EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PRESERVAÇÃO DE QUELÔNIOS NA AMAZÔNIA: O PROJETO PÉ-DE-PINCHA EM FOCO

ENVIRONMENTAL EDUCATION AND PRESERVATION OF CHELONS IN THE AMAZON: THE PÉ-DE-PINCHA PROJECT IN FOCUS

EDUCACIÓN AMBIENTAL Y CONSERVACIÓN DE QUELONES EN LA AMAZONÍA: EL PROYECTO PÉ-DE-PINCHA EN EL FOCO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12674608


Rosivane Teixeira dos Santos[1]
Eldra Carvalho da Silva[2]
Josiane de Almeida Paulino[3]
Jose Mario dos Santos Cardoso[4]
Rejane da Conceição Lopes da Silva[5]
Mayara Duarte da Silva [6]


RESUMO

A sociedade contemporânea é marcada pela crise ambiental, isto porque a temática do meio ambiente se tornou foco de debates sobre os riscos de degradação ambiental e os     impactos cada vez mais complexos nas condições de vida das populações e na garantia de vida das futuras gerações. Dentro desse contexto marcado pela degradação do meio ambiente, faz-se necessário reflexões sobre a Educação Ambiental em torno das dimensões socioeconômicas e ambientais. Esta pesquisa tem como principal objetivo analisar as ações e concepções sobre educação ambiental de famílias e escolas envolvidas  no Projeto Pé-de-Pincha. O presente trabalho foi realizado nas 18 comunidades ribeirinhas que contribuem com o Projeto Pé-de-Pincha, do município de Oriximiná-PA, no período da soltura dos filhotes de quelônios, entre os dias 03 e 12 de março de 2023. A coleta de dados foi feita através de questionários semiestruturados com perguntas  abertas e fechadas abordando o perfil socioeconômico e a percepção ambiental dos entrevistados. Ao serem questionados se o Projeto Pé-de-Pincha realizava atividades de Educação Ambiental nas comunidades, 98,6% responderam que sim. Com relação à pergunta anterior do questionário, os participantes que responderam “sim”, foi perguntado o que o Projeto já mudou nas suas vidas com relação a Educação Ambiental e a conservação dos quelônios. As falas dos voluntários permitem-nos inferir que o Projeto Pé-de-Pincha provoca mudanças em suas vidas, a maioria conhece a importância de aprender mais sobre o meio ambiente em que vivem, que gostariam de preservar o meio natural e os animais para as gerações atuais e futuras.

Palavras-Chave: Quelônios. Meio Ambiente. Projeto. Educação Ambiental.

ABSTRACT

Contemporary society is marked by the environmental crisis, this is because the issue of the environment has become the focus of debates about the risks of environmental degradation and the increasingly complex impacts on the living conditions of populations and the guarantee of life for future generations. Within this context marked by environmental degradation, it is necessary to reflect on Environmental Education around socioeconomic and environmental dimensions. This research’s main objective is to analyze the actions and conceptions about environmental education of families and schools involved in the Pé-de-Pincha Project. This work was carried out in the 18 riverside communities that contribute to the Pé-de-Pincha Project, in the municipality of Oriximiná-PA, during the period of release of chelonian puppies, between March 3rd and 12th, 2023. The collection of Data was collected through semi-structured questionnaires with open and closed questions addressing the socioeconomic profile and environmental perception of the interviewees. When asked whether the Pé-de-Pincha Project carried out Environmental Education activities in the communities, 98.6% responded yes. Regarding the previous question in the questionnaire, participants who answered “yes” were asked what the Project has already changed in their lives in relation to Environmental Education and the conservation of chelonians. The volunteers’ statements allow us to infer that the Pé-de-Pincha Project causes changes in their lives, most know the importance of learning more about the environment in which they live, that they would like to preserve the natural environment and animals for current and future generations.

Keywords: Chelonians. Environment. Project. Environmental education.

INTRODUÇÃO

A sociedade contemporânea é marcada pela crise ambiental, isto porque a temática do meio ambiente se tornou foco de debates sobre os riscos de degradação ambiental e os impactos cada vez mais complexos nas condições de vida das populações e na garantia de vida das futuras gerações (JACOBI, 2007). Dentro desse contexto marcado pela degradação do meio ambiente, faz-se necessário reflexões sobre a Educação Ambiental em torno das dimensões socioeconômicas e ambientais (VEIGA, 2005).

A Educação Ambiental toma força no século XX, especialmente a partir da década de 1960, como uma das estratégias da sociedade, em pleno contexto do enfrentamento da crise ambiental, vistos como ameaças às diversas formas de vida do Planeta.No Brasil, a EA foi institucionalizada por meio da Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que estabeleceu a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). De acordo com esta lei, a EA consiste em:

Processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999, ART.1).

A educação ambiental busca promover atividades que despertem nas pessoas a responsabilidade pelo meio em que vivem e pelo cuidado com a natureza. A educação se concretiza pela ação em pensamento e prática, pela interação com o outro no mundo. Trata-se de uma dinâmica que envolve a produção e reprodução das relações sociais. (LOUREIRO, 2004).

A educação ambiental surgiu como uma alternativa transformadora, um importante recurso para construção da consciência ambiental. Assim, “ EA deve ajudar o ser humano a aprender a manejar/gerenciar o meio ambiente (recursos) para alcançar o desenvolvimento sustentável: precisamos tomar as decisões corretas para assegurar os recursos para as futuras gerações(ZAKRZEVSKI; COAN, 2003, p. 20).

