EDUCAÇÃO SEXUAL NA ADOLESCÊNCIA E SEUS IMPACTOS NA FORMAÇÃO DE ATITUDES E COMPORTAMENTOS SAUDÁVEIS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

SEXUAL EDUCATION IN ADOLESCENCE AND ITS IMPACTS ON THE FORMATION OF HEALTHY ATTITUDES AND BEHAVIORS: AN INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202411291648


Amanda Alves de Souza 1
Izabella Araujo Morais 2


Resumo

Introdução: Este artigo aborda a importância da educação sexual na adolescência para a promoção de comportamentos saudáveis e atitudes positivas em relação à sexualidade. Por meio de uma revisão integrativa da literatura, foram analisadas evidências científicas que destacam o papel da educação sexual como ferramenta para reduzir riscos à saúde, como infecções sexualmente transmissíveis e gravidez precoce, além de promover o respeito à diversidade e o desenvolvimento emocional. Objetivo: O objetivo foi compreender como a educação sexual na adolescência contribui para a formação de atitudes positivas e para a promoção de comportamentos saudáveis, investigando seu papel na prevenção de riscos e na construção de uma base sólida para a saúde integral dos jovens. Resultados: A pesquisa identificou desafios culturais e educacionais que dificultam a implementação de programas de educação sexual, como tabus e lacunas curriculares, e ressaltou a importância da inclusão de temas sobre diversidade e identidade sexual nos currículos. Observou-se que a atuação de profissionais de enfermagem é essencial, pois esses profissionais têm uma abordagem sensível e personalizada, capaz de auxiliar adolescentes em questões de saúde sexual e reprodutiva. Conclusão: O estudo conclui que políticas públicas e programas intersetoriais, envolvendo famílias, escolas e profissionais de saúde, são fundamentais para construir uma base sólida para escolhas conscientes e saudáveis dos jovens, recomendando a ampliação e consolidação da educação sexual no ambiente escolar e familiar.

Palavras-chave: Educação sexual. Adolescência. Comportamentos saudáveis. Saúde sexual. Enfermagem.

Abstract 

Introduction: This article addresses the importance of sexual education during adolescence to promote healthy behaviors and positive attitudes towards sexuality. Through an integrative literature review, scientific evidence highlighting the role of sexual education as a tool to reduce health risks such as sexually transmitted infections and early pregnancy was analyzed, as well as its ability to promote respect for diversity and emotional development. Objective: The objective was to understand how sexual education in adolescence contributes to forming positive attitudes and promoting healthy behaviors, investigating its role in risk prevention and in building a solid foundation for the comprehensive health of young people. Results: The research identified cultural and educational challenges that hinder the implementation of sexual education programs, such as taboos and curriculum gaps, and emphasized the importance of including topics on diversity and sexual identity in school curricula. It was noted that the role of nursing professionals is essential, as they bring a sensitive and personalized approach, capable of assisting adolescents in sexual and reproductive health matters. Conclusion: The study concludes that public policies and intersectoral programs involving families, schools, and health professionals are fundamental to building a strong foundation for young people’s conscious and healthy choices, recommending the expansion and consolidation of sexual education in both school and family environments.

Keywords: Sexual education. Adolescence. Healthy behaviors. Sexual health. Nursing.

1. INTRODUÇÃO

A adolescência é um período de transição marcante, repleto de descobertas e questionamentos, em que a sexualidade emerge como uma dimensão central dessa etapa da vida. Nesse contexto, a educação sexual se torna uma ferramenta crucial para fornecer aos jovens o conhecimento e as habilidades necessárias para desenvolver atitudes e comportamentos saudáveis relacionados à sexualidade, tema que tem se tornado cada vez mais relevante na sociedade contemporânea (Almeida et al., 2017).

Contudo, a implementação da educação sexual enfrenta desafios significativos, como barreiras culturais e lacunas nas políticas educacionais. Em muitas sociedades, o diálogo aberto sobre sexualidade ainda é tabu, envolto em mitos e estigmas, o que limita o acesso dos adolescentes a informações precisas sobre temas essenciais, como anatomia, reprodução, métodos contraceptivos, prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e consentimento. Essas informações são fundamentais para que os jovens compreendam sua sexualidade e construam relacionamentos interpessoais saudáveis (Alencar et al., 2008).

