EDUCAÇÃO EM SAÚDE ACERCA DO COMBATE À POBREZA MENSTRUAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7942266


Victória Régia Ferreira da Silva Ribeiro
Joara Cunha Santos Mendes Gonçalves Val
Francisca Cadidja Ribeiro de Almeida
Marcelle Fialho Oliveira
Rayanne Teixeira Brito
Werrington Medeiros da Silva


RESUMO

A pobreza menstrual é definida como uma situação em que mulheres no período da menstruação, não tem acesso adequado à saneamento básico, banheiro e produtos de higiene íntima. Este trabalho tem o obejetivo descrever a experiência de 4 alunas de medicina, em um do projeto de extensão voltado para o combate da pobreza menstrual em 4 escolas municipais de Parnaíba-PI. Como base metodológica, optou-se pela utilização da Teoria da Problematização (Berbel, 2011), embasada na metodologia do Arco de Charles Maguerez e a fundamentação teórica ocorreu em bases científicas, sendo elas: Scielo, LILACS e PubMed. O projeto, intitulado “Liberdade Menstrual” teve sua realização na cidade de Parnaíba-PI, nas escolas municipais que possuem alunas regularmente matriculadas no ensino fundamental II (6º ao 9º ano) na faixa etária de 11 aos 15 anos. Após toda questão burocrática inicial ser finalizada, foi dado início ao ciclo de palestras nas escolas selecionadas para o projeto. As palestras aconteceram seguindo um protocolo estabelecido em reunião, abordando temas relacionados à saúde feminina. Em seguida realizavam-se dinâmicas, entregas dos kits para as estudantes e a caixa de acrílico para a escola para serem abastecidas pelas próprias usuárias. Conclui-se assim, que é de suma, importância que as instituições passem a dialogar sobre o assunto na sala de aula. Em virtude, de que as meninas tenham total dimensão dos seus direitos, e que haja uma quebra desse tabu, que é o debate sobre a menstruação para que estas adolescentes possam vivenciar essa fase da mulher de maneira mais saudável.

PALAVRAS-CHAVE: Educação. Pobreza. Menstruação. Produtos de higiene feminina. Autocuidado.

INTRODUÇÃO

Muitas meninas consideram a primeira menstruação um momento decisivo em suas vidas. Em muitas situações, as jovens passam por esse estágio com muita preocupação, ansiedade e insegurança, especialmente aquelas cuja realidade inclui a precariedade menstrual. (ASSAD, 2021).

A pobreza menstrual é descrita como um cenário em que as mulheres não têm acesso adequado a banheiros, suprimentos pessoais ou sanitários essenciais enquanto estão menstruadas. (ASSAD, 2021). As mulheres que não têm acesso a absorventes descartáveis ​​devem utilizar medidas inseguras para controlar a menstruação.

Devido ao alto custo, 26% das brasileiras não têm acesso a produtos de higiene. Sabe – se que as mulheres precisam de higiene adequada devido às necessidades biológicas para prevenir infecções, e que essa necessidade aumenta durante o ciclo menstrual. (UNICEF, 2021).

Mulheres que não têm acesso a absorventes descartáveis ​​empregam técnicas arriscadas para controlar a menstruação, colocando em risco sua saúde. Algumas dessas táticas incluem o uso de jornais, papel, sacolas plásticas, trapos, meias e até mesmo a reutilização de absorventes descartáveis. Os principais efeitos colaterais incluem o desenvolvimento de vulvovaginite e infecção do trato urinário, os quais podem ser fatais em circunstâncias graves. (ASSAD, 2021).

Além disso, existem inúmeros casos de garotas que renunciam a visitar seus locais habituais. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 10% das meninas abandonam a escola quando estão menstruadas. Incapazes de controlar seu fluxo menstrual, algumas meninas desistem de frequentar a escola, o que afeta negativamente seu desempenho acadêmico. (ASSAD, 2021).

Apesar do impacto significativo que esta questão tem na vida de muitas mulheres, há poucos estudos que abordem especificamente a pobreza menstrual no Brasil. Além disso, esse tema está envolto em tabus, preconceitos e desconhecimento, principalmente no contexto das escolas públicas, e poucos estudos abordam o tema em questão. Nessa situação, a educação em saúde é fundamenta, pois contribui com o autocnhecimento e  a qualidade de vida de diversas mulheres. (LOPES, 2021).

