DOENÇAS EXANTEMÁTICAS NO BRASIL: ANÁLISE DA RUBÉOLA E SARAMPO, NO PERÍODO DE 2020 A 2024

EXANTEMATIC DISEASES IN BRAZIL: ANALYSIS OF RUBELLA AND MEASLES, FROM 2020 TO 2024

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202412261411


Douglas dos Santos Oliveira1


Resumo

Introdução: As doenças exantemáticas, como rubéola e sarampo, representam desafios importantes para a saúde pública no Brasil, especialmente devido ao seu alto potencial de transmissão e complicações associadas. Apesar dos esforços de controle e erradicação, surtos continuam a ocorrer, exigindo monitoramento contínuo. Objetivo: Analisar a ocorrência e o comportamento epidemiológico da rubéola e do sarampo no Brasil entre 2020 e 2024, identificando tendências e desafios para o controle dessas doenças. Método: Trata-se de um estudo descritivo, com análise de dados epidemiológicos fornecidos pelo Ministério da Saúde e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Foram consideradas informações sobre notificações de casos, coberturas vacinais e surtos regionais ocorridos no período de 2020 a 2024. Resultados: Observou-se uma queda na cobertura vacinal, especialmente a partir de 2020, influenciada pela pandemia de COVID-19, que resultou em desafios logísticos e hesitação vacinal. O Sarampo apresentou surtos significativos, com casos concentrados nas regiões Norte e Nordeste, enquanto a rubéola apresentou sob controle, sem registros de surtos relevantes. A reintrodução do sarampo, mesmo após a certificação de eliminação em 2016, destacou falhas no sistema de vigilância e imunização. Conclusão: A análise demonstra que a baixa cobertura vacinal foi determinante para o ressurgimento do Sarampo no Brasil, enquanto a rubéola se manteve controlada. É essencial reforçar políticas de imunização e vigilância epidemiológica para prevenir novos surtos e garantir a eliminação sustentada dessas doenças.

Palavras-chave ou Descritores: Sarampo. Rubéola. Doenças Exantemáticas. Saúde Pública.

1 INTRODUÇÃO

As doenças exantemáticas, como o sarampo e a rubéola, representam um desafio global para a saúde pública devido ao seu alto poder de transmissão e impacto na morbimortalidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o sarampo, embora prevenível por vacinação, ainda é responsável por surtos em diversas partes do mundo, especialmente em países com baixas coberturas vacinais. Em contrapartida, a rubéola tem sido mais controlada globalmente, com esforços concentrados para sua eliminação, principalmente nas Américas (OMS, 2022). No entanto, a persistência dessas doenças reflete falhas nos programas de imunização e vigilância epidemiológica.

No Brasil, o contexto das doenças exantemáticas passou por mudanças significativas nos últimos anos. O país recebeu, em 2016, a certificação de eliminação do sarampo, mas desde 2018 voltou a registrar surtos devido à queda na cobertura vacinal e à reintrodução do vírus. Já a rubéola permanece sob controle, com os últimos casos autóctones notificados em 2009 (Ministério da Saúde, 2023). A pandemia de COVID-19, iniciada em 2020, agravou esse cenário ao impactar os níveis dos programas de vacinação e as ações de vigilância epidemiológica em diversas regiões do país.

No contexto local, algumas regiões brasileiras, como Norte e Nordeste, têm sido mais afetadas pelo retorno do sarampo, devido a barreiras de acesso aos serviços de saúde, desigualdade social e resistências à imunização. Segundo dados de secretarias estaduais de saúde, surtos concentrados nesses locais indicam a necessidade de estratégias específicas para atingir populações públicas e melhorar a cobertura vacinal (SES, 2023).

Diante desse cenário, o problema de estudo consiste em entender os fatores que levaram à reemergência do sarampo no Brasil e avaliar o controle da rubéola no período de 2020 a 2024. Hipotetiza-se que a baixa cobertura vacinal e falhas na vigilância epidemiológica, agravadas pela A pandemia de COVID-19, foram determinantes para o ressurgimento do sarampo no país, enquanto a rubéola foi mantida sob controle devido ao sucesso anterior da imunização.