Diante desta percepção e com a decorrência da crescente preocupação com o meio ambiente e o uso de forma sustentável dos recursos naturais, várias iniciativas e projetos de desenvolvimento sustentável foram criados, a fim de educar e sensibilizar a sociedade e as comunidades para as questões ambientais, além de incentivá-las a tomar atitudes que beneficiem não só as pessoas, mas que mantenha o meio ambiente equilibrado (RUY, 2004).

Na região amazônica, diante do consumo desordenado e com a crescente destruição do habitat dos quelônios, espécies que apresentam o corpo recoberto por uma armadura óssea que se chama casco e que têm uma importância alimentar para os povos da região, se tornaram alvo de diversos projetos de conservação e preservação ambiental (SALERA-JÚNIOR et al., 2009), dentre estes projetos destaca-se o “Projeto Pé-de-Pincha” que atua há mais de duas décadas no município de Oriximiná no estado do Pará (ANDRADE, 1999).

O Projeto Pé-de-Pincha (nome dado ao projeto devido ao quelônio possuir a pata com um formato que quando em contato com a areia deixa uma marca parecida com uma pincha, tampa de garrafa de refrigerante), nasceu a partir da preocupação de alguns comunitários do Lago Piraruacá, em Terra Santa, no Pará, que resolveram proteger os quelônios da região e procuraram a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) para orientá-los. Através de uma parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) e as comunidades, foi criado de forma participativa, o Projeto Pé-de-Pincha. Através deste programa de extensão da UFAM, 118 comunidades de 15 municípios do Amazonas e do Pará foram capacitadas para conservar os tracajás, tartarugas e iaçás de sua região.

Embora as atividades de educação ambiental e as iniciativas conservacionistas do Projeto Pé-de-Pincha sejam essenciais na preservação dos quelônios amazônicos, ainda é pouco conhecida a influência dessas ações nas comunidades em que o Projeto atua.

Diante disso, o presente estudo apresenta o foco educação ambiental nas atividades do Projeto Pé-de-Pincha com abordagem de temas ambientais relevantes que podem ser pauta de futuros projetos e trazer melhorias para o Projeto Pé-de-Pincha sendo este considerado um instrumento de Educação Ambiental nas comunidades ribeirinhas da região Amazonica.

REFERENCIAL TEÓRICO

Os anos noventa marcam mudanças significativas no pensamento sobre os problemas ambientais e como resolvê-los. As primeiras preocupações com a crise ambiental iniciaram durante a década de 1950 (RAMOS, 2001) com a industrialização mostrando seus efeitos. Na Europa, grandes acidentes envolvendo as usinas nucleares e contaminações tóxicas provocando mortes em decorrência do ar poluído pelos resíduos industriais, e outros acidentes com impactos significativos aumentaram a preocupação com o meio ambiente e os debates sobre essas crises aumentaram na sociedade (JACOBI, 2007).

O primeiro alerta mundialmente conhecido sobre os impactos ambientais foi feito pela jornalista Rachel Carson, em 1962, em seu livro “Primavera silenciosa” alertando o mundo sobre os impactos nocivos de uso de pesticidas na agricultura e as ações humanas sobre o meio ambiente, onde até as flores não floresciam na primavera (LOPES, 2011). Back (1994) aponta para os riscos contemporâneos, ou seja, nos transformamos em uma sociedade de riscos, cada vez mais autocrítica, e ao mesmo tempo gerando perigos, esta sociedade se vê obrigada a confrontar-se com aquilo que criou, seja de positivo ou negativo, esta sociedade de risco, se torna crescentemente reflexiva, o que significa dizer que ela se torna um tema e um problema para si mesma (BACK, 1994; JACOBI, 2007).

A primeira definição para a Educação Ambiental foi adotada em 1971 pela International Union for the Conservation of Nature (União Internacional pela Conservação da Natureza). Já em 1972, aconteceu a primeira Conferência Mundial das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo na Suécia, neste encontro a Educação Ambiental passou a ser debatida a nível internacional. Vários temas foram debatidos sobre o Meio ambiente como a poluição dos oceanos, ar e águas interiores, o crescimento desordenado das cidades e a garantia de vida das populações.

A Conferência de Estocolmo tem como pressuposto a existência da sustentabilidade social, econômica e ecológica, onde explicitam a necessidade de tornar compatível as melhorias nos níveis e qualidade de vida com a preservação ambiental (SILVA, 2017). Em 1977, aconteceu em Tbilizi, nos EUA, a Conferência mais marcante da história da Educação Ambiental, onde foram definidos princípios, estratégias, objetivos, funções, características e recomendações para a Educação Ambiental. Nesta conferência a EA foi definida como:

Um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A Educação ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhoria da qualidade de vida (TBILISI, 1977)

Nos anos seguintes aconteceram diversos eventos voltados para o tema Educação Ambiental, dentre eles a ECO 92 no Rio de Janeiro, em 1992, que debateu o dilema da relação homem-natureza e o combate às desigualdades sociais. Este evento é considerado um dos mais importantes para o Meio Ambiente, pois neste encontro foi elaborado o Tratado de Educação Ambiental para as Sociedades Sustentáveis. A partir desta conferência, os Ministérios do Meio Ambiente, da Educação, da Cultura, da Ciência e da Tecnologia instituíram o PRONEA-Programa Nacional de Educação Ambiental (SILVA, 2017).

Em 1998, o IBAMA também elaborou diretrizes para a implementação do PRONEA. Desta forma, a Educação ambiental foi incluída no processo de gestão ambiental (IBAMA, 1998).

No Brasil, A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 225, defende que:

Todos têm direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (CF, 1988, p.103).

