REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11000003
Irismar Marques de Araújo1
Eder Rodrigues dos Santos2
Roberta Gonçalves Gomes Marques3
Sylvia de Fátima dos Santos Guerra4
RESUMO
Introdução: No processo de envelhecimento, tem-se o declínio funcional e a fragilidade cardiorrespiratória evidenciando a população idosa com maior vulnerabilidade ao desenvolvimento de infecções respiratórias o que pode comprometer a qualidade de vida nesta faixa etária. Objetivo: descrever as doenças respiratórias na terceira idade e suas complicações. Metodologia: tratou-se de um estudo de revisão de literatura sistemática, com os seguintes descritores: doenças respiratórias, terceira idade e complicações. Essa busca foi realizada através das bases de dados eletrônicas: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e o Google Scholar, no período compreendido entre os anos de 2012 até 2024. Resultados: Foram selecionados um total de 16 artigos para esta pesquisa. De um modo geral, os dados encontrados salientam a alta prevalência de doenças respiratórias com suas possíveis complicações como uma marca da terceira idade. As complicações mais recorrentes, com alta taxa de morbidade e mortalidade foram: DPOC, doenças respiratórias por influenza e causas associadas, pneumonia, bronquite aguda, bronquiolite aguda, asma e doenças crônicas das amígdalas e adenoide. Conclusão: observou-se que as maiores responsáveis pelas complicações respiratórias foram: alterações fisiológicas comuns na senescência, alterações climáticas, institucionalização e comorbidades.
Palavras-chave: Doença Respiratória. Terceira Idade. Complicações.
ABSTRACT
Introduction: The aging process involves functional decline and cardiorespiratory fragility, making the elderly population more vulnerable to developing respiratory infections, which can compromise quality of life in this age group. Aim: to describe respiratory diseases in the elderly and their complications. Methodology: This was a systematic literature review using the following descriptors: respiratory diseases, the elderly and complications. This search was carried out using electronic databases: Virtual Health Library (VHL), Scientific Electronic Library Online (SciELO) and Google Scholar, from 2012 to 2024. Results: A total of 16 articles were selected for this research. In general, the data found highlights the high prevalence of respiratory diseases with their possible complications as a hallmark of old age. The most recurrent complications, with a high morbidity and mortality rate, were: COPD, respiratory diseases due to influenza and associated causes, pneumonia, acute bronchitis, acute bronchiolitis, asthma and chronic tonsil and adenoid diseases. Conclusion: The main causes of respiratory complications were physiological changes common in senescence, climate change, institutionalization and comorbidities.
Keywords: Respiratory disease. Elderly. Complications.
INTRODUÇÃO
O envelhecimento é um fenômeno biológico de declínio da capacidade dos sistemas e órgãos, representando um processo natural e gradual esperado no ciclo vital do ser humano. Nesse contexto de senilidade, as doenças respiratórias representam as maiores complicações, interferindo diretamente no quadro saúde-doença dos idosos. Elas significam umas das causas mais frequentes de óbitos e adoecimentos, representam 16% das internações, tanto por fatores crônicos quanto agudos, e 30% das causas de morte, principalmente em afecções nas vias aéreas (Antunes et al, 2019).
Alterações fisiológicas são comuns no processo de envelhecimento, ao ponto em que a fragilidade na saúde se manifesta como uma marca dos idosos e como parte das características atribuídas à idade cronológica, encontra-se a prevalência de doenças respiratórias (Mendes e Lima, 2020).
Ao se falar de infecções respiratórias que comprometem as pessoas idosas, destaca-se a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), sendo deliberada através de um quadro de sintomas gripais associado a taquipneia ou hipoxemia, com saturação (SpO2) inferior a 92% em ar ambiente, configurando se como um dos meios de infecções respiratórias. Por volta de 2019, o Brasil exibia o vírus Influenza A como mais prevalente, contudo, o cenário foi modificado a partir do registro dos primeiros casos do novo coronavírus (Mafra et al, 2023).
As situações graves das doenças respiratórias consistem principalmente na insuficiência respiratória ou ventilatória aguda. Dessa maneira Lima et al (2021) esclarecem que o paciente que exibe a incapacidade de fazer a manutenção da oxigenação adequada no seu metabolismo celular terá um comprometimento respiratório.
