EDUCAÇÃO EM DOR E ATIVIDADES ALTERNATIVAS COMO POTENCIAL MODULATÓRIO DA DOR CRÔNICA: UMA REVISÃO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10083820


Stefany Juliano da Luz1
Igor Rodrigues de S. Thiago2
Ariana Centa3
Gislaine F. da Silva4


Resumo – A dor pode ser classificada de acordo com seu tempo de duração entre aguda e crônica, sendo a última mais prolongada e muitas vezes incapacitante. Quanto a fisiopatologia da dor crônica, acontece o envolvimento de diversos fatores, incluindo a sustentação da sensibilização periférica e central, além de alterações nos sistemas de modulação dolorosa. A partir do reconhecimento da complexidade da dor, como um fenômeno multifatorial e avaliando seus aspectos físicos, subjetivos e emocionais, vê-se seu reflexo na vida dos pacientes acometidos. Diminuição na qualidade de vida, imobilidade osteomuscular, distúrbios de humor e sono, ansiedade e depressão são comumente associados a quadros álgicos prolongados. Com base nesses dados, a educação em dor, atividades alternativas e multidisciplinares podem auxiliar no tratamento das mais extensas particularidades da dor crônica. Essa revisão integrativa da literatura teve como objetivo avaliar o potencial modulatório da educação em dor e de atividades alternativas para reduzir a dor crônica, considerando seus mais amplos aspectos. Foram analisados e tabelados 13 artigos da base de dados PubMed. Como resultado constatou-se que atividades envolvendo música, yoga, tai chi, dança, exercícios, acupuntura, espiritualidade, arteterapia, aromaterapia, terapia floral e educação em dor, possuem excelente potencial modulatório da dor crônica, além de atuar na redução de ansiedade, depressão e estresse. Diante do exposto, conclui-se que atividades alternativas podem ser utilizadas como terapias adjuvante no tratamento álgico, e como terapêutica auxiliar, já que possuem alta resposta na redução da sensação de dor, auxiliando o paciente em diversos aspectos da vida e de seu dia a dia. 

Palavras-chave: Atividades alternativas. Modulação. Dor.

Abstract – Pain can be classified according to its duration into acute and chronic, the latter being more prolonged and devastating. The pathophysiology of chronic pain is known to involve a number of factors, including sustained central sensitization and alterations in pain modulation systems. Recognizing the complexity of pain as a multifactorial phenomenon and evaluating its physical, subjective and emotional aspects, we can see its impact on the lives of affected patients. Decreased quality of life, musculoskeletal immobility, mood and sleep disorders, anxiety and depression are commonly associated with prolonged pain. Based on this data, alternative and multidisciplinary activities can help treat the most extensive particularities of chronic pain. This integrative literature review aimed to evaluate the modulatory potential of alternative activities to reduce chronic pain, considering its broadest aspects. Thirteen articles from the PubMed database were analyzed and tabulated. The results showed that activities involving music, yoga, tai chi, dance, exercise, acupuncture, spirituality, art therapy, aromatherapy, flower therapy and pain education have excellent modulatory potential for chronic pain, as well as acting to reduce anxiety, depression and stress. In view of the above, it can be concluded that alternative activities should not only be used as adjuvant therapies in pain treatment, but can also be used as the main therapy, as they have a high response in reducing the sensation of pain, helping patients in various aspects of life and their daily lives. 

Keywords: Alternative activities. Modulation. Chronic Pain. 

INTRODUÇÃO 

Considerando o caráter multifatorial da dor, conceituá-la é um desafio. A Associação Internacional para Estudos da Dor (IASP) revisou, no ano de 2020, o conceito de dor e atualmente é considerada uma “Experiência sensitiva e emocional desagradável associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial”. Quando se busca a origem etimológica da palavra dor encontra-se no latim relação com a palavra punição e no grego relaciona-se a pagamento/pena, tais conceitos evidenciam que a carga imposta a sensação dolorosa não se dá apenas de maneira objetiva, mas também apresenta um componente subjetivo e cultural (Raja et al., 2020). 