O artigo 1º da Lei 9.795/1999 define a EA como “os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente” (BRASIL, 1999, Art. 1º ).

Esses processos se destacam como os mais importantes meios de contribuir com os conhecimentos e valores voltados para a melhoria da relação homem-natureza. Neste sentido, Jacobi (2003) corrobora que a Educação Ambiental assume cada vez mais uma função transformadora onde os indivíduos se tornam responsáveis a promover um novo tipo de desenvolvimento sustentável.

Diante desta concepção, a Conservação de Base Comunitária (CBC) engloba vários princípios fundamentais como envolver as comunidades na tomada de decisões, a descentralização do controle sobre a gestão dos recursos, o desenvolvimento de instituições comunitárias de gestão, incorporação de conhecimentos tradicionais ou locais, legitimação de direitos de propriedade da comunidade, ligar os objetivos ambientais e de desenvolvimento e fornecer incentivos para a conservação (CAMPBELL et al., 2007).

Projetos de conservação e manejo de tartarugas estão sendo desenvolvidos em muitos países que enfrentam múltiplos cenários de ameaça à conservação dos recursos naturais. No Brasil, as ações de EA são desenvolvidas por governos, organizações não governamentais e setor privado em diversos projetos de proteção e manejo dos quelônios amazônicos (PAÉZ et al., 2015).

Esses animais são componentes importantes dos vários ecossistemas que habitam. Eles constituem uma parte considerável da biomassa faunística, desempenham vários papéis na teia alimentar e atuam como vetores na dispersão de sementes e contribuem para uma variedade de outras interações ambientais que resultam em heterogeneidade e associações simbióticas (MOLL; MOLL, 2004).

Em função da exploração dos quelônios amazônicos, principalmente as espécies pertencentes ao gênero Podocnemis, projetos de conservação de quelônios são desenvolvidos em diversos locais da Amazônia. Um desses projetos é conhecido como Projeto Pé-de-Pincha sendo considerado pioneiro, por ter partido da demanda das comunidades, que buscam o conhecimento técnico-científico ligado ao saber empírico, para recuperar os recursos naturais, reconstruir a paisagem de seus lagos e, com isso, sua qualidade de vida. Com a educação ambiental, um dos principais instrumentos que vislumbra a consciência ambiental em adultos e crianças sobre a importância do meio ambiente e a necessidade de sua conservação, trabalha-se a ideia de que o homem e suas atividades fazem parte desse meio e com ele interagem.

O Projeto Pé-de-Pincha, foi desde seu princípio, um processo de criação e execução coletiva. Surgiu do ideal de homens simples do interior, de ribeirinhos do lago de várzea, que buscaram proteger os recursos naturais para as gerações que ainda estavam por vir. Ele surgiu com o início do processo de gestão participativa dos recursos naturais em apoio ao trabalho de monitoramento e controle dos órgãos ambientais. (ANDRADE, 2012).

O Projeto Pé-de-Pincha começou em 1999 na cidade de Terra Santa no Pará, expandindo-se logo em seguida para outros municípios da zona fisiográfica do médio e baixo Amazonas. Começou atendendo sete comunidades e hoje, abrange mais de 118 comunidades incluindo as comunidades de Oriximiná.

No período entre 1999 e 2012 foram monitorados e devolvidos à natureza mais de 1.568.670 filhotes de quelônios, sendo 43,6% de tracajás, 17,1% de iaçás, 35,8% de tartarugas e 3,3% de calalumãs. Só no ano de 2023, em Oriximiná, o Projeto Pé-de-Pincha já devolveu para a natureza 61.991 filhotes sendo esse número muito importante para o projeto, pois os desafios e as dificuldades para conservar esses animais são imensos na região (ANDRADE, 2012).

No âmbito do Projeto Pé-de-Pincha, o objetivo da Educação ambiental é integrar as populações locais com conhecimentos e habilidades para que possam participar ativamente nas diferentes etapas do projeto e assim aumentar o conhecimento e compreensão dos recursos naturais da região (ANDRADE, 2012).

METODOLOGIA
Tipo de Estudo

O presente trabalho está classificado de acordo com GIL (2002), como uma pesquisa qualitativa e exploratória, fundamentado na pesquisa social, definida como investigações pautadas no método científico capazes de gerar novos conhecimentos para explicar a realidade vivenciada por determinado grupo social, no caso específico deste estudo será explicado a realidade vivida por sujeitos ligados ao Projeto Pé-de-Pincha e o papel da educação ambiental na preservação de quelônios.

Este estudo faz também uma análise documental do Projeto Pé-de-Pincha no âmbito da Educação Ambiental. O uso de documentos em pesquisas deve ser valorizado e apreciado como uma riqueza de informações que se pode dele extrair possibilitando a compreensão do contexto histórico e social (SILVA et al., 2009).

Coleta e Análise de Dados

O presente trabalho foi realizado nas comunidades ribeirinhas que contribuem com o Projeto Pé-de-Pincha, da cidade de Oriximiná-PA, no período da soltura dos filhotes de quelônios, entre os dias 03 e 12 de março do ano em curso, sendo estas as comunidades: Nova Aliança, Terra Preta, Castanho II, Salgado 1, Salgado 2, Salgado 3, Acapuzinho, Curupira, Xiriri, Caipuru (Nossa Senhora do Rosário e São João Batista), Cachoeiri (Santo Antônio e São José), Boca dos Currais, Ascensão, Barreto (Casinha), Castanhal e Boa Nova. Este período de soltura é um período festivo para o projeto pois é nesse tempo que ocorre a culminância nas comunidades. Todo o trabalho de manejo executado ao longo do ano se resume neste evento de soltura dos filhotes de quelônios do Projeto Pé-de-Pincha que hoje conta com a participação de 18 comunidades rurais atuantes no município.