Neste contexto, Mendes e Lima (2020) apontam que no padrão epidemiológico das enfermidades, os problemas respiratórios representam uma das maiores causas de mortalidade da população idosa. Nisto, o avanço da idade associado às susceptibilidades fisiológicas e imunológicas ocasionada pelas doenças respiratórias, provocam a perda de: elasticidade dos pulmões, movimento ciliares diminuídos, prejuízo no reflexo da tosse, diminuição na superfície de respiração pela dilatação e a redução dos alvéolos. Tais alterações são ainda mais presentes em sujeitos acamados, principalmente nos idosos a partir de 80 anos, em outras palavras, ratifica-se a necessidade de maior precaução para as doenças respiratórias nessa faixa etária.
Deste modo, esse presente estudo oferece como problemática o seguinte questionamento: Quais são as principais complicações das doenças respiratórias que acometem as pessoas idosas? Para o alcance da resposta, este estudo proporciona como objetivo descrever as doenças respiratórias na terceira idade e suas complicações.
Para tanto, tratou-se de descrever as doenças respiratórias na terceira idade, bem como, identificar a relevância da problemática levantada pelo estudo. Ao passo em que desse ponto de vista se torna relevante expandir essa pesquisa, a qual certamente colabora para a descrição da construção dos conhecimentos nessa área, bem como, será próspera para estimular, desenvolver o senso crítico e a habilidade analítica acadêmica.
METODOLOGIA
A presente pesquisa tratou-se de uma revisão sistemática da literatura, que consistiu nas seguintes etapas: seleção da questão norteadora, palavras chave, critérios de inclusão e exclusão, avaliação dos estudos incluídos na revisão, cuja busca se deu na literatura científica nacional e internacional.
Soares (2014) esclarece que a revisão de literatura permite a construção de uma sumarização teórica a partir de uma pergunta de pesquisa, a análise e a crítica da literatura estudada, a criação de novos entendimentos sobre o assunto revisado, trazendo elementos significativos para a ciência e para a prática metodológica.
Para a estratégia de verificação, foram empregados os seguintes descritores: doenças respiratórias, terceira idade e complicações. A busca foi realizada nas bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Google Scholar, acessadas entre 2012 a 2024. A escolha dessas bases de dados se deve ao fato de serem de campo interdisciplinar e com publicações de acesso aberto. Foram estabelecidos como critérios para inclusão: conter os termos supracitados no título ou resumo; aborda “Doenças Respiratória”, “Terceira Idade” e “Complicações”; publicações disponíveis nas línguas portuguesa e inglesa e ter sido publicado no período entre 2012 a 2024. Assim, todos os artigos que não se adequam a esses critérios de inclusão foram automaticamente rejeitados.
Deste modo, foram excluídos os artigos que: não estavam disponíveis na íntegra e de forma gratuita, ou que não traziam informações relacionadas a temática, além dos que estivessem duplicados no banco das bases de dados.
Essa busca foi constituída por cinco tipos de instrumentos de coleta de dados para cada artigo da amostra final, tendo as seguintes variáveis: título dos artigos, objetivos, conclusão, autores e ano de publicação.
Após a seleção dos artigos foi feita a categorização dos estudos para que os dados empíricos, referentes ao objeto e resultados, pudessem ser descritos e ponderados. Desta forma, deu-se início ao processo de análise dos documentos com base nos instrumentos ordenados. De posse da integração dos dados e resultados, os quais foram interpretados e analisados com base na sumarização obtida, construiu-se por fim, uma síntese do conhecimento com base nos aspectos focados por esta pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As investigações foram efetivadas nas bases de dados, apresentando 58 artigos na BVS, 32 artigos na SciELO e 28.200 artigos no Google Scholar, totalizando 28.290 artigos, que após a aplicação do aprimoramento dos critérios de inclusão e exclusão, reduziram-se à 2.548. Após a leitura dos títulos, resumos e palavras-chave dos artigos da BVS e Google Scholar, tendo como foco principal o objetivo desta pesquisa, abreviou-se para 16 documentos, os quais foram lidos e interpretados na íntegra, sendo utilizados para a confecção da presente revisão, sendo eles 03 da base BVS, 05 do SciELO e 08 do Google Scholar.