É possível então exemplificar a dimensão heterogênea e multifatorial da dor através da abrangência entre aspectos físicos, emocionais e sociais. A dor física pode ser descrita como uma experiência sensorial desagradável, adotada como a causa mais comum de sofrimento. A dor emocional tange o medo do sofrimento e da morte, além de englobar sentimentos de raiva, tristeza, insegurança, ressoando em alterações de humor e desesperança. Ademais, a dor social reflete o medo de isolamento, abandono e dependência (Oliveira et al., 2022).  

Clinicamente a dor pode ser subdivida em aguda e crônica, a primeira é definida por dor de duração inferior ou até três meses, que pode ser provocada por uma lesão efetiva ou potencial, que provoque uma vivência sensorial aversiva. Já a dor crônica é conceituada como a dor de duração superior há 3 meses que tenha como característica a recorrência e permanência da sensação dolorosa, ou seja, a dor crônica não tem função de alerta e é considerada em si, uma doença. (Gimenes et al., 2020; Aguiar et al., 2021).  

Diversos fatores estão relacionados com a dor crônica, os que envolvem a liberação demasiada de mecanismos endógenos que excitam e/ou fazem a diminuição dos sistemas modulatórios e causam uma neuroplasticidade mal adaptativa, que culmina na cronificação da dor. A cronificação é tida quando há a sensibilização em um primeiro momento periférica, quando os estímulos são repetidos de forma sustentada na periferia e acabam causando uma sensibilização central, ou seja, diminuição do limiar doloroso, dessa forma, mesmo quando há a cessação do estímulo nociceptivo periférico,  o sistema nervoso central acaba por interpretar sinais inócuos, como dor, o que chamamos de alodinia e  também interpretar os que já são dolorosos, como hiperalgesia (Silva, L.A.; Vieira, A.A.; Oliveira, V.D., 2023).

O ciclo viciante da dor em pacientes por períodos prolongados, evidencia como o quadro álgico pode afetar diretamente o dia a dia de seus portadores. Distúrbios do sono, dificuldades de locomoção, isolamento, outras doenças relacionadas com a dor, estresse excessivo, transtornos de ansiedade e depressão, andam em conjunto com a sensação dolorosa, interferindo diretamente no bem-estar físico e emocional (Marquez, 2011). 

Estudos clínicos revelaram uma redução na modulação e percepção dolorosa após práticas alternativas, sendo elas musicoterapia, roda de conversa, dança e movimento corporal, espiritualidade, atividades físicas e alongamentos, jogos de realidade virtual e de tabuleiro. Evidenciando a importância das atividades alternativas para o tratamento de paciente que convivem com a experiência dolorosa de maneira crônica (Hamlin A.S.; Robertoson, T.M., 2017).  

Sendo assim, considerando a prevalência da dor crônica na população e sua influência na qualidade de vida, saúde, bem-estar físico e emocional dos pacientes, com este estudo objetiva-se realizar uma revisão integrativa sobre os benefícios de práticas alternativas de diversas atividades na modulação da dor crônica. 

DELIMITAÇÕES METODOLÓGICAS  

Trata-se de um estudo do tipo revisão integrativa, a partir de levantamento bibliográfico sobre o potencial modulatório de atividades alternativas em pacientes com dor crônica.  

A pesquisa se desenvolveu nas bases de estudos eletrônicos: PubMed, sendo utilizados os artigos na íntegra, publicados nos últimos cinco anos. Foram utilizadas buscas com termos independentes e com o termo booleano “e/and” previamente definidos “Dor crônica, modulação e atividades alternativas” e em inglês “Chronic pain, modulation and alternative activities” utilizados como descritores verificados no DECs (Descritores em Ciências da Saúde). 

Inicialmente o processo de coleta de dados aconteceu em outubro de 2023. A busca nas bases de dados resultou em aproximadamente estudos selecionados que abordavam a temática de interesse sobre o potencial modulatório das ludicidades como música, dança, movimento, aroma, educação, yoga, tai chi entre outras, para a dor crônica. 

Foram analisados 19 títulos e resumos, assim 6 artigos foram descartados por inadequação ao tema ou por se tratar de assuntos mais amplos. 