Os dados foram coletados por meio de questionários semiestruturados com perguntas abertas e fechadas e que abordaram o perfil socioeconômico e a percepção ambiental dos entrevistados. Das 18 comunidades em que houve a soltura dos quelônios, 74 voluntários do Projeto responderam ao questionário, das escolas que se fizeram presentes nas comunidades, 18 professores responderam ao questionário e os 2 coordenadores regionais do projeto responderam ao questionário. Foi assinado pelos entrevistados o termo de consentimento voluntário de participação nesta pesquisa.

O questionário destinado aos participantes do Projeto, continha 15 questões, outro questionário destinado aos professores continha 8 questões e o outro questionário destinado aos coordenadores regionais do Projeto continha 6 questões.

Após a coleta dos dados no papel, os figuras foram organizados mediante a utilização da plataforma Google Forms, fornecendo a estatística dos resultados automaticamente. Os resultados obtidos foram organizados em quatro categorias, sendo elas:1) Percepções ambientais e mudanças de atitudes dos voluntários do Projeto Pé-de- Pincha sobre a educação ambiental direcionadas à conservação dos quelônios; 2) Concepções dos professores e gestores sobre a educação ambiental voltadas a conservação dos quelônios; 3) Concepções dos coordenadores do Projeto Pé-de-Pincha sobre a educação ambiental direcionadas à conservação dos quelônios e 4) Análise do documento Manejo Comunitário de Quelônios Projeto Pé-de-Pincha.

Preceitos Éticos

Esta pesquisa atende às orientações dos preceitos Éticos da Resolução Nº 510 de 07 de abril de 2016, do Conselho Nacional de Saúde, que entre seus princípios destaca a Ética em pesquisa, implica o respeito pela dignidade humana e proteção devida aos participantes das pesquisas científicas, envolvendo seres humanos. Vale destacar que todos os participantes da pesquisa tiveram acesso e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Percepção ambiental dos Voluntários

Sobre a percepção ambiental dos 74 voluntários entrevistados, cerca de 91,8% afirmaram que conhecem os objetivos do Projeto Pé-de-Pincha, e 94,6% dos entrevistados afirmam que conhecem quem executa o projeto nas comunidades há mais de 20 anos, como revela o Figura 1.

Figura 1 – Conhecimento acerca dos objetivos do Projeto Pé-de-Pincha.

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

Em diálogo, os entrevistados afirmaram conhecer outras espécies de quelônios presentes na região como a Perema (Rhynoclemys punctularia), a Cabeçuda (Peltocephaus dumerilianus) e Mata-mata (Chelus fimbriata), por compartilharem os mesmos habitats das espécies manejadas pelo projeto. As espécies mais conhecidas na região foram o Tracajá (Podocnemis unifilis) 97,3%, a Tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa) 86,5% e o Pitiú (Podocnemis sextuberculata) 78,4% por serem mais abundantes nesse espaço, (figura 2).

Figura 2 – Conhecimento sobre as espécies de quelônios na região.

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

Quando questionados acerca do consumo de quelônios (carne, ovos e vísceras), 83,8% dos entrevistados afirmaram que consomem esses animais no período da reprodução das fêmeas, mas de forma consciente, sendo o consumo de um quelônio por ano. Alguns dos entrevistados afirmam que não consomem os ovos e alguns em conversas afirmaram que consomem porque muitas vezes os quelônios são pescados na malhadeira acidentalmente.

Os entrevistados que afirmaram ainda não consumir, 16,2% (Figura 3) devido a participação no Projeto, o contato com esses animais no período da desova provoca sensibilização dos comunitários sobre as espécies. As populações ribeirinhas têm muito conhecimento empírico sobre a fauna e a flora e o envolvimento na elaboração e implementação de projetos de conservação da natureza é uma ferramenta ímpar, pois enriquece o projeto com saberes tradicionais e promove o compromisso da população local com a causa (BALESTRA, 2016).

Figura 3 – Consumo de Quelônios.

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

Quando questionados sobre a comercialização desses animais, 100% dos entrevistados afirmaram não comercializar quelônios. Ribeirinhos também relataram que o tracajá Podocnemis unifilis é muito consumido porque é o quelônio mais abundante na região e é mais fácil a sua captura. No Médio Amazonas, os quelônios mais consumidos são os tracajás (55%), jabutis (21%) e cabeçudos (10%) (OLIVEIRA et al., 2006).

As espécies citadas do gênero Podocnemis sofrem intensa pressão antrópica, por constituírem uma importante fonte de alimento e alternativa de renda (comércio ilegal) das espécies e dos ovos (PEZZUTI et al., 2010).

Quando questionados sobre o manejo dessas espécies de quelônios, realizado pelas comunidades, 94,5% dos entrevistados afirmaram que conhecem como ocorre o manejo. Em diálogo com a pesquisadora, afirmaram que são os agentes de praia, no período da desova protegem os rios e as praias que as fêmeas costumam desovar, a maior parte do período de vigilância das praias inicia-se no começo da noite e termina pela parte da manhã, que é o período em que, na maior parte, os ovos são coletados. Após a coleta, os ovos são transplantados em uma chocadeira artificial feita na praia da comunidade ou na casa do comunitário, para garantir a maior proteção desses ninhos dos seus predadores, (Figura 4).

Transferir ou transplantar os ninhos do seu local natural para uma chocadeira artificial é uma técnica adotada pelo projeto que permite salvar da predação humana, a maior quantidade possível de ninhos de quelônios, transferindo-os para uma área cercada protegida e monitorada diariamente pelas comunidades (ANDRADE, 2015).