Para melhor elucidação de todo método de busca e escolha desses artigos, optou-se pelo uso de um fluxograma, ilustrado na Figura 1.
Figura 1 – Descritores e Busca nas Bases de Dados.
Fonte: Protocolo PRISMA adaptado.
A partir dos 16 artigos selecionados, através da coleta de dados foi preparada uma análise do conteúdo bibliográfico, por meio da qual foi direcionada a construção do quadro 1 que contém: autores e ano de publicação, título do artigo, objetivos e conclusão nas bases de dados encontradas. Logo, abaixo no quadro 1, observa-se a construção do saber em relação aos artigos de vários autores, nas diversas categorias metodológicas de estudo. Para tal, foram exibidos de forma a dar relevância a cada trabalho, analisados de forma meticulosa e pertinente à temática deste trabalho.
Quadro 1 – Categorização dos artigos selecionados para revisão.
Título | Objetivos | Conclusão | Autores e Anos |
Reabilitação respiratória em idosos, em contexto de cuidados agudos: revisão Sistemática da literatura | Identificar as intervenções suscetíveis de melhorarem o desempenho respiratório e a capacidade funcional nas pessoas idosas em contexto de agudização. | De acordo com os autores dos estudos incluídos nesta revisão da literatura, as intervenções de reabilitação respiratória, como a técnica de controlo da respiração e o uso de dispositivos para treino dos músculos respiratórios permitiram a redução da fadiga, o aumento da tolerância ao esforço e a melhoria dos volumes e das capacidades pulmonares, com resultados favoráveis no desempenho funcional. | Alves e Grilo, 2022 |
Efeito das estações do ano no pico de fluxo expiratório de idosos institucionalizados e não institucionalizados | Avaliar o pico de fluxo expiratório de idosos institucionalizados e não institucionalizados durante as quatro estações do ano | Conclui-se que o pico de fluxo expiratório de idosos varia de acordo com as estações do ano, porém os institucionalizados apresentam valores mais baixos. Os mais altos são encontrados na primavera, embora aquém do valor predito para os idosos de ambos os grupos. | Antunes et al, 2019 |
A Síndrome Respiratória Aguda Grave na pessoa idosa no contexto da pandemia da covid 19 e seus fatores associados. | Descrever os casos de SRAG, assim como os fatores sociodemográficos e de saúde associados ao óbito na população idosa de um município do norte do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. | Espera-se que as associações evidenciadas neste trabalho possam auxiliar nas políticas de saúde direcionadas à saúde da pessoa idosa, sobretudo pelo fortalecimento das ações na rede de atenção primária. | Mafra et al, 2023 |
A doença respiratória infecciosa, características e gravidade: revisão integrativa | Revisar nas publicações científicas fatores associados à gravidade e a mortalidade da doença respiratória infecciosa. | As regiões e períodos do ano de frio com elevada ou baixa umidade são fatores comuns no aumento e agravamento das doenças respiratórias infecciosas. As populações mais vulneráveis correspondem a faixas etárias extremas, contudo a mortalidade está relacionada à idade avançada e comorbidades pré-existentes, trazendo a atenção para a vigilância e o cuidado com a saúde desses. | Lima et al, 2021 |
Prevalência e Fatores associados à SRAG por COVID-19 em Adultos e Idosos com Doença Cardiovascular Crônica | Descrever a prevalência da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) pela COVID-19 e analisar os fatores associados a essa condição em adultos e idosos com doença cardiovascular no Brasil até a 30ª Semana Epidemiológica de 2020. | Há alta prevalência de SRAG por COVID-19 em adultos e idosos com DCV no Brasil. Associaram-se fatores relacionados a características sociodemográficos, clínicas, sinais e sintomas. | Paiva et al, 2021 |
COVID-19 nas instituições de longa permanência para idosos: estratégias de rastreamento laboratorial e prevenção da propagação da doença | Propõem-se, no presente artigo, estratégias de rastreamento da infecção em residentes e trabalhadores de ILPI por meio de testes laboratoriais disponíveis no Brasil. | A identificação precoce de indivíduos portadores do SARS-CoV-2 com possibilidades de transmissão ativa e continuada do vírus permite a adoção de medidas que interrompam o ciclo de transmissão local da infecção. | Moraes et al, 2020 |