Destes, foram selecionados, após a leitura completa, 13 trabalhos científicos para compor a revisão integrativa, conforme descrito no fluxograma abaixo (Figura 1). 

Diagrama
Descrição gerada automaticamente

Fonte: Autores 

RESULTADOS E DISCUSSÕES 

Foram selecionados e utilizados 13 estudos científicos que atenderam aos critérios de inclusão e exclusão, permitindo assim realizar as discussões do tema neste artigo. O Quadro 1 apresenta as descrições principais contidas nas pesquisas, por autores, título, objetivo e resultados. 

Quadro 1. Artigos incluídos neste trabalho de revisão integrativa 

Autor  Título  Objetivos  Resultados  
Assunção Júnior et al., 2018. Dança Zumba pode melhorar dor e capacidade funcional em mulheres com fibromialgia  Analisar a efetividade da modalidade zumba em promover a redução da dor, o aprimoramento das capacidades funcionais, a melhoria na qualidade do sono e o aperfeiçoamento da qualidade de vida em mulheres portadoras de fibromialgia. A prática da dança zumba como tratamento durante um período de três meses mostrou-se eficaz para melhorar tanto a dor quanto o funcionamento físico de pacientes com fibromialgia. Outros aspectos não obtiveram alterações de resultado.  
Tsai et al., 2018. Tai Chi para transtornos de estresse pós-traumático e dor musculoesquelética crônica: um estudo piloto Realizar um estudo para investigar a possibilidade de uma intervenção baseada no Tai Chi como tratamento para dor muscular e esquelética, melhoras as emoções, a cognição e a habilidade física em pessoas que sofrem de transtornos de estresse pós-traumático.  90,9% dos participantes relataram perceber melhora na saúde na primeira etapa, já na segunda etapa com uma prática de tai chi por 12 semanas, foi observado melhora da memória, na função física em uma caminhada de 6 minutos, na redução da intensidade da dor e melhora dos sentimentos relacionados com emoções de afeto e medo. 
Koebner et al., 2019. A arte da analgesia: um estudo piloto de visitas a museus de arte para diminuir a dor e a desconexão social entre indivíduos com dor crônica   Avaliar a possibilidade de visitas a museus de arte (Art Rx) como intervenção terapêutica para pacientes com dor crônica. Foi observado alívio da dor durante o passeio. Os participantes informaram que experimentaram uma redução da sensação de isolamento e da percepção de desconforto doloroso após o passeio.  
Schmid et al.,2019. Yoga melhora o desempenho ocupacional, a depressão e a atividades diárias de pessoas com dor crônica Compreender se a yoga bem benefícios no tratamento de dores crônicas, juntamente com outros cuidados habituais.  Ficou evidenciado uma melhora significativa no desempenho ocupacional e no indicie de atividade após a prática da yoga, além de diminui a depressão.  
Yavne et al., 2019. Os poderes das flores: avaliando o impacto da terapia floral na dor e nos sintomas psiquiátricos da fibromialgia  Examinar o efeito do curso de design floral, ou seja, floricultura, sobre aspectos físicos e emocionais de portadoras de fibromialgia. Houve uma melhoria significativa dos componentes de saúde física e mental, incluindo redução da intensidade da dor e dos sintomas psiquiátricos em todos as participantes após o curso. 
Lin et al., 2020. Efeito da musicoterapia na dor crônica e na qualidade de vida de pacientes após troca valvar mecânica   Realizar um estudo para identificar o real efeito das intervenções musicais na experiência dolorosa.   Observaram que houve uma melhora na qualidade de vida, na percepção emocional relacionada a diminuição do quadro álgico pelo grupo que ficou exposto a música por um período prolongado. 
Mimi et al., 2023.  Um programa de exercícios de música com movimento para idosos comunitários que sofrem de dor crônica: um ensaio piloto randomizado e controlado Analisar as vantagens da música e do movimento sobre pacientes idosos com dor crônica em seus diversos aspectos. Além da redução da intensidade da dor, o movimento e a som mostraram-se eficientes para aumentar a percepção do indivíduo a respeito de capacidades no exercício de determinada atividade, redução da interferência da dor no dia a dia dos pacientes, redução da solidão e melhora dos sintomas depressivos.  