A proteção das praias é feita de forma participativa, envolvendo órgãos ambientais, prefeitura, comunidades e colaboradores, as atividades de conservação propiciaram a manutenção de populações significativas destes quelônios aquáticos de extrema importância ecológica e socioeconômica (ANDRADE et al., 2008).

Figura 4 – Conhecimento sobre o manejo das espécies de Quelônios na região

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

Os entrevistados afirmaram saber a época de reprodução dos quelônios da região, principalmente a reprodução do tracajá, sendo que 46,6% afirmaram ocorrer entre os meses de “setembro a novembro”, e 37% afirmaram “setembro a outubro”, ( Figura 5). No rio Purus os tracajás começam a desovar entre agosto e setembro, enquanto no rio Trombetas a desova ocorre entre setembro e outubro. Na bacia do rio Orinoco, na Colômbia, a desova ocorre de dezembro a fevereiro e no rio Caquetá de novembro a janeiro (FAGUNDES et al., 2017).

Figura 5 – Conhecimento sobre o período de reprodução da desova dos quelônios na região.

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

Dos entrevistados, 97,3% concordam que os quelônios são importantes para a natureza e para as comunidades ribeirinhas. Neste questionamento, foi observado que os entrevistados conhecem o papel ecológico dos quelônios na natureza como sendo predadores ou sendo presas de jacarés, peixes grandes e de mamíferos (VOGT, 2008), e para a biodiversidade da região amazônica.

Ao serem perguntados sobre a problemática do lixo nos rios, 98,7% dos entrevistados concordam que jogar lixo nos rios prejudica a vida dos quelônios. Em diálogo com a pesquisadora, os principais problemas percebidos foram a contaminação da água, a poluição e a ingestão de plásticos pelos quelônios porque esses animais confundem os lixos com os alimentos e isso leva à contaminação dos peixes e de todo o ecossistema aquático, figura 6.

Alguns comunitários relataram ainda que já encontraram quelônios mortos sufocados com plásticos, além da presença de plásticos nos ninhos de ovos nas praias. Tartarugas marinhas, por utilizarem também o ambiente terrestre, são duplamente afetadas pela presença de lixo (MASCARENHAS, 2008).

Tartarugas e aves são os animais que mais consomem plásticos, embora já tenham sido observados golfinhos, peixes e até crustáceos microscópicos com plásticos em seus estômagos. Tartarugas parecem preferir sacolas plásticas por confundi-las com águas- vivas, um de seus principais alimentos (SANTOS, 2006).

Figura 6 – Opinião sobre se jogar lixo nos rios prejudica a vida dos quelônios.

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

Foi questionado sobre a proteção dos quelônios na região, 98,6% dos entrevistados concordam que os quelônios precisam ser protegidos.

E ao serem questionados sobre os estoques naturais de quelônios na região, 87,3% dos entrevistados afirmaram que os quelônios podem desaparecer da natureza devido muito consumo sem controle, predação e comércio ilegal. As espécies da região estão

listadas no International Union for Conservation of Nature (IUCN), (Podocnemis unifilis) está classificada como (VU) espécie vulnerável à extinção devido às pressões antrópicas e (Podocnemis sextuberculata) está listada como Vulnerável à Extinção (VU), devido a exploração de seus estoques naturais e diminuição de seus habitats (IUCN, 2022).

Quando questionados acerca do que entendiam por Educação Ambiental, 97,3% dos entrevistados afirmaram que entendem o termo educação ambiental como ‘Cuidar do Meio Ambiente’ ‘Preservar a Natureza’ ‘Cuidar dos animais’ ‘Não jogar lixo nos rios’. Fiori (2002) afirma que a evolução dos conceitos de educação ambiental está diretamente relacionada à evolução dos conceitos de meio ambiente e ao modo como ele é percebido. Neste contexto, Antuniassi (1995) contribui em seus estudos que afirmando que:

A   educação   ambiental   se   constitui em   uma    ação conscientizadora que tem por objetivo levar o homem, nos seus diferentes papéis a reassumir sua condição de componente do ecossistema que a civilização moderna vem negando e que, numa    visão    prospectiva,     poderá     inviabilizar sua própria sobrevivência. À educação ambiental cabe provocar reflexão sobre o relacionamento homem/natureza, tendo em vista uma transformação do seu posicionamento face ao Universo. Fazer com que o homem entenda que lhe compete assegurar para si, para sua comunidade e gerações futuras, um ambiente que lhe proporcione a sobrevivência em padrões capazes de satisfazer suas necessidades físicas e psicossociais (ANTUNIASSI, 1995, p. 44).

Figura 7- Conhecimento dos Voluntários sobre a EA.

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

Ao serem questionados sobre o Projeto Pé-de-Pincha, se realizaram atividades de Educação Ambiental nas comunidades, 98,6% responderam que sim. O Projeto realiza palestras e reuniões com foco na educação ambiental. Sobre a importância do Projeto na Educação Ambiental, os voluntários acham que o Projeto atua principalmente nessa questão, pois através das reuniões com os comunitários, é tratado todo tipo de assunto voltado ao meio ambiente como os acordos de pesca, desmatamento e principalmente com relação à conservação e ao manejo dos quelônios.