Além disso, os currículos escolares muitas vezes não abordam de forma abrangente e inclusiva a diversidade de experiências e identidades sexuais, deixando muitos adolescentes sem os recursos necessários para respeitar e compreender tanto suas próprias escolhas quanto as dos outros (Barbosa et al., 2020). Essa deficiência na educação sexual contribui para problemas como altas taxas de gravidez na adolescência, aumento da incidência de ISTs e a perpetuação de relações desiguais e pouco saudáveis. O silêncio dentro das famílias também agrava os riscos, pois, sem um ambiente seguro para tirar dúvidas e expressar preocupações, muitos jovens acabam recorrendo a fontes de informação menos confiáveis, o que pode levá-los a situações de vulnerabilidade e exploração (Alencar et al., 2008).

As dificuldades emocionais e psicológicas comuns na adolescência também impactam a saúde sexual e o bem-estar dos jovens. A pressão para se conformar a padrões sociais, as questões ligadas à descoberta da identidade sexual e a exposição ao bullying e à discriminação podem levar a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão. Esses fatores, somados a comportamentos destrutivos, podem afetar negativamente as decisões relacionadas à sexualidade, aumentando a vulnerabilidade dos jovens e os riscos de escolhas inadequadas (Dos Santos et al., 2015).

Diante dos riscos associados à falta de orientação sexual, destaca-se a importância urgente da implementação de políticas e programas abrangentes de educação sexual em ambientes escolares e de socialização. Esses programas devem ser inclusivos, baseados em evidências científicas e adaptados às realidades culturais e etárias dos adolescentes, promovendo um aprendizado consciente e seguro (Barbosa et al., 2020). Além disso, o envolvimento dos pais e responsáveis é fundamental para que o ambiente familiar se torne um espaço de diálogo aberto e apoio, reforçando as informações adquiridas na escola e estimulando atitudes responsáveis em relação à saúde sexual (Danzmann et al., 2020).

A educação sexual, quando integrada ao contexto da enfermagem, amplia o escopo de atuação dos profissionais da área, que têm um papel fundamental na promoção da saúde e na prevenção de riscos à saúde dos adolescentes. Por meio de ações educativas, a enfermagem pode contribuir diretamente para a formação de comportamentos saudáveis e o desenvolvimento de atitudes responsáveis entre jovens, fornecendo orientações seguras e suporte para lidar com as complexidades desse período de vida.

Neste contexto, a ausência de educação sexual adequada pode levar os adolescentes a desenvolverem atitudes e comportamentos de risco, impactando negativamente a saúde física, emocional e social. A educação sexual, quando promovida com o apoio de profissionais da enfermagem, pode atuar como uma ponte para o desenvolvimento de comportamentos responsáveis e saudáveis.

Este estudo se justifica pela necessidade crescente de abordar a sexualidade na adolescência de forma consciente e responsável, considerando os impactos da orientação sexual na formação de uma juventude informada e saudável. A enfermagem, como área central na promoção de saúde e prevenção de doenças, desempenha um papel estratégico na educação sexual, ajudando a reduzir vulnerabilidades associadas à falta de informação e orientação. Ao analisar os efeitos da educação sexual no desenvolvimento dos adolescentes, o trabalho busca apoiar ações e políticas que fortaleçam essa prática, contribuindo para uma sociedade mais informada, saudável e respeitosa.

Assim, surge o seguinte questionamento: quais são os impactos da educação sexual na adolescência para a formação de atitudes e comportamentos saudáveis entre os jovens? Logo, o objetivo desta pesquisa é compreender como a educação sexual na adolescência contribui para a formação de atitudes positivas e para a promoção de comportamentos saudáveis, investigando seu papel na prevenção de riscos e na construção de uma base sólida para a saúde integral dos jovens.

2. METODOLOGIA 

Este estudo baseia-se em uma revisão integrativa da literatura, que permite uma análise abrangente de pesquisas e estudos realizados sobre o tema, oferecendo uma síntese das evidências existentes e identificando lacunas e recomendações para a prática e políticas de educação sexual voltadas para adolescentes. Essa pesquisa busca identificar padrões, tendências, lacunas e implicações para a prática e futuras investigações. Ao sintetizar informações de maneira organizada, a revisão integrativa contribui para fundamentar decisões e ampliar a compreensão sobre o assunto em questão (Botelho, Almeida Cunha; Macedo, 2011).