Park et al., 2020. Terapia cognitiva baseada na atenção plena para sofrimento psicológico, medo de recorrência do câncer, fadiga, bem-estar espiritual e qualidade de vida em pacientes com câncer de mama -um ensaio clínico randomizado e controlado Observar a efetividade da abordagem com base na atenção integral do paciente com câncer de mama, avaliando aspectos psicológicos que a doença pode trazer.  Observaram uma resposta positiva do grupo que recebeu a terapia cognitiva que envolveu meditações e psicoeducação, ou seja, esses apresentaram melhora significativa nos quadros de ansiedade e depressão, aumento do bem-estar espiritual e a qualidade de vida, além de reduzir a taxa de conversão alimentar e de fadiga. 
Rettke et al., 2021. Espiritualidade e cuidado com a saúde. A perspectiva dos pacientes com dor crônica  Ter como base a percepção do paciente com doença crônica sobre o âmbito espiritual da doença e seu potencial de participar na terapêutica.  Não estabeleceu uma conexão necessidades e preocupações espirituais já que são aspectos que podem ser interpretados de diferentes formas. Porém o observou que o tema espiritual pode ser relevante para o processo de tratamento. Por fim, relacionou-se as preocupações espirituais com práticas religiosas e crenças especificas.   
Saracoglu et al., 2022. A eficácia da educação em neurociência da dor combinada com terapia manual e exercícios em casa para dor lombar crônica: um ensaio clínico randomizado, cego e controlado  Avaliar o efeito a curto e médio prazo da educação em neurociência da dor, juntamente com terapêutica manual e um plano de exercícios domiciliares na intensidade álgica, incapacidade, desempenho nas costas e cinesiofobia, em pacientes com dor lombar crônica. A intensidade da dor e a cinesiofobia diminui no grupo que recebeu as três terapias combinadas, ou seja, a educação em dor, terapia manual e exercícios em casa, já o nível de incapacidade teve uma redução no grupo já exposto e no grupo que recebeu somente a terapia manual e o programa de exercício domiciliar. 
Varkaneh et al., 2022.  O efeito da inalação de eucalipto na dor e na qualidade de vida na artrite reumatoide Analisar os efeitos do aroma de eucalipto na qualidade de vida e na modulação da intensidade de dor em pacientes diagnosticados com artrite reumatoide há pelo menos um ano.  Concluíram que a técnica de aromaterapia com essência de eucalipto auxiliou para a redução do limiar de intensidade dolorosa nos pacientes após três semanas de intervenção.  
Rohaj et al., 2023. A terapêutica Digital (DTx) Expande as Opções de Tratamento Multimodal para Dor Lombar Crônica: O Nexo da Medicina de Precisão, Educação do Paciente e Saúde Pública  Fornecer uma visão geral sobre as terapias digitais atuais utilizadas para o tratamento multimodal de pacientes com dor lombar crônica. Houve a comprovação do potencial terapêutico de software como dispositivos online para reduzir a intensidade dolorosa, e seu benefício no tratamento de pacientes com dores crônicas na lombar. 
Liao et al.,2023. Eficácia clínica e efeitos imunológicos da acupuntura em pacientes com dor crônica comorbidade e transtorno de depressão maior: um estudo cruzado, duplo-cego, randomizado e controlado Analisar se a acupuntura em pontos específicos para dor e depressão possuem diferença entre seus benefícios para o sistema imunológico em pacientes que sofrem de dor crônica e transtorno depressivo maior (TDM). Notou-se uma igualdade entre os efeitos na dor, depressão, nível de interleucinas (IL)-6, IL-1beta e fatore de necrose tumoral nos pontos específicos para dor e para a depressão.  

Essa revisão integrativa aborda a modulação da dor através de práticas alternativas, mas também provoca reflexão sobre a necessidade de implementar terapias multidisciplinares para pacientes com dor crônica, além de abordar a dor em todas as suas dimensões: biológica, física, emocional, social e cultural, visando um tratamento completo e efetivo.  