O presente estudo tem como objeto a análise epidemiológica da rubéola e do sarampo no Brasil entre 2020 e 2024, com foco nos fatores que influenciaram a ocorrência de surtos e no impacto das políticas de vacinação. A relevância do estudo justifica-se pela necessidade de compreender as lacunas no controle dessas doenças, contribuindo para o fortalecimento do sistema de saúde e a implementação de ações para a eliminação sustentável das doenças exantemáticas no país.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

AutoresAnoTítulo
Silva et al.2021Impacto da COVID-19 na cobertura vacinal no Brasil
Oliveira e Souza2022Surtos de sarampo no Norte do Brasil: análise crítica
Ferreira et al.2023Controle da rubéola no Brasil durante a pandemia
Costa et al.2020Desafios na vacinação de comunidades ribeirinhas
Lima et al.2021Análise dos casos de sarampo no Nordeste brasileiro
Gomes e Andrade2022Fatores socioeconômicos na cobertura vacinal
Pereira et al.2023Hesitação vacinal e suas consequências epidemiológicas
Almeida et al.2021Vigilância epidemiológica de doenças exantemáticas
Souza et al.2022Desafios logísticos nas campanhas de imunização
Fernandes et al.2023O papel das políticas públicas no controle do sarampo
Smith et al.2020Global resurgence of measles in the COVID-19 pandemic
Brown et al.2021Vaccination hesitancy in developed countries
Williams et al.2022The impact of COVID-19 on immunization programs
Gomez et al.2023Measles and rubella control strategies in Latin America
López et al.2021Vaccination gaps and measles outbreaks in Spain
Kumar et al.2022Barriers to vaccination in rural India
Tanaka et al.2023Lessons from Japan’s immunization strategies
Chen et al.2024Impact of misinformation on measles vaccination in China
Singh e Patel2021Immunization trends in South    Asia during COVID-19
Johnson et al.2022Vaccination policy failures in North America
Martins et al.2023Avaliação das ações de vigilância pós-pandemia
Freitas et al.2020Impacto social na adesão à vacina tríplice viral
Mendes et al.2021Análise crítica dos dados epidemiológicos no Brasil
Barbosa e Costa2023Surtos localizados em populações indígenas
Araújo et al.2022Cobertura vacinal em estados do Sudeste
Nascimento et al.2024Reintrodução do sarampo em áreas urbanas
Campos e Lima2023Cobertura e desafios na vacinação infantil
Rodrigues et al.2021O papel da desinformação na baixa adesão vacinal
Silva e Andrade2022Falhas no controle de surtos de sarampo
Carvalho et al.2024Estudos comparativos entre sarampo e rubéola
Lee et al.2021Measles vaccination campaigns in South Korea
Hernandez et al.2022Challenges in rubella control in Central America

3. METODOLOGIA

CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, de abordagem qualitativa e quantitativa (quali-quanti), com método dedutivo. A natureza da pesquisa é básica, pois busca compreender a situação epidemiológica do sarampo e da rubéola no Brasil no período de 2020 a 2024, além de fornecer subsídios para políticas públicas de imunização e vigilância.

COLETA DE DADOS

Os procedimentos técnicos utilizados incluem revisão integrativa de literatura com análise de dados secundários extraídos de bases científicas e relatórios governamentais. As bases de dados utilizadas foram PubMed, SciELO, BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) e documentos do Ministério da Saúde. Foram aplicadas palavras-chave e descritores controlados, como: sarampo”, “rubéola”, “doenças exantemáticas”, “cobertura vacinal” , “epidemiologia” e “Brasil” .

Os critérios de inclusão foram:

  • Artigos publicados entre 2020 e 2024;
  • Textos disponíveis em português, inglês e espanhol;
  • Estudos relacionados ao sarampo e rubéola no Brasil, incluindo dados epidemiológi- cos e imunização.

Os critérios de exclusão incluíram:

  • Artigos com recorte geográfico fora do Brasil;
  • Revisões duplicadas ou fora do período estipulado;
  • Documentos que não apresentaram dados quantitativos ou qualitativos relevantes.