A revisão foi estruturada em seis etapas. Cada uma dessas etapas foi realizada com o propósito de analisar e sintetizar o conhecimento científico disponível sobre os impactos da educação sexual na adolescência para a formação de atitudes e comportamentos saudáveis.

A primeira etapa foi a identificação do problema e objetivo da pesquisa, que consistiu na delimitação clara do problema de pesquisa, questionando como a educação sexual na adolescência influencia a formação de atitudes e comportamentos saudáveis entre jovens. A definição do tema foi estabelecida por meio da estratégia PICO que representa os seguintes componentes: P (Paciente/Problema/População), I (Intervenção), C (Comparação), O (Outcome/Resultado); onde: P = adolescentes e pais; I = Educação sexual; C = família, escola; O = Entender quais desafios culturais podem surgir ao programar programas de educação sexual. O objetivo principal do estudo foi definido como compreender o papel da educação sexual na promoção de comportamentos responsáveis e saudáveis entre adolescentes, abordando também os aspectos preventivos de riscos à saúde física, emocional e social. Sendo assim, a pergunta norteadora foi: quais são os impactos da educação sexual na adolescência para a formação de atitudes e comportamentos saudáveis entre os jovens?

Na segunda etapa, foi realizada uma busca nas principais bases de dados científicas da área de saúde, incluindo PubMed, SciELO e LILACS, para garantir uma seleção de publicações amplamente reconhecidas e relevantes para o tema. Foram utilizados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS/MeSH), como “educação sexual”, “adolescência”, “comportamentos saudáveis” e “saúde sexual”, combinados por operadores booleanos (AND e OR) para refinar os resultados e garantir que os artigos selecionados abordassem diretamente os temas centrais da pesquisa. A estratégia de busca foi feita da seguinte forma: (“Sex Education” OR “Supplemental Health”) AND (‘Pregnancy in Adolescence” OR “Pregnancy, High-Risk”) AND (Sexually Transmitted Diseases” OR “Pregnancy Complications, Infectious”) AND (Hormones OR “Juvenile Hormones”) AND (adole OR Adolescent) AND (“Adolescent Health OR Adolescent Health Services”).

A terceira etapa envolveu a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão dos estudos. Os critérios de inclusão foram: a data de publicação, incluindo apenas artigos publicados nos últimos dez anos; o idioma, artigos disponíveis em português, inglês ou espanhol; e serem especificamente voltados para a faixa etária adolescente no contexto da educação sexual. Artigos que abordavam exclusivamente outras faixas etárias ou que não tratavam diretamente de atitudes e comportamentos relacionados à sexualidade, bem como os artigos duplicados e os que não foram considerados relevantes para o objetivo dessa pesquisa foram excluídos da análise. 

Foram localizados 928 artigos nas bases de dados pesquisadas, sendo 4 artigos na base PubMed , 1 artigo no Medline e 923 artigos na base de dados Lilacs. Do total, foram excluídos 90 artigos duplicados, 799 artigos que não tratavam diretamente de atitudes e comportamentos relacionados à sexualidade e 20 artigos que abordavam o tema, porém em outra faixa etária, restando, então 19 artigos. Na etapa de triagem, os artigos selecionados foram exportados para as plataformas Rayyan e Excel, caracterizados em 3 pastas diferentes, uma para cada base de dados. 

Na quarta etapa, realizou-se a leitura completa do material para análise da qualidade metodológica, relevância das informações e representatividade, a fim de realizar a síntese dos resultados que foram encontrados. Cada estudo foi examinado com o objetivo de extrair informações sobre os benefícios e os desafios da educação sexual na adolescência, destacando-se, especialmente, as contribuições que a enfermagem pode oferecer nessa área. Após a leitura na íntegra, foram excluídos 9 artigos, por não serem considerados relevantes para o objetivo dessa pesquisa.

A quinta etapa foi dedicada ao agrupamento dos dados obtidos nos estudos analisados. Nesse processo, foram organizadas as informações a partir dos principais temas identificados nos artigos, como a importância da orientação sexual adequada, a promoção de atitudes saudáveis e o papel da enfermagem na educação de adolescentes para a saúde sexual. Com isso, foi possível realizar uma síntese das evidências encontradas, apontando os efeitos positivos da educação sexual e as principais lacunas a serem abordadas em futuras pesquisas.