Ao se avaliar as áreas de atuação das práticas alternativas, o exercício físico em seus variados estilos e maneiras de execução, destaca-se, uma vez que interage com áreas cerebrais, de modo a estimular a liberação de serotonina, dopamina e outras substâncias capazes de produzir analgesia em doentes crônicos, além de atuar também em aspectos psicológicos, motores e sociais (Souza, 2023).

A dança é um exercício aeróbico excelente, que é utilizado como forma de expressão e comunicação e possui qualidades de equilíbrio e flexibilidade, melhora a resposta muscular, ativa a memória e aumenta a propriocepção. Um tipo de dança que vem crescendo popularmente é a zumba, que junta ritmos latino-americanos e coreografias de movimento corporal, além de ser um estilo descontraído que trabalha a coordenação motora e auxilia na socialização. Pacientes com fibromialgia, obtiveram uma melhora significativa da dor, da qualidade do sono, do condicionamento físico e da capacidade funcional, além de uma melhora expressiva na qualidade de vida após a prática dessa atividade (Assunção Júnior et al., 2018). 

Em suma, a dança pode ajudar a modular a dor crônica através de uma série de mecanismos, incluindo a liberação de endorfinas, a melhoria da circulação sanguínea, o fortalecimento muscular, a estimulação do sistema nervoso central, a promoção do bem-estar emocional, a redução do isolamento social, a expressão criativa e o aprendizado de técnicas de relaxamento. Incorporar a dança como parte de um plano de gerenciamento da dor pode oferecer benefícios físicos, emocionais e sociais significativos para aqueles que vivem com dor crônica (Hickman et al., 2022).

Outra maneira de utilizar a energia corporal a favor da diminuição da dor, seria agrupar práticas de exercício com controle de respiração e concentração, fazendo com que a mente trabalhe juntamente com o corpo. Segundo Tsai (2018), exercícios mente-corpo como o Tai Chi, que é uma arte marcial chinesa, podem contribuir para a modulação do quadro álgico, pois ajudam a compreender emoções e pensamentos negativos, já que para praticar está arte, o paciente precisa estar com a cabeça livre de quaisquer preocupações e por isso atua também fortalecendo a memória cerebral, além de estimular a musculatura. 

Ademais, o Tai Chi é uma prática meditativa que promove a atenção plena e a concentração. Os movimentos suaves e a respiração profunda ajudam a reduzir o estresse e a ansiedade, que muitas vezes estão associados à dor crônica. A redução do estresse pode diminuir a percepção da dor e melhorar a qualidade de vida (Kong LJ, Lauche R, et al., 2016).

O yoga seria mais uma técnica para conectar mente corpo, com o intuito de promover relaxamento, diminuir o estresse e a depressão, tão presentes em pacientes que convivem com dor, além de ser eficiente como condicionador físico. Essa intervenção terapêutica pode ser utilizada para introduzir o paciente a uma atividade em grupo, com o intuito também de diminuir o isolamento. Participantes que praticam yoga por 8 semanas tiveram uma melhora significativa no seu desempenho ocupacional com relação aqueles que receberam cuidados habituais, ou seja, atua diretamente na capacidade de realizar tarefas de maneira satisfatória (Schmid et al., 2019). 

Outro sim, a prática regular do yoga tem sido associada ao aumento dos níveis de serotonina, um neurotransmissor que regula o humor e as emoções. Pessoas que sofrem de dor crônica, muitas vezes têm níveis mais baixos de serotonina, o que pode agravar a depressão e a ansiedade associadas à dor crônica. Aumentar os níveis de serotonina por meio do yoga pode contribuir para o alívio emocional e, por consequência, diminuir a percepção da dor. O yoga também pode estimular a liberação de dopamina, neurotransmissor associado à motivação, recompensa e prazer. A prática do yoga proporciona uma sensação de realização e satisfação, o que pode ser particularmente útil para pessoas com dor crônica, pois a dor pode levar à perda de motivação e prazer nas atividades diárias (Gupta, S. et al., 2022).