Estudos feitos referentes ao Projeto Tartarugas Marinhas (TAMAR) em relação ao trabalho de EA nas comunidades revelaram que o projeto desenvolve programas comunitários pontuais, que se constituem em palestras, exibição de vídeos, cursos sobre educação ambiental em creches e escolas das comunidades, programas ecoturísticos (como o “Guias-mirins” e “Tartaruga by night”), criação de pequenas bibliotecas e museus ecológicos, incentivos a programas de valorização e resgate do artesanato local, apoio e participação em festas populares, até a plantação de hortas comunitárias (SUASSUNA, 2004).

A metodologia aplicada no projeto Pé-de-Pincha, possibilita a formação de multiplicadores em Educação ambiental, por meio das diversas atividades teóricas e práticas aplicadas, onde estas ações geram a construção de novas formas de pensar e agir através da compreensão da complexidade das questões ambientais, assim como das interrelações entre os diversos subsistemas que compõem a realidade dos participantes envolvidos (ANDRADE, 2012).

Figura 8 – Opinião se o Projeto Pé-de-Pincha realiza Educação Ambiental

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

Sobre a importância de participar do Projeto Pé-de-Pincha, 92% dos participantes responderam que participam ativamente do Projeto Pé-de-Pincha.

Figura 9- Sobre a importância de participar do Projeto Pé-de-Pincha.

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

Com relação à pergunta anterior do questionário, os participantes que responderam “sim”, foi perguntado o que o Projeto já mudou nas suas vidas com relação a Educação Ambiental e a conservação dos quelônios, as respostas foram categorizadas e reunidas no Quadro 1.

Quadro 1- Categorias e respostas sobre mudanças na vida dos participantes do Projeto Pé-de-Pincha sobre a Educação Ambiental e conservação dos quelônios.

CategoriasRespostas
                Conhecimento sobre a natureza e os  quelônios“Antes não tinha conhecimento e sou defensor da natureza”;   Eu conheci mais a natureza, conheci mais pessoas, parei de consumir quelônios e a minha família também não consome mais quelônios”;   “Eu comia muitos ovos e parei de comer. Antes eu pescava tracajá, eu tentei vender tracajá, mas o Ibama descobriu. Depois passei a participar do Projeto Pé-de- Pincha”;   “Já denunciei pessoas que estavam comercializando os quelônios”;   “Antes era muito consumidora, hoje sou preservadora. “Sou agente de praia, antes não tinha tracajá nas nossas praias, hoje já sobe tracajá nas nossas praias”;   “Antes eu não tinha conhecimentos sobre os quelônios, agora eu tenho conhecimento”;   “Sou   agente   de   praia,   trouxe   mais conhecimento sobre a conservação e conscientização da preservação dos quelônios”. 
                Cuidar/ Preservar o Meio Ambiente/ Conservação dos quelônios“Protejo os rios para que meus filhos e meus netos conheçam e tenham fartura futuramente”;   “Hoje sou defensor da natureza. Os quelônios aumentaram muito com Projeto”;   “Antes não tinha cuidado com o lixo. Hoje sou defensora da natureza. Sou defensora dos ambientes aquáticos”;   “Antes eu comia quelônios e hoje parei de comer e ajudo a preservar”;   “Sou agente de praia, tenho amor pelos animais e sou defensor da natureza”;   “O Projeto me ensinou amar e cuidar da natureza”;   “Me ajudou a preservar a natureza para as futuras gerações”;   “Antes não era consciente com a proteção da natureza, agora sou conscientizador”;   “Antes comia muito quelônio, agora como pouco, agora ajudo a preservar os quelônios”.

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

As falas dos voluntários permitem-nos inferir que o Projeto Pé-de-Pincha provoca mudanças em suas vidas, a maioria conhece a importância de aprender mais sobre o meio ambiente em que vivem que gostariam de preservar o meio natural e os animais para as gerações atuais e futuras.

Segundo Terán (2005), a participação comunitária assume uma estratégia positiva na preservação das espécies ameaçadas reduzindo a depreciação da espécie na região. O manejo de quelônios aliado ao planejamento de estratégias, implementação de programas efetivos tendem a diminuir a pressão antrópica sobre as espécies (PEZZUTI et al., 2003).

Percepção ambiental dos professores das comunidades envolvidas no Projeto Pé-de-Pincha

Sobre a percepção ambiental dos professores das escolas que interagem com o Projeto Pé-de-Pincha, 100% dos entrevistados afirmam conhecer o Projeto Pé-de-Pincha.

Figura 10- Participação dos voluntários ativa no projeto.

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

Quando questionados sobre o que entendiam por Educação Ambiental, os professores responderam que a Educação Ambiental é ‘Cuidar do Meio Ambiente’, ‘Preservar a Natureza’ e ‘Cuidar do Planeta’. Sobre o conhecimento dos professores acerca da Lei 5.197, que dispõe sobre a proteção da fauna Silvestre, 66,7% dos entrevistados responderam que têm conhecimento sobre a lei e 33,3% responderam que não tem conhecimento.

Figura 11- Conhecimento acerca do Projeto.

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

Ao serem perguntados sobre o desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental, se a escola realiza atividades de EA juntamente com a equipe do Projeto Pé- de-Pincha, as respostas foram tabuladas e categorizadas no Quadro 2.

Quadro 2- Categorias e respostas sobre as atividades de EA feitas pelo Projeto Pé-de-Pincha nas escolas das comunidades, e atividades de EA executadas pela escola.