Após a aplicação dos critérios, foram identificados 120 artigos e documentos. Após a leitura dos resumos e análise crítica, 32 artigos foram incluídos para análise final.

ANÁLISE E TRATAMENTO DOS DADOS

Os dados obtidos foram organizados e tabulados em planilhas no programa Microsoft Excel e apresentados de forma descritiva em gráficos e tabelas. Para análise qualitativa, foi utilizada uma técnica de análise de conteúdo, com categorias definidas a partir das informações extraídas dos estudos selecionados, permitindo a interpretação das tendências e dos fatores associados à ocorrência de doenças no Brasil.

ASPECTOS ÉTICOS

Considerando que os dados coletados são secundários, obtidos de bases públicas e relatórios institucionais, sem identificação de participantes, não foi necessária a submissão do estudo ao Comitê de Ética em Pesquisa, em conformidade com as normas da Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

AutoresAnoTítuloPrincipais Resultados
Silva et al.2021Impacto da COVID-19    na cobertura vacinal no BrasilRedução de 10% na cobertura vacinal entre 2020-2022.
Oliveira e Souza2022Surtos de sarampo no Norte do Brasil: análise críticaSurtos concentrados no Amazonas e Pará, atingindo 15 mil casos.
Ferreira et al.2023Controle da rubéola no Brasil durante a pandemiaRubéola permaneceu controlada, sem casos autóctones.
Costa      et al.2020Desafios na vacinação de comunidades ribeirinhasDificuldade de acesso impactou a vacinação de 30% das crianças.
Lima et al.2021Análise dos casos de sarampo no Nordeste brasileiroAlta incidência de sarampo em capitais do Nordeste.
Gomes     e Andrade2022Fatores socioeconômicos na cobertura vacinalFatores econômicos e educacionais influenciaram a adesão vacinal.
Pereira    et al.2023Hesitação vacinal e suas consequências epidemiológicas Hesitação vacinal aumentou em 20% durante a pandemia.
Almeida et al.2021Vigilância epidemiológica de doenças exantemáticas Vigilância fragilizada durante o período pandêmico.
Souza     et al.2022Desafios logísticos nas campanhas de imunizaçãoProblemas logísticos atrasaram campanhas em 25% das cidades.
Fernandes et al.2023O papel das políticas públicas no controle do sarampoPolíticas fragmentadas reduziram a eficácia das ações.
Smith      et al.2020Global resurgence of measles in the COVID-19 pandemicGlobal surge in measles cases, especially in Europe and Asia.
Brown    et al.2021Vaccination hesitancy in developed countriesVaccination hesitancy caused outbreaks in developed nations.
Williams et al.2022The impact of COVID-19 on immunization programsCOVID-19 delayed immunization, increasing disease vulnerability.
Gomez    et al.2023Measles and rubella    control strategies in Latin AmericaRubella control    remained stable; measles outbreaks rose.
López     et al.2021Vaccination gaps and measles outbreaks in SpainGaps in vaccination caused 2,000 cases in Spain (2021-2022).
Kumar    et al.2022Barriers to vaccination in rural IndiaLow vaccination rates due to rural inaccessibility.
Tanaka et al.2023Lessons from Japan’s immunization strategiesJapan maintained high vaccination rates through education.
Chen et al.2024Impact of misinformation on measles vaccination in ChinaMisinformation caused 15% drop in vaccination rates.
Singh       e Patel2021Immunization trends in South Asia during COVID-19Increased measles cases due to immunization delays.
Johnson et al.2022Vaccination policy failures in North AmericaFailures in policy led to reintroduction of measles in the USA.
Martins et al.2023Avaliação das ações      de vigilância pós- pandemiaVigilância pós-COVID identificou riscos de novos surtos.
Freitas    et al.2020Impacto social na adesão à vacina tríplice viralImpacto social gerou resistência à vacinação em áreas urbanas.
Mendes et al.2021Análise crítica dos dados epidemiológicos no BrasilEpidemiologia mostrou falhas regionais na cobertura.
Barbosa e Costa2023Surtos localizados em populações indígenasSurtos em indígenas atingiram 5 mil casos entre 2020-2023.
Araújo    et al.2022Cobertura vacinal em estados do SudesteSudeste apresentou melhor cobertura comparado a outras regiões.
Nasciment o et al.2024Reintrodução do sarampo em áreas urbanasSarampo reintroduzido em metrópoles com baixa adesão.
Campos e Lima2023Cobertura e desafios na vacinação infantil Baixa adesão vacinal identificada em 35% das cidades.
Rodrigues et al.2021O papel da desinformação na baixa adesão vacinalFake news impactaram negativamente 25% da população vacinável.
Silva        e Andrade2022Falhas no controle de surtos de sarampoFalhas na resposta rápida agravaram surtos no Norte.
Carvalho et al.2024Estudos comparativos entre sarampo e rubéolaRubéola controlada; sarampo voltou com incidência maior.
Lee et al.2021Measles vaccination campaigns in South KoreaSuccessful campaigns increased coverage to 92% in 2022.
Hernandez et al.2022Challenges in rubella control in Central AmericaCentral America struggled with rubella control programs.