A educação em dor é um componente essencial no tratamento de pacientes que sofrem de dor crônica ou aguda. Compreender a dor, seus mecanismos e estratégias para o seu manejo, pode ter um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes. Ao ter conhecimento de sua condição, através de termos simples sobre o processo doloroso, suas complicações, limitações e maneiras de modular, o paciente se sente compreendido e à vontade para expor suas dúvidas e questionamentos acerca do tratamento, além de aceitar melhor seu quadro álgico crônico. Desta forma, segundo o trabalho de Saracoglu (2020), a intensidade da dor e o medo de praticar atividades físicas foram diminuídos quando pacientes, juntamente com o exercício e terapia manual, receberam informações em neurociência da dor, em comparação com aqueles que só receberam um programa de exercícios domiciliares e terapia manual. O que reforça a importância do aprendizado da dor, já que esse pode abrir novas portas para o autoconhecimento, estimular o interesse em buscar maneiras para diminuí-la em todos os seus aspectos biopsicossociais (Saracoglu et al., 2020). 

O isolamento e a incompreensão frequentemente são encontrados em pacientes que convivem com dor crônica. Esses fatores sociais são pouco comentados nas consultas e em estudos, porém eles existem e estão diretamente ligados à qualidade de vida e a dor dos indivíduos. Com base nisso, técnicas que envolvem atividades com o intuito de promover interação social e troca de experiências mostram-se relevantes para o tratamento de condições dolorosas. Visitas ao museu, por exemplo, se provaram eficientes ao diminuir a intensidade e a percepção dolorosa em um grupo de pacientes, que se sentiu mais conectado socialmente após o passeio (Koebner et al.,2019). Esse fenômeno se explica pelo fato que a dor crônica, muitas vezes leva os pacientes a ficarem intensamente na sua condição de dor e no desconforto. Isso pode criar um ciclo de atenção à dor, onde a sensação de dor se torna mais intensa à medida que mais atenção é direcionada a ela. Passeios e distrações desviam o foco da atenção da dor, permitindo que os pacientes se concentrem em atividades agradáveis, interessantes ou envolventes. Isso interrompe o ciclo da atenção à dor e diminui a percepção da mesma (Koebner et al.,2019). 

Entre os resultados mais significativos desses estudos, destaca-se a redução da percepção da dor com o uso da musicoterapia. A música atua regulando alguns sinais vitais como a pressão arterial, frequência cardíaca e frequência respiratória, além de ser utilizada como técnica de relaxamento, auxilia a estabelecer controle sobre as emoções, reduz ansiedade, depressão e estresse, funciona muito bem para interação social, desenvolvimento corporal e postural, uma vez que  possui ação sobre diversas áreas cerebrais como o sistema límbico de memória afetiva.  Além disso, a musicoterapia é uma ótima prática alternativa, já que pode ser usada como ferramenta em diversos locais (UTIs, ambulatórios, a domicílio e salas de espera), englobando todas as faixas etárias (da vida intrautero, até os idosos) e sendo de baixo custo (Rennie, C. et al., 2022). 

A música se mostrou eficiente tanto nos cuidados pós-operatório em pacientes que realizaram a cirurgia cardíaca de troca valvar mecânica, quando juntamente com movimento para idosos que sofrem com dor crônica. Os benefícios pós-operatórios reduziram as queixas dos pacientes que passaram por uma cirurgia de grande porte, como dificuldades para dormir, dor duradoura que afeta o conforto e a reabilitação dos pacientes, além de sintomas depressivos e ansiosos. Desse modo, a música atua reduzindo o limiar de dor e melhorando emoções negativas relacionadas ao quadro, levando a uma melhor recuperação do indivíduo (Lin et al., 2020). 

No que se refere aos idosos, a melodia com o movimento que o ritmo traz, diminuiu a intensidade dolorosa e reduziu a sensação de solidão e sintomas depressivos, uma vez que trabalha com a socialização e comunicação corporal, além de fortalecimento muscular -diminuindo fatores de queda- e desenvolvimento da memória, propiciando benético para esse grupo em específico (Mimi et al., 2023). 

Outro aspecto notável é a influência do contato com a natureza  sobre a dor dos pacientes. A participação de 61 mulheres com fibromialgia em um curso de floricultura, mostrou significativa melhora em relação ao quadro álgico, levando em consideração seus aspectos físicos e emocionais. Houve a diminuição da avaliação em escalas de ansiedade e depressão ocasionados pela doença, o que refletiu diretamente na qualidade de vida dessas pacientes, concretizando o potencial benefício da utilização de cursos de design floral em programas de terapia ocupacional (Yavne et al., 2019). 