CategoriasRespostas
Atividades de EA executadas  pela equipe do Projeto Pé-de-Pincha nas escolas das comunidades.“A equipe do Projeto nunca veio na escola fazer atividades de educação ambiental”   “A escola vem trabalhando junto as crianças para que elas preservem os            quelônios  de   nossas regiões, principalmente no período de julho e fim de setembro”   “O Projeto já veio nas escolas, o projeto envolve as escolas”   “A equipe faz visitas aos alunos das escolas”   “A equipe realizava palestras, ensinava como era feito o manejo de quelônios na comunidade”
                Atividades de EA executadas pelas escolas direcionadas ao Projeto Pé-de-Pincha“Eu na minha sala de aula eu falo sobre os quelônios, sobre a importância deles para a natureza porque eu participo do projeto” “Com o Projeto do lixo nós falamos que o lixo é prejudicial para a vida dos quelônios, também falamos sobre as queimadas, desmatar as matas ciliares prejudica a vida desses animais” “Palestras, visitas ao Projeto, aulas de campo, coleta de lixos” “Antes a escola ajudava a cuidar da chocadeira, mas com a troca do coordenador isso mudou, não ajudamos   mais”    “Futuramente pretendemos  trabalhar  a  educação voltada pro projeto” “Coleta seletiva do lixo, nas aulas de geografia se fala sobre

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

O primeiro passo para trabalhar a Educação Ambiental é criar na comunidade ou na escola, um ambiente capaz de envolver comunitários, professores e estudantes, saindo do espaço formal, além disso, integrar os conhecimentos de uma forma multi e interdisciplinar (ANDRADE, 2012). As falas dos professores demonstram que o Projeto Pé-de-Pincha provoca mudanças no modo de pensar dos professores das escolas, na questão de incentivar as práticas de educação ambiental voltadas à conservação dos quelônios, sendo o ambiente escolar um espaço importantíssimo de aprendizado.

Ao serem questionados sobre as questões ambientais voltadas à conservação dos quelônios, as respostas foram categorizadas no Quadro 3.

Quadro 3- Categorias e respostas dos entrevistados sobre a preservação da natureza e a conservação dos quelônios.

CategoriasRespostas
Fatores que estão causando        o desaparecimento      dos quelônios       na natureza“Muita            predação;         “Pesca, consumo, comércio ilegal”;   “A pesca predatória dos quelônios, a falta de   consciência   de preservação e a poluição do lago” “Invasão do próprio homem”;   “Venda ilegal de quelônios e ovos”;   “A ganância por dinheiro, desaparecimento, predação”;   “Poluição dos rios, comercialização”   “Consumo, falta de comprometimento no projeto” “Venda ilegal de quelônios;   “Ferramentas para pescar os quelônios, os quelônios ficaram mais fáceis de serem pescados, e o comércio ilegal”;   “Invasão”;   “Muito consumo”.
Responsabilidade pela preservação da natureza e dos quelônios“Dos órgãos de fiscalização ambiental”   “De todos”   “A todas as pessoas”   “De todos, do poder público, secretaria do meio ambiente”   “Os comunitários, voluntários e Semma;    “Todo ser humano”;   “Cabe a cada um de nós”;   “Semma, ICMBio, gestão municipal nas comunidades”.
O que é preciso fazer para que a preservação da natureza seja eficaz“Da consciência de cada pessoa em fazer a sua parte, proteger a natureza”;   “Atitudes, conscientizar a todos”;   “Campanhasque façam   com   que as pessoas dêem valor aos animais silvestres”;   “Educar o ser humano”;   “Apoio público privado e consciência do povo em geral”;   “A família, incentivo das famílias, se as famílias não apoiarem o projeto não tem  educação ambiental”;   “Palestras, envolvimento nas escolas”;   “Integrar mais a escola com o Projeto e com a sociedade em geral”;   “Zelar, não desmatar, não explorar a mata”;   “ Ações voltadas para a preservação, que se faça cumprir as leis, que as comunidades tenham apoio do governo e das secretarias de meio ambiente”;   “Valorização  dos projetos políticos pedagógicos”.

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

Guimarães (2013) contribui com seus estudos sobre a EA afirmando que:

Educando e educador são agentes sociais que atuam no processo de transformações sociais e nesse processo se transformam. Portanto, o ensino teoria e prática, é práxis. Ensino que se abre para a comunidade com seus problemas socioambientais, sendo a intervenção nesta realidade a promoção do ambiente educativo (GUIMARÃES, 2013, p.  17)

Relatos de experiências com a educação infantil no Projeto Tamar foram descritos em um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI). As crianças desse grupo tinham de três a quatro   anos.   A   professora   relata que   as   crianças desenvolvem na escola um projeto de literatura com o livro “O ovo” e no final do livro eles descobrem que o ovo é um ovo de tartaruga. Isso foi o que motivou ela a trazer as crianças para conhecer o TAMAR. A partir desse livro a professora já trabalhou várias atividades com as crianças na escola, como fantoches, música e atividades de pesquisa na informática (FARDIM; GONZALEZ, 2017).

Percepção ambiental dos Coordenadores do Projeto Pé-de-Pincha

Sobre a percepção ambiental dos coordenadores do Projeto Pé-de-Pincha sobre a EA, foi questionado a partir de qual momento desde a implantação do Projeto no município de Oriximiná, começou a dar atenção para a EA nas comunidades, os coordenadores afirmaram que desde a implantação do Projeto no município, desde a sua criação o Projeto Pé-de-Pincha teve foco na EA. Desde o princípio foram capacitados professores para ajudar com os agentes ambientais. Desde a implantação do Projeto, realizam-se reuniões com professores, estudantes, comunitários, associações, entre outros a fim de levantar informações quanto às necessidades iminentes de cada comunidade, como os temas e ações a serem abordados (ANDRADE, 2012).