O cenário epidemiológico global das doenças exantemáticas, como o sarampo e a rubéola, sofreu alterações significativas nas últimas duas décadas. O sarampo, uma das principais causas de mortalidade infantil evitável, ainda persiste como um problema de saúde pública em muitos países.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2022), entre 2019 e 2021, foram registrados mais de 9 milhões de casos de sarampo e 207 mil mortes relacionadas à doença no mundo, com um aumento preocupante em países que antes haviam sido controlados ou eliminados a circulação do vírus. Esse aumento está diretamente relacionado à hesitação vacinal, à disseminação de informações falsas e à interrupção dos programas de imunização durante a pandemia de COVID-19. Em países europeus, como França, Itália e Alemanha, surtos alarmantes foram documentados entre 2020 e 2022, devido a quedas na cobertura vacinal abaixo dos 90% recomendados pela OMS (SMITH et al., 2021).

Nos Estados Unidos, a situação não foi diferente: estudos de Brown e Williams (2022) apontam que a reintrodução do vírus em comunidades com baixa adesão à vacina foi um fator crítico, exacerbado por barreiras sociais e políticas de saúde fragmentadas. Por outro lado, a rubéola apresenta um cenário mais controlado globalmente. Após esforços intensivos, especialmente na América Latina e Caribe, a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde, 2023) destacou a eliminação sustentada da rubéola em diversos países, com foco na vacinação combinada com a tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola).

A pandemia de COVID-19 trouxe consequências significativas para os sistemas de saúde em todo o mundo, afetando diretamente a continuidade dos programas de imunização. De acordo com o relatório Global Vaccine Impact, 2022, as campanhas de vacinação de rotina foram interrompidas em mais de 68 países durante os primeiros dois anos da pandemia, impactando milhões de crianças em idade vacinal.

O Brasil seguiu essa tendência global, registrando uma queda acentuada na cobertura vacinal de sarampo e rubéola. Dados oficiais do Ministério da Saúde (2023) mostram que, em 2020, a cobertura da vacina tríplice viral ficou em 87%, valor que caiu para 85% em 2022, bem abaixo dos 95% necessários para garantir a imunidade de rebanho. Estudos de Oliveira et al. (2023) identificaram que fatores como o recebimento de contaminação nos postos de saúde, a desinformação sobre as vacinas e as dificuldades logísticas durante a pandemia foram determinantes para essa redução.

Além disso, Costa e Silva (2021) destacam que o afastamento dos profissionais de saúde e a sobrecarga dos sistemas hospitalares desenvolvidos para o atraso das campanhas de vacinação, especialmente em regiões mais remotas do país. Esse cenário criou condições desenvolvidas para o ressurgimento do Sarampo no Brasil, enquanto a rubéola ocorreu controlada, possivelmente devido à ausência de circulação do vírus nos anos anteriores.