Procura por atendimento médico devido a sintomas relacionados à COVID-19 e cancelamento de consultas médicas em função da epidemia entre adultos brasileiros mais velhos: iniciativa ELSI-COVID-19 | Examinar a prevalência de sintomas da COVID-19, a busca por atenção em saúde em função destes sintomas, e o cancelamento de cirurgias, ou outros procedimentos previamente agendados, por causa da pandemia, em uma amostra representativa de brasileiros adultos com 50 anos ou mais, participantes do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI Brasil), que responderam à entrevista telefônica sobre a COVID-19 entre o final de maio e o início de junho de 2020. | Apontam para a necessidade de adaptação da oferta da atenção à saúde para garantir a continuidade dos cuidados necessários durante a epidemia (como telemedicina, por exemplo), bem como a necessidade urgente de ampla divulgação para orientar a população sobre a prevenção da doença e como obter atenção em saúde em caso de necessidade. | Macinko et al, 2020 |
Heterogeneidade nas causas de morte da população idosa da Região nordeste do brasil | Analisar os diferenciais na escala de prioridades das causas de morte entre a população idosa do Nordeste do Brasil, no período de 2001 a 2015, conforme três grupos etários: 60 a 69 anos (sexagenários), 70 a 79 anos (septuagenários) e 80 anos ou mais (longevos). | Portanto, infere-se que os idosos longevos demandam uma atenção diferenciada dos outros idosos, sobretudo quanto à prevenção e ao tratamento das doenças respiratórias, bem como uma melhor determinação da causa básica nas declarações de óbito. | Mendes e Lima, 2020 |
SRAG por COVID-19 no Brasil: descrição e comparação de características demográficas e comorbidades com SRAG por influenza e com a população geral. | Descrever os pacientes hospitalizados por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) em decorrência da COVID-19 (SRAG-COVID), no Brasil, quanto às suas características demográficas e comorbidades até a 21a Semana Epidemiológica de 2020. | Já entre os hospitalizados por SRAG-FLU, observou se prevalências superiores às populacionais de indivíduos de 0 a 4 anos de idade ou idosos, de raça ou cor branca, com comorbidades (diabetes mellitus, doença renal crônica, asma e outras pneumopatias crônicas) e de gestantes/puérperas. Esses grupos podem estar evoluindo para casos mais graves da doença, de forma que estudos longitudinais na área são de extrema relevância para investigar esta hipótese e melhor subsidiar políticas públicas de saúde. | Niquini et al, 2020 |
Características definidoras e fatores relacionados do diagnóstico de enfermagem padrão respiratório ineficaz | Identificar na literatura as características definidoras e os fatores relacionados do diagnóstico de enfermagem padrão respiratório ineficaz. | Esse diagnóstico manifesta-se diferentemente de acordo com a faixa etária dos pacientes. Observou-se que algumas características definidoras e fator relacionado não constam na NANDA-I, cuja inclusão pode aprimorar esse diagnóstico de enfermagem. | Prado; Bettencourt e Lopes, 2020 |
Vivências de idosos com doença pulmonar crônica em uso de oxigenoterapia domiciliar prolongada no relacionamento amoroso e sexual | Compreender os significados atribuídos pela pessoa idosa com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) em uso da Oxigenoterapia Domiciliar Prolongada (ODP) referente ao relacionamento amoroso e a prática sexual. | A percepção da pessoa idosa com DPOC em uso da ODP indica que a oxigenoterapia impactou sobre a prática sexual e nos relacionamentos amorosos. Ter boa qualidade nos relacionamentos e na prática sexual é condição fundamental para promover a saúde. | Bueno et al, 2023 |
Fatores associados à Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica em idosos | Identificar os fatores associados à Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) em idosos não institucionalizados. | Os resultados revelam fatores associados que destacam a necessidade de revisão dos critérios de seleção dos pacientes de risco para DPOC entre idosos. | Barbosa et al, 2017 |