Resultados efetivos com relação a analgesia foram obtidos a partir da utilização da inalação de óleo de eucalipto. O grupo que participou dessa técnica relatou redução da ansiedade, da intensidade dolorosa, sensação de alegria e aumento na qualidade de vida. Já o grupo controle continuou com a sensação de dor e por isso buscaram outras formas para amenizar a dor como massagens, cirurgias e injeções. O estudo concluiu que a inalação de óleos anti-inflamatórios pode ser utilizada como terapia complementar para pacientes com dor crônica (Varkaneh et al., 2022). 

Ademais, a aromaterapia pode criar associações positivas entre os aromas utilizados e momentos de alívio da dor. Isso pode levar os pacientes a associarem os aromas a uma sensação de conforto, alívio e bem-estar, aumentando o efeito placebo e reduzindo a sensação de dor, porém, vale salientar que as respostas à aromaterapia podem variar de pessoa para pessoa, e é fundamental escolher óleos essenciais de alta qualidade e seguros para evitar reações alérgicas. Para pacientes com dor crônica, consultar um profissional de saúde e um aromaterapeuta qualificado é aconselhável, a fim de garantir que a aromaterapia seja utilizada de maneira adequada e segura como parte de seu plano de gerenciamento da dor. (Lakhan, S. E.; Sheafer, H.; Tepper, D. 2016).

A acupuntura é uma prática terapêutica tradicional da medicina chinesa que envolve a inserção de agulhas muito finas em pontos específicos do corpo para estimular respostas fisiológicas. Segundo Liao (2023), apesar de pontos de acupuntura específicos de dor e de depressão não mostrarem diferenças significativas em suas ações, foi evidenciado que essas duas variáveis dividem diversos mecanismos biológicos.

O mecanismo de ação da acupuntura é complexo e multifacetado, envolvendo a liberação de substâncias bioquímicas, como endorfinas e neurotransmissores, que atuam no sistema nervoso central. A estimulação dos pontos de acupuntura desencadeia respostas fisiológicas que regulam a dor, promovem a circulação sanguínea, equilibram a função dos órgãos e fortalecem o sistema imunológico, proporcionando alívio de sintomas e contribuindo para o restabelecimento do equilíbrio do corpo (Huang et al., 2023).

Como já comentado anteriormente, a dor possui uma natureza multidimensional, e uma dessas dimensões leva em consideração questões espirituais. A partir da revisão integrativa, revelou-se que os pacientes com dor crônica são afetados psicologicamente, com questionamentos de sua existência, e que gostariam de poder durante o seu tratamento explorar com mais liberdade sua espiritualidade e religiosidade (Rettke et al., 2021). Ademais, a espiritualidade pode fornecer às pessoas uma fonte de conforto e força emocional ao lidar com a dor crônica. Muitas tradições espirituais enfatizam a importância da aceitação, do perdão, da gratidão e do enfrentamento. Isso pode ajudar os pacientes a desenvolverem resiliência e estratégias de enfrentamento positivas para gerenciar a dor (Siddall, P. J.; Lovell, M.; Macleod, R. 2015). 

  A técnica de atenção plena, também conhecida como mindfulness, tem sido amplamente estudada e aplicada como uma abordagem eficaz para a modulação da dor. A atenção plena envolve a prática de estar plenamente consciente do momento presente, sem julgamento, e tem o potencial de influenciar a experiência da dor de várias maneiras.  Em pacientes com câncer de mama que foram expostas a essa terapia, foi reconhecida a diminuição do sofrimento psicológico e do medo da recorrência do câncer, e uma melhora significativa no bem-estar espiritual e da qualidade de vida (Park, et al., 2020). Ademais, estudos de neuroimagem funcional mostraram que a prática da atenção plena pode alterar a atividade cerebral em áreas associadas à percepção da dor e à resposta emocional à dor. A atenção plena pode diminuir a ativação em áreas cerebrais relacionadas à aversão à dor, como o córtex cingulado anterior, e aumentar a ativação em áreas cerebrais associadas à regulação emocional, como o córtex pré-frontal (Rettke et al., 2021). 