A situação epidemiológica do Sarampo no Brasil reflete um retrocesso preocupante. Após a certificação de eliminação da doença em 2016, o país teve surtos sucessivos a partir de 2018, com agravamento durante o período pandêmico. Dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (2023) indicam que, entre 2020 e 2022, foram notificados mais de 30 mil casos de sarampo no país, com maior concentração nas regiões Norte e Nordeste.

No estado do Amazonas, por exemplo, especialmente localizados resultaram em mais de 10 mil casos em 2021, representando um desafio significativo para os gestores de saúde (SES-AM, 2022). As causas desse ressurgimento são múltiplas: além da queda na cobertura vacinal, problemas socioeconômicos, falta de acesso à informação e migração de populações vulneráveis têm contribuído para a propagação do vírus.

Estudos realizados por Gomes et al. (2022) apontam que as comunidades ribeirinhas e indígenas estão entre as mais afetadas, devido à dificuldade de acesso aos serviços de saúde e à vacinação. Em contrapartida, estados com melhor infraestrutura de saúde, como São Paulo e Paraná, tiveram menor incidência de casos, evidenciando a importância de políticas públicas efetivas e do fortalecimento das ações de vigilância epidemiológica.

Enquanto o sarampo ressurgiu de forma alarmante no Brasil, a rubéola manteve-se sob controle, sem registro de casos autônomos no período analisado. Segundo Ferreira et al. (2023), o sucesso no controle da rubéola pode ser atribuído à vacinação sistemática da população nos anos anteriores à pandemia, garantindo uma barreira imunológica eficaz contra o vírus.

No entanto, os especialistas alertam que a manutenção desse controlo depende de esforços contínuos para garantir altas coberturas vacinais. Em comparação com o Sarampo, a rubéola apresenta um cenário mais estável devido à ausência de circulação viral no Brasil desde 2009, o que reduz as chances de surtos. No entanto, como ressaltam Souza e Andrade (2021), o risco de reintrodução do vírus persiste, especialmente em regiões com baixa cobertura vacinal e fronteiras abertas com países que ainda enfrentam casos de rubéola.

O ressurgimento do Sarampo no Brasil está diretamente relacionado à queda nas taxas de vacinação, uma consequência que foi agravada durante a pandemia de COVID-19. Conforme discutido por Almeida et al. (2022), a hesitação vacinal tem sido um fator determinante para a baixa adesão às campanhas de imunização.

Além disso, fatores socioeconômicos, como pobreza, desigualdade educacional e acesso limitado aos serviços de saúde, contribuíram para a vulnerabilidade de determinada população. Em estudo recente, Pereira e Costa (2023) identificaram que a desinformação sobre vacinas divulgadas nas redes sociais tem impactado melhorias na confiança da população nas campanhas de imunização, especialmente em áreas urbanas.

Uma análise regional dos surtos de Sarampo no Brasil revela um padrão de desigualdade no impacto da doença, com as regiões Norte e Nordeste sendo as mais afetadas no período de 2020 a 2024. De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (2023), estados como Amazonas, Pará, Maranhão e Ceará concentraram aproximadamente 70% dos casos notificados no país.

Esse cenário pode ser explicado por fatores econômicos e sociais que limitam o acesso da população às campanhas de vacinação e aos serviços de saúde pública. Estudos realizados por Gomes et al. (2021) destacam que, nas comunidades ribeirinhas da Amazônia, o deslocamento até os postos de saúde pode levar dias, o que dificulta a adesão às campanhas e aumenta o risco de propagação do vírus. Além disso, os fatores climáticos e geográficos dessas regiões tornam os desafios logísticos ainda mais complexos.

Na região Nordeste, o sarampo tem sido amplificado em áreas urbanas periféricas, onde a concentração populacional e as condições precárias de saneamento básico favorecem a propagação do vírus. Segundo Ferreira e Souza (2023), o aumento de cidades como Fortaleza e Recife registrou um número expressivo de casos entre 2021 e 2022, o que reforça a necessidade de intensificar as ações de vigilância epidemiológica e vacinação nessas localidades. Em contrapartida, as regiões Sul e Sudeste tiveram menor incidência de casos, devido à infraestrutura mais robusta e ao maior alcance das campanhas de imunização.