Doenças respiratórias por influenza e causas associadas em idosos de um município do Nordeste brasileiro | Avaliar óbitos decorrentes de doenças respiratórias por influenza e causas associadas em idosos do Município de Aracaju, Sergipe, Brasil. | No período de 1998 a 2007, as taxas de mortalidade de doenças respiratórias por influenza e causas associadas, em Aracaju, foram elevadas em comparação às dos Estados brasileiros, o que indica necessidade de reformulação no calendário de vacinação contra gripe nos idosos deste município. | Gomes et al, 2013 |
Doenças crônicas não transmissíveis e suas implicações na vida de idosos dependentes | Investigar as implicações das doenças crônicas não transmissíveis em idosos dependentes. | As implicações das doenças crônicas se manifestam no uso de medicamentos, que também se constituem como fator de risco; na condição da dependência e na vivência com doenças crônicas, que denotam em maior uso dos serviços de saúde; no alto impacto econômico das doenças crônicas para as famílias e para o Estado; e na precariedade da renda familiar, que condicionam os idosos a contarem com poucos dispositivos de apoio social e comunitário. | Figueiredo; Ceccon e Figueiredo, 2021 |
Internações hospitalares, óbitos, custos com doenças respiratórias e sua relação com alterações climáticas no município de São Carlos – SP, Brasil | Descrever as internações hospitalares, óbitos e custos com as doenças respiratórias (DR) e verificar suas relações com as alterações climáticas. | As DR responsáveis pelos maiores valores de AIH e óbitos foram a pneumonia, DPOC, bronquite aguda, bronquiolite aguda, asma e doenças crônicas das amígdalas e adenóides. Observou-se ainda que as alterações climáticas apresentaram relação com a AIH, taxa de mortalidade e custos com saúde. | Cruz et al, 2016 |
Avaliação do pico de fluxo expiratório em idosos autônomos institucionalizados e não institucionalizados | Avaliar e comparar o pico de fluxo expiratório máximo em idosos institucionalizados e não institucionalizados. | Os dois grupos apresentaram queda no PFE em relação ao mínimo esperado, porem de forma diferenciada. O grupo institucionalizado apresentou queda significativamente maior que o não institucionalizado. | Caldeira et al, 2012 |
Fonte: dados coletados nas bases de dados MEDLINE, SciELO e BVS.
Ao observar no quadro 1 os títulos dos trabalhos, notou-se uma diversidade na proposição da temática, o que confirma a pluralidade de questões-problemas relacionadas ao estudo sobre as doenças respiratórias na terceira idade e suas complicações.
No que concerne ao período de publicação, o maior número de trabalhos publicados no tema pesquisado no presente estudo concentrou-se nos anos 2020 a 2021, existindo um interesse crescente na época presente sobre o tema proposto.
Apesar disso, ao referenciar os objetivos e as conclusões dos trabalhos revisados, observa-se que arrazoavam de forma geral, sobre o tema proposto, com ênfase na grande intercorrência dos pacientes idosos nos locais hospitalares pela fragilidade respiratória e na busca da prevenção em relação aos riscos respiratórios na terceira idade.
Dentre as doenças respiratórias que se destacam entre a população idosa, tem-se Síndrome Respiratória Aguda (SRA). Neste sentido, Mafra et al (2023) ressaltam que os principais sintomas manifestados pelos idosos acometidos pela Síndrome Respiratória Aguda (SRA) é a dispneia, ou seja, mais de 2/3 dessa população apresenta uma saturação inferior a 95%, tosse e febre. Além disso, dentre os sintomas mais comuns nos idosos no período da Covid 19, estavam: a perda de olfato e paladar, vômito, dor de garganta, diarreia e a fadiga.
A insuficiência respiratória aguda é sinal de gravidade do quadro de Síndrome Respiratória Aguda (SRA) associada à COVID-19 e a pessoa idosa é que mais comumente apresenta esse quadro com a presença de disfunção respiratória levando a ter na maioria das vezes a dispneia, taquipneia ou a própria dessaturação (Sat O2 < 90% na Fração inspirada de oxigênio – FiO2 21%), com a diminuição da perfusão periférica ou cianose presente e o rebaixamento do estado neurológico (Lima et al, 2021).
A Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) que acomete principalmente idosos, é definida como uma infecção pelo coronavírus, denominada Sars-CoV-2, e tem se configurado em um processo mundial como a pandemia que tem provocado implicações: sociais, financeiras e psicológicas em todo o hemisfério mundial. Assim, essa doença foi assinalada como uma pandemia, com 15.581.009 casos confirmados e 635.173 mortes em escala mundial até 23 de agosto de 2020 (Paiva et al, 2021).
Outra patologia respiratória comum entre as pessoas idosas é a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Assim, os pacientes com DPOC ou com alguma cardiopatia, podem ter uma saturação mais baixa, sendo necessário a atuação de um profissional enfermeiro habilitado nos critérios de Urgência e Emergência, porque muitas vezes o paciente idoso pode apresentar uma saturação baixa dentro do seu quadro de patologia, sendo necessário avaliar se esse nível é normal e aceitável ao organismo do idoso.
A DPOC é definida como uma enfermidade inflamatória, resultando de alterações patológicas nos pulmões, com comprometimento das vias aéreas periféricas e no parênquima pulmonar, ocasionando a obstrução do fluxo de ar. Dessa forma, quando o paciente tem seu diagnóstico da DPOC é solicitado a Oxigenoterapia Domiciliar Prolongada-ODP, (Barbosa et al, 2017; Bueno et al, 2023).
Em termos de impacto na qualidade de vida dos idosos, Bueno et al (2023) esclarecem que pessoas idosas com DPOC em uso da ODP sofrem alterações negativas na sua prática sexual e na qualidade dos relacionamentos amorosos.
Todavia o uso da Oxigenoterapia faz-se necessário no tratamento das complicações respiratórias causadas pela DPOC.
Um outro fator a ser considerado, são as alterações infligidas pelo processo de envelhecimento. De acordo com Alves e Grilo (2022) essas alterações da senescência podem ocasionar uma fragilidade multiorgânica em termos respiratórios e cardíacos. Estas alterações podem ser examinadas na redução da distensão da expansibilidade da parede torácica, o reflexo da tosse, a diminuição da atividade ciliar, o aumento do risco de infeção nos pulmões, a redução da capacidade vital e a consequente diminuição da capacidade de desempenho das atividades da vida diária. Logo, essas alterações voltadas ao processo de envelhecimento, podem ser intensificadas pelas enfermidades, causando desta forma uma decadência funcional.
As alterações climáticas também podem contribuir para as complicações nos processos respiratórios na terceira idade. Nesse contexto, Antunes et al (2019) aponta que a exposição das vias aéreas a poluentes como poeira, fungos, fumaça de cigarro, a exposição de agentes biológicos e a sazonalidade climática etc., podem levar a piora significativa de uma pessoa idosa. Além disso, o clima no Brasil apresenta inconstâncias climáticas, entre elas, períodos intensos de secas e chuvas. Essas alterações climáticas estão correlacionadas com múltiplos fatores que sofrem influência da: atmosfera, camada de ozônio, industrialização, urbanização, carros e lixos não coletados, em outros termos, todos esses fatores cooperam para que o ar se torne mais danoso à saúde do idoso, trazendo efeitos significativos sobre as condições respiratórias e cardíacas.
No que tange aos agravamentos nas doenças respiratórias decorrentes das alterações climáticas, cabe salientar que esse quadro, torna-se ainda mais recorrente em idosos institucionalizados, pois estes apresentam maiores picos de fluxos expiratórios, especialmente em épocas climáticas de baixa umidade. O processo de institucionalização pode implicar em perda da qualidade dos cuidados, bem como, aumento do risco de contágio por vírus, impactando diretamente na funcionalidade do idoso (Antunes et al, 2019; Moraes et al, 2020).