Por fim, na sexta etapa, elaborou-se uma discussão detalhada dos resultados da revisão, apresentando as conclusões obtidas com base nas evidências científicas e propondo recomendações para a prática e políticas de saúde. Destacou-se a importância da educação sexual inclusiva e acessível e o envolvimento dos profissionais de enfermagem na orientação de adolescentes, com vistas à promoção de um ambiente seguro para o desenvolvimento de comportamentos saudáveis.

O fluxograma PRISMA é uma ferramenta essencial para a apresentação dos processos de busca e seleção dos estudos incluídos em revisões sistemáticas e integrativas. Ele permite a visualização clara das etapas de identificação, triagem, elegibilidade e inclusão dos estudos, mostrando o fluxo de informações desde a pesquisa inicial nas bases de dados até a seleção final dos artigos analisados (Page et al., 2022) Para este estudo, o diagrama PRISMA foi estruturado de acordo com as seis etapas descritas anteriormente, abrangendo a identificação dos estudos nas bases de dados, a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, a leitura e análise crítica dos artigos, e a síntese das informações, de forma que cada fase contribua para a transparência e replicabilidade da pesquisa, conforme apresenta a Figura 1.

Figura 1 – Fluxograma Prisma.

O diagrama PRISMA apresentado acima descreve o processo de seleção dos estudos utilizados na revisão integrativa, desde a identificação inicial até a inclusão final dos artigos. Esse modelo permite uma visualização clara das etapas seguidas e dos critérios de exclusão aplicados em cada fase da pesquisa,  resultando um total de 10 artigos analisados.

3. RESULTADOS

Os resultados dessa pesquisa foram organizados em um quadro, que busca associar os objetivos obtidos após a análise de dados e evidências coletadas sobre a importância da educação sexual na adolescência, com foco na promoção de comportamentos sexuais saudáveis e na redução de riscos. O Quadro 1 apresenta os resultados dos artigos selecionados, da seguinte forma: título, autor e ano de publicação, objetivo e conclusão.

Quadro 1: Artigos incluídos.

TÍTULOAUTOR/ANOOBJETIVOOBSERVAÇÃO
Fatores que contribuem para o início da atividade sexual em adolescentes.dos Santos, TacianaMirella Batista, et al./ 2015Identificar os fatores associados ao início da atividade sexual de adolescentes.A existência de fatores intrínsecos e extrínsecos influencia o comportamento sexual, devendo ser discutida, especialmente, antes do início da prática sexual.
A intersetorialidade como estratégia para promoção da saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes.Higa, Elza de Fátima Ribeiro et al./ 2015Analisar as principais ações desenvolvidas pelas escolas estaduais para promoção da saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes, bem como a possibilidade de contribuição do PET-Saúde nessas atividades.As vivências, proporcionadas pelo contato direto entre o ambiente escolar, estudantes e educadores, potencializaram o desenvolvimento da comunicação e das relações interpessoais específico para essa temática, sendo, esses aspectos de vital importância para os estudantes da área da saúde, que devem buscar a compreensão do cuidado na perspectiva da integralidade.
Conhecimento de adolescentes relacionados às doenças sexualmente transmissíveis e gravidez.Almeida, R. A. A. S; et al./2017Investigar o conhecimento dos adolescentes sobre doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e gravidez, destacando lacunas e áreas críticas de informação.É crucial a implementação de programas educacionais abrangentes que forneçam informações precisas e acessíveis sobre contracepção, prevenção de DSTs e saúde sexual.
Doenças sexualmente transmissíveis: conhecimento e comportamento sexual de adolescentes.Genz, Niviane,  etal./2017Avaliar o conhecimento e comportamento sexual de adolescentes sobre doenças sexualmente transmissíveis.Torna-se salutar a realização de ações educativas junto à escola sobre temas como sexualidade e saúde reprodutiva.
Políticas públicas e educação sexual: percepções de profissionais da saúde e da educação.Vieira,         PriscilaMugnai; Matsukura, Thelma Simões; Vieira CamilaMugnai / 2017Identificar, sob a ótica de profissionais inseridos em serviços públicos de Saúde e Educação, os avanços e desafios implicados nas Políticas Públicas vinculadas à adolescência e à Educação Sexual.As informações apreendidas contribuem para a identificação de potencialidades e lacunas que podem ser utilizadas como ferramentas para a avaliação e elaboração das políticas. Nesta direção, somam-se elementos para a implementação do que está previsto pelas políticas públicas na realidade das práticas de Educação Sexual.
Dúvidas e medos de adolescentes acerca da sexualidade e a importância da educação sexual na escola.Barbosa,     LucianaUchôa et al./ 2020Identificar dúvidas e medos sobre sexualidade e analisar a percepção dos adolescentes acerca do tema.Observou-se que o medo em contrair IST e da gravidez precoce, bem como as dúvidas quanto às questões que envolvem a sexualidade, estão muito presentes entre os adolescentes.
Pedagogias da sexualidade: discursos, práticas e (des)encontros na atenção integral à saúde de adolescentes.Guimarães, Jamile; Cabral, Cristiane daSilva/ 2022Analisar as ações de educação sexual empreendidas por profissionais de saúde em uma unidade básica de saúde e em uma escola pública de um bairro periférico de São Paulo.A educação para a sexualidade integra o processo de construção do sujeito, podendo contribuir com reflexões e experiências que engendrem uma práxis de cuidado de si e do outro.
Prevalência e fatores associados à iniciação sexual em adolescentes escolares do Piauí, 2015Castro,    Lucélia daCunha, et al. / 2023Analisar prevalência e fatores associados à iniciação sexual de adolescentes do PiauíA iniciação sexual está associada a fatores sociodemográficos e comportamentos de risco, destacando a necessidade de estratégias de promoção da saúde.
Factors Associated with the Use of Sexually Explicit Internet Materials among AdolescentsChaise,       RodrigoFalcão, et al./ 2023.Investigar os fatores associados ao uso de Materiais Sexualmente Explícitos da Internet (MSEI) entre adolescentes brasileiros.Maiores níveis de consumo de pornografia online estiveram correlacionados com ser menino, não ter recebido educação sexual em casa ou na comunidade, já ter tido relação sexual, maior insatisfação sexual, utilidade percebida de MSEI, orientação à performance sexual e apresentar concepções de mulheres como objetos sexuais.
Physical activity and adolescent sexual maturity: a systematic review.Campos, C.G; Carlos, F.M; Muniz, L.A;Bila, W.C; et al./ 2021Verificar a associação entre maturação sexual e atividade física na adolescência.A iniciação sexual está associada a fatores sociodemográficos e comportamentos de risco, destacando a necessidade de estratégias de promoção da saúde.