Sobre a participação do Projeto nas escolas das comunidades, os coordenadores responderam que nas comunidades que têm escolas, sempre é trabalhado a EA em parceria com os professores e os alunos. Nos últimos anos, não foi possível incentivar as escolas devido a pandemia da Covid – 19. Mas é uma meta trabalhar a EA com os professores para que sejam semeadores para seus alunos. Os coordenadores citaram o momento da ‘soltura’ dos filhotes como um momento do Projeto em que é importante trabalhar a EA. Os professores, em suas falas, também mencionaram a ‘soltura dos filhotes’ como um momento de introduzira EA na comunidade e na escola.

Foi questionado pelos coordenadores se ao longo dos vinte e três anos de projeto no município de Oriximiná, percebe-se mudanças com relação aos comportamentos, atitudes e valores dos agentes voluntários e colaboradores em relação a sensibilização e conscientização ambiental. As mudanças de comportamentos e atitudes é perceptível tanto nos colaboradores quanto nas crianças das comunidades. Já na cidade não há muito trabalho realizado pelo projeto para a EA devido falta de colaboradores e parcerias.

A percepção ambiental da população é de suma importância na busca de informações ecológicas sobre quelônios em aspectos relacionados ao seu hábitat, comportamentos e estoques naturais. Utiliza-se a percepção ambiental como mecanismo a relação entre as pessoas e o meio em que vivem (GRATANI et al., 2017; SMITH et al., 2017).

Outro questionamento feito aos coordenadores foi se o projeto trabalha em conjunto com a comunidade quando envolve a EA. Os coordenadores afirmaram que todo o manejo de quelônios é feito por comunitários treinados pela coordenação do projeto referente ao meio ambiente como um todo, e não só o manejo de quelônios.

Análise Documental do Projeto Pé-de-Pincha

Segundo os documentos do Projeto Pé-de-Pincha, a Educação Ambiental no contexto do projeto é uma ferramenta existente para a sensibilização e capacitação dos indivíduos sobre a situação ambiental vigente. Através dela, busca-se desenvolver técnicas e métodos que facilitem o processo de tomada de decisão sobre a gravidade dos problemas ambientais e a necessidade urgente de buscar alternativas para minimizar ou mesmo solucionar tais problemas ambientais (ANDRADE, 2012).

Para o processo de sensibilização e conscientização, considerando as linhas de ações e a proposta da Educação Ambiental, bem como buscando atender o que preconiza as recomendações dos documentos Nacionais e Internacionais sobre a EA, considera-se como pressupostos teóricos os seguintes referenciais a serem aplicados na proposta do Programa Pé-de-Pincha:

Figura 1 – Pressuposto da Educação Ambiental no Programa Pé-de-Pincha.

Fonte: Livro Manejo Comunitário de Quelônios Projeto Pé-de-Pincha, 2012.

Durante a realização das ações nas comunidades participantes do programa, são planejadas atividades que agregam o conhecimento empírico dos comunitários aos conhecimentos propostos para atingir os objetivos do Projeto conforme a temática ambiental.

A metodologia aplicada no projeto possibilita a formação de multiplicadores em Educação Ambiental, por meio das diversas atividades teóricas e práticas aplicadas, onde estas ações geram a construção de novas formas de pensar e agir através da compreensão da complexidade das questões ambientais, assim como das interrelações entre os diversos subsistemas que compõem a realidade dos participantes envolvidos (ANDRADE, 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Projeto Pé-de-Pincha assume ao longo de sua história um papel muito importante nas comunidades atuantes sendo um instrumento de Educação Ambiental. É imprescindível notar como a percepção e as mudanças que ocorrem na vida das pessoas após ingressarem no projeto. As entrevistas mostraram que antes de tomarem conhecimento sobre o projeto, os colaboradores eram invasores de lagos, destruidores da fauna, pescavam e comercializavam quelônios, e a partir do momento em que ingressam no Projeto a percepção ambiental e as atitudes mudam a partir das práticas educativas.

O Projeto Pé-de-Pincha promove nos seus colaboradores a Educação Ambiental, pois estes assumem o papel que fazem parte da natureza e que precisam dela. Este é o papel da Educação Ambiental: a capacidade de fazer com que um indivíduo aprenda a gostar da natureza.

É preciso que se construam parcerias eficazes com os projetos de conservação e manejo comunitário de quelônios, no caso do Projeto Pé-de-Pincha, é necessário apoio dos órgãos públicos, igrejas, escolas, secretarias e da sociedade, capazes de promover a sensibilização e uma reflexão acerca das nossas relações com o meio ambiente, pois uma sociedade sustentável se fortalece na medida em que se desenvolvem práticas educativas que aportem para as escolas e os ambientes pedagógicos uma atitude reflexiva acerca da problemática ambiental. Os Projetos de conservação, pesquisa e manejo comunitário assim como o Pé-de-Pincha, devem ser planejados de maneira que possam avaliar a eficácia da EA, possibilitando assim as correções, levando em consideração os pontos positivos e negativos, buscando a otimização dos recursos investidos.

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[1] Bióloga, formada  pela Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).E-mail: rosivane3311@gmail.com

[2]Doutora em Neurociências e Biologia Celular pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Docente na Universiade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), campus dde Oriximiná Professor Domingos Diniz.E-mail: eldracarv@gmail.com

[3] Doutoranda em em Neurociências e Biologia Celular pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Docente na Universiade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), campus dde Oriximiná Professor Domingos Diniz.

[4] Bióloga, formada  pela Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).

[5] Bióloga, formada pela  Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).E-mail: rejanerejanelopes@gmail.com

[6]Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento (PPGSND) da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Mestrado em Biociências (UFOPA).E-mail: mdsilva.ufopa@gmail.com