Lima et al. (2022) apontam que estados como São Paulo e Paraná pretendem manter a cobertura vacinal dos 90% durante a pandemia, demonstrando que investimentos em infraestrutura e campanhas de conscientização podem atenuar os impactos do ressurgimento do sarampo.

A redução da cobertura vacinal no Brasil entre 2020 e 2024 é um fator complexo e multifatorial, influenciado por desafios de ordem social, política e econômica. De acordo com Almeida et al. (2022), o principal fator responsável pela queda na cobertura vacinal foi a pandemia de COVID-19, que desviou os esforços do sistema de saúde e iniciou as campanhas regulares de vacinação.

Durante esse período, os recebimentos da população em frequentar os postos de saúde devido ao risco de contaminação, aliados à desinformação crescente, resultaram em uma baixa adesão à vacina tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba). Além disso, a propagação de notícias falsas sobre supostos efeitos adversos das vacinas aumentou a hesitação vacinal, especialmente em comunidades urbanas e periféricas.

Segundo Pereira et al. (2023), a falta de campanhas educativas eficazes contribuiu para a eficácia de informações equivocadas, que impactaram a confiança da população no Programa Nacional de Imunizações (PNI). Outro fator determinante foi a precariedade dos sistemas de saúde em regiões remotas do país, onde o acesso à vacinação é limitado por barreiras geográficas e socioeconômicas.

Gómez et al. (2021) salientam que, em países como a Índia e a Nigéria, que enfrentam desafios semelhantes, o fortalecimento das parcerias com organizações não governamentais (ONGs) e o uso de tecnologias inovadoras têm sido fundamentais para aumentar as coberturas vacinais. O Brasil poderia adotar estratégias semelhantes, utilizando agentes comunitários de saúde para promover a vacinação em comunidades de difícil

O impacto da pandemia de COVID-19 na cobertura vacinal foi um fenômeno global, como apontado por Silva et al. (2021), que identificaram uma redução de 10% na cobertura vacinal no Brasil entre 2020 e 2022. Esse dado é alarmante, pois evidencia um retrocesso nos avanços conquistados em saúde pública.

A análise de Oliveira e Souza (2022) sobre os surtos de sarampo no Norte do Brasil, especialmente no Amazonas e no Pará, demonstra como lacunas na cobertura vacinal podem resultar em surtos de grande magnitude, atingindo 15 mil casos. Essa situação é agravada por dificuldades logísticas e fatores socioeconômicos.

Ferreira et al. (2023) trouxeram uma perspectiva positiva ao indicar que a rubéola permaneceu controlada no Brasil durante a pandemia, sem casos autóctones. Isso mostra que algumas iniciativas de imunização mantiveram sua eficácia, mesmo diante de adversidades.

O estudo de Costa et al. (2020) revelou que comunidades ribeirinhas enfrentaram dificuldades significativas de acesso às vacinas, afetando cerca de 30% das crianças dessas regiões. Esses resultados ressaltam a necessidade de políticas públicas direcionadas a populações vulneráveis.

Lima et al. (2021) destacaram a alta incidência de sarampo em capitais do Nordeste brasileiro, apontando falhas regionais na gestão de campanhas de imunização. Problemas similares foram identificados por Almeida et al. (2021), que evidenciaram a fragilidade na vigilância epidemiológica durante a pandemia.

Outro aspecto importante é o papel dos fatores socioeconômicos na adesão vacinal, conforme Gomes e Andrade (2022), que demonstraram a influência negativa de condições econômicas e educacionais. Esse contexto pode explicar em parte a hesitação vacinal, que aumentou em 20% durante a pandemia, segundo Pereira et al. (2023).

Desafios logísticos também foram um fator crítico, como mostrado por Souza et al. (2022), que relataram atrasos nas campanhas de imunização em 25% das cidades brasileiras. Esses atrasos podem ter contribuído para a reintrodução do sarampo em áreas urbanas, um problema apontado por Nascimento et al. (2024).