Fonte: Elaborado pelas autoras (2024).

4. DISCUSSÕES

A análise dos estudos selecionados reflete a diversidade de abordagens sobre a educação sexual e suas consequências na saúde dos adolescentes, com foco em fatores que influenciam o início da atividade sexual, conhecimento sobre saúde reprodutiva e ISTs, e a influência de interações sociais e familiares na formação de atitudes e comportamentos. Os estudos demonstram, em comum, a importância de ações educacionais integradas para promover a saúde sexual e reprodutiva de adolescentes.

O foco dessa análise está em como os diferentes fatores influenciam o comportamento sexual dos adolescentes, evidenciando a necessidade de programas educacionais que abordem esses temas de forma integral e acessível, além de estratégias intersetoriais que fortaleçam o ambiente escolar e familiar como espaços seguros de diálogo e aprendizado.

Os estudos evidenciam que o início da atividade sexual em adolescentes está associado a fatores variados, incluindo o ambiente social e familiar, além de questões pessoais e culturais. Dos Santos et al. (2015) destacam que elementos como curiosidade, pressão de pares e falta de orientação familiar e escolar contribuem para o início precoce da vida sexual. Corroborando essa perspectiva, Higa et al. (2015) destacam que a comunicação e o suporte emocional de familiares e educadores podem ser fundamentais para retardar o início da atividade sexual. Ambos os estudos sugerem que o suporte no ambiente familiar e escolar atua positivamente no desenvolvimento sexual dos adolescentes, embora Higa et al. (2015) avancem ao defender que esse apoio deve se estender a uma abordagem intersetorial. Desse modo, tanto Santos et al. (2015), quanto Higa et al. (2015) sugerem que a comunicação e o suporte emocional fornecido pela família e pela escola poderiam desempenhar um papel fundamental na preparação dos adolescentes para lidar com essa fase de forma mais consciente. Essas afirmações mostram a importância de uma educação sexual que não apenas informe sobre os riscos, mas que também forneça ferramentas para o entendimento e a gestão das emoções e expectativas dos adolescentes.