Ao mesmo tempo que práticas antigas e bem conhecidas como atividades físicas e técnicas milenares como acupuntura impactam positivamente para a redução da dor, a atualidade traz consigo tecnologias capazes de serem utilizadas a favor da área da saúde e expandir as opções do tratamento álgico. A terapêutica digital nos mostra exatamente isso, ou seja, o uso de aplicativos de software como dispositivos médicos para melhor auxiliar no tratamento de dores crônicas (Rohaj, A.; Bulaj, G., 2023). A realidade virtual fornece ambientes virtuais altamente imersivos, que podem desviar a atenção dos pacientes.  Quando os pacientes estão imersos em um ambiente virtual interessante e envolvente, eles tendem a focar sua atenção na experiência virtual ao invés da dor física. Isso resulta em uma percepção reduzida da intensidade da dor, já que a atenção à dor é diminuída (Hadjiat, Y.; Marchand, S. 2022).

Apesar de todos esses resultados promissores, é importante reconhecer que os mecanismos precisos pelos quais as atividades alternativas modulam a dor, ainda não são completamente compreendidos. No entanto, várias hipóteses oferecem insights sobre esse processo. Uma delas sugere que certas atividades podem ativar sistemas de recompensa e prazer no cérebro, liberando neurotransmissores como dopamina e serotonina, que estão associados à sensação de bem-estar e recompensa. Esses neurotransmissores podem desempenhar um papel na redução da percepção da dor (Maindet et al., 2029).

Outra hipótese relevante é a promoção da distração. As atividades de música, dança, jardinagem, jogos e arte podem desviar a atenção dos pacientes da dor, permitindo que eles se concentrem em atividades prazerosas e envolventes. A distração é uma estratégia comum no manejo da dor. Além disso, como mencionado anteriormente, o aumento da atividade física é outro mecanismo potencial de modulação da dor. Pois é amplamente reconhecida como uma intervenção eficaz no tratamento da dor crônica, pois libera endorfinas, que são analgésicos naturais do corpo (Cohen, S. P.; Vase, L.; Hooten, W. M., 2021).

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A revisão integrativa destaca as atividades alternativas como estratégia promissora no tratamento da dor crônica. Essas atividades não apenas lidam com a percepção da dor, mas também promovem o bem-estar emocional e incentivam a atividade física. No entanto, são necessárias mais pesquisas para aprofundar a compreensão dos mecanismos subjacentes e avaliar os efeitos em diferentes tipos de dor crônica e em diversas populações.

As limitações dos estudos incluem foco exclusivo em atividades alternativas, datas de publicação dos estudos selecionados e diversidade das populações estudadas. Mais pesquisas são necessárias para avaliar os impactos em diferentes grupos de pacientes e identificar os mecanismos pelos quais essas atividades aliviam a dor.

Considerando as atividades alternativas como uma intervenção complementar valiosa, elas ampliam as opções terapêuticas adjuvantes não farmacológicas para pacientes com dor crônica. A abordagem integrativa adotada no estudo oferece insights para melhorar a qualidade de vida desses pacientes, mostrando como tais atividades podem modular a dor crônica por meio de diferentes mecanismos, como a liberação de neurotransmissores opioides endógenos e a redução da atividade do sistema nervoso simpático, além de mudanças no foco da atenção.

Outro sim, diz respeito à educação em dor, pois educar os pacientes sobre a dor crônica também pode ajudar a reduzir o estigma associado a essa condição, tornando mais fácil para os pacientes compartilhar suas experiências e buscar apoio. Em suma, a educação em dor desempenha um papel crítico no tratamento da dor crônica, capacitando os pacientes com informações e habilidades para gerenciar sua dor, melhorar sua qualidade de vida e promover uma abordagem de tratamento colaborativa com os profissionais de saúde. Ela é um componente essencial de uma abordagem holística para o cuidado de pacientes com dor crônica.

REFERÊNCIAS 

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1,2,3,4 Universidade Alto Vale do Rio do Peixe – UNIARP. Caçador, Brasili