20 minutos e diferentes intensidades de práticas motoras. Em síntese, ainda existem lacunas que requerem investigações adicionais. 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados apresentados permitem considerar que a incorporação de pausas ativas agudas na rotina escolar não é prejudicial para as funções executivas, mas que, porém, novos estudos devem ser conduzidos nesta área, considerando diferentes faixas etárias, intensidade das práticas motoras e reprodutibilidade das medidas em testes de funções executivas.

5. REFERÊNCIAS

BULLITT, E. et al. The Effect of Exercise on the Cerebral Vasculature of Healthy Aged Subjects as Visualized by MR Angiography. American Journal of Neuroradiology, v. 30, n. 10, p. 1857–1863, 2009. 

CALVERT, H. G. et al. Effects of Acute Physical Activity on NIH Toolbox-Measured Cognitive Functions among Children in Authentic Education Settings. Grantee Submission, Mental Health and Physical Activity Article 100293, 2019. 

CHATZOPOULOS, D. et al. Acute Effects of 5-Minute Dance Active Break on Executive Functions, Mathematics, and Enjoyment in Elementary School Children. International Electronic Journal of Elementary Education, v. 16, n. 2, 2023. 

DING, Y. et al. Exercise pre-conditioning reduces brain damage in ischemic rats that may be associated with regional angiogenesis and cellular overexpression of neurotrophin. Neuroscience, v. 124, n. 3, p. 583–591, 2004. 

EGGER, F.; CONZELMANN, A.; SCHMIDT, M. The effect of acute cognitively engaging physical activity breaks on children’s executive functions: Too much of a good thing? Psychology of Sport and Exercise, v. 36, p. 178–186, 2018. 

ERICKSON, K. I. et al. Physical Activity, Cognition, and Brain Outcomes: A Review of the 2018 Physical Activity Guidelines. Medicine and science in sports and exercise, v. 51, n. 6, p. 1242–1251, 2019. 

GELABERT, J. et al. Efectos agudos de los descansos activos sobre la atencion selectiva en escolares Acute effects of active breaks on selective attention in schoolchildren. hoista De Psicologia Del Deporte, v. 32, n. 2, p. 277–286, 2023. 

HOWIE, E.; SCHATZ, J.; PATE, R. Acute Effects of Classroom Exercise Breaks on Executive Function and Math Performance: A Dose-Response Study. Research quarterly for exercise and sport, v. 86, n. 3, p. 217‐224, 2015. 

JANSSEN, M. et al. A short physical activity break from cognitive tasks increases selective attention in primary school children aged 10–11. Mental Health and Physical Activity, v. 7, n. 3, p. 129–134, 2014. 

QUERIDO, J. S.; SHEEL, A. W. Regulation of cerebral blood flow during exercise. Sports Medicine (Auckland, N.Z.), v. 37, n. 9, p. 765–782, 2007. 

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SCHMIDT, M.; BENZING, V.; KAMER, M. Classroom-Based Physical Activity Breaks and Children’s Attention: Cognitive Engagement Works. Front Psychol, v. 7, p. 1474–1474, 2016. 

TALLON, C. M. et al. Exercise breaks prevent attenuation in cerebrovascular function following an acute bout of uninterrupted sitting in healthy children. Experimental Physiology, v. 108, n. 11, p. 1386–1399, 2023. 

WATSON, A. et al. A primary school active break programme (ACTI-BREAK): study protocol for a pilot cluster randomised controlled trial. Trials, v. 18, n. 1, p. 433, 2017. 

ZENG, N. et al. Effects of Physical Activity on Motor Skills and Cognitive Development in Early Childhood: A Systematic Review. BioMed Research International, v. 2017, p. 2760716, 2017.


¹Discente do Curso Ciências do Movimento Humano pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (PPGCMH/UENP). E-mail: anelizie.oliveira@gmail.com / ericatavares264@gmail.com;
²Profa. Doutora e Orientadora do Programa de Ciências do Movimento Humano pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (PPGCMH/UENP). E-mail: ccsilva@uel.br;
³Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Física Escolar e Saúde (GEPEFES).