Nessa perspectiva, este estudo tem como objetivo descrever a experiência de quatro alunas de medicina, no desenvolvimento e aplicação do projeto de extensão voltado para o combate da pobreza menstrual em quatro escolas municipais de Parnaíba-PI.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, que se deu através da vivência de quatro discentes, do curso de Bacharelado em Medicina de uma instituição de ensino superior situada na cidade de Parnaíba – PI, durante o desenvolvimento e aplicação de um projeto de extensão intitulado “Liberdade Menstrual”.  O projeto aconteceu em quatro escolas municipais de Parnaíba-PI. Durante a aplicação do projeto, as discentes promoveram um momento de educação em saúde para as alunas sobre o tema pobreza menstrual e saúde íntima feminina, e distribuíram kits higiênicos para tais. A atividade aconteceu durante o mês de novembro a dezembro de 2022, supervisionado pela orientadora, professora da instituição.

Como base metodológica, optou-se pela utilização da Teoria da Problematização (Berbel, 2011), embasada na metodologia do Arco de Charles Maguerez, que conta com cinco etapas para a definição da problemática e produção das intervenções: observação da realidade, pontos-chave, teorização, hipóteses de solução e aplicação na realidade.

Nas observações iniciais, realizou-se um levantamento de pontos-chave para pontuar os problemas evidenciados, destacando a necessidade de uma intervenção voltada ao combate da pobreza menstrual.

A fundamentação teórica ocorreu em bases científicas, sendo elas: Scielo, LILACS e PubMed a partir da pesquisa das seguintes palavras-chave obtidas nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Educação”; “Pobreza”; “Menstruação”; “Produtos de higiene feminina”; “Autocuidado”.

Por conseguinte, executou-se a feitura das propostas intervencionistas, com o fito de atenuar a problemática exposta. Para o alcance dessa finalidade, elaborou-se um cronograma, contendo as escolas e as datas previstas para a realização da atividade.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O Plano Nacional de Extensão define a extensão universitária como o processo educativo, cultural e científico que articula, amplia, desenvolve e realimenta o ensino e a pesquisa, estabelece a troca de saberes entre a sociedade e a universidade, como resultado tem-se a produção de conhecimento e a participação efetiva da comunidade na atuação da universidade. Este envolvimento com a sociedade permite um conhecimento e ação em cenários da realidade regional e favorece a visão integrada do social, contribuindo para o processo de formação de um profissional comprometido com a realidade social.

Como as práticas de extensão contribuem na formação de um médico mais humanista, crítico e reflexivo, comprometido com as questões sociais de saúde. Devido à grande importância da temática a respeito da pobreza menstrual decidiu-se elaborar um projeto de extensão com a finalidade de trazer esse debate para dentro das escolas e fazer com que o tema seja visto com mais notoriedade. Onde se possa discutir sobre a temática e que essas meninas possam ser incluídas nessa discussão, para que esses problemas não afetem sua rotina, e, principalmente, que não deixem traços negativos a respeito de algo que é fisiológico a todas as mulheres que é a menstruação. .

Dito isto, nosso projeto, intitulado “Liberdade Menstrual”, teve sua realização local no município de Parnaíba-PI, nas escolas municipais da cidade em que possuem alunas regularmente matriculadas no ensino fundamental II (6º ao 9º ano) na faixa etária de 11 aos 15 anos. Com o objetivo de executar ações de educação em saúde sobre pobreza menstrual, cogitando a mudança da realidade desse público.

Para a realização desse projeto, inicialmente foi necessário a escolha de quatro escolas que representassem a variedade regional do município, ou seja em regiões e realidades distintas, assim após a divisão das quadro macrorregiões foi realizado o mapeamento das escolas pertencentes àquela região e por meio de sorteio, foi definida as quatro escolas: E.M. Roland Jacob, E.M. Godofredo de Miranda, E.M. Santa Luzia, E.M. Albertina Furtado.

Em seguida, cada integrante do projeto ficou responsável pelo contato inicial com os diretores das escolas para coleta de informações como número de meninas, percepção dos diretores da relação das adolescentes com o período menstrual, realidade socioeconômica, recursos disponíveis para a palestra, logística para execução da palestra e definição da data.