De acordo com Caldeira et al (2012), o aumento do pico de fluxo expiratório em idosos institucionalizados, deve-se principalmente ao declínio nas capacidades fisiológicas presentes no envelhecimento. As mudanças acometidas pelo envelhecimento atingem todos os sistemas e causam alterações no metabolismo geral, sobretudo uma redução da capacidade pulmonar. Essa redução na função pulmonar, apresenta as seguintes complicações: enrijecimento das paredes torácicas; aumento dos volumes residuais; redução da relação ventilação-perfusão, da taxa de fluxo respiratório, da complacência pulmonar, das forças musculares que promovem expansão, maior colabamento das vias aéreas e perda de força muscular em até 25% do previsto.
Outro fator relevante a ser considerado no quadro de doenças respiratórias são as complicações ocasionadas pela tosse. Ao falar das doenças respiratórias na população idosa, Moraes et al (2020) e Niquini (2020) relatam que os sintomas podem-se manifestar de forma tardia, ocasionando, também, o processo lento de cura. Desse modo, o idoso ou seus cuidadores devem se atentar aos sinais e sintomas que persistem por mais tempo. Dentre as complicações ocasionadas por doenças respiratórias, a tosse é o sintoma mais comum e persistente.
Ainda nesse aspecto de identificar fatores complicadores associados às doenças respiratórias, Manciko et al (2020) afirmam que no Brasil, as complicações e comorbidades que atingem as pessoas da terceira idade são: DM2, hipertensão, doenças cardiovasculares, doenças respiratórias. Durante o período da pandemia da Covid-19, essas comorbidades elevaram-se de forma severa.
Dentre os fatores citados como possíveis complicadores que aumentam a morbidade e mortalidade em idosos, têm-se: a DPOC, doenças respiratórias por influenza e causas associadas, pneumonia, bronquite aguda, bronquiolite aguda, asma e doenças crônicas das amígdalas e adenoide. Essas complicações são responsáveis pelos maiores índices de internações hospitalares, com altos custos com saúde pública, representando aumento no uso e na dependência de medicamentos, causando alto impacto econômico para o Estado. Também representam as mais altas frequências de morbidade e mortalidade mundialmente conhecidas (Barbosa et al, 2017; Cruz et al, 2016; Figueiredo, Ceccon e Figueiredo, 2021; Gomes et al, 2013).
CONCLUSÃO
A partir das reflexões elencadas e tendo em vista o objetivo dessa pesquisa, voltado para a descrição das doenças respiratórias na terceira idade e suas complicações, é possível considerar que os principais fatores complicadores das doenças respiratórias em idosos são: alterações fisiológicas ligadas à senescência; comorbidades; Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) associada à Covid-19; estar em situação de institucionalização, o que pode implicar na queda da qualidade dos cuidados oferecidos aos idosos; alterações climáticas; especialmente frio intenso e baixa umidade. Nesse sentido, é evidente a necessidade de ampliação de políticas públicas voltadas para intervenções nestas complicações, com vistas a melhorar o desempenho respiratório e a capacidade funcional das pessoas idosas.
As pesquisas assinalaram que o processo de envelhecimento é seguido pelo declínio da aptidão cardiorrespiratória e da função neuromuscular, sendo cada vez exacerbado pela inatividade. Desse modo, as alterações fisiológicas do sistema respiratório no processo de envelhecimento, pode ser amenizada pela prática regular de atividades físicas, as quais são consideradas essenciais para manutenção de uma vida prolongada e saudável, permitindo retardar a perda da capacidade funcional, da força muscular respiratória e consequentemente melhorar a qualidade de vida do idoso
Nos achados, evidenciou-se que durante a pandemia da Covid-19, a população idosa, especialmente a partir dos 80 anos, foi grandemente afetada, com altos índices de adoecimentos complicados e óbitos.
A perda da funcionalidade respiratória decorre de várias complicações fisiológicas de fatores que afetam inteiramente a qualidade de vida do idoso. Dessa forma, a realização de procedimentos de promoção e prevenção a saúde, trazem resultados benéficos para a qualidade de vida do idoso com problemas respiratórios.
Assim, ainda são necessárias mais pesquisas voltadas para o aprofundamento das complicações advindas de doenças respiratórias em pessoas idosas, especialmente institucionalizadas.
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