As políticas públicas fragmentadas foram destacadas por Fernandes et al. (2023) como um fator que reduziu a eficácia das ações de controle do sarampo. Essa fragmentação pode ser comparada às dificuldades enfrentadas em outras regiões, como observado por Smith et al. (2020) em um cenário global.

O impacto da desinformação também foi significativo, como relatado por Rodrigues et al. (2021), que apontaram que fake news afetaram negativamente 25% da população vacinável no Brasil. Um fenômeno semelhante foi observado por Chen et al. (2024) na China, onde a desinformação levou a uma queda de 15% nas taxas de vacinação.

Estudos comparativos, como o de Carvalho et al. (2024), reforçam a disparidade entre o controle da rubéola e o ressurgimento do sarampo, destacando a importância de medidas preventivas consistentes. Da mesma forma, o trabalho de Hernandez et al. (2022) em América Central identificou dificuldades na manutenção de programas de controle da rubéola.

As dificuldades logísticas e os desafios regionais ressaltam a necessidade de soluções locais e adaptadas, como demonstrado por Kumar et al. (2022) na índia e por Campos e Lima (2023) no Brasil. Essas abordagens locais são essenciais para garantir uma cobertura vacinal abrangente.

A experiência do Japão, documentada por Tanaka et al. (2023), mostra que altas taxas de vacinação podem ser mantidas através de iniciativas educacionais. Essas lições poderiam ser adaptadas para o contexto brasileiro, especialmente em populações vulneráveis.

O trabalho de Mendes et al. (2021) destacou falhas regionais na epidemiologia brasileira, enquanto Martins et al. (2023) indicaram que a vigilância pós-pandemia é essencial para prevenir novos surtos. Essas observações mostram a importância de sistemas robustos de monitoramento.

Barbosa e Costa (2023) destacaram os surtos localizados em populações indígenas, que atingiram 5 mil casos entre 2020 e 2023. Essa situação ilustra como as desigualdades estruturais impactam diretamente a saúde dessas comunidades.

Freitas et al. (2020) relataram como o impacto social gerou resistência à vacinação em áreas urbanas. Esse fator, aliado à desinformação e à hesitação vacinal, representa um obstáculo significativo para a saúde pública.

Por fim, a análise de Williams et al. (2022) sobre os impactos da COVID-19 nos programas de imunização globais reforça que atrasos e lacunas na vacinação aumentam a vulnerabilidade a doenças. Esses efeitos foram sentidos de forma mais intensa em regiões com sistemas de saúde mais fragilizados, como observado por Araújo et al. (2022) no Sudeste brasileiro.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

As doenças exantemáticas, como rubéola e sarampo, têm representado desafios significativos para a saúde pública no Brasil, especialmente no período de 2020 a 2024. Este estudo destacou a complexidade de manter a cobertura vacinal adequada diante de fatores como a pandemia de COVID-19, hesitação vacinal e desigualdades regionais no acesso à saúde. Observou-se que, enquanto a rubéola permaneceu controlada, o sarampo registrou surtos alarmantes em diversas regiões, evidenciando fragilidades nas políticas de imunização e nos sistemas de vigilância epidemiológica.

Os dados analisados reforçam a necessidade de estratégias mais integradas e eficazes para ampliar a adesão vacinal e superar barreiras logísticas e sociais, sobretudo em populações vulneráveis, como comunidades ribeirinhas e indígenas. Além disso, a disseminação de informações falsas sobre vacinas e as desigualdades socioeconômicas foram fatores agravantes que precisam ser combatidos com campanhas educativas e políticas públicas robustas.

Concluímos que o fortalecimento das ações de vigilância epidemiológica, o investimento em infraestrutura de saúde e a educação continuada da população são essenciais para prevenir surtos futuros e avançar na erradicação dessas doenças. O período analisado deixa como lição a importância de resiliência e inovação no enfrentamento de desafios sanitários, ressaltando que a saúde coletiva depende de esforços contínuos e coordenados em todas as esferas da sociedade.

REFERÊNCIAS

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1 Discente do Curso Superior de Enfermagem da Instituição Centro Universitário Uninorte
e-mail: douglassoliveira151@gmail.com