Enquanto Higa et al. (2015) promovem a intersetorialidade como estratégia educativa, Almeida et al. (2017) se concentram nas lacunas informativas que contribuem para a vulnerabilidade dos adolescentes. Eles destacam que muitos adolescentes não têm acesso a informações adequadas sobre doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e métodos contraceptivos, o que aumenta o risco de gravidez precoce e exposição a DSTs. Embora ambos os estudos reforcem a necessidade de uma educação sexual ampla, Almeida et al. (2017) abordam mais diretamente a questão do conteúdo e da clareza da informação, enquanto Higa et al. (2015) enfatizam a importância da cooperação entre diferentes setores para alcançar os adolescentes de forma mais eficaz.

Cabe ressaltar que diversos estudos mencionam as lacunas no conhecimento dos adolescentes sobre doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e métodos contraceptivos, destacando a importância de programas de educação sexual que abordem esses temas de maneira clara e objetiva (Almeida et al., 2017; Chaise et al.,2023; CAMPOS et al., 2021). Esses autores reafirmam a necessidade de conteúdos amplos e acessíveis nos currículos escolares, com enfoque em aspectos preventivos e na conscientização das consequências dos comportamentos sexuais. Além disso, a pesquisa também indica que os adolescentes têm pouco conhecimento sobre os métodos de prevenção disponíveis, o que demonstra a necessidade urgente de educação sexual prática e aplicável.

Outro ponto de vista relevante é apresentado por Genz et al. (2017), que argumentam que adolescentes expostos a informações claras e bem contextualizadas demonstram comportamentos mais responsáveis e conscientes. Corroborando com essa conclusão, Barbosa et al. (2020) apontam que quando recebem apoio emocional e orientação adequada, os adolescentes tendem a expressar menos medo e insegurança em relação à sexualidade. Barbosa et al. (2020) vão além ao discutir a importância de abordar a sexualidade de maneira ampla, incluindo aspectos emocionais e sociais. Essa diferença destaca que, enquanto Genz et al. (2017) focam no efeito da informação clara sobre o comportamento sexual, Barbosa et al. (2020) defendem uma abordagem que contemple o bem-estar emocional, sugerindo que o impacto de uma educação sexual completa abarca mais que o conhecimento preventivo.

Guimarães e Cabral (2022) destacam que a educação sexual contribui para o desenvolvimento pessoal e relacional dos adolescentes, auxiliando na formação de uma visão positiva e respeitosa de si e dos outros. Esses autores defendem uma prática educativa que vai além da prevenção e inclui o autocuidado e o respeito mútuo, promovendo uma sociedade mais consciente e saudável. Este ponto é complementado por Barbosa et al. (2020), que também destacam a importância de fornecer aos adolescentes um espaço seguro para discussão de temas sensíveis, mas com um foco mais voltado para o bem-estar emocional. Aqui, observa-se uma complementaridade entre as perspectivas de ambos os estudos, que apontam para a necessidade de a educação sexual abranger tanto aspectos de prevenção quanto valores de empatia e respeito nas relações interpessoais.

Há também estudos que enfatizam as lacunas no acesso à informação adequada. Castro et al. (2023) observam que adolescentes de regiões mais desfavorecidas têm uma iniciação sexual precoce, muitas vezes em contextos de vulnerabilidade. Esse achado sugere que, embora haja consenso sobre a importância da educação sexual, as condições socioeconômicas e regionais ainda representam um obstáculo para muitos adolescentes. Esse ponto é reiterado por Chaise et al. (2023), que argumentam que a ausência de discussões sobre sexualidade no ambiente familiar e escolar leva adolescentes a buscarem informações em fontes externas, muitas vezes inadequadas, como materiais sexualmente explícitos. Esse contraste expõe a necessidade de programas educacionais que reconheçam e abordem as especificidades regionais e socioeconômicas dos adolescentes, para assegurar uma educação sexual realmente acessível e eficaz.

Os estudos demonstraram que os adolescentes enfrentam muitos medos e inseguranças em relação a questões sexuais, especialmente no que diz respeito ao risco de contrair infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e à possibilidade de uma gravidez não planejada (Chaise et al., 2023). Segundo Barbosa et al. (2020), essa ansiedade demonstra uma carência de orientação e suporte emocional, que poderiam ser supridos por um programa de educação sexual que aborde informações técnicas e aspectos emocionais e sociais da sexualidade. 