Após essa etapa verificamos que o nosso público total era de 488 alunas, em seguida foi estabelecido através de pesquisas locais em estabelecimentos comerciais nossa meta de arrecadação para confecção de kit de higiene pessoal e demais materiais utilizados nas dinâmicas durante as palestras, bem como caixa de acrílico para reservatório para deixar no banheiro de cada escola para reposição de absorventes. Os kits de higiene pessoal foram compostos por 2 pacotes de absorventes, 1 sabonete em barra, 1 papel higiênico, 1 tabela com todos os dias do mês com a função de permitir o acompanhamento e entendimento do ciclo menstrual, a fim de detectar precocemente alterações no ciclo e contribuir para o autoconhecimento. Como nosso projeto não entrou na modalidade bolsista, recorremos a contribuição de políticos locais, empresários, professores e conhecidos próximos com doações de materiais componentes nos Kits e valores em dinheiro.

À medida que as doações aconteciam, nos reuníamos para montagem dos kits e divisão por cada escola, em paralelo era decidido outras demandas como temas abordados, dinâmicas para facilitar a fixação e atrair a atenção das adolescentes, confecção de camisetas e atualização do Instagram em tempo real das etapas do projeto.

Após toda questão burocrática inicial ser finalizada, foi dado início ao ciclo de palestras nas escolas, inicialmente começarmos na E.M. Santa Luzia, em seguida E.M Godofredo de Miranda, E.M. Albertina Furtado Castelo Branco- CAIC, finalizando com E.M. Roland Jacob, importante frisar que as palestras acontecerem em dias distintos.

As palestras aconteciam seguindo um protocolo estabelecido em reunião, primeiramente falava-se do projeto, objetivos, importância e forma de contato conosco, em seguida eram abordados temas relacionados à saúde feminina, tais como, anatomia, fisiologia da menstruação, mudanças hormonais no ciclo menstrual e o que fazer quando isso acontecer e a maneira de lidar com os sintomas apresentados, higienização íntima, tipos de absorventes e como usá-los, período de troca ideal, como identificar e prevenir alterações patológicas nos corrimentos vaginas.

Durante as palestras era possível o questionamento palas adolescentes no momento da apresentação, em seguida realizavam-se dinâmicas de verdadeiro e falso com perguntas chaves, apresentação da caixa de acrílico para reserva de absorvente que seriam abastecidas pelas próprias usuárias como forma de solidariedade com outras alunas que precisassem desse item de higiene num momento de necessidade. Ao final eram entregues os kits para estudantes e reservado um momento de tirar dúvidas mais privado.

Ao final foi possível perceber o quão proveitoso foi a realização desse projeto na nossa formação acadêmica e como indivíduo, desenvolvendo habilidades que extrapolam as matérias de medicina, como relações sociais, financeiras e estratégicas, oratória voltada para um público tão específico que facilmente perde a atenção quando em contato com assuntos novos e complexos.

CONCLUSÕES

Por fim, a realidade entre as quatro escolas é bem próxima, assemelhando as questões socioeconômicas e a necessidade de conhecimento em educação menstrual, que ensina e mostra alternativas seguras e saudáveis para passar pelo período menstrual com dignidade. É de suma, importância que as instituições passem a dialogar sobre o assunto na sala de aula. Em virtude, de que as meninas tenham total dimensão dos seus direitos, e que haja uma quebra desse tabu, que é o debate sobre a menstruação para que estas adolescentes possam vivenciar essa fase da mulher de maneira mais saudável.

 REFERÊNCIAS

ASSAD, B. F. Políticas públicas acerca da pobreza menstrual e sua contribuição para o combate à desigualdade de gênero. Revista Antinomias, v. 2, n. 1, p. 140 – 160, junho 2021.

BERBEL, N; GAMBOA, S. A Metodologia da Problematização com o Arco de Maguerez uma reflexão teórico – epistemológica. Filosofia e Educação, V.3, N. 2, 2011.

LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. – 4. ed. – Brasília, DF: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2020.

LOPES, Agnaldo. Combate à pobreza menstrual: Urgência em políticas públicas para atender 4 milhões de meninas. 2021. Disponível em https://www.otempo.com.br/opiniao/artigos/combate-a-pobrezamenstrual-1.2521701.

QUEIROZ, Nana. Presos Que Menstruam. Rio de Janeiro: Record, 2015.

UNICEF. Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos. 2021. Disponível em https://www.unicef.org/brazil/relatorios/pobreza-menstrual-no-brasil-desigualdade-e-violacoes-dedireitos.