A educação para a sexualidade é essencial para o desenvolvimento pessoal dos adolescentes. Essa educação auxilia os jovens na construção de uma visão de si mesmos e dos outros, promovendo o autocuidado e o respeito nas relações interpessoais. Essa perspectiva é importante porque sugere que a educação sexual não deve ser abordada apenas sob a ótica da prevenção, mas também como uma prática educativa que contribui para a formação integral do indivíduo (Guimarães; Cabral, 2022). 

Embora as análises mostrarem um alinhamento entre os autores no que se refere à relevância de uma educação sexual abrangente e acessível, alguns artigos indicam divergências em relação às ênfases e abordagens. Enquanto alguns autores destacam a importância do apoio intersetorial e da informação clara (Genz et al., 2017; Almeida et al., 2017; Castro et al., 2023) outros enfatizam o valor do suporte emocional e do respeito mútuo (Barbosa et al., 2020). 

 Em conjunto, essas perspectivas evidenciam que a educação sexual na adolescência deve ser estruturada para abordar os múltiplos aspectos da sexualidade humana, de modo a responder não apenas às necessidades preventivas, mas também às questões emocionais e sociais dos jovens (Guimarães, Cabral, 2022).

Os resultados discutidos evidenciam a necessidade de uma abordagem educativa que vá além da mera transmissão de informações, abarcando aspectos emocionais, sociais e comportamentais da sexualidade adolescente (Guimarães, Cabral, 2022). Nesse contexto, a enfermagem pode desempenhar um papel fundamental. Profissionais de enfermagem, especialmente aqueles atuantes na atenção primária e na saúde escolar, possuem uma oportunidade única de estabelecer vínculos de confiança com os adolescentes e suas famílias, proporcionando um espaço seguro para orientações sobre sexualidade e saúde reprodutiva. 

A enfermagem contribui de forma relevante ao desenvolver programas de educação sexual que sejam adaptados às realidades culturais e sociais dos jovens, promovendo o conhecimento técnico e o cuidado integral. Por meio de práticas interdisciplinares, os enfermeiros podem colaborar com escolas, famílias e outras instituições para garantir que a educação sexual oferecida seja completa e acessível, estimulando a reflexão sobre autocuidado e respeito nas relações (Genz et al., 2017). Desta forma, a enfermagem desempenha um papel indispensável na construção de uma sociedade mais consciente e preparada para lidar com as complexidades da vida sexual e afetiva, promovendo, ao mesmo tempo, saúde e bem-estar entre adolescentes.

5. CONCLUSÃO

A educação sexual para adolescentes se apresenta como uma estratégia fundamental para promover comportamentos seguros e conscientes em relação à sexualidade, contribuindo para a redução de riscos à saúde, como a incidência de infecções sexualmente transmissíveis e a gravidez precoce. Este estudo demonstrou que a abordagem educativa, quando ampla e acolhedora, facilita o entendimento dos jovens sobre sua saúde sexual e reprodutiva, auxiliando na construção de uma visão mais equilibrada e informada sobre o tema.

As iniciativas de educação sexual devem ir além da informação biológica, abordando também aspectos emocionais e sociais que envolvem a sexualidade na adolescência. Programas intersetoriais, que envolvem escolas, famílias e profissionais de saúde, são essenciais para o desenvolvimento de uma educação sexual mais eficaz, oferecendo uma perspectiva integral que favorece o bem-estar dos adolescentes e contribui para o fortalecimento de suas escolhas.

Nesse contexto, a enfermagem desempenha um papel significativo. Com uma abordagem centrada no cuidado, os profissionais de enfermagem podem estabelecer uma relação de confiança com os adolescentes, abordando questões de sexualidade de maneira sensível e ética. A atuação da enfermagem em programas de educação sexual é essencial para fornecer orientações seguras e personalizadas, promovendo um ambiente onde o adolescente se sinta à vontade para discutir suas dúvidas e medos.

Logo, políticas públicas voltadas à educação sexual na adolescência são essenciais para consolidar o desenvolvimento saudável dessa faixa etária. A implementação de programas contínuos e colaborativos, integrando a atuação da enfermagem e outros profissionais de saúde, possibilita uma educação mais completa e humanizada, que valoriza tanto a prevenção de riscos quanto o apoio ao bem-estar emocional e social dos jovens.

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1Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB, Campus Ceilândia. e-mail: amandasouzaxz3@gmail.com
2 Docente da graduação de Enfermagem. Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB). Mestre em Ciências e Tecnologias em Saúde pela Universidade de Brasília (UNB). e-mail: enf.izabellamorais@gmail.com